quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7147: Tabanca Grande (248): Augusto José Saraiva Vilaça, ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914 (Sangonhá e Cacoca, 1967/69)

1. Mensagem de Augusto José Saraiva Vilaça (ex-Fur Mil da CART 1692/BART 1914, Sangonhá e Cacoca, 1967/69), com data de 10 de Outubro de 2010:

Olá, Luís.

Não sei quem és, mas só por seres ex-combatente na Guiné já diz tudo.
Também lá estive e gostava de fazer parte da tua espectacular exposição. Todos não seremos muitos, mais um será positivo.

Diz-me só o que devo fazer para contribuir para essa nobre página que abriste e colaborarei com fotos e acontecimentos pois sou DFA.

Quem me informou foi o nosso camarada Pimentel. É que só agora optei por ter um computador para me entreter.

Abraço, Luís. Bem hajas.


2. Segunda mensagem de Augusto Vilaça com data de 17 de Outubro de 2010:

Meu caro companheiro, tenho muito gosto em poder participar no historial daqueles que estiveram na Guiné.

Aqui vai resumidamente essa passagem:

Sou: Augusto José Saraiva Vilaça, 66 anos, natural do Porto.
Entrei para a vida militar em 10 de janeiro 1966 para o CISMI - Curso Instrução Sargentos Milicianos Infantaria.

Em Abril, por escolha minha, optando por artilharia, fui tirar a especialidade na EPA - Escola Pratica Artilharia.

Fui destacado para a Guiné, e em 8 Abril 1967 embarquei no Uíge chegando a Bissau em 14 Abril 1967.

Começou aqui a minha história do Ultramar. O nosso capitão Veiga da Fonseca chamou os furriéis, sargentos e oficiais para dar uma lição de ética e de patriotismo.

Saídos de noite do Uige para uma barcaça... sem qualquer tipo de armamento. A meio da noite a barcaça parou devido à bolanha não ter condições para prosseguir! Que ansiedade no meio daquela escuridão toda.

Recomeçámos o andamento até que aportámos em Gadamael. Daí, a Companhia foi dividida, isto é, metade para o aquartelamento, Sangonhá, metade para o acampamento, Cacoca. Isto funcionou como uma adaptação ao terreno. Apanhei o primeiro susto aqui, em Cacoca quando um informador foi dizer ao oficial destacado que se previa uma invasão de turras nessa noite!!! Ficamos todos a tremer e há que tomar posições. Os vigias, de quando em vez, disparavam um tiro de G3 ao ouvirem um ruído no mato!! Isto durante toda a noite.

Clareou. Exaustos, sem saber o que se tinha passado...

O general Schultz, na altura, envia uma mensagem ao nosso capitão com ordem para transferir a Companhia para Cacine, aquartelamento, e Cameconde, destacamento. Calhou-me Cacine.

As primeiras saídas do aquartelamento foram inesquecíveis dado que, aqui nesta zona, havia fortes probabilidades de ataques dos turras.

No próprio dia da chegada a Cacine, ainda não tínhamos tomado conhecimento fisico do quartel quando começaram a "chover" os primeiros rockets... Oh minha mãe, que confusão, que "medo", só os rebentamentos eram temerários. Consegui chegar ao meu abrigo e aí comecei a ripostar com morteiro 120. Passados 10 longos minutos, os turras pararam.

Os principais receios eram: a picada do aquartelamento, em coluna, com segurança de Daimlers para o destacamento e volta; o ir buscar água; as flagelações; as picadas no mato; as emboscadas, etc., etc.

O meu baptismo de fogo real, frente a frente,  foi numa emboscada que montámos no famoso corredor da morte em Guileje. Foi "espectacular" a troca de tiros, os rockets.

A minha secção de morteiro mandou algumas "bojardas". O nosso capitão abriu o fogo. Fizemos 4 mortes e recuperámos armas, bazucas e munições. Fizemos "ronco". Fomos aplaudidos em Guileje pelos companheiros que lá estavam.

Muitos soldados, mal chegaram a Guileje, tiveram de mudar de fardamento pois não aguentaram a pressão e ansiedade vividos após a montagem da emboscada até à passagem dos turras.

Infelizmente fui evacuado, em Fevereiro 1968 para o Hospital Militar de Bissau. Fiz os exames normais e foi-me detectada uma úlcera no estômago tendo regressado a Lisboa num Skymaster da Força Aérea.
Esta enfermidade foi devida ao desgaste, não só emocional como também ao desgaste físico. Podeis ver a foto que envio tirada em Sangonhá.

Só um elogio a um Homem que soube comandar disciplinarmente e ao mesmo tempo amigavelmente uma Companhia. Esse Homem foi o nosso capitão VEIGA DA FONSECA.




2. Comentário de CV

Caro Vilaça, bem-vindo à Tabanca.
Pela tua apresentação verificamos que estiveste na Guiné menos de um ano por motivos de doença. Como se costuma dizer, há males que vêm por bem. Esperamos que não tenham ficado sequelas para o resto da vida.

Apesar da tua saída airosa, antes do tempo regulamentar, não te dispensamos da obrigação de nos contares as tuas recordações daqueles meses de luta e privações de toda a ordem.

Se tiveres fotos que julgavas que jamais veriam a luz do dia, manda-as para nós que serão publicadas como novas.

Não nos dizes qual foi a tua Unidade, mas pelas minhas pesquisas pertenceste à CART 1692/BART 1914. No teu próximo contacto esperamos a confirmação.

Na quase certeza de teres pertencido ao BART 1914, deves ter conhecido na tua Companhia o então Alferes António José Pereira da Costa, actualmente Coronel Reformado, nosso tertuliano.

Para saberes como somos e o que queremos com este trabalho, lê o lado esquerdo da nossa página. Podes pesquisar no Blogue utilizando os marcadores disponíveis por locais, autores, Unidades, assuntos, séries, etc. Tens um manancial de informação disponível à tua disposição.

Quero enviar-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.


O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7085: Tabanca Grande (247): Alberto José dos Santos Antunes, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2402 (Olossato) e CCAÇ 5 (Canjadude) (1970/72)

4 comentários:

jteix disse...

Olá Vilaça

Sejas bem aparecido cá por estas "blogadas".
Nos nossos encontros (o Vilaça é um amigo da velha-guarda e já era camarada e companheiro) lembro-me de te ter falado neste blogue.
Provavelmente, como só agora te meteste nisto, dizes... já não te lembras.
Noto que na tua fotografia recente, falta lá qualquer coisinha na camisola!!!
Então a "barreta" do combatente?
Eu bem me farto de pregar de que todos os ex-combatentes, mas principalmente os veteranos de guerra a deveriam usar para sabermos quem somos, quantos somos e nos identificarmos na rua perante os outros, (ver Post 4417), mas não adianta, é pregar no deserto. Será esquecimento?

Caro Vilaça, amigo:
Benvindo a esta Grande Tabanca que é a Tabanca Grande, muito embora também haja por aí espalhadas muitas Tabancas Pequenas, (qualquer dia há-de nascer uma Federação das Tabancas) e também grupos e grupinhos e até... um Bando.
Já te tinha falado nele, o já célebre "Bando do Café Progresso" que "conspira" todas as segundas quartas-feiras de cada mês.
Aparece por lá, o próximo é no dia 10 de Novembro. O convite é extensivo a todos os ex-combatentes que queiram aparecer.

Bem vindo e até sempre e que seja breve.
Um abraço amigo.
cumprim/jteix

PS(?): Agora já não é no Garça Real de manhã, é no Cifrão, ali para os lados da Pide de "boa memória", com a cambada do Bando ás 2ªs 4ªs e 6ªs de tarde.
Aparece, aparecei cambada.
jt

Luís Graça disse...

Diz o Jorge Teixeira (o outro, não o Portojo), noutro poste (P7173, de 25 do corrente), que há postes e postes, há gente que tem "direito" a mais comentários do que outros...

Eu diria, logo à cabeça, que ele tem carradas de razão, de facto nem sempre nos tratamos uns aos outros com equidade, ou seja, de acordo com o princípio da igualdade de oportunidades... (Nem sei se na prática será possível, pese embora a nossa preocupação de justiça relativa).

Pela parte que me toca, "há dias e dias" (... mas raramente à boa vida).

Quem habitualmente tem o pelouro da Tabanca Grande é o Carlos Vinhal que, coitado,lá está no seu posto para o "ombro arma"!... E já lá está há várias comissões, à porta (simbólica) da nossa Tabanca Grande da qual se diz que não tem portas nem janelas (ou deveria ter)...

Há tanto tempo, ao sol e
à chuva, de dia e de noite, que eu já não sei se é o Carlos, em carne e osso, se é um sósia, se é uma estátua do Carlos, se é um espanta-periquitos... (Bem, eu acho que ele tem sido mais um apanha-pardais do que um espatanta-piriquitos, a avaliar pelas nossas entradas e saídas...)

De qualquer modo, quando ele saúda um tabanqueiro novo (um "periquito" nestas lides...), fá-lo em seu nome (CV), dos demais editores (LG, EMR, VB) e do resto da maralha (os tais meio milhar)...

Fá-lo, e muito bem , por delegação de competências, ou melhor, por perfeito entendimento, entre nós, do que é o trabalho (e o espírito) de equipa...

Sempre que posso, também gosto de dar "um arzinho da minha Graça", como diz o Jorge, mas a título pessoal, como simples leitor e membro da Tabanca Grande, não propriamente como editor... Mas é, muitas vezes, aleatoriamente, que faço comentários, sem estar a privilegiar A, B ou C... (e naturalmente correndo o risco de discriminar ou de ferir as susceptibilidades de D, E ou F...).

Quanto ao teu/nosso camarada Vilaça, foi neste caso o D, E ou F. Certamente que terei o prazer de comentar um próximo poste dele, assinado por ele...

O que seria desejável era haver muito mais gente, pelo menos um terço dos tais 455, a comentar directamente os nossos postes (e sobretudo a saudar os novos tabanqueiros, tertulianos ou camarigos)...

Mesmo assim, só de Junho até agora, decorridos menos de 5 meses, já tivemos cerca de 15500 comentários (mais de 3 mil por mês, 100 por dia), o que não é nada mau.

Comentar é fácil, mas há muitos camaradas que não têm o hábito, nem o gosto, nem o traquejo...

Vamos incentivá-los a participar (=tomar parte, ser actor, e não mero figurante) mais no blogue...

Um Alfa Bravo para ti e para o Vilaça. Luís

jteix disse...

Caro Luís

Calma!... também não era preciso um tratado sociológico.
Mas... Deus te pague já que nada é de "Graça" e eu não consigo ter troco para tal argumentação.

Um abraço e desculpa o desabafo.
ah!... e um bem-haja ao Carlos Vinhal pelas "comissões" prestadas.

cumprim/jteix

Anónimo disse...

É verdade...
tem razão o Luís Graça.
Os meus cumprimentos a todos pelo esforço de que pouca gente se dará conta.
'Isto' deve dar um trabalho do caraças e deve ter exigido muita 'diplomacia' e determinação para se poder manter durante tanto tempo, com esta apreciável dinâmica...
os beneficiários são todos os que lêem com regularidade e das falhas ou faltas aqui não reza a História.

Agradeço as indicações de reflexão que fui obtendo aqui, na observação de uma tropa que, mal ou bem, só vi de passagem quando 'lá' estive.

SNogueira