sábado, 30 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P25018: Os nossos seres, saberes e lazeres (607): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (135): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Outubro de 2023:

Queridos amigos,
Em dado momento deste passeio por Trevões, isto numa excursão que começou em Tabuaço, já se foi a Alijó, agora em S. João da Pesqueira, amanhã Salzedas, Pinhão, e por aí adiante, perguntei-me se terão andado também por aqui mestres Camilo Castelo Branco e Aquilino Ribeiro, andei a contemplar casas solarengas, algumas em manifesto estado de ruína, aqui tiveram preponderância, Caiados, Melos e Camelos, gente de abastança, porque nesta terra há ricas frutas, azeite, vinhos, até se instalou um jovem casal que montou empresa da amêndoa ecológica, o estado de alguns monumentos é deplorável, o monumento nacional, a igreja de Santa Marinha, cujo portal ainda mete respeito pelos tempos idos, e depois houve muito dinheiro para a imensa talha dourada e para aquele teto em caixotões que é de cortar a respiração. E gostei muito de ver esta população remar contra a maré, edificando museus que permitem contemplar glórias desaparecidas, e conservar recordações do trabalho humano, tudo instituído com tal carinho que nos faz deambular com profundo respeito por tão laboriosa imaginativa construção que resguarda a memória de tanto antanho. Por outras palavras, convido-vos a visitar Trevões.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (135):
Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (4)


Mário Beja Santos


O passeio começa em Trevões, aldeia vinhateira do concelho de S. J. da Pesqueira, zona de planalto, mas também zona de montanha e também com zona de escarpas montanhosas onde podemos desfrutar os típicos socalcos durienses. Já foi sede de concelho, tem um número impressionante de casas apalaçadas, ditas solares, há evidentes estados de ruína, a igreja matriz dedicada a Santa Marinha é monumento nacional, e veremos porquê, tem um Museu de Arte Sacra e um Museu Etnográfico que são um regalo para os olhos e para a memória. É pequena a superfície de Trevões, um pouco mais de 18 km2, a agricultura predomina, bem como a exploração de madeiras e, evidentemente os serviços. Um caminheiro dos mais habilitados e detentor de blogue, Alma do Viajante, Filipe Morato Gomes, veio aqui e ficou deslumbrado. Primeiro com os solares, um deles, o Solar dos Caiados, é referenciado nos manuais de arquitetura quanto a solares do Norte, houve famílias de grandes posses que aqui apostaram na agricultura e construíram casarões, daí o espanto de andar por Trevões e ver tantos sinais de um passado com riqueza e ostentação. É o que se procura mostrar a seguir.
Solar dos Caiados: edifício do século XVII, de planta longitudinal, estrutura-se em dois corpos com diferentes alturas devido à inclinação da rua onde está situado.
Solar dos Melos: também conhecido por Solar dos Caiado Ferrão, foi mandado edificar em 1671. Da construção primitiva já existia a capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Na segunda metade do século XVIII sofreu obras de vulto.
A Casa do Adro: mandada erguer em 1605 por Baltazar de Almeida Camelo. A fachada principal do edifício pontua 8 janelas, sendo as do andar nobre da sacada com gradeamento em ferro forjado.
Paço Episcopal: o estado em que se vê é de partir o coração. O Paço era pertença dos bispos de Lamego e foi mandado construir em 1777.
A igreja é de fundação medieval. O edifício, em excelente estado de conservação, apresenta uma fachada austera, onde se rasga grande portal de arco apontado, sobrepujado por janelão de traça setecentista. O interior é de uma imensa riqueza.
Citando Filipe Morato Gomes: “Ao observar o seu exterior, poucos imaginarão os tesouros guardados no interior da Igreja Matriz de Santa Marinha de Trevões. Lá dentro, no epicentro da aldeia de Trevões, o piso é lajeado com tampas sepulcrais; o tecto é lindíssimo e forrado a ‘caixotões de madeira pintados com motivos vegetalistas’; e o vistoso retábulo-mor de talha dourada impressiona desde o primeiro instante. E mal sabia o que se escondia para lá do retábulo…”
Fresco descoberto durante as obras de restauro
Pormenor do teto de caixotões, um restauro soberbo
Imagens que dão conta de valiosíssimo património no interior na igreja de Santa Marinha de Trevões, visita que jamais esquecerei.

E daqui seguimos para dois eventos imprevistos, para grande assombro de todos os excursionistas, fomos visitar o Museu Etnográfico de Trevões e o Museu de Arte Sacra, é assunto que se abordará a seguir.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24992: Os nossos seres, saberes e lazeres (606): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (134): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25017: In Memoriam (490): Nuno Rubim (1938-2023): alguns dos seus livros publicados na área da História Militar: "A Artilharia de Campanha Estriada Portuguesa", (2014); "A Organização e as Operações Militares Portuguesas no Oriente, 1498-1580", (2013); "A Defesa Costeira dos Estuários do Tejo e do Sado: desde D. João II até 1640", (2011)


1 - A Artilharia de Campanha Estriada Portuguesa / Nuno José Varela Rubim. - Lisboa : Nuno José Varela Rubim, 2014. - 158, [1] p. : il. ; 30



2 - A Organização e as Operações Militares Portuguesas no Oriente, 1498-1580 / Nuno José Varela Rubim. - Lisboa : Comissão Portuguesa de História Militar, 2012-. - v. : il. ; 24 cm. - O 2º v. foi editado pelo Falcata - Editores, Unipessoal. - Contém bibliografia. - 1º v.: Geografia e viagens. - 306 p. 2º v.: Navios e embarcações. - 2013. - 210 p. - ISBN 978-989-95946-8-5



3 - A Defesa Costeira dos Estuários do Tejo e do Sado : desde D. João II até 1640 / Nuno José Varela Rubim. - Lisboa : Prefácio, D.L. 2011. - 130, [2] p. : il. ; 28 cm. - Bibliografia, p. 7-8. - ISBN 978-989-652-070-0



Lisboa, Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa (ENSP / NOVA)  > 6 de Setembro de 2007 > Da esquerda para a direita, Nuno Rubim (1938-2023), Carlos Schwarz (Pepito) (1949-2012) e Luís Graça (n. 1947).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. O nosso tabanqueiro Nuno Rubim (1938-2023) (*) era um conceitado especialista em História Militar, e em particular em História da Artilharia. Entre 2011 e 2014 publicou diversos livros e separatas de revistas sobre história militar. 


Em 2014, o nosso camarada, Nuno José Varela Rubim, de seu nome completo, ofereceu à nossa Tabanca Grande 26 exemplares do seu último livro "A Organização e as Operações Militares Portuguesas no Oriente, 1498-1580: vol. 2: Navios e Embarcações" (Lisboa: Falcata Editortes, 2013, 210 pp, ilustrado).

Foram praticamente contemplados, na altura, todos os grã-tabanqueiros que manifestaram interesse, entre 23 e 31 de maio dce 2024 (**), em obter um exemplar autografado do livro. 

Trata-se de uma obra original, de grande erudição, profusamente ilustrada (135 figuras e desenhos, a grande maioria a cores) que nos honra a todos nós, e que vem enriquecer a nossa historiografia militar. 

(**) Vd. poste de 17 dce junho de  2014 > Guiné 63/74 - P13299: E as nossas palmas vão para... (8): Nuno [José Varela] Rubim, autor de vasta obra sobre a nossa história militar, com destaque para "A organização e as operações militares portuguesas no Oriente, 1498-1580"

Guiné 61/74 - P25016: In Memoriam (489): Morreu, no passado dia 25, o nosso "capitão fula", o cor art ref Nuno Rubim (1938-2023): fez duas comissões no CTIG, como capitão (CCAÇ 726, CCAÇ 1424, e CCmds, out 1964 / dez 1966) e como major (QG, Cheret, 1972/74)


Nuno Rubim, cor art ref (1938-2023)


Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Palace > Simpósio Internacional de Guileje (1 a 7 de Março de 2008) > O Cor Art Ref Nuno Rubim, entre o Cor Cav Ref Carlos Matos Gomes e o Gringo de Guileje, o ex-Fur Mil Zé Carioca, da CCAÇ 3477 (Guileje, Nov 1971/Dez 1972), explicando pormenores da sua obra-prima que foi o diorama de Guileje, que ele ofereceu depois ao Núcleo Museológico de Guileje.

O Nuno Rubim era um profundo conhecedor de Guileje. Recorde-se que ele comandou duas das unidades que passaram por Guileje: a CCAÇ 726 (Out 1964/Jul 1966) e a CCAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966). Foi reconhecido e acarinhado pela população de Guileje,  ainda em 2008,  como o  "capitão Fula"
 
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério Militar de Bissau > Março de 2008 > O Cor Art na situação de reforma Nuno Rubim, participante do Simpósio Internacional de Guiledje (1 a 7 de Março de 2008), junto à campa do o Soldado António Gonçalves dos Santos, caído em combate em 4 de Março de 1966, muito perto do cruzamento do corredor de Guileje. Pertencia a um das companhias, a CCAÇ 1424, que o nosso querido amigo Nuno comandou, em Guileje.

Foto (e legenda): © Nuno Rubim (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Recebemos ontem, às 9:29, a noticia da morte do amigo e camarada Nuno Rubim, através de email do cor art ref Morais da Silva:

(...) "É com pesar que noticio o falecimento, no passado dia 25 de Dezembro, do meu camarada Cor Art Nuno José Varela Rubim. Que reste em Paz.

Abraço com o desejo de muita saúde em 2024.
Morais Silva".



Só esta manhã, em Candoz, tive conhecimento desta infausta notícia. Fiquei muito triste. Para além de um ativo colaborador do blogue, nos anos de 2006 e 2007, o Nuno Rubim era uma pessoa que eu muito estima e com quem cheguei a privar (na sua casa, no Seixal, fui lá uma bez com o Vrigínio Briote) e em março de 2007 na Guiné, no âmbito do Simpósio Internacional de  Guileje.

O meu primeiro abraço solidário na dor vai para a Júlia, a viúva, natural da Guiné, que eu e a Alice conhecemos na sua terra  e com quem fizemos uma viagem memorável de Bissau a Guileje e regresso. Para a Júlia e restante família ficam aqui também as condolências dos amigos e camaradas da Guiné que se reunem sob o sagrado e fraterno poilão da Tabanca Grande.

Com tempo e vagar (estou fora de casa com Net limitada), farei dentro de dias  um poste homenagem póstuma ao homem, ao militar e ao especialista em história militar que foi o nosso Nuno Rubim. Para já ficam aqui alguns breves ap0ntamentos sobre o seu "curriculum vitae", com particular referência à sua ligação à Guiné e ao nosso blogue.

Era  conhecido, no CTIG,  como "capitão fula" pela população de Mejo e de Guileje, cognome que o honrava muito.

Foi um histórico do nosso blogue. Entrou para Tabanca Grande em 10 de junho de 2006. Tem cerca de uma centena de referências.

Eis um excerto da sua apresentação aos amigos e camaradas da Guiné (que na altura ainda não ultrapssavam os cento e poucos):

(...) Comandei em Guiledge, sucessivamente (de castigo !..., eu qualquer dia conto esta estória) as CCAÇ 726 e 1424, depois de ter também comandado a CART 644 em Mansabá e a CCmds em Brá.

O que foi a minha vivência em Guileje fazem os amigos ideia... Foram de facto perto de 10 meses infernais, com mortos, feridos, estropiados, de ambos os lados, enfim o triste rosário de uma guerra que Portugal nunca devia ter travado.

Tinha também um Grupo de Combate em Mejo, de que pouco tenho ouvido falar. Quando terá sido desactivado esse pequeno aquartelamento? (...)

E ainda voltei à Guiné em 1972-74, mas isso é outra história..., que meteu o início da conspiração que levou ao 25 de Abril, entre outras coisas...

(...) Há 3 anos, depois de um processo desencadeado para a chamada reconstituição de carreira, destinadas aos militares que, como eu, foram vítimas de marginalização após o 25 Novembro de 1975, fui promovido a Coronel, já na situação de reforma! Por pouco era a título póstumo !!!...

(...) Finalmente quanto à Tertúlia, pois terei muito prazer em dela fazer parte." (...)


Como ele acima disse, fez duas comissões no TO da Guiné, a última no QG, já como major ("trabalhei no departamento 'mais secreto', a Cheret , onde desempenhei, como criptólogo AED - Aptidão Especial para Descriptamento, as funções de chefe da Secção de Análise e Controlo. Descriptamos todos (!) sistemas de decifrar dos países vizinhos");

Na primeira comissão comandou duas das unidades que passaram por Guileje: a CCAÇ 726 (out 1964/jul 1966) e a CCAÇ 1424 (jan 1966/dez 1966).

Trabalhador incansável, reputado especialista em história da artilharia (com uma extensa lista de obras publicadas), é também um bom amigo e um grande camarada, a quem pedimos, por diversas vezes, informação e conselho sobre as coisas e os feitos da Guiné.
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Nota do editor:

Último poste da série >  10 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24937: In Memoriam (488): Zélia Neno (1953-2023), que foi casada com o Xico Allen (1950-2022) e mãe da Inês Allen... Velório a partir das 11h00 de hoje na Igreja de São Martinho de Lordelo do Ouro (Porto) e funeral amanhã às 14h30

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P25015: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte V: O CEP que partiu para França, em 1917, em barcos ingleses, mal equipado, mal calçado...



Legenda: "No cais de embarque: o chefe da missão militar inglesa conversando com um oficial português".  ("Cliché": Benoliel)


Capa da "Ilustração Portuguesa", II Série, nº 581, Lisboa, 9 de abril de 1917. Edição semanal do jornal "O Século", Ed. lit: José Joubert Chaves. Com a devida vénia à Hemroteca Digital de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa.(*)

1. Este "cliché" do grande fotojornalista Joshua Benoliel é uma preciosidade: os nossos militares do CEP (Corpo Expedicionário Português) partiram para a guerra, mal equipados, a começar pela inadequação do seu uniforme na guerra das trincheiras da Flandres: veja-se, a propósito, o artigo de Sérgio Vieira Coelho sobre o combatente português da grande guerra - fardamento e equipamento  

COELHO, S.V. (2018). O combatente português da grande guerra fardamento e equipamento in Portugal na 1ª Guerra Mundial - Uma História Militar Concisa. Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar. P.199-228. (Disponível em formato pdf: https://recipp.ipp.pt/bitstream/10400.22/12764/1/Art_S%C3%A9rgio%20Coelho_2018%20%283%29.pdf)

(...) "O calçado para os oficiais era geralmente composto por botas de montar compósitas, ou seja, um par de botins de couro negro a que eram sobrepostas perneiras do mesmo material, apertadas com fivelas ou cordões cruzados.

"As restantes tropas eram dotadas de botins de couro negro ou castanho cuja qualidade era baixa, principalmente em termos de impermeabilidade, o que se veio a verificar nas trincheiras, constantemente cheias de lama pútrida e húmida. 

"Com este tipo de botas, que apodreciam rapidamente naquele tipo de ambiente, os soldados começaram a padecer de uma enfermidade designada de pés frios: pela exposição prolongada dos pés naquele tipo de solo insalubre, começavam a sofrer de micoses, viroses e lacerações, que culminavam em gangrenas e invariavelmente em amputações. O problema viria a ser parcialmente resolvido com a dotação de calçado britânico". (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P25010: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte IV: as  > mulheres que ficaram na retaguarda enquanto o CEP partia para França em 1917

Guiné 61/74 - P25014: Natal 71, documentário de Margarida Cardoso (1999, 52 min)


NATAL 71 de Margarida Cardoso (1999) – excerto

(Reproduzido com a devida vénia...)

Ficha técnica:

Documentário : Natal 71 (1999) | 52 min

Realização: · Margarida Cardoso

Argumento: · Margarida Cardoso

Editado em DVD pelo jornal Público e pela Midas Filmes

Sinopse: 

(...) "Natal 71 é o nome de um disco oferecido aos militares em guerra no Ultramar português nesse mesmo ano.

Cancioneiro do Niassa é o nome que foi dado a uma cassete áudio, gravada clandestinamente por militares ao longo dos anos de guerra, em Moçambique.

Era o tempo em que Portugal era um grande império colonial pelo menos era o que eu lia nos livros da escola - e para que assim continuasse, o meu pai e grande parte da sua geração combateu nessa guerra, que durou treze anos.

Hoje transportamos, em silêncio, essas memórias. Olho para trás e tento ver.

Em casa do meu pai encontrei algumas fotografias, a cassete e o disco.

A cassete é uma voz de revolta, o disco é uma peça de propaganda nacionalista. São memórias de uma ditadura fascista. Memórias de um país fechado do resto do mundo, pobre e ignorante, adormecido por uma propaganda melosa e primária que nos tentava esconder todos os conflitos, e que nos impedia de pensar e de reconhecer a natureza repressiva do regime em que vivíamos. (...)

Fonte: Margarida Cardoso] (-) Fonte: CINEPT - Cinema Português (com a devida vénia...)

Guiné 61/74 - P25013: Facebook...ando (48): No tempo em que passva na televisão o "Natal do Soldado" (A. Marques Lopes, autor de "Cabra Cega", livro de memórias, 2015, 582 pp.)


A. Marques Lopes, 2015. Foto: LG

Com 268 referências no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, o  A. Marques Lopes é um histórico da Tabanca Grande, foi um dos primeiros dez a entrar, em 14 de maio de 2005, já lá vão quase 19 anos... 

Foi, além disso, um dos nossos mais ativos colaboradores, como autor, nos primeiros anos do blogue. Foi alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/68) e CCAÇ 3 (Barro, 1968/69), cor DAF reformado... Vive em Matosinhos, embora seja natural de Lisboa. 

Da sua página do Facebook repescámos uma postagem com quase dois anos ( 5 de fevereiro de 2022), sobre o "Natal do Soldado"- Republicamo-la aqui como forma de "prova de vida". Julgamos tratar-se de um excerto  do seu livro de memórias, "Cabra Cega" (2015).  Não o temos aqui à mão para poder confirmar esaa hipótese.  De qualquer modo, aqui vai, com a devida vénia ao autor, e votos de melhor  saúde e melhor ano novo de 2024. 

 
O Natal do Soldado

por A. Marques Lopes


Vi na televisão o “Natal do Soldado” e achei ridícula a repetição do “nós por cá todos bem” e “um ano novo cheio de prosperidades”, até me deu para rir com os que queriam um ano cheio de propriedades. Riram todos lá em casa também. 

O pai garantia que os que regressavam da guerra diziam que não tinham tido lá Natal nenhum, que as gajas do Movimento Nacional Feminino é que vinham com essa treta. 

No Natal, diziam-no os que tinham lá estado, recebiam um maço de cigarros, uma carteira de plástico, das de vinte e cinco tostões, e uma ou duas sandes. Para tanto folclore era ridículo, de facto. Mas essas gajas e os mandões todos andam à grande e à francesa de automóvel, explicava o pai. Pensei que havia de ter tempo para saber se era assim.

O pai, por estar já há muitos anos em Lisboa, perdeu um bocado do sotaque alentejano mas usava as mesmas expressões lá da terra e eu achava-lhe piada por isso.
– Esses filhos dum cabrão deviam era ver esta miséria que a gente come.

E espetava o garfo na massa com grão onde se escondia uma lasca de bacalhau.
Assomaram umas lágrimas aos olhos da mãe.

– A culpa é da guerra, e eu ando apoquentada porque os meus filhos ainda vão lá parar.

O pai ficou sério e baixou a cabeça para meter uma garfada à boca. O irmão não dizia nada, porque sempre que falava era sempre sobre o Tarujense, onde era guarda-redes, ou sobre as partidas de bilhar que disputava no salão do Jardim Cinema. A guerra não lhe dizia nada. Era mais novo dois anos e ainda não lhe dava para pensar nisso.

– Felizmente o Antero já está livre disso.

A irmã não sorriu mas tinha os olhos brilhantes de satisfação. Era verdade que o namorado dela, mais velho que eu uns três anos, já tinha feito a tropa como escriturário no Batalhão de Sapadores de Caminhos de Ferro, em Campo de Ourique. Já saíra sem ir para o Ultramar.

O pai abanou a cabeça.

–  Não sei, rapariga, não sei.

Ela ficou séria e os olhos sem brilho:

– O que é que o pai quer dizer com isso?

– Sabes lá ele se não vai lá parar. Se esta porra continuar vai como os outros. A miséria já existia antes da guerra e a guerra é para a miséria continuar porque interessa aos ricos. Eles é que mandam e querem que ela continue.

A mãe pôs as mãos ao peito.

–  Credo, homem, não digas isso que ainda me afliges mais.

Mas ele não ligou.

– Vocês já são crescidos mas parece que não se lembram da miséria que têm passado desde que nasceram.

– Mas agora estamos melhor, até temos uma casa só para nós.

O meu irmão abrira o bico, mas levou logo.

– Uma casa uma merda. Nem a porra duma retrete temos quando nos vamos agachar. E estás aqui porque tu e os teus irmãos trabalham em vez de andarem na escola, e eu nunca tive férias porque vou no verão trabalhar com tractores lá prós montes daquele cabrão de Ervidel. Se não fosse isso ainda estavas numa parte de casa. (...)




Capa do livro "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", de João Gaspar Carrasqueira (pseudónimo do nosso camarada A. Marques Lopes) (Lisboa, Chiado Editora, 2015, 582 pp. ISBN: 978-989-51-3510-3, Colecção: Bíos, Género: Biografia).
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Guiné 61/74 - P25012: Notas de leitura (1653): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (5) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2023:

Queridos amigos,
Este texto permite uma grande angular sobre o período de 1966/1967, finalmente Schulz dispõe de meios aéreos julgados suficientemente eficazes para travar a guerrilha, dá-se uma reorganização da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné, o comando unificado é entregue ao coronel Abecasis, os meios aéreos trouxeram muito mais segurança à atividade operacional, abonam os diferentes testemunhos; acontece, porém, que a atividade da guerrilha intensificou-se, houve reorganização do PAIGC e das FARP e em igual período a atividade da insurgência não só se intensificou como alargou o seu espaço de ação. Há também testemunhos de que o helicanhão deixou inicialmente a atividade da guerrilha atemorizada, foi forçada a adaptações táticas.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (5)


Mário Beja Santos

Deste segundo volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados na sua aquisição: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/.

Capítulo 1: Um Comando “Desconfortável”

Recapitulando a matéria deste primeiro capítulo, os autores recordaram as grandes dificuldades sentidas em encontrar diferentes tipos de aeronaves à altura das necessidades do território e da natureza da guerrilha guineense. Entendeu o Comando-Chefe, nos finais de 1966, que as principais dificuldades estavam supridas, o Fiat e o Alouette III, também adaptado a helicanhão, iriam fazer recuar a guerrilha. É neste contexto que se dá a remodelação no comando da Zona Aérea da Guiné, fundem-se os Comandos desta e da Base Aérea 12, com o estabelecimento do Centro Conjunto do Apoio Aéreo, é este o final do capítulo I.

Entre as primeiras ações do Coronel Abecasis como Comandante da Zona Aérea e da Base Aérea 12, criou-se o Centro Conjunto de Apoio Aéreo como autoridade de controlo orientada para operações aéreas táticas e operações de apoio às forças de superfície, ficou localizada em Bissalanca e tinha o indicativo de Marte, o Deus grego da guerra. Este Centro Conjunto foi responsável por priorizar as solicitações de apoio aéreo, atribuindo às aeronaves o cumprimento de solicitações que aprovava, gerindo também as conexões de comunicação indispensáveis. Esta organização foi essencial para planear, programar e potenciar com responsabilidade os meios aéreos, conclui o historiador da FAP Luís Alves de Fraga. Criou-se em Nova Lamego a secção conjunta de apoio aéreo para agilizar operações no setor Leste. Ao ligar-se o Centro Conjunto e as forças apoiadas, a aeronaves como DO-27 passaram a ser utilizadas como postos de comando volante, sobrevoando as áreas de operações e fornecendo uma visão tática às forças em intervenção na superfície, e fazendo de elo de comunicação entre as unidades terrestre e os meios de apoio aéreo. 115 aeronaves utilizavam rádio no PCV, ajustando as frequências e assim facilitando a rapidez no apoio aéreo. Apesar das incompatibilidades entre os recursos terrestres e os aéreos quanto a equipamentos de rádio, as forças portuguesas conseguiram um nível satisfatório de comunicações táticas mediante arranjos, garantindo apoio de fogo, reabastecimento de emergência ou evacuação de feridos em tempos que podiam chegar a 20 minutos. O Coronel Abecasis também orientou a criação de um Centro de Campanha de Exploração Fotográfica, sediado na Base Aérea 12, no outono de 1966.

Apesar da variedade de equipamento fotográfico utilizado durante as missões de reconhecimento – câmaras portáteis transportadas a bordo de aeronaves leves. O Centro de Campanha de Exploração Fotográfica desenvolveu uma “capacidade notável” para interpretar imagens pontuais, analisar fotografias e organizar conjuntos de imagens detalhadas dos objetivos visados para as operações. No final de 1966, a FAP tinha instalado uma frota de 50 aeronaves na Base Aérea, complementada por vários campos auxiliares, apoiada por uma estrutura de comando e controlo mais eficiente. O contingente da FAP na Guiné parecia capaz de poder intervir em todas as funções operacionais relevantes, dispunha da sua própria “infantaria”, os paraquedistas. A capacidade de desempenho da Zona Aérea ganhara muito com o G.21 e o Alouette III. Tudo parecia, depois de quatro anos de intensa luta de guerrilhas, que as Forças Armadas estavam em condições de contrariar a insurgência na Guiné.


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Capítulo 2: Eles não conseguiram parar a nossa luta

“Os criminosos colonialistas utilizaram aviões a jato, helicópteros modernos, bombas de fragmentação, bombas napalm e de fósforo, [mas] não conseguiram travar a nossa luta. No entanto, conseguiram aumentar ainda mais o ódio do nosso povo ao domínio colonial português.” (Amílcar Cabral, 2 de janeiro de 1968)

O PAIGC, tal como o seu inimigo português, estava a viver um período de crescimento e reorganização. Em 1966, o movimento nacionalista evoluiu para uma insurgência generalizada que ameaçava de forma credível o controlo sobre grande parte do território, se bem que mantivesse a estrutura militar adotada no Congresso de Cassacá, 1964, estrutura que incorporava o Exército Popular, a Guerrilha Popular e a Milícia Popular. O seu conjunto compunha as FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo). Em novembro de 1966, houve restruturação do PAIGC e das FARP, estabeleceu-se um Conselho de Guerra no nível mais alto do partido, afastou-se a milícia da cadeia de comandos das FARP. Através do Conselho de Guerra, as FARP dirigiam o Exército Popular e a Guerrilha nos níveis de Frente, Região e Setor, enquanto as Milícias passaram a ficar subordinadas ao Bureau Político, através de uma hierarquia geográfica semelhante. O Bureau Político manteve a supervisão das FARP através de comissários que exerciam uma autoridade operacional através de um arranjo de vice-comando.

A componente militar regular do PAIGC, o Exército Popular, tinha um efetivo aproximado de 3000 combatentes a tempo cheio, operando dentro da Guiné Portuguesa ou ocupando santuários transfronteiriços para formação, recuperação ou reabastecimento. Eram forças organizadas em grupos de 22 a 24 pessoas, geralmente combinadas e empregadas como bigrupos, com o dobro desse tamanho. Quando reforçados por exigência de equipamento pesado ou atividade de pessoas especializado, os bigrupos podiam chegar a 66 combatentes. As unidades irregulares da Guerrilha Popular tinham um efetivo superior a 6000 combatentes adicionados ao quadro miltiar do PAIGC, tinham funções de mão de obra, com funções defensivas, mas disponíveis para reforçar as operações de grande dimensão. No total, as Forças Armadas Portuguesas na Guiné enfrentavam até 1000 oponentes armados, excluindo as milícias, que cada ano que passava estavam mais bem treinadas e equipadas.

No plano militar do PAIGC para 1966-67, o secretário-geral e líder-estratega, Amílcar Cabral, anunciou que estas forças iriam “intensificar, desenvolver e estender a luta por todo o país” para “forçar o inimigo a lutar em toda a parte.” Com o objetivo de espalhar a rebelião, o PAIGC estabeleceu três Inter-Regiões (Norte, Sul e Leste) divididas em 13 regiões e 32 zonas ou setores. Cada Inter-Região tinha, pelo menos, um bigrupo do Exército Popular e 250 guerrilheiros, com unidades adicionais atribuídas a nível regional ou de “Frente”. A cada setor foi atribuído artilharia (canhão sem recuo e morteiros), sapadores e/ou metralhadores antiaéreas de acordo com as condições táticas ou o planeamento operacional.

As intenções estratégicas de Cabral tornaram-se rapidamente evidentes para os comandantes portugueses. As principais áreas de preocupação para as forças militares portuguesas incluíam o Oio, zona do noroeste da Guiné, a região central de Xime-Xitole, o litoral sul e as três “áreas de base” centrais do PAIGC no Morés, Injassane e Cafal. Havia também a preocupação com a capacidade do PAIGC em infiltrar pessoal e material através de corredores, facilidade essa que permitiu aos rebeldes lançar operações de “grande intensificação da ação militar”, isto no final da primavera e do verão de 1966, procurando interromper linhas de comunicações e flagelando as forças portuguesas no Oeste e no Sul, particularmente. No Sul da Guiné, na Península de Quitafine, tinham aumentado as defesas antiaéreas, o que dificultavam os esforços da Zona Aérea para proteger os postos avançados sitiados, o que levou a que o chefe de Estado-Maior do exército expressasse a sua preocupação de que houvesse guarnições que corressem o risco de serem tomadas pelo PAIGC. O número médio mensal das atividades do PAIGC quase triplicou, chegando a 293 flagelações e outros atos hostis em maio de 1966.

O ritmo acelerado da insurgência refletiu-se num aumento de baixas – cresceram de 258 mortos e feridos em 1963 para 1226 em 1966.
Um T-6 Harvard francês usado na guerra da Argélia e, mais tarde, vendido a Portugal (EALA/ECPAD)
Um Alouette III com um canhão Matra MG151 instalado na porta lateral do Alouette III (Coleção Costa Neves)
Outra perspetiva do canhão (Coleção Serrano Rosa)
Os Alouette III em linha, na Base Aérea 12 (Coleção Alberto Cruz)
Os Fiat (os “Tigres”) estavam integrados na Esquadra 121 conjuntamente com os T-6 e os Do-27 (Coleção Alberto Cruz)
Organograma da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné (novembro de 1966)
Forças do Exército Popular em patrulhamento (Reg Lancaster/Express Hulton Archive/Getty Images)
Milícia popular em vigilância num posto avançado rebelde, perto de Cacine (UPI)
Amílcar Cabral, o carismático Secretário-Geral do PAIGC (Ben Martin/Getty Images)

(continua)

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Notas do editor

Poste anterior de 22 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24987: Notas de leitura (1651): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (4) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 25 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P25000: Notas de leitura (1652): Notas do diário de um franciscano no pós-Independência da Guiné-Bissau (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P25011: Efemérides (424): Há dois anos que partiu o nosso amigo e camarada Jorge Cabral (1944-2021) (Paulo Santiago, Águeda)


Foto nº 1


Foto nº2

Foto (e legenda): © Paulo Santiago  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Foi há dois anos, em 28 de dezembro de 20121, que deixou a Terra da Alegria o nosso camarada e amigo, Jorge Cabral. Tinha acabado de fazer 77 anos. O Paulo Santiago recordou esse dia triste na sua págiu do Facebook e publicoiu duas fotos com ele.


Postagem do Facebook do Paulo Abrantes Santiago | 28 de dezembro de 2021 | 21:39

JORGE ALMEIDA CABRAL...

O meu amigo/camarada Cabral morreu hoje após uns meses de sofrimento.

Sentia uma especial ligação ao Jorge, ligação que teria origem no facto de ambos termos comandado Pelotões de Caçadores Nativos, ele o 63 eu o 53.

Nos últimos anos,juntamente com outros camaradas, almocámos várias vezes em Lisboa e arredores.
Apareceu o cancro,os nossos contactos passaram a ser via telemóvek, o último na passada 5ª feira, e a voz já pressagiava o fim.

DESCANSA EM PAZ JORGE CABRAL.

Na 1ª foto o Cabral à direita, camisa branca com riscas

[ao seu lado eswuerrdo, o Armando Pires, em frente, o J. L. Vacas de Carvalho, o filho do ex-ten cor inf João Polidoro Monteiro, que comandou, entre outros, o BART 2917, Bambadinca, 1970/72;  e o Paulo Santiago] (LG)
 

Na 2ª foto o Cabral à esq, ao centro de camisola azul [ao seu lado direto, o Armando Pires e do lado esquerdo, o Paulo Santiago; em frente do Armando Pires, o Carlos Matos Gomes: ao lado deste, um camarada, que não identificamos] (LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - 25001: Efemérides (423): Foi há dois anos, em 28/12/2021, que o "alfero Cabnal" deixou o "palco da vida"... Foi ele quem disse, respondendo a uma pergunta do puto Sitafá, que o "Natal só existe quando mora no mais fundo de nós"...

Guiné 61/74 - P25010: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte IV: as mulheres que ficaram na retaguarda enquanto o CEP partia para França em 1917



Legenda:   "No cais de embarque: perguntando por um parente que também deve partir". ("Cliché" Benoliel)


Capa da "Ilustração Portuguesa",  II Série, nº 580, Lisboa, 2 de abril de 1917. Edição semanal do jornal "O Século", Ed. lit: José Joubert Chaves. Com a devida vénia à Hemroteca Digital de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa.(*)


1. A partida de 60 mil homens do CEP (Corpo Expedicionário Português) para França, ao longo dos 3 primeiros trimestres de 1917,  emocionou o país. 

A participação portuguesa no esforço de guerra contra a Alemanha (que também ameaçava as colónias portuguesas em África, nomeadamente Angola e Moçambique) foi uma jogada geoestratégica e diplomática da República: ao lado dos aliados (França e Inglaterra), que iriam derrotar a Alemanha, Portugal conseguiu manter o seu "império colonial" e a jovem república portuguesa marcou pontos na Europa (e no Mundo). Mas a guerra iria tornar-se extremamemte impopular e dar origem origem a uma grave crise econónima e turbulência política. Em 28 de maio de 1926 o gen Gomes da Costa (1863-1929) (um dos heróis do CEP na Flandres) vai ser o carrasco da República, ao comandar a força rebelde, que marcha de Braga para Lisboa, onde entra vitorioso e sem resistência. Dava-se início à Ditadura Militar e depois ao Estado Novo (1933-1974) .

Guiné 61/74 - P25009: S(C)em Comentários (24): Os últimos anos do Amadu Djaló (1940-2015) devem ter sido de uma grande amargura e de arrependimento (Cherno Baldé, Bissau)


Lisboa > 2009 > O Amadu Djaló
(1940-2015)
no Cais do Sodré. 

1. Comentário do Cherno Baldé (*),  nosso "correspondente em Bissau", colaborador permanente com o pelouro das questões etno-limguísticas:


 (...) O mais que triste depoimento do soldado  'comando' Amadu Bailo Djaló sobre as desrespeitosas palavras e indecentes propostas do tenente coronel do Batalhão de Gabu, apetece-me dizer que havia soldados guineenses que lutavam do lado do exército português que, por muitas e variadas razões, deveriam lutar d'outro lado e, talvez, muitos que se encontravam d'outro lado, deveriam lutar do lado português, pelo menos aqueles que conspiraram para matar o seu líder, Amílcar Cabral. 

Os últimos anos do Amadu Djaló devem ter sido de uma grande amargura e de arrependimento. Mas, a verdade seja dita, quem é que o não está de entre os antigos combatentes que levante os braços?! (...)

23 de dezembro de 2023 às 14:54 (**)
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P25008: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (23): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Janeiro e Fevereiro de 1971



"A MINHA IDA À GUERRA"

23 - HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: CAPÍTULO II - ACTIVIDADES NO TO DA GUINÉ

João Moreira



MÊSES DE JANEIRO E FEVEREIRO 1971

Foto/Postal de Natal para a família
Avioneta que danificou uma asa ao aterrar no Olossato.
Avioneta a ser metida dentro do Noratlas, em Fevereiro de 1971.
Avião Noratlas que foi ao Olossato buscar a avioneta.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24984: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (22): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Dezembro de 1970