quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12509: O que é que a malta lia, nas horas vagas (24): Leon Uris, entre outros, e muita música (Abílio Duarte)

1. Mensagem do nosso camarada Abílio Duarte, ex-Fur Mil Art da CART 2479 (que em JAN70 deu origem à CART 11 que por sua vez em JUN72 passou a designar-se CCAÇ 11), Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70), com data de 13 de Dezembro de 2013:


O que se lia, o que se ouvia e o que se via

Não me recordo o que estava a ler nesta foto, mas de certeza era qualquer tema relacionado com a criação do estado de Israel, e as guerras que tiveram em especial a guerra dos 6 dias.

Talvez influenciado pelos livros de Leon Uris, como Êxodus e Mila 18, era grande fã do general Moshe Dayan.
As reportagens e artigos sobre a guerra dos 6 dias eram as minhas preferidas.
E lendo-as, as minhas noções de estratégia e táctica, ficaram mais claras.
Para mim aquele general era um herói.

O que se ouvia era muita música italiana (Modugno, Cellentano, Milva, Morandi, etc.), brasileira (Sérgio Mendes+Brasil 66, Gilberto Gil, Caetano, Roberto Carlos) e norte-americana (Nina Simone, Ella, Ottis Reding, Beatles, Tijuana Brass, James Last, etc.)

Vem esta conversa a propósito do "bicho" gravador-leitor de cassetes que está na mesa.
Eu nunca tinha visto na metrópole tal aparelho, conhecia os gravadores de fita horizontais e verticais, os de cartuchos, e fiquei de olho naquilo numa das vezes que fui à Casa Pintosinho em Bissau, e na primeira oportunidade comprei um, salvo erro era um Sharp.
Depois era só aproveitar através do "Pifas" gravar as músicas preferidas. Era um espectáculo. Este aparelho ficou em Paunca, que ofereci à Rádio Lacrau.

Esta foto é de 1970 e foi captada, em Pirada, aquando uma das nossas deslocações para operar naquele sector, e vieram-me à memória algumas situações a que assisti e vi naquela localidade.

Para mim era estranho que a casa da delegação da PIDE, onde estava o tal agente Mário Soares, era fora do arame farpado, onde este recebia alguns soldados do Senegal e outros informadores.

Também estranho era a quantidade de gente que vinha ao posto de saúde de Pirada, a maior parte vinham do Senegal, e nunca me apercebi de ver alguém a controlar aquela gente.

Vem esta conversa a propósito de que em meados de 1970, onde por acaso não havia ninguém da minha Companhia, Pirada foi atacada a partir do seu interior. As noticias que nos chegaram foi que o PAIGC se misturou com a população que ia ao posto, instalou-se na tabanca e, ao anoitecer, atacou principalmente os abrigos e valas onde estavam soldados da companhia residente, salvo erro eram madeirenses, e se viram atacados pelas costas.
Dizem que foi um alvoroço dos antigos, penso que houve mortos e alguns nossos camaradas foram apanhados à mão.

Se algum membro da nossa tabanca tem melhores conhecimentos deste ataque, gostaria que o relatasse.

Não te roubo mais tempo, um grande abraço, boas festas para ti tua família e restante equipa do blog, assim como para todos os "piriquitos" desta nossa tabanca.

Abílio Duarte

OBS:- Ilustrações e links para o Youtube da responsabilidade do editor
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12499: O que é que a malta lia, nas horas vagas (23): Escrevia, estudava, ouvia música e jogava cartas (Manuel Moreira)

3 comentários:

José Botelho Colaço disse...

Interrogações pertinentes.

JD disse...

Camaradas,
Essa situação ocorrida em Pirada, terá acontecido durante o Verão de 1970, após um programa de acções do IN sobre as populações do nordeste, numa extensão iniciada na região de Camquelifá e que derivou até ao sector de Pirada, passando por Bajocunda. A região era bastante povoada, mas as populações foram coagidas a mudarem-se para o Senegal com teres e haveres. De seguida, as aldeias eram incendiadas. Foi nesse período que se registou alguma concentração de tropas naquela extensão fronteiriça, abancadas em Pirada (1 CCP e 1 Cª de açoreanos ou madeirenses), e em Bajocunda (1ª.CCA sob o comando do Maj.Leal de Almeida e 1 Pel.C.Caç.2679 - o Foxtrot, que eu comandava).
Pouco depois, uma ocasião em que o ComChefe visitou Pirada, mandou tapar as valas de defesa e circulação em nome da boa relação de vizinhança com o Senegal, mostrando a disponibilidade necessária para conquistar a confiança do PAIGC. Uma noite, enquanto se projectava um filme onde a tropa local se concentrou para o ver, o IN desencadeou um frouxo ataque no interior. Constou-me que parte dos guerrilheiros preocuparam-se mais com o saque a estabelecimentos. Mas também houve um "Pára" apanhado à mão, que numa atitude inesperada consegiu desembaraçar-se do IN que o acompanhava. Constou-me ainda que não houve baixas, e que o IN (o ataque terá sido desordenado) se retirou com todas as facilidades que havia encontrado. Após isso, foram reabertas as valas e reforçada a defesa do aquartelamento, mas poderia ter sido um caso de grande gravidade para as NT.
Abraços fraternos
JD

duarte.oiliba.abilio@gmail.com disse...

Agradeço ao JD o esclarecimento sobre este ataque do PAIGC a Pirada.
Um Abraço e Boas Festas a toda a sua família.