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domingo, 8 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25923: Ser solidário (272): Actualização da situação do processo do nosso camarada guineense Seco Mané, que em Portugal procura resolver a sua precária situação de saúde resultante de ferimentos contraídos em combate ao serviço do Exército Português (Fernando de Jesus Sousa)

1. Fazendo um ponto da situação do caso do nosso camarada guineense, Seco Mané, recebemos ontem, dia 7 de Setembro de 2024, esta mensagem do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa, DFA (ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71):

Boa tarde Carlos
Espero que te encontres bem e com saúde.
É tempo de fazer o ponto da situação, quero informar e agradecer a quantos mostraram solidariedade, ao meu amigo e camarada de Bedanda, Seco Mané.

Ainda não está nada resolvida a situação em relação ao internamento no Hospital das Forças Armadas, mantém-se na mesma, em relação à sua subsistência está igual.
Porém, eu estou mais do que nunca otimista, estive na quinta feira, acompanhado de um grande amigo meu, o Coronel Armando Marques Ramos, no Arquivo Geral do Exército para indagar sobre o processo dele, fomos também à Presidência da República e ao Estado-Maior do Exército.

Foi importante este bater de portas, pois pude constatar que todas elas estão abertas a este meu amigo, o processo está em andamento acelerado, e vim convicto que brevemente irá ser internado no hospital a fim de lhe colocarem uma prótese no joelho e ser presente a uma junta médica.
Pude constatar que a pressão exercida por muitos camaradas junto da Presidência da República foi benéfica e ajudou a desbloquear a situação.

Em meu nome e do Seco Mane, o nosso obrigado e um reconhecimento de gratidão a quantos têm ajudado financeiramente para a sua subsistência.
Eu irei dando notícias sobre o evoluir da situação.
Fernando de Jesus Sousa ao centro, tendo à sua esquerda, com camisa azul, o camarada Seco Mané e à direita o seu filho que o acompanha em Portugal

Abraço fraterno
Fernando Sousa

_____________

Notas do editor:

Sobre este assunto vd. posts de:

27 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25691: Agenda cultural (855): Reportagem que fiz acerca de um soldado de Bedanda, do meu pelotão, ferido três vezes em Bedanda. Para ver no dia 29 de Junho, sábado, às 22h30 no NOW - Informação Privilegiada (Fernando Jesus Sousa, DFA)
e
1 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25706: Direito à indignação (17): Seco Mané, antigo Combatente da CCAÇ 6, não tem direito à nacionalidade portuguesa nem aos tratamentos a ferimentos recebidos em combate, nos anos 70, na então Guiné Portuguesa, ao serviço de Portugal (Joaquim Mexia Alves / Carlos Vinhal)

Último post da série de 17 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25851: Ser solidário (271): 25.ª Expedição da Missão Dulombi à Guiné-Bissau. Reportagem da jornalista Carolina Cunha da CMTV, que pode ser vista no Youtube

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24084: (De) Caras (196): Cândido Manuel Patuleia, ex-fur mil, CCAÇ 2600 / BCAÇ 2887 (Angola, 1969/71), vítima de cegueira total, provocada por explosão de uma granada ofensiva: a sua história é aqui lembrada pela seu antigo cmdt de pelotão, Eduardo José dos Reis Lopes

Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de Maio de 2007 > 13º Convívio do pessoal de Bambadinca 1968/71 > A organização coube ao Fernando Calado, coadjuvado pelo Ismael Augusto, ambos da CCS/BCAÇ 2852 (1968/71). 

Aqui na foto, o António Fernando Marques (ex-fur mil, CCAÇ 12, Guiné, 1969/71) e o Cândido Patuleia (ex-fur mil, CCAÇ 2600, Angola, 1969/71) estiveram presentes: ficaram amigos para sempre, no Hospital Militar Principal, em 1971. Ambos estão reformados: o Marques, da sua actividade empresarial; o Patuleia, da Direcção-Geral das Contribuições e Impostos (ainda o conheci, na Repartição de Finanças da Reboleira, a 3ª da Amadora)...  (Já os tenho visto noutros encontros do antigo pessoal de Bambadinca, 1968/71.)

Ambos f0ram vítimas de engenhos explosivos:  uma mina anticarro, no caso do Marques, que o pôs em estado de coma durante 16 dias (se não erro) e lhe levou 2 anos de tratamento e recuperação;  o Patuleia, por seu turno, foi vítima da explosão de uma granada ofensiva quando estava a montar uma armadilha com outro camarada (que teve morte instantânea): cegueira total, rosto desfigurado e um calvário de multiplas operações em Portugal e no estrangeiro. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




1.  Nunca é demais recordar os deficientes da guerra do ultramar / guerra colonial (que serão 14324, segundo os números da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas) (*).  A guerra teve / tem nomes e rostos (e alguns ficaram marcados para sempre). E histórias, com h pequeno, que nunca serão contadas na História com H grande.

No total,  os "cegos e amblíopes" foram 70 (dos quais quase um terço na Guiné). Mas o número de vítimas de cegueira parcial e outras deficiências visuais é 12,3 vezes superior: 863 (das quais 27% na Guimé) (Vd. quadro acima).

Já evocámos vários nomes de camaradas nossos que ficaram totalmente cegos, nossos conhecidos ou figuras mais o menos públicas: 

(i) o José Eduardo Gaspar Arruda (1949-2019), o líder histórico da ADFA (sofreu cegueira total e amputação do membro superior esquerdo), em  acidente com mina em Moçambique; era furriel); 

(ii) o Cândido Manuel Patuleia Mendes (natural do Bombarral, meu vizinho, com amigos na Lourinhã, ferido em Angola; era furriel); 

(iii) o Manuel Lopes Dias (hoje cor ref DFA) (não sei onde foí ferido, mas possivelmente em Angola; era alferes), 

sendo estes dois útimos membros da atual direção da ADFA, eleitos para o triénio de 2022/24, o primeiro como tesoureiro e o segundo como secretário: mas já foram ambos presidentes da direção.

Mais recentemente, entrou para a nossa Tabanca Grande o 1º cabo Manuel Seleiro, que pertenceu ao Pel Caç Nat 60 (São Domingos, Ingoré e Susana, 1968/70): ficou totalmente cego e sem as duas mãos, ao levantar uma mina A/P, na picada de São Domingos para o Senegal, em 1970 (**).

Lembrámos também aqui o nome do camarada (e membro da nossa Tabanca Grande), Hugo Guerra (hoje cor inf ref, DFA, e sofrendo de doença de Parkinson) que foi vítima da mesma mina que o Manuel Seleiro estava a levantar: ficou cego de uma vista (***).

A história de vida destes homens e militares portugueses merece ser melhor conhecida dos portugueses. Hoje vamos reproduzir, parcialmente, um texto publicado no portal Ultramar TerraWeb - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, com a devida vénia ao autor e aos editores:


Eduardo José dos Reis Lopes, ex-alf mil op esp,'ranger', Cruz de Guerra de 4.ª classe, CCAÇ 2600 / BCAÇ 2887 (Angola, 1969 / 1971)


(..) De entre outras missões que, no decurso do nosso estacionamento em Balacende (Nov69-Mai71), nos foram atribuídas, destacam-se escoltas e protecção aos trabalhos que uma equipa da JAEA 
[Junta Autónoma das Estradas de Angola].  desenvolvia no itinerário principal Caxito-Nambuangongo, designadamente o levantamento topográfico destinado à construção de uma estrada asfaltada.

Os pontos mais determinantes daquele trabalho eram assinalados com telas (de 5mts de comprido por 1 de largo), dispostas em cruz e posteriormente sobrevoadas. Tendo a frente daqueles trabalhos alcançado as nossas "portas da guerra", tal como do antecedente e sempre que os trabalhos eram diariamente interrompidos, as telas foram rotineiramente colocadas; mas por sucessivas noites, as telas começaram naquela área a ser roubadas por bandos armados da FNLA.

Perante esta situação, sugeri ao comandante da companhia que montássemos emboscadas; ou, em alternativa, que nos seus limites as telas fossem armadilhadas.

Enquanto isso, ao nosso batalhão em Quicabo tinha chegado como guia para as NT, um negro foragido da base IN "Checoslováquia", tida como "sede inexpugnável da Zona B da 1ª RPM-MPLA" (pretensa "Região Político-Militar" do MPLA no Quijoão), cujo comandante era Nito Alves e a citada zona B comandada por Jacob João Caetano. O guia Eduardo, que em tempo se havia entregue às NT no sector do Caxito, posteriormente permanecera no posto local da DGS para "reeducação e reabilitação", após o que ficaram reunidas as condições para o planeamento de uma operação, a nível de batalhão, tendo como principais propósitos: capturar o comandante Jacob Caetano, vivo ou morto; e destruir aquela base IN. 

As forças executantes escolhidas para o golpe-de-mão, foram o meu 3º Pelotão da CCaç 2600 e o Pel Rec/CCS,  comandado pelo Alf Mil Martins, consideradas pelo comando do batalhão como as mais aguerridas e experientes: íamos defrontar o IN, fortemente armado e no seu próprio "santuário" considerado "inexpugnável", não havendo lugar a quaisquer tácticas defensivas ou hesitações. E a saída de Balacende, estava prevista para as 12:00 de 23Mai70.

Aproximando-se aquele momento, o Capitão Hermínio Batista, comandante da CCaç 2600 , decidiu-se pela alternativa de armadilhar as citadas telas da JAEA, tendo para tal missão encarregue o Furriel Mil  'ranger' Cláudio Manuel Libânio Duarte: acompanhado por uma secção do meu pelotão, comandada pelo Furriel Patuleia que para tal efeito se voluntariou; contudo, em se tratando de uma secção do meu 3º pelotão a fazer a segurança, também por solidariedade com o Patuleia, igualmente me voluntariei.

Estando previsto que a equipa da JAEA saísse para a frente de trabalhos pelas 06:00, cerca de meia-hora antes o Fur Patuleia acordou-me e eu – ainda ensonado e porque às 12:00 iríamos largar para a "Operação Checoslováquia" –, acabei por lhe dizer que não ia ao armadilhamento das telas; e aconselhei-o a que também não fosse, mas aquele Furriel não seguiu o meu conselho.

Por volta das 09:00 de 23Mai70, ouviu-se em Balacende uma enorme explosão: na frente de trabalhos da JAEA, encontrando-se os militares ao lado uns dos outros, o Furriel 'ranger' Duarte, enquanto procedia ao planeado armadilhamento das telas, descavilhou uma granada ofensiva e, inopinadamente, afrouxou a alavanca: o Fur Patuleia ainda lhe gritou que arremessasse a granada mas o Fur Duarte instintivamente tentou apertar a alavanca e, encostando as mãos ao peito, ali encontrou a morte imediata; quanto ao Fur Patuleia, ficou com a cara e o corpo cheios de estilhaços da granada, tal como o soldado Arlindo.

Quando os quatro feridos – dois deles de forma menos grave –, transportados nos Land-Rover da JAEA, começaram a chegar ao nosso aquartelamento, foi um pandemónio.

Fiquei na enfermaria por alguns momentos junto do Fur Patuleia, mas não suportei mais ouvi-lo pedir ao Furriel Enf  Fernandes que o matasse. Dali fui para a messe, onde continuei a ouvir os seus gritos de dor, até que por volta do meio-dia chegou um AL-III, tendo sido heli-evacuados para o hospital militar de Luanda o Soldado Arlindo e o Furriel Patuleia.

Quando vim de férias à Metrópole, visitei no HMP-Estrela o Fur Patuleia: estava cego; e tinha (como ainda hoje), a cara cravejada de estilhaços. Após dezenas de operações – algumas realizadas em Barcelona –, recuperou parcialmente alguma visão mas apenas por breves períodos; e da última vez que o vi, estava de novo e totalmente cego.

Uma das minhas recorrentes memórias sobre a guerra no Ultramar, está relacionada com o sucedido ao Furriel Mil Patuleia. (...) 
____________

(¹) Cândido Manuel Patuleia Mendes: nascido em 1947 no Bombarral; veio a ser no ano 2000, presidente da direcção nacional da ADFA.
 
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 (***) Último poste da série > 17 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24074: (De) Caras (195): Em 1975, cinco anos depois, saí do Hospital Militar Principal com as marcas da mina A/P, armadilhada, que me mudou completamente a vida: estava destroçado, cego, sem a mão direita e com dois dedos na mão esquerda (Manuel Seleiro, 1º cabo, Pel Caç Nat 60, DFA, São Domingos, Ingoré e Susana, 1968/70)

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22851: A nossa guerra em números (11): Pedro Marquês de Sousa estima um rácio de 10 feridos por cada morto... A Guiné teve, em números absolutos e relativos, mais feridos graves em combate e Angola por acidente


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > A solidariedade dos combatentes... Dois soldados, guineenses, do 3º Grupo de Combate, do Alf Mil At Inf Abel Rodrigues, amparam o 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão, metropolitano (vive hoje na Covilhã, estando reformado da Direcção Geral das Contribuições e Impostos), comandante da 1ª secção, o homem que cometeu a proeza de ter sido ferido duas vezes no decurso da mesma operação (Op Boga Destemida, 9 de Fevereiro de 1970).

"Slide" do Fur Mil At Inf Arlindo T. Roda, comandante da 2ª secção, que nesses dias (8 e 9 de Fevereiro de 1970) levou para o mato  a sua máquina fotográfica... (Não era vulgar levar-se uma máquina de fotografia, para o mato, em operações, numa região como esta em que a probabilidade de contacto com o IN era muito alta. Estou muito grato ao Roda, que já não vejo desde 1994, e que vive em Setúbal, por generosamente nos disponibilizar a sua fabulosa colecção de "slides", convertidos para o digital...)

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Escrevemos em poste anterior (P22847) (*):

Segundo Pedro Marquês de Sousa ("Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pág. 144), dos cerca de 28 mil feridos graves evacuados durante a guerra (nos 3 teatros de operações), "resultaram cerca de 14 mil deficientes", dos quais "5120 com grau de deficiência superior a 60%"...

Além disso, desses 14324 feridos graves e deficientes, 1852 estão classificdos na categoria de "amputados" (12,9%), dos quais 480 em Angola, 540 na Guiné, 697 em Moçambique e 135 na instrução e serviço militar. 

Algumas centenas destes amputados deverão ter sido tratados e recuperados no Hospital Militar de Hamburgo, acrescentámos nós, ao longo da guerra.

Já agora vale a pena deixar aqui mais informação estatística sobre feridos e deficientes, militares, da guerra colonial / guerra do ultramar / guerra de África (1961/74) (**). Citando o Pedro Marquês de Sousa (que por sua vez se baseia nos historiógrafos Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes,  e estes em dados  da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas), temos o seguinte quadro, adaptado por nós,  que dá muito para reflectir:

O número de feridos graves e deficientes distribuem-se assim pelas quatro situações (os três teatros de operações e a Instrução / Serviço Militar): 

  • Angola (31%)
  • Mocambique (23%)
  • Guiné (25%)
  • Instrução / Serviço Militar (21%)

Tendo em conta que a Guiné era um território muito mais pequeno (equivalene
te ao Alentejo), mobilizou menos efetivos que Angola e Moçambique,  e em que a guerra começou mais tarde (em relação a Angola), há indícios de que naquele teatro de operações terá havido, proporcionamente, mais amputados (29% do total), mais cegos e amblíopes (31%), mais casos de surdez (total, parcial e outras deficiências auditivas) (33%)... Estes dados terão que ser analisados com cuidado, precisávamos de saber a origem dos ferimentos graves e deficiências (em combate ou acidente).

Em 1973, por exemplo, o número de militares presentes nas 3 frentes era de cerca de 163 mil (mais exatamente, 162 996) (pág. 95), assim distribuidos pelos 3 teatros de operações 

  • Angola: 43,3 %
  • Guiné; 21,8 %
  • Moçambique: 34,9 %

2. O total de mortos, entre os combatentes portugueses,  é agora calculado em 10425 (pág. 97). 

Segundo a fonte que estamos a usar (Sousa, 2021), o total de feridos (dos três ramos das Forças Armadas) ascenderia a 117 mil, na sua grande maioria (96%) pertencentes ao Exército, e distribuindo-se do seguinte modo pelos 3 teatros de operações (pág. 142):

  • 41% em Angola
  • 29% na Guiné
  • 30% em Moçambique 

Um dado relevante apurado por Pedro Marquês de Sousa é o rácio de 10 feridos (hospitalizados)  por cada morto. Grosso modo, tivemos mais de 100 mil feridos (hospitalizados), nos 3 ramos das Forças Armadas (pág. 142). (Por "hospitalizados" entende-se entradas de feridos nos hospitais e enfermarias dos setores.)

Num outro quadro publicado na pág 143, e adaptado por nós, mostra-se a distribuição em números absolutos e relativos dos feridos graves em combate e feridos graves por acidente nos 3 teatros de operações.


Num total de 31,3 mil feridos graves, mais de metade foi em combate (N=16200), dos quais 44,5 % ocorridos no TO da Guiné. Angola teve mais feridos por acidente (43,7% mum total de 15100).

Para uma análise mais detalhada destes  (e doutros dados) recomendamos o livro do tenente-coronel, doutorado em História, Pedro Marquês de Sousa.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 26 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22847: Memória dos lugares (434): Hospital Militar de Hamburgo, onde estiveram internados, para tratamento e reabilitação, camaradas nossos deficientes como o Quebá Soncó (CCAÇ 1439) e o António Dias das Neves (CCAV 2486): não se sabe quantos, mas devem ter sido algumas centenas de um total de mais de 1800 "amputados", entre 1964 e 1974

(**) Último poste da série > 12 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22803: A nossa guerra em números (10): o Movimento Nacional Feminino tinha um orçamento ordinário de 10 mil contos (cerca de 2 milhões de euros, a preços de hoje) e uma gestão pouco profissionalizada, retirando-lhe credibilidade e apoios da sociedade civil

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21506: Histórias... com abracelos do Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)(2): Segundo o meu antigo soldado Bona Baldé e outras fontes, cerca de metade do 16º Pel Art terá sido fuzilado depois da independência


Guiné > Região de Cacheu > Binar > Pel Art > Obus 14 > O Carlos Arnaut a introduzir os elementos de pontaria, com alguns serventes, soldados do recrutamento local, a apreciar.

Foto (e legenda): © Carlos Arnaut (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Carlos Arnaut, membro nº 817 da nossa Tabanca Grande, ex-alf mil art, cmdt do 16º Pel Art (Binar, Cabuca, Dara, 1970/72):

Date: sábado, 31/10/2020 à(s) 23:27
Subject: Crónica da Guerra da Guiné

Caro Luís,

Não posso deixar de me solidarizar com o Manuel Luís Lomba (*) quando critica, com toda a justiça, a ignomínia do abandono daqueles que na Guiné combateram ao nosso lado:

" Ao ignorá-lo, o MFA não terá cuidado de salvaguardar os mais de 60 000 naturais guineenses, militares e militarizados, voluntários ou recrutados ao serviço das FA portuguesas. Foram deixados para traz – uma traição a eles e uma indecência (no mínimo) para com os mais de 100 000 dos veteranos da Guerra da Guiné, para com os seus 2 500 mortos, para com os seus 4 000 feridos, a maioria no grau de deficiente e para com cerca de 20 000 pacientes de stresse pós traumático.

"O seu irmão e sucessor Luís Cabral, começou a aplicá-lo logo no após o cessar-fogo, e, diz-se que, entre 1974 e até 1976, sancionou com o fuzilamento, sem qualquer julgamento, mesmo sumário, diz-se que cerca de 11 000 guineenses, somando militares, militarizados portugueses e oposicionistas políticos ao regime do PAIGC." 


Mais do que indignação, foi com um profundo sentimento de revolta que ouvi da boca de um ex-soldado do meu pelotão, Bona Baldé, que cerca de metade dos seus, e meus, camaradas de armas tinham sido fuzilados logo após a independência.

Como todos os que conviveram com pelotões de artilharia bem sabem, os seus efectivos eram constituídos por graduados oriundos da metrópole e soldados do recrutamento provincial, como era o caso do Bona Baldé, de etnia fula.

Esta notícia foi-me transmitida aquando do nosso reencontro em Lisboa, que me comoveu até às lágrimas, em circunstâncias só possíveis pelo génio e persistência deste Guinéu na conquista do que lhe era devido pela Mãe Pátria.

Sem grandes certezas quanto a datas, presumo que no início de 1972, por ordem do Comando de Batalhão sediado em Nova Lamego, fiz deslocar uma secção de obus para reforçar a segurança do aeroporto, comandada pelo Furriel Rodrigues e de que fazia parte o Bona.

Dado que esta situação era de carácter temporário, o alojamento do pessoal foi feito em moranças de familiares e amigos, sob o olhar benévolo e condescendente do Rodrigues.

Nesse período Nova Lamego sofreu uma flagelação com mísseis, das primeiras, tanto quanto sei, que aconteceram no TO, tendo um deles destruído parcialmente a morança onde dormia o Bona Baldé, o que com o estouro lhe provocou a surdez do ouvido esquerdo e ferimentos ligeiros por projecção de detritos.

Quando do regresso a Dara da secção, reparei que o Bona girava a cabeça para a esquerda quando falava com alguém, tendo-me respondido que nada ouvia de um lado e daí o comportamento algo bizarro.

Depois dos abraços e notícias da família, foi pai de dois filhos durante a minha comissão sendo eu "padrinho" da filha mais nova, soube que tinha tido que fugir da Guiné para escapar à morte, quando me relatou o destino de outros camaradas, tendo-se refugiado na Mauritânia, onde mercê das suas qualidades conseguiu construir um negócio proporcionando à família uma vivência confortável.

Fiquei também a saber que a razão primeira da sua vinda a Portugal,onde o filho mais velho já estava a trabalhar, teve como objectivo tratar de obter uma pensão como deficiente das Forças Armadas, a que muito justamente considerava ter direito. 

Fiquei estarrecido com a sua competência em navegar nas ondas da nossa malfadada burocracia, tendo desenterrado no Arquivo Geral do Exército o relatório do ataque, conseguiu ser observado por uma Junta Médica, que confirmou a sua surdez irreversível, faltando apenas o meu testemunho no Auto de Averiguações já em curso para que lhe fosse outorgada a pensão a que tinha indubitavelmente direito.

Fui ouvido no quartel em Sacavém, onde confirmei quer as circunstâncias da sua presença em Nova Lamego, quer a sua óbvia surdez, tendo tido a alegria de não muito tempo depois receber o Bona em minha casa, portador de uma garrafa de Chivas em bolsa de veludo e rolha de prata, para além da notícia de lhe ter sido concedida uma pensão vitalícia com retroactivos à data do acontecido.

Estes diligências ocorreram em 1984, já ele se tinha entretanto estabelecido na terra natal, a poeira das vinganças já se tinha desvanecido, e os retroactivos de 12 anos devem ter-lhe caído como um jackpot no Euromilhões.

Numa romagem de saudade em 1985 à já então Guiné-Bissau, visitei Dara, onde me confirmaram quer o fuzilamento de soldados do meu pelotão como também o de diversos elementos do corpo de milícias, para além da amputação de três dedos da mão direita ao homem grande que nos vendia a carne de vaca que consumíamos no destacamento.

Perante tudo isto, ninguém pode deixar de sentir o sabor amargo de quem se sente traído pelo abandono daqueles que vestiram e honraram a nossa farda. (**)

Abracelo,

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19447: Recortes de inprensa (100): para a história da luta dos deficientes das Forças Armadas: a manifestação em Lisboa, de 20 de setembro de 1975 (Diário de Lisboa, 22/9/1975)




Fonte: Diário de Lisboa, 22 de setembro de 1975, p. 8.


Citação:
(1975), "Diário de Lisboa", nº 18873, Ano 55, Segunda, 22 de Setembro de 1975, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_4410 (2019-1-27) (com a devida vénia...).


Casa Comum
Título: Diário de Lisboa
Número: 18873
Ano: 55
Data: Segunda, 22 de Setembro de 1975
Directores: Director: António Ruella Ramos; Director Adjunto: José Cardoso Pires
Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos
Tipo Documental: IMPRENSA
______________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19254: Recortes de imprensa (99) O capitão José Manuel Carreto Curto, dado como morto pela propaganda do PAIGC, em entrevista à ANI, Bissau, 20 de março de 1963 (Diário de Lisboa, edição de 20/3/1963, pp. 1 e 9)

domingo, 27 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19446: In Memoriam (336): José Arruda (Movene, Moçambique, 1949 - Lisboa, 2019), líder histórico da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas



O Presidente da direção nacional da ADFA, José Eduardo Gaspar Arruda, na alocução natalícia de 19/12/2014, desejando "votos de um Natal com generosidade, tolerância, paz, saúde e muita força e empenho para continuarmos a nossa luta pela dignidade de TODOS e em especial pela plena inclusão das pessoas portadoras de deficiência".

José Arruda nasceu em Moçambique em 10 de março de 1949, desenvolveu uma carreira de atleta até integrar o serviço militar obrigatório e foi ferido, em 1971, durante a guerra colonial, num acidente do qual resultou a cegueira e a amputação o membro superior esquerdo. Em 1973, durante a permanência no Hospital Militar Principal, participou no movimento de apoio à criação do estatuto do deficiente das Forças Armadas, tendo posteriormente, em 1974, participado na primeira assembleia Geral da recém-criada Associação dos Deficientes das Forças Armadas, que surgiu na sequência da Revolução do 25 de Abril.

Foto; Cortesia do sítio da ADFA



Lisboa > ADFA > 21 de janeiro de 2019 > Conferência Evocativa do 43º Aniversário da Publicação do DL n.º 43/76, de 20 de janeiro de 1976, no âmbito do 45º aniversário da Associação dos Deficientes das Forças Armadas. A sessão solene de encerramento presidida  pelo Ministro da Defesa Nacional, Professor Doutor João Gomes Cravinho. Este terá sido o último ou um dos últimos atos públicos a que assistiu o José Arruda, presidente da ADFA, aqui na foto do lado direito.

O diploma de 20 de janeiro de 1976 veio garantir aos deficientes das Forças Armadas a reparação moral e material a que tinha direito, depois de terem prestado Serviço Militar Obrigatório na Guerra Colonial e dela terem regressado feridos e marcados para toda a vida. O DL 43/76,  de 20 de janeiro, surgiu na sequência  da luta histórica dos deficientes militares pelos seus direitos (que ganhou, por exemplo, grande visiibilidade mediátrica com a manifestação de 20 de setembro de 1975).

Foto: cortesia da ADFA


1. O presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), José Arruda, morreu, sábado à tarde, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa,  na sequência de uma intervenção cirúrgica. Tinha 68 anos.

Em comunicado, a ADFA manifesta "enorme mágoa e profunda consternação" pelo "falecimento inesperado" do comendador José Eduardo Gaspar Arruda.

A ADFA salienta que José Arruda se entregou "abnegadamente à causa da dignidade" dos deficientes das Forças Armadas e dos deficientes portugueses em geral, servindo a República "com a elevação e a responsabilidade de um cidadão íntegro, dedicado e exemplar".

"Sublinhamos e homenageamos o homem de Abril, que viveu na plenitude os valores da democracia, em liberdade e solidariedade", lê-se no comunicado.

A notícia é da LUSA, publicada nos jornais de ontem e de hoje.

No nosso blogue há 40 referências à ADFA. Conheciamo-nos pessoalmente e tínhamos um estima especial mútua: o José Arruda foi, durante muitos anos, "meu vizinho" na Av Padre Cruz, um dos seus filhos foi inclusive meu aluno, na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa... E aquela casa, a sede da ADFA,  esteve sempre aberta a iniciativas da Tabanca Grande ou dos nossos grã-tabanqueiros. Recordo-me de lá ter ido em diversas sessões de lançamentos de livros de camaradas nossos.

Para a  esposa, os filhos e demais família, os amigos e camaradas da ADFA, vai aqui todo o nosso apreço e solidariedade na dor por esta perda.  prematura,  de um grande ser humano, cidadão  e português, em nosso nome e em nome de toda a Tabanca Grande. Luís Graça, fundador, administrador e editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


2. Reproduzimos aqui, com a devida vénia, a notícia dada hoje, 27 do corrente, no sítio oficial da ADFA:

É com enorme mágoa e profunda consternação que comunicamos o falecimento inesperado, esta tarde [, sábado], no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, em Lisboa, do Senhor Comendador José Eduardo Gaspar Arruda, Presidente da Direção Nacional da Associação dos Deficientes das Forças Armadas [ADFA].

Nesta hora difícil para todos os deficientes militares, a ADFA salienta e recorda o Comendador José Arruda, que se entregou abnegadamente à causa da dignidade dos deficientes das Forças Armadas e dos deficientes portugueses em geral, servindo a República com a elevação e a responsabilidade de um cidadão íntegro, dedicado e exemplar.

Ao longo da sua vida, José Arruda impôs-se, pelas suas qualidades, numa Cidadania ativa, como lutador intrépido na defesa intransigente do direito à Reabilitação e Reintegração de todas as pessoas portadoras de deficiência.

Sublinhamos e homenageamos o Homem de Abril, que viveu na plenitude os valores da Democracia, em Liberdade e Solidariedade.

A Forma como colocou o seu saber e capacidades ao serviço da causa das pessoas com deficiência é um legado que fica indelevelmente marcado na ADFA, na República e na Sociedade Portuguesa.
A ADFA está a acompanhar a Família do Comendador José Arruda e logo que disponha de pormenores das últimas homenagens dos mesmos dará conhecimento à Comunicação Social.



3. Nota biográfica constante do sítio oficial da ADFA:

José Eduardo Gaspar Arruda nasceu em Movene (Moçambique), em 10 de Março de 1949.

Realizou o Curso Comercial na Escola Comercial de Lourenço Marques, actual Maputo,  capital da República de Moçambique (ex-colónia portuguesa), cidade onde viria a integrar a Equipa de Basquetebol, no Grupo Desportivo, onde desenvolveu uma promissora carreira de atleta, até 1971, altura em que foi obrigado a integrar o serviço militar obrigatório, até 1974.

Foi ferido em 1971, no decorrer da Guerra Colonial que se desenrolou entre 1961-1975, acidente do qual resultou a cegueira e a amputação do membro superior esquerdo.

Em 1973, durante a sua permanência no Anexo do Hospital Militar Principal [, em Lisboa], participou no movimento de apoio à criação do estatuto do deficiente das Forças Armadas, tendo posteriormente, em 1974, participado na 1ª Assembleia Geral da recente criada Associação dos Deficientes das Forças Armadas – ADFA, que surgiu na sequência da Revolução do 25 de Abril e que restituiu a Portugal a democracia, promoveu a descolonização e criou as bases do desenvolvimento do país à sua integração na União Europeia.

Fez a sua reabilitação na Fundação [Raquel e] Martin Sain [, em Lisboa,]   onde aprendeu competências de autonomia, apoio psicológico e social, referências fundamentais que moldaram a sua consciência e formação social, política e cívica, e marcaram de forma indelével todo o seu percurso e atitude como homem, como cidadão, como deficiente e como dirigente associativo.

Retornou a Moçambique, tendo regressado definitivamente a Portugal no início dos anos 80, período a partir do qual se envolveu terminantemente no movimento das pessoas com deficiência, nomeadamente na luta pelos direitos humanos, em organizações como a ADFA, a Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal – ACAPO, a Federação de Desporto para Deficientes, a Associação de Apoio aos ex-Combatentes Vítimas de Stress de Guerra – APOIAR e na Associação de Jovens Deficientes – AJOV. O seu percurso por estas instituições pautou-se pelo exercício da cidadania, na promoção da inclusão e justiça social das pessoas com deficiência.

No âmbito do seu percurso por estas instituições destacam-se as seguintes acções:

Entre Junho de 1981 e 1986 integrou Direcção Nacional da ADFA;

Em 1981 representou a ADFA na Comissão Nacional para o Ano Internacional das Pessoas com Deficiência declarado pela ONU.

Entre 1982 e 1983 presidiu a Comissão Instaladora da Federação de Desporto para Deficientes;

De 1987 a 1995 preside a Direcção Nacional da ADFA;

Entre 1989 e 1994 foi Presidente da Comissão Permanente para os Assuntos Europeus – CPAE, da Federação Mundial de Antigos Combatentes e Vítimas de Guerra – FMAC;

Em 1990 participou na organização da 1ª Conferência de Antigos Combatentes de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Portugal, que se realizou em Lisboa, incrementando uma política de cooperação;

Em 1991, enquanto Presidente da ADFA, a Associação dos Deficientes das Forças Armadas foi condecorada pela Cruz Vermelha Portuguesa com as suas, Cruz Vermelha de Benemerência e Cruz Vermelha de Mérito, pelo importante papel desempenhado na defesa, na reabilitação e na reintegração das vítimas de guerra;

Em 1994 integrou o Comité Preparatório da 6ª Conferência sobre Legislação, da FMAC, realizada em Lisboa;

De 1986 a 1994 participou em dois ciclos olímpicos, como Presidente da Mesa da Assembleia da Federação de Desporto para Deficientes;

Entre 1999 e 2004 presidiu aos destinos da ACAPO, tendo impulsionado novas medidas que foram determinantes para o terminus do sorteio, de cariz caritativo, que durante muitos anos predominou nesta organização, permitindo a assunção da integração de políticas sociais, aspecto essencial na defesa dos Direitos Humanos das pessoas com deficiência em Portugal;

Em 2004 foi distinguido pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, com a Ordem de Mérito, Grau de Comendador, pelo trabalho desenvolvido no âmbito da defesa dos direitos das pessoas com deficiência, na sequência do Ano Europeu das Pessoas com Deficiência;

Entre 2005 e 2007 foi Presidente da Mesa da Assembleia Geral da APOIAR;

Entre 2007 e 2015 presidiu novamente aos destinos da Direcção Nacional da ADFA, com a sua equipa dos Órgãos Sociais Nacionais, desenvolvendo um trabalho árduo da defesa dos direitos dos deficientes militares, tendo recuperado direitos anteriormente perdidos na área da assistência médica e medicamentosa e na isenção de impostos, tendo conseguido que as pensões dos deficientes militares fossem consideradas como indemnização;

Em 2008, enquanto Presidente da ADFA, a Associação dos Deficientes das Forças Armadas foi condecorada pelo Presidente da República, Professor Aníbal Cavaco Silva, como membro da Ordem da Liberdade, pelos relevantes serviços prestados “na permanente defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação do ser humano, da justiça social e da promoção da liberdade”, tendo também afirmado que “a dívida de gratidão e o preito de homenagem para aqueles que ficaram deficientes ao serviço da nação impõe prioridade no tratamento que lhe deve ser dispensado”;

Foi agraciado, na 26ª Assembleia Geral de 19-23 outubro de 2009, com a medalha de prata da FMAC pelos 20 anos de serviço da paz e cooperação internacional;

Coordena desde 2011 o Grupo de Trabalho da Europa do Sul, que integra os seguintes países: Albânia, Bósnia-Herzegovina; Bulgária, Croácia, Chipre, Eslovénia, Espanha, Grécia, Israel, Itália, Kosovo, Macedónia, Montenegro, Palestina, Portugal, Sérvia, e Turquia (22ª CPAE, realizada em Kiev, na Ucrânia, de 26 a 28 de maio 2011);

Em 14 de maio de 2014 foi condecorado a medalha da Defesa Nacional pelo Ministro da Defesa Nacional, Dr. Aguiar Branco.

No período de 1981 a 2015 manteve-se sempre ligado às actividades internas da ADFA e acompanhou e participou em diversas ações desenvolvidas pela FMAC.

Em 24 de fevereiro de 2016 foi agraciado por Sua Excelência o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

[Revisão e fixação de texto: LG]

3. Informação de última hora da página do Facebook da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas 

(...) Informamos que o corpo do presidente da ADFA, José Arruda, espera ser autopsiado amanhã 2ª feira. 28/01. 

Se a autópsia se concretizar amanhã, como está previsto, o corpo será colocado em Câmara Ardente no salão nobre da Sede Nacional da ADFA, na Av Padre Cruz ao Lumiar, Lisboa. 

Quando nos for comunicado a hora e dia do funeral, publicaremos nesta página e enviaremos nota informativa à Imprensa. Farinho Lopes. (...)
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19415: In Memoriam (333): Auá Seidi (c.1935-2018), viúva do comerciante de Bambinca (c. 1925-2011), Rodrigo Rendeiro, natural da Murtosa, já falecido em 2011 (Leopoldo Correia, amigo da família, ex-fur mil, CART 564, Nhacra,Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65).

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18942: (In)citações (121): festa comunitária com deficientes: exemplos e momentos inspiradores que nos vêm da Eslovénia (João Crisóstomo)

1. Mensagem do nosso camarada e amigo João Crisóstomo que está a passar férias na terra sua esposa Vilma, a Estónia:

Data: 18 de agosto de 2018 às 13:14
Assunto: exemplos e momentos inspiradores

Caro Luís Graça,

Nã sei se o que segue é matéria pertinente para teu/nosso blogue ou não. Deixo-o ao teu critério .  A verdade é que  o que acabo de viver e experimentar foi algo  emocionante  e inspirador  que  acho podia ser copiado e repetido; e para que tal suceda a primeira coisa a fazer é divulgá-la para que não seja "luz  debaixo do alqueire".

Estou ainda na Eslovénia. Não te vou falar das belezas naturais desta "Suíça pequenina", como é conhecida, que isso me parece mais matéria para facebooks e coisas assim.   Mas se as suas belezas naturais são coisas que não ficam despercebidas, outras menos faladas merecem ser  conhecidas também , até como possíveis exemplos para outros. Como este caso:

Já me tinham falado  que os bombeiros locais costumam ir de povoação em povoação  organizar acontecimentos de diversão e cultura popular  em diferentes aldeias que pelo seu pequeno  tamanho por si sós não podem realizar. A Vilma e eu convidamos um casal de portugueses  ( os únicos de que tenho conhecimento aqui nas redondezas )  e fomos a um destes eventos.

A povoação era pequena, uma centena de habitantes na minha estimativa, mas fomos encontrar uma tenda enorme  para umas centenas de pessoas  e meia dúzia de outras tendas para as costumadas cervejas, salsichas etc., etc.  Um espectáculo  impressionante, especialmente para quem como eu esperava ir encontrar um acontecimento pequeno, mais de acordo com o tamanha da povoação onde este tinha lugar. Mas não era o caso:   de facto as pessoas das redondezes frequentam e patrocinam estes acontecimentos com entusiasmo e vêem  de perto e longe para tomar parte   e a assistência é sempre grande. Nesta a que assisti houve uma participação, na minha estimativa, superior a duas mil pessoas.

Vilma e João Crisóstomo
O que mais me impressionou porém,  e é esta razão porque decidi escrever-te, foi um facto que
me muito me comoveu: antes do espetáculo começar começaram a aparecer pessoas com dificuldades físicas, deficientes em cadeiras de rodas. Estas eram levadas imediatamente para a frente do palco, onde ficavam nos melhores lugares à frente de toda a gente ( cada  pessoa deficiente com uma pessoa a atender essa pessoa).

E depois quando começaram as danças  eu não pude conter a minha emoção ao ver pessoas  do meio da assistência a levantarem-se e irem  cantar e  "dançar" com estas pessoas deficientes (na maioria dos casos as pessoas deficientes nem se podiam levantar das cadeirinhas de rodas.) A alegria destas era visível no rosto de cada um. Num  certo momento em que eu "dançava" com uma delas,  sentada na sua cadeira,  uma jovem do lado porque estava momentaneamente só e  sem parceiro de dança, estendeu o seu braço a pedir para partilhar aquela dança connosco.

Não te vou dizer mais nada.  Só sei que tinha de compartilhar isto com os meus amigos.  Quem sabe podíamos fazer o mesmo em Portugal…

Um abraço e até breve.
João

[João Crisóstomo (ex-alf mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67, que vive hoje em Nova Iorque, e que tem dado a cara por causa nobres, sociais e culturais, que muito nos honram a todos nós, portugueses: Gravuras de Foz Côa, Timor-Leste, Aristides Sousa Mendes, etc.; tem cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue)]
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Nota do editor:

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15616: Ser solidário (193): A Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), distinguida com o Prémio Direitos Humanos 2015, "pelo seu papel notável de 41 anos de apoio aos ex-combatentes vítimas da guerra colonial"

Lisboa > Assembleia da República > Sala do Senado > 10 de dezembro de 2015 > José Arruda, Presidente da Direção Nacional da ADFA, recebe, das mãos do Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o Prémio Direitos Humanos 2015.

Lisboa > Assembleia da República > Sala do Senado > 10 de dezembro de 2015 > José Arruda, Presidente da Direção Nacional da ADFA, no uso da palavra,

Fotos: cortesia do  portal da ADFA


Notícia - Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA) distinguida com Prémio Direitos Humanos 2015

No passado dia 10 de dezembro, José Arruda, Presidente da Direção Nacional da ADFA, recebeu, das mãos do Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, o Prémio Direitos Humanos 2015.

O prémio foi entregue na Sala do Senado, na Assembleia da República – Palácio de São Bento, em Lisboa. No decurso da cerimónia comemorativa do Dia Nacional dos Direitos Humanos, José Arruda congratulou-se pela distinção, dizendo na ocasião que “os nossos 41 anos de experiência, na defesa de todos os deficientes militares e dos valores da Liberdade e da Cidadania, são desta forma reconhecidos”.

O galardão foi atribuído à ADFA pela Assembleia da República, por decisão do Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e sob proposta do Júri do Prémio Direitos Humanos, constituído no âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias,  "pelo seu papel notável de 41 anos de apoio aos ex-combatentes vítimas da Guerra Colonial".

O Prémio Direitos Humanos 2015 foi também atribuído ex-aequo à Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, "pela resposta que, em tempo real, ofereceu, logo no início da atual crise dos refugiados, aos jovens sírios".

O Prémio Direitos Humanos “destina-se a reconhecer e distinguir o alto mérito da atividade de organizações não-governamentais ou original de trabalho literário, histórico, científico, jornalístico, televisivo ou radiofónico, divulgados em Portugal entre 1 de julho do ano anterior e 30 de junho do ano da atribuição, que contribuam para a divulgação ou o respeito dos direitos humanos, ou ainda para a denúncia da sua violação, no País ou no exterior, da autoria individual ou coletiva de cidadãos portugueses ou estrangeiros”.

Fonte: Texto e fotos: adaptados do portal da ADFA, com a devida vénia,
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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15414: Fotos à procura de... uma legenda (65): Os que deram, não a vida, mas uma parte do seu corpo (um pé, uma perna, uma mão, um braço, ou os olhos) pela Pátria (José Maria Claro / Francisco Baptista)


Foto nº 1 B > HMP [Hospital Militar Principa],  Lisboa, c. 1969/70 > Cinco camaradas amputados por efeito de minas na guerra do ultramar / guerra colonial



Foto nº 1 A > Foto nº 1 C > HMP [Hospital Militar Principa],  Lisboa, c. 1969/70. O José Maria Claro é o segundo a contar da esquerda.


Foto nº 1 > No HMP [Hospital Militar Principa],  Lisboa > O José Maria Claro é o segundo a partir da esquerda.


 

Foto nº 2 > CCAÇ 2464, Biambe, 1969 > O José Maria Claro, na brincadeira, "com um camarada do rolo de peso", o cilindro manual que se usava na construção e manutenção dos arruamentos dos nossos aquartelamentos...


Foto nº 3 > CCAÇ 2464, Biambe, 1969. O José Maria Claro, cheio de energia, vida e otimismo, no campo de futebol (improvisado) do quartel, antes da maldita mina A/P o ter mandado para Lisboa, para o HMP... É hoje DFA. Recorde-se, por outro lado, que a ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas comemora este ano o seu 40º aniversário.


 Fotos (e legendas): © José Maria Claro (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]



1. O nosso grã tabanqueiro José Maria Claro foi soldado radiotelegrafista de engenharia, da CCAÇ 2464 / BCAÇ 2861, esteve em Biambe, setor de Bula, em 1969...

Foi curta a sua estadia no  TO da Guiné. Vitimado por uma mina antipessoal, que lhe causou a perda de um dos membros inferiores.  foi evacuado para a Metrópole, para o Hospital Militar Principa (HMP), em Lisboa. (*) 


.2. Comentário do nosso camarada Francisco Baptista [,ex-alf mil inf, CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]


Amigo e camarada José Maria Claro,  salta à vista a alegria com que te moves e te divertes, só tu ou com outros camaradas,  antes da maldita mina te ter roubado uma perna.

A tua última fotografia [, no HMP, em Lisboa,] depois de toda a sequência anterior,  é de um homem corajoso que não está disposto a desistir de viver seja qual for a contrariedade. O que nos ensinas é que a vida é um caminho a percorrer sejam quais forem as dificuldades do percurso.

O teu poste fotográfico diz mais do que mil palavras. (**)

Muita saúde e felicidades que bem mereces e muito obrigado pela lição de optimismo que me deste.

Um abraço. Francisco Baptista

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Notas do editor:


(*) 25 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15411: Memória dos lugares (323): Biambe em 1969, fotos de José Maria Claro, DFA, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCAÇ 2464


(**) Último poste da série > 8 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15220: Fotos à procura de... uma legenda (64): visita do gen Arnaldo Schulz e do brig Reimão Nogueira a Porto Gole, em fevereiro de 1967... O insólito: (i) duas caixas de cerveja (Cristal e Sagres) no banco traseiro do helicóptero; (ii) um comandante-chefe, de máquina fotográfica a tiracolo, com ar de turista...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14092: Convívios (647): A Tabanca de Bedanda na sede nacional da ADFA, em Lisboa, Av Padre Cruz, no passado dia 18, a convite do Fernando de Jesus Sousa, autor de "Quatro Rios e um Destino” (Chiado Editora, 2014)


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > Fernando Jesus e Beja Santos


 Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > Renato Vieira de Sousa (cor ref, antigo cmdt da CCAÇ 5), e o "Salazar" (alcunha do Eduardo Cesário Rodrigues, que também passou pela CCAÇ 6)


 Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  Beja Santos com os bedandenses João Martins e José Vermelho



Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  O Manuel Lema Santos e o Fernando de Jesus Sousa


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  O Rui Santos e o Carlos Jesus Pinto



Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  O Carlos Alberto de Jesus Pinto, nosso grã-tabanqueiro desde 12 de outubro de 2011  (foi 1.º  cabo condutor apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa, 1969/71;  nunca esteve em Bedanda,  mas foi "adotado" pelos bendandenses).




Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > Em primeiro plano, o reaparecido Joaquim Pinto Carvalho e o seu vizinho do Cadaval, o Belarmino Sardinha. Entrre os dois, em segundo plano o Carlos Alberto de Jesus Pinto.


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > O Joaquim Pinto Carvalho com o chapéu do saudoso Tony Teixeira (1948-2013)


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  o Rui Santos, o "nosso mais velho", foi quem se ofereceu para receber a massa do almoço, 7 euros por cabeça... Os galináceos, caseiros, criados pelo Fernando Jesus em Palmeira, foram oferecidos por ele,,,


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > O Beja Santos, o Luís Nabais (que já integrou em tempos os órgãos sociais da ADFA)  e, se a memória me não falha, o José Manuel Farinho Lopes, que integra  os atuais corpos sociais da ADFA como secretário do Conselho Fiscal Nacional


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. O pretexto foi um livro e uns galináceos, caseiros... O autor do livro e o criador dos galináceos é o nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (ex-1º cabo at inf, Bedanda, 1970/71, DFA).(*)

 Além dos camaradas que aparecem nas fotos, lembro-me ainda do Hugo Moura Ferreira, que chegou atrasado, bem como o João António Carapau (médico reformado).

Estiveram presentes no almoço o José Eduardo Gaspar Arruda, presidente da direcção nacional da ADFA,  e o Manuel Lopes Dias, 2º vice presidente da direção nacional, além da jornalista Isabel Tavares e de um repórter fotográfico do jornal "i" que estavam a fazer um reportagem sobre a ADFA e os seus 40 anos de existência. (**)

Eu e o Beja Santos fomos gentilmente convidados pelo Fernando de Jesus Sousa (que teve
referências elogiosas ao nosso blogue, de que ele, de resto, é membro efetivo).

Uma das ideias discutidas, durante o almoço, foi a possibilidade de utilização das excelentes instalações da  sede da ADFA para próximos convivios da malta da Guiné, em especial dos que vivem na região da Grande Lisboa e se sentam à sombra do poilão da Tabanca Grande.

Tive oportunidade de conhecer dois camaradas que são habitués da sede da ADFA,  o Luís Nabais e o Carmo Vicente.





Vídeo (2' 55''), alojado em You Tube > Luís Graça

Fernando de Jesus Sousa, no uso da palavra. O pretexto foi o lançamento, recente, do seu livro  “Quatro Rios e um Destino” (Lisboa, Chiado Editora, 2014).

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 12 de dezembro de  2014 > Guiné 63/74 - P14014: Convívios (646): Magusto do Combatente no Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, dia 29 de Novembro de 2014 (Armando Costa / Abel Santos / Carlos Vinhal)

(**) Vd. no jornal i "on line" > 25 de dezembro de 2014 > Deficientes de guerra. A realidade que alguns preferiam esconder, por Isabel Tavares

Alguns excertos (com a devida vénia):

(,,,) São 13 mil só na Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA). E não estão lá todos. Estima-se que tenham ficado 30 mil feridos em combate. E mais 40 a 50 mil homens afectados por stresse de guerra. Tantas décadas depois continuam a chegar à instituição processos e pedidos de ajuda para qualificar combatentes da guerra colonial como deficientes das Forças Armadas. Gente à procura de uma pensão, de uma vida mais digna, se não para si, pelo menos para os seus. O Estado atrasa-se na qualificação e as indemnizações materiais teimam em não chegar. (...).

(...) Na ADFA quase todos são voluntários. Mas mais nunca é de mais e aqui é fácil entender porquê. Embora a maioria tenha aprendido a ser tão autónoma quanto possível, há coisas que um cego ou um tetraplégico não conseguem fazer, como cortar um bife, levantar uma colher, um garfo ou uma chávena de café "com cheirinho". São gente que aprendeu a depender da boa vontade dos outros. (...)


(...) No entanto, continuam a existir realidades que ultrapassam a ficção. As próteses dos deficientes militares, grande parte pernas e olhos, são compradas através da central de compras públicas do Estado. Ou seja, uma perna ou um olho, que qualquer técnico acredita que deveriam ser tratados como uma impressão digital, exigem o lançamento de um concurso público. Das três casas candidatas, ganha a que oferecer o preço mais baixo. Já houve resultados desastrosos. Um militar recebeu um olho tamanho standard, metido à força dentro da órbita. A operação valeu-lhe uma valente infecção e um internamento que só por sorte não teve consequências mais graves. Mas não foi caso único.


Outro militar contou que está à espera de uma perna há mais de um ano. As próteses, que podem custar, em média, 7 mil euros, têm de ser trocadas de dois em dois anos e muitas vezes têm de ser afinadas. Este engenheiro de 75 anos não quis ser identificado porque há amigos e familiares que até hoje não sabem que não tem um dos membros inferiores. Foi sempre seguido pela mesma casa, porque se trata de um processo "um bocadinho cirúrgico". No seu caso, um desgaste de cinco milímetros estava a provocar-lhe graves problemas de coluna e também na perna boa. Acontece além disso que a prótese que está a usar era a mais barata do concurso e não a feita na casa que sempre o seguiu e já conhece o seu corpo de cor. "Isto não é a mesma coisa que comprar arroz e batatas", diz. As consequências não se fizeram esperar: dores agudas e coxear como nunca.

Este problema ainda não está completamente sanado e é apenas um dos que o ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, se comprometeu a resolver definitivamente. Outro tem a ver com a requalificação do estatuto de deficiente das Forças Armadas, nomeadamente naquilo que são os afectados pelo stresse pós-traumático. "Os afectados pelo stresse pós-traumático ficaram esquecidos, mas a verdade é que eclodiu na nossa cabeça algo muito estranho", diz José Arruda. Este algo muito estranho pode levar à depressão e pode levar a matar. Ou apenas a discussões que fazem voar próteses e impropérios até à chegada da GNR, como aconteceu há uns anos na sede da ADFA. Mas nessa altura eram todos bons rapazes. (...)

(...) E o calvário continua, num tempo que devia, mais que nunca, ser de afecto. Não os deixaram ser miúdos e "agora vamos mais a funerais". No tempo que sobra é preciso ir a juntas médicas, procurar testemunhas do tempo da guerra, fazer requisições para o Ministério da Defesa, ir a médicos, psicólogos, psiquiatras, advogados, Segurança Social. Como no campo de batalha, cada um encontra a sua estratégia de sobrevivência. José Arruda, cego, amputado, corre com a sua personal trainer e, diz quem já viu, ninguém o apanha. Corre porquê? "Corro para ter alento."