Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de Março de 2008 > Visita de um grupo de participantes do Simpósio Internacional de Guileje, depois de um almoço em Cananime, na margem direita do Rio Cacine. É hoje uma povoação com evidentes sinais de abandono e decadência.
Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 7 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje > O último dia da nossa estadia > Três companheiros de uma jornada inesquecível: O Capitão de Mar e Guerra, na situação de reforma, Pedro Lauret, Iva Cabral, historiadora, primeira filha de Amílcar Cabral e da portuguesa Maria Helena Ataíde Vilhena, e o Cor Comando, na situação de reforma, Carlos Matos Gomes (também conhecido e celebrado autor de obras de ficção sobre a guerra colonial e as vivências de África, sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz).
Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > A LFG Orion a navegar no Cacheu em Janeiro de 1967.
Foto: © Lema Santos (2006). Direitos reservados.
"A revolta do navio Orion, da Marinha portuguesa, no dia 2 de Junho de 1973 foi decisiva para salvar a vida de centenas de soldados e população que fugiram dos bombardeamentos do PAIGC na batalha de Gadamael. Este episódio de desobediência a ordens de Spínola, desconhecido até hoje, é indissociável da resistência travada por meia dúzia de soldados no interior do aquartelamento de Gadamael. As suas histórias são aqui contadas por alguns dos seus protagonistas, como o comandante da Marinha Pedro Lauret, o coronel dos comandos Manuel Ferreira da Silva e o grumete Ulisses Faria Pereira. Eles são, com outros, os heróis desconhecidos de Gadamael". (In: "A nave dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos. Uma investigação de Eduardo Dâmaso". Público, nº 5571, 26 de Junho de 2005).
1. Mensagem do
Pedro Lauret (1), com data de 8 de Abril, respondendo ao meu pedido para publicar, no blogue, a sua comunicação ao Simpósio Internacionald e Guileje:
Caro Luís,
Tens toda a autorização para publicares a minha comunicação no Simpósio, que agradeço.
A gala da
A25A [- Associação 25 de Abril ] foi espectacular muita emoção, muitas recordações… [Gala
Vozes de Abril, no dia 4 de Abril de 2008, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa]
Tenho acompanhado, [no nosso blogue,] as reportagens da Guiné, que estão excepcionais. É muito bom que um acontecimento histórico, como foi o Simpósio, esteja devidamente documentado e divulgado.(...)
Brevemente teremos que falar sobre o nosso
site da Guerra Colonial, que penso que estará pronto no último trimestre deste ano.
Um abraço
Pedro Lauret
2. Comunicação do Capitão de Mar e Guerra, na situação de reforma, Pedro Lauret, no Simpósio Internacional de Guileje: Bissau, Hotel Palace, de 5 Março de 2008, Painel 2. Título da comunicação:
A Marinha no Teatro de Operações da Guiné. Guileje Gadamael, Maio Junho de 1973, o papel da Marinha.
A Marinha no Teatro de Operações da Guiné. Guileje Gadamael, Maio-Junho de 1973, o papel da Marinha (2)
por Pedro Lauret (3) . Subtítulos de L.G.
(i) Imediato da LFG Orion, em fim de comissão: subordinando as suas convicções políticas à vida dos seus subordinados
Tentei até agora dar uma visão sintética da História da Marinha após a II Guerra Mundial, seu enquadramento político, e a realidade que emergiu do início da Guerra Colonial.
Sinteticamente também pretendi transmitir o que era a Marinha no teatro de operações da Guiné.
Para terminar vou abordar os acontecimentos ocorridos em Maio e Junho de 1973 em que participei. Será uma narrativa muito mais pessoal e opinativa, embora, obviamente baseado em factos reais por mim vividos.
Fui imediato do NRP Orion uma LFG, de Setembro de 1971 a Julho de 1973 (4), o meu navio esteve sempre operacional pelo que tive oportunidade de conhecer bem todos os rios com água suficiente para o meu navio passar.
Quando em 1971 cheguei a Bissau, jovem guarda-marinha de 22 anos, já tinha sobre a guerra uma visão clara da sua natureza, já tinha uma visão clara da natureza do regime ditatorial em que nascera e logicamente sabia que iria combater por uma causa que não considerava justa. Era uma situação difícil, que aceitei lucidamente com a noção das dificuldades que iria encontrar. Tinha também uma certeza: uma vez que optara por ir, a prontidão e operacionalidade do meu navio nunca poderia estar em causa. A vida dos meus subordinados e o meu compromisso com eles sobrepunham-se às minhas convicções.
Nas muitas milhas que naveguei tive oportunidade de desembarcar em muitos aquartelamentos do Exército, apreciei o modo de vida dos soldados, o seu dia-a-dia, as casernas, os abrigos. Vi jovens como eu, condenados a passar dois anos fora das suas terras, das suas famílias e amigos, vivendo dias de tensão e de perigo, mal comidos, mal fardados, mal armados. Vi muitas companhias comandadas por jovens capitães milicianos, com início de carreira interrompida, completamente desmotivados e incapazes de conduzir satisfatoriamente os 170 homens que comandavam. Aqueles homens, além do mais, estavam também mal comandados.
Quando à noite no meu navio, fundeado no Cumbijã, ou Cacine, atracado em Bigene ou em Binta ou em qualquer outro local, via e ouvia os rebentamentos, ora dos morteiros ou foguetões de 122, ora a resposta dos obuses do exército, era um espectáculo inesquecível de uma beleza cruel. Por detrás de cada um daqueles rebentamentos e clarões poderia naquele momento ter acabado de morrer ou ficar ferido algum ser humano.
Todas estas situações me levavam a pensar: que regime era aquele que durante tantos anos atirava gerações sucessivas de jovens para aquela situação, uma guerra votada ao insucesso e à derrota.
(ii) Gudaje, a ferro e fogo, e três aeronaves abatidas no dia 8 de Maio de 1973
Foi já em fim de comissão, no início de Maio de 1973, propriamente no dia 8, que estando atracado em Bigene logo pela manhã sinto em terra, onde estava aquartelado o Destacamento de Fuzileiros nº 8 (DFE 8), movimento fora do comum, indiciando que algo de grave se passava ou iria passar.
Guidaje fora atacada logo aos primeiros alvores com enorme intensidade tendo feito um elevado número de feridos. Um Dornier tinha levantado de Bissau e dirigia-se a Bigene para recolher o médico que aí se encontrava para, posteriormente, ir socorrer os feridos. Logo após ter levantado e a meio caminho de Guidaje foi abatido.
O DFE8 estava em preparativos para se deslocar para o local. O destacamento devia embarcar no meu navio e ser largado, por botes, junto à foz do pequeno Rio Jagali. Neste meio tempo começa um movimento de helicópteros como em 2 anos nunca vira. A princípio não me apercebi do que se passava, depois fui informado que uma companhia de Páras fora transportada de Bissau para Bigene para a partir daí seguir ao encontro do DFE 8 e ambos tentarem resgatar o que fosse possível.
Entretanto vindos de Bissau dois T6 foram bombardear a zona e um deles foi de imediato abatido.
Conseguimos desembarcar o DFE8 conforme previsto, que conseguiu chegar ao local onde os aviões se encontravam, sem incidentes. O mesmo não aconteceu à companhia de Páras que à saída de Bigene fora emboscada e tivera um morto.
Algumas horas depois reembarcámos os fuzileiros que só encontraram destroços carbonizados, e entre eles um pedaço do míssil que abatera o avião. Esse pedaço de míssil foi por nós trazido para Bissau, poucos dias depois. Serviu para confirmar, com certeza, que se tratava de um míssil Strella.
Viemos posteriormente a saber que, nesse mesmo dia, tinha levantado um outro Dornier rumo a Guidaje para socorrer os feridos da manhã, conseguira aterrar, mas ao levantar, após ter embarcado os feridos, desaparecera sendo dado por abatido.
Três aviões no mesmo dia foram abatidos, o que levou a Força Aérea a interromper as suas missões, só as retomando algum tempo depois com perfis de voo defensivo e uma eficácia global muito reduzida.
Esta situação de perda da superioridade total do ar, como sempre tivéramos, teve de imediato duas muito graves consequências:
- As evacuações de feridos por helicóptero não se faziam;
- Não havia apoio aéreo próximo que permitisse interromper ataques às nossas tropas.
Estas circunstâncias vão permitir ao PAIGC cortar a estrada de Binta a Guidaje e montar-lhe um cerco que, apesar de muitos esforços, só consegue ser totalmente levantado através da Operação Ametista Real que envolve a totalidade do Batalhão de Comandos Africanos.
(iii) 1 de Junho: no sul, no Rio Cumbijã, para embarcar uma companhia de páras em Cafine
Após alguns dias de estadia em Bissau para pequenas reparações e reabastecimento, sigo para o Rio Cumbijã, render a LFG que aí se encontrava em missão. Tínhamos como força, além da própria LFG, duas LDM e transportávamos 8 botes e respectivos motores com elementos da companhia de fuzileiros para o seu manuseamento e condução.
No dia 1 de Junho ao jantar sou alertado pela cabine de TSF que estava a chegar uma mensagem “O” – designativo para mensagem de muito elevado nível de precedência – dirigi-me à cabine e assisti ao final da decifração da mensagem.
O teor da mensagem era preocupante: Dirigir-se a Cafine na margem esquerda do Cumbijã e embarcar uma companhia de Páras que aí se encontrava estacionada e de imediato seguir para Cacine.
Só o facto de efectuar o embarque no navio àquela hora e naquelas circunstâncias denotava uma situação grave e urgente.
Demos ordem às 2 LDM para seguirem para Cacine pelo Canal do Melo o que abreviava em muito a viagem. Nós não podíamos seguir aquele itinerário devido ao nosso calado.
Conseguimos embarcar a companhia sem incidentes e dirigimo-nos para Cacine, onde chegámos aos primeiros alvores do dia seguinte. Aí, após termos desembarcado a companhia, entrou a bordo o Major pára-quedista Pessoa que nos informou:
- Que Guileje, após intensos bombardeamentos, fora evacuada e o contingente aí instalado seguiu para Gadamael;
- Que o Major Coutinho e Lima, comandante do COP, que tinha dado a ordem, seguira para Bissau sob prisão;
- Que Gadamael estava sob fogo intenso e a grande maioria dos militares tinha fugido para as margens do rio Cacine;
- Que o General Spínola tinha estado em Cacine e tinha dado ordem explícita para ninguém ir socorrer o pessoal que andava fugido nas margens do rio, apelidando-os de cobardes.
O Major Pessoa ainda nos informou que, se nós não fossemos recuperar o pessoal, ele próprio iria nem que fosse de canoa.
Pela minha cabeça, de imediato, passou a imagem dos generais que em Nuremberga justificaram as atrocidades que cometeram por terem recebido ordens para as executar. Sem obviamente querer comparar a gravidade relativa do caso, foi isto que pensei. Pensei que há ordens que não se cumprem, apesar de nós, militares, sermos formados para obedecer. A recusa ao cumprimento de tal ordem era uma exigência de honra, era uma exigência moral.
(iv) No Rio Cacine, recolhendo o pessoal fugido de Guileje e de Gamadael
O navio por sua inteira responsabilidade, e sem nada comunicar ao Comando da Defesa Marítima, decidiu de imediato ir recuperar o pessoal. Foram dadas indicações aos patrões das LDM para seguirem nas águas da Orion.
Passámos o rio Meldabon junto a uma marca radar (marca Lira), a qual já não era passada por uma LFG há muito, não se conhecendo a situação dos fundos.
Conseguimos seguir até ao rio Dideragabi, para montante era impossível navegar pois já não tínhamos fundo.
Foram colocados botes na água que passaram revista à margem esquerda do Cacine bem como as duas LDM. Foram recolhendo pessoal que traziam para bordo da Orion onde os feridos passaram a ser tratados, os mais ligeiros no convés, os mais graves foram para a coberta das praças. Foi fornecida alguma alimentação ao pessoal. Como já havia muito pessoal a bordo as LDM passaram a levar o pessoal para Cacine.
Já de noite a Orion dirigiu-se a Cacine, não podendo desembarcar os feridos mais graves pois estávamos em baixa-mar e a pista de lodo impedia-o.
Nesse dia a coberta das praças funcionou como navio hospital. O soro, compressas e outra material de primeiros socorros esgotaram. Foi pedido reabastecimento urgente a Bissau. Na manhã seguinte o material chegou num pequeno avião da Marinha.
O ambiente na coberta das praças estava de tal forma carregado de vapores de éter, que, tendo entrado uma praça a fumar, provocou uma explosão que fez disparar os disjuntores dos geradores, colocando o navio, por breves momentos às escuras.
Não sei descrever a situação moral e psicológica daqueles homens, as palavras não eram muitas, só os seus olhares denunciavam, sem margem para dúvidas, os sofrimentos porque passaram.
Esta operação continuou nos dias seguintes, não sei quantos homens evacuamos naquele dia 2 de Junho, mas certamente entre militares e população ultrapassou o milhar (confirmei na visita a Guileje que da população eram mais de 600 pessoas).
Continuámos nos dias seguintes a dar apoio aos pára-quedistas que entretanto tinham desembarcado em Gadamael.
Após alguns dias fomos rendidos e regressámos a Bissau. A bordo, deixadas de lado, algumas dezenas de G3 abandonadas pelos soldados. O princípio de nunca abandonar a própria arma já não tinha qualquer sentido.
(v) A controversa ordem de Spínola, ditada pelo desnorte militar, prenúncio do 25 de Abril
Quero concluir com duas notas.
A ordem do general Spínola não corresponde, em minha opinião a uma intenção sincera, revela antes um desnorte pela situação militar que então se vivia e pela incapacidade de a debelar.
Revela ainda que uma derrota militar na Guiné se podia aproximar rapidamente, com consequências, em termos de sacrifícios humanos, imprevisíveis, e que o Estado Novo se preparava, como fez na Índia para culpar os militares pela derrota, lavando com sangue a sua i ncapacidade para encontrar soluções políticas para os conflitos.
O 25 de Abril estava em marcha.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. poste anterior: 13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)
(2) Também está disponível, em formato.pdf, no blogue da A25A, Avenida da Liberdade.
(3) No nosso blogue, também já está disponível a comunicação do Cor Art Ref Coutinho e Lima:
23 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2677: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (1): Comandante do COP 5, com 3 comissões no CTIG
23 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2678: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (2): A dolorosa decisão da retirada de Guileje
(4) Sobre o Pedro Lauret, vd os postes:
1 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1137: Do NRP Orion ao MFA: uma curta autobiografia (Pedro Lauret, capitão-de-mar-e-guerra)
Sobre o desempenho da LFG Oiron e outros navios da nossa Marinha no TO da Guiné, vd.:21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos
5 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (Lema Santos)
15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)
15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)
5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)
31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1231: Estórias avulsas (5): Rio Cacheu: uma mina aquática muito especial (Pedro Lauret)
7 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1571: A Operação Larga Agora, o Tancroal / Porto Batu e as cartas náuticas do Instituto Hidrográfico (Lema Santos)
18 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2659: Histórias da Marinha (1): Um ataque à LFG Lira em 1967, em Cadique, no Rio Cumbijã (Manuel Lema Santos)
27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gadamael (ex-Fur Mil Art Paiva)
(...) "Por obra do acaso, deparei hoje com alguns blogues sobre os acontecimentos ocorridos em Guileje e Gadamael no período de 1972 a 1974 (2). Porque na oportunidade desempenhava funções de furriel miliciano afecto à Unidade de Artilharia localizada inicialmente em Guileje, e posteriormente retirada para Gadamael (após o abandono do primeiro daqueles aquartelamentos), tomei parte nos referidos acontecimentos.
(...) "Este pelotão de artilharia retirou na totalidade para Gadamael quando foi dada ordem de abandono do aquartelamento de Guileje. Para além dos graduados e oficial acima referidos, retiraram ainda os cabos e praças (estes últimos naturais da Guiné).
"Em Gadamael, a artilharia passou efectivamente muito maus bocados mas não ficou totalmente inoperacional, tanto quanto me recordo. O seu alferes teve aliás um comportamento de bravura pois foi ferido e continuou a desempenhar as sua funções, embora numa situação bastante precária.
(...) "Já agora poderia acrescentar que uma parte dos militares que se deslocaram para Gadamael, acabaram por abandonar também este aquartelamento, acompanhados de parte da população. Porém uma parte dos militares conseguiu aguentar este aquartelamento até à chegada de reforços que entretanto para ali foram enviados.
"Alguns oficiais, sargentos e praças (acompanhados de parte da população) - nos quais me incluía eu -, iniciaram uma retirada para Cacine que foi efectuada debaixo de fogo e que se processou em botes dos fuzileiros. Já agora poderei acrescentar que a evacuação não foi totalmente conseguida nesse dia porque entretanto as operações de resgate foram suspensas por ter começado a anoitecer.
(...) "Eu próprio iniciei a travessia antes de se ter completado o vazamento da maré e, porque não era um nadador exímio, e por outro lado com o peso das botas e da G3 e a força da corrente, tive que a meio da travessia me desembaraçar da minha arma (foi para o fundo do rio) para não morrer afogado. E fiquei a dever a minha vida a um milícia guineense que na outra margem do rio - e a partir do lodo onde se encontrava e para onde eu pretendia arrastar-me - me estendeu a coronha da sua arma a que eu, num esforço titânico, consegui agarrar-me. Fiquei a dever-lhe a minha vida e, no meio da confusão e do caos, sem saber a quem concretamente (ainda hoje...)" (...)