1. Mensagem do nosso camarada José Maria Monteiro, ex-Marinheiro Radiotelegrafista (LFP Bellatrix, 1969/71 e Comando Naval da Guiné, 1971/73) com data de 29 de Setembro de 2025:
Meu ilustre camarada.
Se entenderes fazer a publicidade a esta CONFERENCIA - Círculo do Mar - convidando todos os camaradas, em especial todos os marinheiros a estarem presentes no dia 16 de Outubro de 2025, pelas 17h00, na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, seria excelente.
O meu Abraço
José Maria Monteiro
(um dos mais jovens combatentes do Mundo e dos exércitos portugueses desde a fundação da nacionalidade até à presente data. (c/16 anos).
Cascais, 29/09/2025
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Nota do editor
Último post da série de 26 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27258: Agenda cultural (902): "Venham Mais Cinco", o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975, exposição fotográfica para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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terça-feira, 30 de setembro de 2025
Guiné 61/74 - P27270: Agenda cultural (903): Convite para a Conferência Círculo do Mar - "Dar Voz Às Guarnições" - Ultramar 1961-1974, dia 16 de Outubro de 2025, pelas 17 horas, a ter lugar na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, Lisboa (José Maria Monteiro, ex-Marinheiro Radiotelegrafista)
terça-feira, 23 de setembro de 2025
Guiné 61/74 - P27247: Agenda cultural (901): Convite da Liga dos Combatentes para a Festa do Livro, a decorrer entre os dias 25 e 28 de Setembro nos Jardins do Palácio de Belém, conforme o programa
LIGA DOS COMBATENTES NA FESTA DO LIVRO
JARDINS DO PALÁCIO DE BELÉM
25 A 28 DE SETEMBRO
JARDINS DO PALÁCIO DE BELÉM
25 A 28 DE SETEMBRO
CONVITE
Exmos/as Senhores/as,
A Biblioteca da Liga dos Combatentes convida todos os interessados a participar na Festa do Livro nos Jardins do Palácio de Belém, que decorrerá entre 25 e 28 de setembro de 2025 (quinta-feira a domingo).
Pela primeira vez, a Liga dos Combatentes marcará presença com uma banca de venda de livros (a preços especiais) para divulgação das memórias dos Combatentes desde a Grande Guerra à Guerra do Ultramar.
O acesso à Festa do Livro é efetuado pela Loja do Museu da Presidência da República ou pelo Jardim Botânico Tropical e a ENTRADA É LIVRE! O programa é vasto mas damos nota de alguns dos destaques:
- Quinta-feira, 25 de setembro
16h00 – Abertura ao público
18h00 – Inauguração oficial da Festa do Livro em Belém 2025, com a presença de Sua Excelência o Presidente da República
19h30 – MÚSICA | Concerto de Carolina Deslandes
21h00 – Encerramento das bancas de livros
21h30 – MÚSICA | Concerto de Rui Veloso
- Sexta-feira, 26 de setembro
10h00 – Abertura ao público & Emissão em direto do Programa “Casa Feliz” da SIC c/ Diana Chaves e João Baião
21h00 – Encerramento das bancas de livros
21h30 – MÚSICA | Concerto de Bárbara Tinoco
- Sábado, 27 de setembro
11h00 – Abertura ao público
16h00 – DEBATE | «Portugal e o Futuro» | Oradores: Manuela Ferreira Leite e António Barreto | Moderador: Pedro Mexia
21h00 – Encerramento das bancas de livros
21h30 – MÚSICA | Concerto de Fernando Daniel
- Domingo, 28 de setembro
11h00 – Abertura ao público
21h00 – Encerramento das bancas de livros
21h30 – MÚSICA | Concerto de Xutos & Pontapés
Mais informação em: https://www.ligacombatentes.org/festa-do-livro-em-belem-25-28-de-setembro/
João Horta
Direção Central | Depto. Bibliotecas e Museus
Email: biblioteca@ligacombatentes.org | joaohorta@ligacombatentes.org
Tlf: 213 468 245/46 | Tlm: 918 938 043
Rua João Pereira da Rosa, 18 – 1249-032 Lisboa
https://www.ligacombatentes.org/
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Nota do editor
Último post da série de 10 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27203: Agenda cultural (900): Antestreia da série documental guineense "Martcha", do realizador e produtor Unkaff (pseudónimo de Onésio Caetano Soda, n. 1991): sexta, dia 12, 18h00, no Espaço Mbongi67, Praceta António Sérgio, nº 4, Queluz
sexta-feira, 19 de setembro de 2025
Guiné 61/74 - P27231: Notas de leitura (1839): A Festa do Outono de 1956 no Campo Grande, eu estive lá (Mário Beja Santos)

Queridos amigos,
Começa-se a remexer numa banca de livros e entre um romance de Pearl Buck e um catálogo de uma exposição de Bela Silva encontrei uma publicação sobre a Festa do Outono no Campo Grande, em outubro de 1956. Era uma organização da União do Grémio dos Lojistas de Lisboa e o Governo Civil, iniciativa de beneficência para os pobres de Lisboa. Comecei por folhear a publicidade da época, a pasta dentífrica Binaca, os eletrodomésticos Westinghouse, a Agência Mundial de Viagens, a Aguardente Macieira, a Farinha Fubá, a Casa Hipólito, o Gazcidla, a Sapataria Hélio... e muito mais. Já tinha esquecido a Casa Leonel, na Rua do Carmo 71, uma loja chiquérrima, com cristais importados, lustres, faqueiros, entrava para mirar. Mas o que me tocou nestas Festas do Outono foi recordar o Campo Grande da minha infância e juventude e a batalha de flores a que assisti, a 28 de outubro. Um Campo Grande com farta história, por ali se passearam exércitos, passaram manadas de touros e gado destinado ao matadouro; terá sido o espaço da mais opulenta feira de Lisboa do século XIX. Matei saudades e lembrei-me daquele Campo Grande florido que atravessei todos os dias úteis no período escolar, quando estudei no Colégio Moderno. Muito mais tarde apareceu a Biblioteca Nacional, onde beneficiei de leituras e continuo a beneficiar de exposições. Felizmente ainda tenho pernas para o percorrer em duas direções e, não é incomum, meter o nariz no Museu Rafael Bordalo Pinheiro ou no Museu da Cidade.
Abraço do
Mário
A Festa do Outono de 1956 no Campo Grande, eu estive lá
Mário Beja Santos
Dia de sorte na Feira da Ladra, encontro uma publicação com a programação das Festas do Outono promovida pelo Governo Civil de Lisboa e a União de Grémios de Lojistas da Cidade, ocasião para lembrar aos munícipes que o Campo Grande tinha arreigadas tradições, a Festa do Cavalo, por aqui se passeou o exército que D. Sebastião levou para a tragédia de Alcácer Quibir, igualmente por aqui cavalgou a Rainha D. Amélia, depois aqui se prantou enorme jardim arborizado e florido, aqui houve feira e mercado que fez história, vale a pena recordar.
No final do século XV, o Campo Grande e o Campo Pequeno denominavam-se, respetivamente, Alvalade-o-Grande ou Alvalade-o-Longo, e Alvalade-o-Pequeno. De um Campo Grande inculto criou-se um passeio público no princípio do século XIX, no tempo do Príncipe Regente D. João, futuro D. João VI. Plantou-se arvoredo em 1802 e 1803, abriu-se uma casa de pasto no fim do novo passeio. Quem adiantou dinheiro para o ajardinamento e plantações foi o 1º Barão de Porto Covo de Bandeira, aquele mesmo senhor que montou palacete na Rua de S. Domingos à Lapa, onde este a Embaixada da Grã-Bretanha e está hoje a Companhia de Seguros Lusitânia. Assim começou a vida turbulenta do passeio público por onde andaram tropas francesas e o exército inglês. E apareceu a Feira com as suas rixas e desordens, barraqueiros que vendiam comida em dias de jejum. Em 1830, o Campo Grande possuía terras de semeadura, fazendo-se uma eira defronte do Palácio Pimenta, onde está hoje o Museu da Cidade. Em meados do século por aqui se efetuavam corridas de cavalos e em 1869 principiaram os trabalhos de embelezamento com as escavações do grande lago.
A atual igreja construída com a receita da venda de bilhetes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e com o produto de uma feira livre no Campo Grande, autorizada por um alvará de 1778.
O sítio era a redondeza de Lisboa, tornou-se agradável andar por aqui aos domingos e dias santificados, vinha-se para passear às “hortas”. Os alfacinhas vinham ver as esperas de touros, apareceram as casas de petiscos e os chamados “retiros”, de que resta o “Quebra-bilhas”. O Campo Grande estava rodeado de muros baixos e as famílias que para ali iam veranear juntavam-se regularmente no jardim. Não faltava o fado nas casas de comes e bebes. Foi assim que apareceu a feira, tinha lugar em outubro de cada ano, chegou a prolongar-se até dois meses. Efetuava-se perto da Igreja dos Santos Reis Magos e do chafariz. Uma feira com uma certa opulência: transações em ourivesaria e relojoaria; aqui se podiam comprar linhos, algodões, louça de ferro, ferramentas, cutelarias. A par de tudo isto, encontravam-se os negociantes de castanhas, passas, nozes e frutas verdes, não faltavam galináceos nem queijaria. Completavam a feira as barracas de quinquilharias, figuras de cera, vendedores ambulantes de bolos, pão de milho, capilé e copo com água. Não havia circo, mas havia ursos que faziam habilidades ao toque do pandeiro e as ciganas liam a sina. Quando, em 1932, se transferiu a feira para o Lumiar, morreu o movimento, a transferência foi um golpe de misericórdia. Claro está que ganharam outra dimensão feiras existentes em Lisboa.
Cheguei ao Bairro de Alvalade em 8 de maio de 1952, vinha de Algés e frequentava a primeira classe no Colégio Portugal, no fim da Avenida das Descobertas, perto daquela enorme rotunda onde pontificava uma praça de touros, cercada de ervas daninhas. Nunca tinha visto uma fila de prédios, com uma rua alcatroada à frente, e esta encostada a uma quinta com muros antiquíssimos, a quinta do Visconde de Alvalade, enorme, vinha lá muito de cima, onde está hoje a Avenida dos EUA e estendia-se até ao monumento dedicado aos heróis da Guerra Peninsular, um extenso olival já muito mal tratado, onde anos depois se levantaram prédios de cor verde, havia barracões que confinavam com a moradia onde funcionava a esquadra da polícia do Campo Grande, foi tudo demolido para dar lugar à Clínica de S. João de Deus.
Frequentei a Escola Primária n.º 151, ela ainda lá está de pé, toda retocada, o principal lazer da pequenada era brincar nos logradouros ou percorrer a estruturas ainda em cimento dos prédios da Avenida dos EUA, que foram sendo construídos até à estação da CP Roma-Areeiro. Passeios no Campo Grande só na companhia da minha mãe ou da minha avó ou com os meus irmãos; ou nas idas à catequese na Igreja dos Santos Reis Magos.
Tenho, pois, onze anos quando vamos em magote, pequenada e pais, ao fundo do Campo Grande ouvir as bandas de música, os cortejos e no derradeiro dia da festa, a 28 de outubro, ver a “Batalha das Flores”. O Campo Grande tinha belos jardins, dois lagos, como hoje, foi aparecendo estatuária, havia o ringue de patinagem, apareceu um café junto do lago maior, onde há barcos, o café tinha uma bela peça de cerâmica assinada por Júlio Pomar, junto do lago pequeno apareceu mais tarde uma biblioteca ao ar livre, o jardim era muito mais amplo do que hoje, do lado esquerdo de quem desce em direção ao Museu da Cidade havia muita habitação e até uma fábrica de massas, a continuidade de edifícios era interrompida por um vasto campo onde está hoje a Biblioteca Nacional de Portugal, novamente mais prédios, depois a Estrada de Malpique, tendo já ao fundo o Colégio Moderno, depois um largo caminho, ainda não tinha nascido a Cidade Universitária, mais moradias, a Fábrica Nally, que produzia cosméticos, ia-se por ali fora passando por moradias até ao Palácio Pimenta. No fundo do Campo Grande, surgia uma soberba alameda com palmeiras, espaço de grandes passeios.
Mantive (e ainda mantenho) uma excelente relação com o Campo Grande. Muitos dos meus passeios pedestres orientam-se para ali. O jardim mingou, estreitou, em benefício do rei automóvel. O jardim são manchas de verde, compactas, com muitas patas de cavalo e arborização que deve custar pouco em termos de jardinagem. O Caleidoscópio, que tinha uma bela livraria, perto do lago do Campo Grande, deu lugar a um espaço de estudo e uma loja McDonald’s; a Avenida das Palmeiras continua de pé e sente-se a muita animação da gente que vem jogar ténis e padel; por razões de pudor, fujo de olhar para o ringue de patinagem, tal é a carga de saudades dos tempos festivos que ali passei. E sempre que posso visito quer o Museu Rafael Bordalo Pinheiro ou o Museu da Cidade, dois espaços culturais magnificentes. Mas nunca mais houve a Feira do Outono e o jardim não tem coreto de música. Soube-me muito bem recordar aquele dia de outubro de 1956, que aqui partilho convosco.
Lisboa de antigamente, o Campo Grande em frente à Igreja dos Santos Reis Magos, senhoras de chapéu, criada a tomar conta da menina, meninos embarretados e descalços, fachadas de prédios do início do século XX, ao fundo, o chafariz era presença obrigatória
Quando a feira do Campo Grande era a mais importante de Lisboa
Um jardim do Campo Grande em que o elétrico era o transporte rei
Era assim a primitiva ponte sobre o lago do Campo Grande
A igreja dos Santos Reis Magos, à esquerda ainda com muro, à direita com um conjunto de anexos que depois desapareceram; só conheci a igreja sem muro e sem anexosO bairro onde vivi de 1952 a 1968 e de 1982 a 1994. A grande superfície ajardinada desapareceu, na rotunda está a estátua de S. António, toda a praça tem edifícios, lá ao fundo nasceu o centro comercial de Alvalade e encostado àquele prédio da Avenida de Roma nasceu outro prédio onde está hoje a ADSE. Vê-se ao fundo no ponto alto a torre do relógio da Escola Primária, a n.º 33, a minha escola era a nº 151, a uma escassa distância de centenas de metros
Lembro-me perfeitamente deste Campo Grande da década de 1950, tinha a faixa para autocarros e automóveis e nas margens a linha do elétrico. Vemos dois prédios do fim da Avenida da Igreja, a nova arborização a ladear a faixa rodoviária e aquele prédio de 1.º andar tinha sido ocupado por operários que trabalhavam na fábrica onde hoje se localiza a Universidade Lusófona, desapareceu há poucos anos, deu lugar a mais um hotel
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Nota do editor
Último post da série de 15 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27221: Notas de leitura (1838): "Uma Outra Perspectiva", por Rui Sérgio; 5livros.pt, 2023 (Mário Beja Santos)
terça-feira, 9 de setembro de 2025
Guiné 61/74 - P27201: Agenda Cultural (899): Ciclo de Cinema - Imagens da Guiné-Bissau: Memória, Consciência e Futuro, a levar a efeito entre 23 de Setembro e 18 de Outubro de 2025, no Museu Nacional de Etnologia, Lisboa
De 23 de setembro a 18 de outubro, o Museu Nacional de Etnologia recebe, em parceria com a Casa da Cultura da Guiné-Bissau, o Ciclo de Cinema “Imagens da Guiné-Bissau: Memória, Consciência e Futuro” com uma seleção de filmes que refletem essencialmente sobre a História da Guiné Bissau. A seleção de filmes teve a curadoria de Onésio Soda e Welket Bungé e inclui filmes realizados por Flora Gomes, Sana Na N’Hada, José Magro, José Bolama, Djalma Fettermann e Josefina Lopes Crato.
Em cada sessão, para além das exibições, haverá também um momento de conversa com convidados especiais, com espaço para reflexão e partilha de memórias, consciência e futuros possíveis.
Entrada Livre
Sessões:
23.09.25
- 18h30 “A Pegada de Todos os Tempos”, Flora Gomes, 2009, 5’;
“A República di Mininus”, Flora Gomes, 2012, 78’
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27.09.25
- 16h00 “NOME”, Sana Na N’Hada, 2023, 118’
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04.10.25
- 15h00 “Nha fala”, Flora Gomes, 2002, 112’;
“Bissau d’Isabel, Sana Na N’Hada, 2005, 55’
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11.10.25
- 16h00 “Kadjike”, Sana Na N’Hada, 2013, 115’
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18.10.25
- 16h00 “Nha Sunhu”, José Magro, 2021, 21’ ;
“O Regresso de Cabral”, Sana Na N’Hada, Flora Gomes, José Bolama, Djalma Fettermann, Josefina Lopes Crato, 1976, 33’
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Nota do editor
Último post da série de 10 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27106: Agenda Cultural (898): Foi lançada em Julho a 2.ª edição do livro "Dados Biográficos do coronel Henrique Manuel Gonçalves Vaz - Último Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG", da autoria do nosso Grã-Tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz, filho do biografado
sábado, 19 de julho de 2025
Guiné 61/74 - P27033: Os nossos seres, saberes e lazeres (690): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (213): Uma deriva no Atlântico, a flamejante, trepidante, contemporaneidade na Arte (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Maio 2025:
Queridos amigos,
Trata-se de uma exposição permanente a ver no Centro Cultural de Belém, mas apresentada como exposição permanente em permanente transformação, fala-se no Atlântico, sobretudo a partir dos meados do século XX, verdadeiramente um espaço de trânsitos e exílios. Um dos aspetos marcantes da exposição é pôr o confronto entre os artistas portugueses e os demais, gera no visitante uma tremenda inquietação, parece que foi deliberado dar saltos cronológicos, obrigar o visitante a ir atrás , à procura de amarras nesta deriva que mete pintura, escultura, desenho, instalação e artes gráficas, é um percurso em ciclorama, para não nos esquecermos que na arte estão plasmadas as transformações sociais, artísticas e tecnológicas. Exposição a não perder, prometo que não haverá deceções com a altíssima qualidade da apresentação destas belíssimas obras de arte.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (213):
Uma deriva no Atlântico, a flamejante, trepidante, contemporaneidade na Arte
Mário Beja Santos
Mais do que um espetáculo para os sentidos e um desfrute estético, a exposição Uma Deriva Atlântica. As artes do século XX a partir da Coleção Berardo, tendo como curadora Núria Enguita, diretora artística do Museu da Arte Contemporânea e Centro de Arquitetura do Centro Cultural de Belém implicam o visitante a procurar permanentemente as ligações num tremendo caleidoscópico de obras de arte, apercebendo-se rapidamente que a cronologia dos movimentos artísticos de toda esta plástica é coisa inexistente. Aliás, como se pode ler na abertura da exposição, temos aqui um arco temporal de 1909 a 1977, há como que uma provocação ou um desafio, a exposição tende a desarrumar ideias feitas, pois dissocia as referências e as formas artísticas: “Segue uma cronologia inconstante, mostrando ligações e confrontos entre as margens europeia e americana para indicar possíveis relações e derivas por vezes esquecidas ou ausentes da história de arte. Enquanto remontagem da coleção permanente, Uma deriva atlântica apresenta uma seleção de artistas portugueses e internacionais, entre pintura, escultura, desenho, instalação e artes gráficas, assim se exprime a arte na história do mundo e se mostra a modernidade enquanto eclosão múltipla de importantes transformações sociais, artísticas e tecnológicas".
Há momentos em que nos sentimos numa sala de espelhos, entre Picasso e Amadeo de Souza-Cardoso, Lourdes Castro e Marcel Duchamp, Lucio Fontana e Ana Hatherly. Num total de 170 artistas, é um percurso que começa antes da Primeira Guerra Mundial e se estende até à descolonização da década de 1970. A exposição só foi possível com o concurso de várias coleções em depósito e com obras emprestadas. É, no mínimo, uma apreciação original entre o que de mais incendiário se produziu na Europa e na América do Norte, ficamos perplexos com esta viagem das ideias estéticas, os trânsitos e os exílios, as novas afinidades geopolíticas, tudo como tendo berçário aquela Paris de cubistas, expressionistas, futuristas. Importa não esquecer que Amadeo de Souza-Cardoso, antes da guerra, expôs em Chicago, conjuntamente com alguns dos nomes mais sonantes das artes plásticas do seu tempo. Sugiro ao leitor que não perca esta exposição.
Não há que enganar, é um mobile de Alexander Calder, conheci esta obra de arte quando a Coleção Berardo assentou arraiais no antigo Casino de Sintra, a partir daí não o perdi de vista.
Sem título (Ponte), de Amadeo Souza-Cardoso, c. 1914. Observo a José-Augusto França que o melhor do génio do pinto de Manhufe se situa entre 1916 e 1917, mas olhando esta ponte persente-se o gérmen cubista, que ele soube tratar de uma forma muito singular.
Composição (amarelo, preto, azul, vermelho e cinzento), por Piet Mondrian, 1923. Temos poucos quadros deste gigante da pintura mundial, quando procuro deliciar-me com a trajetória de Picasso, Matisse e Mondrian, o meu coração balança, é fascinante tudo o que este holandês produziu, cedo remexeu nas formas e abandonou o figurativismo, viveu entusiasmado com a associação entre a arte e a arquitetura e nos últimos anos da sua vida injetou na telas estes quadrados de código labiríntico.
Conchas flores, por Max Ernst, 1929. Sim, é um dos génios do surrealismo, mas pôde gabar-se de tudo ter procurado experimentar, desde a fulgência das cores até ao imprevisto das formas, obriga-nos a interrogar onde está a concha ou se esta não passa de um botão de flor naquele enigmático fundo de horizonte.
O poeta diverte-se, ou o poeta e a sua musa, por Mário Botas, 1978. Ainda bem que os organizadores da exposição se lembraram desta figura invulgar do surrealismo português, olho para estas figuras e só vejo tormento, Botas era médico e não tinha ilusões da doença devastadora que o liquidou. Para esta inolvidável exposição escolhi o Botas e esta sua forma de olhar a vida e do destino que lhe coube.
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Nota do editor
Último post da série de 13 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27013: Os nossos seres, saberes e lazeres (689): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (212): Um dia na rota da cereja, Fundão e Castelo Novo (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Trata-se de uma exposição permanente a ver no Centro Cultural de Belém, mas apresentada como exposição permanente em permanente transformação, fala-se no Atlântico, sobretudo a partir dos meados do século XX, verdadeiramente um espaço de trânsitos e exílios. Um dos aspetos marcantes da exposição é pôr o confronto entre os artistas portugueses e os demais, gera no visitante uma tremenda inquietação, parece que foi deliberado dar saltos cronológicos, obrigar o visitante a ir atrás , à procura de amarras nesta deriva que mete pintura, escultura, desenho, instalação e artes gráficas, é um percurso em ciclorama, para não nos esquecermos que na arte estão plasmadas as transformações sociais, artísticas e tecnológicas. Exposição a não perder, prometo que não haverá deceções com a altíssima qualidade da apresentação destas belíssimas obras de arte.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (213):
Uma deriva no Atlântico, a flamejante, trepidante, contemporaneidade na Arte
Mário Beja Santos
Mais do que um espetáculo para os sentidos e um desfrute estético, a exposição Uma Deriva Atlântica. As artes do século XX a partir da Coleção Berardo, tendo como curadora Núria Enguita, diretora artística do Museu da Arte Contemporânea e Centro de Arquitetura do Centro Cultural de Belém implicam o visitante a procurar permanentemente as ligações num tremendo caleidoscópico de obras de arte, apercebendo-se rapidamente que a cronologia dos movimentos artísticos de toda esta plástica é coisa inexistente. Aliás, como se pode ler na abertura da exposição, temos aqui um arco temporal de 1909 a 1977, há como que uma provocação ou um desafio, a exposição tende a desarrumar ideias feitas, pois dissocia as referências e as formas artísticas: “Segue uma cronologia inconstante, mostrando ligações e confrontos entre as margens europeia e americana para indicar possíveis relações e derivas por vezes esquecidas ou ausentes da história de arte. Enquanto remontagem da coleção permanente, Uma deriva atlântica apresenta uma seleção de artistas portugueses e internacionais, entre pintura, escultura, desenho, instalação e artes gráficas, assim se exprime a arte na história do mundo e se mostra a modernidade enquanto eclosão múltipla de importantes transformações sociais, artísticas e tecnológicas".
Há momentos em que nos sentimos numa sala de espelhos, entre Picasso e Amadeo de Souza-Cardoso, Lourdes Castro e Marcel Duchamp, Lucio Fontana e Ana Hatherly. Num total de 170 artistas, é um percurso que começa antes da Primeira Guerra Mundial e se estende até à descolonização da década de 1970. A exposição só foi possível com o concurso de várias coleções em depósito e com obras emprestadas. É, no mínimo, uma apreciação original entre o que de mais incendiário se produziu na Europa e na América do Norte, ficamos perplexos com esta viagem das ideias estéticas, os trânsitos e os exílios, as novas afinidades geopolíticas, tudo como tendo berçário aquela Paris de cubistas, expressionistas, futuristas. Importa não esquecer que Amadeo de Souza-Cardoso, antes da guerra, expôs em Chicago, conjuntamente com alguns dos nomes mais sonantes das artes plásticas do seu tempo. Sugiro ao leitor que não perca esta exposição.
Não há que enganar, é um mobile de Alexander Calder, conheci esta obra de arte quando a Coleção Berardo assentou arraiais no antigo Casino de Sintra, a partir daí não o perdi de vista.
Sem título (Ponte), de Amadeo Souza-Cardoso, c. 1914. Observo a José-Augusto França que o melhor do génio do pinto de Manhufe se situa entre 1916 e 1917, mas olhando esta ponte persente-se o gérmen cubista, que ele soube tratar de uma forma muito singular.
Obras de Lyubov Popova.
No panorama artístico russo do começo do século XX, Lyobov Popova destaca-se pela procura de um vocabulário artístico que respondesse aos princípios do construtivismo a partir da pintura. Para Popova, a construção pictórica, entendida como “composição” de planos, era precursora da verdadeira construção tridimensional. Nas suas pinturas e colagens, mas também no trabalho em design têxtil, abordou a forma geométrica através do dinamismo e contraste que é criado pelas inter-relações entre formas semelhantes ou diferentes.Tête de femme, por Pablo Picasso, 1909.
Tête de femme é um exemplo claro dos estudos que Pablo Picasso fez na procura da representação de tridimensionalidade por meios pictóricos, dando a ver diferentes perspetivas ao mesmo tempo. Aqui é possível observar múltiplas facetas que definem a cabeça da figura feminina, bem como um uso da cor e do traço que vinca e fragmenta superfícies. As zonas distintas que compõem o rosto e a definição dos seios compõem formas geométricas nítidas, constituindo uma espécie de grelha que se permite ao artista concentrar a sua atenção na estruturação formal do espaço, construída a partir da sobreposição de vários planos.La petite, de Eduardo Viana, 1916.
É uma das personalidades mais apaixonantes do modernismo português, simultaneamente atraído por formas novas, tratando na sua pintura quer temas populares, mostrando em retratos a verdade do retratado, os seus nus opulentos foram um ponto de partida para essa longa viagem da desconstrução da figura.Autorretrato, de Sonia Delaunay, 1916.
Apaixonou-se por Portugal, tal como o marido, Robert Delaunay, ele é sempre tratado como artista mais inovador do que ela, mas estes discos encantatórios, esta vibração da cor, são lhe muito próprios, vê-se e prontamente se diz: é da Sonia, não pode ser de outra pessoa.Composição (amarelo, preto, azul, vermelho e cinzento), por Piet Mondrian, 1923. Temos poucos quadros deste gigante da pintura mundial, quando procuro deliciar-me com a trajetória de Picasso, Matisse e Mondrian, o meu coração balança, é fascinante tudo o que este holandês produziu, cedo remexeu nas formas e abandonou o figurativismo, viveu entusiasmado com a associação entre a arte e a arquitetura e nos últimos anos da sua vida injetou na telas estes quadrados de código labiríntico.
O abismo prateado, por René Magritte, 1926. Não há surrealista como ele, ponto final.
Hospital de bonecas, por Fernando Lemos, 1949-1952. Lemos ficará na história da arte portuguesa como um fotógrafo surrealista ímpar.Conchas flores, por Max Ernst, 1929. Sim, é um dos génios do surrealismo, mas pôde gabar-se de tudo ter procurado experimentar, desde a fulgência das cores até ao imprevisto das formas, obriga-nos a interrogar onde está a concha ou se esta não passa de um botão de flor naquele enigmático fundo de horizonte.
O poeta diverte-se, ou o poeta e a sua musa, por Mário Botas, 1978. Ainda bem que os organizadores da exposição se lembraram desta figura invulgar do surrealismo português, olho para estas figuras e só vejo tormento, Botas era médico e não tinha ilusões da doença devastadora que o liquidou. Para esta inolvidável exposição escolhi o Botas e esta sua forma de olhar a vida e do destino que lhe coube.
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Nota do editor
Último post da série de 13 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27013: Os nossos seres, saberes e lazeres (689): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (212): Um dia na rota da cereja, Fundão e Castelo Novo (Mário Beja Santos)
sábado, 5 de julho de 2025
Guiné 61/74 - P26986: Os nossos seres, saberes e lazeres (688): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (211): Visita ao novo acervo permanente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – 2 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Abril 2025:
Queridos amigos,
Cônscio de que há para aqui um certo percurso errático, entendi que devia vir um pouco atrás, ao século XIX, onde efetivamente começa o acervo permanente do museu e daí mostrar aquela bela parede onde se expõe o retrato, manifestação capital do século XIX para o século XX; sem perda de demora passei por dois modernismos para preparar o cenário que irá conduzir às alterações das décadas de 1960 a 1980. Vejo-me aflito quando chego às últimas salas do acervo permanente, desentendo-me com câmaras escuras e coisas parecidas, a minha fronteira é aquele João Tabarra, por ironia a fotografia foi vista, durante gerações, pelos estetas como uma arte bonitinha mas que devia ocupar um espaço à parte, os Eduardo Gageiro, Victor Palla ou Gérard Castello-Lopes que fiquem no arquivo fotográfico, não tem direito a competir com as artes plásticas, abre-se uma exceção para o Jorge Molder, escusam de me perguntar porquê. Tudo somado, é indispensável vir até este acervo permanente, tem uma leitura, um discurso pedagógico, que nos faz entender a palpitante viagem que começou em 1910. Portanto, uma visita obrigatória.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (211):
Visita ao novo acervo permanente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – 2
Mário Beja Santos
Recapitulando, era diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea Emília Ferreira e procedeu-se à reformulação do chamado acervo permanente, que isto dizer que o visitante do museu tem sempre em exposição um histórico do seu património, independentemente de exposições que estejam a acontecer. Entra-se no museu e a partir da Sala dos Fornos tem-se uma mostra do que melhor do século XIX o museu conserva, não faltam os românticos, os naturalistas, e assim caminhamos para a transição que será trazida pelos chamados modernistas.
Quem concebeu a exposição teve a feliz ideia de pôr de alto a baixo a parede de mudança de piso o chamado encontro de gerações, ali pontifica o retrato. Como escreve uma das responsáveis pela exposição, Maria de Aires Silveira temos ali mestres académicos, registos de elegância mundana, a densidade do retrato camoniano, assim se chega a Columbano, ali podemos ver o retrato de Teixeira de Pascoais, também está presente mestre Malhoa. E refere esta conservadora que por 1910 o autor portuense António Carneiro introduz a modernidade através da pintura Noturno, que aqui mostrámos no texto anterior. É igualmente nesta época que irrompem as ruturas com o academismo no século XIX. Percorremos essa sequência histórica de autores que vão desde a primeira geração modernista até ao neorrealismo e surrealismo, não esquecendo, porém, que em plena década de 1940 Fernando Lanhas abre caminho ao abstracionismo. É dentro desta recapitulação que pretendo repescar artistas de mérito até à transição que vai ocorrer a partir dos anos 1960. Veja-se Júlio dos Reis Pereira que usou de um traço e de um contexto grotesco, deliberadamente ingénuo, e numa atmosfera estética singular, isto numa época em que as artes plásticas se modernizavam mas dentro de um figurativismo que mantinha as regras do equilíbrio do traço.
António Pedro trilhou o surrealismo, figura polifacetada, homem de teatro, escritor de relevo. Fez objetos, escultura, cerâmica, galerista. Num tempo em que Leal da Câmara fora grande desenhador de humor em Paris e Amadeo Souza-Cardoso ganhara notoriedade internacional, em 1935, em Paris, Pedro assinou um manifesto ao lado de alguns dos nomes mais sonantes do tempo como Marcel Duchamp, Delaunay, Kandinsky, Miró, Picabia, Arp e Calder. No tempo da Exposição do Mundo Português, de 1940, era inaugurada no Chiado uma exposição por ele organizada, exposição surrealizante, ele, António Dacosta e a escultora inglesa Pamela Boden. Temos aqui neste Sabat - Dança de roda quatro corpos ou troncos, cruzam-se num espaço, envolvendo braços e seios e as quatro cabeças calvas fixam-nos em espanto. Quadro de uma grande violência carnal, como observará José-Augusto França.
Ainda não sabia, mas era uma revolução silenciosa, nada de figuras, linhas geometrizantes, mas, para desconforto do espírito académico e mesmo dos modernistas havia nesta conjugação de cores uma luminescência que era impossível refutar não se tratar de uma grande arte.
Estamos a entrar numa nova era, o neorrealismo deu sinais de esgotamento, o próprio surrealismo segue um caminho autónomo e algo de profundo iria acontecer com as bolsas da Fundação Calouste Gulbenkian, ir-se-ão impondo novos nomes, caso de Lourdes Castro, Helena Almeida, Bartolomeu Cid, Sá Nogueira, uns motivados pelos temas da sociedade de consumo, outros experimentando o uso da sua própria figura como modelo dentro da obra, será o caso de Helena Almeida como mais tarde Jorge Molder. O fundamental a reter é que a partir de agora a abertura a outras estéticas não será tão demorada como no princípio do século, isso ver-se-á nos trabalhos de Paula Rego ou de Menez. O museu pode orgulhar-se de ter obras de grande significado destas gerações, como abaixo se exemplifica.
As artes plásticas, como é óbvio, não estavam nem ficaram insensíveis seja à erupção de novos meios de comunicação e ao aproveitamento de novas tecnologias. A fotografia voltou a ganhar estatuto de nobreza, as instalações, as performances entraram na ordem do dia, de algum modo já tinha sido assim com o Op, a arte cinética, mas a dimensão tecnológica foi tão avassaladora que trouxe uma alteração profunda aos conceitos estéticos. Isto para já não falar nos aparatos espetaculares como o uso de detritos humanos, materiais da construção civil, etc.
Não sei para onde caminhamos, a minha fronteira do gosto acaba aqui.
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Nota do editor
Último post da série de 28 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26966: Os nossos seres, saberes e lazeres (687): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (210): Visita ao novo acervo permanente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – 1 (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Cônscio de que há para aqui um certo percurso errático, entendi que devia vir um pouco atrás, ao século XIX, onde efetivamente começa o acervo permanente do museu e daí mostrar aquela bela parede onde se expõe o retrato, manifestação capital do século XIX para o século XX; sem perda de demora passei por dois modernismos para preparar o cenário que irá conduzir às alterações das décadas de 1960 a 1980. Vejo-me aflito quando chego às últimas salas do acervo permanente, desentendo-me com câmaras escuras e coisas parecidas, a minha fronteira é aquele João Tabarra, por ironia a fotografia foi vista, durante gerações, pelos estetas como uma arte bonitinha mas que devia ocupar um espaço à parte, os Eduardo Gageiro, Victor Palla ou Gérard Castello-Lopes que fiquem no arquivo fotográfico, não tem direito a competir com as artes plásticas, abre-se uma exceção para o Jorge Molder, escusam de me perguntar porquê. Tudo somado, é indispensável vir até este acervo permanente, tem uma leitura, um discurso pedagógico, que nos faz entender a palpitante viagem que começou em 1910. Portanto, uma visita obrigatória.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (211):
Visita ao novo acervo permanente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – 2
Mário Beja Santos
Recapitulando, era diretora do Museu Nacional de Arte Contemporânea Emília Ferreira e procedeu-se à reformulação do chamado acervo permanente, que isto dizer que o visitante do museu tem sempre em exposição um histórico do seu património, independentemente de exposições que estejam a acontecer. Entra-se no museu e a partir da Sala dos Fornos tem-se uma mostra do que melhor do século XIX o museu conserva, não faltam os românticos, os naturalistas, e assim caminhamos para a transição que será trazida pelos chamados modernistas.
Quem concebeu a exposição teve a feliz ideia de pôr de alto a baixo a parede de mudança de piso o chamado encontro de gerações, ali pontifica o retrato. Como escreve uma das responsáveis pela exposição, Maria de Aires Silveira temos ali mestres académicos, registos de elegância mundana, a densidade do retrato camoniano, assim se chega a Columbano, ali podemos ver o retrato de Teixeira de Pascoais, também está presente mestre Malhoa. E refere esta conservadora que por 1910 o autor portuense António Carneiro introduz a modernidade através da pintura Noturno, que aqui mostrámos no texto anterior. É igualmente nesta época que irrompem as ruturas com o academismo no século XIX. Percorremos essa sequência histórica de autores que vão desde a primeira geração modernista até ao neorrealismo e surrealismo, não esquecendo, porém, que em plena década de 1940 Fernando Lanhas abre caminho ao abstracionismo. É dentro desta recapitulação que pretendo repescar artistas de mérito até à transição que vai ocorrer a partir dos anos 1960. Veja-se Júlio dos Reis Pereira que usou de um traço e de um contexto grotesco, deliberadamente ingénuo, e numa atmosfera estética singular, isto numa época em que as artes plásticas se modernizavam mas dentro de um figurativismo que mantinha as regras do equilíbrio do traço.
O pescador de sereias, por Júlio dos Reis Pereira, 1929
Sabat – Dança de roda, António Pedro, 1936
António Pedro trilhou o surrealismo, figura polifacetada, homem de teatro, escritor de relevo. Fez objetos, escultura, cerâmica, galerista. Num tempo em que Leal da Câmara fora grande desenhador de humor em Paris e Amadeo Souza-Cardoso ganhara notoriedade internacional, em 1935, em Paris, Pedro assinou um manifesto ao lado de alguns dos nomes mais sonantes do tempo como Marcel Duchamp, Delaunay, Kandinsky, Miró, Picabia, Arp e Calder. No tempo da Exposição do Mundo Português, de 1940, era inaugurada no Chiado uma exposição por ele organizada, exposição surrealizante, ele, António Dacosta e a escultora inglesa Pamela Boden. Temos aqui neste Sabat - Dança de roda quatro corpos ou troncos, cruzam-se num espaço, envolvendo braços e seios e as quatro cabeças calvas fixam-nos em espanto. Quadro de uma grande violência carnal, como observará José-Augusto França.
Cais 44, Fernando Lanhas, 1943-1944
Ainda não sabia, mas era uma revolução silenciosa, nada de figuras, linhas geometrizantes, mas, para desconforto do espírito académico e mesmo dos modernistas havia nesta conjugação de cores uma luminescência que era impossível refutar não se tratar de uma grande arte.
Sombra projetada de René Bertholo, Lourdes Castro, 1964
Estamos a entrar numa nova era, o neorrealismo deu sinais de esgotamento, o próprio surrealismo segue um caminho autónomo e algo de profundo iria acontecer com as bolsas da Fundação Calouste Gulbenkian, ir-se-ão impondo novos nomes, caso de Lourdes Castro, Helena Almeida, Bartolomeu Cid, Sá Nogueira, uns motivados pelos temas da sociedade de consumo, outros experimentando o uso da sua própria figura como modelo dentro da obra, será o caso de Helena Almeida como mais tarde Jorge Molder. O fundamental a reter é que a partir de agora a abertura a outras estéticas não será tão demorada como no princípio do século, isso ver-se-á nos trabalhos de Paula Rego ou de Menez. O museu pode orgulhar-se de ter obras de grande significado destas gerações, como abaixo se exemplifica.
A Noiva, por Paula Rego, 1972
Sem título, Menez, 1985
Sem título, João Vieira, 1972
Da série TV, Jorge Molder, 1995
This is not a drill (No Pain No Gain), João Tabarra, 1999
As artes plásticas, como é óbvio, não estavam nem ficaram insensíveis seja à erupção de novos meios de comunicação e ao aproveitamento de novas tecnologias. A fotografia voltou a ganhar estatuto de nobreza, as instalações, as performances entraram na ordem do dia, de algum modo já tinha sido assim com o Op, a arte cinética, mas a dimensão tecnológica foi tão avassaladora que trouxe uma alteração profunda aos conceitos estéticos. Isto para já não falar nos aparatos espetaculares como o uso de detritos humanos, materiais da construção civil, etc.
Não sei para onde caminhamos, a minha fronteira do gosto acaba aqui.
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Nota do editor
Último post da série de 28 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26966: Os nossos seres, saberes e lazeres (687): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (210): Visita ao novo acervo permanente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – 1 (Mário Beja Santos)
quarta-feira, 18 de junho de 2025
Guiné 61/74 - P26931: Manuscrito(s) (Luís Graça) (269): o azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim
Fotos: © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim
por Luís Graça
Não gostavas de escrever a azul.
Também não gostavas de escrever a vermelho.
Sempre gostaste de escrever a preto.
Em papel liso.
Sempre detestaste as linhas
mas nem sempre havia papel liso
nem esferográficas pretas.
Vermelho, não, carmesim (*),
como se dizia antigamente,
no tempo em que o vermelho era proibido
nas repartições públicas do Estado de Direito.
E muito menos
nos registos paroquiais
de batizados, casamentos e óbitos.
Carmesim e não vermelho,
era a cor das vestes dos cardeais.
Carmesim flamejante.
Também se usava o carmesim
nas provas tipográficas dos livros
no tempo em que os tipógrafos eram anarcossindicalistas
e tinham três ódios de estimação:
Deus, o Rei e o Capital.
Branca e azul era a bandeira.
Depois passou a ser verde e vermelha,
Por pudor dizia-se verde-rubra.
Rubra da cor das faces das moçoilas do povo
que era pouco republicano
e muito temente a Deus.
Carmesim e não vermelho,
era a cor das vestes dos cardeais.
Carmesim flamejante.
Também se usava o carmesim
nas provas tipográficas dos livros
no tempo em que os tipógrafos eram anarcossindicalistas
e tinham três ódios de estimação:
Deus, o Rei e o Capital.
Branca e azul era a bandeira.
Depois passou a ser verde e vermelha,
Por pudor dizia-se verde-rubra.
Rubra da cor das faces das moçoilas do povo
que era pouco republicano
e muito temente a Deus.
Rubra como o tomate saloio.
Deus que, nesse tempo,
Deus que, nesse tempo,
escrevia direito por linhas tortas.
Mas sempre a azul, celestial.
Deus, Pátria e Família
também só podiam ser escritos a azul.
Mas sempre a azul, celestial.
Deus, Pátria e Família
também só podiam ser escritos a azul.
Era a única tinta que se usava
na tua Escola Conde Ferreira.
Gostavas de escrever à mão.
Mas às vezes não tinhas esferográficas pretas, à mão.
E, depois, nem todas as esferográfica pretas prestavam.
Nem todas eram válidas e fiáveis.
Cmo as escalas,
biométricas, psicométricas e até sociométricas,
deviam ser.
Ficavas pior que estragado
quando o bico (ou a ponta ?)
arranhava o papel liso do teu bloco de notas gráfico.
Dizia-se bico (e náo ponta) no tempo da Bic.
Gostavas da Bic, passe a publicidade.
Mas depois a Bic passou a ser feita em países
que eram pouco fiáveis mas que tinham futuro.
O teu país era fiável,
arranhava o papel liso do teu bloco de notas gráfico.
Dizia-se bico (e náo ponta) no tempo da Bic.
Gostavas da Bic, passe a publicidade.
Mas depois a Bic passou a ser feita em países
que eram pouco fiáveis mas que tinham futuro.
O teu país era fiável,
no tempo em que o ouro se mordia com os dentes.
Mas depois, dizia-se, deixou de ter futuro.
Há 500 anos que perdia a bússola
e passava a navegar à bolina,
em linguagem náutica.
Ou à deriva,
e passava a navegar à bolina,
em linguagem náutica.
Ou à deriva,
em termos mais comesinhos.
Do azul só gostavas das flores dos jacarandás.
Não gostavas do azul
no tempo em que se embrulhava um homem
em papel selado.
Que era azul, e tinha linhas,
25 linhas.
E não havia tira-linhas, só tira-nódoas.
Não gostavas do papel selado.
Azul, de 25 linhas.
Não gostavas do azul
nem do vermelho, aliás, carmesim.
Do tempo em que os coronéis da censura
usavam lápis azuis e vermelhos, aliás, carmesins.
Quando foste para a tropa,
gostavas do preto.
Usavas boina preta,
camisola preta,
calças pretas,
luvas pretas...
E esferográfica preta.
Mas depois, disseram-te,
que era politicamente incorreto, o preto.
Por causa não-sei-quê-de-conotações-racistas.
Dizia-se negro, e não preto.
Mas houve uma altura em que o preto dava jeito.
E, depois, dizia o capelão,
no princípio era o mundo.
E o mundo era a preto e negro.
Ainda te lembravas das fitas
a preto e vermelho, aliás, carmesim,
com que batias à máquina
poemas sem pés nem cabeça,
só com tronco e braços decepados.
No tempo em que era proibido escrever a vermelho,´
por isso dizia-se carmesim.
E até os sinais de proibição do código da estrada
eram a carmesim.
Não se podia dizer nem escrever
vermelho.
E os próprios jornais, sobretudo os do reviralho,
só podiam publicar títulos de caixa alta
a carmesim.
Em dias de festa.
Ficava cara a impressão.
O preto não era cor, logo era mais barato.
Mas o azul também não vendia jornais.
O preto era a ausência de cor.
Não havia o preto na paleta das cores do arco-íris,
explicava-te o teu professor de química.
Os espanhóis, esses, eram daltónicos
e foram mais pragmáticos:
só havia os rojos e os blancos.
E mataram-se uns aos outros.
E mataram-se uns aos outros.
Lisboa, Feira do Livro, 8 de junho de 2025
Nota do autor:
(*) carmesim
carmesim
(car·me·sim)
carmesim
(car·me·sim)

Gradação muito carregada da cor vermelha.
nome masculino
1. Gradação muito carregada da cor vermelha.
adjectivo de dois géneros
2. Que tem essa cor.
Origem etimológica: árabe qirmezi, tingido de vermelho, de qirmiz, vermelhão, encarnado.
"carmesim", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/carmesim.
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Último poste da série > 20 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26599: Manuscrito(s) (Luís Graça) (268): A velha Amura dos tugas, agora panteão nacional...
2. Que tem essa cor.
Origem etimológica: árabe qirmezi, tingido de vermelho, de qirmiz, vermelhão, encarnado.
"carmesim", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/carmesim.
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Nota do editor:
Último poste da série > 20 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26599: Manuscrito(s) (Luís Graça) (268): A velha Amura dos tugas, agora panteão nacional...
sexta-feira, 30 de maio de 2025
Guiné 61/74 - P26865: Agenda Cultural (887): Visitas guiadas à exposição "Imaginários da Guiné-Bissau - O Espólio da Álvaro de Barros Geraldo (1955-1975)", patente de 8 de maio a 31 de agosto de 2025, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Rua da Escola Politécnica 56, Lisboa (Catarina Laranjeiro)
1. Mensagem de Catarina Laranjeiro, investigadora no Instituto de História Contemporânea da NOVA (FCSH), com data de hoje, 30 de Maio de 2025, dando conta das visitas guiadas à Exposição "Imaginários de Guiné-Bissau", no Museu Nacional de História Natural e da Ciência:
Boa tarde,
Gostaria muito de contar com vocês nas visitas comentadas da exposição Imaginários da Guiné-Bissau: O Espólio de Álvaro de Barros Geraldo, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência.
A primeira visita é já este domingo!
A exposição, que contou com a curadoria minha e da Inês Vieira Gomes, parte do espólio de Álvaro de Barros Geraldo para questionar o argumento da “manutenção da paz” num território em guerra.
Através de imagens de emboscadas, cerimónias e iniciativas militares e sociais, propõe-se uma leitura crítica desse discurso e dos seus legados pós-coloniais, neste ano em que celebramos os 50 anos das independências das antigas colónias portuguesas.
O Museu é um espaço fresco, com um belo jardim para quem vier com crianças.
Aqui ficam as datas das visitas comentadas, sempre às 11h00:
01.06 (domingo): Visita comentada por Daniel Barroca e João Egreja
29.06: Visita comentada por Catarina Mateus e Inês Vieira Gomes
13.07: Visita comentada por Ariana Furtado e Catarina Laranjeiro
27.07: Visita comentada por Aurora Almada e Santos e Paulo Catrica
31.08: Visita comentada e debate com Amadu Dafé e Onésio Soda
Um abraço
Catarina
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Nota do editor
Último post da série de 24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26840: Agenda Cultural (886): Entrada livre... O nosso grão-tabanqueiro, luso-guineense, Mamadu Baio & Amigos (incluindo o João Graça, violino, mais 5 guineenses), amanhã, dia 25, no Palácio Baldaya, Estrada de Benfica, 701, Lx, às 17h30, na 16ª edição do festival "Junta-Te Ao Jazz"... Encerra, às 18h30, com o grande Paulo Flores, a voz angolana do kizomba, do semba, da resiliência e da esperança
quarta-feira, 21 de maio de 2025
Guiné 61/74 - P26828: (In)citações (271): Eu vivo na Lisboa que amo (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

Lisboa
A recordação mais antiga que tenho de Lisboa é a vista que do rio, se alcançava de uma pequena janela da casa dos meus tios. Ficava à janela vendo o vai e vem dos barcos. De vez enquanto passava um grande navio majestoso que à distância parecia de brincar. A casa ficava na Rua da Saudade, onde era visita assídua, bem como ao Castelo de São Jorge que quase servia de recreio, tão perto que rapidamente se alcançava.
Dali também era ponto de partida para ir ao cinema ali para os lados dos Restauradores, ou ir a pé percorrer as ruas até ao Tejo, ali na Praça do Comércio, não resistindo ao chamariz das lojas com roupas que os jovens gostavam em especial os Porfírios, ou até ao cais do Sodré para apanhar o comboio da linha até Paço D’Arcos onde tinha família e com quem ia à praia, ou simplesmente gozava da sua companhia.
Lisboa era assim um local de diversão e descoberta para um jovem oriundo da província com horizontes muito limitados.
Foram-se passando os anos até gravar a fogo a minha partida para África, para o serviço militar obrigatório, num dia de nevoeiro, uma cidade cinzenta, apática e triste de tão habituada estar a ver-nos partir, já não se sobressaltava nem dignava a olhar. Regressei 27 meses depois a uma Lisboa soalheira e luminosa onde em meados de Abril, numa madrugada um grupo de soldados corajosos, devolveu a cidade, e o país, ao povo que encheu as ruas e foi a festa da minha vida. Milhões onde os corações em uníssimo exultaram pela a democracia e a Paz. Quem tinha chegado da Guiné saboreava a paz, como um sabor doce que se estendia a todos os sentidos.
Passaram-se 50 anos, até que vim viver para onde a cidade se confunde com os lugares que formam a grande metrópole de várias cores e aromas, que lhe dão aquela imagem de ter o Mundo todo dentro de si. Lisboa é descoberta, são jovens e idosos, já não há pregões, frequenta-se hipermercados na vez de jardins, ainda sobrevivem esplanadas, algumas onde se dança normalmente música brasileira na sua alegria contagiante. De noite ouvem-se as sirenes a provar que a cidade não dorme na sua dolência morena de miscigenação através da memória do tempo.
Eu vivo na Lisboa que amo
Há quem a queira tornar só branca, retirar-lhe o mistério, apagar os sons e os sabores de outras paragens, acabando com os contornos que os séculos levaram a desenhar.
Os ignorantes nunca sabem o que fazem na verdade.
20 de Maio 2025
Juvenal Sacadura Amado
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Nota do editor
Último post da série de 20 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26823: (In)citações (270): Um abraço forte, fraterno e amigo, ao cor inf ref Vasco Lourenço (Eduardo Estrela, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2592 / CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)
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