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domingo, 7 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27502: Op Abencerragem Candente, subsetor do Xime, L1, 25 e 26 de novembro de 1970 - Parte I: Agrupamento A, CART 2714: itinerário Mansambo - Chacali-Taibatá-Xime


Guiné > Região de Bafatá > Carta do Xime (1955) (Escala 1/50 mil) > Reconstituição do percurso feito pelo Agrupamento A (CART 2714, Mansambo), nos dias 25 e 26 de novembro de 1970, no âmbito da Op Abencerragem Candente (subsetor do Xime, Sector L1, 25/26 de novembro de 1970).. 

Legenda: 

(i) tracejado a preto: Mansambo.Bólô - Mampará - Chicamiel - Chacali. Taibatã, das 11h00 do dia 25. até c. 18h00 (com pernoita em Chicamael, depois de percorridos cerca de 10 km desde o ponto de partida, Mansambo); retoma a progressão âs 5h45 do dia 26, asd NT dirigem-se para Taibatá (4 km em linha reta), que atingem às 8h00;

(ii) tracejado a roxo: percurso de Taibatá até ao Xime, no dia 26: Chacali - rio Canhala - Gidemo - Taliuará - Xime (que foi atingido pe4las 13h00 (cerca de 11 km)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)








Guiné- Bissau > Região de Bafatá  > Mansambo > 1996 < Monumento erigido pela CART 2714 ("Bravos e Leais"), pertencente ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/1972). Era  o único que restava de pé em 1996, quando o Humberto Reis lá passou. 


Não temos nenhum representante desta subunidade, no nosso blogue. Há muitos anos (em 2009) escreveu-nos de França, onde estava emigrado, o nosso camarada Guilherme Augusto Sousa, ex-sold cond auto, à procura de camarada da companhia. Deixou-nos os seus contactos: Guilherme Sousa. França: telef. 0033386951938 ou 0033670611957. 

Nunca mais nos deu notícias. 

O cmdt da CART 2714 era o cp art José Manuel Silva Agordela.
 
Foto (e legenda): © Humberto Reis (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Recorde-se que o que se passou no subsetor do Xime em 26/11/1970, 4 dias depois da Op Mar Verde. A subunidade de quadrícula do Xime é a CART 2715 / BART 2917, que  que foi render, em maio de 1970, a CART 2520. Era comandada pelo cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos, então com 26 anos (acabados de fazer em 22 de novembro).

Na Op Abencerragem Candente, que envolveu 3 destacamentos (CART 2714 / Mansambo, CART 2715/Xime e CCÇ 12/Bambadinca), num total de 8 grupos de combate (c. 250 homens), a CART 2715 e a CCAÇ 12 apanharam uma das mais sangrentas emboscadas na história do subsetor do Xime (e até do setor L1), com 6 mortos e 9 feridos graves. (*)

Os mortos foram penosamente transportados até ao Xime, em macas improvisadas, os feridos foram encaminhados para Madina Colhido e dali helievacuados para o HM 241, em Bissau... Não temos fotos desse dia de inferno.Nunca vi tanto sangue e restos humanos como nesse dia, na frente  da coluna que progredia, apeada, até à Ponta do Inglês, seguindo (perigosamente) ao longo da antiga picada Xime-Ponta do Inglês. E repetindo (!) o memso trilho da véspera. Calro, tinha uma emboscada em L, do lado direito,  à sua espera, com uma formidável seção de roqueteiros à cabeça, que massacrou os nossos homens da frente (CART 2715)...Enquadrados por cubanos, tiveram tempo de levar as espingardas G3 de mortos e feridos... E retiraram, na direção da margem direita do rio Corunal, com apoio de armas pesadas de infantaria (morteiro 82 e canhão s/r). Terão tido também seis mortos, segundo notícias posteriores.



Excerto da História do BART 2717 (Bambadinca, 1970/72)

 Operação "Abencerragem Candente"   > 25 e 26 de novembro de 1970 >  Agrupamentos (A=CART 2714, Mansambo), B (=CART 2715, Xime) e C (=CCAÇ 12, Bambadinca) > Desenrolar da acção


Parte I - Agrupamento A [CART 2714, Mansambo]


25 de Novembro de 1970

Em virtude do aquartelamento de Mansambo ter sido atacado pelo IN pelas 6,50 horas, só foi possível a saída dos 2 Grupos de Combate da CART 2714 às 11,00 horas.

 Os 2 Grupos de Combate progrediram e reconheceram ao longo do itinerário Mansambo-Bólô  que foi atingido às 12,30 horas.

 Feito um pequeno alto para almoçar continuou-se a progredir na direcção de Mampará, que foi atingida cerca das 15,00 horas.[7 km em linha reta]

 A norte de Mampará, e no trilho para Chicamael, sensivelmente no ponto de coordenadas [XIME 5E4-95] foi encontrado um trilho de passagem recente.

Da exploração deste trilho detectou-se que o mesmo se encontrava orientado na direcção do Rio Buruntoni-Moricanhe.

Continuou-se a progredir na direcção de Chicamael que foi atingida cerca das 17,45 horas. [3 km em linha reta].

Em Chicamael, foi avistado um trilho bastante batido na direcção de Madina.

Feito um alto para pernoitar, os 2 Grupos de Combate instalaram-se de forma a montar emboscadas nocturnas ao longo desse trilho e no trilho de Chicamael- Mampará.

26.de novembro de 1970

Pelas 5,45 horas começou-se a progredir na direcção W procurando encontrar as nascentes do Rio Canhala.

Dada a grande vegetação não foi possível progredir nessa direcção tendo-se resolvido caminhar para Norte, que apresentava melhores condições de orientação.

Às 8,00 horas atingiu-se Taibatá [4 km em linha reta] onde foram pedidos 2 guias que pudessem levar o  Agrupamento até Gidemo.

Às 8,15 horas saiu-se de Taibatá a caminho de Chacali onde pelas 9,00 horas foi ouvido grande tiroteio e rebentamentos na direcção do Xime. 

Mandado ligar o Racal, fez-se uma chamada para o aquartelamento do Xime,  não se tendo obtido resposta a esta chamada. Continuando a progredir, o Rio Canhala  foi atravessado pelas 10,00 horas.[4 km em linha reta ]

Continuando a progressão até Gidemo,  detectaram-se trilhos batidos junto do ponto de Cota 24 que se orientavam para Sul (Rio Gundagué).

Dado que os guias não afiançavam a passagem do Rio Gundagué em Lantar [4 km em linha reta] ,  foi resolvido retirar novamente para Chacali  e daqui par Taliuára.

No trilho Chacali - Taliuára foi detectado terreno batido recentemente no ponto de coordenadas [XIME 6A5-49], se dirigia para direcção do alto de Ponta Coli.

Continuando a progressão até Taliuára [ 5 km em linha reta], este ponto foi atingido às 13,00 horas, com evidente cansaço de todo o pessoal.

Dado conhecimento a Bambadinca da localização do Agrupamento A,  foi o mesmo mandado avançar para o Xime, onde chegou cerca das 13,00 horas [  1,5 km em linha reta].

(Continua)

(Revisão / fixação de texto: LG)




Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Xime > Madina Colhido > CART 2520 (1969/70) e CCAÇ 12 (1969/71) > Op Boga Destemida > 9 de fevereiro de 1970 > A helievacuação de feridos em Madina Colhido, no regresso ao Xime ... Madina Colhido era um dos poucos sítios seguros para se fazer as helievacuações dos nossos feridos graves, como aconteceu com os nossos camaradas dos Agrupamanentos B (CART 2715, Xime)e C (CCAÇ 12, Bambadinca) apanhados pela emboscadada do PAIGC, no dia 26 de novembro de 1970, por cilktra das 08h50, na antiga estrada Xime- Ponta do Inglês, na sequência da Op Abencerragem Candente, mal planeada e pior executada. Resultado: 6 mortos e 9 feridos graves. Não uma linha no livro da CECA sobre a atividade operaciobnal das NT no ano de 1970. 


Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

__________________

Nota do editor LG:

(*) Vd. poste de 27 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27468: Efemérides (378): foi há 55 anos a Op Abencerragem Candente (25 e 26 de novembro de 1970, subsetor do Xime), com meia dúzia de mortos de um lado e do outro

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27490: Fichas de unidades (39): CART 6250/73 (Cumeré, Caboxanque e Ilondé, mai/out 1974)

Crachá da CART 6250/73.
 Coleção
Carlos Coutinho (2009)

 Há duas subunidades com o mesmo número.  CART 6250,  ambas mobilizadas pelo RAP 2 (Vila Nova de Gaia), mas de anos de incorporaçáo diferentes, e que estiveram colocadas em sectores ou subsetores diferentes no CTIG; têm, naturalmente, distintivos diferentes:

  • a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74);
  • e a CART 6250/73 (Cumeré, Caboxanque e Ilondé, mai/out 1974) 
Desta última só temos 3 referências. Sabemos que a CART6250/73 era comandada pelo cap art  Ferreira da Silva, tinha 3 alferes, também da arma de artilharia, o Luís Leiras,  o Saraiva e o Coentre, e o alferes Pinho, de Operações Especiais. Imfelizmente
não tem nenhum representante na Tabanca Grande. O Luís Eiras acabou por nunca nos mandar as duas fotos da praxe, em resposta ao nosso convite.

 Aqui vai a ficha de unidade:

Companhia de Artilharia nº 6250/73
Identificação CArt 6250/73
Unidade Mob: RAP 2 - Vila Nova de Gaia
Cmdt: Cap Art António Ferreira da Silva
Divisa: -
Partida: Embarque e desembarque em 17Abr74 (via TAM)
Regresso: Embarque em 030ut74

Síntese da Actividade Operacional

Após ter iniciado a IAO em 19Abr74 no CMl, em Cumeré, foi deslocada em 26Abr74 para Bissau, a fim de cooperar na protecção e segurança das instalações e populações até 12Mai74, após o que deu a devida continuidade àquela instrução, que veio a terminar em 28Mai74.

Em 13Jun74, seguiu para Caboxanque, a fim de substituir a CCav 8352/72 e efectuar o treino operacional com a CCav 8355/72, ficando seguidamente em reforço desta subunidade e integrada no dispositivo e manobra do BCaç 4514/72 e depois do BArt 6520/73.

Em 08Ag074, por saída do subsector da CCav 8355/73, assumiu a responsabilidade do referido subsector de Caboxanque.

Em 24Ag074, após a desactivação e entrega do aquartelamento de Caboxanque ao PAIGC, recolheu a Ilondé, onde substituíu, em 29Ag074, a CCaç 4747/73, com destacamentos em Quinhámel, Orne e Ondame, ficando então integrada no dispositivo do COMBIS.

Após a entrega dos aquartelamentos de Orne, em 27Set74, de Ondame e Quinhámel, ambos em 28Set74 e Ilondé, em 29Set74, recolheu a Bissau, em 28 e 30Set74, por fracções, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 105 - 2.ª Div/4.ª Sec. do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 488

___________________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 27 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26433: Fichas de unidade (38): BCAÇ 507 (Bula, 1963/65)

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27468: Efemérides (378): foi há 55 anos a Op Abencerragem Candente (25 e 26 de novembro de 1970, subsetor do Xime), com meia dúzia de mortos de um lado e do outro




Seco Camará, guia e picador das NT.
Morto em 26/11/1970. Está sepultado
em Nova Lamego /Gabu
 Foi vouvado a título póstumo
pelo cmdt do CAOP2, em 28/1/71,
e pelo Cmd-Chefe, em 16/4/71
Foto: Torcato Mendonça (2007)


(...) Um, dois, três, quatro, cinco, seis homens 
vão morrer daqui a três ou quatro horas,
às 8h50,
em vinte e seis de novembro de mil novecentos e setenta,
no cacimbo da madrugada,
na antiga picada do Xime-Ponta do Inglês.
Cinco brancos e um preto,
a lotaria da morte, em L,
numa emboscada que é cubana,
numa roleta que é russa,
com os RPG, amarelos, "made in China"...
no corrocel da morte que é, afinal, universal! (...) (*)



1. Um dos maiores desaires das NT, no Sector L1 (Bambadinca), no meu tempo (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, junho de 1969/ março de 1971) foi a Op Abencerragem Candente  (subsetor do Xime, 25 e 26 de novembro de 1970). 

Temos 3 dezenas de  referências no nosso blogue a esta operação. Em contrapartida, há um estranho silêncio nos livros da CECA (Comissão para o Estudo das Campanhas de África), como já em tempos referimos. Silêncio em relação  este revés das NT bem como a outros... 

De facto, não há sequer uma linha no livro relativo à atividade operacional no CTIG em 1970: vd. CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro II (1.ª edição, Lisboa, 2015), 

A Op Abencerragem Candente (envolvendo 8 Gr Comb, 3 da CART 2715, 3 da CCAÇ 12 e 2 da CART 2714) foi  há 55 anos atrás (4 dias depois da Op Mar Verde).

Terá sido, no subsetor do Xime, a mais sangrenta das operações ali realizadas, durante a guerra colonial, pelo lado das baixas contabilizadas para as NT: 6 mortos e 9 feridos graves. O IN, por sua vez, terá tido outros tantas baixas.

_______________

Notas do editor LG:

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27412: Armamento do PAIGC (10): Pistola-metralhadora Samopal vz25, de origem checa, ou a M-25, ("Merengue", na gíria do IN, por influência cubana)




Pistola-metralhadora  M-25 ("Merengue"), de origem checa ("Samopal")


Guiné > Região de Tombali >  Ilha do Como > c. 1964 > Guerrilheiros do PAIGC, empunhando pistolas-metralhadoras M-25", cal 9 mm ("Merengue")  e PPSh", cal 7,62mm ("Pachanga", ou "costureirinha", na gíria das NT); do lado direito, distingue-se, em tronco nu,  João Bernardo  'Nino' Vieira, na ilha de Como, Frente Sul. Náo se sabe se a foto foi tirada antes, durante ou depois da Op Tridente. É mais provável  que seja do ano de 1963, pelo ar "desportivo" do grupo,  a fazer um crosse matinal, ou a posar para a fotografia, para o álbum do Amílcar Cabral ( será que o tratavam por senhor engenheiro ?)
 


1.  Através do Formulário de Contacto do Blogger, um nosso leitor pediu-nos que confirmassemos  se esta arma, cuja foto se publica acima, era usada na Guiné pelo PAIGC, no nosso tempo:

Data - sexta, 3/10/2025, 18:20

Segundo pesquisa na Net, que me deu "uma trabalheira",  a arma parece não constar das listagens habituais, trata-se de uma pistola metrelhadora Samopal, vz25.

Deixo o link da arma:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sa_vz._23

 Sobre a arma:
  • o que me surpreendeu ao pesquisar a identificação dela foi a sua ausência das listagens consultadas na Net;
  •  no mesmo site encontra-se uma foto de 'Nino' Vieira com o seu grupo, curiosamente todos com a mesma arma, ou suas variantes

2. Comentário do editor LG:

2.1. Também sou de opinião que se trata de ums pistola-metralhadora checa, Sa vz25, "Samopal". Dispunha de  uma coronha de metal dobrável, disparava a munição 9×19mm Parabellum. Era em tudo é idêntica à Sa 23 (exceto da coronha, que era de madeira). e usando os mesmos carregadores de 24 e 40 tiros.

Gostava de ouvir a opinião do nosso especialista em armamento, o Luís Dias. Para já, recorri à minha assistente de IA / ChaGPT. Face às duas fotos que lhe mandei, não teve dúvidas em dar a sua opinião ponderada:

(..) Pela forma geral — receptor tubular curto, carregador recto montado à frente da empunhadura, coronha metálica dobrável para o lado e empunhadura/pega frontal dobrável — trata-se muito provavelmente de uma Samopal checoslovaca da família Sa vz.23 / Sa vz.25 (às vezes referido como CZ-23 / CZ-25, exportado como “Sa” ou “Samopal” nos catálogos da época).

Por que acho isto provável:

  • a posição do carregador (à frente da pega) e o aspecto geral lembram os desenhos da família vz.23/25, que foram amplamente exportados pela Checoslováquia na década de 1950–60;

  • a coronha metálica que dobra para o lado e a pega vertical rebatível são soluções técnicas presentes nesses modelos;

  • o PAIGC recebeu armamento do bloco de leste (inclu9indo a então  Checoslováquia) durante a guerra colonial, pelo que a captutra de um Sa vz.23/25 em 1964 é compatível com a proveniência e a cronologia.

Grau de certeza: provável, mas não definitivo. Existem variantes e cópias regionais/industriais e a família vz.23/25 teve pequenas diferenças entre versões de fábrica e exportação. Para confirmação absoluta, o ideal é verificar:

  • marcas e punções no receptor (normalmente código do fabricante e modelo);

  • formato exacto do carregador (capacidade e encaixe);

  • calibre estampado no cano/receptor (7,62×25 Tokarev foi comum em alguns modelos, mas havia variantes noutros calibres). (...)

(Pesquisa: LG / Assistente de IAS / ChatGPT)

(Condensação, revisão / fixaçãod e texto: LG)


2.2. Tudo indica que esta Sa vz25 seja a M-25 ("Merengue", na gíria do PAIGC, por influência cubana) que consta da relação a seguir:


Relação de material capturado  ao PAIGC  até 1964 >  (...) Pistolas-Metralhadoras: Modelo | País de oirgem

  • "M-23", cal 9 mm ("Rico") | Checoslováquia
  • "M-25", cal 9 mm ("Merengue") |  Checoslováquia
  • "PPSh", cal 7,62mm ("Pachanga", "Metra") | URSS
  •  "PPS SUDAYEF", cal 7,62mm | URSS, China
  • "THOMPSON", cal 1l,4mm ("Rico Thompson") | USA - China
  • "MP-40", cal 9mm | Alemanha Oriental
  • "SCHMEISSER" | Alemanha Oriental
  • "BERETA" | Itália
  • "UZI" | Israel 
  • "FBP" | Portugal

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2014), pp. 290/291 (Com a devida vénia...).

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27394: A nossa guerra... a Petromax (2): o destacamento da Ponta do Inglês (jan 65 /out 68), onde a iluminação do perímetro de arame farpado era feita com garrafas de cerveja cheias de querosene (António Vaz, 1936-2015)




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Xime > Ponta do Inglês > O destacamento da Ponta do Inglês, um dos muitos "bu...rakos" onde viveu gente nossa , entre janeiro de 1965 e outubro de 1968. Teve um gerador que nunca chegiu a funcionar. Nem petromax tinha ! (*)

(...) "As garrafas de cerveja penduradas no arame farpado, cheias de combustível, tinham que ser continuamente acesas nas noites de chuva forte ou de vento. O risco que a malta corria nessas circunstâncias, sendo a única coisa iluminada na escuridão, tornando-se um alvo fácil era enorme, embora, que me lembre, nunca tenha havido flagelações nessas alturas. (...)

As garrafas também funcionavam como sistema de deteção e alerta: a aproximação de elementos IN do arame farpado, fazia-as tilintar... O sistema acabava por ser pouco fiável devido ao vento, à chuva e... aos macacos-cães.

Ilustração de Vera Vaz, filha do nosso camarasa António Vaz  (2012). 



António Vaz (1936-2015)
1.  Nunca será demais lembrar os "bu...rakos" onde vivemos, como toupeiras.

Um dos mais famigerados foi o da Ponta do Inglês, no subsetor do Xime (sector L1). O topónimo tem já perto de meia centena de referências no nosso blogue. Mesmo depois da retirada das NT, a Ponta do Inglês continuou a ser um nossos "ossos duros de roer". Havia sempre contacto com o IN, quando as NT progrediam na antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, há muito invadida pelo mato e interdita. No dia 26 de novembro, vai fazer 55 anos que a CART 2715 (Xime, 1970/72) e a CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) sofreram uma brutakl emboscada com 6 mortos e 9 feridos graves (Op Abencerragem Cadente) (mais um revés nas NT que não vem referido no livro da CECA, correspondente à atividade operacional de 1970/74)


Excerto de um poste nosso saudoso camarada 
António Vaz (1936-2015),ex-cap mil, CART 1746
 (Bissorã e Xime, jul 1967/jun 69) (fot0 de 2012,
à direita).
 



O destacamento da Ponta do Inglês
onde nem petromax havia

por António Vaz (1936-2015)


A Cart 1746 saiu de Bissorã a 7 de Janeiro de 1968,  seguindo de Bissau para o Xime via Bambadinca,  a bordo da barcaça Bor. 

Um Grupo de combate seguiu diretamente para a Ponta do Inglês onde rendeu o pessoal da CCAÇ 1550.

Este Pelotão da Cart 1746 era comandado pelo alf mil Gilberto Madail (hoje uma figura pública) que lá permaneceu cerca de 4 meses,  sendo substituído por outro,  comandado pelo alf mil João Guerra da Mata que lá esteve até 8 de otubro, data em que este destacamento foi abandonado (por ordem do comando-chefe).


Francisco Pinheiro
Torres de Meireles (1936-1965).
Era natural de Paredes. Tem nome de rua
no Porto.

A Ponta do Inglês foi ocupada e os abrigos construídos em dezembro de 1964 na Op Farol pela CCAÇ 508,  comandada pelo malogrado cap inf Pinheiro Torres de Meireles (1936-1965), morto em combate na Ponta Varela (**).


Este destacamento teve sempre uma triste sina porque não tinha meios senão para..
 estar. 

A dispersão de meios que encontrámos no sector L1 a isso conduzia. Nunca serviu de nada a não ser castigar, sem culpa formada, as guarnições que para lá eram enviadas.

Não controlavam nada na foz do Corubal e nada podiam fazer em conjunto com o pessoal do Xime para manter aberto o itinerário Ponta do Inglês / Xime porque a companhia do Xime ocupava também Samba Silate, Taibatá, Demba Taco 
e Galomaro. Assim o seu isolamento era, foi, 
praticamente total.

Os géneros só a Marinha os podia levar e o mesmo se pode dizer das munições, correio, tabaco, combustível, etc.

A chegada dos abastecimentos era motivo de alegria geral como se pode ver nas imagens que junto.

Por muito que o pessoal controlasse os gastos, a falta de quase tudo fazia-se sentir. Bem podia o comando da companhia pedir insistentemente pela vias normais a satisfação dos pedidos que não conseguíamos nada. 

Cheguei a tentar meter uma cunha directamente na Marinha, mas as prioridades eram outras. Como alguns géneros recebidos da companhia que lá tínhamos rendido,  estavam deteriorados, a situação ainda foi pior. Esta situação originou, a pedido do alf Madail, o Fado da Fome,  que o Manuel Moreira ilustrou nas quadras populares da sua autoria.

O destacamento da Ponta do Inglês era a pequena distância da margem (direita) do Rio Corubal e tinha a forma quadrangular. A guarnição era formada por 1 GComb  / CA RT 1746 + 1 Esq/Pel Mort 1192 + Pel Mil 105.

O destacamento era formado por 4 abrigos principais nos vértices para o pessoal, para a mecânica e rádio. O combustível e as munições ficavam na parte mais perto do Corubal; na parte central sob uma árvore frondosa (poilão ?) um abrigo mais pequeno onde ficava o alferes, o enfermeiro e logo ao lado o forno do pão e uma cozinha, tudo muito rudimentar. 

Tinha o espaldão do morteiro 81 na parte central. Não tinha, ao contrário do Xime, paliçada e apenas duas fiadas de arame farpado.

Os abrigos eram de troncos de palmeira com as indispensáveis chapas de bidão, terra e não eram enterrados. Uma saída na direcção do rio e outra no lado oposto para as idas à água e à lenha. No destacamento havia um Unimog para estas tarefas.


Manuel Vieira Moreira
(1945-2024)
ex-1º cabo mec auto
A água era tirada a balde de um poço existente a cerca de 700 metros do arame farpado que também era utilizado pela população, totalmente controlada pelo IN, e pelo próprio IN, sem nunca este ter aproveitado as nossas idas à água e à lenha para nos incomodar e vice-versa


Escreveu  o Manuel Moreira (1945-2014)

O poço era um só,
Estava longe do abrigo,
Dava a água para nós
E também p’ro Inimigo.

Nunca percebi por que razão se fez o Destacamento, afastado do único poço com água potável... Uma proposta de sã convivência? O caso é que resultou.

O que se passou nos tempos infindáveis em que o gerador esteve avariado, assunto já abordado neste blogue, por quem o foi substituir, depois de aturados 
pedidos a Bissau sem que se resolvesse em tempo útil,   é inenarrável. (***)

As garrafas de cerveja penduradas no arame farpado, cheias de combustível,  tinham que ser continuamente acesas nas noites de chuva forte ou de vento. O risco que a “malta” corria nessas circunstâncias, sendo a única coisa iluminada na escuridão, tornando-se um alvo fácil era enorme, embora, que me lembre,  nunca tenha havido flagelações nessas alturas.

Flagelações houve muito poucas (seis),  sem grandes consequências, a água do poço nunca foi envenenada e mesmo sabendo que a resistência oferecida pelas NT, aquando dos ataques, fosse de nutrido fogo mantendo o IN em respeito, penso que este nunca empenhou efectivos suficientes e capazes para provocar danos consideráveis. 

No fundo o IN sabia que,  enquanto aquele pessoal ali estivesse enquistado, a tropa do Xime, com a dispersão acima referida, estaria muito menos apta a fazer operações complicadas.

As relações entre o pessoal podem considerar-se muito boas,  não havendo atitudes condenáveis, que até seriam possíveis num ambiente concentracionário como aquele. 

A convivência com a milícia logo de início se mostrou muito favorável porque, abastecendo-se de géneros junto das NT, passaram a pagar muito menos do que anteriormente,  porque os preços eram os mesmos que nos eram debitados sem alcavalas de qualquer espécie. 

Não me recordo da existência de familiares a viverem com o pessoal africano, mas segundo o testemunho do tabanqueiro Manuel Moreira, uma mulher deu à luz na época em que lá esteve e foi o 1.º cabo aux enf Cordeiro Rodrigues, o " Palmela", ajudado por ele que assistiram ao parto.

Com a falta de géneros tudo se aproveitava incluindo a caça, que se resumia a tiro de rajada para bandos de aves grandes, pernaltas (não sabemos quais) e se caiam nas redondezas eram o pitéu desse dia. 

As noites eram passadas como se calcula, com as sentinelas nos quatro cantos do quadrado e a malta a ver e a ouvir os rebentamentos que vinham da direcção de Jabadá, de Tite, Porto Gole e do Xime, claro. Pode ser sinistro mas não é difícil pensar que muitos diriam: 

− Antes eles do que nós!...

Como de costume, depois das tarefas de rotina, quando o calor era menos intenso, seguia-se o eterno futebol com bolas dadas pelo Movimento Nacional Feminino (MNF), de péssima qualidade, substituídas pelas tradicionais trapeiras. 


João Guerra da Mata

Num dos reabastecimentos que se fizeram conseguimos levar, para além de gado mais miúdo, algumas vacas que, como sabemos, na Guiné são de pequeno porte. 

Como o futebol também farta,  houve alguém que sugeriu tourear uma das vacas que ainda estava viva para tardios bifes.

Foi uma festa com as peripécias inerentes à Festa Brava e todos os dias “a las cinco en punto de la tarde” soltava-se a vaca e era um corrupio de faenas com cornadas… incompetentes. O tempo foi passando e já só restava um dos pobres animais para animar os fins da tarde. 

Como o reabastecimento nunca mais chegava e o atum com arroz já não se podia ver, e muito menos comer, o alf Mata teve de decidir entre o partido pró-tourada e o partido pró-bife. 

Não foi fácil, mas acabou por vencer este último. Convocou-se o soldado condutor J. Viveiro Cabeceiras que também era padeiro, magarefe e pau para toda a obra, que procedeu à matança. Começando a esquartejar a rês,  vai ter com o Alferes e informa-o que a vaca estava tísica, pulmões quase desfeitos. 

 
− Come-se a vaca ou não se come a vaca? 

Nova discussão e resolveu-se não aproveitar as vísceras e apenas o músculo. Assim se comeu carne assada sem problema de maior. Quando esta acabou voltou-se ao atum aos enlatados,  tudo coisas que já escasseavam mas o pessoal andava triste com a falta dos fins de tarde taurinos. Então o Cabeceiras foi ter com o alferes Mata e disse-lhe:

- Meu alferes, a malta anda tão triste que se quiser e autorizar eu faço de vaca pois guardei os... cornos.

E assim de conseguiram mais uns fins de tarde…

Felizmente com a redistribuição das Forças no terreno, iniciada pelo brig Spínola, foi a Ponta do Inglês evacuada sem problemas em 7 e 8 de Outubro de 1968, pondo-se fim ao disparate da sua existência. 

Há uma enorme falta de informação (para mim) sobre a evacuação da Ponta do Inglês; nem na história do BART 1904, nem na da CART 1746, apenas é mencionada a data em que se efectuou. 

Tenho ideia que,  para além do pelotão da CART  1746,  da secção  de Morteiros e do pelotáo de milícia,  estiveram na Ponta do Inglês pessoal de outras unidades a montar segurança (mas quais?) enquanto o pessoal carregava a barcaça Bor de todo o material e bagagem da rapaziada. Estivemos nas imediações da Ponta Varela a assegurar a passagem da Bor a caminho de Bambadinca. Foi uma operação, para mim sem nome, que envolveu mais meios que não recordo.

Segundo informação de oficiais do BART 1904, o brig Spínola com o respectivo séquito aterrou na Ponta do Inglês, já ia adiantado o carregamento da Bor, mandando evacuar a segurança, depois de se ter armadilhado o que estava determinado... Só depois reparou que já não havia segurança nenhuma e que ele e os outros oficiais que o acompanhavam tinham ficado, como hei-de dizer, abandonados na margem do Corubal com o pessoal do ou dos helis a chamá-los quando se aperceberam da situação.

O pelotão da Cart 1746 chegou ao Xime sem problemas e todos tivemos uma enorme alegria por voltarmos a estar juntos. ....E na verdade o que vos doi... É que não queremos ser heróis (Fausto).

António Vaz (2012) (****)

(Revisão / fixação de texto, título: LG)

_________

Notas do editor LG:

(*) Vd poste de 4 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27384: A nossa guerra... a petromax (1): Quem é que ainda se lembra dos candeiros a petróleo ? Em 1964, em Guileje, Gadamael, Ganturé, Sangonhá, Cacoca, Cameconde... Em 1967/68, em Ponate, Banjara, Cantacunda, Sare Banda, Ponta do Inglês...

(**) O que diz a CECA (2015):

(...) Em 19 e 20Jan65, realizou-se a operação "Farol",para ocupação e instalação dum aquartelamento na Ponta do Inglês. 

O ln emboscou as NT, sofreu baixas não estimadas e foram capturadas granadas de mão e de lança-granadas foguete. 

Em 20Jan, forças da CCaç 526 e CCav 678, durante um reconhecimento na área Ponta do Inglês - Buruntoni, destruíram um acampamento com 15 casas a cerca de 600 metros a sul da antiga tabanca da Ponta do Inglês, tendo capturado diversas munições; encontraram alguns abrigos no lado sul da Ponta do Inglês-Xime, no local da emboscada feita às NT em 19 e destruíram 2 casas a leste de Ponta do Inglês. (...)

Fonte: Excerto de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2014), pág  311.


Em comentário ao poste P7590 (****), o José Nunes, ex-1º cabo mec eletricidade, BENG 447, 1968/70; escreveu:

(...) "O aquartelamento da Ponta do Inglês estava operacional em abril de 1968, quando aí nos deslocámos pra montar o grupo gerador, ficava junto ao rio e não havia cais, o Unimogue avançou rio dentro até da LDP [Lancha de Desembarque Pequena] de onde se descarregou o gerados a pulso. 

A iluminação era feita [, até então,] com garrafas de cerveja com uma mecha, cheias de combustível, e as havia a servir de alarme, havia muitos macacos na zona que causavam problemas, ao agarrar o arame farpado da zona de protecção. Foi uma permanência de horas por causa das marés." (...)



domingo, 2 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27376: Humor de caserna (219): Heróis de quatro patas que bem mereciam uma cruz de guerra: Bambadica, 1963, o Lobo e a sua matilha de cães rafeiros (Alberto Nascimento, ex-sold cond auto, CCAÇ 83, 1961/63)




Cartoon: adaptação e edição por Chat Português (GPT-5 Thinking mini). Disponível em https://gptonline.ai/. Ideia original: LG sob imagem original de João Sacoto  / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > Meados de 1969 > Um periquito em Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852 (1968/70),   o editor deste blogue, quando noutra incarnação foi Fur Mil Armas Pesadas Inf, pertencente à subunidade de intervenção CÇAÇ 2590 / CCAÇ 12... Nas suas costas, a grande bolanha de Bambadinca... (Bambadinca ficava num morro, 30 e tal metros acima do mar, tendo a Norte o rio Geba e a Sul a bolanha.)

Um anos depois, já após a chegada do BART 2917, os cães vadios enxameavam a parada do aquartelamento e tornavam-se um pesadelo, à noite, não deixando ninguém dormir... (Dentro do aquartelamento, ou do perímetro de arame farpado ficavam ainda as instalações civis: posto administrativo, escola primária, missão católica capela, reservatório de água, etc.)

Foi na sequência dessa situação que se decidiu preparar e executar a Op A Noite das Facas Longas, de que resultou talvez a maior mortandade em canídeos de toda a guerra da Guiné... Como tantas outras ações das NT, esta não ficará certamente para a História, mas já aqui foi evocada e sumariamente contada (*).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


    

O boxer Toby, um cão
que foi um bravo
combatente,
mais do que mascote.

Foto do João Sacôto.
1. Os cães também fazem parte da nossa "pequena história", ou das nossas "pequenas histórias" que pouco ou nada irão interessar à História com H grande. 

Temos pelo menos dez referências a este descritor. Até tivemos "cães de guerra". CCAÇ 763, "Os Lassas" (Cufar, 1965/67) teve "cães de guerra". Tinha uma secção cinotécnica. Mas a sua utilização, eficaz e eficiente, naquela guerra e naquele terreno, deparou-se com vários obstáculos. E a experiência foi abandonada. O maior inimigo do cão de guerra ainda era, afinal, o macaco- cão. Quando se encontravam no mato, não havia quem os segurasse.

Mas dalemos de outros cães que, à partida, não foram treinados para operações de guerra. E que mesmo assim participaram na guerra. 

Se há uma cão que merecia uma cruz de guerra, era o Toby, ferido em combate, bravo e leal companheiro do nosso João Sacôto e do seus camaradas da CCAÇ 617 (Catió, 1964/66) (**).

Cães que foram, mais prosaicamente, mascotes iu animais de companhia certamente os houve, na Guiné, ao longo da nossa guerra, um pouco por toda a parte. 

De um lado e do outro. O IN também os tinha, nas "barracas"  e tabancas", com a missão de o alertar da chegada das NT, no mato. 

Alguns dos nossos cães, infelizmente, como o Boby e o Chicas, que viveram connosco em Bambadinca, acabaram por ser vitimas do "fogo amigo" (*).

 Mas falando de cães que conviveram connosco, temos  de lembrar aqui, mais uma vez, nem que seja em registo  humorístico (***), o Lobo (também um Boxer)   e a sua matilha de cães rafeiros que no início  oficial da guerra, no 1º trimestre de 1963,  terão abortado  um ataque do IN a Bambadinca, ao tempo 
do Alberto  Nascimento, ex-sold cond auto, CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63).
 

O Lobo e a sua matilha de cães rafeiros

por Alberto Nascimento


Alguém apareceu um dia no quartel, com dois cachorros recém desmamados, que foram imediatamente adotados e batizados com os nomes de Gorco, ele, e Djiu, ela.

Adaptaram-se facilmente ao hotel e, quando começaram a vadiar pelas imediações, devem ter feito grande publicidade porque passado pouco tempo veio outro e mais outro e mais uns quantos, até perto da dezena de rafeiros que, agora bem nutridos, não mostravam vontade nenhuma de voltar à antiga vida de privações e maus tratos.

Mais tarde, o tenente Castro, comandante do destacamento, juntou à matilha um boxer, o Lobo que, pelo seu pedigree, foi aceite como comandante da tropa canina, que passou a segui-lo para todo o lado.

Embora alguns dos rafeiros se desenfiassem durante algumas horas de dia, a hora das refeições e a pernoita eram sagradas e, após a última refeição, esparramavam-se num espaço entre as duas construções que constituíam o quartel, formando uma roda de cães no meio da qual, não sei se por estratégia, se acomodava o Lobo.

Uma noite, estava eu num posto guarda a trocar umas palavras com o sargento Leote Mendes, quando o Lobo se levantou subitamente e saiu a grande velocidade, seguido com grande algazarra pelo resto da matilha. 

Atravessaram a estrada e durante algum tempo continuámos a ouvir um barulho infernal, sem conseguirmos compreender o que se estava a passar, até que os latidos cessaram e pudemos vislumbrar o regresso da matilha.

Ficámos preocupados a pensar que a reacção dos cães se devia à passagem de algum viajante, já que era hábito quando a distância a percorrer era grande, fazerem os percursos de noite a pé enquanto mastigavam noz de cola e mais preocupados ficámos quando vimos que o Lobo trazia na boca um cantil de plástico cheio de leite. 

Deduzimos e desejámos que alguém tivesse tido a ideia de desviar a atenção dos cães, das suas canelas para o cantil de leite, largando-o enquanto fugia.

Depois da operação de Samba Silate (****), alguns prisioneiros disseram que nessa noite o quartel estava já cercado e seria atacado, não fora o alarme dado pelos cães, o que os levou a pensar que factor surpresa já não surtiria efeito.

Felizmente para nós, enganaram-se. Não sei que armas traziam mas a nossa surpresa ia com certeza ser grande. Nunca se soube com certeza absoluta, eu pelo menos não soube, com que apoios esta operação contava do exterior e do interior do quartel, mas um dia depois, um cabo indígena de Bafatá que reforçava o nosso destacamento, desertou.

Depois deste episódio, que recordamos sempre nos nossos encontros anuais, a matilha começou a desaparecer. 

Uns nunca mais voltaram ao quartel, outros voltaram doentes, acabando por morrer por envenenamento e nós passámos a redobrar a nossa atenção aos sistemas de vigilância e defesa, que dependiam mais de nós que do equipamento que possuíamos, na altura limitado às G3, granadas e uma metralhadora fixa num ponto estratégico.

Todos os camaradas que estavam na altura em Bambadinca sabem, julgo eu, o que ficaram a dever àqueles animais que, por acção indirecta, acabaram por ser as únicas vítimas, pelo seu natural instinto de guardiães e defensores de um território, que também era seu.


Alberto Nascimento

 
(Revisão / fixação de texto, títiulo: LG)

2. Ficha deunidade: CCAÇ 84

Companhia de Caçadores nº 84
Identificação:  CCaç 84
Unidade Mob: RI 1 - Amadora
Crndt: Cap Inf Manuel da Cunha Sardinha | Cap Mil Inf Jorge Saraiva Parracho
Divisa: -
Partida: Embarque em 06Abr61 e 09Abr61; desembarque em 06Abr61 e 09Abr61 | Regresso: Embarque em 12Abr63

Síntese da Actividade Operacional

Foi colocada em Bissau, onde manteve a sua sede durante toda a comissão, inicialmente na dependência directa do CTIG e depois integrada no BCaç 236.

A partir de 24Ag061, destacou efectivos da ordem de pelotão e secção para várias localidades, nomeadamente para Teixeira Pinto, Farim, Mansabá e Bambadinca, em missão de soberania e segurança das populações, onde foram atribuídos aos batalhões responsáveis pelos sectores respectivos.

A partir de 15Fev62, embora mantendo o comando em Bissau, os pelotões foram todos atribuídos a outros batalhões, instalando-se em Empada, em reforço do BCaç 237 em Piche e Nova Lamego, com secções destacadas em Buruntuma, Pirada e Nova Lamego, em reforço do BCaç 238 e continuando um pelotão estacado em Bambadinca, em reforço do BCaç 238.

Em 01Abr63, a subunidade foi toda reagrupada em Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade.

Fonte:  Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág, 305.

(***) 30 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27365: Humor de caserna (218): Análise interpretativa da história de Fernandino Vigário, "O jovem alferes graduado capelão, cheio de sangue na guelra, que queria ensinar o padre nosso ao...Vigário"


(...) " a CCAÇ 84, três meses depois de aterrar no aeroporto de Bissalanca, foi literalmente fragmentada e enviada para os mais diversos pontos do território, tendo o meu pelotão tido como último destacamento, entre Novembro de 1962 e 7 ou 8 de Abril de 1963, Bambadinca, sob o Comando de Bafatá.

"O primeiro destacamento, ainda em Julho de 1961, foi para Farim, após os primeiros e ainda pouco violentos ataques a Bigene e Guidaje. Seguiu-se o destacamento de Nova Lamego, conforme é dito no seu blogue (P 1292 - Contributos) onde o pelotão foi dividido por Buruntuma, Piche e Canquelifá.

"Só estou a mencionar o 1º pelotão da Companhia, porque à grande maioria dos camaradas dos outros pelotões só voltei a ver nos dias que antecederam o embarque para a Metrópole.

"Como a memória se perde no tempo por indocumentação, ou porque a essa memória se teve medo de atribuir qualquer importância (existiam e ainda existem muitos complexos sobre a guerra colonial), resolvi dar o meu contributo para esclarecer uma dúvida colocada no seu blogue, sobre quem teria participado nos massacres de Samba Silate e Poindom, no início de 63.

"Sem conseguir precisar o mês, um dia soubemos que a PIDE estava em Bambadinca para deter o padre António Grillo, italiano da Ordem Franciscana, acusado - não sabíamos se por denúncia, se por investigação - de colaborar, proteger, e fornecer alimentos a elementos do PAIGC, a partir de Samba Silate" (...).

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27366: O início da guerra (Armando Fonseca, ex-sold cond, Pel Rec Fox 42, mai 62 / jul 64) - VI (e última) Parte: Depois de Sangonhá, Cacoca (em 24 de junho de 1964)...A 2 de julho, emboscada em Cumbijã com duas minas, uma autiometralhadora e um granadeiro destruídos, 2 mortos, 3 feridos graves... O fim da comissão.



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Guiné > Zona Sul >  Região de Tombali > Setor de Cacine > Cacoca > CART 1692 (1968/69) > " Um dos nossos condutores, o António Andrade Júnior, que, por opção, 'viviam' em Cameconde. O outro era o Alcides Pereira de Lima (Unimog 404), de quem não sabemos nada".

A CART 640, a que se refere o monumento, foi mobilizada pelo RAP 2, partiu para o TO da Guiné em 25/2/1964 e regressou em 27/1/66. Passou por Bissau, Farim, Sangonha, Cacoca e Bissau. Comandante(s): Cap art Carlos Alberto Matos Gueifão; e cap art José Eduardo Martinho Garcia Leandro.

A ocupação de Cacoca e o início da instalação das NT datam de 24/6/1964. 

Foto (e legenda): © António J. Pereira da Costa (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legtendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona Sul > Região de Tombali > Sangonhá, a sul de Gadamael-Porto > c. 1967/68 > Vista aérea do destacamento, "uma espécie de fortim do faroeste", com um heliporto, uma pista de aviação, barracões e três poilões...  Um sítio desolador...

Na altura estava a chegar uma coluna militar [lado esquerdo]. Foto, provavelmente tirada de uma aeronave DO 27, de autor desconhecido. Proveniência: Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Cortesia do nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014), cofundador e líder da AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) até à data da sua morte (em Lisboa). Foto, entretanto, modificada por LG.


Foto (e legenda): © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados (2007)  




Guiné > Mapa da província >  Escala 1/500 mil (1961) > Detalhe: Posição relativa de Sangonhá e Cacoca, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, a sudeste. Estes dois destacamentos e tabancas foram abandonados pela CCAÇ 1621 em 29/7/1968

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)


1. O Armando Fonserca, de alcunha o "Alenquer", ex-soldado cond cav, Pel Rec Fox 42 (1962/64), foi dos primeiros militares de cavalaria a chegar à Guiné, quando "oficialmente" ainda não havia guerra. 

Para a nossa historiografia militar, para a CECA - Comissão de Estudo das Campanhas de África, e para a "hagiografia" do PAIGC, a guerra só começa... em 23/1/1963, em Tite; mas não para nós, aqui no blogue,  em 1961 e 1962 já havia  guerra, uma guerra surda e suja, de um lado e do outro, se bem que não haja registo de mortos, entre as NT, nos anos de 1961 e 1962, segundo a CECA. O primeiro comandante do PAIGC a morrer, apanahdo numa "rusga" militar, foi o Vitorino Costa, em meados de 1962.

O Armandino Fonseca teve uma comissão de serviço relativamente tranquila desde que chegou a Bissau, em 28/5/1962, até setembro de 1963...

Permaneceu em Bissau mais de um ano até finais de agosto de 1963, fazendo segurança à cidade e ao aeroporto em Bissalanca. No início de setembro de 1963 até jullho de 1964, vai percorrendo uma boa parte da Guiné. E conhecendo a guerra, pura e dura. Descobre o inimigo mais temido da sua autometralhadora Fox, a mina anticarro.

Ajuda a ocupar e a construir os primeiros aquartelamentos na zona de fronteira, a sudeste, importante corredor de infiltração do PAIGC: Guileje, Ganturé, Sangonhá, Cacoca...

A sua narrativa acaba aqui (*), Já não nos dá pormenores sobre a ocupação e o início da construção do aquartelamento de Cacoca, em 24 de junho de 1964. Em 2/7/1964, o Pel Rec Fox 42, praticamente na véspera do seu regresso à Metrópole, sofre o seu mais duro revés, no Cumbijã (ação IN também não referida no livro da CECA, 2014, na parte respeitante a atividade operacional do ano de 1964).

Eis aqui o relato do "Alenquer" (que vive na Amadora, desde 1965, mas de quem não temos tido notícias mais recentemente):

 
(..) "Seguiram-se os destacamentos de Sangonhá e Cacoca e até aqui embora tenham havido várias emboscadas, e tenham sido descobertas várias minas anticarro, do meu pelotão só eu tinha sido ferido na cara por duas vezes, sempre coisa de pouca gravidade. 

No dia 2 de julho de 1964 foi montada pelo inimigo uma emboscada, onde rebentaram duas minas destruindo por completo uma autometralhadora e um granadeiro, matando dois camaradas nossos e ferindo com muita gravidade mais três, os quais levaram algum tempo para reconstruir os órgãos afectados e ainda hoje sofrem dessas maleitas.

A partir desta data nós ficamos totalmente desanimados e já não fizemos mais nada, até porque já tínhamos ultrapassado o tempo previsto para a nossa comissão. 

Regressámos então para Bissau numa lancha da marinha a fim de aguardar o regresso que teve lugar no dia 21 no Paquete Índia, chegando a Lisboa a 30 de julho.

À chegada esperavam-me os meus familiares que me receberam com toda a alegria e eu mais alegre estava porque em determinadas alturas pensava que já não regressava para os tornar a ver.

Nesse dia não pude seguir com eles visto que ainda tive que ir a Castelo Branco fazer o espólio dos fardamentos que trazia e receber as guias que permitiam passar à vida civil e só no dia 30 regressei.

Nesse dia tinha então todos os meus familiares e amigos à minha espera e começou aí uma nova vida". (...)



Guiné > Bissau > Cemitério Municipal > Talhão dos Combatentes Portugueses > s/d > 

Fonte: CECA (2001)


Os dois camaradas nossos, do Pel Rec Fox 42, terão sido os dois primeiros militares  de unidades de específicias de cavalaria (EREC / Pel Rec),  a morrer no CTIG, em 2/7/1964, no Cumbijã. 

Os seus corpos tiveram destinos diferentes, devido provavelmenmte à condição socioeconómica das respetivas famílias:

  • o 1º cabo AM Panhard Vitorino António Costa, natural de Monchique, ficou inumado no cemitério de Bissau, no talhão dos antigos combatentes portugueses, campa nº 956,
  • o sold AM Panhard José Carlos Firme Pires, natural de Lisboa, foi inumado no cemitério de Dois Portos, Torres Vedras.

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 8.º Volume; Mortos em Campanha; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2001), pp. 65/66.


No final de 1964, o CTIG dispunha já de um total estimado de 15150 militares ( incluindo tropas do recrutamento local):  eram 9650 em 1963 e serão  já 17100 em 1965. O número de mortos já ascendiam a 129 (em 1964) (contra 51 no ano anterior).

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 359.



Guiné > Regão de Tombali > c. agosto de 1968 > Sangonhá destruída. Aqui está a prova do que restou de Sangonhá. Esta foto tem Direitos de Autor. Foi tirada com uma CANON

Foto (e legenda): © Mário Gspar (2015). Todos os direitos reservados (Edição:: L.G.).






Guiné > Carta da província >  Escala 1/500 mil (1961) > Detalhe: Posição relativa de Sangonhá,  Cacoca e Cameconde, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, a sudeste.  

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)