Brilhantina espanhola
Aos Domingos, depois da missa, vinha o adro.
O convívio com os da freguesia.
Roupas novas, muito bem brunidas.
Xailes compridos, vários temas.
Vestidos de seda, até ao chão, em grandes folhos.
Fatos de fazenda, em corte fino.
Camisas azuis em popelina.
E as gravatas variavam muito.
Largas ou fitas,
Segundo a moda.
E os cabelos, reluzindo ao sol.
Da brilhantina,
Vinha de Espanha
. Cruzavam-se olhares.
Olhos vivaços.
Moças trigueiras, crestadas do sol.
Seios ardentes,
Apetite à vista.
E os rapazes ariscos vinham de longe,
Desconhecidos, sem história.
Lançando a isca,
Tentavam a sorte.
Se era um sucesso.
Primeiro o namoro.
Depois o altar,
Com brilhantina…
Berlim, 29 de Agosto de 2018
8h32m
Jlmg
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Magia das manhãs
É vaidosa a fidalga manhã.
Cada dia uma veste diferente,
Folhos compridos,
De seda ou de lã.
Indiferente à chuva e ao sol,
Avança impante pela avenida do dia,
Cobrindo-o de cor e de luz.
Corre as montanhas,
Desliza nos vales,
Se banha no mar.
Se enxuga ao sol, deitada na praia,
Como se fosse uma dama esbelta,
Sedenta e com fome.
Se despede ufana, à chegada da tarde,
Sua vizinha e da noite.
Viaja sózinha
E vai descansar.
Ninguém sabe onde fica.
Adora a missão.
À hora certinha ela aí está...
Berlim, 31 de Agosto de 2018
8h9m
Jlmg
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O regato da serra
Corre um regato ao fundo da aldeia.
Vem lá da serra aos saltos,
Rasgando o caminho,
Parece um puto tratante,
A caminho da escola.
Assobia e canta ao ritmo das pedras,
Inunda as margens humildes e secas
Que lhe pedem esmola.
Rouba areia e semeia açudes e ilhas,
Onde crescem as canas
Com ninhos de pássaros,
Em frente de praias.
De longe a longe, se torna lagoa
E puxa a mó de moinhos,
Apesar de ser pedra,
Transformando o milho em farinha.
É um amigo atento,
Não pára quieto,
Em visita constante,
Através das aldeias.
Dizem que vai a caminho do mar.
E, muito lá à frente,
É tal o caudal,
Há barcos a remos e vela,
Levando fregueses,
Dum lado para o outro.
Vão para as romarias e feiras.
Rezam as lendas que antanho,
Até as sereias e fadas,
Vinham da serra de noite
E assombravam as gentes
Com cantos e loas,
Pareciam de anjos...
Berlim, 1 de Setembro de 2018
10h49m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 26 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18955: Blogpoesia (581): "Para que servem as palavras", "Soletro os meus versos, letra a letra" e "O essencial", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
4 comentários:
Que vivam os poetas!... Ab, Joaquim.
Interessante, até hoje sempre me pareceu ouvir dizer 'brunhir a roupa'.
Afinal é brunir.
De resto, poemas sempre bem brunidos, sem rugas.
Valdemar Queiroz
Valdemar, em bom português é que a gente se entende... Brunir e não brunhir... Mas os brasileiros também usam o terno "brunhir" com a mesma aceção de "brunir"... LG
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brunir | v. tr.
bru·nir
(provençal brunir, do germânico *brunjan)
verbo transitivo
1. Polir com lustro.
2. Engomar com polimento, para tornar lustroso.
"brunir", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/brunir [consultado em 02-09-2018].
Vou beber uma taça de champanhe. Mereci 3 comentários, embora semi-directos...
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