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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26491: As nossas geografias emocionais (45): Café Bento / 5ª Rep: excertos de postes e comentários - Parte II: Ainda conhecemos o senhor Bento (Victor Tavares / Lucinda Aranha)



Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > A então avenida da República: ao fundo o Palácio do Governador, em primeiro plano, do lado esquerdo, a Casa Gouveia e à direita, a esplanada do Café Bento, sob o arvoredo, com carros estaci0nados à frente; a seguir, a sede da administração civil e depois a catedral católica. Continuamos a não ter uma boa foto da esplanada do do Café Bento / 5ª Rep... Bolas, ninguém se pôs de costas para a Casa Gouveia para poder tirar uma foto do raio da esplanada em frente!...

 Foto (e legenda):  © António Graça de Abreu (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Seleção de comentários inseridos nas postagens de:

  •  5 fev 2025 14:52
  • 7 fev 2015, 11:04
  •  10 fev 2025 o8:28
  • 10 fev 2025  14:49

da página do Facebook da Tabanca Grande:

 
(i) António Pimentel:

Foi aqui 
[no Café Bento] que conheci o Marco Paulo (1º cabo Simão) apresentado pelo meu inesquecível amigo alf mil Castanheira.

(ii) Victor Tavares:

Pois,  camarada e amigo Luís, eu fui apenas 2 vezes ao café Bento, eu parava pouco em Bissau/Bissalanca mas conheci o sr. Bento dessas vezes.

Vim a revê-lo passados quase 50 anos, estava ele internado no Hospital da Universidade de Coimbra num quarto, onde eu fui parar depois de uma das 29 cirurgias que não dá para recordar a data mas talvez lá por volta de 201 mais ano menos ano...

Quem o visitava diariamente era uma empregada e mais raramente uma senhora que me disseram ser sua filha.

Sei que quando vim embora, ele ainda lá ficou, mas ele não estava muito bem, não, não mais soube nada dele, e ele não estava em condições de conversar, eu comunicava através da empregada e esta não estava muito á vontade nas comunicação .

(iii) José Viegas:

Uma história engraçada no Café Bento: a malta por norma ia lá engraxar os sapatos ou as botas aos vários engraxadores que lá havia. Em 1967 no Vietnam armadilharam caixas de graxa e, quando lá iam para engraxar, eles os engraxadores desviam-se e as caixas explodiam matando a tropa... E a malta com medo que lhes acontecesse o mesmo ninguém engraxava.

(iv) Amilcar Mendes:

Puseram, sim, um engenho explosivo, em fevereiro de 74, no Café Ronda. Estava lá. Morreu um 1º Cabo da 38ª CCmds e outro sold ficou ferido. Paravamos pouco (os Comandos) na 5a. REP , lá paravam os heróis do arame farpado (nem todos eram , claro).

Abaixo da 5ª Rep ( mais conhecida pela casa dos mentirosos...) existia vida. Pelicano, Zé da Amura, a casa da Ostras, onde se reunia muito militar

 (v) Lucinda Aranha:

Victor Tavares, eu não conheci o Café Bento,mas conheci o sr. Bento, já muito doente. Tinha partido a anca, ficou preso à cama,uma empregada muito simpática tomava conta dele e fez- me a visita guiada à vida dele pelas fotografias que enchiam os móveis da casa, em Coimbra. 

A filha apareceu, médica , e desconfio para me tirar as medidas não fosse alguma vigarista. Fui de propósto a casa dele para o entrevistar para o meu livro "O Homem do Coimbra". Estava muito lúcido, só me pedia para não me ir embora e chamar o meu marido para ficarmos à conversa.

(vi) Tabanca Grande:

Será que o velho Bento ainda é vivo ? O Vitor Tavares chegou a estar com ele no hospital, em Coimbra. E a filha do "Manel Djoquim", o homem do cinema ambulante do nosso tempo, também falou com ele, quando andava a escrever a biografia (ficcionada) do pai (Lucinda Aranha, "O homem do cinema: a la Manel Djoquim i na bim", Alcochete, Alfarroba, 2018, 165 pp.)

(vii) Lucinda Aranha

Tabanca Grande Luís Graça,  a mim a senhora que tomava conta dele disse- me que ele se deixou morrer, não queria comer porque estava acamado por ter partido a anca. Quando o entrevistei ele jâ não se levantava mas estava lúcido de cabeça.

(viii) A. Marques Lopes (1944-2024):

(...) De manhã, o Almeida Campos, um alferes que andava por lá, convidou-o para ir com ele ao Bento. Era onde se sabia de tudo, porque por lá passavam quase todos os que vinham ou ainda estavam no mato e contavam coisas, tudo, operações, ataques, mortos. Era o sítio das informações, por isso lhe chamavam a 5ª REP, que era a Repartição de Informações do QG. Todos ficavam a saber coisas, todos e também os miúdos e miúdas que entre eles andavam a vender camarão, caju e mancarra ou a engraxar as botas dos mais aprumados. Muita coisa o PAIGC devia saber também através deles.
Comeram uns camarões e beberam umas canecas. O Almeida Campos tinha sido apontador de obus lá para o sul e estava também à espera de embarque para ir embora.
– É pá, e se a gente fosse dar uma volta? (...)


(ix) Tabanca Grande:

É pena, camaradas, não haver mais pequenas "estórias" do Café Bento... Que a História, com H grande, essa não passou por lá... Pormenor interessante: devia haver  poucas senhoras, esposas dos nossos militares, que se "atravessem", nesse tempo, a sentar-se numa esplanada como esta... Ou havia ?


(x) César Dias:

Não estive muitas vezes na 5ª Rep, mas um dia assisti a um comerciante a querer comprar camarão a uma bajuda, mas queria pagar uma ninharia, fiquei tão impressionado com aquilo que comprei todo o camarão do balaio, ela até me deu o balaio. Com 300 pesos foi uma festa na messe de sargentos em Mansoa.

(xi) José Colaço:

Porque não há mais "estórias" do café Bento ?... Porque este era frequentado em grande parte por sargentos xicos e oficiais do quadro e se aparecesse por lá o Zé soldado aproveitavam logo para os chamar à atenção por qualquer coisa que não estava bem e ameaçar com uma "porrada". Eu próprio só me sentava na esplanada do café Bento quando tinha autorização para me fardar à civil.

(xii) Luis Filipe Nascimento

Fui abordado pela PM na 5ª REP por estar na esplanada com fardamento novo a brilhar depois de vir do mato, julgaram me pEriquito, mostrei lhe a insígnia da medalha e seguiram em marcha lenta.

(xiii) José Viegas

Outro sitio também era a D. Berta onde se comia a famosa bola de gelado com whisky.

(xiv)  Ernesto Pacheco Duarte

O café Bento ! 5ª. Repartição ! Pelo ano de 1966, andei por lá !

Tive o privilégio de vir... De vir inteiro ! E algumas pequenas coisas !

Naquele mundo tudo era pequeno... Ou muito grande ! Vim algumas vezes a Bissau !
E estive lá mesmo uns dias, tirando um curso de encarregado do correio da unidade !

Mas o café Bento para mim... Recordo dele a malta conhecida que lá consegui encontrar !
Para quem estava uns dias... Nesses dias aparecia sempre um fulano conhecido !

Havia muitos marinheiros da minha terra... Recordo como dias bons ! Depois voltei muitas vezes às compras... (...)

 (xv) Casimiro Fernandes:

No Café Bento bebi umas "cervejolas" mas também ouvi contar o muito que os nossos "camaradas" sofreram nos mais diversos setores. No passado dia 6 de fevereiro, recordei com muita saudade a famigerada travessia do rio Corubal, onde, por acidente, morreram cerca de 50 homens, 27 dos quais pertenciam a uma companhia do meu Batalhão. São estes e outros episódios semelhantes que devem fazer parte da História que a maioria dos "politiqueiros" de agora não conhecem (ou não querem conhecer) e muito menos gratificar.

(xvi) Liberal Farias Correia

Frequentei o café Bento em 1964 (tinha ficado com a ideia que era restaurante). Antes de irmos participar numa operação. Eu e o Rodrigues furriel de transmissões. Comiamos um bife com vinho dão

Abraço do Liberal Correia, furriel CART 67. Bissau em intervenção de maio a setembro 1964 depois Bajocunda Pirada Paunca, Maio 1964 a Abril 1966.


(xvii) Raul Castanha;


E verdade, o Bento era como uma central de informações onde tudo se sabia e tudo se comentava. Por lá passaram figuras incríveis como era o caso do pequeno Biafra, uma criança adorável na sua inocência e na deformidade que tinha, uma enorme escoliose, e que oferecia a mancarra numa malga de esmalte e se dispunha a encaixar os sapatos.

O que terá sido dele passados mais de 50 anos?

Também um outro, de caixa de encaixar mais velho e de olhos muito escuros e com uma pulseira de prata de bafatá, que diziam ser informador do PAIGC.

(xviii) Jorge Pedro:

Para além de ser um local em que possivelmente circulavam informações um pouco pela calada, quase silenciosamente, o Café Bento era onde os conterrâneos se encontravam. Sempre que passava pelo Bento, encontrava um conterrâneo. Ali púnhamos a “ escrita em dia” (...)

(xix) Amílcar Mendes:

75% do que o PAIGC apanhava no Bento, 5ª Rep, era contra- informação, as conversas que se ouviam na gritaria era treta...

(xx) Jose Carvalho


Creio que no QG/CCFAG (A,mura)  só existiam 4 Repartições. Dai terem dado o nome de 5ª Rep  ao Café Bento

(xxi) Tabanca Grande: 

Sim, há aqui um "lapso" do autor (da "Canbra Cega", o A. Marques Lopes)... Não havia a 5ª Rep, no QG/CCFAG, (Amura), a Rep das Informações... O QG/CTIG era em Santa Luzia...

(xxii) António Pimentel:

Deixou saudades, o Marques Lopes. Lembro-me de ele ter contado essa história.

(xxiii) Augusto Catroga;


Assisti ao rebentamento de um pneu na avenida, quando estava a beber um gin tónico no Bento. Numa mesa perto estava um paraquedista que,  segundos mais tarde,  estava debaixo dum camião estacionado perto. Tremia como varas verdes.

(xxiv) Acácio Correia:

Também tive conhecimento por essas bandas do buraco que me estava destinado (o Xime). Só uma correcção, a repartição de informações do QG era a 2ª  repartição ( 2 e 3 informações e operações).
 

Vd. postes anteriores;


5 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26461: As nossas geografias emocionais (40): A Casa Gouveia e o Café Bento num conhecido postal da época, da coleção do Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74)

 4 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26459: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (53): O antigo Café Bento já não é do meu tempo, e foi vítima do "bota-abaixo"...Foi remodelado e até 2023 estave lá instalada a delegação da RTP África

3 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26454: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (52): A antiga Cervejaria Solmar, na Av Domingos Ramos, perto do mercado novo e da Segurança Social

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26479: As nossas geografias emocionais (41): Café Bento / 5ª Rep: excertos de postes e comentários - Parte I: E tudo o vento levou.... [ Luís Graça / Jaime Machado / Patrício Ribeiro / Oliveira Miranda / Hélder Sousa / Virgínio Briote / Manuel Luís Lomba / Virgílio Ferreira / José Pardete Ferreira (1941 - 2021) ]



Guiné > Bissau > s/d (c. fev / abril de 1970) > Início da Av da República... O polícia sinaleiro que regulava o "trânsito" de Bissau, e, do lado direito , vê-se a bomba de gasolina que na época era da Shell (no letreiro falta-lhe uma letra, um "l"). Tapada pelo arvoredo, a esplanada do Café Bento. É a melhor foto que temos, até agora, no blogue sobre a localização da 5ª Rep.

Foto do belíssimo álbum do Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852)

Foto (e legenda): © Jaime Machado (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






Mapa de parte da Bissau Velha, entre a Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura. A escuro, dois prédios que pertenciam a Nha Bijagó. Com uma estrela a vermelho, a localização do edifício do antigo Café Bento, que foi demolido. Fonte: António Estácio, em "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il.).



1. Alguns excertos de postes e comentários sobre o Café Bento / 5ª Rep:

O Café tinha o nome do seu proprietário. Há camaradas (Victor Tavares) e amigos (Lucinda Aranha) que chegaram a conhecer o senhor Bento. Vivia para os lados de Coimbra e teria uma filha médica. Mas não sabemos quando deixou a Guiné, nem em que circunstàncias, muito provavelmente por altura da independência.

O edifício, de um só piso, com uma ampla esplanada coberta de árvores, no início da antiga Avenidade da República, foi demolido. Do seu lado direito, tinha o edifício, de arquitetura colonial, dos anos 50, que era a sede da administração civil (e, depois da independència, passou a ser tribunal e tesouraria das finanças).

Interessa-nos falar do tempo em que o Café Bento era uma referência para os militares que viviam em Bissau ou passavam por lá, incluindo os "desenfiados". A famosa 5ª Rep (designação bem humorada que era aceite, inclusive, pelo gen Spínola e seus colaboradores mais próximos, do QG/CCFAG).

O Patrício Ribeiro, empresário, que vive em Bissau desde 1984, diz que já não o comheceu a funcionar. Assistiu às obras para ser um novo restaurante, de arquitetura moderna, propriedade do conhecido empresário hoteleiro, Fernando Barata que tinha negócios na Guiné Bissau (Cacheu, Bijagós...) e que foi cônsul honorário da Guiné-Bisau em Albufeira, ao tempo do 'Nino' Vieira.

" Depois foi entregue a um antigo presidente, foi alugado à RTP África, até há pouco mais de um ano. De onde retirei parte dos equipamentos, para o novo edifício da Delegação da RTP no Chão de Papel." (*)

(i) O nosso editor, Luís Graça, escreveu:

No meu tempo (1969/71) o Café (e cervejaria) Bento , era provavelmente a mais famosa esplanada de Bissau, até pela sua localização, na zona portuária.(Tem já 19 referências no nosso blogue) ...

Também era conhecido com a 5ª Rep, o maior "mentidero" da cidade: era um dos nossos locais de convívio, dos gajos do mato, dos desenfiados e sobretudo dos heróis da guerra do ar condicionado. (**)

Rcorde-se que havia 4 grandes repartições militares em Bissau, no QG/CCFAG, na Amura, mas a 5ª Rep, o Café Bento, era a mais famosa, porque era lá que paravam todos os "tugas" que estavam em (ou iam a) Bissau, gozar as "delícias do sistema"; era lá que se fazia "contra-informação", de um lado e do outro; era lá que se contavam as bravatas, os boatos e as mentiras da guerra... (Sabe-se que o QG/CFAG utilizou o Café Bento para lançar a atoarda de que iria haver uma grande operação em Buruntuma em dezembro de 1972; o PAIGC seria depois surpreendido com a Op Grande Empresa, a invasão do Cantanhez).

O Café Bento ficava na esquina da Av da República (hoje Av Amílcar Cabral) (do lado esquerdo, de quem descia), com a Rua Tomás Ribeiro (hoje António Nbana) (localização assinalada a vermelho no croquis acima publicado), no início da única avenida de Bissau, digna desse nome (a que ia da marginal e cais do Pidjiguiti até à Praça do Império e Palácio do Governador).

Do outro lado dessa artéria, ficava a Casa Gouveia, que pertencia ao Grupo CUF.

No lugar do antigo edifício do Café Bento irá constuir-se um outro, de maior volumetria, e que passou a ser, mais tarda, a sede da delegação da RTP África (hoje, com novas instalações, inauguradas em 2021, na Rua Angola, 78, Chão de Papel, já fora portanto da "Bissau Vellha", a cidadezinha colonial, a do asfalto, que conhecemos e calcorreámos.

De qualquer modo, aceitemos a "bocarra": Quem nunca lá foi, ao Café Bento, não pode dizer que esteve na Guiné, ou pelo menos em Bissau (***)

Depois, tudo o vento (da História) levou...

A Casa Gouveia passou a Armazém do Povo e o Café Bento fechou por falta de cerveja, de "apanhados do clima" (que eram os clientes e bebedores de cerveja) e, claro, da matéria-prima (que era a guerra) com que se faziam combatentes, da frente e da retaguarda, heróis, cobardes, coirões, espiões, pides,"turras", bufos, etc. (Logo ali ao lado, era a Amura, a sede do QG/CCFAG, com os seus centenários poilões.)

A 5ª Rep era a "fábrica de boatos" da guerra... Também tinha como em Saigão, "djubis" que engraxavam as botas das tropa...Nunca lá puseram, felizmente, nenhum engenho explosivo...

No final da guerra, sim, haverá um atentado terrorista contra o Café Ronda (café e pensáo, uma espelunca), em 26 de fevereiro de 1974. E foi da responsabilidade do PAIGC, que quis mostrar, no 1º aniversário da morte de Amílcar Cabral, que podia atingir alvos urbanos e civis no coração da capital...

Felizmente que a incursão pela "guerrilha urbana" ficou por ali...mas foi o suficiente para causar algum alarme entre os militares e suas famílias, que viviam em Bissau... Provocou um princípio de debandada... (Resta saber se Amílcar Cabral, se fosse vivo, aprovaria este tipo de escalada da guerra, com recurso a atentados cegos, causando vítimas inocentes entre a população civil.)

O Cafe Ronda situava-se também na Av da República, um pouco mais abaixo do cinema UDIB e do lado contrário ao deste,

Quem disse que a Guiné foi o nosso Vietname ?... Era uma das bocas com que se "emprenhavam os ouvidos aos piriquitos" quando chegavam esbaforidos e sequiosos a Bissau...


(ii) Oliveira Miranda (**)

Parabéns ao editor deste comentário que me deixou emocionado, pois o café Bento era o local onde tomava a minha cerveja, chegado do hospital militar onde estava em consulta após ser ferido em combate.

Ainda revejo passados 55 anos as piruetas que os meninos faziam com a escova de de engraxar, embora ao lado via a miséria de leprosos a pedir uns pesos (moeda local).

Passado é passado, mas não esqueço a fome, peste e guerra que alguns de nós vivemos no mato. Saudações a todos os vivos e paz àqueles que já partiram.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025 às 14:45:00 WET" (....)


(iii) Hélder Sousa (***)

(...) Assim, de repente não me faz lembrar nada o "Café do Bento".

Isto porque, tanto quanto me lembro (eu frequentei alguma vezes esse café/esplanada mas não era muito assíduo, tinha a ideia que haviam por lá "muitos ouvidos") a esplanada não seria assim tão comprida mas muito mais larga. As árvores seriam de maior porte (...)

Além disso, o espaço da esplanada, entre a estrada e a edificação do "Café" era muito maior do que se vê. (...)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025 às 14:36:00 WET


(iv) Virgínio Briote (***)

Eu tive quarto em Brá, entre maio65 e 10kan67, e quando estava em Brá, ia quase todos os dias a Bissau e era frequente passar pelo Café Bento. Quando lá estava, o Solar dos 10 era mais conhecido pelo Restaurante Fonseca, onde se comia frango assado, ostras e vinhos verdes e maduros.

Entre 65/66 e a altura em que estas fotos foram tiradas não tenho dúvidas que as feições da cidade iam mudando.

A foto em questão (do Jorge Pinto, de agosto de 1974) leva-me mais para o Império (na rotunda do Palácio) e não coincide com a imagem que tenho do café Bento, cá mais para baixo, à esquerda de quem descia a Avenida.

Ainda se descia um pouco até uma pequena rotunda onde estava um polícia sinaleiro a regular o trânsito. E a seguir era a marginal e o cais do Pidjiguiti. Não posso garantir a pés juntos mas é o que retenho na memória.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025 às 19:53:00 WET


(v) Manuel Luís Lomba (***)

O nosso Batalhão de Cavalaria esteve uma ano de intervenção no no Forte da Amura , juntamente com a Companhia de Polícia Militar, a que pertencia o então alferes Mário Tomé.

A esplanada com guarda-sóis e o seu edifício não são o Café Bento: o seu edifício era apenas de um piso, muito envidraçado, as mesas e cadeiras eram pintados de verde, as suas árvores eram mais corpulentas, troco e copas.

Voltei à Guiné nos princípios da década de oitenta e a esplanada eram bombas de gasolina da Galp.

A Cervejaria Somar não existia. A restauração mais importante eram o Asdrúbal, dos frangos, e o Restaurante Tropical, do bife, ostras e verde branco de Amarante, da marca Vinhos Borges.

Lembro-me de ter na mesa ao lado o tenente-coronel Fernando Cavaleiro e outros oficiais. Dizia-se que quando descia de Farim a Bissau, a malta do ar condicionado do QG entrava em polvorosa: "Vem aí a guerra!"

Também lembro de o alferes Mário Tomé, em patrulhamento, ter expulsado da esplanada do Café Bento um primeiro-sargento que se refastelara numa cadeira, os seus calções eram largos, e os seus "pendentes", por acaso bem pretos, saíam-lhe por uma perneira.


sexta-feira, 31 de janeiro de 2025 às 19:55:00 WET


(vi) Virgílio Teixeira (**)

(...) Conheci muitíssimo bem o Bento. Mas até julho 69.

Depois disso nada sei. (...) Alguns estabelecimentos aqui referidos já não são do meu tempo.

Só em 1984 e 1985, voltei lá e já não conheci nada. Pois nada existia.

Tempos do caranho. Nunca mais vi um tasco aberto e o Grande Hotel estava em ruínas
Ficámos numa pensão perto da estátua do Honório, na rua Mondlane, de alguém que era amigo da dona de uma pensão aqui em Vila do Conde. (Esta pensão chama-se Manco da Areia.)

Tudo mudou muito depois do meu regresso em 1969 e depois em 1985.

sábado, 1 de fevereiro de 2025 às 01:44:00 WET

(vii) José Pardete Ferreira (1941-2021) (****)

Este livro, "O paparratos : novas crónicas da Guiné : 1969-1971", publicada sob a chancela editorial da Prefácio, surge numa coleção , "História Militar" (...) que se reclama de um "conceito inovador": pretende conciliar a investigação historiográfica com a produção literária e memorialística, como é o caso deste livro do nosso saudoso camarada José Pardete Ferreira (1941-2021), que foi alf médico, no CAOP1, Teixeira Pinto (1969) e no HM 241 (1969/71).

O alferes miliciano médico João Pekoff (heterónimo criado pelo José Pardete Ferreira, ou se não mesmo o seu "alter ego") chega a Teixeira Pinto, ao CAOP, em meados de fevereiro de 1969 (pág. 30). Em Bissau, onde o seu batalhão de origem (que apostamos ter sido o BCAÇ 2861) desembarcou em 11/2/1969, deve ter estado alguns escassos dias, em trânsito, antes de apanhar uma DO-27 que o levou até à capital do chão manjaco , de qualquer modo o tempo suficiente para começar a conhecer alguns dos pontos obrigatórios do roteiro dos cafés e restaurantes da tropa...

Alguns eram obrigatórios como o café Bento, mais conhecido por 5ª Rep, junto à fortaleza da Amura onde estava instalado o QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], com as suas 4 Rep[artições].

Era o grande "mentidero" de Bissau, onde os "apanhados do clima", vindos do mato, "desenfiados" ou em trânsito, partilhavam notícias e histórias com a malta do "ar condicionado"...

Chegados a Bissau, os "periquitos" apanhavam logo ali os "primeiros cagaços", histórias tenebrosas de Madina do Boé, de Gandembel, de Guileje, etc., aquartelamentos no mato, felizmente, longe, muito longe de Bissau e do seu "bem-bom"...

Pardete Ferreira, de cultura francófona, descreve assim a 5ª Rep, com inegável bom humor, para não dizer sarcasmo, comparanda-a com a situação de um aquartelamento do mato, Tite, na região de Quínara, perto de Bissau em linha recta, pelo que, quando era atacado ou flagelado, toda a gente ficava a saber e até a ver (pp. 54/55):

"(...) Toda a Guiné Portuguesa tinha esta classificação de zona cem por cento de risco. Naquele território, era indiferente passar calmamente uma soirée [sic] na 5ª Rep ou no aquartelamento de Tite.

"Na 5a. Rep, a arma era um copo de uma beberagem qualquer, que ia aquecendo na mão e que ia sendo municiada periodicamente. O único risco era constituído pelos perdigotos, por vezes sólidos estilhaços de mancarra, que o companheiro de conversa lançava, aproveitando o estar longe do interface do corpo a corpo.

"Em Tite, que se situa mesmo em frente da 5ª Rep, do outro lado do Geba [, na margem esquerda], apenas a alguns quilómetros à vol d'oiseau [sic], a arma que se tinha na mão era das verdadeiras, daquelas que matam.

"Aquela cómoda sala do QG [Quartel General], no teatro operacional, dava lugar a um abrigo onde o combate mordia. No QG, pelo barulho podia adivinhar-se que Tite estava seguramente a embrulhar, podendo ver-se as cores das balas tracejantes e ter uma ideia da intensidade do assalto,pela quantidade e duração do fogo de artifício.

"Na 5ª Rep, assistindo-se ao espetáculo, beberricando um whisky ou despejando rapidamente uma mulher grande [ basuca ?], quase sem tempo para descascar a mancarra acompanhante, estava-se exactamente dentro dos limites do mesmo Teatro Operacional da Guerra. Todo o pedaço daquela terra era território de guerra. O risco tinha uma graduação muito relativa, embora fosse sempre uma probabilidade.

"Não se fizeram operações de black out [sic] como treino para a remotíssima hipótese de um ataque dos MiGs da Guiné-Conacry ? Houve quem dissesse que afirmar isto era um verdadeiro disparate, na medida em que os MiGs de Conacry eram de um modelo tão antigo que. se atacassem Bissau, teriam que pedir o favor de ser reabastecidos em combustível no aeroporto de Bissalanca, a fim de poderem regressar à sua base de partida" (...).



Estes excertos vão inseridos na série "As nossas georgrafias emocionais" (**).

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos e itálicos: LG)

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26459: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (53): O antigo Café Bento já não é do meu tempo, e foi vítima do "bota-abaixo"...Foi remodelado e até 2023 estave lá instalada a delegação da RTP África

(**) Vd, poste de 5 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26461: As nossas geografias emocionais (40): A Casa Gouveia e o Café Bento num conhecido postal da época, da coleção do Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74)

(***) Vd. poste de 31 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26443: Fotos à procura de... uma legenda (192): Bissau, agosto de 1974: qual a mais famosa esplanada da cidade ? Café Bento ou cervejaria Solmar ? E esta foto é da 5ª Rep ou da Solmar ?

(****) Vd. poste de 23 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21939: Notas de leitura (1343): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte II: os "mentideros' de Bissau (Biafra, 5ª Rep) e ainda e sempre a retirada de Madina do Boé (Luís Graça)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26444: Humor de caserna (99): Evacuado com um "tiro no cu"... (Valdemar Queiroz, que hoje está acamado, em casa, sozinho, a lutar contra o raio da sua DPOC de estimação...)



Guiné >  Região de Gabu > Nova Lamego > 15 de junho de 1970 >
Foto (modificada) do "artista quando jovem", tirada no quartel velho de  "com o 'ferido', convalescente, amarelinho e magricelas" (na  "estância de repouso do Gabu"),,,

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É uma pequena  história, que merece ser compilada na série "Humor de caserna"... O contista é o Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70] que, no HM 241, onde esteve internadom passava por um herói da 4ª Rep que tinha apanhado com uma "bala no cu" e sobrevivido... 

Infelizmente, por estes dias de sol de inverno, está em casa, trancado, só e  acamado, a lutar contra o raio da sua DPOC de estimação... Um abraço solidário para ele, que ainda consegue sorrir com meia-cara... e pedir desculpa por não poder "blogar" como ele  queria...



Humor de caserna >   Evacuado com ‘um tiro no cu’ 

por Valdemar Queiroz


Desde criança que sofro com problemas de frúnculos [ou furúnculos, frunchos, fruncos...]. 

Começaram por aparecer em sítios complicados: na dobra das pernas, nas axilas dos braços e na barriga. Os mais complicados, por terem sido dolorosos, foram os na dobra das pernas, que me dificultavam o andar e terem aparecido na idade 8-9 anos. Não me recordo como estes foram tratados, mas tenho grandes cicatrizes por detrás dos joelhos que sinalizam o sofrimento.

Com o tempo, houve um período sem grande ‘erupção cutâneo’, aparecendo apenas o vulgar pelo encravado da barba no pescoço, mas, no meu caso, sempre com necessidade de uma intervenção muito para além da pinça-saca-pelos: cheguei a sacar pelos encravados com mais de três centímetros.

Na Guiné, também, apareceu um frúnculo, e que frúnculo. Apareceu numa nádega, localizado na parte interior perto do recto. Tentei rebentá-lo espremendo, mas ou por isso ou por outra razão criou uma grande inflamação. Não foi possível tratá-lo com pomadas ou injeções contra inflamações e o oficial médico de Nova Lamego foi de opinião da evacuação para intervenção cirúrgica em Bissau. 

O fur mil enf Edmond,   da minha CART 11,  tratou de toda a papelada e lá fui evacuado em DO 27 para o Hospital Militar de Bissau [HM 241], com um grande hematoma e 40 graus de febre.

Não me lembro de mais pormenores, só me lembro de, depois da intervenção cirúrgica, acordar na Enfermaria Geral,  rodeado de vários doentes carentes de saber o meu nome, em que sítio foi o ataque e como tinha sido ferido. 

Depois, apareceu um Sargento Enfermeiro a perguntar quem era o Queiroz. "É este aqui que foi evacuado com um tiro no cu", disseram uns que já tinham ‘arranjado’ uma história, daquelas idealizadas à ‘5ª. Rep’[o Café Bento].

Tive que mudar para o piso superior do Hospital, para uma das Enfermarias de Oficiais e Sargentos  ficando num quarto com mais quatro doentes, que eram todos Oficiais, um deles tinha a cara toda ferida de estilhaços e outro muito magricelas e já tinham recebido a habitual visita do Spínola.

Uma semana depois, lá regressei a Nova Lamego, com o ‘assunto’ tratado, mas com o aviso do médico cirurgião de que, mais mês menos mês, voltaria a infetar/rebentar outra vez.

E assim aconteceu, o ‘tiro no cu’ deu-me grandes chatices depois de sair da tropa, com infeções, hematomas, rebentamentos, melhoras/pioras durante mais de dois anos, só ficando totalmente curado em maio de 1973 com uma operação na Clínica St. António, na Amadora.

Ainda agora, quando calha em conversa sobre mortos e feridos na guerra na Guiné, eu comento que, pessoalmente, a não ser ter sido evacuado com um problema dum frúnculo numa nádega, não tive problemas, há sempre alguém que diz: "pois, tá bem, desculpas de quem foi evacuado com um tiro no cu".

Anexo uma foto tirada no nosso Quartel, em Nova Lamego, com o 'ferido', convalescente, amarelinho e magricelas, que, não fora ser vista a vala e os abrigos dos cunhetes de munições, parecia uma estância de férias.

Valdemar Queiroz
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26403: Humor de caserna (98): Quando o IN... jabadava!... Até que o goês e pacato alferes Basílio dos morteiros quis saber porquê... (Rui A. Ferreira, Sá da Bandeira, 1943 - Viseu, 2022)

Guiné 61/74 - P26443: Fotos à procura de... uma legenda (192): Bissau, agosto de 1974: qual a mais famosa esplanada da cidade ? Café Bento ou cervejaria Solmar ? E esta foto é da 5ª Rep ou da Solmar ?





Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > Uma das famosas esplanadas de Bissau, a um mês dos "tugas irem definitivamente para casa"... O fotógrafo nãpo identifica o local, diz apenas: "A foto foi tirada em Bissau, um ou dois dias antes do nosso regresso, por volta de 23 de agosto de 1974. Quem não conhece esta esplanada?!!!"... O autor foi alf mil  art, 3ª C/BART 6520 / 72 (Fulacunda, 1972/74). Os dois militares que aparecem de costas, seriam do pelotáo do Jorge. (O Fernando Carolino tem uma foto igual, se calhar oferecida pelo Jorge; ele regressaria mais tarde à metrópole, já em setembro, por ser de rendição individual) (*)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


1. Qual a mais famosa esplanada de Bissau ?  O Café (e cervejaria) Bento, dirão muitos (tem 11 referências no nosso blogue) ... Também era conhecido com a 5ª Rep, o maior "mentidero" da cidade: era um dos nossos locais de convívio, dos gajos do mato, dos desenfiados e sobretudo dos heróis da guerra do ar condicionado; recorde-se que havia 4 grandes repartições militares em Bissau, no QG, na Amura,  mas a 5ª Rep,  o Café Bento, era a mais famosa, porque era lá que paravam todos os "tugas" que estavam em (ou iam a) Bissau, gozar as "delícias do sistema";  era lá que se fazia "contra-informação", de um lado e do outro; era lá que se contavam as bravatas, os boatos e as mentiras da guerra...

O Café Bento ficava na esquina da Av da República  (hoje Av Amílcar Cabral) (do lado esquerdo, de quem descia), com a  Rua Tomás Ribeiro (hoje António Nbana) (nº 1 a vermelho no croquis a seguir), já perto do final da única avenida de Bissau, digna desse nome... 

Do outro lado dessa artéria, um pouco mais à frente, no sentido descendente, ficava a Casa Gouveia, a maior "superfície comercial da cidade"...

O edifício do Café Bento, ao   que parece, passou a ser, mais tarda, a sede da delegação da RTP África (hoje, com novas instalações, inauguradas em 2021, na Rua  Angola,  78, Chão de Papel, já fora portanto da "BissauVellha"; foi aqui que nasceu o saudoso António Estácio).

Em 1970, eu, o Humberto Reis e outros diriam que a melhor esplanada era o Pelicano (acabada de inaugurar,  ficava na Marginal, hoje Av 3 de Agosto). 

Mas o que importa agora á a foto que publicamos acima: Café Bento  ou Cervejaria Solmar (que infelizmente não vem no croqui do António Estácio). Vai uma aposta ?


  • O Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), que conheceu bem Bissau, antes e depois da independência, diz que a foto é o Café Bento, a famosa 5ª Rep,. do seu tempo (1967/69), do meu tempo (1969/71)... 


  • O Jorge Pinto (que tirou esta foto na véspera do regresso a casa, ams que conhecia mal Bissau, sempre enfiado em Fulacunda) diz também que não era o Café Bento, não se lembra bem do nome mas acha que podia ser a Solmar... Sabe que era perto da marginal do rio, da Casa Pintosinho...


Mas há mais camaradas nossos que conheceram bem (pou relativamente) Bissau, por lá terem estado colocados... e fazerem referências ao quer ao Café Bento / 5ª Rewp ou ao Café Restaurante Solmar... Por exemplo;

  • ou o nosso camarada da FAP, Mário Serra de Oliveira (que teve o  seu próprio restaurante em Bissau) [ex-1.º cabo escriturário, nº 262/66, BA 12, Bissalanca, 1967/68; esteve destacado na messe de oficiais em Bissau, entre maio de 1967 e dezembro de 1968; depois, já como civil, entre janeiro de 1968 e agosto de 1981, como empregado e como empresário passou por diversos estebelcimentos: Café Restaurante Solmar, Grande Hotel, Pelicano, Ninho de Santa Luzia (uma casa sua, que abriu em 14/11/1972), Tabanca, Casa Santos, Abel Moreira, José D’Amura e Oásis; trabalharia ainda na embaixada dos EUA; é autor, entre outros, do livro "Palavras de um Defunto... Antes de o Ser"(Lisboa: Chiado Editora, 2012, 542 pp, preço de capa 16€]
  • o Abílio Duarte, amigo e camarada do Valdemar Queiroz, ambos da CART (temos uma foto dele no café Bento);
  • sem esquecer o nosso também querido amigo guineense,  o Nelson Herbert...




Infografia: António Estácio (1947-2022)  / Blogue Luís Graça / Camaradas da Guiné (2025)


Infelizmente o croqui que encontrámos num livrinho do António Estácio (1947-2022) (nascido em "chão de Papel"...), só inclui a parte oriental da Bissau Velha, entre o lado esqerdo, de quem desce, da Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura (8) (antiga Rua Capitão Barata Feio, hoje Rua 24 de Setembro).

Aguardamos, por parte dos nossos leitores. uma ajudinha para legendar a bela foto do Jorge Pinto, que desdobrámos em quatro para uma leitura mais atenta e detalhada.




Planta de Bissau (edição, Paris, 1981) (Escala: 1/20 mil)



Guiné-Bissau > Bissau > 1996 > Duas décadas depois da independência... Rua onde ficava a célebre cervejaria Solmar, aqui evocada pelo Hélder Sousa, acabado de chegar a Bissau, em 9 de novembro de 1970: "Após o jantar, uma voltinha para desmoer e reconhecer os vários locais de interesse, a Solmar, o Solar do 10, a Ronda, o inevitável Café do Bento (5ª Rep.), a casa das ostras na rua paralela à marginal, o Pelicano"...

Foto (e legenda) © Humberto Reis (2005). Todos os sireitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

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(***) Vd. 9 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18908: Estórias de Bissau (20): A cidade onde vivi 25 meses, em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)... [Afinal o "Chez Toi" era a antiga casa de fados "Nazareno"...

(****) Último poste da série > 11 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26255: Fotos à procura de... uma legenda (191): a 4ª e última foto por identificar não pode ser o reordenamento e a pista da "minha" Gadamael, em finais de 1971 (Morais da Silva, cor art ref)

sábado, 27 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19721: Estórias avulsas (95): Evacuado com 'um tiro no cu'... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)



Guiné >  Região de Gabu > Nova Lamego > 15 de junho de 1970 > Foto tirada no nosso Quartel, com o 'ferido', convalescente, amarelinho e magricelas, que, não fora ser vista a vala e os abrigos dos cunhetes de munições, parecia uma estância de férias.

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mais uma pequena  história, bem humorada,  do Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70], que nos chegou ontem com a lacónica mensagem: "Já há tempos tive para contar este 'ferimento em combate', lembrei-me agora."




Estórias avulsas > Evacuado com ‘um tiro no cu’ 

por Valdemar Queiroz


Desde criança que sofro com problemas de frúnculos [ou furúnculos, frunchos, fruncos...]. 

Começaram por aparecer em sítios complicados: na dobra das pernas, nas axilas dos braços e na barriga. Os mais complicados, por terem sido dolorosos, foram os na dobra das pernas, que me dificultavam o andar e terem aparecido na idade 8-9 anos. Não me recordo como estes foram tratados, mas tenho grandes cicatrizes por detrás dos joelhos que sinalizam o sofrimento.

Com o tempo, houve um período sem grande ‘erupção cutâneo’, aparecendo apenas o vulgar pelo encravado da barba no pescoço, mas, no meu caso, sempre com necessidade de uma intervenção muito para além da pinça-saca-pelos: cheguei a sacar pelos encravados com mais de três cms.

Na Guiné, também, apareceu um frúnculo, e que frúnculo. Apareceu numa nádega, localizado na parte interior perto do recto. Tentei rebentá-lo espremendo, mas ou por isso ou por outra razão criou uma grande inflamação. Não foi possível tratá-lo com pomadas ou injeções contra inflamações e o oficial médico de Nova Lamego foi de opinião da evacuação para intervenção cirúrgica em Bissau. 

O fur mil enf Edmond,   da minha CART 11,  tratou de toda a papelada e lá fui evacuado em DO 27 para o Hospital Militar de Bissau [HM 241], com um grande hematoma e 40 graus de febre.

Não me lembro de mais pormenores, só me lembro de, depois da intervenção cirúrgica, acordar na Enfermaria Geral,  rodeado de vários doentes carentes de saber o meu nome, em que sítio foi o ataque e como tinha sido ferido. 

Depois, apareceu um Sargento Enfermeiro a perguntar quem era o Queiroz. "É este aqui que foi evacuado com um tiro no cu", disseram uns que já tinham ‘arranjado’ uma história, daquelas idealizadas à ‘5ª. Rep’[o Café Bento].

Tive que mudar para o piso superior do Hospital, para uma das Enfermarias de Oficiais e Sargentos  ficando num quarto com mais quatro doentes, que eram todos Oficiais, um deles tinha a cara toda ferida de estilhaços e outro muito magricelas e já tinham recebido a habitual visita do Spínola.

Uma semana depois, lá regressei a Nova Lamego, com o ‘assunto’ tratado, mas com o aviso do médico cirurgião de que, mais mês menos mês, voltaria a infetar/rebentar outra vez.

E assim aconteceu, o ‘tiro no cu’ deu-me grandes chatices depois de sair da tropa, com infeções, hematomas, rebentamentos, melhoras/pioras durante mais de dois anos, só ficando totalmente curado em maio de 1973 com uma operação na Clínica St. António, na Amadora.

Ainda agora, quando calha em conversa sobre mortos e feridos na guerra na Guiné, eu comento que, pessoalmente, a não ser ter sido evacuado com um problema dum frúnculo numa nádega, não tive problemas, há sempre alguém que diz: pois, tá bem, desculpas de quem foi evacuado com um tiro no cu.

Anexo uma foto tirada no nosso Quartel, em Nova Lamego, com o 'ferido', convalescente, amarelinho e magricelas, que, não fora ser vista a vala e os abrigos dos cunhetes de munições, parecia uma estância de férias.

Valdemar Queiroz
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