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sábado, 27 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14086: O que é que a malta lia, nas horas vagas (29): O que é que eu lia durante a guerra? Para além de livros, lia os jornais O Eco de Pombal e A Região de Leiria e a revista Seara Nova que, mensalmente, me era enviada pela namorada. Mas não só (Manuel Joaquim)

1. Mensagem do dia 24 de Junho de 2013, do nosso camarada  Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67):

Meus queridos camaradas e amigos:
"Quem é vivo sempre aparece", não é?
Justifico-me:
Forcei-me a uma espécie de licença sabática na minha colaboração neste blogue. Aconteceu-me o que não previa quando decidi mergulhar na leitura das cartas que suportaram a minha série "Cartas de amor e guerra". Stressei-me!
Esse mergulho começou a incomodar-me psiquicamente. Era a primeira vez que relia essas cartas, mais de 40 anos após terem sido escritas. E o incómodo sentido não era provocado pelas lembranças de guerra mas pela tomada de consciência de que muito pouco se cumpriu do que, naquela altura, eu imaginava poder vir a acontecer na vida futura deste país.
Começava a sentir-me derrotado, a ter pena do jovem que fui nos tempos de Guiné, um jovem esperançoso e lutador por um futuro mais próspero, mais culto e mais feliz para o povo português. Via a minha vida como se a maioria dos meus sacrifícios pessoais tivessem sido em vão. Era como que uma sessão de masoquismo psíquico. De cada vez que me debruçava na leitura das cartas de guerra para delas retirar o que entendesse como interessante para publicação, começava a sofrer. Mas não foi o publicado que me "stressou".
Precisei de me afastar durante uns tempos, cortando mesmo com alguns trabalhitos já iniciados para publicação no blogue. Olhem, o convívio com os camaradas da Guiné ajudou e continua a ajudar a me sentir melhor.
Retomei agora esse trabalho e o que me apareceu mais fácil e rápido de completar foi o subordinado à série sobre "o que a malta lia, nas horas vagas". Aqui vai ele. Outros se seguirão, que a vontade me não falte.
Acho que a série teria muito interesse sociológico se mais pessoas colaborassem dizendo o que liam ou se não liam (alguns de nós eram analfabetos!), mesmo que só lessem o boletim do padre da sua paróquia. Por falar nisto e pelo que vi então, não ficaria surpreendido se os boletins paroquiais tivessem sido os campeões como sujeitos de leitura
Penso que não viria a ser insignificante o que resultasse de um maior conhecimento sobre este tema. Temos de deixar sinais para os investigadores futuros. Lembro o que agora, 100 anos depois, se tem andado a publicar sobre a 1.ª Guerra Mundial.
Em anexos, vão o texto e as suas fotos.

Um abraço amigo para cada um de vós.
Manuel Joaquim


O que é que a malta lia, nas horas vagas

O que é que eu lia durante a guerra? Para além de livros, lia os jornais O Eco de Pombal e A Região de Leiria e a revista Seara Nova que, mensalmente, me era enviada pela namorada. Mas não só.

“Tudo o que vinha à rede era peixe”, fossem revistas e jornais avulsos, fossem boletins da minha paróquia natal ou de qualquer outra totalmente desconhecida, tudo estava sujeito a leitura. Até noveletas delicodoces, a que não chamo livros, feitas para "fazer chorar as pedrinhas da calçada" e/ou "partir corações apaixonados". À época, era frequente vê-las nas mãos de adolescentes (e não só), naquelas idades em que o romantismo e o sonho facilmente enfunam as asas do desejo. "Mastigava" um ou outro desses livrinhos que porventura encontrasse nas mãos de alguns camaradas. Divertia-me com o enredo, mesmo sentindo o ressoar de gargalhadas nos meus ouvidos, vindas de alguém que eu tinha "gozado" anteriormente por vê-lo consumir tal "literatura".

Apesar do meu grande gosto pela leitura, nunca esta teve prioridade na ocupação dos meus tempos livres na Guiné. As "primeiras" prioridades, seguidas por vezes a contragosto, foram a actividade escolar e a escrita. Dei aulas de instrução primária a soldados e crianças e também tive muita actividade epistolar pois, para além da regular correspondência postal com os meus entes queridos e amigos mais chegados, tinha um grupo alargado de pessoas com as quais me correspondia pontualmente. As "segundas" prioridades estavam nas petiscadas, nas “copofonias”, nos jogos de cartas, na música, nas passeatas pela tabanca e seus arredores. A leitura viria depois, sempre se arranjava algum tempo para o efeito.

Revista Seara Nova, número de Novembro/1965. 
Revista política mensal, de caráter oposicionista ao regime do Estado Novo. 

Princípios Elementares de Filosofia de Georges Politzer. 
O autor, intelectual comunista francês, foi fuzilado pelos nazis. 
 O livro ainda hoje tem grande circulação na área ideológica marxista-leninista. 

Na viagem para a Guiné foram comigo alguns livros. Lembro Os Bichos e Diário VIII de Miguel Torga, Diário de Édipo de Alberto Ferreira, A Cidade das Flores de Augusto Abelaira, Guillaume Apollinaire de George Vendrès, Poèmes de Paul Éluard, Dialogues com Maurice Duverger, La Guerre Revolucionaire de Mao Zedong, Mao Tsé Tung como então se dizia. E, como jovem muito interessado nas doutrinas marxistas, levei comigo o meu primeiro “livro de estudo” desta área, Principes élémentaires de philosophie de Georges Politzer.

Esta última obra é uma espécie de primeiro "catecismo" do marxismo-leninismo onde, numa linguagem acessível, se expõem os seus princípios básicos, filosóficos e doutrinários. E lá andei eu a tentar aplicar-me na aprendizagem do seu conteúdo, às "cabeçadas" com o materialismo dialéctico. Mas a doutrina não me cativou por muito tempo. Naquele ambiente, ela não conseguia dar-me a luz que me pudesse orientar nem a “enxada” para trabalhar a minha terra "ideológica“.

A Cidade das Flores de Augusto Abelaira. 
O seu enredo gira à volta de um grupo de jovens de Florença, em luta pelos seus ideais perante a repressão imposta pelo fascismo de Benito Mussolini. A razão da acção se passar em Itália pode ter sido um subterfúgio para escapar à comissão de censura do regime salazarista pois, da leitura do livro, percebe-se bem a denúncia das estruturas sociais e políticas do Portugal de então. 

Comprei A Cidade das Flores em Lisboa, no final de agosto/64, num intervalo da viagem de comboio para Pombal após terminar o CSM em Mafra. Não era meu hábito escrever nos livros mas aconteceu naquela altura. E, de sopetão, escrevi na 1ª página (ainda me lembro desse momento):

Na satisfação duma etapa cumprida, sacrificada, do final do meu curso de sargentos milicianos de infantaria, volto-me para a cidade das flores, imagem feliz dum meio social. Antes de ler o livro viro-me para o título e só ele já me satisfaz, tal é a frescura e liberdade que ele me faz respirar. 
A horrível vida militar não me embota, com certeza. Quero paz e não guerra. Quero a felicidade do meu povo e não a sua destruição moral e material. Não posso tolerar as doutrinas que me apregoam. Não posso ser militar.

"Não posso ser militar" mas fui-o, muito contrariado com certeza. E cerca de um ano depois estava a desembarcar na Guiné.

Chegado a Bissau, logo na minha primeira visita ao café Bento, observei um pequeno escaparate com umas dezenas de livros e fiquei com vontade de ler alguns deles. A disponibilidade monetária era pouca mas, durante os quase três meses de estada em Bissau, comprei estes (na altura anotei a data da sua compra):
Mar Morto de Jorge Amado; A Barca dos Sete Lemes de Alves Redol; Rum de Blaise Cendrars; A Noite Roxa, As Máscaras Finais, Terra Ocupada, Exílio Perturbado, os quatro de Urbano Tavares Rodrigues; Gorky por ele próprio de Nina Gourfinkel; Greco de Simon Vesiduk; Goya de Eric Porter; Pieter Bruegel de Felix Timmermans.

Foto 3.

"Terra Ocupada" de Urbano Tavares Rodrigues e cinco dos 21 "blocos" de um famosíssimo poema de Paul Éluard, "Liberté". 

No início do livro Terra Ocupada, pag. 7, o autor cita cinco dos 21 "blocos" de "Liberté", um famoso poema de Paul Éluard. Traduzindo à minha maneira:

No patamar da minha porta / nos objectos familiares / sobre as chamas do fogo bento / eu escrevi teu nome

Em toda a carne concedida / na fronte dos meus amigos / em cada mão estendida / eu escrevi teu nome
............

Nos meus refúgios destruídos / nos meus guias desconjuntados / nas paredes do meu tédio / eu escrevi teu nome

Sobre a ausência sem desejos / sobre a nua solidão / sobre os degraus da morte / eu escrevi teu nome.
............

E pelo poder duma palavra / recomeço minha vida / eu nasci para te conhecer / para te chamar Liberdade 

Entretanto, de Lisboa, a minha querida namorada começou a enviar-me um livro de vez em quando. Como neles não há referências a datas, não me lembro de todos mas estes ficaram-me na memória de os ter recebido:

"A Memória das Palavras" de José Gomes Ferreira; "Capitães da Areia" e "D. Flor e Seus Dois Maridos", de Jorge Amado; "O Passo da Serpente" de Batista Bastos; "As Boas Intenções" de Augusto Abelaira; "Malthus e os Dois Marx" de Alfred Sauvy; "Paroles" e "Histoires" de Jacques Prévert.

De referir ainda que, no meu tempo de Bissau, me veio parar às mãos um dos livros que mais me ficou na lembrança, "Trópico de Capricórnio" de Henry Miller. Li-o com muito prazer e entusiasmo. Algumas das suas páginas mais socialmente panfletárias, especialmente as de cariz erótico, chegaram a ser lidas em voz alta, o que proporcionava divertidas gargalhadas no dormitório de Sta. Luzia a que se seguia normalmente alguma discussão sobre o tema lido. Uma expressão francesa marcou um desses momentos, para mim inesquecível. O casual leitor do momento e que lia o livro em silêncio, solta em voz grossa, bem alta e firme: pourri avant d'être mûri !!! ( apodrecido antes de estar maduro).

Ainda me lembro da figura do dono daquela voz potente mas não do seu nome. Tinha chegado há alguns dias, vindo lá do sul e já bem batido no mato. Ninguém terá percebido o porquê e o sentido da frase. Nem um ou outro com conhecimentos de francês lá chegou. Apodrecido antes de estar maduro ?! Mas o "velho" furriel miliciano de Cabedu, com certeza compreendendo isso, falou mais ou menos assim:
- Rapazes, um conselho: vocês estão verdes, vê-se e vocês sabem-no. Basta ouvir-vos a falar sobre umas coisitas de merda e que tanto medo causa a alguns. Cuidado, ninguém se pode permitir estar verde e apodrecer, percebem? E muito cuidado também para não apodrecerem quando estiverem maduros! 

Não imagino quantos o "ouviram". Talvez poucos tivessem percebido a charada, que havia uma personagem-mistério no seu sintético aviso. Eu sei que havia, era a "senhora morte".

O livro foi-me emprestado por um camarada amigo, de serviço no QG, mas não estava à espera do que me aconteceu e que não me permitiu devolver-lho. Tendo saído de barco para Farim, em escolta, regressei a Bissau uns bons dias depois, já noite. Quando cheguei ao quartel recebi uma "bela" notícia, nem mais nem menos do que a saída para Bissorã logo na manhã seguinte. E, para cúmulo, durante esta viagem foi-me roubado um pequeno saco onde ia o livro junto a todos os meus documentos e outras coisas mais pessoais, de caráter afectivo. E também "voaram" as poucas notas que tinha poupado até então. Cheguei a Bissorã teso que nem um carapau!
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12927: O que é que a malta lia, nas horas vagas (28): Fotonovelas não temos, mas arranja-se Sigmund Freud (José Manuel Matos Dinis)

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12927: O que é que a malta lia, nas horas vagas (28): Fotonovelas não temos, mas arranja-se Sigmund Freud (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 27 de Março de 2014: 

Viva Carlos,
Apesar da chuva desejo-te boa tarde.
Hoje, quando manuseava um dossier da Guiné, onde guardei uns apontamentos sobre Salazar, descobri o pequeno papelinho, que anexo, e pode muito bem enquadrar-se na rubrica do blogue, que acolhe os temas relacionados sobre as nossas leituras naquele espaço geográfico da antiga colónia, durante as nossas comissões militares.

Já anteriormente me pronunciei sobre coisas que me interessava ler. Referi que em Piche havia um acervo livreiro sobre, principalmente, temas romanceados, Lartéguy e Amado eram à farta. Mais tarde, em Bajocunda, já havia uma certa evolução gustativa, e o colectivo livreiro passou a integrar ensaios, poemas interventivos, e outras publicações de carácter político e contestatário.
Coisas que líamos na pacatez do lugar e dos "intervais" da guerra, sendo que uma ou outra poderia considerar-se "armadilhada".
Nunca houve azar, nunca irrompeu nos quartos qualquer brigada da secreta, nem consta, que tivesse havido bufaria, até porque o âmbito dos leitores mais atrevidos era bastante reduzido e circunspecto.

Em Piche, como já referi noutra ocasião, também tive o meu período "intelectual" dedicado às fotonovelas. Andei próximo de ficar apanhada, mas, ao que consta, o meu stress pós-traumático só tem a ver com a característica que me atribuem, de ser um bocadinho maluco dos cornos. Ou era, pois já me dou conta, de que, nesta idade, às vezes, convém ter travões.

Passemos então à matéria da relíquia, que não guarda rendas, nem odores de sedução, como a do Eça com todo o encanto da descrição que ele fez. Pelo contrário, até pode passar ao lado da curiosidade da maioria, e vou descrevê-la com a carga fictícia de quem já não se lembrava do assunto.


FOTONOVELAS NÃO TEMOS, MAS ARRANJA-SE SIGMUND FREUD

Um qualquer dia, de certeza em Bajocunda, algum funcionário ou militar terá sido portador do papelinho digitalizado, que "pede por favor" aos Srs Furriéis (com maiúscula, que o respeitinho é muito bonito), se podem emprestar fotonovelas ou foto Romances (?).
Acrescenta alguma coisa, que não se parece com nada, e assinou.

Igualmente, este teu amanuense deve ter sido o destinatário, ou um dos destinatários, mas de alguma maneira tornou-se personagem, quiçá a pensar produzir algum efeito especial num futuro blogue dedicado às coisas daquele tempo na Guiné.

Como o amanuense não morria de amores pelo capitão, que considerava descaracterizado, e o autor da missiva com interesses vastos pela leitura não teve em conta, por falta de destinatário expressamente indicado, que a mensagem poderia chegar ao IN, o referido amanuense ousou baralhar Sua Senhoria o capitão, e respondeu nas costas do instrumento mensageiro, que se lamentava a indisponibilidade do material pedido, mas, em alternativa, se assim o entendesse, subentende-se, poderia usufruir da leitura contida em "Psicopatologia da Vida Quotidiana", título perigosíssimo, por o conteúdo poder conter denúncias de certas práticas, associadas a patologias incuráveis nas bordinhas do deserto (Sahará).

E, como se sabe, ninguém gosta de tomar conhecimento de derivas no próprio estado de saúde. Por esta e por outras poderás avaliar como o amanuense nutria profunda estima pelo maioral, que retribuía (a ordem é indiferente), tanto quanto possível, na mesma moeda.
Iam-se gramando, até que deixaram de gramar-se. Mas não foi desta. Só não sei, por que raio de artes consegui ficar com a mensagem e a resposta, já que não era meu costume (ainda não é) devassar bens alheios.

Ou será que ele me devolveu o papel com alguma ironia ou ameaça?


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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12882: O que é que a malta lia, nas horas vagas (27): Em Galomaro li "A Relíquia" e "O Primo Basílio" do Eça de Queirós, José Vilhena e outros autores, ouvi a Maria Turra e decifrei os escritos do 2.º CMDT do Batalhão (António Tavares)

sábado, 22 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12882: O que é que a malta lia, nas horas vagas (27): Em Galomaro li "A Relíquia" e "O Primo Basílio" do Eça de Queirós, José Vilhena e outros autores, ouvi a Maria Turra e decifrei os escritos do 2.º CMDT do Batalhão (António Tavares)

1. Mensagem de António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 16 de Março de 2014:

Caro Vinhal,
Junto envio um texto para publicação caso haja interesse.
Abraço de amizade.
António Tavares


O que lia em Galomaro? 

Livros e revistas que passavam de mão em mão. Recordo “A Relíquia” e “O Primo Basílio”, de Eça de Queirós; livros de José de Vilhena, escritor humorístico preso pela PIDE em 1962, 1964 e 1966, e outros autores cujos nomes esqueci.
Livros emprestados por um Furriel e por um Alferes. Milicianos politicamente mais progressistas que eu, diria sem comparação.

Recordo que transportei um saco de lona cheio de livros para o Comandante do Batalhão de Nova Lamego. Saco igual ao que nos davam para transportar os nossos haveres. O senhor Tenente-Coronel vivia no Porto e através da sua esposa e de uma família amiga que tínhamos em comum foi feito o pedido a que anuí.
Após um ou dois dias da minha chegada a Galomaro, aterra na pista de aviação um DO com um impedido do Ten-Cor para levantar a encomenda. Nunca vi o Ten-Cor e nunca me agradeceu o ter sido seu carregador. Sei que não fui o único caso em que éramos servidores e desprezados… Enfim… Coisas habituais na maioria dos tropas de carreira. Não conheciam a palavra: Obrigado.

De todas as leituras, aquela que me gastou horas e horas foi ter de decifrar os escritos do 2.º Comandante do meu Batalhão que tinha uma letra quase incompreensível. Depois de compreendida a letra dos documentos/rascunhos, estes tinham de ser ditados ao Cabo Escriturário para os dactilografar na máquina que vemos na foto.


Confesso que não foi dos piores serviços que fiz naqueles longínquos 692 dias passados nas matas do leste do Comando Territorial Independente da Guiné. Em dias de calor tórrido estar a trabalhar debaixo de chapas de zinco escaldantes era aborrecido e cansativo, porém nada comparável com quem andava em Operações nas matas. Repito: era impossível comparações.

Também ouvia boa música que o Comandante comprava para as Messes de Oficiais e Sargentos. No fim da comissão ofereceu um disco a cada Sargento e Oficial da CCS. O meu disco é o da imagem.





Jogávamos matraquilhos, cartas, xadrez.

A rádio e a “Maria Turra” também eram escutadas. Esta umas vezes dizia a verdade, outras inflaccionava os acontecimentos com o número de mortos e feridos das NT. Águas passadas… Em 1970/72.


(TEXTO ESCRITO SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA)
António Tavares
Foz do Douro, 16 de Março de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12643: O que é que a malta lia, nas horas vagas (26): A Bola, o Diário de Notícias, a Vida Mundial, Banda Desenhada... (Jorge Araújo, ex-fur mil, op esp/ ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12643: O que é que a malta lia, nas horas vagas (26): A Bola, o Diário de Notícias, a Vida Mundial, Banda Desenhada... (Jorge Araújo, ex-fur mil, op esp/ ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974)


Foto nº 4


Foto nº 3


Foto nº 2


Foto nº 1 

Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74) >  O Jorge Araújo e os seus  "tempos livres"...

Fotos: © Jorge Araújo (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo [, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974],  com data de 9 de dezembro último:


Caríssimo Camarada Luís Graça,

Procurando no baú das imagens do meu tempo de Guiné lá encontrei algumas [poucas] que ajudaram a compor o texto que anexo, referente a esta nova série temática.
Que tenhas uma boa semana.

Um abração, Jorge Araújo.



2.  O que a malta lia, nas horas vagas:  A Bola, o DN - Diário de Notícias, BD - Banda Desenhada e VM - Vida Mundial (Jorge Alves Araújo, ex-fur mil, op esp/ ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974)


 O que eu lia… quando o contexto o permitia.

Não será novidade para nenhum dos camaradas tertulianos, ex-combatentes no CTIGuiné, que o tempo reservado à leitura [ou leituras] não tinha dia nem hora marcada, dependendo da interacção entre, principalmente, duas das dimensões humanas: a biológica e a psicológica, já que a social se ia desenvolvendo com alguma tranquilidade.

Daí o repouso ser considerado como atitude de bom senso no sentido de garantir a melhor condição física possível, carregando o máximo de baterias, já que o tempo prospectivo era… sempre… uma incógnita, independentemente de termos, naquela época, 21/22 anos. Mas, como sabemos, cada Ser Humano é uno e indivisível, ou, como nos refere o poeta brasileiro, nascido em Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade [1902-1987], “Todo o Ser Humano é um estranho ímpar”.

Por isso, as minhas leituras… e escritas… no Xime, estavam dependentes da intensidade da jornada e da competente recuperação que nos era imposta pelo nosso grau de consciência, quanto às crenças, expectativas e desempenhos, tendo em consideração o somatório de experiências que esse contexto sociogeográfico e militar nos determinavam.

Agora, que o tempo nos permitiu criar um certo distanciamento sobre as diferentes práticas, é relativamente fácil concluir que se tratava de um contexto difícil e muito complexo, fazendo apelo permanente a um elevado grau de concentração, pela qualidade e exigência da missão global, na justa medida em que estávamos encurralados por arame farpado e por dois rios, o Geba e o Corubal, e quem lá esteve ou por lá passou sabe bem do que estou a falar.

Nesse sentido, as primeiras leituras [e escritos] eram reservadas à actualização das notícias vindas da Metrópole – de familiares e amigos – em particular dos pais, em que a minha mãe, agora com oitenta e seis anos, escrevia todos os dias, numerando os aerogramas, as cartas e/ou os postais sequencialmente, para efeitos de conferência, caso algum deles se extraviasse. [Foto nº 1]

Ao meu pai [que já não está entre nós] estava reservada a remessa do Jornal Desportivo «A Bola», então trissemanário [desde 10Jul1950], com edições às 2ªs, 5ªs e sábados. Porque tinha um estabelecimento comercial, onde existiam diariamente alguns dos matutinos editados em Lisboa, no dia seguinte à sua publicação fazia o pacote, e remetia-me para a Guiné. [Foto nº 2]

Juntamente com o jornal “A Bola”, enviava-me, também, com periodicidade irregular, um exemplar do “Diário de Notícias”, baseado em critério pessoal, cuja opção residia em factos e temas que estivessem relacionados com a vida política nacional e/ou com referências a notícias ultramarinas, em particular sobre a Guiné. [Foto nº 3]

No aquartelamento do Xime, no ano de 1972, não existia nada organizado sobre literatura. Mas, para além da referida anteriormente, circulavam outros jornais regionais, particularmente do Norte, remetidos pelos familiares do efectivo militar ali residente, assim como livros de Banda Desenhada, já muito gastos pelo tempo e pelo uso, a maioria deles deixados pelas Unidades Militares que por lá passaram. [Foto nº 4]

Neste lote avulso de livros, era também possível encontrar algumas revistas da Vida Mundial.

Eis, em suma, a minha pequena contribuição histórica sobre o pedido formulado para alimentar a série começada no Poste 12371, de 1 de Dezembro de 2013 (*).

Um abraço e votos de muita saúde… de modo a que nos permita continuar a ler, a escrever e a contar… outras histórias. (**)

Jorge Araújo.

09Dez2013.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12371: O que é que a malta lia, nas horas vagas (1): a revista "Time", de 10 de maio de 1971 (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12522: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (3): Tenho pena de não ter, na minha posse, cartas que escrevi, onde narrava o nosso sofrimento.

1. Mais um texto do nosso recém membro da Tabanca Grande, Mário Gaspar (*):

Eu,  Mário Vitorino Gaspar, ex-Furriel Miliciano de Artilharia Nº 03163264, com a Especialidade de Explosivos de Minas e Armadilhas da CART 1659 – “A Zorba” e com o lema “Os Homens não Morrem”, que cumpriu a Comissão de 1967 a 1968 em Gadamael Porto e Ganturé, em relação à sondagem [sobre o que a malta lia nas 'horas vagas'] (**), embora tenha enviado já uma primeira resposta, como solicitado, interessa talvez completá-la.

Tanto em Gadamael Porto, como em Ganturé nada existia. A luz que havia era improvisada, com garrafas de cervejas repletas de gasolina, um pavio de gaze enfiado num orifício de uma carica. À noite, e através de um motor, tínhamos luz principalmente para iluminar o espaço que ia da paliçada ao arame farpado.

Não havia nada, nem possibilidades de tomar um banho, senão através de um púcaro, feito de uma lata de óleo com uma asa de arame. Os copos eram feitos de garrafas de cerveja, cortados com um ferro em brasa, depois de cheios até à zona que pretendíamos aproveitar. Os armários, mesas, bancos, etc. feitos de madeiras dos caixotes de munições. As cadeiras – e que luxo – feitas das madeiras dos barris de vinho. Como é sabido, tudo improvisado portanto.

Não existiam nem bibliotecas com livros, nem sem livros. Os jornais e revistas que lia eram enviados pela minha mãe, que aproveitava a embalagem no envio dos mesmos para que recebesse uma ou duas postas de bacalhau, fazendo um embrulho que só uma mãe é capaz de fazer. O bacalhau era partilhado por todos. Quando chegavam à minha mão as notícias, já eram de um passado muito remoto.

Quanto aos livros que lia, levei-os de casa, e ficaram sobre um caixote de munições, que era simultaneamente a minha mesa de cabeceira. Um livro de contos, que continha um intitulado “Crescei e Multiplicai-vos” de Urbano Tavares Rodrigues; “A Fanga” de Alves Redol; “Zorba o Grego” de Nikos Kazantzákis;  e “A Mãe” de Máximo Gorki. 

Quando os relia, voltava a relê-los visto não ter mais nada para ler. E eu que tanto gostava de me deliciar na leitura. Outros livros que acabei por ler foram emprestados, e até comprados quando gozei licença. Lia alguns quando me deslocava a Unidades onde habitualmente me deslocava para intervenções operacionais, livros do Furriéis Milicianos que tão bem conhecia. Leitura e bebida que era partilhada, quando “visitávamos ou éramos visitados pelos Furriéis Milicianos”. 

Recebi também das Madrinhas de Guerra alguns livros. Lembro-me, já no final da Comissão, em Bissau receber de uma Madrinha de Guerra um livro, que adorei, e não recordo o título, de Rainer Maria Rilke. Acabei de o ler quando fazia Serviço de Sargento da Guarda, no Forte da Amura. Lia a revista “Seara Nova”, nunca conseguindo a sua assinatura, disseram-me em Lisboa que não a podiam enviar para a Guiné. Recebia-a mas enviada por um amigo.

Quanto à música, na Messe em Ganturé tínhamos um gira discos, que era de um dos furriéis, mas só ouvíamos uma canção dos Sony and Cher - “I got you Babe”. Parecia mais estarmos nos “rangers” em Lamego, massacrados com as músicas “O sambinha chato”, nunca cheguei a saber de quem,  e “Et maitenant”, que acho que é de Gilbert Becaud. Música ouvia e mal na rádio: Bissau e Guiné ex-Francesa – Mornas e Coladeiras – principalmente.

Joguei à bola em Gadamael Porto, na zona que denominávamos de pista, cheia de torrões e buracos.

Jogávamos aos jogos de paciências, e a determinado momento começámos a jogar outros jogos a dinheiro. Isso provocou algum descontrolo, mas depressa acabámos por pôr cobro a tal. Joguei muitas vezes ao king no Comando mas o máximo que se perdia era uma coca cola.

Não ia à caça nem à pesca.

Frequentemente deslocava-me para junto das tabancas, convivendo com as populações, e mais ainda com os camaradas da Companhia, com todos eles, independentemente dos postos.

Quanto aos copos, era uma desgraça. Depois de regressar das operações – que eram muitas – bebias sete cervejas previamente encomendadas ao cantineiro. Bebia-as, e por vezes, quando tinha a triste ideia de depois do banho e do jantar voltar à cantina eram mais, pagas por mim e até mais, pagas pelos militares (principalmente Soldados e Primeiros Cabos). Nos dias em que não existiam saídas, começava o dia a beber cervejas ao pequeno almoço, ao almoço, no jantar e nos intervalos. Portanto, quando existia uma peça de caça, uma galinha de mato, bacalhau ou um franganote, lá me chamavam para um abrigo. E estávamos até esgotar as cervejolas.

Dormir a sesta estava fora de causa. Tinha os dias bem ocupados.

Quanto à escrita, havia sempre tempo no intervalo dos copos e das operações. No princípio da comissão – e em Ganturé – iniciei um trabalho sobre os usos e costumes da população. Mas desisti, queimando tudo o que conseguira recolher junto das populações. Escrevia principalmente cartas para a família, amigos e madrinhas de guerra. Era o meu principal alimento escrever e, depois aguardava pacientemente pelas respostas, olhando para o céu esperando a avioneta. E ao receber correio, que vinha quase sempre atrasado, sentia uma frustração ao assistir ao desespero de quem não recebera correio. 

Tenho pena de não ter na minha posse, cartas que escrevi, onde narrava o nosso sofrimento. Para os meus familiares, eu simplesmente passava férias em terras de África. Um amigo ainda me devolveu as cartas que lhe escrevi.

Também fui professor da 3ª e 4ª classes, tanto dos Soldados que compunham a Unidade, como os que nela estavam integrados: Praças “U” e Caçadores Nativos.


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Notas do editor:


sábado, 28 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12515: O que é que a malta lia, nas horas vagas (25): Li tudo o que era possível apanhar e estudei no Liceu Honório Barreto (TCor José Francisco Robalo Borrego)

1. Mensagem do nosso camarada José Francisco Robalo Borrego, Ten Cor Ref (GA 7, Bissau e 9.º Pel Art, Bajocunda, 1970/72), com data de 26 de Dezembro de 2013:


O QUE É QUE A MALTA LIA NAS HORAS VAGAS

Embora atrasado, aqui fica o meu comentário.

Ocupei os meus tempos livres a escrever, ler e principalmente a estudar:
- Escrevi a madrinhas de guerra, familiares e amigos;
- Li tudo o que era possível apanhar;
- Li livros que levei comigo;
- Li e estudei o programa para furriel do quadro permanente da Arma de Artilharia que era muito extenso;
- Estudei e fiz o Ciclo Preparatório na Escola Preparatória Marechal Carmona;
- Estudei e fiz algumas disciplinas do 5º ano no Liceu Honório Barreto.

Como estava colocado em Bissau, foi-me possível desenvolver todas as acções acima referidas com muita força de vontade e determinação!
Quando alguns camaradas me perguntavam, como conseguia eu estudar tanto, num ambiente tão difícil, eu costumava responder na brincadeira que estava a seguir à risca o lema do Senhor General Spínola “ POR UMA GUINÉ MELHOR E ENQUANTO SE LUTA, CONSTRÓI-SE".

Ex-Liceu Honório Barreto
Foto: © José Francisco Robalo Borrego (2012). Direitos reservados.

Por tudo o que consegui no campo pessoal e profissional, estou grato à Guiné, daí a minha forte ligação emocional àquele País.

Desejo a todos e às excelentíssimas famílias, continuação de Boas Festas e um 2014 o melhor possível.

Um abraço amigo do
José Borrego
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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12509: O que é que a malta lia, nas horas vagas (24): Leon Uris, entre outros, e muita música (Abílio Duarte)

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12509: O que é que a malta lia, nas horas vagas (24): Leon Uris, entre outros, e muita música (Abílio Duarte)

1. Mensagem do nosso camarada Abílio Duarte, ex-Fur Mil Art da CART 2479 (que em JAN70 deu origem à CART 11 que por sua vez em JUN72 passou a designar-se CCAÇ 11), Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70), com data de 13 de Dezembro de 2013:


O que se lia, o que se ouvia e o que se via

Não me recordo o que estava a ler nesta foto, mas de certeza era qualquer tema relacionado com a criação do estado de Israel, e as guerras que tiveram em especial a guerra dos 6 dias.

Talvez influenciado pelos livros de Leon Uris, como Êxodus e Mila 18, era grande fã do general Moshe Dayan.
As reportagens e artigos sobre a guerra dos 6 dias eram as minhas preferidas.
E lendo-as, as minhas noções de estratégia e táctica, ficaram mais claras.
Para mim aquele general era um herói.

O que se ouvia era muita música italiana (Modugno, Cellentano, Milva, Morandi, etc.), brasileira (Sérgio Mendes+Brasil 66, Gilberto Gil, Caetano, Roberto Carlos) e norte-americana (Nina Simone, Ella, Ottis Reding, Beatles, Tijuana Brass, James Last, etc.)

Vem esta conversa a propósito do "bicho" gravador-leitor de cassetes que está na mesa.
Eu nunca tinha visto na metrópole tal aparelho, conhecia os gravadores de fita horizontais e verticais, os de cartuchos, e fiquei de olho naquilo numa das vezes que fui à Casa Pintosinho em Bissau, e na primeira oportunidade comprei um, salvo erro era um Sharp.
Depois era só aproveitar através do "Pifas" gravar as músicas preferidas. Era um espectáculo. Este aparelho ficou em Paunca, que ofereci à Rádio Lacrau.

Esta foto é de 1970 e foi captada, em Pirada, aquando uma das nossas deslocações para operar naquele sector, e vieram-me à memória algumas situações a que assisti e vi naquela localidade.

Para mim era estranho que a casa da delegação da PIDE, onde estava o tal agente Mário Soares, era fora do arame farpado, onde este recebia alguns soldados do Senegal e outros informadores.

Também estranho era a quantidade de gente que vinha ao posto de saúde de Pirada, a maior parte vinham do Senegal, e nunca me apercebi de ver alguém a controlar aquela gente.

Vem esta conversa a propósito de que em meados de 1970, onde por acaso não havia ninguém da minha Companhia, Pirada foi atacada a partir do seu interior. As noticias que nos chegaram foi que o PAIGC se misturou com a população que ia ao posto, instalou-se na tabanca e, ao anoitecer, atacou principalmente os abrigos e valas onde estavam soldados da companhia residente, salvo erro eram madeirenses, e se viram atacados pelas costas.
Dizem que foi um alvoroço dos antigos, penso que houve mortos e alguns nossos camaradas foram apanhados à mão.

Se algum membro da nossa tabanca tem melhores conhecimentos deste ataque, gostaria que o relatasse.

Não te roubo mais tempo, um grande abraço, boas festas para ti tua família e restante equipa do blog, assim como para todos os "piriquitos" desta nossa tabanca.

Abílio Duarte

OBS:- Ilustrações e links para o Youtube da responsabilidade do editor
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12499: O que é que a malta lia, nas horas vagas (23): Escrevia, estudava, ouvia música e jogava cartas (Manuel Moreira)

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12505: Inquérito online: Como é que a malta ocupava os 'tempos livers' no mato... Resultados finais (n=90): mais de metade dos respondentes "lia e escrevia cartas/aerogramas" (55%)... e apenas 5% refere a existência de pequenas bibliotecas...



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > c. 1969 >  Bar de sargentos: o fur mil armas pesadas inf, Luís Manuel da Graça Henrique, lendo um dos livros que trouxe consigo, da metrópole. Também assinava duas revistas, o "Comércio do Funchal" e, se não erro, o "Notícias da Amadora" ou "O Tempo e o Modo"...

Há anos que eu não revia esta foto dos meus tempos de Bambadinca... Ainda tinha uma vaga esperança de que este armário, atrás de mim, pudesse ser uma estante com livros... Mas, não: revendo-a, e analisando-a agora com mais atenção, verifico, desapontado, que se tratava de móvel de apoio ao bar... A parte de cima servia para guardar a parte mais preciosa da garrafeira do bar de sargentos:  garrafas de uísque velho, conhaques... Livros, revistas e jornais, só os havia nos nossos quartos... Neste bar, passávamos uma boa parte dos nossos tempos livres: uns jogavam às cartas (king e lerpa, geralmente a dinheiro); outros preferiam, como eu, ficar nas horas mortas da noite a tocar e/ou a ouvir música, cantar, conversar, conviver, beber uns copos... As paredes deste bar, se falassem, teriam muitas histórias para contar... Era também a nossa sala de visitas... (LG)

Foto: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.


1. Resultados finais da sondagem sobre a ocupação dos tempos livres no mato (*), que decorreu de 18 a 24 de dezembro, e teve um total de 90 (noventa respostas). A pergunta admitia mais do que uma resposta: aliás, havia 20 hipóteses de resposta.
SONDAGEM >  NO QUE DIZ RESPEITO À OCUPAÇÃO DOS 'TEMPOS LIVRES', NO(S) AQUARTELAMENTO(S) ONDE ESTIVE, LEMBRO-ME QUE... (PODES DAR MAIS DO QUE UMA RESPOSTA)

Formas de ocupação dos tempos livres  no mato (n=90)... 

Mais frequentes...

Lia e escrevia cartas e aerogramas > 50 (55%)

De preferência convivia com os meus amigos > 46 (51%)

De preferência petiscava e/ou bebia uns copos > 42 (46%)

Eu lia livros com alguma regularidade > 40 (44%)

De preferência ouvia música > 39 (43%)


Eu lia jornais/revistas com alguma regularidade > 37 (41%)

De preferência jogava às cartas > 36 (40%)


Levei livros para a Guiné > 29 (32%)

De preferência jogava à bola > 27 (30%)

De preferência convivia com a população da tabanca > 27 (30%)


Menos frequentes (n=90)...


Assinava revistas/jornais > 16 (17%)

Não tinha disposição para ler > 13 (14%)

Tinha um diário onde escrevia > 13 (14%)

De preferência dormia (por ex., a sesta) > 12 (13%)


Não tinha nada para ler > 9 (10%)

Fazia trabalho comunitário (escola, saúde, igreja...) > 9 (10%)

Não tinha tempo para ler > 7 (7%)

De preferência ia à pesca ou caça > 6 (6%)

Havia uma pequena biblioteca com livros > 5 (5%)

Não sei / não me lembro > 1 (1%)

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Nota do editor:

Vd. postes de:


18 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12470: Sondagem: ocupação dos tempos livres no mato... A decorrer até à véspera de Natal... Os primeiros depoimentos: J.F. Santos Ribeiro, Francisco Palma, Xico Allen, João Martins

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12499: O que é que a malta lia, nas horas vagas (23): Escrevia, estudava, ouvia música e jogava cartas (Manuel Moreira)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69, com data de 20 de Dezembro de 2013:

Para fazer parte deste projecto, vai o meu comentário.

Os meus tempos livres foram ocupados a:

- Escrever a minha História de Guerra em verso;
- Escrever algumas Canções alusivas à Guiné e à Guerra;
- Estudar o meu Curso de Mecânico de Motores Diesel por correspondência;
- Ler alguns livros que levei de casa;
- Ouvir música e as notícias da Voz da Liberdade;
- Jogar às cartas, em jogos de batota;
- Escrever cartas à minha Esposa, Família e Madrinha de Guerra;
- E tudo o que fosse possível fazer para além do que tinha de ser feito.

Anexo três fotos a confirmar o que digo, embora estejam em péssimas condições.

Desejo a todos um Bom Natal e Próspero Ano 2014

Alfa Bravo
Manuel Vieira Moreira



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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12494: O que é que a malta lia, nas horas vagas (22): Autores como: Jorge Amado, Ernest Hemingway, Aquilino Ribeiro, André Maurois, Urbano Tavares Rodrigues, Marguerite Duras, James Hilton e outros (Armor Pires Mota)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12494: O que é que a malta lia, nas horas vagas (22): Autores como: Jorge Amado, Ernest Hemingway, Aquilino Ribeiro, André Maurois, Urbano Tavares Rodrigues, Marguerite Duras, James Hilton e outros (Armor Pires Mota)

1. Mensagem do nosso camarada  Armor Pires Mota (ex-Alf Mil da CCAV 488/BCAV 490, Bissau e Jumbembem, 1963/65), ele próprio escritor e autor do livro de crónicas o "Tarrafo", entre outros, com data de 14 de Dezembro de 2013, com a sua colaboração para a série "O que é que a malta lia nas horas vagas":


Livros, bons companheiros

Se perdia algum tempo a escrever, para além das crónicas de guerra, eram aerogramas, sobretudo para a Lili, mas, de quando em vez, também para uma segunda madrinha, da Luz de Tavira, a Celita (Maria do Céu Batalha), que me foi proposta pelo bem alegre furriel algarvio, Júlio Santos, mas também dedicava algum tempo à leitura dos livros que tinha levado (poucos) ou era possível comprar em Bissau. Não havia qualquer espécie de biblioteca na companhia. Claro, na questão da troca de correspondência, não esquecia a famíla e alguns amigos.

Em Dezembro de 1963, em Bissorã, além de sair para o mato, nervos tensos e alma arrepanhada, embora até ao fim desse mês, ou melhor, até à véspera de Natal, a metralha não me tivesse mordido o ouvido e os nervos, lia “Os velhos marinheiros”, de um dos meus escritores de referência, o brasileiro Jorge Amado, autor de obras eternas, como “Gabriela, Cravo e Canela”.

Um que não me sai da lembrança era um que estendia o sangue, o suor e as lágrimas dos americanos na guerra do Vietnam, cujo terreno pantanoso se assemelhava muito com o da Guiné, que no tempo das cheias reduzia o território a 2/3. O título era exactamente “Pântano ao amanhecer”. O nome de autor não o fixei. Era o seu terrível tarrafe.

Quem era meu fornecedor de livros, por empréstimo, era o médico, Dr. Hipólito de Sousa Franco, de Lisboa, bom homem e pacifista, filho único, que os ia recebendo de casa, bem como revistas e jornais. Era por assim dizer, o médico que nos colocava a par do que ia acontecendo no país ou no mundo. Ainda que com algum atraso. Também nos chegavam revistas através do Movimento Nacional Feminino, mas contavam-se pelos dedos.

Apetrechei-me também com alguns livros (monografias) sobre a Guiné, com informações de carácter histórico e outras, que adquiri no Centro Cultural de Bissau. Sempre que ia à capital da província, não deixava de passar por ali. Era quase obrigatório para quem tinha outros horizontess para além da guerra e do sangue. Para quem uma asa de luz é um voo além do transitório e indescoberto tempo.

No final de 1964, o romance “Adeus às Armas”, de Ernest Hemingway, que considero um mestre na arte do romance. O tema é a II Grande Guerra. A par de “Por quem os sinos dobram”, romance vivenciado na guerra de Espanha, e do sempre inesquecível “O Velho e o Mar”, é uma das suas obras primas.

No dia 27 de Janeiro (domingo) de 1965 lia, de fio a pavio, o pequeno romance “Beijo ao Leproso”, de que também não recordo o autor que mostrava o fracasso de um casamento, arranjado por um padre, que era um grande saieiro. O rapaz era um mentecapto, um pobre diabo enfezado; a rapariga era demasiado tímida e não sabia nada do que era a vida.

Aroveitei a minha passagem pelo Hospital Militar de Bissau e li (Março de 1965), com muito interesse, o comovente “Diário”, de Anne Frank, que o foi escrevendo entre os 13 e os 15 anos, refugiada numa casa antiga, tentando escapar à perseguição dos judeus, movida pelos alemães na II Guerra Mundial, bem como, no meado desse mesmo mês, devorei o romance “A rebelião dos perdidos”, de que não lembro o autor.

Todavia, nos dias que antecederam o regresso à pátria, matei, de alguma forma, a fome de leitura. No primeiro caso (Março de 1965), está o romance de Aquilino Ribeiro, proibido, “Quando os Lobos Uivam”, publicado no Brasil pela Editora Anhambi Sa; no segundo caso, estão os romance “As Rosas de Setembro” (Julho/1965), de André Maurois, autor de uma vasta obra de repercussão universal, uma das glórias da literatura francesa e “Uma pedrada no charco”, (5/8/1965), de Urbano Tavares Rodrigues, autor que marca grande presença nas minhas estantes. E ainda “À Margem do Tempo” (era a nossa situação), de Michel Siffre, (Julho/1965), um pouco diferente. Já não se tratava de ficção, mas de relatos de viagens ao interior da terra.

Outros livros que li foram recolhidos nos acampamentos, atacados ou incendiados. Foram os casos de “Hiroxima, meu amor”, de Marguerite Duras, Publicações Europa-América, de 1963; “E agora, Adeus”, de James Hilton, Livros do Brasil, Limitada, com a assinatura de posse de Maria Fernanda da Costa Pinheiro, datado de Farim, 15 da Abril de 1959; e, já noutra área, da formação e enriquecimento humano, o livro “Nós e os nossos filhos”, Publicadora Atlântico, Ld.ª, da autoria de W. Raymond Beach, com a indicação na primeira página: “da Biblioteca dos Turras, Canjambari, 23 Março” e com uma simpática nota de oferta: “Para o Mota com um grande abraço do amigo Varajão”. [Alberto Varajão Gonçalves, alferes da CCS e comandante do pelotão de Sapadores do Batalhão de Cavalaria 490, também nortenho, julgo que do Porto].

Guardo estes três exemplares como os melhores despojos de guerra. Hoje, sei que poderia ter lido bem mais, ainda que ficasse a léguas do escritor e camarada de guerra, na região do Cuor, Beja Santos, que trazia atrás de si um malão, como se fosse caixa de remédios, e era-o em certa medida. Era o alimento espiritual de que tanto gostava para recarregar baterias. A terapia necessária para afrontar os difíceis e loucos dias.

Num cômputo geral, os soldados liam bem os rótulos das cervejas ou da Laranjina C, também as marcas do tabaco, as cartas da família e dos amigos, das madrinhas de guerra e namoradas. Isso lhes bastava. Já na classe dos sargentos, havia um ou outro interessado em ler, debicavam este ou aquele livro, mas não muitos.
Mas também estoirados, quem tinha força para essa suave e pacífica missão? Descansar era preciso.
E era mais ou menos isto que sucedia também com os alferes.
Quem mais dava alimento dava ao espírito era, efectivamente, o médico da companhia.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12473: O que é que a malta lia, nas horas vagas (21): Valentim Oliveira: a Plateia, livros e a correspondência; João Rebola: corridas de burros, futebol, fados, bailes com lindas "bajudas", andar de mota, saborear uns franguitos, etc.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12473: O que é que a malta lia, nas horas vagas (21): Valentim Oliveira: a Plateia, livros e a correspondência; João Rebola: corridas de burros, futebol, fados, bailes com lindas "bajudas", andar de mota, saborear uns franguitos, etc.

1. Mensagem do nosso camarada Valentim Oliveira (ex-Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490, ComoGuidaje e Farim, 1963/65), com data de 17 de Dezembro de 2013:

Caro Amigo Luís.
Voltando aos anos vinte, e recordando os quase 50 anos que já lá vão, ainda tenho presente na memória as leituras que devorava quando o tempo me permitia.
Lia livros meus e de amigos, mas a que mais gosto me dava era a Revista Plateia que a minha Bajuda hoje esposa me enviava.
Envio em anexos duas fotos as quais mostram a minha razão de ser.

Aproveito esta mensagem para desejar a todos os amigos da tertúlia um Natal feliz e um Ano novo com muita alegria.

Um abraço das terras de Viriato.
Valentim Oliveira




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2. Mensagem do nosso camarada João Rebola (ex-Fur Mil da CCAÇ 2444, , Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2013:

Boa noite, Carlos
Na verdade, nos primeiros meses, em Có e Cacheu, principalmente, não era fácil arranjar tempo e vontade para grandes leituras (excepto os famosos aerogramas), pois a desgastante actividade operacional - CAOP1- e suas consequências, não permitia envolvimento em situações "culturais".
Porém, quando tomámos conta do sector de Bissorã, onde permanecemos cerca de 14 meses, aí sim já se arranjou tempo para muita coisa: corridas de burros, futebol, fados, bailes com lindas "bajudas", andar de mota, que comprei em Bissau por 6 contos, saborear os frangos do Lavinas, etc, etc.
Foi o melhor tempo que passei na Guiné.
Tudo isto "fazia" esquecer os maus momentos passados.
Seguem algumas fotos ilustrativas.

Bom Natal e Feliz Ano Novo
João Rebola

Acelerando a minha Onda 

Montando um dos burros de Sitafá Camará

No restaurante do Manuel Lavinas 

Fado na messe de sargentos. A cantar o fado, o nosso camarada Armando Pires 

As minhas bajudas 

Frente-a-frente com Armando Pires 

Equipa da CCAÇ 2444

No Bingo de Bissorã
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12472: O que é que a malta lia, nas horas vagas (20): Desde a revista "Plateia" até ao romance "Os Lobos", de Hans Helmut Kirst, leituras que depois eram discutidas em grupo (Manuel Amaro, ex-fur mil enf, CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971)

Guiné 63/74 - P12472: O que é que a malta lia, nas horas vagas (20): Desde a revista "Plateia" até ao romance "Os Lobos", de Hans Helmut Kirst, leituras que depois eram discutidas em grupo (Manuel Amaro, ex-fur mil enf, CCAÇ 2615 / BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971)

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Guiné > Região de Quínara > CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971) >  Nhala > Maio de 1971 > Revista Plateia com a eleição da Riquita como Miss Portugal.



Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971> Aldeia Formosa (?) > Palestra sobre o romance "Os Lobos", de Hans Helmut Kirst [1914-1989]

Guiné > Região de Tombali > CCAÇ 2615/BCAÇ 2892 (Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971> Aldeia Formosa (ou Quebo) >  Janeiro de 1970 > O Manuel Amaro lendo recortes com notícias sobre o fim da guerra no Biafra.


Fotos (e legendas): © Manuel Amaro (2013). Todos os direitos reservados (Edição: L.G.)


1. Mensagem, de 9 do corrente, do Manuel Amaro [ex-fur mil enf, CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969 a 1971]:


Caros Editores

Como estava em “digressão” aquando do lançamento do desafio, aqui vai, hoje, a minha colaboração.

Nas horas vagas eu lia tudo o que aparecia. Eu até era dos que tinham menos horas vagas. Mas ali, na Guiné, naquele tempo, cada hora vaga parecia uma eternidade.


Por isso tudo o que aparecesse era bem aparecido. De qualquer origem. Livros, Jornais e Revistas enviados pela família, pelas famílias dos camaradas, ou pelo sempre presente Movimento Nacional Feminino.

E depois, quase sempre, discutia-se, em pequenos grupos os temas das leituras de cada um.
Junto três fotos que documentam alguns desses momentos.

(i) A leitura de um conjunto de recortes, creio que do Comércio do Porto ou do Jornal de Notícias, que anunciavam o fim da guerra do Biafra, e que tinham sido enviados por familiares do José António Paiva da Silva, Furriel Enfermeiro da CART 2521.

(ii) A discussão, em grupo, sobre “Os Lobos”, de Hans Helmut Kirst que me deu um trabalhão a ler, mas que também me deu oportunidade de fazer um figurão perante os meus camaradas e amigos;

(iii) Outra foto testemunha a leitura da Revista Plateia, em Nhala, maio de 1971, em cuja capa está a Riquita (Celmira Baulet),  eleita Miss Portugal 1971, que eu viria a conhecer pessoalmente já no final da década de setenta.

Ler... aproveitar as horas vagas, foi bom. Dupla ou triplamente bom. No Liceu era uma grande “chatice” ter que explicar os textos. Aqui era um prazer.

E hoje, a esta distância, posso dizer que, a par da minha atividade como Enfermeiro e Professor, na Guiné, as leituras efetuadas, porque voluntárias e feitas nas horas vagas, foram de uma grande utilidade na minha orientação profissional após o regresso à vida civil.

Sempre ao dispor da Tabanca Grande.

Um Abraço


Manuel Amaro
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12465: O que é que a malta lia, nas horas vagas (19): Tínhamos uma biblioteca de 80/100 livros, herança da CART 2340 (Luís Nascimento, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71)