terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26435: Memórias de um "Serrote" (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, "Os Serrotes", 1972/74) (1) Periquito, de rendição individual, e confuso logo à chegada a Bissau, em relação à pragmática da tropa...




Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > Sem legenda: "Confeitaria", café-esplanada... Av da República  (hoje Av Amílcar Cabral)  (?)... O Jorge Pinto tem uma foto igual, tirada uns dois ou três dias da regresso da 3ª C/BART 6520/72.  


Foto: © Fernando Carolino (2025). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Fernando Carolino  já aqui publicou,  há uns largos anos (*), um poste com fotos do seu álbum, relativas a Fulacunda, onde fez a sua comissão de serviço, como alf mil, de rendição individual, na 
3.ª CART/BART 6520/72, "Os Serrotes" (Fulacunda, 1972/74)

Afinal,ele é contemporâneo (e conterrâneo!) do nosso Jorge Pinto, também ele alf mil, desta subunidade, e membro da nossa Tabanca Grande.

Fernando Carolino,
setembro de 1973
O Fernando Carolino, que é natural de Alcobaça, mas vive em Valado de Frades, Nazaré, mandou-nos, através do seu cunhado, o Juvenal Amado, um primeiro texto e fotos da Guiné. 

Estou a aguardar o seu OK em relação à sugestão que lhe fiz para criar uma série com o seu nome, e à sua aceitação do nosso convite (que já vem de 2016) para integrar a Tabanca Grande.

Para já vamos publicar um primeiro texto, nesta série, com título provisório, "Memórias de um Serrote". Também já lhe sugerimos outros títulos: 

(i) "Em rendição individual, colocado no fim do mundo (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)";

(ii) "Des(a)venturas de um alferes miliciano (Fernando Carolino, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)";

(iii) "Memórias de Fulacunda (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)".

 Recorde-se que a 3ª C/BART 6520/72 publicava um jornal de caserna, mensal, "O Serrote", de que era diretor o Jorge Pinto. 


Periquito, de rendição individual, e confuso logo à chegada a Bissau,
 em relação à pragmática da tropa...

por Fernando Carolino



Primeiro episódio de uma passagem pela Guiné

Pleno inverno, talvez novembro, muito frio em Lisboa, quando embarquei em avião da TAP rumo à Guiné.

Ia em rendição individual, preencher o lugar deixado “vago” por outro alferes miliciano no aquartelamento de Fulacunda, que seria para mim na altura um qualquer fim de mundo.

Chegado o aparelho voador ao aeroporto de Bissau, porta aberta e vamos sair. O impacto do ar exterior deixou-me quase em choque: o corpo ficou de imediato molhado com a roupa a colar-se ao corpo, numa sensação de enorme desconforto.

Refleti: será que vou aguentar isto…. ?

Lá fui andando de indumentária número dois (ou um) com sapato fino, boné de pala e galões de alferes a condizer.

Levava comigo uma guia de marcha que mencionava QG e Fulacunda,  se bem me lembro, mas que eu não sabia bem o que eram ou onde as encontrar.

Fui seguindo de mala de viagem na mão, não sabendo bem para onde, esperando encontrar talvez um militar que me pudesse dar uma ajuda.

Não era difícil afinal encontrar militares. Havia muitos pela rua para onde quer que olhasse. Mas, comecei a sentir-me deslocado: é que todos que vi estavam vestidos de camuflado e eu com fatinho “chique”. 

Senti-me terrivelmente mal, a ponto de decidir imediatamente alterar a situação. Lá consegui encontrar uma espécie de “café”, entrei, devo ter pedido qualquer coisa para beber (não me lembro), e procurei uma casa de banho para mudar de farda. Abstenho-me de descrever a qualidade ou o estado do local.

Mudei-me e voltei para a rua muito mais confiante. Estava como todos os outros: fato de
trabalho…quer dizer de combate.

Percorridos uns poucos metros parou junto de mim uma viatura da PM. Mostraram intenção de falar comigo e parei. Pediram-me a identificação e mostrei-lhes tudo o que tinha, nomeadamente a guia de marcha. Logo verificaram que se tratava de um oficial, fizeram a respectiva continência e… de forma muito correcta informaram: 

− O meu alferes desculpe mas está em trânsito, não está de serviço, e não pode por isso estar de camuflado.

Não queria acreditar! 

− Acabei de mudar-me agora mesmo − expliquei. 

− Pois, mas não pode. Se quer ir para o QG é melhor vir connosco na viatura.

−  Pois então calha bem. Não terei que ir a pé para um sítio que não sei onde fica.

E lá fomos. Chegados ao local, apresentações num gabinete, explicação da situação e, em pouco tempo tudo se resolveu. O superior hierárquico ali presente decidiu: 

− Como o senhor é novo aqui, fica de oficial de dia e, estando de serviço,  já a farda fica a condizer.

E assim já não tive que voltar a mudar de indumentária.

Foi um primeiro episódio de uma longa estadia por terras da Guiné.

Gostaria que todos os episódios que se seguiram fossem tão pacíficos.

(Revisão / fixação de texto: LG)

__________________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 17 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15761: Memória dos lugares (334): Fulacunda (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Alcobaça, a viver em Valado dos Frades, Nazaré)

10 comentários:

Anónimo disse...

Oh companheiro. Li isto e parece que estou a reviver essa cenas do Desembarque e logo fiquei todo molhado. Fui ao QG apresentar me e com o gabinete do comando numa temperatura abaixo de 100 graus negativos!
Fico congelado e os dentes a tiritar. Talvez por isso ainda arranquei uns 3 a 4 dentes que me fazem muita falta agora!
O meu episódio foi no dia 21set1967.
Tinha chegado com o comando do batalhão para render outro em Nova Lamego
Para render outro
Vamos continuando a ver e comentar.
Abraço amigo
Virgílio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fernando: Sê bem vindo ou regressado... Já se passou "manga de tempo", com uma pandemia pelo meio... Conto contigo para engrossar o clã dos "Serrotes"; já cá temos o Jorge Pinto e o José Claudino da Silva, dois da tua companhia, de que me lembro, assim de repente.

O 1º episódio está uma... "delícia"!.. Bom sentido de humor, que é coisa que bem precisamos...

Já te perguntei como vamos chamar à série ?...Preciso de garantir pelo menos meia dúzia postes, se for o dobro ainda melhor... Para já fica assim, "Memórias de um 'Serrote'..." (és capaz de não gostar).

Um pormenor do teu CV militar: deves ter chegado a Bissau, em novembro de 1972... Vieste pela TAP... ou pelos TAM (Transportes Aéreos Militares) ? ... Já a companhia estava em Fulacunda...depois de ter perdido, logo em Bolama, o alferes Figueiredo, morto em acidente com arma de fogo, e que tu vieste render.

Recordo aqui a apresentação do Jorge Pinto à Tabanca Grande, em 17/4/2012 (Poste P9760):

(...) "Depois de ter passado por EPI (Mafra), EPA (Vendas Novas), EPA (Tancos) e RAL 5 (Penafiel) voei para a Guiné a 23 de Junho de 1972 integrado na 3.ª CART do BART 6520/72, sediado em Tite.

(...) "Chegados à Guiné, o Batalhão seguiu para Bolama onde passámos um curto período de adaptação e onde tive a infelicidade de assistir às mortes do colega amigo Alferes Figueiredo em consequência do rebentamento “acidental” de uma granada-dilagrama quando se procedia ao seu disparo.

"Após este período cada Companhia seguiu para o TO que lhe estava destinado. A sede do Batalhão em Tite, a 1.ª CART em Jabadá, 2.ª CART em Nova Sintra e a 3.ª CART em Fulacunda, onde fomos render os 'Capicuas' (1970/72). Mais tarde (1973), a minha companhia (3.ª CART) passou a pertencer ao comando do COP 7.

"Embarquei numa LDM e lá fui pelos braços de mar em período de maré cheia até próximo de Fulacunda. Daí segui numa GMC (cerca de 2 Km), até ao quartel onde acabei por permanecer durante 26 meses. (...)" (
)

Um abraço de boas vindas, Fernando. Também sou da Estremadura. Temos que nos conhecer pessoalmente. Luís Graça.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Quem conheceu aquele café -esplanada nos anos 70 ?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fernando, afinal não foste substituir o Figueiredo mas sim o Morgado. E já a companhia teria um ano de comissão...Logo, o ano em que chegaste à Guiné, em rendição individual, teria sido 1973 e não 1972. O Morgado foi para uma companhia africana. Esta informção foi-me dada pelo Jorge Pinto, que vejo com alguma frequência na Tabanca da Linha, em Algés.

Anónimo disse...

Pelo aspecto, parece a zona do café Bento, logo acima existia uma confeitaria-gelataria, em baixo, e por cima a Pensão da Dona Berta onde frequentei algumas vezes.
Logo acima tem o Stand de carros da Peugeot e mais para cima, quem sobe do lado direito havia a bomba de gasolina, onde ia abastecer as minhas motorizadas.
Mas fico espantado que em 1974, antes da independência, existia esta estrutura tão Chique!
Ou será de outros anos posteriores?
Eu sei que em 1984 quando lá cheguei numa viagem de lembranças, não existia nada de nada, nem um café nem esplanada, apenas se vendia água da bolanha em bidões às costas, com sumo de limão e bebia-se pelo mesmo copo, quer dizer a mesma lata de fruta, e água natural, quente.
Só se vendia mancarra nessa avenida a principal!
Depois no Hotel 24 de setembro, já havia mais qualquer coisa.
O Bento tinha desaparecido, o Grande Hotel estava em ruinas, as ruas só de buracos e povo cá tem.
Mas boa fotografia, no fundo o que interessa.
Virgilio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Café Bento, o meu palpite...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Av da República (hoje Av Amilcar Cabral)...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A foto é mesmo de agosto de 74, garante o Jorge Pinto. Tirada na véspera do regresso a casa...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A foto é mesmo de agosto de 74, garante o Jorge Pinto. Tirada na véspera do regresso a casa...

Anónimo disse...

Estava muito evoluída aquela zona!
Em Agosto de 74 andava andava tu do em esplanadas?
Vt.
Voto na zona do Bento.
Vt