Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2585 (1969/71) > O >Alf Mil At Inf Manuel Resende e o chefe de secção de milícias, Dandi, mais tarde Capitão da Companhia de Milícias do Pelundo...
Guiné > Região do Oio > Jolmete > CCAÇ 2585 (1969/71) > "Junto vou-te enviar uma foto, especial para mim, pois fui eu que a tirei em pleno mato, da última operação que ele [, o Alf Mosca,] fez com o Capitão Tomás da Costa antes de ir para o CAOP. Como não tem legendas, vou explicar: ao centro, com as cartucheiras e ar de mau (para a foto) é o Cap Tomás da Costa; ao lado esquerdo, sentado com a G3 ao alto no ombro, é o Mosca; do lado direito em pé, sempre equipado a rigor, é o nosso amigo Dandi, que nunca facilitava em serviço (mais tarde também graduado em Capitão de milícia pelo Gen Spínola, em 72 Cruz de Guerra, e em 75 fuzilado)" (Manuel Resende, 16/6/2009).
Fotos: © Manuel Resende (2009). Direitos reservados
1. Excerto do depoimento do nosso camarada Manuel Resende, ex-Alf Mil At Inf, CCaç 2585/BCaç 2884 (Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71) (, foto à esquerda) (*):
(...) Neste apontamento quero e tenho o dever de salientar o contributo altamente positivo dos soldados africanos do Pelotão de Caçadores Nativos nº 59, comandado inicialmente pelo colega Alferes Mosca, e pela secção de milícias, comandada pelo chefe da milícia, o célebre Dandi, mais tarde promovido a Capitão de Milícia pelo Sr. General Spínola, e que já vinha com boas referências da companhia anterior [, CCAÇ 2366].
Sempre que saíamos para o mato estes homens iam sempre à frente, pois como conhecedores do terreno, sabiam como chegar ao objectivo. O Dandi, natural do Jol, conhecia como ninguém todos os recantos da mata.
Bom guerrilheiro, bom caçador, muito nos ajudou a evitar cair em emboscadas, abrindo trilhos novos na mata. Quando saíamos para o mato com ele, ninguém tinha medo, por mais difícil que fosse a missão. Mais tarde fez parte do rol dos fuzilados [, a seguir à independência]. Sinceramente não sei se a Cruz de Guerra prometida pelo Sr. General Spínola lhe foi entregue antes de 1975. Que será feito dos outros?
Apesar do primeiro contacto a sério com o inimigo, já referido atrás, com 2 mortos e alguns feridos, o dia ou o facto que mais me marcou durante toda a comissão, e o fez profundamente, foi a morte dos Oficiais do CAOP, os três Majores e o meu colega Alferes Mosca (além dos outros três nativos) no dia 20 de Abril de 1970, em prol da paz e do entendimento dos povos do Chão Manjaco.
O Alferes Joaquim João Palmeiro Mosca pertencia à minha Companhia, a 2585, pois era comandante do Pel Caç Nat 59 (já referenciada) que fazia parte da Companhia, embora a rendição fosse individual. Em Set/Out de 1969 o Alferes Mosca foi convidado pelo CAOP em Teixeira Pinto, para cuidar das plantações experimentais que se começavam a desenvolver no Chão Manjaco, pois ele era Regente Agrícola de formação.
Como as suas qualidades para a Psico eram boas, foi convidado para colaborar nessa área com o Sr Major Joaquim Pereira da Silva, Oficial de Informações e Coordenador da Acção Psicológica com as populações. (...)
2. Comentário de Agusto Santos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833 (Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73) (, foto à esquerda)
Olá Camarada e Amigo!
Sempre com Jolmete por fundo, aqui estou eu a saudar-te por esta tua iniciativa.
Por tua influência, juntei-me a este blogue, por minha influência (julgo), decidiste publicar no Correio da Manhã a tua passagem pela Guiné, mas aqui bem mais completa e esclarecedora.
Sabes uma coisa curiosa? É que eu antes de ser chamado para o serviço militar, estive na marinha mercante dos 18 aos 21 anos, e um dos navios em que prestei serviço foi precisamente no "Niassa", embora só em 1970. Outra curiosidade. Sabes onde eu moro? Em Almada, e nessa altura residia muito perto do quartel onde te foste apresentar, mas que hoje já não existe. Com algum atraso, as nossa vidas andaram cruzadas (Almada / Niassa/ Guiné / Jolmete).
Sobre o célebre Dandi... No meu tempo ele já era o Comandante da Companhia de Milícias do Pelundo, embora estivesse sempre no Jol, e já tinha sido agraciado com a cruz de guerra pelo General Spínola. Numa das operações (a mais difícil que me lembro), ele chegou a ser ferido com um tiro numa perna.
Era de facto um excelente guerrilheiro. Numa ocasião, para escaparmos a uma emboscada do IN, lembro-me que ele nos levou por um trilho de caça muito antigo que, segundo o próprio Dandi, já não passavam por lá pessoas há alguns anos.
Também me lembro de irmos fazer segurança ao local onde morreram o Alferes Mosca e os 3 Majores, para o General Spínola ir lá depôr uma coroa de flores, acto que sempre praticou enquanto se manteve na Guiné.
Um Grade Abraço,
Augusto Silva Santos
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7151: Recortes de imprensa (34): A guerra do Manuel Resende, ex-Alf Mil At da CCaç 2585/BCaç 2884 (Correio da Manhã)
(**) Último poste da série > 13 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6586: Os nossos camaradas guineenses (26): O regresso do inesquecível Mamadu Camará (Mário Beja Santos)
4 comentários:
... que, a breve narrativa publicada na recente edição do CM, constitui um bom exemplo do que devem ser "histórias da guerra" relatadas num magazine dominical.
Não conheço pessoalmente o camarada Manuel Resende, e com ele nunca troquei correspondência. Permito-me, no entanto, aqui tecer um comentário à excelente fotografia de grupo, a qual bem ilustra a diferença de "poses": enquanto os militares oriundos do recrutamento metropolitano por ali ficaram a apanhar-mosquitos – dois deles tratando a "querida G3" como se cajado fosse –, o militar oriundo do recrutamento local (guarda-costas do "alfero"), sabia exactamente como desejava ficar dignamente representado para a posteridade...
Saudações veteranas,
Abreu dos Santos
... ainda a tempo, rectifico o m/recente comment, escrito no próprio dia de publicação no magazine, cujas fotos não foram - para a devida informação ao leitor – sucintamente legendadas. Ora, em visita, há pouco, à reprodução neste blogue, verifico pela legenda da foto maior, que: o "alfero" era o capitão comandante da CCaç2535; e o "guarda-costas", comandante das milícias.
O seu, a seu dono.
Cpts,
Abreu dos Santos
Caros Camaradas Manuel Resende e Augusto Santos
Relativamente ao Dandi quando nos C Caç 2366 chegamos a Jolmete o Cmd. do pel. mil. era o Luis que ja tinha uns anitos e nao era muito talhado para aquilo. O Dandi era um milicia que tambem desempenhava a funçao de guia. ora o nosso Cap. era um homem que entre outros méritos sabia colucar o homem certo no lugar certo e, nao demorou muito tempo a perceber que quem devia comandar o Pel. Mil. era o Dandi. A esta distancia ja nao me lembro muito bem como as coisas se passaram, mas sei que o Luis saiu de Jolmete e o Dandi passou a comandar o Pel. Mil., com os resultados que nos conhecemos. Foi de facto um grande combatente e acho que nos que passamos por Jolmete lhe devemos muito.
Um grande abraço
Manuel Carvalho Tab. de Matosinhos
Fur. Mil C Caç 2366
Caro veterano Manuel Carmine Resende Ferreira, nascido no dia 10Out1947, que em 07Mai1969-26Fev1971 serviu Portugal no noroeste da Província Ultramarina da Guiné, como alferes miliciano atirador de artilharia comandante do 4º peloão da CCac2585/BCac2884-RI1Amadora (posteriormente residente em São Domingos de Rana).
Na 5ªf 21Out2010 fez publicar, no p7152 do sítio "Luís Graça & Camaradas da Guiné", um texto epigrafado «Dandi, natural de Jol, no chão manjaco, capitão da companhia de milícias do Pelundo, agraciado com Cruz de Guerra pelo Gen Spínola em 1972, fuzilado pelo PAIGC em 1975».
Algumas das imprecisões fácticas existentes naquela sua "narrativa", à qual em data recente houve ocasião de reler, forçam-me a fazer chegar ao seu conhecimento, o seguinte:
Sucede que o "Dandi", de seu nome Bacar Djassi, não nasceu em chão manjaco: nasceu sim em Fulacunda; na 6ªf 07Jan1944.
- Na 2ªf 28Mai1962, soldado de infantaria n/m 82053162, foi incorporado sob o nº 112/62 na CCS/QG-CTIG.
- Na 4ªf 14Jul1965 voluntário para o 2º curso de comandos na Guiné, em 04Set1965 qualificado com a especialidade 959-Comandos, tendo em 31Ago1966 cessado funções no GrCmds 'Diabólicos'.
- Na 6ªf 12Set1969 foi transferido no noroeste da Guiné para o nordeste da Província Ultramarina de Moçambique e integrado na 21ªCCmds, até ser colocado em 12Out1971 na 2ªCCmdsMOC.
- No sáb. 29Abr1972, entretanto graduado no posto de furriel miliciano, agraciado com a Cruz de Guerra de 3ª classe por distinção em combate, tendo regressado em 30Nov1972 à Província Ultramarina da Guiné onde, entretanto graduado em alferes, no dia 10Jun1973 perante tropas em parada lhe foi entregue, pelo CCFAG general Spínola, a mencionada condecoração.
- Na 4ªf 26Set1973, graduado em tenente, assumiu o comando da 3ª/BCmdsG.
- Em 07Set1974, logo após os CmdsG serem desarmados a mando do brg grd Fabião, foi capturado pelo PAIGC e depois mantido em cativeiro, sob inconfessáveis e inenarráveis condições infra-humanas.
- Até que, na manhã de 6ªf 21Mar1975, no antigo CIM-Cumeré e perante assistência arrebanhada nas redondezas, foi sumariamente fuzilado pelo PAIGC.
Paz à sua Alma.
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