Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jolmete > 2017 > Moutinho dos Santos com Cajan Seidi, a quem convidou para ir almoçar em Canchungo (ex-Teixeira Pinto).
Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jolmete > 2017 > Moutinho dos Santos e o Fernandino Leite com a Amélia, a 3ª mulher de Cajan Seidi, e com os seus filhos, em Jolmete.
Blogue Memórias de Jomete > 30 de agosto de 2018 > Post nº 76 - Cajan, Régulo
de Jolmete (*)
Nota informativa para quem não se lembra:
Moutinho dos Santos era alferes da Companhia que esteve antes de nós em Jolmete, a CCAÇ 2366. Era a Companhia do sr. capitão Barbeites.
Depois de sair de Jolmete em 28 de maio de 1969 (dia em que ficámos por nossa conta, e logo com um grave acidente com a bazuca do 1º cabo Brotas), tal como mais tarde o nosso alferes Almendra, foi graduado em capitão pelo sr. general Spínola e a Companhia foi para Quinhamel, gozar “férias”, mas ele, como capitão, teve que ir comandar outra Companhia no Sul [CCAÇ 2381].
Presentemente exerce advocacia no Porto e é um excelente elemento [um dos régulos] da Tabanca Pequena de Matosinhos, com várias idas à Guiné para entrega de bens.
Eduardo Moutinho Santos, ex-alf mil, CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e cap mil grad cmdt da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada) [foto à esquerda]
Pergunto eu a Moutinho dos Santos:
“Amigo Moutinho Santos, recentemente estive com o Marques Pereira, alferes da minha Companhia, a 2585, que vos sucedeu. Presentemente vive em Moçambique, e veio cá.
"Mostrei-lhe fotos do Cajan e disse-lhe que o Cajan tem um filho médico no Hospital de Santo António, creio que foste tu que me deste essa informação.
"Sabes quem é a mãe? perguntou ele, será a Maria Sábado, do nosso tempo ?.... Sabes alguma coisa dele, ou contactos... “ (*)
Resposta de Moutinho dos Santos:
Resposta de Moutinho dos Santos:
(...) De facto, o Cajan Seidi, soldado milícia do Pelotão de Milícias de Jolmete, que "alinhou" connosco, e convosco, nas matas do Jol, tem em Portugal, mais especificamente no Porto, um "filho" médico, o dr. Jorge Seidi (conhecido entre os amigos por Jorgito).
Ele faz parte das equipas de Urgências do Hospital de Santo António, penso que como contratado de uma empresa de "manpower" que presta serviços aos hospitais do Porto. Pus a palavra filho entre aspas, pois, na verdade ele não é filho biológico do Cajan, mas sim sobrinho.
Como sabes, segundo as "leis" da etnia manjaca, e de outras etnias da Guiné, em que os sobrinhos e primos também são considerados "filhos" quando vivem todos na mesma morança, o irmão que herda a "posição" (sucede no cargo) de outro irmão mais velho, também "herda" a mulher e os filhos do irmão. Com o Cajan sucedeu isso.
O avô do Cajan, de nome Cambanque Seidi, régulo do Djol, tinha vários filhos, sendo um deles o pai do Cajan, de nome Domingos, que foi morto pelo PAIGC logo no início da luta pela independência.
O avô, ao tempo régulo, foi um dos mortos na "chacina" praticada em 1964 pelas NT contra os homens grandes da tabanca de Jolmete e outras do regulado.
Este "assunto" consta de um poste do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, ali colocado por um Furriel [António Medina] de uma companhia [CART 527] da guarnição de Bula / Teixeira Pinto em 1964, antigo combatente que emigrou para os USA (**) (foto à esquerda, EUA, 2016)(***)...
O Cajan teria nessa data 15/16 anos...
Este "assunto", a que ninguém se referia quando estivemos em Jolmete, e também nunca yinha sido falado anteriormente quer pelo nosso Exército quer mesmo pelo PAIGC, foi-me confirmado pelo Cajan e por dois dos seus "filhos" que, inclusive, na última visita (2017) que fiz a jolmete, quiseram indicar-me o local onde foram enterrados, em "vala comum", muito perto do sítio onde os nossos 3 majores foram mortos em 1970...
Como o Cajan era o neto sobrevivo mais velho do régulo, veio a "herdar" o cargo do avô, pois o irmão/primo a quem tal cargo pertenceria já tinha falecido, deixando viúva a Quinta e o filho Jorge que - na altura em que estivemos em Djolmete - estaria à guarda de um tio em Dakar (Senegal) e internado numa Missão Católica. Oficialmente ninguém se referiu - que eu saiba - ao cargo do Cajan durante a nossa estadia em Djolmete.
Assim, o Cajan com o cargo de régulo do Djol, herdou como 1ª mulher a cunhada, de nome Quinta - que vivia em Djolmete ao tempo em que nós por lá estivemos -, de quem veio a ter mais 3 filhos (Joãozinho, falecido, Minguito e Melita, médica em Bissau). Atualmente está em Portugal com o filho, dr. Jorge.
O Cajan tem mais 4 mulheres... e 25 filhos ao todo...
A segunda mulher do Cajan é a Maria Sábado - nossa conhecida - de quem o Cajan tem vários filhos (um deles o Fidalgo, que é professor e director da Escola E/B de Canchungo, ex-Teixeira Pinto).
A terceira mulher do Cajan é a nossa conhecida Amélia, de quem o Cajan tem 6 filhos (vários deles a viver em Bissau).
A quarta mulher do Cajan é a Emília de quem o Cajan tem vários filhos.
Por fim, a quinta mulher, ainda muito nova, de nome Maria, também tem já filhos...
Para o ano, se tudo correr bem, se houver "patacão" e a saúde ajudar, tenciono voltar à Guiné-Bissau e a Jolmete para, com a Tabanca Pequena de Matosinhos, fazermos a instalação de um poço artesiano, pois, os poços tradicionais que a ACNUR abriu na Tabanca de Jolmete, quando serviu de Campo de Refugiados dos independentistas do Casamansa, secaram todos e a população (3 mil habitantes), que só tem uma hora de água por dia do poço do Centro de Saúde, voltou a ter de ir buscar a água à bolanha (...)
Para o ano, se tudo correr bem, se houver "patacão" e a saúde ajudar, tenciono voltar à Guiné-Bissau e a Jolmete para, com a Tabanca Pequena de Matosinhos, fazermos a instalação de um poço artesiano, pois, os poços tradicionais que a ACNUR abriu na Tabanca de Jolmete, quando serviu de Campo de Refugiados dos independentistas do Casamansa, secaram todos e a população (3 mil habitantes), que só tem uma hora de água por dia do poço do Centro de Saúde, voltou a ter de ir buscar a água à bolanha (...)
(Reproduzido com a devida vénia. Revisão e fixação de texto: LG)
____________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 5 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18988: Blogues da nossa blogosfera (103): "Memórias de Jolmete", de Manuel Resende: Cajan Seidi, o atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, foi uma das cerca de 20 vítimas de represálias das NT (Manuel Resende / Eduardo Moutinho Santos)
(***) Últimos postes da sérioe:
25 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26425: O segredo de... (46): António Medina (1939-2025) - Parte II: em 24 de junho de 1964, a CART 527 sofreu uma emboscada no regresso a Jolmete...Como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte pelo comando do BCAÇ 507, sediado em Bula, e executados pelas NT, dois meses depois
25 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26424: O segredo de... (45): António Medina (1939-2025) - Parte I: "Uma história de terror que me atormentou toda a vida (Jolmete, junho / setembro de 1964)
1 comentário:
Como na altura (6/9/2018) escrevi em comentário ao poste P18988, de 5/9/2018, esta "história" de 1964 não foi "fantasia" ou "alucinação" do António Medina, como chegaram a sugerir... Não há razões para duvidar do testemunho do Cajan Seidi e de dois dos seus "filhos", nem do António Medina... O Cajan era um "milícia nosso", tinha 15/16 anos em 1964... O pai é morto pelo PAIGC no início da guerra e o avó fuzilado pelas NT... ( E repare-se que náo foi a "quente", num ato de represália imedita a seguir à emboscada de 24/6/1964... Foi a "frio", quase dois meses depois... Coincidência ou não, Arnaldo Schulz chega a Bissau a 20 de maio de 1964... Será que Bula teve o OK de Bissau ? Nunca o poderemos saber nem isso nos interessa.)
Infelizmente, este caso não é "virgem", e ainda mexe "connosco"... Os "anos de chumbo", como ele lhe chamo (1961, 1962, 1963, 1964...) têm muitas "brancas" (ou "broncas) destas, do lado das NT e do PAIGC... (e que ensombraram a própria celebração, em 2024, dos 100 anos do Amílcar Cabral)...
"A guerra acabou, meu irmão", dizia um antigo IN ao Zé Teixeira, no Cantanhez, em 2008... Não acabou nada, enquanto houver memórias (dolorosas) de um lado e do outro... (Neste caso, de um camarada nosso, que já não está entre nós, mas quis partilhar este "segredo", ainda em vida, há 10 anos atrás...).
É saudável, de um lado e do outro, que não fiquemos com "cadáveres no armário"... Mas também não queremos diabolizar ninguém...Por isso mesmo, o António Medina teve o extremo cuidado de não citar o nome de nenhum dos seus camaradas mais diretamente envolvidos...(E se o tivesse feito, nós não os publicaríamos, de acordo com as nossas regras editoriais: não somos promotores de justiça nem juizes nem muito menos "tribunal popular"...)
Gostava de saber, entretanto, se o Eduardo Moutinho Santos, que é advogado (e foi oficial do nosso exército), tem sensibilidade, formação e experiência como homem, como antigo combatente e como jurista, chegou a ver "in loco", em 2017, a tal vala comum e se tirou alguma foto do local... A minha dúvida resulta de alguma ambiguidade da redação do parágrafo:
(...) Este "assunto", a que ninguém se referia quando estivemos em Jolmete, e também nunca falado anteriormente quer pelo nosso Exército quer mesmo pelo PAIGC, foi-me confirmado pelo Cajan e por dois dos seus "filhos" que, inclusive, na última visita (2017) que fiz a Jolmete, quiseram indicar-me o local onde foram enterrados, em "vala comum", muito perto do sítio onde os nossos 3 majores foram mortos em 1970...(...) (negritos meus).
Enviar um comentário