domingo, 12 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22803: A nossa guerra em números (10): o Movimento Nacional Feminino tinha um orçamento ordinário de 10 mil contos (cerca de 2 milhões de euros, a preços de hoje) e uma gestão pouco profissionalizada, retirando-lhe credibilidade e apoios da sociedade civil


Capa do livro de Sílvia Espírito-Santo, “Cecília Supico Pinto: o rosto do movimento nacional feminino”. Lisboa: A Esfera do Livro, 2008, 222 pp. 


1. A propósito do MNF - Movimento Nacional Feminino, criado em abril de 1961, alguns leitores perguntarão como era possível fazer uma edição de 300 mil discos (LP, em vinil) no Natal de 1973 (*) e distribuí-los pelos 149 mil efectivos militares (metropolitanos e do recrutamento local) que existiam nos três teatros de operações, Angola, Guiné e Moçambique ? (**)

Segundo o livro do ten cor Pedro Marquês de Sousa, "Os números da Guerra de África" (Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021), o MNF contava com a colaboração, voluntária, de "cerca de 80 mil mulheres" (pág. 319), distribuídas pelas suas estruturas na Metrópole e no Ultramar. E tinha um pequeno "staff" de apoio.

O número de "madrinhas de guerra", por seu turno,  era estimado em mais de 162 mil, mas em 1965 (, já com três frentes de guerra) esse número ainda era diminuto (cerca de 24 mil). Parece que não foi fácil "recrutar" madrinhas de guerra...

Estes números não podem hoje ser confirmadados dado que o arquivo do MNF, entregue em 1974 à guarda da Liga dos Combatentes, "desapareceu", pura e simplesmente (!)... 

By the way, a quem pode interessar a eventual destruição de documentação de interesse historiográfica ? Alguém com "culpas no cartório" ?...Alguém que queira "reescrever a história" ?... O jornalista Martinho Simões, colaborador próximo de Cecília Supico Pinto, acusou a 5ª Divisão e o coronel Varela Gomes de destruição do espólio do MNF...  Varela Gomes, por sua vez, em entrevista telefónica dada, em 2006, à Sílvia-Espírito-Santo diz que encontrou o espaço já todo vandalizado. (Vd. Sílvia Espírito-Santo, “Cecília Supico Pinto: o rosto do movimento nacional feminino”. Lisboa: A Esfera do Livro, 2008, pág. 196).

Recorde-se, por outro lado,  que os aerogramas eram de distribuição gratuita para os militares mas os civis (famílias, amigos, etc.) tinham de comprar o impresso (que custava 20 centavos em 1961, o equivalente a 9 cêntimos a preços de hoje). Ao longo da guerra, a despesa média anual em aerogramas, da parte das famílias, seria da ordem dos 2 mil contos (tomando como referência o ano de 1965, equivaleria, a preços de hoje, a um montante da ordem dos 786 mil euros).

Durante a guerra, foram impressos mais de 300 milhões de aerogramas, 14% até 1967, e os restantes 86% entre 1968 e 1974 (pág. 319). Seria interessante perceber a razão de ser deste aumento exponencial a partir de 1968.

Para além da TAP (que fazia o transporte gratuito dos aerogramas), houve uma série de entidades da sociedade civil, nomeadamente emprresas,  que contribuiram, inicialmente,com apoios financeiros para o MNF suportar os custos da emissão dos aerogramas:

  • Banco de Angola
  • Estaleiros Navais de Viana do Castelo
  • José Manuel Bordalo
  • Lusitânia
  • Companhia Portuguesa de Pesca
  • Manuel Rodrigues Lago
  • SACOR
  • Cidla
  • Companhia Colonial de Navegação
  • Sociedade Central de Cervejas
  • Banco Borges & Irmão
  • Sociedade Concecionária da Doca de Pesca
Mas o MNF também fazia peditórios de rua, espectáculos, etc. Com base em dados divulgados na RTP  pelo MNF, em 1971, por ocasião do seu 10º aniversário, a organização da Cecília Supico Pinto teria, em 10 anos:

  • dado a apoio a  mais de 169,2 milhares de famílias carenciadas (doação de vestuário...);
  • colaborado na colocação no mercado de trabalho de cerca de 70 mil ex-militares;
  • realizado 170 mil visitas a hospitais miliatres;
  • enviado mais de 8 milhões de lembranças (jogos, baralhos de cartas, tabaco...);
  • encaminhado mais de 178 mil encomendas das famílias para os seus militares (pagava-se 5 escudos por cada encomenda até 5 kg) (em 1971 era equivalente hoje a 1,33 euros).(pp. 319/320)
 
A investigadora Sílvia Espírito-Santo, no seu livro "Cecília Supico Pinto: o rosto do Movimento Nacional Feminino" (Lisboa, A Esfera do Livro, 2008, pág. 87), publica uma cópia do resuno do "orçamento ordinário" para o ano de 1974:

Receita
  • Disponível: 9.948.257$00
  • Realizável a longo prazo: 51.743$00
  • Total: 10.000.000$00

Despesa
  • Encargos fixos: 5.298.000$00
  • Encargos previstos: 4702.000$00
  • Total: 10 000.000$00

Julgamos que estes dez mil contos, de receita ordinária, eram provenientes de subsídios do Ministério da Defesa Nacional e do Ministério do Interior, as duas principais fontes de financiamento.  Em 1973 representavam, a preços de hoje, 2.112.049,60 €. Um ano depois, e com a brutal depreciação dos preços, valeriam menos cerca de 440 mil euros, ou sejam,  1.673.722,97 €.

Mas no fim do resumo do "orçamento ordinário"  vem uma "nota muito importante":

"A fim de manter as dotações normais de aerogramas oferecidos aos militares (32.000.000),considerando o agravamento de custos eos níveis a manter, torna-se absolutamento necessário reforçar a verba destinada aos aerogramas num montante de 1.200.000$00 anuais, o que não está incluído no presente orçamento" (pág. 87).

2. A gestão do MNF era pouco profissional, como documenta, no seu livro, a  Sílvia Espírito-Santo, crítica a que se somavam outras, retirando à organização credibilidade e apoios da sociedade civil:

 (...) O  desactualizado registo clerical e beato, a evidente influªencia das cúpulas do MNF nos meios políticos e militares e o uso indevido dessa influência, como base de favorecimentos e clientelismos - uma prática enraizada socialmemte que trabsportaram para dentro da organização -, a defesa pública da guerra e a 'colagem' à política  do governo, foram-na  desacreditando e dando azo a um reputação de pouca seriedade" (...).

Em todo o caso, é bom recordar que a atividade do MNF incluia ainda a publicação de várias revistas periódicas, a edição do disco de Natal (1971 e 1973) (com uma tiragem total de 600 mil cópias), incuindo um estúdio privativo de gravação e transmissão, responsável pelo programa de rádio "Espaço" (pág. 138). 

E, facto menos conhecido dos nossos leitores, "em maio de 1973, a sala de gravações do estúdio e uma parte da sede do MNF [, na Rua das Janelas Verdes, ] foram danificadas por uma explosão ocorrida durante a madrugada".

Para a Cilinha, ter-se-á tratado, sem sombra para dúvidas, de um "atentado" (, versão que a censura não deixou publicar nos jornais)... Para as autoridades da época, não passou de um simples acidente com um botija de gás propano mal fechada... (pp-140/141).
____________

23 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Gostava que aparecesse aqui mais alguém (temos um ou outro apontamento) que desse testemunho de alguma acção meritória do Movimento Nacional Feminino na Guiné:

(i) visitaram-me no hospital;
(ii) deram conforto (ou algum tipo de ajuda material) à minha família;
(iii) fiquei sensibilizado com o disco de Natal;
(iv) conheci pessoalmente (e fiquei encontado) com a Cilinha e/ou outras senhoras do MNF;
(v) lembro-me das suas revistas e programas radiofónicos;
(vi) ajudaram-me a procurar emprego depois da "peluda", etc.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caros amigos e camaradas, o guião de questões listado pela investigadora Sílvia Espírito-Santo pode servir para eventuais testemunhos pessoais sobre o MNF... Vd. aqui:


3 DE ABRIL DE 2021
Guiné 61/74 - P22062: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (84): Pedido de colaboração aos nossos leitores para resposta a algumas questões sobre o Movimento Nacional Feminino ( Sílvia Espírito-Santo, doutoranda pela Universidade do Minho, biógrafa de Cecília Supico Pinto)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/04/guine-6174-p22062-o-nosso-blogue-como.html

De resto, gostávamos de poder publicar, no blogue, eventuais respostas às questões da investigadora:


(i) anos em que o militar fez a comissão de serviço, teatro de operações e local(ais) por onde andou;
(ii) idade e zona de origem do militar;
(iii) se teve algun contacto directo com o MNF, quer com as "senhoras" do Movimento, quer com a presidente da Organização, Cecília Supico Pinto, e em que consistiu;
se durante a comissão, a unidade ou subunidade a que pertencia, foi visitada por alguma pessoa da Organização;
(iv) se sim, como encarou essas visitas e qual o seu efeito no seu ânimo e no ânimos dos seus camaradas:
(v) o que sabia na época, do Movimento e das frentes em que este actuava nas colónias e na metrópole;
(vi) alguma vez se dirigiu directamente ao MNF para pedir alguma coisa e qual a resposta;
(vii) o que pensava nessa altura sobre o Movimento e a sua líder...

Valdemar Silva disse...

Posso testemunhar haver no sector Grupo Desportivo-Acção Social da empresa em que trabalhava,
uma caixa (estilo caixa de correio rural) do MNF para se meter maços de cigarros.
Não tenho a certeza, mas julgo que nunca houve maços de cigarros na caixa para entregar.
(ou se houvesse alguém invertendo a caixa os tirava).

Abraços e saúde
Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Não creio que o MNF alguma vez tivesse contado com a colaboração, voluntária, de "cerca de 80 mil mulheres", mesmo distribuídas pelas suas estruturas na Metrópole e no Ultramar. Na Guiné (por exemplo) a estrutura era incipiente. Quem não concorda comigo? Na Amadora onde eu vivia nunca dei por acções do "Movimento" e que entre as mulheres ele tivesse qualquer aceitação especial.

As "madrinhas de guerra" nada tinham ver com o MNF. Eram um "movimento inorgânico" (como hoje diríamos) e que se obtinham através de revistas ou de conhecimentos, vizinhança ou parentesco. Os camaradas que tiveram madrinha de guerra, poderão dizer quantas foram "recrutadas" com auxílio do movimento.

Os aerogramas eram de distribuição gratuita para os militares. Admito que os civis (famílias, amigos, etc.) tivessem de comprar o impresso e que o preço fossem os tais dois tostões, mas não creio que houvesse daí qualquer tentativa de cobertura da despesa de impressão/distribuição feita. Volto a referir que, se o MNF não existisse, a distribuição de aerogramas por outras era perfeitamente possível. Logo o MNF não pode ser considerado como algo que, se não existisse seria uma perda enorme.
Seria realmente interessante perceber a razão de ser do aumento exponencial de impressão e distribuição de aerogramas a partir de 1968. Será um fenómeno sociológico? Lembro que tive uma pen-friend que me escrevia da Suécia em aerogramas, mas cá, com o fim da guerra, acabou esse tipo de correspondência.

Era natural que a TAP fizesse o transporte gratuito dos aerogramas. Era a transportadora nacional e seria uma das suas forma de apoiar a feitura da guerra. Não podia eximir-se a tal. É óbvio que algumas grandes empresas, que contribuíam, com apoios financeiros (para o MNF) suportar os custos da emissão dos aerogramas, claro que a troco de algo. Ninguém dá nada a ninguém...

O MNF também fazia peditórios de rua, espectáculos, etc. Não sabemos com que resultados e o TCor. Marquês de Sousa não terá elementos sobre esta matéria.
Tenho dúvidas sobre o apoio do MNF a mais de 169,2 milhares de famílias carenciadas (doação de vestuário...); Nunca tal ouvi, mas os camaradas que disso tiveram conhecimento poderiam dizer algo sobre este assunto.
Inicialmente ,o MNF terá tentado colaborar na colocação no mercado de trabalho de militares desmobilizados, mas cerca de 70 mil ex-militares... mesmo em 13 anos de guerra parece-me demasiado. O mercado de trabalho não se compadecia com estes procedimentos. No fundo, era constituir-se como uma "bolsa de emprego" que não me consta que alguma vez tenha funcionado.
Já as visitas a hospitais militares eram relativamente frequentes, mas 170 mil visitas!...
Acredito no envio de mais de 8 milhões de lembranças (jogos, baralhos de cartas, tabaco, navalhas, isqueiros...); durante 13 anos, mas não me parece que, por parte dos destinatários pudesse haver boa recepção.
Admito também o envio de mais de 178 mil encomendas (por via marítima) das famílias para os militares, o que normalmente demorava cerca de um mês.
Seria bom fazer-se uma auscultação ao pessoal do blog para que pronunciasse sobre estas actuações do MNF.

Um Ab.
António J. P. Costa

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Do título deste P22803, dedicado ao MNF, extrai-se o remate: «retirando-lhe credibilidade e apoios da sociedade civil.»
Será que o MNF careceu de "credibilidade e apoios" da (modernamente) catalogada "sociedade civil"?!
Tal tratar-se-á, muito provavelmente, de opinião, pessoal, de Silvia Espírito Santo, cuja 'tese' é acompanhada pelo responsável editorial por este 'post'.
No entanto, seria interessante saber em que factos/documentos está consubstanciada aquela afirmação.

Valdemar Silva disse...

As madrinhas de guerra, julgo que a ideia começou com as costureiras do Casão, começando por meter bilhetinhos nos bolsos dos camuflados.

Valdemar Queiroz

AE disse...

10 mil contos (10.000.000$00) não são 2 milhões de euros.
Se a minha calculadora não está avariada, são 50 mil euros.

AE disse...

E a minha calculadora continua a discordar.
1 cêntimo actual, são 2 escudos (considerando 1 euro = 200 escudos)

No texto diz-se "que custava 20 centavos em 1961, o equivalente a 9 cêntimos a preços de hoje"

Ora, por estas minhas contas, 9 cêntimos de hoje, equivalem a 18 escudos e não 20 centavos

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Anónimo leitor AE:

Veja aquio conversor da Pordata - Base de Dados Portugal Contemporâneoa, da Fundação Manuel dos Santos

50 escudos de 1960... quanto valeriam hoje?
Utilize este conversor para conhecer o valor de um montante (em euros ou em escudos) dos últimos 61 anos, a preços de hoje.

https://www.pordata.pt/Portugal

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ver também o INE - Instituto Nacional de Estatística

https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ipc

Atualização de Valores com Base no IPC -

Este serviço permite a atualização de um valor entre dois momentos, com base nas taxas de variação do Índice de Preços no Consumidor.

Podem ser inseridos valores em euros ou em escudos, em função do interesse do utilizador. O resultado será apresentado em euros. Os períodos para os quais podem atualizar-se valores dependem dos dados disponíveis para o âmbito selecionado (1).

Podem ser selecionados dois tipos de atualização de valores:

- Entre meses (por exemplo: cálculo de uma atualização de valor entre maio de 2006 e junho de 2020);

- Entre anos (por exemplo: cálculo de uma atualização de valor entre 2006 e 2020).

A solução que se apresenta é simples e intuitiva, veja aqui como utilizar Nota Explicativa IPC

(1) Desde Janeiro de 1948 para os dados mensais; desde 1948 para os dados anuais.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não sei se o subsídio estatal ao MNF foio sempre o mesmo alongo dos 13 anos de guerra...

De qualquer modo, 10 mil contos em 1961 equivaleriam, a preços de hoje (, sublinha-se HOJE!), a 4.445.637,83 €... Em 1965 seriam 3.930.758,29 € e em 1970 vakeriam 2.944.214,32 €... E em 1975 o equivalente 1.427.475,87 €... Mas o MNF já não chegou a 1975...

Há uma coisa que se chama "desvalorização da moeda" (ou "depreciação"), e que é preciso ter em conta quando se faz a conversão de valores pecuniários ao longo do tempo... Para isso é preciso ter uma base de dados com o Índice dos Preços ao Consumidor...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Que fique claro: quando falamos aqui do MNF e da sua líder histórica, devemos ter em linha de conta que há camaradas nossos que tiveram familiares próximos (mães, irmãs, etc.) a colaborar nesta organização. Temos de saber respeitar os sentimentos desses nossos camaradas que, por certo, terão uma visão diferente da nossa ou de alguns de nós que aqui escrevem e comentam.

Declaração de interesses: não tenho qualquer relação com a Sílvia Espírito-Santos que, aliás, nem sequer conheço pessoalmente. Temos trocado mails. E tenho o seu livro sobre a Cilinha. O nosso blogue, enquanto fonte de informação e conhecimento, está a disposição dos investigadores qualquer que seja a sua "filiação" institucional (universidade pública ou privada, nacional ou estrangeira).

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Oh! Valdemar, essa das costureirinhas do Casão Militar deixarem bilhetinhos com as suas moradas nos bolsos dos camuflados que seguiam para África, é de antologia!!!

Não pude deixar de sorrir perante a imaginação das raparigas (que só podiam ser solteiras... não estou a ver as casadas a receber todas as semanas dezenas de aerogramas dos seus afilhados de guerra).

Olha, eu tive azar, não me calhou nenhum bilhetinho desses. O que pode explicar o facto, algo anómalo, de nunca ter escrito nenhum aerograma dos 300 milhões.

Na realidade, nunca fui utente do MNF, nem um cigarrinho fumei à pala da patriótica organização. "Tecnicamente" não sou elegível para dizer bem ou mal do MNF.

Boa continuação das festas na tua..."prisão". Quando chegam os holandeses que te vão "libertar" ?^

Valdemar Silva disse...

Luís, essa dos bilhetinhos era muito utilizada.
A mim também não me tocou nenhum pedido de 'gostava ser tua, tua não, naquele tempo o tua era confiança a mais, sua madrinha....'
Bem, espero ser libertado pelos dutchs no dia 22 e espero estar com "alta vigiada" para poder deslocar-me para Colares.
Enviei o mail sobre o Natal 'não me lembro', em Canquelifá, se achares interessante publica no blogue.
Aí na tabanca de Candoz é que deve estar um belo ambiente natalício. Não deve faltar lareira acesa com velhos tocos serenos a alimentar as achas para aquecer a casa, e o verde tinto, que também é vinho, a acompanhar batatas miúdas assadas no braseiro.

Abraço e continuação de melhores do ministro
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Se não fossem os aerogramas, eu só teria podido escrever à minha família uma vez durante um ano. A estação dos correios mais próxima ficava a cem quilómetros de distância, na vila de Quibaxe, e só lá é que eu podia comprar selos. Fui a Quibaxe uma única vez.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, obrigado pela tua "prendinha de Natal"... Foi recebida com muito carinho e alegria, e vai sair esta semana...

Irei a Candoz, mas não será na noite de Natal... Como é habitual, passo a Consoada na Madalena, Vila Nova de Gaia... há 45 anos. Depois replicamos em Candoz..., mas este ano a mobilidade do pessoal anda mais reduzida... Pelo menos a minha... Vamos lá ver o que diz o meu cirurgião no dia 22... Estou ansioso por ouvir a "sentença" (que espero seja favorável ao "doente"...).

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Já falei deste assunto noutro post cujo número não recordo, mas que deve andar por aí. Podíamos fazer uma experiência e perguntar aos diferentes colaboradores do blog se nas respectivas companhias sentiam regularmente ou alguma vez sentiram a acção do MNF e de que maneira. Teremos de excluir os aerogramas que não passavam de impressos que o SPM processava (e bem) e que a TAP transportava gratuitamente, numa medida da mais elementar justiça, especialmente se tivermos em conta que os militares que estavam no Ultramar estavam numa tarefa altamente patriótica (como então se dizia).
As empresas e outras entidades que eventualmente os subsidiavam, além de não empatarem elevadas somas (cada aerograma ficava a dois tostões) que, mesmo nessa altura, era uma quantia irrisória. As empresas seriam recompensadas, certamente, porém "em género", isto é, em facilidades que não deixam rasto e seriam mesmo naquele tempo imperceptíveis.
Vamos considerar apenas as "prendas", no embarque e no Natal, e as "encomendas" que demoravam um "tempão" a chegar aos seus destinos. E às vezes em más condições ao fim de dias e dias de mar.
Quanto à madrinhas de guerra, esqueçam. Era o que faltava uma organização conservadora e católico-patriótica dedicar-se a tal actividade.
Há que dizer que o MNF começou em apoio da guerra, como habitualmente sucede, mas ao longo da dela a sua acção foi-se amortecendo e hoje podemos dizer que o MNF era uma organização de uma mulher só e o "regime" e as FA já não sabiam o que fazer com ela...
O livro é um documento para a História a ser tido em conta, mas com cuidado. Parece-me demasiado laudatório...

Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Banco de Angola Estaleiros Navais de Viana do Castelo; José Manuel Bordalo; Lusitânia
Companhia Portuguesa de Pesca; Manuel Rodrigues Lago; SACOR/Cidla; Companhia Colonial de Navegação; Sociedade Central de Cervejas; Banco Borges & Irmão Sociedade Concessionária da Doca de Pesca; se estas eram as entidades que subvencionavam o MNF, fica provado o que digo atrás. Volto a repetir que, se o preço de cada aerograma eram dois tostões temos que concluir que se tratava de uma quantia que qualquer delas suportava, sem dificuldade.

Um Ab.
António J. P. Costa

António J. P. Costa disse...

Olá outra vez!

Efectivamente, a actividade do MNF incluía ainda a publicação de várias(?) revistas periódicas? Só conheci uma que se chamava "Movimento" e que tinha uma emissão irregular e difusão muito restrita. Fico admirado com a edição do disco de Natal (1971 e 1973(?)) (com uma tiragem total de 600 mil cópias!!!) na edição de 1973 eu já estava na "metrópole", mas não dei por uma difusão substancial. Os camaradas do blog que andavam, nessa altura, pela Guiné (Melhor!) poderão confirmar esta emissão. Admito a existência do tal "estúdio privativo de gravação" e transmissão, responsável pelo programa de rádio "Espaço" que nunca ouvi entre 1971-73, já que, em 1968, não existia.


Desconhecia que, "em maio de 1973", a sala de gravações do estúdio e uma parte da sede do MNF [na Rua das Janelas Verdes] tivessem sido danificados por uma explosão ocorrida durante a madrugada. Se não foi a PIDE para criar granel, penso que a PJ ou a Torre do Tombo deverão ter elementos sobre esta matéria.

Acredito que censura não tenha deixado publicar nos jornais a notícia do "atentado". Quem poderia ter feito uma coisa tão imperfeita e numa instalação tão mal defendida. Não era necessário ser um grande sabotador para obter um resultado visível e que não se podia disfarçar. Para as autoridades da época era necessário "secar" o MNF que não servia para nada e que não fazia mais do que pôr-se em bicos-de-pés, procurando mostrar serviço

Um Ab.
António J. P. Costa

JB disse...

Alguns comentários criam,voluntária ou involuntariamente,dialécticas de dinâmicas bem diversificadas.

Um comentador refere a “modernamente catalogada sociedade civil “.
Fica-se na preocupante dúvida se no período anterior ao referido “modernamente” todos os portugueses viviam em casernas enquanto marcavam passo de cara ao Sol.

Outro comentador refere como possíveis fontes de informação ,quanto às brincadeiras com petardos e bombas efectuadas em mais de duas décadas,a P.J. ou a Torre do Tombo.
E,lá surge o velho e muito saudável ditado…….”Quem sabe não fala.Quem fala não sabe!”

Respeitosamente
J.Belo

António J. P. Costa disse...

Camarada Belo

As investigações começam assim mesmo. Se a explosão na sede do MNF se deu em MAI73 estamos circunscritos a um mês. A PJ tem um arquivo enorme com as suas investigações e, não tendo esta chegado tribunal, o mais possível é que haja material explorável, em arquivo. A título de exemplo e só isso, lembro o crime da Praia do Guincho em que a PIDE chegou demasiado tarde por que se supunha não haver matéria política no assunto, mas um simples "crime de sangue". É por isso que o caso "caiu no domínio público". Se a PIDE se apoderou do caso MNF, deverá ter feito as suas "investigações" com forte tempero político e ocultação de tudo o que fosse comprometedor para o "Regime". Este género de documentos estará provavelmente na TT e foi certamente investigado pelos rapazes da António Maria Cardoso. É uma questão de se tentar com afinco e com cuidado.

Um Ab.
António J. P. Costa

JB disse...

Caro Camarada P.Costa.

Curiosamente ,a maioria da documentação relacionada com bombas de consequências razoáveis,o que não seria certamente o petardo no MNF,desapareceu da sede da polícia política aquando da ocupação da mesma no imediato ao 25 de Abril.
Generalidades sobre os angares de Alverca,retransmissoras da NATO,e navio afundado,etc,etc,foi documentação que “sobreviveu”
mas….em formato muito superficial.
Não creio terem sido transferidas para a Torre do Tombo ou para outros arquivos oficiais.
Muito terá a ver com a então tão popular música quanto à….gaivota que voava,voava….

Mas quanto ao tenebroso e sangrento petardo no MNF, certamente que tudo terá ficado esclarecido no encontro seguinte de chá,torradas e Canastra.

Um abraço do J.Belo

António J. P. Costa disse...

Camarada Belo

A coisa "vareia".
Investiguei a morte do Brigadeiro Themudo Vera ocorrida entre Cabo Verde e Lisboa, a bordo de um navio que vinha de S. Tomé. A documentação encontra-se no Museu/Arquivo da PJ porque o caso não chegou ao tribunal. Estranho: o desaparecimento de um passageiro a bordo de um navio em alto-mar...
São 4 volumes em que o regime não sai propriamente bem visto. O Brigadeiro tinha ido a S. Tomé à ordem do Ministro das Colónias (Marcelo Caetano) auditar as roças do Banco Nacional Ultramarino que davam sistematicamente prejuízo, enquanto as "privadas" davam lucro.
É evidente que muita coisa desapareceu, mas, às vezes, pode acontecer que...

Um Ab.
António J. P. Costa
PS: aquela do MêNêFê ter ido entregar a sua documentação à Liga faz-me "saltar a tampa". É uma lócura!