Queridos amigos,
Favaios é moscatel e lembranças do passado, aqui pontificaram os marqueses de Távora até 1759, o Marquês de Pombal deu-lhes cabo da vida e dos proventos. Foi sede de concelho até à Regeneração, anexados depois a Alijó; o que mais apreciei, e não voltei a ver em nenhuma outra aldeia vinhateira com tal intensidade são os campos de vinha a intrometerem-se por todos os caminhos, dominam o casario, apanhámos a hora de ponta das viaturas bem carregadas a levarem a licorosa matéria-prima ao ponto de transformação, prédicas não faltaram a exaltar este dom concedido por Deus, à uva moscatel galega e ao tropel de operações até que o moscatel do Porto parta para o país estrangeiro.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (134):
Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (3)
Mário Beja Santos
Excursão é excursão, tem os seus próprios protocolos, perguntei à assistente se iriamos ver em Favaios a igreja matriz, é de influência neoclássica, tem relativa monumentalidade, mas com pouco interesse artístico, mas não havia tempo, o programa é a rota das aldeias vinhateiras, elas dão pelo nome de Barcos, Provesende, Trevões, Favaios, Salzedas, Ucanha, haverá ainda passeios no Douro, estamos no concelho de Alijó, aqui dá-se uma uva muito especial, a moscatel galega, a terra ganha fama por esta bebida um tanto licorosa e adocicada, que pode ser usada como aperitivo, o passeio tem a sua singeleza, estamos no Núcleo Museológico de Favaios, Pão e Vinho, aproveitou-se uma casa apalaçada, a museografia é bem interessante, fotografias expressivas e luminosas, outras que nos reportam a velhas fainas, velhos rótulos e apresentações, há mesmo a possibilidade de testar aromas, preparar o moscatel de Favaios tem preceitos rigorosos, iremos depois até ao processamento do pão, mas o que tocou mais, como, aliás irá acontecer no passeio até à cooperativa vitivinícola é o esplendor dos vinhedos, dominam a paisagem, estamos aqui a cerca de 500 metros do nível do mar, isto é mesmo Alto Douro.
Entrada do Núcleo Museológico
O que imediatamente atrai é o labor e o engenho, o engaste das vides, o belo contraste conseguido pelo fotógrafo entre o acinzentado da estacaria e a cor de cobre das videiras.Agora vêm as viaturas de caixa aberta, segue-se o teste da graduação alcoólica, o resto é mecanizado, viaturas em fila, um odor aromático por toda a parte; no passado eram carros de bois e aquele bruto trabalho braçal de ir inclinando a dorna para o lagar – tempos que já lá vão.
Foi assim a publicidade ao moscatel da região, as regras do mercado tudo alteram, mas deve haver aqui muito orgulho em recordar às gentes que moscatel do Porto é só o de Favaios
Uma imagem vale por mil palavras, há também o golpe de sorte na luminosidade, como é que esta maquineta num smartphone consegue apanhar o encadeado daqueles montes que até parecem pintados?
Favaios foi vila e sede do concelho desde 1211, com foral dado por D. Afonso II, sucessivamente confirmado por D. Afonso III e D. Dinis, reformulado por D. Manuel I em 1514. Foram senhores de Favaios até 1759, os Marqueses de Távora, em 1853 perdeu autonomia enquanto concelho, ficou anexa a Alijó. Este edifício camarário teve funções multiusos, além de Câmara, teve prisão, repartições, muito presumivelmente, atenda-se ao pau de bandeira, é sede de freguesia. A monarquia constitucional, e fundamentalmente no período da Regeneração, eliminou muitos concelhos, criando anexações, já vimos o que se passou em Barcos. Iremos ver depois em Trevões o mesmo.
Uma capela com brasão de armas, é que houve nobreza em Favaios, e não só os marqueses de Távora
Estamos a caminho da cooperativa, e deparam-se-nos esta antiga escola, edifício do tempo em que os sexos estavam demarcados, ficou por resolver a questão se ainda é posto de correio e se aqueles editais e regulamentos têm a ver com a junta de freguesia – outra obra do passado, a aguardar restauro.Aqui se confirma que Favaios tem uma íntima ligação, entre a matéria-prima que faz lustrar a sua economia e os lugares de morada, o diálogo é permanente.
Que o leitor fique sabendo que mal chegasse à cooperativa tivemos que nos recolher a um telheiro, caiu uma carga de água das antigas, até fumegava a calçada, a única consolação era ver desfilar sem tréguas as viaturas de caixa aberta que traziam néctar até à produção. Vieram as tréguas, os excursionistas entraram de roldão nas adegas, mas antes contaram com a benevolência de quem zelava pelos cachos de uvas, provámos uns bons bagos, e, regalados, apanhámos uma nova prédica sobre a uva moscatel galega e depois uma prova e depois quem quis comprou Favaios como recordação, estava na hora do regresso, a terra cheira intensamente depois desta grande chuvada, subitamente desponta o sol e de Favaios regressamos a Tabuaço. Aqui se notifica que amanhã de manhã vamos a outra aldeia, Trevões, outra grande surpresa.
(continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 16 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24963: Os nossos seres, saberes e lazeres (605): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (133): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (2) (Mário Beja Santos)
1 comentário:
Calhando, não faltará o tempo em que aconteça o mesmo que aconteceu nos Países Baixos.
Por razões comerciais interessava aos neerlandeses serem conhecidos por Holanda que é a província de Amesterdão. Só que as outras províncias não queriam ser tratadas como da Holanda se trata-se e resolveram acabar com o nome comercial "Holanda" do país, que passou a ser Nederland ou Países Baixos.
Por cá talvez a região do Douro comece a ficar farta de chamarem vinho do Porto, que não tem vinhas, ao vinho feito na região demarcada do Douro.
Mas, vai ser muito difícil haver esta alteração, por haver vinho do Douro que não é licoroso com o "Porto".
Valdemar Queiroz
Enviar um comentário