1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Junho de 2018:
Queridos amigos,
Albi provoca sensações ambivalentes. Por aqui andaram os albigenses em desavença com católicos, S. Domingos morreu-lhes numa cruzada, cometeram-se massacres abomináveis para pôr termo ao catarismo; e a cidade episcopal, hoje Património Mundial da Unesco, é uma verdadeira emoção, pela sua catedral, pelo seu conjunto urbano, pelo palácio do Arcebispo onde está uma coleção espantosa, centenas de obras de Toulouse-Lautrec, mas ainda há muito mais para ver, em jardins e pontes, o casco histórico, o bairro cultural des Cordeliers.
Quem vai a Albi, é inevitável, quer voltar.
Um abraço do
Mário
Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (2)
Beja Santos
O viandante vai no seu segundo dia na Occitânia, a jornada será totalmente dedicada a Albi, a cidade episcopal a quem a Unesco, em 2010, reconheceu valor universal, inscrevendo-a na lista do Património Mundial da Humanidade na categoria de bens culturais. Devido à greve dos comboios, chegou-se a Albi de autocarro, foi farta a caminhada até a cidade se assomar e é imponente, olhando-a a esta distância até se esquece que aqui se viveram horrores devido a uma guerra religiosa, gente de todas as idades cortada à espada ou atirada à fogueira por causa de uma interpretação teológica.
Porque a cidade é uma formosura, no seu gigantismo impõe-se a Catedral de Santa Cecília, aqui é obrigatório visitar aquele que será porventura o mais belo fresco do século XV, O Julgamento Final, as abóbodas e os seus frescos são extraordinários, encerra tesouros de um enorme valor; mas há outro palácio, foi a residência do Arcebispo onde está um museu de fama mundial, no Palais de La Berbie está uma coleção única de obras do pintor de Albi, Toulouse-Lautrec; mas temos também a colegiada de Saint-Salvi e o seu claustro de uma beleza incomparável, a cidade não se fica por aqui, tem jardins e pontes e um casco histórico como preciosidades a não perder.
Tal como Toulouse, há por aqui muito tijolo róseo, o importante a dizer é que quando o viandante aqui entrou e avistou este fresco desandou-se-lhe o coração, a alma flutuou. Esta catedral demorou dois séculos a construir, ver-se-á em imagens à frente como é tocante a perfeita simplicidade da sua única nave bordejada de capelas do gótico meridional que conseguem criar descrição para a decoração flamejante. Diz o Guia Michelin que o alucinante Julgamento Final é uma das grandes obras-primas da pintura mural do fim do século XV. E diz mais, que está infelizmente desfigurado e amputado da sua parte central para permitir a instalação de um grande órgão, no século XVII. Não obstante, impõe-se estarmos ali, em aturdimento admirando aquela Corte Celestial, os apóstolos nimbados de ouro, os santos e os eleitos nessa Corte Celestial, e vemos à direita os reprovados e punidos pelos seus pecados. É esmagador.
A catedral é uma obra-prima do gótico meridional, é arte “militante” concebida contra a heresia cátara, pretende afirmar o poderio e o vigor das convicções do catolicismo. No exterior é um castelo-forte, no interior mistura-se a decoração palaciana e a exuberância dos frescos. Estas imagens não podem mostrar mas há mais de 18.500 metros quadrados de superfície pintada.
Quem acreditaria que a maior catedral de tijolo do mundo, uma arquitetura profundamente original, um exterior rigoroso e austero, abriga esta decoração com perto de dois hectares, uma inestimável obra-prima da pintura monumental. O viajante tem tudo a ganhar se visitar umas horas, ir espairecer depois, conhecer o casco histórico, e vir seguidamente, para olhar sem pressas o coro com a sua estatuária prodigiosa, a harmonia da balaustrada, contemplar o órgão e ir às salas do tesouro. Santa Cecília é a única catedral francesa que conservou integralmente o seu coro, o seu fecho suporta 150 estátuas. No século XIX, a catedral beneficiou de uma intervenção de grande qualidade e houve restauros que se prolongaram até 2016. Daí a vivacidade deste colorido, daí esta luminosidade ímpar.
O viandante sabe que há mais mundo fora desta Catedral de Santa Cecília, virá mais tarde, são horas de almoço, está indeciso sobre qual das especialidades da região vai almoçar: a feijoada do Languedoc, a salsicha com puré de batata coberto de queijo, as tripas à moda de Albi? A escolha recaiu sobre a salsicha com puré de batata, uma primorosa salada e um pouco de patê com vinho rosé. Daqui a um bocado há de voltar, quer ver os tesouros, ficar mais tempo especado diante do fresco do Julgamento Final, e prometeu a si mesmo que não sairá de Albi sem ver as mais de 200 obras de Toulouse-Lautrec. Cá fora, colhem-se alguns pormenores, este inesperado elemento estatuário e o baldaquino que avança sobre a Praça de Santa Cecília.
Até muito breve.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de1 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18970: Os nossos seres, saberes e lazeres (282): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (1) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 8 de setembro de 2018
Guiné 61/74 - P18995: Parabéns a você (1495): Alberto Grácio, ex-Alf Mil Op Esp do BCAÇ 4615/73 (Guiné, 1973/74) e Carlos Alberto Fraga, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de Setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18985: Parabéns a você (1494): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Guiné, 1968/70)
sexta-feira, 7 de setembro de 2018
Guiné 61/74 - P18994: Convívios (873): Tabanca de Matosinhos, 4ª feira, dia 5, com 35 camaradas e amigos/as: Joaquim Peixoto (1949-2018), presente ! (Parte II)
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > O régulo da Tabanca, Eduardo Moutinho dos Santos, falando do homenageado e da sua história de vida... No final, deixou uma garrafa de aguardente bagaceira, envelhecida, que o Joaquim lhe oferecera em tempos, produto da sua Tabanca de Guilamilo. Pelo Bando do Café Progresso, falaria ainda o José Ferreira e, pela Tabanca Grande, o nosso editor Luís Graça. O Joaquim pertenceu a estas três tertúlias, tendo frequentado ainda a Tabanca dos Melros (Gondomar). Em boa verdade, teríamos que lembrar ainda aqui a Tabanaca de Guilamilo, de que era o régulo, bem como a Tabanca da Sra. da Graça (Santa Marta de Penaguião), onde pontifica a matriarca Luísa Valente Lopes. Sem esquecer a Tabanca de Candoz, onde ele foi, com a Margarida, um ou duas vezes...
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Margarida Peixoto e Luísa Valente Lopes, mulher do nosso poeta e vitivinicultor José Manuel Lopes (Josema), que no final ofereceu um poema seu para a Margarida ler em voz alta: "Recuso dizer uma oração ao deus que te abandonou" (*)...
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >A esposa do Brito da Silva (ex.fur mil, CCAÇ 3414, Sare Bacar e Bafatá, 1971/73) e a Joaquina Carmelita, esposa do Manuel Carmelita, dois casais muito amigos do casal Peixoto,
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Foto de grupo, da direita para a esquerda, de pé: Maria Alice Carneiro, Maria Cancela, Margarida Peixoto, Luísa Valente Lopes, Manuela Teixeira e a jovem Andreia (que completou 13 anos nesse dia, e a quem todos cantámos os parabéns a você); sentadas, a esposa do Brito da Silva e a Joaquina Carmelita.
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Outra foto de grupo.
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > A Margarida saudando a jovem Andreia
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > O professor e a aluna: o capitão cavaleiro Leite Rodrigues, que tem uma escola de equitação em Leça da Palmeira (e que esteve na Guiné, como alferes, onde foi gravemente ferido em combate, em Sinchã Jobel), e a sua jovem aluna, a amazona Andreia (nascida na África do Sul, vive em Moçambique, e fez 13 aninhos nesse dia). O Leite Rodrigues sabe dar valor à solidariedade na dor e na perda, uma vez que já pssou por isto: em 2006, perdeu a sua filha, Filipa, de 14 anos, num trágico acidente com um dos seus cavalo.s.. A Filipa era uma promissora atleta da equitação portuguesa, tal como o pai (que foi atleta olímpico). As palavras que o Leite Rodrigues dirigiu à Margarida, np final da refeição, elogiando a sua coragem e dignidade, tocaram-nos fundo, a todos nós, os presentes.
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Leite Rodrigues e Virgílio Teixeira, dois homens do Porto.
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >José Ferreira e o primo, que andou na Marinha e no TO da Guiné.
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Manuel Carvalho e o Isidro
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >O régulo Zé Teixeira com os tabanqueiros Vitorino, Nelson e Abreu
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Brito da Silva é, agora, na Tabanca de Matosinhos, o único representante da CCAÇ 3414, a "açoreana", a que ele pertenceu juntamente com o seu camarada Peixoto. Reforcei, mais uma vez, o convite para ele se juntar à malta da Tabanca Grande.
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > José Manuel Moreira Cancela. Escreveu na sua página do Facebook: "O nosso amigo Peixoto deixou-nos. Obrigado, amigo, pelos momentos que passámos juntos, e foram muitos. Os amigos só morrem quando nos esquecermos deles"...
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Manuel Carmelita, outro amigo do peito do Joaquim. Mora em Vila do Conde.
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) >A "aguardente do espírito do frade" (referência ao fantasma do frade que paira, há 170 anos, pela casa e quinta de Guilamilo). O rótulo foi desenhado por um camarada da Tabanca de Matosinhos.
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Aspeto da decoração da sala do restaurante, reservada à Tabanca de Matosinhos
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação da notícia do convívio de 4ª feira passada, na Tabanca de Matosinhos, em que se homenageou a memória do nosso camarada Joquim Peito mas também a dignidade e a coragem da sua conpanheira de uma vida, a Margarida (Guida).
Joaquim e Margarida (Monte Real, 2010). Foto de Manuel Carmelita / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné |
Foi uma bela jornada de confraternização e solidariedade, com destaque para a figura da Margarida que reafirmou a sua vontade de continuar a fazer aquilo que o marido gostava: estar com os amigos e camaradas da Guiné, frequentar as suas tabancas, etc.
Houve várias intervenções, emotivas, de alguns dos presentes, em nome pessoal ou das tabancas que representavam: Eduardo Moutinho dos Santos e José Teixeira (Tabanca de Matosinhos); Luís Graça (Tabanca Grande), Leite Rodrigues, José Manuel Lopes, Maria Alice Carneiro, e, por fim, Margarida Peixoto... Para a Margarida foi um convivio, naturalmente "difícil (...) mas muito gratificante pela amizade, companheirismo, respeito e saudade, manifestada por todos pelo camarada Carlos Peixoto".
Fica aqui o soneto, dito pelo nosso editor Luís Graça, em seu nome pessoal, da Alice e dos demais presentes. Recorde-se queo Joaqim foi fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 3414 (Sare Bacar e Bafatá, 1971/73). A CCAÇ 3414 era uma "açoreana".
Soneto de homenagem a dois grã-tabanqueiros,
Joaquim Peixoto (Penafiel, 1949-Porto, 2018) e Margarida Peixoto
Joaquim, bom amigo e camarada,
nunca quiseste estar entre os primeiros,
mas, por nós, tens presença reservada
lá no Olimpo dos deuses e guerreiros.
Serás para sempre um dos nossos melhores,
e recordado com doce saudade,
por todos nós, da Guiné aos Açores,
sem esquecer a tua natal cidade.
A Guida, a tua mulher-coragem,
deu-nos o privilégio da sua presença,
juntando-se a esta homenagem.
O vosso Amor a Morte não o matou,
mesmo se, no final, foi a Doença
quem, à traição, a Vida te tirou.
Tabanca de Matosinhos, 5 de setembro de 2018
Luís Graça, Maria Alice Carneiro
Joaquim Peixoto (Penafiel, 1949-Porto, 2018) e Margarida Peixoto
Joaquim, bom amigo e camarada,
nunca quiseste estar entre os primeiros,
mas, por nós, tens presença reservada
lá no Olimpo dos deuses e guerreiros.
Serás para sempre um dos nossos melhores,
e recordado com doce saudade,
por todos nós, da Guiné aos Açores,
sem esquecer a tua natal cidade.
A Guida, a tua mulher-coragem,
deu-nos o privilégio da sua presença,
juntando-se a esta homenagem.
O vosso Amor a Morte não o matou,
mesmo se, no final, foi a Doença
quem, à traição, a Vida te tirou.
Tabanca de Matosinhos, 5 de setembro de 2018
Luís Graça, Maria Alice Carneiro
e demais amigos/as e camaradas presentes.
Foto: Manuel Carmelita (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Foto: Manuel Carmelita (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Nota do editor:
(*) 4 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18982: In Memoriam: Joaquim Carlos Rocha Peixoto (Penafiel, 1949 - Porto, 2018): dois poemas, um de Josema (José Manuel Lopes) e outro, de Luís Graça
(**) Último poste da série > 7 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18993: Convívios (872): Tabanca de Matosinhos, 4ª feira, dia 5, com 35 camaradas e amigos/as: Joaquim Peixoto (1949-2018), presente ! (Parte I)
(*) 4 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18982: In Memoriam: Joaquim Carlos Rocha Peixoto (Penafiel, 1949 - Porto, 2018): dois poemas, um de Josema (José Manuel Lopes) e outro, de Luís Graça
(**) Último poste da série > 7 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18993: Convívios (872): Tabanca de Matosinhos, 4ª feira, dia 5, com 35 camaradas e amigos/as: Joaquim Peixoto (1949-2018), presente ! (Parte I)
Guiné 61/74 - P18993: Convívios (872): Tabanca de Matosinhos, 4ª feira, dia 5, com 35 camaradas e amigos/as: Joaquim Peixoto (1949-2018), presente ! (Parte I)
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) (*) > Chegada dos primeiros tabanqueiros, à Rua Heróis de França, 721...
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Manuel Carvalho e José Ferreira
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > António Carvalho e Jorge Teixeira (o "bandalho-mor", do Bando do Café Progresso)
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > António PImentel, Xico Allen, António Barbosa (Gondomar) e o Ferreira
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > José Teixeira, um dos régulos da Tabanca, e Leite Rodrigues (já o convidei para integrar a Tabanca Grande)-
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > António Carvalho e José Manuel Moreira Cancela
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Virgílio Teixeira e esposa Manuela... Vieram, pela primeira vez, à Tabanca de Matosinhos.
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Virgílio Teixeira e Manuel Carmelita: vivem na mesma terra (Vila do Conde), conhecem-se de vista há 50 anos mas desconheciam-se enquanto camaradas da Guiné..
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Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > O Rodrigo e o José Manuel Lopes
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Álvaro Basto, outro régulo (e músico)
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > Vitorino, músico também da Tabanca.
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > O Vieira, que é de Penafiel, a conversar com o Ferreira, sentado à esquerda.
Matosinhos > Tabanca de Matosinhos > Restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei) > 5 de setembro de 2018 > Almoço de homenagem à memória do nosso saudoso camarada Joaquim Peixoto (1949-2018) > O Nelson e o Abreu (quem há dias, a socorrer um náufrago, aleijou-se; já o tenho encontrado, quando vou à Madalena, na marginal das praias de Vila Nova de Gais).
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 4 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18983: Convívios (871): Tabanca de Matosinhos, restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei), rua Heróis de França, 721, Matosinhos: amanhã, 4ª feira, a partir das 12h, almoço de homenagem aos grã-tabanqueiros Joaquim Peixoto (1949-2018) e Margarida Peixoto
(*) Vd. poste de 4 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18983: Convívios (871): Tabanca de Matosinhos, restaurante Espigueiro (ex-Milho Rei), rua Heróis de França, 721, Matosinhos: amanhã, 4ª feira, a partir das 12h, almoço de homenagem aos grã-tabanqueiros Joaquim Peixoto (1949-2018) e Margarida Peixoto
Guiné 61/74 - P18992: Notas de leitura (1098): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (50) (Mário Beja Santos)
Casa de Sobrado do comerciante Lourenço Marques Duarte
Fotografia de Francisco Nogueira inserida no livro “Bijagós, Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Fevereiro de 2018:
Queridos amigos,
Nesta fase que antecede a II Guerra Mundial, esta documentação avulsa, verdadeiramente heteróclita, pois tudo aqui aparece desde reparação de móveis a crédito malparado, ressaltam as informações sobre transportes, neste caso a Companhia Colonial de Navegação, as safadezas de um empregado e um espantoso relato em torno das manifestações dos comerciantes a protestar com a contribuição industrial.
O gerente de Bissau que comprovadamente detestava o governador, ridiculariza-o por interposta pessoa, o oficial da polícia, é uma peça demolidora.
Importa esclarecer que estes relatos eram solicitados pela administração em Lisboa, queriam saber tudo.
Iremos ver mais adiante que a partir dos acontecimentos do Pidjiquiti, em 3 de agosto de 1959, se escreve textualmente que os senhores gerentes devem informar de tudo, para além do que vem nos papéis oficiais. E de facto iremos ver páginas espantosas que relatam os acontecimentos que precedem e acompanham os primeiros anos da luta armada, o gerente de Bissau ia buscar todas as informações ao diretor da PIDE em Bissau.
Um abraço do
Mário
Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (50)
Beja Santos
A documentação avulsa respeitante aos anos de 1934 e 1935 abordam assuntos como a Companhia Nacional de Navegação, as transferências indevidas da Casa Gouveia para a metrópole e a denúncia das safadezas de Francisco Marques Perdigão, funcionário do BNU. E muito saborosa é a carta que o gerente de Bissau envia para Lisboa em 3 de maio de 1936. Vamos aos factos.
Quanto à Companhia Nacional de Navegação, o gerente de Bissau informa o seguinte:
“Esta Companhia não tem carreiras regulares para a Guiné. Durante os últimos três anos não me recordo de ter visto qualquer vapor seu nos portos da colónia.
Quanto às despesas a fazer com o aluguer de lanchas para a descarga em Bolama e a remuneração ao pessoal da Alfândega e Capitania para que os serviços corram sem entraves, não julgo de interesse para o Banco a representação definitiva da Companhia Nacional de Navegação, a não ser que tais despesas corram por conta da representada.
Se os portos da Guiné fossem regularmente representados por vapores dessa Companhia, era natural que devido a esse movimento se tirasse compensação material da representação; mas como assim não sucede e pode acontecer que o vapor chegue aos portos da Guiné em época em que o aluguer de lanchas seja dificílimo e caríssimo, como sucede durante a campanha da mancarra, os lucros auferidos com a representação seriam absorvidos por essas despesas extraordinárias. Assim, a representação só poderá convir desde que tais despesas sejam suportadas pela Companhia, pois, de contrário, as agências da Guiné teriam acréscimo de trabalho sem compensação”.
Nesse ano de 1933, o BNU abrira uma linha de crédito à Casa Gouveia de 9 mil contos, a empresa dizia não fazer transações bancárias e transferências para a metrópole, alegava que comprava por vezes produtos coloniais com a condição do seu contravalor ser pago em Lisboa. A Direção dos Serviços de Fazenda da Colónia da Guiné dizia que não era verdade, citando que a agência do BNU em Bissau já informara Lisboa que a Casa Gouveia continuava a fazer transferências para a metrópole ao contrário do que a lei dispunha. Este seria mais um dos litígios entre o BNU e a Casa Gouveia, o folhetim será enorme.
E vejamos agora as falcatruas do Sr. Perdigão.
António Esteves, em Bolama, escreve em 8 de agosto de 1935 para o gerente do BNU na mesma cidade:
“Venho trazer ao conhecimento de V. Ex.ª. que o Sr. Francisco Marques Perdigão, funcionário desse Banco, há tempos se acercou de mim prometendo-me uma transferência de mil escudos a favor de João Lopes sobre a Praça de Lisboa, e devido à grande dificuldade de transferências, eu na boa-fé e porque o Sr. Perdigão me merecia toda a confiança, entreguei-lhe a dita importância a fim de se proceder à dita operação.
Passou porém bastante tempo até que um dia o Sr. Perdigão me entregou um cheque em nome de João Lopes e que tornou a levar consigo visto que o nome do beneficiário vinha errado.
Constando-me agora que o Sr. Perdigão é useiro e vezeiro em toda a espécie de falcatruas, concluí que o cheque que me apresentou era falso, e como até agora mais nada me disse sobre o assunto, eu venho à presença de V. Ex.ª. pedir-lhe todas as providências que esta complicada história merece”.
Bissau, acerca deste assunto, escreve para Lisboa em 12 de agosto, informando que fora demitido como falsificador Francisco Perdigão e pedia-se a transferência com a maior urgência do filho do Sr. Diretor da Fazenda da Colónia daquele escritório, praticante do BNU em Santiago. O gerente de Bissau fora a Bolama e confirmava a falsificação do cheque. “O Perdigão disse ser verdadeira a acusação que lhe era feita, declarando que as assinaturas do cheque foram por ele falsificadas. Tivemos ainda conhecimento de que o Perdigão havia retirado do Arquivo cheques em branco de cadernetas de depósito que preencheu e deu em pagamento de débitos seus, não tendo a necessária cobertura. Esta irregularidade criminosa foi igualmente contada pelo Perdigão. Convidado a defender-se destas acusações, a fim de subtermos a sua defesa à superior apreciação de V. Ex.ª., respondeu que não tinha defesa a apresentar, por serem verdadeiras as acusações. O Sr. Diretor da Fazenda da Colónia, que teve conhecimento da demissão do escriturário Perdigão, procurou-nos para nos pedir a transferência para Bolama do seu filho que é praticante na filial de Santiago, para preenchimento da vaga aberta pela demissão daquele escriturário”.
A história do Sr. Correia versa uma queixa de um arrendatário de um prédio do BNU em Bissau, uma carta endereçada para Lisboa, segundo o gerente de Bissau uma prosa chicaneira e verrinosa, vejamos como contra-argumenta o gerente:
“Bem pior que a crise material e as sérias dificuldades que o comércio atravessa, a que se refere o Sr. Benjamin Correia, é a crise moral que também, como a tantos outros, o afetou.
O Sr. Correia pediu-nos para que lhes baixássemos a renda do prédio que ocupava, como permanentemente fazem, por via de regra, todos os inquilinos, e nós respondemos-lhe com uma evasiva.
Obedecendo ao seu feitio chicaneiro e atrabiliário, bem conhecido de toda a praça, o Sr. Benjamin Correia, ao dirigir-se a V. Ex.ª, não resistiu, embora veladamente, à aleivosiazinha reles e tola ‘pedindo vénia para chamar a atenção especial de V. Exas. para as rendas das casas que antigamente eram 250 escudos e são hoje 150.’
‘Antigamente’ é tão vago que não podemos deixar de precisar a V. Ex.ª. que o facto relatado data do tempo em que ele era o senhorio dessas casas e da que ocupava, pela qual cobrava ao Sr. Dr. Marques Belo 1200 escudos, justamente o dobro da renda que ele estava pagando.
Quanto ao pagamento das rendas que o Sr. Benjamin Correia afirma ter andado sempre em dia, não é bem como diz, o que V. Ex.ª. poderá mandar verificar pelas datas das respetivas cobranças; e mesmo assim o pagamento só se conseguia com a insistência constante e insultando por mais de uma vez, como lhe é peculiar, o nosso cobrador. Mas o Sr. Benjamin Correia já abandonou o prédio, em boa hora”.
Data de 13 de janeiro de 1936 o ofício dirigido ao BNU em Lisboa sobre o protesto do comércio da colónia quanto ao lançamento da contribuição industrial. É um documento altamente crítico:
“Se a governação local se servisse dos moldes usados pelo Governo Central, teria procedido, primeiro que tudo, a um inquérito aos vencimentos, rendimentos ou lucros de todos os que se pretendia tributar, e depois de averiguar as possibilidades ou capacidade de cada profissão, tributar-se-ia mas com conhecimento de causa.
Entendeu-se o contrário, legislou-se sem se ouvir ninguém, com o simples fundamento de que noutras colónias também se pagava contribuição industrial, organizando-se um quadro publicado no preâmbulo do diploma que nada diz porque foi elaborado em relação à contribuição industrial das outras colónias, em vez de o ser em relação a todos os impostos e por habitante.
Reuniu-se o Conselho do Governo e os vogais não oficiais rejeitaram, na generalidade, a proposta do diploma que criava a contribuição industrial direta, ficando assim empatada a votação; convocado de novo o Conselho, seguiu-se a discussão na especialidade, com o mesmo resultado, usando então o Sr. Governador o seu voto de qualidade.
A discussão, tanto na generalidade como na especialidade, decorreu com muita falta de elevação por parte dos vogais oficiais, a quem cegou a subserviência, confundida com o desconhecimento completo do estado da economia privada da colónia”.
É um documento de grande minúcia, refere quem esteve nas reuniões, como argumentou, os protestos dos estabelecimentos comerciais com as portas encerradas, a manifestação dos empresários que se dirigiam às lojas estrangeiras pedindo-lhes que fechassem, tal como aconteceu. Tratou-se, segundo o relator, de um movimento de protesto ordeiro e pacífico. Importa não esquecer que Carvalho Viegas em nada era estimado pelo BNU, há correspondência para a Sede em que o governador é denunciado como criatura reles e imoral, noutro apartado descreve-se o que o gerente reporta sobre certos comportamentos de Carvalho Viegas, tratado como um dissoluto, arranjista e fazedor de empregos, rodeado por gente subserviente e tacanha.
Daí a prosa deste documento o caricaturar, como se pode ver a propósito destas manifestações e a reacção do governador:
“Entretanto, em 2 de janeiro, à noite, chegava de Bolama um oficial da polícia, muito conhecido pela sua dedicação ao Governo, mas um tanto disparatado na maneira de exteriorizar.
Logo ao desembarcar se precipitou declarando comunista o movimento de protesto do comércio. Foi recebido à gargalhada e isso irritou-o; toda a gente se ria do seu espalhafato, da forma como, em grandes gestos, dava instruções às patrulhas. Com as suas atitudes, esse oficial, além de bom defensor da ordem e elemento seguro da situação nacional, tinha o aspecto de ser o único elemento de desordem, porque toda a população da cidade, mas absolutamente toda, estava na tranquilidade mais perfeita que se possa imaginar.
Quando o barco que conduzia os componentes da comissão de protesto se aproximava do canal de Bolama, surgiu-lhes pela proa um gasolina da Delegação Marítima daquela cidade tripulado por soldados de baioneta calada, comandamos pelo tenente-maquinista das Oficinas Navais, que, disparando para o ar, os intimou a parar. Chegados à fala, aquele oficial-maquinista intimou-os a regressar a Bissau, informando-os de que não tentassem desobedecer porque o Sr. Governador os não receberia e não responderia pelas suas vidas, visto que a polícia tinha ordem para matar quem desembarcasse em Bolama!”.
E o gerente, que assina sempre “O Gerente Geral da Guiné”, na sua prosa acerada, conta os demais episódios desta ópera bufa, tudo acabou bem, o comércio reabriu no dia 6 de manhã, a Associação Comercial de Bissau constituiu um advogado, o protesto dos comerciantes prosseguia a sua marcha.
(Continua)
Notas do editor:
Poste anterior de 31 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18967: Notas de leitura (1096): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (49) (Mário Beja Santos)
Último poste da série 3 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18977: Notas de leitura (1097): Relendo uma obra soberba - "Vindimas no Capim", por José Brás; Publicações Europa-América (1) (Mário Beja Santos)
Se os portos da Guiné fossem regularmente representados por vapores dessa Companhia, era natural que devido a esse movimento se tirasse compensação material da representação; mas como assim não sucede e pode acontecer que o vapor chegue aos portos da Guiné em época em que o aluguer de lanchas seja dificílimo e caríssimo, como sucede durante a campanha da mancarra, os lucros auferidos com a representação seriam absorvidos por essas despesas extraordinárias. Assim, a representação só poderá convir desde que tais despesas sejam suportadas pela Companhia, pois, de contrário, as agências da Guiné teriam acréscimo de trabalho sem compensação”.
Nesse ano de 1933, o BNU abrira uma linha de crédito à Casa Gouveia de 9 mil contos, a empresa dizia não fazer transações bancárias e transferências para a metrópole, alegava que comprava por vezes produtos coloniais com a condição do seu contravalor ser pago em Lisboa. A Direção dos Serviços de Fazenda da Colónia da Guiné dizia que não era verdade, citando que a agência do BNU em Bissau já informara Lisboa que a Casa Gouveia continuava a fazer transferências para a metrópole ao contrário do que a lei dispunha. Este seria mais um dos litígios entre o BNU e a Casa Gouveia, o folhetim será enorme.
E vejamos agora as falcatruas do Sr. Perdigão.
António Esteves, em Bolama, escreve em 8 de agosto de 1935 para o gerente do BNU na mesma cidade:
“Venho trazer ao conhecimento de V. Ex.ª. que o Sr. Francisco Marques Perdigão, funcionário desse Banco, há tempos se acercou de mim prometendo-me uma transferência de mil escudos a favor de João Lopes sobre a Praça de Lisboa, e devido à grande dificuldade de transferências, eu na boa-fé e porque o Sr. Perdigão me merecia toda a confiança, entreguei-lhe a dita importância a fim de se proceder à dita operação.
Passou porém bastante tempo até que um dia o Sr. Perdigão me entregou um cheque em nome de João Lopes e que tornou a levar consigo visto que o nome do beneficiário vinha errado.
Constando-me agora que o Sr. Perdigão é useiro e vezeiro em toda a espécie de falcatruas, concluí que o cheque que me apresentou era falso, e como até agora mais nada me disse sobre o assunto, eu venho à presença de V. Ex.ª. pedir-lhe todas as providências que esta complicada história merece”.
Bissau, acerca deste assunto, escreve para Lisboa em 12 de agosto, informando que fora demitido como falsificador Francisco Perdigão e pedia-se a transferência com a maior urgência do filho do Sr. Diretor da Fazenda da Colónia daquele escritório, praticante do BNU em Santiago. O gerente de Bissau fora a Bolama e confirmava a falsificação do cheque. “O Perdigão disse ser verdadeira a acusação que lhe era feita, declarando que as assinaturas do cheque foram por ele falsificadas. Tivemos ainda conhecimento de que o Perdigão havia retirado do Arquivo cheques em branco de cadernetas de depósito que preencheu e deu em pagamento de débitos seus, não tendo a necessária cobertura. Esta irregularidade criminosa foi igualmente contada pelo Perdigão. Convidado a defender-se destas acusações, a fim de subtermos a sua defesa à superior apreciação de V. Ex.ª., respondeu que não tinha defesa a apresentar, por serem verdadeiras as acusações. O Sr. Diretor da Fazenda da Colónia, que teve conhecimento da demissão do escriturário Perdigão, procurou-nos para nos pedir a transferência para Bolama do seu filho que é praticante na filial de Santiago, para preenchimento da vaga aberta pela demissão daquele escriturário”.
A história do Sr. Correia versa uma queixa de um arrendatário de um prédio do BNU em Bissau, uma carta endereçada para Lisboa, segundo o gerente de Bissau uma prosa chicaneira e verrinosa, vejamos como contra-argumenta o gerente:
“Bem pior que a crise material e as sérias dificuldades que o comércio atravessa, a que se refere o Sr. Benjamin Correia, é a crise moral que também, como a tantos outros, o afetou.
O Sr. Correia pediu-nos para que lhes baixássemos a renda do prédio que ocupava, como permanentemente fazem, por via de regra, todos os inquilinos, e nós respondemos-lhe com uma evasiva.
Obedecendo ao seu feitio chicaneiro e atrabiliário, bem conhecido de toda a praça, o Sr. Benjamin Correia, ao dirigir-se a V. Ex.ª, não resistiu, embora veladamente, à aleivosiazinha reles e tola ‘pedindo vénia para chamar a atenção especial de V. Exas. para as rendas das casas que antigamente eram 250 escudos e são hoje 150.’
‘Antigamente’ é tão vago que não podemos deixar de precisar a V. Ex.ª. que o facto relatado data do tempo em que ele era o senhorio dessas casas e da que ocupava, pela qual cobrava ao Sr. Dr. Marques Belo 1200 escudos, justamente o dobro da renda que ele estava pagando.
Quanto ao pagamento das rendas que o Sr. Benjamin Correia afirma ter andado sempre em dia, não é bem como diz, o que V. Ex.ª. poderá mandar verificar pelas datas das respetivas cobranças; e mesmo assim o pagamento só se conseguia com a insistência constante e insultando por mais de uma vez, como lhe é peculiar, o nosso cobrador. Mas o Sr. Benjamin Correia já abandonou o prédio, em boa hora”.
Data de 13 de janeiro de 1936 o ofício dirigido ao BNU em Lisboa sobre o protesto do comércio da colónia quanto ao lançamento da contribuição industrial. É um documento altamente crítico:
“Se a governação local se servisse dos moldes usados pelo Governo Central, teria procedido, primeiro que tudo, a um inquérito aos vencimentos, rendimentos ou lucros de todos os que se pretendia tributar, e depois de averiguar as possibilidades ou capacidade de cada profissão, tributar-se-ia mas com conhecimento de causa.
Entendeu-se o contrário, legislou-se sem se ouvir ninguém, com o simples fundamento de que noutras colónias também se pagava contribuição industrial, organizando-se um quadro publicado no preâmbulo do diploma que nada diz porque foi elaborado em relação à contribuição industrial das outras colónias, em vez de o ser em relação a todos os impostos e por habitante.
Reuniu-se o Conselho do Governo e os vogais não oficiais rejeitaram, na generalidade, a proposta do diploma que criava a contribuição industrial direta, ficando assim empatada a votação; convocado de novo o Conselho, seguiu-se a discussão na especialidade, com o mesmo resultado, usando então o Sr. Governador o seu voto de qualidade.
A discussão, tanto na generalidade como na especialidade, decorreu com muita falta de elevação por parte dos vogais oficiais, a quem cegou a subserviência, confundida com o desconhecimento completo do estado da economia privada da colónia”.
É um documento de grande minúcia, refere quem esteve nas reuniões, como argumentou, os protestos dos estabelecimentos comerciais com as portas encerradas, a manifestação dos empresários que se dirigiam às lojas estrangeiras pedindo-lhes que fechassem, tal como aconteceu. Tratou-se, segundo o relator, de um movimento de protesto ordeiro e pacífico. Importa não esquecer que Carvalho Viegas em nada era estimado pelo BNU, há correspondência para a Sede em que o governador é denunciado como criatura reles e imoral, noutro apartado descreve-se o que o gerente reporta sobre certos comportamentos de Carvalho Viegas, tratado como um dissoluto, arranjista e fazedor de empregos, rodeado por gente subserviente e tacanha.
Daí a prosa deste documento o caricaturar, como se pode ver a propósito destas manifestações e a reacção do governador:
“Entretanto, em 2 de janeiro, à noite, chegava de Bolama um oficial da polícia, muito conhecido pela sua dedicação ao Governo, mas um tanto disparatado na maneira de exteriorizar.
Logo ao desembarcar se precipitou declarando comunista o movimento de protesto do comércio. Foi recebido à gargalhada e isso irritou-o; toda a gente se ria do seu espalhafato, da forma como, em grandes gestos, dava instruções às patrulhas. Com as suas atitudes, esse oficial, além de bom defensor da ordem e elemento seguro da situação nacional, tinha o aspecto de ser o único elemento de desordem, porque toda a população da cidade, mas absolutamente toda, estava na tranquilidade mais perfeita que se possa imaginar.
Quando o barco que conduzia os componentes da comissão de protesto se aproximava do canal de Bolama, surgiu-lhes pela proa um gasolina da Delegação Marítima daquela cidade tripulado por soldados de baioneta calada, comandamos pelo tenente-maquinista das Oficinas Navais, que, disparando para o ar, os intimou a parar. Chegados à fala, aquele oficial-maquinista intimou-os a regressar a Bissau, informando-os de que não tentassem desobedecer porque o Sr. Governador os não receberia e não responderia pelas suas vidas, visto que a polícia tinha ordem para matar quem desembarcasse em Bolama!”.
E o gerente, que assina sempre “O Gerente Geral da Guiné”, na sua prosa acerada, conta os demais episódios desta ópera bufa, tudo acabou bem, o comércio reabriu no dia 6 de manhã, a Associação Comercial de Bissau constituiu um advogado, o protesto dos comerciantes prosseguia a sua marcha.
(Continua)
Mulher Felupe
Imagem retirada do “Anuário da Guiné Portuguesa”, 1948.
Mulher Futa-Fula
Imagem retirada do “Anuário da Guiné Portuguesa”, 1948.
____________Notas do editor:
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Último poste da série 3 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18977: Notas de leitura (1097): Relendo uma obra soberba - "Vindimas no Capim", por José Brás; Publicações Europa-América (1) (Mário Beja Santos)
quinta-feira, 6 de setembro de 2018
Guiné 61/74 - P18991: Álbum fotográfico de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72) - Parte II
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Adolfo Cruz (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796, Gadamael e Quinhamel, 1970-1972) com as fotos enviadas em mensagem do dia 21 de Julho de 2018, que retratam alguns dos momentos mais significativos da sua passagem por terras da Guiné.
Foto 9 - Parte da 1.ª Companhia de Comandos Africanos (Cap João Baker Jaló) que participou na invasão à República da Guiné Conakry em Novembro de 1970.
Foto 10 - Preparação de coluna a Guilege, com Fox e GMC – verdadeiras aventuras suicidas…
Foto 11 - Já tinha perdido 10kg …
Foto 12 - A minha tabanca remodelada pelos nossos corajosos, leais, habilidosos soldados.
Foto 13 - Uma pequena ideia de bolanha – quando a maré desce.
Foto 14 - Com alguns elementos da 1.ª Companhia de Comandos Africanos – a meu lado, o célebre e temido João Lomba, coleccionador de crâneos de IN.
Foto 15 - Rezando (a Alá) com Juary.
Foto 16 - Na bolanha, com as nossas lavadeiras.
Foto 17 - Uma faceta protectora e afectiva.
____________Nota do editor
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