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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23785: Prova de vida (6): Nem todos os balantas eram... "turras" (Manuel Joaquim, ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67)






Manuel Joaquim, ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 1419, 
Bissau, Bissorã e Mansabá (1965/67). Tem uma coleção de cerca de 175 cartas, 
das que escreveu a (e recebeu de) sua companheira, hoje mãe dos seus filhos 
e avó dos seus netos. 



Manuel Joaquim (c. 2019).
Foto:  Cortesia de Manuel Resende
1. O nosso camarada  e amigo Manuel Joaquim, ex-fur mil armas pesadas inf da CCAÇ 1419 (Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), hoje professor do ensino básico reformado,  além de sócio da ONGD Ajuda Amiga, tem 105 referências no nosso blogue,  Está connosco, como membro,  de pleno direito,  da Tabanca Grande, desde 3 de agosto de 2009. 

 É autor da notável série "Cartas de amor e guerra", de que se publicaram duas dezenas de postes, entre janeiro de 2013 e maio de 2015. O último poste da série foi o P14577 (*). 

Também é autor da série "Memórias de Manuel Joaquim" (de que se  publicaram dez postes, o último foi o P11263) (**).

Razões de saúde (sofre de problemas do foro oftalmológico) levaram-no a condicionar e a limitar a sua colaboração no blogue.  Conheci-o pessoalmente há 11 anos atrás, em 4 de junho de 2011, no VI Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real,  Temo-nos enocntrado por aí, desde então. Tive o  grato prazer de o rever, mais recentemente,  no último  encontro da Tabanca da Linha, no passado dia 22 de setembro. Abracei-o com emoção.

Não posso esquecer que ele aceitou partilhar, no nosso blogue, parte da sua correspondência do tempo da sua "comissão de serviço militar" na Guiné (1965/67). Escrevi eu, em 8 de janeiro de 2013, no poste P10910, o seguinte: 

(...) O teu gesto - partilhar a tua correspondência íntima - é de uma grande nobreza, e eu espero que seja recebido com apreço e gratidão por todos os leitores do blogue (só este ano, vamos ultrapassar o milhão e 200 mil visitas!). É um serviço que prestas à Pátria, a tua terra, aos teus filhos e netos, aos teus camaradas, ao tempo e ao lugar em que nos coube nascer. Poucos de nós terão um acervo tão rico como o teu, em matéria de correspondência íntima, ao fim deste século!... Além disso, eras professor, já trabalhavas, tinhas namorada, tinhas outra maturidade que muitos não tinham quando foram para a tropa (, nomeadamente os milicianos).(...)

2. O Manuel Joaquim não precisa de fazer "prova de vida" (***)...  Felizmente está vivo e continua con ganas de viver, apesar das suas limitações de saúde, o que é cada vez mais frequente, infelizmente, no caso de todos nós, antigos combatentes... (Quem é que não se queixa ?!... "Até aos quarenta, bem eu passo, depois dos quarento, ai a minha perna, ai o meu braço")...

Mas eu (e muitos leitores) tenho saudades da sua escrita. Lembrei-me de ir respescar a primeira história que ela aqui publicou, o "Balanta Furtador" (***)... Uma belíssima história, que nos faz pensar e traz-nos outras lembranças parecidas... 

E até vem a propósito, porque de tempos a tempos fomos confrontados com um arreigado estereótipo social do nosso tempo, a falsa dicotomia Fula  (aliado dos "tugas" - bravo - leal) "versus" Balanta ("turra" . homem do mato - "cabra macho" - "carne para canhão" das tropas do Amílcar Cabral)... 

Ora nem todos os balantas estiveram do mesmo lado da "barricada"... Nem todos os balantas foram "turras"...

Além disso, o Manuel Joaquim é  o "padrinho" do nosso "minino Adilan" (nome balanta), o José Manuel Sarrico Cunté, igualmente membro da nossa Tabanca Grande.  A história  destes dois grandes seres humanos (que a guerra juntou) merece ser lida ou relida pelos amigos e camaradas da Guiné.



Leiria > Monte Real > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca Grande > O "nosso minino Adilan", o Zé Manel,  o José Manuel Sarrico Cunté, na altura com 50 anos, com o seu padrinho, o Manuel Joaquim... 

Foram duas das muitas estrelas que fizeram do nosso grande encontro mais um grande ronco, o da camaradagem, da amizade e da solidariedade... Adorei conhecê-lo,  ao Zé Manel: desenvolto, portuga dos sete costados, casado com uma angolana, crítica em relação ao rumo que tomou o seu país de origem (infelizmente, os seus pais biológicos já morreram; a sua verdadeira família hoje está aqui em Portugal)...O Manuel Joaquim, que também conheci pela primeira vez, em carne e osso, era um homem feliz, orgulhoso do seu "minino"...


Foto (e legenda): © Luis Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


BALANTA FURTADOR

por Manuel Joaquim


Bissorã, 1966. Os balantas dedicavam-se quase só à agricultura e actividades afins, labutando na área que rodeava o quartel. Um dos poucos balantas da tabanca que fugiam à regra era Fafé. Trabalho agrícola não era com ele. Na bolanha ninguém o apanhava. Não precisava de trabalhar a terra para ter arroz. Este nascia, descascado e tudo, no quartel.

Frequente era vê-lo a acamaradar com tropa, bebendo e gesticulando para melhor se fazer entender. Era o caminho ideal para soldado chegar a algumas balantas mais dispostas a amenizar a sua difícil situação. Qual marginal da tabanca, prometia-as por dá cá aquela palha ou, às vezes, exigindo coisas substanciais... alguns cobertores da caserna ganharam asas!

Fafé alardeava coragem. Era vaidoso.Vaidade bem alimentada por outros para aproveitarem o espírito de aventura que revelava. A roubar vacas era excepcional. E com que orgulho contava os seus feitos! A tropa escutava-o e servia-se. Impedia-lhe o furto na área próxima da vila mas dava-lhe pé leve para se embrenhar no mato, à procura das vacas dos «turras».

Cada vaca que trazia não era só redução alimentar no PAIGC e mais carne na tabanca. Vinha também informação para o quartel. E bem valiosa. E assim se tornou numa peça importante. Importância que não sentia. Apresentar vaca na tabanca, dar barriga cheia à sua gente, reconhecerem a sua coragem e esperteza, verem nele um balanta exemplar, eis o que lhe interessava.

Nem todos os do quartel lhe davam palmadinhas nas costas e gostavam dos seus actos. Não dava por isso, era campeão da esperteza, da coragem, do furto perfeito. E era louvado pelos "homens grandes" da tropa. Mas as suas façanhas faziam perder o apetite a muitos.

Eram informações que levavam aos donos das vacas, à caminhada dolorosa pela mata, ao medo que pesava quilos no estômago, aos vómitos secos, ao combate, à dor, à morte. E, alguns, viam nele um símbolo da utilização abusiva que a guerra faz do indivíduo.

Naquela madrugada Fafé não chegou, mesmo sem vaca. As balas da PPSH fizeram das suas, não matavam só tropa mas também pessoal "amigo" de tropa. Ele sabia-o, mas balanta é artista no roubo de vacas. Quantas histórias, sobre este tema, devem ter ouvido aos velhos balantas! Fafé não teve sorte e, daquela vez, voltou arrastado por camarada de furto com a morte e não a vaca por companheira.

E na manhã quente de Dezembro foi «choro» na tabanca. No terreiro, família de balanta grita e rebola no chão. Família de balanta mata vaca para todo o pessoal: choros, lamentos, gritos, gemidos, rufar de tambores, danças, suor, poeira. É o «choro» em honra de Fafé. São horas a passar, em estonteante mistura de dor e prazer, de arroz e lágrimas, de carne e dança, de álcool e pó. Cumpre-se a tradição.

Mais tarde: Cortejo em marcha acelerada, gritos e cânticos, tantãs rufando, pancadas surdas e ritmadas no chão poeirento, à frente corpo de balanta em esquife de esteira baloiçando sobre altivas cabeças de amigos, Fafé foi a sepultar. Enrodilhado nesta onda lá vai o soldado branco, confuso e inseguro, seguindo não sabe quê.

Pó e mais pó solta-se do chão e sobe, sobe por sobre a tabanca. Entorpece o Sol. Soldado branco pára. A multidão acotovela-o. Redemoinha no pó. Tenta limpar os lábios e os olhos. Incapaz de continuar, vê afastar-se a esteira de palma que envolve corpo de Fafé. Soldado branco é turista em funeral de balanta.

Baixa a cabeça, dá meia volta, tenta regressar por onde vê menos pó... repara que mulher balanta, idosa, ainda chora e dá cambalhotas. Mulher balanta não defende lábios nem olhos do pó e da terra que irá cobrir corpo de seu balanta furtador.

____________



(****) Vd. poste de 27 de novembro de  2009 > Guiné 63/74 - P5358: Memórias de Manuel Joaquim (1): O Balanta furtador

terça-feira, 25 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17282: Em busca de... (275): duas crianças do Oio, levadas durante a guerra, uma para Mansabá, Saliu Seidi, e outra para o Olossato, Malam Cissé, e depois para Portugal... Parece que os dois rapazes se encontraram uma vez com [o sueco] Lars Rudebeck em Portugal... Pede-se encarecidamente notícias do seu paradeiro (Manuel Bivar / Sadjo Turé, INEP, Bissau)



Guiné-Bissau: regiões, o Óio a amarelo


1.  Mensagem do nosso leitor Manuel Bivar: 

Enviado: 21 de abril de 2017 13:41

Assunto: crianças do Oio em Portugal

Caro Luis Graça,

Meu nome é Manuel Bivar e há alguns anos que faço pesquisa na Guiné. Recentemente, Sadjo Turé, um amigo com quem estou a fazer um livro e é arquivista nos Arquivos Históricos Nacionais (INEP) pediu-me para transmitir uma mensagem no vosso blog. A mensagem é a seguinte:

"Uma criança chamada Saliu Seidi, natural da tabanca de Candjadja, região do Oio, foi levada para Mansabá, em 1968 ou 1969. Teria estado com um alferes em Mansabá que foi transferido para Ingoré e que daí voltou a Portugal e que levou Saliu Seidi com ele.

"A mãe de Saliu Seidi está em Mansabá e parece que todos os dias chora e pergunta pelo filho e diz que não gostaria de morrer sem o voltar a ver.

"Também Malam Cissé, filho de Mamadu Ba Cissé, natural de Candjadja, durante a guerra e quando tinha 8 ou 9 anos, foi apanhado no mato e levado para o quartel de Olossato, e daí um oficial tê-lo-á levado para Portugal.

"Parece que os dois rapazes se encontraram uma vez com Lars Rudebeck [, da universidade de Uppsala, Suécia,] em Portugal."

Sadjo Turé pede encarecidamente que alguém que saiba do paradeiro destas duas pessoas que entre em contacto com ele que fará chegar as notícias às famílias.

Assim termina a mensagem de Sadjo Turé.

Muito obrigado pela atenção, cumprimentos,

Manuel Bivar

2. Comentário do editor LG:

Caros Manuel Bivar e Sadjo Turé:

Vamos ver como podemos ajudar!... Para já, divulgamos a vossa menagem, aqui e na nossa página do Facebook. Vamos também ver quem estava na época em Mansabá e quem paasou pelo Olossato.  Com sorte, haveremos de poder aliviar a angústia da pobre mãe do Saliu Seidi e dar uma alegria à família do Malam Cissé. Ambos eram naturais de Candjadja (Mandinga), no Oio,é isso ?

Temos um caso parecido,  uma odisseia extraordionário, a de um míudo guineense, também do Óio, que é hoje membro da nossa Tabanca Grande: o José Manuel Sarrico Cunté. A história dele merece ser lida e relida. Vive em Portugal, onde ganhou uma família, mas voltou a reencontrar a família biológica guineense, já na juventude.

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 15 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17140: Em busca de... (274): uma foto do tenente-coronel de cavalaria António Valadares Correia de Campos, comandante do COP 3 e um dos bravos de Guidaje... Precisa-se, com urgência, para documentário sobre o 25 de Abrilm, a realizar pelo cineasta António Pedro Vasconcelos

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15500: (De)caras (26): Os homens grandes da Tabanca Grande saúdam a entrada do nosso ''mininu' Adilan (nome balanta)... e cuja autorização de embarque para a metrópole foi dada, ao "padrinho" Manuel Joaquim, em Bissau, em 29/4/1967, por certificado emitido pelo administrador de concelho Manuel da Trindade Guerra Ribeiro



Curioso documento, passado pelo administrador do concelho de Bissau, o célebre Guerra Ribeiro (que tinha vindo de Bafatá), de seu nome completo Manuel da Trindade Guerra Ribeiro, com data de 29 de abril de 1967, e que reza assim:

(...) Certifico, em face dos documentos que ficam arquivados nesta Administração, que o menor José Manuel Sarrico Cunté, de seis anos de idade, natural de Cunté, concelho de Bissorã, filho de pais desconhecidos, residente nesta cidade [de Bissau], está em condições e autorizado a embarcar para a Metrópole num dos navios da Companhia Colonial de Navegação, cuja saída deste porto está prevista para o dia 4 do próximo mês de maio, afim de fixar residência [ilegível], onde ficará sob inteira responsabilidade de Manuel Joaquim, de 26 anos de idade, furriel miliciano [ilegível], 1966, conforme termo de compromisso e responsabilidade assinado pelo mesmo e que fica arquivado nesta Administração (...)

O administrador Guerra Ribeiro, mais tarde superintendente no tempo de Spínola, era pai do nosso camarada Rui Guerra Ribeira (. Segundo ele me confidenciou,  há tempos, foi levado com escassos meses para Guiné onde o pai, transmontano,  fez a carreira de administrador; estudou na metrópole, da 4ª classe ao 5º ano do liceu, voltou à Guiné, voltou de novo  a Portugal para fazer a academia militar, foi capitão da 15.ª CCmds, em Angola, onde foi ferido num braço; regressou  à Guiné, para se recuperar; foi ajudante de campo do Governador e Comandante-Chefe Bettencourt Rodrigues, e assistiu à sua prisão, em 26 de abril de 1974,  quando o MFA de Bissau tomou de assalto a fortaleza de Amura e o destitui; o Rui foi, há muito convidado para integrar o nosso blogue; amigo do António Estácio tem participado nalguns dos nossos encontros anuais).




Guiné > Região de Cacheu > Mapa de Bigene (1953) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Cunté, entre Barro (a noroeste) e Bissorã (a sudoeste)... É a terra do Zé Manel, que tem o apelido "Sarrico" do 2º sargento Casimiro Sarrico, da CCAÇ 1419 (BissauBissorã e Mansabá, 1965/67),  veterano da guerra de Angola, que o trouxe do mato, na sequência de um operação militar, em janeiro de 1966, e que cuidou dele até ao acidente grave com granada de fumos que o vitimaria um a mês depois; e ainda o apelido da terra onde supostamente nasceu (Cunté). (*)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)


1. Seleção de alguns comentários de ao poste P15493 (**)

(i) António Murta:

Querido amigo Manuel Joaquim:

A história da ligação da tua vida à daquele que viria ser o teu "mininu", é das páginas mais tocantes e bonitas de todas as que enriquecem o nosso blogue. Por isso nutro por ti a maior admiração e consideração. E pela grandeza que te conforma, tão bem disfarçada na tua simplicidade desarmante. Emociono-me sempre ao lembrar-me da tua corajosa atitude, sempre que te vejo numa foto ou numa referência. Tanto assim é que em março de 2014 criei uma “pasta” para onde descarreguei os postes completos da tua história com o José Manel, para ter à mão e reler quando quisesse. Mas nunca mais li a história completa devido à emoção. Chama-se a pasta "Adilan – Uma história emocionante". Não teço estes elogios de forma gratuita, mas pelas razões já apontadas e porque sei que poucos teriam a tua coragem e responsabilidade, mesmo atendendo às circunstâncias que descreves. Nessas circunstâncias, eu, que não me considero propriamente um bruto, passe a imodéstia, posto perante tal responsabilidade, (responsabilidade para comigo próprio, para com a criança, para com a minha mãe e para com a minha futura mulher), acho que se me evaporavam os álcoois num ápice e não assumia nada sem muita ponderação. Na verdade, acho que nunca seria capaz...Deixo-te um abraço fraterno e desejo-te as maiores felicidades, bem como às tuas meninas e ao “mano”, a quem também dou as boas vindas à Tabanca Grande, se me é permitido.A. Murta.


(ii) J. Gabriel Sacôto M. Fernandes:


Manuel Joaquim, sabes bem como admiro a história humana, magnífica que envolve a tua pessoa e família e o teu menino, o José Manuel Cunté. Claro, portanto, que pela minha parte, só é tardia a adesão dele à Tabanca Grande, pois que, para além do envolvimento directo e suas circunstâncias entre ti e o José Manuel, ele é na verdade um símbolo de muitas situações porque todos nós passamos na Guiné, num misto estranho de sacrifício e nostalgia, com más, mas também muito boas memórias de vária índole.

Um forte abraço aos dois, JS

PS - Quanto aos meios informáticos de que ele carece para se envolver no Blog, talvez possa resolver com um computador e respectivo monitor que não estou a utilizar.


(iii) Francisco Baptista:

Amigo Manuel Joaquim:

De ti espero sempre o melhor porque tu em generosidade e humanidade superas a maioria de todos nós. Eu, relativamente novo no blogue, desconhecia este teu gesto tão nobre e confesso que fiquei muito emocionado ao ter conhecimento dele. Uns apregoam o amor ao próximo, outros praticam esse amor. Bem-aventurado tu que o praticas,

Um grande abraço para ti e para o José Manuel Cunté. Francisco Baptista


(iv) Luís Graça:

Há histórias (humanas) que nos reconciliam com a humanidade... Esta é uma delas... Uma grande história de solidariedade e de amor, a de um grande "minino", o Zé Manel, e de um grande homem, o Manuel Joaquim, e de uma grande família, de 4 grandes mulheres... Merece ser aqui recordada neste Natal...

Sé bem vindo à Tabanca Grande, Zé Manel!... LG

Sê bem vindo, Zé Manel,
"Hha mininu" da Guiné,
Foste mascote de quartel,
Apanhado em Cunté.

Apanhado em Cunté,
Mas salvo por gente boa,
Tua tabanca agora é
A nossa querida Lisboa.

A nossa Lisboa querida,
Sede da Grande Tabanca,
Onde se brinda à vida
E a amizade é sempre franca. (***)



(v) Manuel Joaquim:
O Zé Manel mais as "manas", filhas do Manuel
Joaquim, a quem ele trata por "padrinho"


Ora cá temos o "nha mininu Adilan" como membro desta Tabanca!

Dei-lhe a notícia ao princípio desta noite, logo que cheguei a casa vindo do armazém da Ajuda Amiga~,  sito no quartel de Lanceiros 2, na Amadora (o antigo quartel dos Comandos), onde estamos a selecionar e a embalar bens para encher dois contentores com destino à Guiné e com embarque marcado para daqui a um mês.

Estou comovido com o teor dos comentários supra. Muito obrigado, meus caros camaradas.

O Zé Manel está bem. Poderia estar melhor se a grande empresa (que já foi) onde trabalha não andasse cheia de problemas económicos e financeiros. Mas ele ainda não foi despedido, resta-lhe de lá esta consolação.

João Sacôto, meu estimado amigo, muito obrigado pela tua intenção de ajuda. A resposta do Zé Manel à tua possível oferta foi de regozijo imediato. Temos de combinar o modo de processarmos a entrega, se for caso disso.

Luís Graça, irei exercer alguma pressão para o Zé colaborar diretamente neste blogue. Também eu gostava que o fizesse. Capacidades tem ele para o fazer, agora querer fazê-lo ... não sei. O "low profile" é marca sua quanto aos seus assuntos da Guiné-Bissau (refiro-me ao tempo que lá viveu e trabalhou, dos 17 aos 30 anos). Tenho esperança em que algo se há-de arranjar.

Um grande abraço global para os membros deste blogue, de que tanto gosto independentemente de concordar ou não com o que nele se publica.

Festas Felizes para todos!

Manuel Joaquim
________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  10 de novembro de  2010 > Guiné 63/74 - P7261: História de vida (32): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 1ª Parte (Manuel Joaquim)

(...) Bissorã, 11/ 01/ 1966. Ordem operacional para a CCaç 1419: "limpeza” da tabanca de C[unté], trazendo a sua população para Bissorã. Ao meu grupo de combate cabe-lhe ficar em casa, aguardando o dia seguinte com a missão de organizar a recolha de toda a gente na ponte (destruída) sobre o rio Blassar, limite transitável da estrada Bissorã/Barro. (...)

(**) Vd. poste de 15 de dezembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15493: Tabanca Grande (477): José Manuel Sarrico Cunté - "mininu" Zé Manel do nosso camarada Manuel Joaquim - 706.º Grã-

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15493: Tabanca Grande (477): José Manuel Sarrico Cunté - "mininu" Zé Manel do nosso camarada Manuel Joaquim - 706.º Grã-Tabanqueiro

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 18 de Novembro de 2015, que a nosso pedido fez este trabalho para podermos apresentar formalmente o nosso novo amigo tertuliano, José Manuel Sarrico Cunté:

Meus caros camaradas 
O meu "menino da Guiné" Zé Manel mostrou interesse em fazer parte do mundo desta nossa Tabanca Grande. Mas também me diz que não domina o uso de computadores e que tem dificuldades na sua utilização. E tem ainda mais problemas quanto ao uso de computador. O apoio dos filhos está agora difícil porque o computador que tem em casa não está funcional e outro, de que pode servir-se pontualmente, é o da filha mais velha que já não vive com os pais. De qualquer modo agrada-lhe a ideia de se tornar membro do blogue. 
Combinámos ser eu a fazer a sua apresentação, pode ser? É o que estou a fazer enviando um trabalho meu que penso poder servir para esse efeito, trabalho este que é do seu conhecimento. 
Bem, o que interessa é que ele se inscreva. Os problemas informáticos resolvem-se, com maior ou menor dificuldade. 
Aguardo a vossa opinião sobre este assunto se acharem por bem dar-ma. 

Saudações fraternas
Manuel Joaquim

************

“Nha mininu” Zé Manel

“Nha mininu”, na festa dos seus 50 anos, com os padrinhos Manuel Joaquim e Deonilde Silva

Em 10/11/2010 foi publicado neste blogue o P7261 – História de vida: Adilan, nha mininu ou como se fica com um menino nos braços, onde são narradas as circunstâncias que me levaram à decisão de trazer um menino da Guiné, de nome José Manuel Sarrico Cunté, como decorreu essa vinda e como se integrou a criança na minha vida familiar e na vivência local. Na altura apresentei-o com o seu nome original, Adilan, nome que só ficámos a conhecer, eu e ele, muitos anos mais tarde quando voltou a viver na Guiné e conseguiu encontrar os seus pais. A propósito, ver o P7267, onde se relata o acontecido.

Acompanham essa história diversas fotos mas só duas se referem aos primeiros dias vividos no seio da sua nova família. Tinha mais algumas em “slides” mas perdi-lhes o rasto quando casei e saí da casa paterna. Na altura bem procurei, mas sem resultado. Recentemente, ao tentar recuperar um móvel vindo dessa casa tive a alegre surpresa de encontrar a caixinha com esses “slides”, perdida no fundo de uma gaveta há mais de 40 anos. São essas fotos do menino Zé Manel que, para além de umas outras, agora publico.

Para ajudar a enquadrar o tema transcrevo do já referido P7261 a descrição dos momentos vividos no final de Outubro de 1966 em que me responsabilizei por um pretinho, recolhido pelo 2.º Sargento Casimiro Sarrico durante uma operação militar realizada em Janeiro daquele ano. Este militar ficou a cuidar da criança durante cerca de dois meses, até ficar gravemente queimado por uma granada de sinalização que rebentou num bolso do seu camuflado. Evacuado para Lisboa, morreu no HMP alguns anos depois. E o menino foi levado para a caserna por soldados da CCaç 1419 e com eles ficou a conviver, ficando a ser conhecido por Sarrico como é fácil de entender.

(…) 
“Nas vésperas da mudança, a sociedade civil local organiza um convívio para agradecer o trabalho da Companhia durante os 12 meses que permaneceu em Bissorã. Foram convidados os oficiais, os sargentos e algumas praças. Bom ambiente, muitas bebidas, bons petiscos e, com coisas destas, pouco tempo é preciso para se esquecer a razão das despedidas. Às tantas, alguém me convoca: 
– Meu furriel, há para ali pessoal que quer falar consigo. Pedem p´ra ir lá. 
Estranhando o despropósito do momento e da hora, bem noturna, lá vou até à porta. 
 – Oh nosso furriel, um favor, veja se convence o nosso capitão a deixar levar o Sarrico c´a gente p´ra Mansabá! É que ele não autoriza, já fizemos tudo e... nada! Veja lá se o convence! 
Tento dizer-lhes que o capitão lá terá as suas razões... assunto complicado... não deve ser possível levar o miúdo... Mas perante tanta insistência, não resisti: 
– Está bem, estejam descansados que eu vou tentar! Esperem aí! 

Pego num uísque e por ali fico bebericando, conversando e aguardando a oportunidade de cumprir o prometido. Falo com alguns camaradas sobre o assunto mas ninguém está ali para pensar nisso. O ambiente está animado, barulhento e para mim… há uma resposta a dar ao pessoal que espera lá fora. Vamos lá! 

Qual mensageiro da plebe castrense, já envolto em vapores etílicos, um bocado “leve” no andar e de fala um pouco entaramelada, lá vou eu ao encontro do capitão. De chofre, sem rodeios, em voz bem alta: 
– Meu capitão, por que não deixa ir o Sarrico c´os soldados p´ra Mansabá? Estão pr´ali quase a... 

Nem me deixa acabar. Com a voz ainda mais alta que a minha, atira logo: 
– Meu caro Manuel Joaquim, responsabiliza-se por ele?

Pimba!!! ... que grande “martelada” na tola! Inesperadamente, em décimas de segundo, os meus neurónios excitados (anestesiados?) pelo álcool devem ter decidido eu dizer de imediato: 
– Responsabilizo, pois!

O capitão, talvez surpreendido com tal resposta, engasga, pigarreia e ... 
– Então está bem! Se assim é, o rapaz fica ao seu encargo a partir de agora! 
– Com certeza, meu capitão! Vou já avisar o pessoal!

E não houve mais conversa! Meia volta e lá vou eu para a porta da rua ter com a malta, um pouco zonzo com o que me está a acontecer: 
– Podem levar o Sarrico! A partir de agora está por vossa conta. E minha!!! 
– Eh!.. bestial !!! Obrigado!!! 

Caem-me em cima festejando e voltam para a caserna, rua fora festejando... eu volto à sala para festejar, digo a alguém “ já me f... ! ” e agarro mais um uísque para me ajudar a digerir o assunto.” 
(…)
(Extrato do post P7261)

Logo ao alvorecer do dia seguinte ao facto acima narrado, lá segue o Sarriquito para Mansabá, integrado na CCaç 1419. Não tomei qualquer atitude para com o menino, era como se nada tivesse acontecido. Não falei com ele, nem sequer me aproximei durante os dois a três meses seguintes. Só quando decidi trazê-lo comigo é que começámos a conversar de vez em quando, mas sempre acompanhados por algum ou alguns dos soldados que se tinham comprometido a cuidar do menino.

Aproximando-se a data do fim de comissão, comecei a enfrentar um problema: Que fazer? Deixá-lo entregue “aos bichos” ou levá-lo para Portugal? A resposta está aqui neste post.

Saímos de Mansabá seis meses depois da saída de Bissorã e no dia 9 de Maio de 1967, à noite, o Zé Manel está em Portugal, perto de Pombal, e entra na minha casa paterna perante o espanto da minha mãe.

Lembro que trouxe o menino sem conhecimento da minha família nem sequer da mulher com quem eu casaria três meses depois. E só por uma razão, o ter receio de não ser capaz de enfrentar algum “NÃO” vindo das pessoas que me eram mais queridas.

Termo de compromisso e responsabilidade e autorização de viagem para Portugal.

A propósito de quando cheguei da Guiné ninguém saber nada sobre o assunto, transcrevo mais um bocadinho do P7261, na parte referente às primeiras horas vividas pelo Zé Manel no seu novo mundo, na sua nova casa de família, família de que ficou a fazer parte desde 1967. Esta transcrição começa logo a seguir a uma pergunta da minha mãe (- Então não levam o menino?), pergunta dirigida a quem me acompanhava quando cheguei a casa com o Zé Manel.

Não há entre nós, desde há muito, qualquer relação institucional de índole legal. O único documento oficial que existe é o “Termo de compromisso e de responsabilidade” acima referido, com efeitos só até à maioridade do menino.

(…) 
Como que ficam assarapantados com a pergunta mas, de imediato, lhes digo: “Não lhe disse nada!” E logo para ela: “O menino fica comigo!”. A mãe fica de boca aberta, não quer acreditar. E há mais uns minutos de conversa motivada pelas circunstâncias.

Ao reentrar em casa, verifico que ele está sentado no mesmo sítio. Olha-me calmamente, agora sinto que me olha mesmo! Espantam-me a calma e a confiança que aparenta. Belo trabalho dos soldados, só pode ser. 
Tentamos conversar. O seu português é tosco mas lá nos entendemos. 

Vamos comer mais alguma coisa enquanto minha mãe vai recuperando da surpresa e do espanto. Depois, o sono vem depressa ao seu encontro e ele já não acordou antes de ser levado para a cama. Minha mãe quer perceber o que aconteceu para ter assim um menino em casa. E que menino! A conversa prolonga-se.

Acordo, bem tarde, no dia seguinte. Estavam os dois, no quintal, a tratar das galinhas e doutra bicharada. 

“Maravilha!, sucedeu química entre eles!” – penso. 
E minha mãe, ao dar pela minha presença: 
– Queres saber? Logo de manhãzinha fui chamar as vizinhas: “querem ver a prenda que o meu Manel me trouxe da Guiné?” 
Olha, vieram a correr e abri-lhes a porta do quarto, só se via uma bola preta, assim a cara, com duas coisas mais claras, assim os olhos, e elas não sabiam o que era! Abri um pouco as cortinas da janela para verem melhor e nem imaginas como ficaram! Ele estava acordado, muito quietinho de olhos arregalados, só com a cabeça fora dos lençóis!

Bela cena! Respiro fundo e começo a sentir-me bem, verdadeiramente.” (…)
(Extracto do post P7261)

Algumas das fotos aqui publicadas foram tiradas no domingo 14 de Maio de 1967, o quinto dia após a chegada do menino Zé Manel. Os três tínhamos acabado de chegar a casa, vindos da missa na igreja paroquial. A realização da missa facilitou a apresentação do Zé Manel à “sociedade” local. Foi um sucesso.

Foto 1 - Maio de 1967 > No jardim da sua nova casa, poucos dias depois de chegar da Guiné.  
©Manuel Joaquim

Cinco dias depois de serem apresentados um ao outro, o tempo de convivência do Zé Manel com minha mãe já era superior ao que ele tinha tido comigo, incluindo o tempo passada na Guiné. Na Guiné e por minha opção, nunca convivi verdadeiramente nem sequer estive alguma vez com o menino a sós. Mas ele sabia que vinha comigo para Portugal. E veio, sem medo nenhum e já a gostar de mim. Tive a certeza disso em Abrantes, quando mo entregaram e ele se me entregou sem o mínimo problema. Os soldados com quem antes tinha convivido fizeram um trabalho extraordinário, preparando-o para este acontecimento.

Felizmente que tudo correu pelo melhor. Na aldeia e outras aldeias vizinhas, o menino era acarinhado por toda a gente mas o afecto de minha mãe sobressaía. Qual avó extremamente responsável e protectora, a senhora derramava sobre ele muita dedicação e carinho que só acabaram com a sua morte, 37 anos depois.

Foto 2 - 20 de Agosto de 1967 > Um casamento e um batizado. Logo a seguir ao meu casamento, houve o batizado do menino José Manuel Sarrico Cunté sendo meu pai o padrinho e minha esposa (a noiva) a madrinha. 
©Manuel Joaquim

Integrou-se rápida e perfeitamente na vida social local e viveu com minha mãe durante os anos seguintes, cerca de quatro. Sozinhos os dois em casa, excepto nas férias de meu pai que estava emigrado em França. Só acabou este convívio diário quando minha mãe também emigrou, juntando-se ao marido. E por isso fez-se a sua transferência de escola para Agualva, Sintra, onde veio completar os dois últimos períodos da sua 4.ª classe.

Foto 3 - Maio de 1967 > Puxando sons da harmónica, da qual tomou posse logo que nela me ouviu e viu tocar. 
©Manuel Joaquim

Foto 4 - 14/5/1967 > Explorando a harmónica com “madrinha” preocupada (?): “Este filho faz-me cada uma! Que vou fazer com este pretinho?” 
©Manuel Joaquim

Foto 5 - 14 de Maio de 1967 > Com minha mãe, acabados de chegar da missa. Cada um, à sua maneira, parece estar a digerir a situação de convivência a que se viram forçados desde há quatro dias. 
©Manuel Joaquim

Foto 6 - 14/5/1967 > Com a “madrinha” Piedade à volta das flores após chegada da missa dominical. O menino veste roupas compradas em Bissau pouco tempo antes do embarque. 
©Manuel Joaquim

Foto 7 - Maio de 1967 > Explorando espaços à volta da sua nova residência. 
©Manuel Joaquim

Foto 8 - Maio de 1967 > Junto do poço da horta, agarrado à vara da picota para tirar água e à sua já inseparável companheira, a harmónica. 
©Manuel Joaquim

Foto 9 - Maio de 1967 > Com os primeiros amigos da brincadeira, o Tino e a cadela “Tina” (de Valentina Tereshkova). 
© Manuel Joaquim

Foto 10 - Maio de 1967 > Serra da Sicó, vista do lado sul e da janela do quarto do menino Zé Manel. A primeira grande paisagem de Portugal que ele fixou e que o marcou, como também a mim quando pequeno. O meu “mundo” físico para além da Sicó era o mundo do mistério e da fantasia. 
©Manuel Joaquim

Quando em Janeiro de 1971 teve de vir morar comigo e com a madrinha, já havia cá em casa uma “mana” com dois anos e meio, a Alexandra, e pouco tempo depois nasce outra, a Catarina. Como memória desses tempos, aqui vão duas fotos:

Foto 11 - Carnaval > Agualva > Com a madrinha Deonilde, passeando as maninhas Xana “Pipi das Meias Altas” e Tita. 
©Manuel Joaquim

Foto 12 - Perto de Tomar com as suas “manas” Xana e Tita, numa pausa na viagem a caminho de Pombal e da “sua” aldeia, em visita aos padrinhos Zé Bispo e Piedade. 
©Manuel Joaquim

Para terminar, acrescento duas fotos recentes deste “menino” nascido em Janeiro de 1961.
Numa delas, tirada por ocasião do seu último aniversário, está na companhia da sua “mana” Alexandra, minha filha mais velha.
Na outra, ele e eu estamos acompanhados por três ilustres membros desta Tabanca Grande, posando todos para a objectiva de um outro prestigiado membro da Tabanca, o Jorge Portojo.
O Zé Manel acompanha-me quase sempre no convívio anual da CCaç 1419. Em 2014 foi escolhido o restaurante Choupal dos Melros em Fânzeres, Gondomar, para essa confraternização. A data de 10 de Maio coincidiu com a da Tabanca dos Melros no seu regular e sempre animado convívio no referido local. Esta coincidência de datas permitiu termos tido (CCaç 1419) a agradável surpresa da visita dos meus queridos camaradas deste blogue: Jorge Portojo, Carlos Vinhal, Jorge Teixeira e Fernando Súcio.

Foto 13 - Janeiro 2014 > Zé Manel com a sua “mana” Alexandra. 
© Manuel Joaquim

Foto 14 - Fânzeres, Gondomar > 10/5/2014 > Da esquerda para a dirteita: Fernando Súcio, Jorge Teixeira, Manuel Joaquim, Carlos Vinhal e José Manuel Sarrico Cunté. 
©Jorge Portojo

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2. Comentário do editor

Era imperdoável o "nosso menino" Zé Manel não fazer parte da tertúlia. Podemos dizer que a partir de hoje o nosso Xico de Fajonquito (Cherno Baldé) não está tão só.
O primeiro radicado em Portugal desde muito novinho e o segundo a viver no seu país, são dois bons exemplos daqueles meninos que de alguma forma gravitavam à volta dos militares. Foram tantos que não haverá nenhum combatente que não se lembre de os ver a fazer pela vida nos quartéis, procurando comida ou fazendo pequenos serviços. Comiam connosco e ajudávamos-lhes nos estudos. Dou o meu testemunho, recordando os jovens Adulai e Braima, rondando os 10 anos, que nos faziam companhia na Messe. Praticamente só dormiam na Tabanca. Tivemos ainda connosco, durante algum tempo, o Salifo Seidi, um menino muito pequeno, talvez com 5 anos, que a família quis retirar do quartel e enviar para a família, ao que sabíamos, simpatizante do PAIGC.

Não é necessário acrescentar mais nada a esta apresentação porque o Padrinho Manuel Joaquim a fez muito completa, além de que no nosso Blogue foram publicados alguns postes onde está documentada a vinda do Zé Manel para Portugal, basta clicar no marcador José Manel Sarrico Cunté, e porque ele já participou em Encontros Nacionais da Tabanca Grande.

Porque o nosso novo tertuliano não se dá muito bem com estas modernices da internete, pedimos ao Manuel Joaquim que seja portador do abraço de boas-vindas que a tertúlia e os editores lhe enviam.

O nosso obrigado ao Manuel Joaquim por este belo trabalho de texto e fotos de família.

Carlos Vinhal
co-editor
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15351: Tabanca Grande (476): Carlos Valente, ex-1.º Cabo do Pel Mort 2005 (Guiné, 1968/69), 705.º Grã-Tabanqueiro

domingo, 19 de abril de 2015

Guiné 63/74 - P14491: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de abril de 2015 (12): Um blogue de desvairadas e bravas gentes...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 >  Dois "cavaleiros", o J. L. Vacas de Carvalho (Lisboa) e o Ernestino Caniço (Tomar)... Ambos comandaram, no CTIG, o seu Pel Rec Daimler, sensivelmente na mesma altura, um no leste (Bambadinca, Pel Rec Daimler 2206, 1969/71), outro da região do Óio (Mansabá e Mansoa, Pel Rec Daimler 2208, 1970/72)...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > O nosso JERO, o "último monge de Alcobaça" e a filha do Manuel Joaquim, a Alexandra, reputada especialista em restauração artística (pintura mural) que nos honrou com a sua presença, acompanhando o pai e o "mano", o Zé Manel, o nosso "Adilan"


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > A Alexandra e o JERO... "Velhos" conhecidos do Mosteiro de Alcobaça e da paixão pelo património cultural...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 >  A Alexandra e o mano "Adilan", o "nha minino" do Manuel Joaquim, cuja história de vida é uma das mais fantásticas que cá contámos no nosso blogue...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 >  O Zé Manel e a "mana" Alexandra (de costas)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 >  Um homem feliz, o nosso coeditor Carlos Vinhal, a avaliar pelo seu sorriso aberto, aqui num "tête-a-tête" com a nossa camarada de armas, a Giselda Pessoa...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Da esquerda para a direita: (i) Vitor Caseiro (Leiria) (ex-fur mil da CCAÇ 4641, Mansoa e Ilondé, 1973/74); e (ii)  Jorge Picado (Ílhavo) (ex- cap mil, CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Dois dos homens que "abriram" a guerra: o José Augusto Miranda Ribeiro (Condeixa) e o Joaquim Luís Mendes Gomes (Mafra / Berlim), o nosso poeta das "Baladas de Berlim"... Ambos são do tempo do caqui amarelo... Recorde-se que o José Augusto [Miranda] Ribeiro foi fur mil da CART 566, Cabo Verde (Ilha do Sal, Outubro de 1963 a Julho de 1964) e Guiné (Olossato, Julho de 1964 a Outubro de 1965)... O nosso poeta, J. L. Mendes Gomes, esse,  foi alf mil da CCAÇ 728 (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66),


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Ao centro, o Jorge Rosales, "régulo" da Tabanca da Linha, tendo à sua esquerda o seu solícito e competente "secretário", o Zé Dinis...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Dois guineenses de alma e coração:

(i) O cor inf ref, Rui Guerra Ribeiro, filho o intendente Guerra Ribeiro (no tempo de Spínola), e administrador  de Bafatá (o homem que construiu a piscina de Bafatá, a "princesa do Geba");
(ii)  e o António Estácio, escritor... [O seu livro mais recente é sobre Bolama, mas o editor pede-lhe 4 mil euros para o pôr cá fora)...

Ambos têm costela transmontana: o António Estácio, filho de transmontanos, nasceu em Bissau e estudou no Liceu Honório Barreto, tendo mais tarde tirado em Coimbra o curso de engenheiro técnico agrícola; o Rui Guerra Ribeiro foi levado com escassos meses para Guiné onde o pai fez a carreira de administrador, estudou na metrópole, da 4ª classe  ao 5º ano do liceu, voltou à Guiné, voltou a Portugal para fazer a academia militar, foi capitão da 15.ª CCmds, em Angola, onde foi ferido num braço; voltou à Guiné, para se recuperar; foi Ajudante de Campo do último Governador e Comandante-Chefe Bettencourt Rodrigues... Está convidado a integrar o nosso blogue e tem histórias para contar do dia, o 26 de abril, em que o MFA de Bissau tomou de assalto a fortaleza de Amura e destitui o Com-Chefe... (Diz ele que a história está mal contada e promete esclarecer alguns pontos do que se passou nesse dia...).


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Da direita para a esquerda: (i)  Arménio Santos (Lisboa), bancário, dirigente sindicalista, deputado da Nação (pelo PSD) (, ex-fur mil de rec inf, Aldeia Formosa, 1968/70, entrou para a nossa Tabanca Grande em 5 de novembro de 2009, tendo por padrinho o Jorge Cabral); (i)  o António Manuel Garcez Costa (Lisboa) (que foi locutor no PFA - Programa das Forças Armadas); e  (iii)  Paulo Santiago (Águeda) (que não precisa de apresentações, é um dos "velhinhos" da Tabanca Grande)...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > X Encontro Nacional da Tabanca Grande > 18 de abril de 2015 > Foi um prazer enorme rever e abraçar o nosso veteraníssimo Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), fotógrafo profissional, com estabelecimento em Guifões, Matosinhos)... Desde 2007 (Pombal), se não erro, que não vinha a um dos nossos encontros, por razões de agenda... É pai do nosso tabanqueiro Hugo Costa... (Espero que ele me mande algumas das fotos que tirou)...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10382: História de vida (36): Nha mininu Zé Manel - uma visita à escola do padrinho (Manuel Joaquim)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), enviada ao nosso Blogue no dia 7 de Setembro de 2012:

Meus caros editor e co-editores, meus queridos camaradas Luís, Carlos e Eduardo:
Aqui vai mais uma pequena "estória" sobre o meu Zé Manel*.
Encontrei uma carta dirigida à minha esposa onde faço referência a uma visita que ele fez à minha escola, uns seis meses depois de ter chegado a Portugal.
Foi na base desta referência que redigi este texto cuja publicação deixo inteiramente ao vosso critério.

Com um grande abraço do
Manuel Joaquim


Nha mininu Zé Manel – uma visita à escola do padrinho

Foto 1. Maio/1967: Nha mininu Zé Manel, acabado de chegar da Guiné, menino feliz no seu novo ambiente (casa de meus pais)

Quando regressei da Guiné (maio/1967) esperava voltar à docência numa outra escola que não aquela para onde voltei e onde era professor efectivo. Os resultados do concurso já tinham saído em março daquele ano e eu tinha ficado colocado numa escola da Amadora. Por qualquer razão ou “conveniência” do Ministério da Educação a publicação desses resultados no Diário do Governo foi sendo adiada, mês após mês (um ano!). Os transtornos causados aos professores vinculados aos resultados do concurso foram enormes. Não houve, nesse ano, mobilidade no quadro efetivo docente do ensino primário. Fui atingido em cheio.

Sabendo-me colocado na Amadora, aluguei casa perto, casei e … fiquei “em Aveiro sem sapatos”, tive de voltar ao meu antigo local de trabalho onde antes da tropa tinha trabalhado três meses, os imediatamente anteriores à minha incorporação militar: uma escola numa aldeia cheia de miúdos e à qual, no inverno, eu só tinha acesso aceitável se usasse os percursos pedestres pelo meio dos pinhais já que os outros eram lama e mais lama. Usava uma bicicleta e tornei-me prático em atravessar a floresta ziguezagueando, fazendo “slalom” por entre os pinheiros. Estava hospedado numa pensão (com alguma qualidade) na Guia, a cerca de 5km da escola e a meio caminho (25Km) entre Leiria e Figueira da Foz. E assim passei um ano: a esposa a trabalhar em Lisboa, o Zé Manel em casa de meus pais e eu na Guia, a pedalar 10 kms por dia para dar aulas. O que ganhava não chegava para pagar a pensão, a renda de casa no Rio de Mouro (Sintra) e as viagens. Não chegava mesmo!

Entretanto a esposa engravidou, aconteceu neste período toda a gestação da minha filha mais velha, nascida no início de junho de 1968, antes do fim do ano lectivo e assim, durante quase todo o ano, tirando as férias do Natal e da Páscoa, o ponto de encontro semanal foi, muitas vezes, a minha casa paterna, nos arredores de Pombal. Cabe aqui dizer que minha esposa não pagava as viagens de comboio, trabalhava na CP.

Situemo-nos no tempo (1967). Até me custa relembrar as miseráveis condições de vida que existiam em certos pontos do país. E não se diga que o povo não dava por isso, como já ouvi e vi escrito. Esta aldeia onde ensinei tinha, na altura, oito professores em duas escolas (tinha gente, muita!) mas nem sequer tinha uma estrada de acesso em macadame. Dos oito professores eu era o único do sexo masculino. As minhas colegas viviam na aldeia, em comunidade, nenhuma era da região, viviam longe das suas terras de origem, passavam a maior parte do tempo resignadas e enclausuradas naquele local.

Como disse atrás, trabalhei lá três meses antes de ir para a tropa. A construção de uma estrada era tema muito frequente nas conversas da população. Quando regressei, quatro anos depois, não estava tudo na mesma mas quase. Andavam máquinas desbravando o terreno e … com soldados dentro! Eram máquinas da Engenharia Mmilitar. Tinha eu saído há pouco tempo de Mansabá e agora entrava ali debaixo do mesmo ruído, na confusão dos mesmos trabalhos. Porquê os militares?- perguntei. Dizem-me que foi “cunha” de alguém “importante” já que, da Junta Autónoma das Estradas, nunca tinha havido resposta e que se não fossem eles a estrada nunca mais vinha.

Mas a construção da estrada ainda demorou. O sr. inverno transformou quase tudo outra vez em lama e a coisa tornou-se difícil. Concluindo: pouca coisa tinha mudado nos acessos e, assim, lá tive de continuar pedalando pelo meio dos pinhais tal como há quatro anos antes. Juro que fiquei um especialista de “pinheiral slalom”! Ora bem, certo dia, numa pontual conversa com os alunos sobre a terra e a guerra de onde tinha saído, falei-lhes de um menino da Guiné, menino como eles, que eu tinha trazido. A curiosidade foi muita, a guerra não lhes era estranha. Havia gente da aldeia na tropa e na guerra, alguns já regressados como eu, outros prestes a partir. Prometi-lhes que, qualquer dia, levaria o menino comigo para a escola para passar um tempo connosco. Entrou tudo em polvorosa, não sei se devido à curiosidade se ao receio da novidade.

Bem, a coisa aconteceu mesmo. Lá levei nha mininu, o meu Zé Manelito, para um dia de convívio com a malta da escola. Já não me recordo da maior parte do sucedido. Para dizer a verdade, tudo isto já se passou há tanto tempo e o assunto “Zé Manel” tornou-se tão normal na minha vida que estava praticamente esquecido. Lembrava-me da excitação da miudagem, de gente na rua na altura do recreio (está visto que para ver o pretito), da reacção de espanto de um ou outro na sala de aulas quando verificava que ele já “sabia” mais do que muitos deles, está claro que comparavam com os do 1º ano, da 1ª classe como então se dizia, (eu tinha uma turma com alunos dos 1º e 4º anos).

Foto 2. Agosto/1967: o menino à mesa, no dia do meu casamento, tendo à sua direita os meus irmãos e “respetivas”.

Foto 3. Agosto/1967: os mesmos referidos na foto anterior, agora com meu pai e minha mãe 

Porquê então, agora, esta lembrança? Obra do acaso. Tenho a sorte de ter em minha posse toda a correspondência dirigida à namorada que depois se tornou a minha “fairy queen” e minha esposa. Tive a sorte, e tenho, de continuar a viver com ela e a considerá-la, até hoje, a minha “fada madrinha”.

E assim, naquelas voltas que de vez em quando costumamos dar às nossas coisas, dei com uma carta a ela dirigida, com data de 24/10/1967, onde me refiro ao acontecimento. A sua leitura avivou-me as memórias e aqui transcrevo a parte da carta que ao assunto se refere:

Foto 4. Excerto do original da referida carta

O Zé Manelito cá passou umas horas. Sucesso! Preocupação! Os garotos do “fim do mundo”, mais incivilizados que os africanos do mato, sim, muito muito abaixo do nosso pretinho, iam-no comendo. Primeiro, miúdos e miúdas fugiram. Ai que ele mata-nos! Pois, pois ele é mau?, mais p’rá qui mais p’rá colá, foge que ele é preto, ele fala quemàgente? iih … aahh … olha o cabelo dele, o mêrmão diz que calquer preto capanhe mata-o logo; qué quel come? olha, ele chama pêssegàmaçã (é verdade, o diabo do miúdo começou a comer uma maçã e chamou-lhe pêssego, tal não devia ser a confusão que ele sentia).
Na sala a coisa foi serenando. Foi aluno como os outros, melhor que os outros. Ambientaram-se. Falei-lhes dele. Olhavam-no espantados. Mais tarde já jogou à bola. Já acamaradavam. Bem, tudo serenou. E hoje já me diziam que ele não era mau porque fazia tudo como eles, por que não o tinha levado outra vez ?, etc. etc. Na pensão foi bem recebido. Deram-lhe um quarto, muitos e muitos beijinhos, o miúdo é tão engraçadinho, que sorte que ele teve, Deus o abençoe … O costume. Foi na camioneta para Pombal. Um bocado aparvalhado com tudo o que lhe tinha acontecido. A madrinha esperava-o. Alegria estampada nos olhos. Dedicação ao máximo. Ah, grande Zé Manel, tens de ser alguém!

A madrinha que o esperava em Pombal era a minha mãe. Como já referi noutro “post” deste blogue o Zé Manel foi, costumava ela dizer, uma bela prenda que este seu filho lhe tinha trazido da Guiné. Viveram juntos, na minha aldeia natal (Casal Novo/Pombal), os três primeiros anos e meio de vida do menino em Portugal, vida que ela acompanhou com o carinho, não de uma madrinha mas de uma avó dedicada, com uma devoção e uma dedicação extremas. Separaram-se fisicamente durante uns anos com a sua ida para França mas o menino foi sempre para ela o “meu Zé Manel”, até à sua morte (em 2003).

Foto 5. Finais de fevereiro/1968 > meus pais e minha esposa (grávida de seis meses) ao sol de inverno, na minha casa paterna. Meus pais limpam um “Petromax”, a eletricidade só chegaria no final dos anos 70! O Zé Manel tinha então sete anos, feitos há pouco.

A propósito recordo que os padrinhos de baptismo do Zé Manel foram meu pai e minha esposa, eu e minha mãe somos assim “padrinho” e “madrinha”. Foi um menino muito querido naquela aldeia, hoje praticamente deserta. Escrevia ele, de Bissau, em 19/10/1981, quase quatro anos depois de ter regressado à Guiné: “ … Quando falam no nome de Casal Novo sinto uma coisa dentro do meu coração, recordar esta bela aldeia, as suas gentes, a amabilidade desta pequena povoação, enfim um paraíso para não esquecer nunca mais – ali nasceu e cresceu (sic) a infância de um pretinho chamado José Manuel Sarrico Cunté - obrigado Casal Novo, obrigado madrinha Piedade, padrinho Zé Bispo, ti Jquina e ti Manel, ti Santieira e ti Rainho, mas não perdi a esperança de um dia poder voltar a essa belíssima aldeia … não perdi a esperança.”

E, dois anos depois, em 29/09/1983: “ … Falando daquela terra, as saudades são imensas, lembro-me das belíssimas férias, a ajudar a madrinha no corte do milho, na apanha da azeitona indo por aqueles cerrados abaixo, encostas e ladeiras, aquele amor que os vizinhos tinham por mim, enfim lembro-me sempre do Casal Novo e da sua gente, daqui um grande abraço para eles todos, ( … ), digam-lhes que ainda estou vivo e não perdi a esperança de ir visitá-los, ( …).”

As pessoas referenciadas já todas faleceram mas as suas esperanças concretizaram-se. Voltou à aldeia a tempo de os ver, vivos, e de com eles partilhar as suas memórias de uma infância muito feliz, ali passada.

O menino é hoje um homem com 51 anos, um pouco da sua história está publicada neste blogue. É um “habitué” dos convívios da CCaç 1419 onde talvez seja mais comum chamarem-lhe Sarrico, afinal o nome por que ficou conhecido entre os militares da Companhia. Junto duas fotos referentes a dois desses convívios, já com alguns anos mas não muitos, não sei precisar a data.. Uma é de Alferrarede e outra de Sta. Marta de Portuzelo.


Fotos 6 e 7 > O Zé Manel nos convívios da CCaç.1419, em Alferrarede, Abrantes e em baixo em Sta. Marta de Portuzelo, Viana do Castelo
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

10 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7261: História de vida (32): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 1ª Parte (Manuel Joaquim)

12 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7267: História de vida (33): Adilan, nha minino. Ou como se fica com um menino nos braços - 2ª parte (Manuel Joaquim)

20 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8305: Parabéns a você (262): José Manuel (...), ou Adilan, o meu menino da Guiné, fez 50 anos em Janeiro deste ano (Manuel Joaquim)

Vd. último poste da série de 7 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7395: História de vida (35): Viagem para o desconhecido (Agostinho Gaspar, ex-1º Cabo Mec Auto Rodas, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612, Mansoa, 1972/74)