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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16140: Nota de leitura (842): “Os Anos da Guerra, 1961/1975, Os portugueses em África, Crónica, Ficção e História”, organização de João de Melo, colaboração de Joaquim Vieira, Círculo de Leitores e Publicações Dom Quixote, 1988 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Agosto de 2015:

Queridos amigos,
O trabalho de investigação de João de Melo foi tão rigoroso e cuidado, que publicados estes dois volumes sobre a literatura das três frentes em 1988 a sua leitura continua a ser imprescindível, bem entendido para quem pretenda conhecer as primeiras décadas da literatura da guerra.
O jornalista e escritor Joaquim Vieira contextualiza os acontecimentos, seguem-se as antologias.
Deixamos para a próxima incursão a revelação de um conto de Álvaro de Guerra de altíssima qualidade, e até agora não divulgado entre nós, "O Tempo em Uane".

Um abraço do
Mário


Os Anos da Guerra, por João de Melo (2)

Beja Santos

“Os Anos da Guerra”, com organização de João de Melo, dois volumes, Círculo de Leitores e Publicações Dom Quixote, 1988, constitui o primeiro e até agora o mais significativo levantamento sobre a literatura da guerra colonial, nas suas três frentes. No primeiro volume, o escritor João de Melo passa em revista as principais etapas que conduziram os movimentos de libertação à luta armada, percorrem-se os itinerários da preparação militar e analisa-se a literatura de Angola. Este segundo volume integra as literaturas de Moçambique e da Guiné e diferentes olhares sobre e no regresso da guerra. Como sempre, Joaquim Vieira procede às introduções dos respetivos conflitos. No caso de Moçambique, refere que em 1964 a FRELIMO procurou lançar a insurreição em cinco distritos, descobrirá que não possuía forças suficientes e concentra-se em Cabo Delgado e Niassa, aproveita-se dos apoios situados na Tanzânia. A FRELIMO demorou a impor-se, sofreu divergências internas, tinha no seu seio duas grandes correntes, a pró-ocidental e a francamente pró-chinesa. O projeto de Cahora Bassa, no distrito de Tete alterou por completo o ruma da situação em Moçambique. Eduardo Mondlane foi assassinado nos escritórios da FRELIMO em Dar-es-Salam, Samora Machel sucede-lhe na presidência no ano seguinte e a ala mais moderada do partido é afastada, tendo-se alguns dos seus dirigentes entregue às autoridades coloniais. O período do Comandante-Chefe Kaúlza de Arriaga irá ficar assinalado pela operação Nó Górdio, proclama que a guerrilha está à beira do aniquilamento, numa altura em que a FRELIMO se concentra no distrito de Tete e ameaça a construção da barragem de Cahora Bassa. A guerra avança, o equipamento da FRELIMO melhora e em 11 de Abril é disparado o primeiro míssil Strella. Escreve Joaquim Vieira:
“O relatório do quartel-general da Região Militar de Moçambique, referente aos quatro primeiros meses de 1974, indica um acréscimo global da atividade da guerrilha, um pouco por toda a parte. Impressionado pela deterioração da situação, Costa Gomes decide afastar o Comandante-Chefe”.

Vários são os autores referenciados, mas a figura principal é necessariamente Carlos Vale Ferraz e o seu “Nó Cego”, aqui fica um estrato:
“Ao Passos pareceu-lhe distinguir silhuetas de palhotas, de gente entre os arbustos. Parou, avisou os soldados da sua equipa, o alferes e o capitão. Agachados, dispostos num rosário de contas ao longo do trilho, pressentindo a chegada do momento, retida a respiração, os homens, em equipas de cinco, foram-se desfiando em linha.
Prontos? Interrogaram os olhos antes de se lançarem ao assalto correndo e disparando sobre tudo o que bulisse, sombras e corpos. Atiravam as granadas de mão para o interior das palhotas como garotas assustando galinhas, rebentavam a pontapé as frágeis portas enquanto atravessavam o pequeno aldeamento, agarravam pelos panos os corpos dos negros que não tinam conseguido fugir.
- Encosta esse par de jarras aí a essa árvore para lhes retirar o retrato! – gritava o Pierre o para o Vergas, que passava arrastando um casal de negros velhos, ela, a cocuana, de tronco nu, as mamas descaídas quase até à cintura, a pele cinzenta escamada do calor e da sujidade, ele, curvado e dorido, as articulações deformadas.
O Vergas hesitou em entregá-los ao Pierre, sentia-se estranho, já não possuía as mesmas certezas dos primeiros meses de guerra, abriu a mão para os deixar entregues ao pequeno tripeiro e ficou de olhos parados vendo-o colocá-los a jeito antes de disparar uma rajada curta. Seguiu o descair lento deles até se enrolaram sobre a terra nos últimos estertores.
- Esta não! – rugiu o Passos, com uma negra jovem agarrada por um braço, para o Pierre a rir-se ainda com a G3 a fumegar, preparando-se para repetir a cena. 
– Esta vai pagar-mas doutra maneira! Puxou-a para trás de um arbusto enquanto os homens da companhia continuavam a disparar e a partir os potes de barro. Deitou-a sobre o capim seco, escutando deliciado os gritos e os tiros, arregaçou-lhe o pano da saia, abriu-lhe as pernas e enfiou-se nela. Resfolgou que nem um toiro cobridor.
A negra continua deitada depois de ele se levantar limpando-se antes de apertar as calças, os panos enrolados na cintura, os olhos parados, muito abertos, apenas os músculos tensos do pescoço erguiam ligeiramente a cabeça fixando inexpressiva, a cara dos soldados que se aproximavam.
- Vá, ó Transmissões de um cabrão, vá, agora tu! – berrava o furriel.
O Brandão, pálido como sempre, cuspiu e passou adiante. Foi o Freixo quem lhe tomou a vez, deitou a G3 ao lado do corpo e bombeou-se para cima e para baixo, rápido a despachar antes que outros viessem ou o capitão passasse por aquele canto escondido na periferia do aldeamento assaltado”.

E chegamos ao contexto da Guiné, Joaquim Vieira fala do significado comercial da colónia, da pujança da ofensiva rebelde, da desarticulação do território, da chegada de Spínola, da sua ofensiva psicológica e militar, são informações que todos nós já dispomos no blogue. A escolha de João de Melo para a literatura inclui nomes grados como Álvaro Guerra e José Martins Garcia. Começa logo por destacar o conto “O Tempo em Uane”, que veio incluído em Histórias Breves de Escritores Ribatejanos, antologia organizada por António Borga, Lisboa, 1968, mas que apareceu também numa antologia de literatura ultramarina organizada por Amândio César em 1966. É uma narrativa belíssima, merece destaque no próximo texto, nunca dela se falou aqui. Uma das razões fundamentais por que se deve procurar conhecer os textos que João de Melo escolheu para esta obra incontornável é a visão do depois da guerra a diferentes vozes e aí depõem escritores como Olga Gonçalves, António Lobo Antunes e Lídia Jorge, entre outros. “Os Anos da Guerra” incluem a bibliografia geral sobre a guerra colonial e a cronologia sobre as lutas de libertação, evidentemente tudo reportado a 1988. É ocioso dizer que muitíssima água correu depois sob as pontes.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16124: Nota de leitura (841): “Os Anos da Guerra, 1961/1975, Os portugueses em África, Crónica, Ficção e História”, organização de João de Melo, colaboração de Joaquim Vieira, Círculo de Leitores e Publicações Dom Quixote, 1988 (1) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 11 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12825: Agenda cultural (304): Tiveste medo, pai?... Lançamento do livro de Catarina Gomes, jornalista do Público, com a participação de Lídia Jorge... Lisboa, FNAC Chiado, 27 de março, 18h30... Doze histórias de ex-combatentes e dos seus filhos, incluindo a do Tiago Teixeira & José Teixeira e a de um filho do João Bacar Jaló



Convite para o lançamento do livro da Catarina Gomes, "Pai, tiveste medo?", com a apresentação da escritora Lídia Jorge... Lisboa, FNAC Chiado, 5ª feira, 27 de março de 2014, às 18h30. Editora: Matéria-Prima Edições, Lisboa



1. Mensagem de Catarina Gomes, jornalista do Público, com data de 6 do corrente:



 Bom dia,  professor Luís Graça,

Não sei se se lembra mas a primeira vez que o contactei por causa destas lides da guerra,  foi há muito, muito tempo, com a intenção de fazer um livro sobre a forma como a guerra chegou à geração dos filhos. 

Chegou ao fim este processo. O meu livro vai ser finalmente lançado. Nada tem a ver com os "filhos do vento"  mas foi durante a pesquisa para este livro que nasceu a minha curiosidade por eles. 

Este livro é feito de 12 histórias de filhos de ex-combatentes, uma delas é a do Tiago Teixeira e a forma como a história de guerra do seu pai, José Teixeira, chegou até ele e o influenciou, a ponto de ter ido fazer voluntariado para a Guiné.

Outra é de um filho de João Bacar Jaló. Seis das 12 histórias são de filhos de pais que estiveram na Guiné. 

Pedia-lhe divulgasse o lançamento do livro no blogue e, claro, gostava muito que estivesse presente, assim como todos os tabanqueiros a quem este assunto possa interessar.

Gostava muito que o livro fosse o ponto de partida de debates entre estas duas gerações, entre quem foi à guerra e quem ouviu falar dela em casa, ou não. Estou disponível para participar com o pouco que fui aprendendo na recolha destas 12 histórias. 

Escrevi este livro também para que estas perguntas se façam, enquanto é tempo. O que acha de ser organizado um debate a este propósito? 

A pergunta podia ser “Como é que a Guerra Colonial chegou à geração dos filhos de ex-combatentes?

Deixo-lhe um resumo do projecto.

Um abraço, Catarina

2. Sinopse:

Quarenta anos depois do fim da guerra colonial, a memória do conflito continua viva em muitos portugueses. Não só pelas marcas deixadas nos militares que combateram, mas pela forma como ela se estendeu às suas famílias, nomeadamente aos filhos. Para os que tiveram um pai a combater em África, a guerra também foi deles.

Essa memória partilhada foi sendo construída pelos filhos ao sabor das emoções que iam experimentando: uns sentiram-se fascinados pelas aventuras heróicas de um pai em guerra; outros sofreram na pele o pesadelo interminável do qual o pai nunca se libertou; e outros ainda deixaram perguntas por fazer com medo das verdadeiras respostas.

Este livro é feito de 12 histórias. São experiências de guerra vividas por filhos de combatentes que,  de forma muito pessoal e única, aprenderam a juntar os pedaços de uma memória que não é a sua. Entre álbuns de fotografias, cartas antigas de madrinhas de guerra, malas empoeiradas, cabeças e peles de animais e relatos distantes, cada uma destas pessoas herdou uma história,; algumas foram atrás do passado para perceber um pouco melhor o pai que regressou ou que nunca chegaram a conhecer.

Em Pai, tiveste medo?, descubra uma nova perspectiva sobre um conflito que marcou Portugal. Um livro sobre a memória e a inquebrável ligação entre pais e filhos.
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Nota do editor:

quinta-feira, 24 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7993: 16 de Março de 2011, lançamento do novo livro de Beja Santos, Mulher Grande (Temas & Debates / Círculo de Leitores, 2011) (2): Vídeo com excerto da apresentação feita pela escritora Lídia Jorge



 Lisboa > Livraria Bertrand Chiado > 10 de Março de 2011 > 18h30 > Sessão de lançamento do novo livro do nosso camarada e amigo Mário Beja Santos, Mulher Grande, editado pela Temas & Debates e pelo Círculo de Leitores (2011).  


A apresentação esteve a cargo da escritora Lídia Jorge, de que apresentamos aqui um longo excerto.  Tinha à sua direita o autor e à sua esquerda a Guilhermina Gomes, representante  da editora. Sobre Lídia Jorge pode ler-se o seguinte no seu sítio:


"Nasceu no Algarve, passou alguns anos decisivos em Angola e Moçambique, formou-se em Filologia Românica na Universidade de Lisboa, deu aulas, escreveu quinze livros editados em várias línguas, entre eles, romances, antologias de contos, uma peça de teatro.
"Contrato Sentimental, apresentado no dia 4 de Setembro no Teatro Aberto, é o seu mais recente lançamento.Combateremos a Sombra, o seu romance apresentado em Março de 2007 na Casa Fernando Pessoa, esteve na origem do Grande Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores/Millenium BCP, que lhe foi entregue no dia 25 de Novembro de 2007."



Vídeo (10' 54''): Alojado em You Tube < Nhabijoes  

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Nota do editor:





©  Luís Graça (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

quarta-feira, 16 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7951: Lançamento do novo livro de Beja Santos, Mulher Grande (Temas & Debates / Círculo de Leitores, 2011) (1): Livraria Bertrand Chiado, 10/3/2011, Fotos






Lisboa > Livraria Bertrand Chiado > 10 de Março de 2011 > 18h30 > Sessão de lançamento do novo livro do nosso camarada e amigo Mário Beja Santos, Mulher Grande, editado pela Temas & Debates e pelo Círculo de Leitores.  A apresentação esteve a cargo da escritora Lídia Jorge (temos gravação em vídeo, a  divulgar oportunamente). Na mesa, da direita para a esquerda (1º foto de cima), Guilhermina Gomes, a representante da editora, directora editorial do Círculo de Leitores), a escritora Lígia Jorge (autora, entre outros, do conhecido romance A Costa dos Murmúrios, 1988, que já a tela, num filme, com o mesmo título,  de Margarida Cardoso, 2004), e por fim  o autor, Mário Beja Santos.    


Fotos: ©  Luís Graça (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




1. A sala foi manifestamente pequena para acolher todos os amigos e leitores do Mário, incluindo vários membros da nossa Tabanca Grande: assim de repetente, lembro-me de ter vista e saudado o Belmiro Sardinha (que, recorde-se, trabalhou muitos  anos na Sociedade Portuguesa de Autores), o José Vermelho - e a filha, que trabalha na Bertrand, na área do Marketing / Relações Públicas, se não erro -, o Jorge Cabral, o José Brás, o António Marques (o meu infortunado camarada da CCAÇ 12), o Humberto Reis (o nosso cartógrafo-mor), e outros... 


Tive, por exemplo, oportunidade de conhecer pessoalmente o António Duarte Silva, autor de Invenção e Construção da Guiné-Bissau (Almedina, 2010), bem como outros camaradas que estiveram na Guiné e manifestaram interesse pelo nosso blogue e inclusive vontade de ingressar na Tabanca Grande,  como é o caso do Francisco Feio, de Alhos Vedros, com quem há tempos já tinha falado ao telefone sobre o caso do malogrado Cap Mil Médico José Joaquim Marques de Oliveira). Tive ainda a oportunidade de conhecer um camarada nosso, leitor do nosso blogue, meu conterrâneo, natural da Ventosa, Lourinhã, mas de que infelizmente não fixei o nome. A todos os outros camaradas que reconheci e que cumprimentei mas que não menciono aqui por lapso de memória, peço as minhas desculpas.


Acabei por não poder estar mais tempo, no fim da sessão. Mas ainda cumprimentei a Lídia Jorge e falei-lhe do nosso blogue. Não a conhecia pessoalmente: é uma mulher afável,  bonita, elegante e inteligente. Gostei da sua originalíssima "leitura" do livro... O Mário, pro seu turno, estava visivelmente satisfeito pela presença de tantos amigos e pela calorosa recepção ao seu livro (que ele dedicou a três grandes mulheres que marcaram a sua vida, incluindo a mãe e a madrinha).   O livro, de 344 pp, tem como preço de capa € 19,90. Na Livraria Virtual Wook tem um desconto de 10%



Mulher Grande
Narrativa 
Edição/reimpressão: 2011
Páginas: 344
Editor: Temas e Debates
ISBN: 9789896441371


Sinopse: "No crioulo guineense, mindjer garandi (mulher grande) é a mulher idosa, sábia e destemida, predicados que Benedita Estêvão acumula, naturalmente, ao longo dos cerca de noventa anos de vida. Foi educada na moral salazarista, numa atmosfera familiar excepcional; preparou-se para a sobriedade, quando chegaram os primeiros revezes; depois partiu para África e cumpriu o seu sonho de amor; assistiu ao último acto do colonialismo; quando regressou, embrenhou-se no trabalho e triunfou; quando tudo se perdeu, preparou-se para uma vida de rotinas e modéstias; mais uma vez foi surpreendida por um grande amor que culminou numa tragédia; chegada a reforma, pôs em andamento novos projectos e não deu tréguas a uma doença terrível. 'A minha vida dava um romance', foi o que ela disse quando conheceu o escrevinhador das suas memórias"...


O nosso blogue teve o privilégio de divulgar, em primeira mão, há um ano atrás, largos excertos desta narrativa (*). Ao nosso camarigo Mário Beja Santos e ao nosso novo livro deseja Tabanca Grande as maiores alegrias e venturas. (LG)
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Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 25 de Fevereiro de 2010 > Guiné 67/74 - P5881: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (6): Tinha prometido a mim mesma não voltar mais àquela terra onde passei dez anos que mudaram a minha vida, e onde assisti ao início de uma guerra

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3563: Bibliografia de uma guerra (40): Venturas e Aventuras em África, de Cristina Malhão-Pereira (Beja Santos)

As Mulheres na Guerra




Um olhar feminino sobre a cratera do vulcão
por Beja Santos

A literatura sobre a guerra de África é predominantemente masculina, invoca-se a experiência, dela se desfia a memória, as mulheres eram pára-quedistas, estavam excepcionalmente nos hospitais. No entanto, ficaram-nos alguns relatos de mulheres que acompanharam os seus maridos nas comissões. Duas escritoras, Lídia Jorge (“A costa dos murmúrios”) e Wanda Ramos (“Percursos”) deixaram-nos relatos de grande densidade sobre o que viveram em Moçambique e Angola, respectivamente.

A LDG Alfange no Cumbijã. Foto de que não recordo o Autor, a quem peço desculpas. Com a devida vénia.


Mas na Guiné esteve a mulher de um oficial da Armada (Comandante José Manuel Malhão-Pereira), ao serviço da LDG Alfange, que nos deixou impressões pessoais da sua vida em 1969 e 1970 ("Venturas e Aventuras em África, Bissau, Guiné 1969 – 1970", por Cristina Malhão-Pereira, Civilização Editora, 2007).

Cristina é uma jovem esposa e mãe, tem 23 anos, fala de todas a dificuldades que viveu com muita simpatia, considera que a sua geração estava inicialmente muito mobilizada para a defesa do Ultramar, todas as classes participavam sem um queixume. Chega a Bissau, a grande preocupação era arranjar uma casa, lá se conseguiu, bem como dois jovens ajudantes africanos, isto enquanto o marido se ausentava frequentemente para missões de combate.

A casa alugada estava um nojo, com a ajuda da tropa tudo se arranjou, improvisaram-se móveis, levava-se uma vida pacata, quando havia possibilidade a Cristina acompanhava o marido nas caçadas nos arredores de Bissau. Superaram os problemas de saúde, deram umas escapadelas até aos Bijagós e mais tarde a Teixeira Pinto e a Cacine.

É um relato significativo para descrever Bissau e o estado de espírito da população branca e autóctone: os medos, os tiroteios perto e ao longe, a pancadaria entre soldados, a atmosfera das lojas, os encontros sociais, as longas incertezas e esperas quando a Alfange andava nos rios.

É um relato ligeiro, nostálgico, onde há memórias divertidas e tormentosas. Depois, o casal seguiu para Moçambique, onde permaneceu de 1971 a 1975.
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Notas de vb:

1. O Mário Beja Santos continua a "juntar todas as peças, todos os testemunhos. (...) agora ando a escrever as memórias de uma mulher fascinante, estou a sair do Gabu, em 1958, já houve as eleições do Delgado e do Tomás, em 1961 vai haver tiroteio em São Domingos. Tenho ainda trabalho para largos meses. Mas estarei sempre convosco. Do Mário Beja Santos".

2. Vd. último poste da série Bibliografia de uma Guerra

28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3536: Bibliografia de uma guerra (39): Nó Cego, de C. Vale Ferraz. (Cor Matos Gomes)

sábado, 1 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2602: Blogues da nossa Guerra (I) (Virgínio Briote)

Ideias Soltas

Surpreendi-me, desde início, com a quantidade de material (sobre a Guerra Colonial) já existente e com a imensidão de temas por desbravar; infelizmente, eu serei uma prova viva de como a segunda geração, a dos filhos dos ex-combatentes, sabem muito pouco sobre o que aconteceu verdadeiramente – muito por culpa da pouca transmissão de informação desses acontecimentos no espaço escolar. (...) Talvez seja mesmo necessária e espontânea esta urgência inconsciente de exorcização enquanto exorcizar fará algum sentido.Creio que qualquer um de nós se apercebe das mudanças sociais ocorridas; não creio, no entanto, que seja necessário batalhar no quanto o mundo está mudado. É de uma ironia imensa o facto de três décadas serem mais do que suficientes para o esquecimento da história recente. A memória passa a existir apenas para quem a viveu, com a ameaça de cada um ficar isolado na história. E as memórias de quem viveu a nossa guerra colonial estão ainda tão, tão vivas que não creio que seja justo deixá-las cair no isolamento.
Susana GASPAR, actriz e directora do projecto IGNARA


Blogues que falam de nós.

Falam de nós, alguns dos nossos filhos. Cresceram com a Guerra, não porque os pais falassem dela. Alguns, certamente falaram, e muitos deles falaram alto. Outros, calados com eles próprios, não deixaram também de falar.

Neste projecto podemos ver a edição da Câmara Clara, o programa da RTP2, da Paula Moura Pinheiro, a quem agradecemos as referências à nossa Tabanca Grande. Uma oportunidade para quem não conseguiu ver na altura em que passou.

aqui em http://projectoignara.blogspot.com/ .

Com a devida vénia ao Filipe ARAÚJO, à Susana GASPAR e ao Paulo Campos dos REIS, actores e directores do projecto IGNARA.
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IGNARA é um projecto teatral, produzido pelo teatromosca, subordinado ao tema GUERRA COLONIAL... Este blog é uma plataforma de partilha de informações relativas ao projecto e ao tema abordado... Se desejar, poderá participar...