quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18989: (De)Caras (116): Sou dos que acreditam na história que o Cajan Seidi conta sobre o aniquilamento de cerca de vinte Homens Grandes da população de Jolmete, em 1964 (Manuel Carvalho, ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70)






Guiné > Região do Oio > Jolmete > Caç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) > O grandalhão do Manuel Carvalho com a "lavadeira Melinha", a Amélia, hoje a 3ª mulher do Cajan Seidi, atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, terá sido executado pelas NT, à frente de um grupo de duas dezenas de homens grandes, como represália pela sua alegada colaboração com o PAIGC. O  pai do Cajan, por sua vez, tinha sido morto pelo PAIGC, logo no início da guerra de guerrilha.


Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  "Baile, na recepção aos periquitos da CCAÇ 2585: a dançar,  a partir da esquerda,  um furriel mecânico, o Crista de costas e eu. A minha lavadeira já me tinha posto os palitos."


Guiné > Região do Oio   > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  Foto sem legenda: as "mulheres grandes" e a NT... Apoio médico-sanitário ?...  Nesta altura, a pouca população que existia, tinha sido "recuperada do mato"... Depois dos trágicos acontecimentos de junho/setembro de 1964, os sobreviventes (mulheres e crianças), ter-se-ão refugiado nas matas do Oio...


Guiné > Região do Oio  > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  Vista (parcial) da tabanca.



Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (Jolmete, 1968/70) >  "Eu, com o Dandi e o Martins na chegada da operação em que apanhamos o RPG2 e três armas". (Dandi, natural de Jol, no chão manjaco, capitão da companhia de milícias do Pelundo, agraciado com Cruz de Guerra pelo Gen Spínola em 1972, será fuzilado pelo PAIGC em 1975)

Fotos (e legendas): © Manuel Carvalho (2012). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70) ao poste P18988 (*):


(...) "Pois o Cajan foi um dos nossos valentes milícias de Jolmete,  conhecia muito bem a zona e foi muitas vezes o homem da frente, é bom vê-lo ainda com alguma saúde, também não andará longe dos setenta anos.

A Amélia que está na segunda foto de vestido rosa,  continua muito franzininha como era há 50 anos mas tratava muito bem da roupa de muitos de nós e até julgo que tinha algumas mais velhas,  suas colaboradoras. Quem quiser ver como ela era há 50 anos,  tenho uma foto com ela ao colo no poste P10191 (**).

Sou dos que acreditam na história que o Cajan conta sobre o aniquilamento de cerca de vinte Homens Grandes da população de Jolmete. (***) (...)

2. Excerto do poste P10191:

(...) Ao ler as estórias e ver as fotos do Augusto Santos, de Jolmete do ano de 72, lembrei que tenho fotos de Jolmete do inicio de 68 quando nós,  CCaç 2366,  lá chegamos. Sei que pelo menos o Augusto Santos o Manuel Resende e o Firmino vão gostar de ver algumas diferenças.

Como podem ver em Jolmete até bailes fazíamos,  foi a recepção aos periquitos da CCAÇ 2585: a dançar da esquerda um furriel das viaturas, o Crista de costas e eu. A minha lavadeira já me tinha posto os palitos. (...)

3 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Nunca lá estive e em 1964 muito menos.
Sei que, nesse tempo os movimentos revolucionários começavam a surgir com a fase "do terror", II fase da guerra subversiva. A primeira fase tinha sido tapada como quem tapa o Sol com a peneira. A fase do terror incidia sobre os leaders tradicionais para os levar colaborar com a guerrilha.
Não creio que fosse boa técnica. Foi alguém que quis aplicar a "chapa 5" em todo o lado do mundo. Os resultados foram maus, mas já estão esquecidos.
Como hoje se diz: "isso está ultrapassado" e quem morreu, morreu.
E os povos têm má memória. Nós e "eles".

Um Ab
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há poucas referências, no Arquivo Amílcar Cabral, a "massacres" praticados pelas NT, nomeadamente nos primeiros anos da guerra... Um caso como este, a de "execução sumária" do régulo de Jol e um grupo de outros homens grandes de Jolmete, acusados de "colaborarem! passiva ou ativamenet com o PAIGC, ao que tudo indica em setembro de 1964, pode ter sido "excesso de zelo"...

Se as matas do Oio falassem, se calhar poderíamos saber muito mais... Mas não, deparamos aqui com o (des)confortável silêncio dos arquivos... Foi preciso um ex-furriel miliciano, dessa época, hoje, doente, com Parkinson, vir aqui ao nosso "confessionário" contar, em 2014, um "segredo"que lhe devia tirar o sono, de vez em quando... Duarnte 50 anos!,,, Bolas, somos homens, portugueses e cristãos!... Pelo menos, o António Median terá ficado mais "aliviado" ao partiolhar este "segredo" com connosco...

Tó Zé, o exército português (, pelo menos, a "tropa-macaca", os infantes como eu...) não terá uma "folha limpa", a 100 %, no TO da Guiné, entre 1961 e 1974... Houve "excess0s" que nos envergonham, mas aquela guerra não teve nada a ver, em horror e crueldade, com a da guerra da Argélia, que foi muitissimo mais suja... Pelo menos, no tempo de Spínola um caso como este, de Jolmete, dificilmente seria "abafado"...

Devemos, em todo o caso, documentar estas situações, para tentar "compreender", pelo menos, o que se passou, a partir do conhecimento do texto e do contexto... Não nos interessam os "ajustes de contas" nem muito menos julgar condenar camaradas nossos e superiores hierárquicos que, seguramente, também tinham elevados "códigos de ética", valores, princípios, boa formação moral, cívica e militar, patriotismo, etc.

Nada desta história se terá passado a quente, o que ainda poderia ser uma "atenuante"... O pobre régulo e os seus infortunados companheiros são "condenados à morte" e "executados", dois meses depois de serem aprisionados e mantidos arbitraiamente em cativeiro... À revelia de todas as leis em vigor no nosso país que, mesmo em 1964, era pressuposto ser um "estado de direito"... O exército era o exército, a PIDE era a PIDE, eu nunca confundi as dus instituições...

Sei que a nossa memória é "curta", como tu dizes, mas o papel do nosso blogue não é propriamente o de contar a história da carochinha...

Obrigado pela tua sempre pronta, oportuna e valiosa contribuição... Vamos manter esta discussão ao nível que é timbre do nosso blogue, o do "bom senso e bom gosto"... Afinal, estamos aqui e continuamos a estar aqui, justamente com "tudo o que nos une e até com aquio que nos pode separar"... E o que nos poide separar são as "grelhas de leitura"...

UM; bom resto de noite. Um abraço, aqui de Candoz, com um formidável círculo de serras "queirosianas" à volta, mas onde finalmente tenho, este ano, uma boa ocbertura da Net...

Anónimo disse...


Eu, tal como o Manuel Carvalho, e o Manuel Resende, que passámos por Jolmete em datas diferentes, já escrevemos algo sobre este assunto em tempos denunciado pelo António Medina.
Tanto eles como eu nunca ouvimos falar de tal massacre praticado pelas nossas tropas em 1964 mas, se passados todos estes anos o Cajan, embora sem grandes pormenores, até tenha confirmado que infelizmente aconteceu (tal como nos relatou o Moutinho dos Santos), então não restam grandes dúvidas sobre o assunto.
Sempre fui muito próximo do Cajan (tenho inclusive uma foto com o Fidalgo, filho do Cajan, ao colo) e quando saíamos para o mato com o Pelotão de Caçadores Nativos, de que ele fazia parte, tivemos imensas conversas sobre vários assuntos, mas este nunca foi de facto abordado.
Será que faz sentido perguntar, se o massacre dos oficiais portugueses alguns anos mais tarde (1970), tem algo a ver (para além dos pormenores já conhecidos) com uma possível retaliação? Para eles também se tratava de "homens grandes".

Abraço
Augusto Silva Santos