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sábado, 1 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26540: Os nossos seres, saberes e lazeres (671): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (194): From Southeast to the North of England; and back to London (13) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Vejo-me forçado a dar o dito por não dito, fizera uma visita apressada ao acervo fotográfico do que fora a visita à Galeria Courtauld, afinal ficara por mostrar um bom punhado de imagens de obras-primas da pintura europeia. A despedida de Londres fica para a semana, ainda restam algumas imagens do que vi na Galeria Courtauld e o mínimo que posso dizer é que esta galeria é um precioso tesouro. Há visitas gratuitas em Londres ao British Museum, à Tate Gallery, à National Gallery, à National Portrait Gallery, ao Museu Vitória e Alberto, santuários de visita obrigatória; a Courtauld pode custar entre 10 a 12 libras, importância aproximada para visitar o acervo da Royal Academy of Arts. Londres tem aquele tempero das amplas superfícies, da multiplicidade de lugares de oferta completa para qualquer ângulo do lazer, desde uma famosa feira da ladra em Portobello ao Museu Imperial da Guerra, a área dos teatros, a sumptuosidade do Tamisa, a zona residencial das docas, etc. etc. Estou pronto para regressar, haja proventos e saúde.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (194):
From Southeast to the North of England; and back to London – 13


Mário Beja Santos

O homem põe e a câmara fotográfica do smartphone dispõe. Isto de começar a extrair imagens do arquivo e dizer que estava feita a visita à Galeria Courtauld, era uma tirada fora da realidade. Como visitante bem-comportado, e ainda com carga energética, andei por todos os andares e procurei contemplar as obras mais significativas, de acordo com uma leitura prévia que fizera ao conteúdo da galeria. Penitencio-me, por um lado, de dar o dito por não dito, ainda vão sobrar algumas imagens antes de me pôr a andarilhar pelas margens do Tamisa até ao Parlamento, por outro considero que ofereço ao leitor a recordação de um lote de obras-primas que enformam a nossa civilização e cultura, são peças genuinamente representativas. Vamos à visita e deixamos para a semana a despedida de Londres.
Entrada da Courtauld Gallery no edifício da Somerset House
Autorretrato com a orelha cortada, Van Gogh, 1889.
O genial pintor fez este seu autorretrato em janeiro de 1889, uma semana após ter deixado o hospital, fora acometido por uma crise que o levou a cortar uma boa parte da sua orelha esquerda (aqui mostra-se o penso na orelha direita porque ele pintou-se a olhar ao espelho, tivera uma grande crise de desespero depois de uma discussão com o pintor Paul Gauguin. O que assoma frontalmente é a sua vontade de viver e o seu entusiasmo em voltar à pintura.
Ponte de Courbevoie, por Georges Seurat, cerca de 1886-87.
Seurat tinha recentemente desenvolvido a técnica do pontilhismo que registou esta vista do rio Sena, ponto a ponto cria-se uma imagem com uma mistura de cores na paleta. Tinham surgido novas teorias óticas que sugeriam que esta técnica tornava a pintura mais vibrante. Ora o resultado é de uma melancolia e repouso, e ganhou ênfase com as árvores verticais e os mastros dos barcos. A indústria química lá ao fundo é um alerta de que Courbevoie se estava rapidamente a transformar num subúrbio industrial de Paris.
Pintura de Cecily Brown (1969) intitulada Desorientada pela sua reflexão, 2021.
Cecily fez este trabalho num painel curvo no topo da histórica escadaria de Courtauld. Quando o edifício abriu ao público em 1780, o painel continha uma pintura a deusa Minerva e as musas da arte. O trabalho da artista abarca envolve o espetador numa visão sonhadora da pintura trabalhada entre a abstração e a figuração. Alusões a trabalhos artísticos que ela particularmente admira vêm à superfície. Por exemplo, a figura do banhista à direita da parte central faz uma alusão ao quadro Le Déjeneur sur l’herbe de Édouard Manetl. Há em toda a pintura uma flutuação entre o passado e o presente.
A Trindade com Dona Maria Madalena e João Baptista, por Sandro Botticelli, à volta de 1491-94.
Esta peça de altar é uma das pinturas mais importantes de Botticelli no Reino Unido. A visão da Trindade domina a obra: Deus Pai sustenta a cruz com o sacrifício do seu filho enquanto a pomba do Espírito Santo paira entre eles.
Cristo e a Adultera, por Pieter Bruegel o Velho, 1565.
Nos degraus do Templo de Jerusalém, Cristo para a execução da mulher condenada à morte por apedrejamento devido ao adultério. Então que Cristo escreve na areia que quem estiver sem pecado seja o primeiro a atirar-lhe a pedra. É um trabalho invulgar de Bruegel que usou unicamente cinzentos sombreados, uma técnica conhecida por “grisaille”. De forma genial, Bruegel criou uma multidão, deixando os tons claros exclusivamente para o primeiro plano.
Paisagem com a Fuga para o Egito, por Pieter Bruegel o Velho, 1563.
Trata-se de um recorrente tema presente na pintura medieval e renascentista, Maria, José e Jesus fogem para o Egito devido à perseguição de Herodes. A soberba e dramática paisagem nada tem a ver com a Flandres, talvez Bruegel tenha guardado a sua recordação da travessia dos Alpes, e o que há de muito admirável neste pequeno quadro é a profunda extensão da paisagem, deixando para o primeiro plano a cena da atribulação da viagem.
Adão e Eva, por Lucas Cranach o Velho, 1526.
Cranach pintou o momento fatal da desobediência a Deus, Eva trinca a maçã da árvore da sabedoria, a única árvore proibida no Jardim do Éden. Adão, depois de hesitar, toma o fruto e o casal é banido em castigo. O pintor pretende dar-nos a imagem de animais em paz, uma serenidade que em breve se perderá. Cranach terá feito cerca de 50 versões deste assunto, este é um dos seus maiores quadros e porventura o mais belo.
Retrato de Francisco de Saavedra, por Goya, 1798.
O que há de mais singular na execução desta obra é o contraste entre a falta de pormenores e a sumptuosidade e solenidade habituais dos retratos do tempo. Francisco de Saavedra está centrado numa figura sentada com um braço encostado a uma mesa. Saavedra era o ministro das Finanças da Corte de Espanha, a pintura foi encomendada por um amigo de Saavedra, o ministro da Justiça Gaspar de Jovellanos.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 22 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26519: Os nossos seres, saberes e lazeres (670): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (193): From Southeast to the North of England; and back to London (12) (Mário Beja Santos)

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