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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7826: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (36): Ida ao dentista em Farim

1. O nosso Camarada José Eduardo Oliveira - JERO -, (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Binta, 1964/66), enviou-nos hoje a seguinte mensagem:


Salvo as devidas distâncias e com o devido respeito recordei-me desta história a quando de uma recente postagem sobre uma ida do então General Spínola ao estomatologista. No HM 241, em Bissau. Com o seu monóculo a ser confiado a um Médico durante o tempo da consulta dentária.
«É evidente que quem o tratou foi o Chefe, mas havia necessidade que alguém tomasse conta do monóculo e logo me tocou a mim. É engraçado que senti aquele receio de ser o fiel depositário de tão solene objecto. Mas consegui não o deixar cair!!!»
(Mário Bravo)



IDA AO DENTISTA A FARIM


Por volta de Novembro ou Dezembro de 1965, quando já contávamos cerca de 18 meses de comissão, chegaram ordens via rádio a Binta, vindas da sede do Batalhão em Farim, para uma ida ao dentista.
Militares da “675” aguardam transporte para Operação “TIRA-DENTE”

O Alferes Médico Martins Barata deu-me as devias instruções e em pouco tempo arranjei uma lista de militares com necessidade de cuidados de medicina dentária. À distância no tempo há que recordar que a visita a Farim era para arrancar dentes e não para os arranjar.

Num dia de manhã a coluna dos militares com dentes “estragados” arrancou para Farim.

Sentados nos Unimogs, com a G-3 entre as pernas e com o lenço na boca. Era naqueles dias que quem seguia atrás da primeira viatura comia pó que se fartava.

Chegámos a Farim sem problemas de maior e como Furriel Enfermeiro recebi instruções para orientar a consulta .Ao ar livre, está claro. Duas cadeiras e duas filas, frente a um Alferes Médico e a um 1º.Cabo auxiliar de enfermagem.  Cada “cliente” abria a boca, dizia qual era o dente ou os dentes estragados, levava uma injecção (anestesia) e vinha para o fim da fila. Passados uns minutos avançava para a extracção. Abre a boca, respira fundo e… alicate. Já está.
Meia dúzia de minutos depois do início das primeiras extracções, e como é comum na vida militar, alguém segredou ao parceiro do lado que o cabo é que era “bom”.

A fila que destinava ao médico ficou reduzida ao mínimo. Tentei perceber o que se passava e refazer a “fila” pró Alferes. Mas não consegui grande coisa.

A fila do Cabo engrossava e deve ter “facturado” o triplo das extracções em relação ao seu superior.  Foram recomendados alguns cuidados de higiene aos desdentados e com a malta toda a cuspinhar sangue lá regressámos a Binta. O lenço verde deu um jeitão.
O pó avermelhado da “estrada” é que foi difícil de suportar… mas a meio da tarde estávamos em “casa”.Sem problemas de maior. Além das dores na boca, está bem de ver.

Termino o registo desta operação “tira-dente” com um testemunho pessoal. Também então precisava de ter ido ao dentista… mas não fui.
Quando em Maio de 1966 regressei da Guiné andei cerca de 2 anos a tratar dos dentes. E tiveram que me extrair 11 (onze) dentes. Uma das extracções correu mal e tive uma alveolite. Como o próprio nome indica é uma infecção no alvéolo. Regressei ao dentista e ele mandou-me abrir a boca. Enquanto o diabo esfrega um olho fez-me uma raspagem. A frio, sem anestesia. Mais tarde explicou-me porquê. Mas naquele momento dei um berro que se deve ter ouvido dois andares acima do consultório. Dei um berro e um salto na cadeira.
Na “descida”… lembrei-me do Cabo. O de Farim. Porque é que não fui para a fila dele?
Não me tinha doído tanto e tinha sido à borla…
Acabei por contar a história do Cabo-dentista de Farim ao Médico-dentista de Alcobaça.
E consegui, mais tarde, um desconto na esquelética. Que é uma das minhas recordações da Guiné. Onze dentes postiços. Seis em cima e cinco em baixo.
Bons velhos dentes, digo, tempos.
De Binta. Da Guiné.
E quanto partir… até posso cá deixar a esquelética.
Pró museu da minha Companhia. Da seis, sete, cinco.
Mas não tenho pressa nenhuma…
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
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Nota de M.R.:
Vd. o último poste desta série em:
3 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7544: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (34): Quem tem cu… tem continuação… (José Eduardo Oliveira - JERO)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4192: Estórias avulsas (28): Sorte na Vida... ou quando uma dor de dente te salva a vida (Tony Grilo, Canadá)

1. 1. Mensagem de Tony Grilo (*), Apontador de obús 8,8, Cabedu, Cacine e Cameconde, 1966/68, com data de 10 de Abril de 2009:

Amigo Vinhal e todos os camaradas da Tabanca Grande.

Vinhal, antes de mais, quero agradecer-te todos os e-mails que me tens enviado, obrigado.

É sempre bom saber o que se passa na nossa Tabanca.

Tenho começado a juntar alguns dos meus apontamentos de há 41 anos, do diário que escrevi na Guiné.

Preparei uma pequena história, a que dou o título, Sorte na vida.

Talvez não seja das melhores, mas para mim foi algo que ficou gravado na minha memória, até ao dia de hoje. Mas graças a DEUS hoje estou vivo e gozando com saúde, neste maravilhoso País que é o CANADÁ.


PS - Caros amigos, aí vão mais umas fotos.

Um grande abraço para toda a tertúlia destas terra do Canadá.


2. SORTE NA VIDA
por Tony Grilo

Assm começa a história...

Em Dezembro de 1967 comecei por ter uma horrível dor num dente, com uma cavidade, passando noites sem dormir. Então, comecei a pedir ao Alf Santos (nosso comandante da Artilharia), para me deixar ir para a consulta externa a Bissau. Não foi fácil, mas lá o convenci.

Lá parti nos ditos batelões através daqueles rios, até chegar a Bissau. Apresentei-me na bateria - BAC 1, que ficava no QG.

No dia seguinte comecei a rotina até ao Hospital Militar.

Havia uma semana e dias, quando o Capitão recebeu um rádio de Cabedú a informá-lo de que tinha havido um forte ataque a Cabedú, que tinha ocasionado a morte a dois soldados indígenas e um ferido grave. Um dos soldados, Cunhete, era o municiador da minha secção. Isto sucedeu no dia 23/12/67.

Terminada a consulta externa, regressei a Cabedú.

À minha chegada ao cais, estava o meu amigo e colega, 1.º cabo Carneiro. Com estas palavra me disse:
-Grilo, és um tipo cheio de sorte!

E eu perguntei:
- Porquê?
- Já vais ver - respondeu ele.

Chegamos ao acampamento e qual não foi o meu espanto, que quando olhei para a minha caserna, estava toda destruída. Entrei lá dentro: a minha cama estava toda estilhaçada e a minha almofada toda furada.

A morteirada acertou em cheio no meio da caserna, metade era dos cabos e a outra metade dos soldados. Foi onde morreram os dois e foi ferido outro. Por sorte essa noite não havia cabos lá dentro na hora do ataque.

Até ao dia de hoje, penso que foi o dente que me salvou.

Há uns anos atrás tive que arrancá-lo e disse logo ao médico:
- Por favor, não deite o dente fora, pois salvou-me a vida.

Então contei-lhe a história. Ainda hoje o tenho guardado numa caixa.






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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4073: Tabanca Grande (126): Tony Grilo, Artilheiro, Apontador de obús 8,8 (Guiné, 1966/68)

Vd. último poste da série de 15 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4189: Estórias avulsas (27): O meu amigo Dinha e o RDM (Belarmino Sardinha)