sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12513: Memórias da CCAÇ 2616 (Buba, 1970/71) (Francisco Baptista) (3): Ataques com armas pesadas ao quartel

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 20 de Dezembro de 2013:


Ataques com armas pesadas a Buba

No primeiro ano que estive na CCAÇ 2616 em Buba sofríamos normalmente um ataque de armas pesadas por mês. O quartel de Buba comparado com a maioria dos quartéis da Guiné poderia ser considerado uma praça forte. Tinha uma Companhia de Caçadores, um Destacamento de Fuzileiros, uma Secção de Morteiros, e uma Secção de Obuses comandados por um alferes.
Tinha três obuses 14 e alguns morteiros. Tinha muitas valas e bastantes abrigos.
O inimigo tinha já a pontaria bem afinada para o perímetro do quartel pois as granadas rebentavam com frequência dentro dele. A nossa artilharia respondia com muito barulho mas pouca eficácia.

O alferes Baptista dos obuses, outro Baptista que não eu, nunca conseguia atingir o alvo. Era um camarada com bom carácter, calmo, cheio de bonomia. Tinha pouco trabalho e ainda bem porque ele era mais do género meditativo do que activo, pois só tinha que orientar o fogo dos obuses uma vez por mês. Mas era tão bom nisso como eu a fazer tiro de a G3, sempre fora do alvo.

Foto: © Benito Neves

Já na CART 2732, em Mansabá, havia dois obuses 8,8 com o tiro bem afinado segundo me pareceu. Em parte não admira porque era uma Companhia de Artilharia e todos percebiam um pouco dessas armas. Recordo-me de conversas do capitão Abreu, na altura comandante do COP 6, do Bento e do Rodrigues, ambos alferes sobre a regulação do tiro dos obuses.
Lá fui uma vez surpreendido por uma flagelação tendo procurado uma vala ou abrigo que não encontrei. Se me recordo bem, acho que esse ataque durou pouco tempo porque o inimigo foi alvejado ou esteve perto disso. Mas apesar dos palpites do capitão e dos alferes o mago da regulação dos obuses seria o furriel Branco, comandante dos mesmos que eu saúdo se ele me puder ouvir.

Foto: © José Teixeira

Em Buba o Baptista mandava para lá bojardas só barulhentas como quem faz girândolas de foguetes morteiros em dias de festa. Cumprimentos de cá e de lá porque felizmente da nossa parte também nunca houve feridos graves. Os ataques eram bastante intensos, durante largos minutos as granadas de morteiros e de canhões rebentavam com estrondo bem perto de nós. Quando o ataque acabava todos nós suspirávamos de alívio. Tínhamos sobrevivido a mais um e não havia mortos nem feridos a lamentar.
A tensão acumulada desde o último ataque, baixava e todos nós relaxávamos. Apesar do perigo relativo que representavam eram também um acontecimento que quebrava um pouco a monotonia da rotina diária do quartel.
Havia por vezes até episódios bizarros como aquela vez em que um alferes periquito ao ouvir o estrondo da primeira granada, com a pressa de se proteger, apareceu na vala próxima dos quartos dos oficiais tal como veio ao mundo, todo nu, sem uma parra a cobri-lo.

Habituados à periodicidade mensal desses ataques todos nós começávamos a ficar mais nervosos se algum ataque se atrasava demasiado. Isso seria sinal que estariam a preparar um ataque maior que os anteriores. Aconteceu a primeira vez que fomos bombardeados com misseis terra-terra. O ataque em si não terá sido muito maior que os outros mas trazia essa nova arma que além de provocar mais deslocação de ar fazia também um estrondo maior, mais aterrador.
Antes desse ataque o capitão recebeu uma mensagem cripto a avisar que o quartel seria atacado com armas pesadas no dia seguinte. Na manhã desse dia chamou um alferes a quem comunicou o teor da mensagem e disse-lhe que de tarde antes das cinco, hora provável do ataque, teria que estar com o pelotão num local donde supunha que o inimigo atacaria. Os ataques do inimigo eram normalmente depois das cinco da tarde, pois a partir dessa hora os Fiat's já não descolavam para os alvejar.

Lisboa > Museu Militar > O foguetão 122 mm ou a arma especial Grad (na terminologia do PAIGC). Era uma arma de artilharia, de bater zona e não de tiro de precisão, com alcance máximo de 11.700 metros para 40º de elevação. Segundo um relatório do PAIGC a distância maior a que se efectuou tiro, teria sido contra Bolama, em 4 de Novembro de 1969, a 9800 metros. O foguete dispunha de um perno (assinalado a vermelho) que, percorrendo o entalhe em espiral existente no tubo, imprimia uma rotação de baixa velocidade a fim de estabilizar a vôo. As alhetas só se abriam depois do foguete sair do tubo.

Foto (e legenda): © Nuno Rubim (2007). Todos os direitos reservados.

Soube-se depois que o alferes não cumpriu essa ordem porque às cinco da tarde o quartel estava a ser atacado com canhões, morteiros e misseis pela primeira vez. Atacado precisamente do local onde devia estar o pelotão a essa hora. Nunca compreendi muito bem essa ordem do comandante da companhia pelas seguintes razões: os ataques de armas pesadas a Buba tinham sempre um potencial de fogo muito razoável. Ora isso implicava da parte do inimigo muitos homens para o transporte das armas e munições. Para fazer segurança a esse importante transporte naturalmente teria que haver muitos combatentes pois o inimigo não gostava de se arriscar a perder armas pesadas.
Terá o alferes feito estes cálculos? É provável.

Penso que este episódio terá sido conhecido por muita gente mas pouco comentado. Que eu saiba o capitão nunca confrontou o alferes pelo não cumprimento dessa ordem. Seria muito mau para ele se lhe fosse levantado um auto disciplinar, provavelmente seria a despromoção e a prisão.
Pelo reconhecimento feito no dia seguinte calculou-se que teriam vindo cerca de cem guerrilheiros ou mais, uns para o transporte das armas pesadas e outros para fazer a segurança. Ora o pelotão já com 15 meses ou mais de Guiné, estava bastante reduzido, talvez com 15 homens mais 5 milícias africanos. Se o alferes tivesse cumprido a ordem o confronto seria inevitável e dada a superioridade numérica o pelotão seria destroçado.

Segundo me apercebi e aceito o contraditório de outros camaradas, havia uma cadeia de comando operacional no terreno, na zona de combate, que era o alferes, miliciano quase sempre, o furriel também miliciano e o primeiro cabo. A responsabilidade da condução da maior parte das acções ofensivas ou defensivas fora dos quartéis era deles. Acima havia os que davam as ordens, boas ou más, equilibradas ou prejudiciais porque o perigo e a responsabilidade da execução nunca era deles, resguardados nos gabinetes dos quartéis ou no ar condicionado de Bissau.

Os traumatizados no corpo e na alma, os que tiveram a sorte de voltar e hoje se juntam para fazer terapia em grupo e para coçar feridas que demoram a cicatrizar são os que passavam dias e noites, nas florestas e bolanhas, ao calor, à chuva e ao frio noturno. Não é justo generalizar esta critica porque houve alguns capitães e outros oficiais acima que eram verdadeiros operacionais.
No outro prato da balança também há a considerar as vidas familiares e afectivas dos militares do quadro, por vezes com vários anos de ultramar e com filhos com pais ausentes e casais separados pela distância. Quando os filhos precisavam também do pai para os ajudar a crescer e o casal do convívio quotidiano para manter vivo o seu projeto de vida em comum.
Em 1974 quem resolveu acabar com a guerra foram as mães dos milicianos que não quiseram ter mais filhos mortos e as mulheres dos capitães que estando casadas se recusaram a viver mais como viúvas.

Houve mais ataques ao quartel de Buba.
Houve um grande ataque, foi o maior de todos, possivelmente em princípios de Maio de 1971. Esse ataque tal como mais dois outros um ao quartel de Tite e a um outro quartel que não recordo, comandados segundo se constou pelo Nino Vieira, que era o comandante militar da zona sul do PAIGC, antecederam o ataque fantasma a Bissau em que o Nino ou algum subordinado dele disparou alguns misseis que foram cair no mar ainda longe do cais.
Terá sido feito a pedido dos nossos guerreiros burocratas de Bissau, para justificar os tais 100% de zona de guerra?
Temos que ter também em atenção que muitos combatentes do PAIGC também iam passar férias a Bissau.

Nesses ataques infelizmente morreram dois alferes em Tite, apanhados por uma granada no quarto ou perto dele. Esse grande ataque de Maio a Buba teve uma duração excessiva, talvez mais de meia hora e um potencial de fogo enorme. Explosões sucessivas e em simultâneo das granadas de morteiro, canhões e dos misseis. Ouvíamos os rebentamentos e víamos os clarões bem perto das valas e abrigos. O ataque foi subindo de intensidade e por alguns minutos Buba esteve debaixo de uma autêntica trovoada de bombas que atordoavam os céus com clarões que iluminavam tudo em redor. Parecia até que o Nino além das armas já referidas tinha também os famosos katiusha ou órgãos de Estaline, essa arma terrível que fez tantos estragos aos alemães durante 2ª Guerra Mundial.

Durante esses minutos a nossa artilharia calou-se por falta de condições de alguma segurança para ripostar. Por fim o ataque terminou porque as munições do inimigo se terão acabado. Meios atordoados depois daquele festival de bombas saímos das valas e abrigos e fomos verificar os estragos. Houve apenas alguns feridos ligeiros, sem necessidade de evacuação para Bissau. A caserna dos fuzileiros tinha dois grandes buracos sem mais consequências.
Fomos beber umas cervejas aos bares e brindar, a vida continuava.

Por algum tempo continuaríamos à espera de outros ataques, enquanto ouvíamos diariamente os ataques aos quartéis do sul, sobretudo de Guilege essa terra martirizada junto à fronteira que em 1971 sofreu 35 ataques durante um mês, uma pressão enorme que praticamente obrigava esses camaradas a viver quase sempre como toupeiras dentro dos abrigos.

Por ter falado nos milicianos, de repente veio-me à memória o poema "Canto às mães dos milicianos mortos" de Pablo Neruda que não sei se enquadraria bem neste texto que já vai longo, nem se a sua reprodução seria autorizada. Recomendo a sua leitura a quem me ler assim como recomendo a leitura de outros poemas.
Um poema é como uma oração que alimenta e purifica a alma.
Os poetas são os mortais mais próximos dos deuses.

Um grande abraço camaradas
Francisco Baptista

OBS: Selecção e inclusão de fotos da responsabilidade do editor
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12347: Memórias da CCAÇ 2616 (Buba, 1970/71) (Francisco Baptista) (2): Aníbal: um inadaptado, um marginal ou um anarquista?

18 comentários:

Anónimo disse...

Onde leu 35 ataques a Guilege durante 1971?
Mendes

Anónimo disse...

Caro camarada F. Baptista


Julgo que perdeste uma boa oportunidade de "estares calado".

Fazes acusações graves a camaradas de armas,nomeadamente aos artilheiros.Não assisti aos factos que relatas por isso não os vou contestar e a serem verdade melhor seria não os teres relatado.

Para tua informação ninguém passaria no C.S.M e C.O.M. na artilharia se não soubesse fazer cálculos de tiro.

O tiro de artilharia não era nem é propriamente tiro ao alvo apesar de hoje com novas tecnologias ser mais fácil.

O obus 8,8 que aparece na foto era de origem inglesa e era essencialmente anti-carro por isso fazia tiro directo que no caso concreto da Guiné pouca utilidade tinha.

A artilharia é uma arma de fogos largos e profundos e não estreitos e curtos....

Passa bem e um bom ano

C.Martins

Francisco Baptista disse...

Peço desculpa se ofendi alguém mais sensível. Na messe de oficiais a certa altura comentava-se com o Baptista artilheiro, meio a brincar meio a sério a falta de eficácia da nossa artilhria. O alferes Baptista nunca se ofendeu com isso. Era um bom camarada como o texto refere, sempre fomos amigos e é alguém que hoje recordo com saudade.
Sobre o outro comentário, caso o camarada queira faer uma leitura mais atente, poderá ler "que num mês de 1971 Guilege teve 35 ataques de armas pesadas

Um abraço e Bom Ano
Francisco Baptista

José Botelho Colaço disse...

Ao ler os comentários ao p12513 do amigo e camarada Francisco Baptista do Mendes não sei onde pode estar a dúvida, quanto ao camarigo C.Martins já nos habituou com os seus comentários muito terra à terra.
Do texto gostei está muito bem elaborado onde se aborda a realidade vivida com um pouco de humor à mistura pois era um modo de enfrentar-mos aqueles longos dias vividos na Guiné.
Ao amigo F. Baptista que conheci em um dos nossos almoços na tabanca da linha gostei do texto com uma prosa que se devora com gosto muito bem acompanhado e elucidado pelas fotos.
Um abraço.
Colaço. Soldado transmissões C.caç. 557 Cachil, Bissau, Bafatá. 1963/65.

Anónimo disse...

Volto só para dizer que, tanto quanto julgo saber,Guilege não foi flagelada 35 vezes em 1971, quanto mais num dos meses desse ano.
Em África a artilharia de sítio o melhor que podia fazer era bater zonas antes reconhecidas como favoráveis para as armas pesadas inimigas e, mesmo assim...
O Baptista tinha alguém no mato para lhe regular o tiro? É que o 8.8 não tinha ponto de mira como a G3...
Mendes

Anónimo disse...

Caros Combatentes:
Não me parece que o Francisco Batista tenha ultrapassado os limites da educação e do respeito em relação a outros combatentes. De facto, bem saberá ele, assim como o visado em concreto, também Batista, se o teor da narração é ou não menos respeitoso. Pelo escrito parece que o artilheiro atá ficará contente com o que, sobre ele, é proferido. De resto, o Francisco põe-se ao mesmo nível do artilheiro, referindo que ele próprio era inábil com a G3`. É assim evidente que não há aqui tentativa de achincalhamento. Pelo contrário, nota-se neste seu post e nos anteriores grande respeito pelos nossos irmãos combatentes.
A propósito de pontaria, quando, no dia 28 de Julho de 1972, chegamos (CART.6250) a Buba, um grupo da companhia dos velhinhos que fazia segurança à coluna que nos deveria transportar até Mampatá, teve um encontro com um grupo de guerrilheiros, tendo resultado um combatente morto que se encontra sepultado no cemitério de Ferreira de Aves, concelho de Satão (soldado Bento). No âmbito desse recontro os obuses 14 instalados em Buba foguearam a área do local da emboscada. Ninguém, julgo eu, tem a certeza sobre a origem do estilhaço que perfurou o tronco do Bento. Não estou a culpar ninguém nem a acusar alguém de inépcia. Culpa da guerra...talvez.

Um abração

Carvalho de Mampatá.

Anónimo disse...

Caros camaradas

Normalmente os comentários que faço neste blog são quase sempre em tom irónico e sem pretender ser superior a ninguém e muito menos ofender quem quer que seja..

Desde quando é que a incompetência e a inépcia são uma qualidade e para mais na guerra e em lugares de responsabilidade.

DETESTO o "chavão" muito tuga.."o gajo era incompetente...mas era porreiro".. o nosso "nacional-porreirismo" sempre como desculpa para tudo.

O obus 8,8 tinha no aparelho de pontaria..ponto de mira..para fazer tiro directo.
Foi muito usado pelos ingleses no norte de áfrica durante a 2.ª guerra mundial.

"Saudações artilheiras"

C.Martins

José Botelho Colaço disse...

C.Martins eu gosto dos teus comentários por isso eu disse terra à terra, dizes tudo com poucas palavras.
Um abraço.
Colaço.

Francisco Baptista disse...

O sentido de humanidade de alguns camaradas esbarra por vezes nos preconceitos aristocráticos que têm de si, da sua família, da sua arma, etç. Fui atirador de infantaria na tropa. A Infantaria era provavelmente a arma mais civil que havia no exército. Sem quaisquer sentimentos de superioridade que por vezes se notavam nalguns elementos das outras armas ou doutros ramos das Forças Armadas.
Nos 17 meses que estive em Buba nunca tive a noção de que os obuses 14, dada as dificuldades do cálculo de tiro pudem-se atingir o inimigo durante os ataques. Só em Mansabá ouvia elogiar os obuses 8,8 pelo seu desempenho. Não inventei nada, não sou mentiroso, era amigo do Baptista artilheiro em Buba, mal conheci o Branco artilheiro em Mansabá.
Limitei-me somente a reproduzir as impressões da altura e os comentários dum quartel e outro.
Sempre achei também que a nossa artilharia mesmo não atingindo o inimigo era sempre um importante elemento de dissuação para impedir a sua aproximação
Por estas razões reafirmo que nunca lhe chamaria incompetente ao Baptista, poderia até ser menos hábil que o Branco mas chamar-lhe incompetente seria um abuso.
Procurei não reagir no mesmo tom ao teu comentário inicial mas tem-me custado a digerir. Nunca gostei muito de engolir afrontas e mandar calar um homem é uma afronta das piores. Fi-lo pelos outros, por todos porque somos muitos neste blogue.
Se puderes e souberes agradecia-te, tu que estiveste em Gadamael. não longe de Guilége, que digas a esse Mendes desconhecido, que
Guileje em certos meses tinha um ataque todos os dias. Se quisesse mentir para me armar em mártir ou guerreiro diria que os 35 ataques num mês teriam sido em Buba e não em Guileje que ficava a 30 Km talvez.

Saudações transmontanas
Francisco Baptista

Anónimo disse...

Caro camarada F.Baptista


Não foi minha intenção ofender-te quando escrevi "devias estar calado".
Há coisas que se podem dizer em privado mas que não se devem dizer publicamente quando eventualmente possam por em causa o "bom nome" de cada um.
Não interpretei como uma intenção malévolo da tua parte mas quem lê pode eventualmente pensar ou interpretar mal..só isso.
A única critica que te faço é muito comum a quase todos nós quando se diz,"fulano de tal é...mas é um gajo porreiro"..forma de estar ou de mentalidade que eu detesto.

Quanto à artilharia e à sua actuação a grande maioria das criticas vindas de camaradas de outras armas só aconteciam por desconhecimento o que era natural..eu também desconhecia e desconheço muita coisa.
Sabia de artilharia porque simplesmente era a minha arma.
Quanto a preconceitos aristocráticos ou outros isso não me atinge porque não os tenho.

Folgo em saber que és transmontano..tenho muitos amigos aí..são normalmente gente de rija tempera e acima de tudo cultivam a amizade...como nós beirões.

Sobre os ataques a Guilege em 71, não sei..eu só estive em Gadamael a partir de maio de 73.

Julgo que me fiz compreender.

Saudações beirãs

C.Martins

Anónimo disse...

Do Mendes dsconhecido
Queira o autor fazer o favor de me (nos) dizer onde posso ler "Guileje em certos meses tinha um ataque todos os dias".
Aguardo.

Anónimo disse...

Do Mendes desconhecido
Corrijo "onde posso ler" para "onde posso comprovar".

Hélder Valério disse...

Caro camarada Francisco Baptista

Este teu relato, com as tuas memórias e considerações, contém algumas coisas susceptíveis de serem melhor abordadas e tem provocado várias questões.

A questão dos "35 ataques a Guileje".
Não me parece ser muito relevante mas em todo o caso a interrogação colocada pelo "Mendes" deve merecer uma resposta. Não na base da questiúncla, da acidez das perguntas e respostas, mas sim numa base mais serena. Pode até ser numa explicação simples de "ter ouvido dizer", de ter sido assim relembrada ao correr da escrita, por parecer em Buba que os sons vinham dali, por indução mental de outros relatos já por aqui colocados, etc.

A questão da artilharia.
Preferi ter da leitura sobre o "outro Baptista" uma 'visão' brincalhona, ou seja, preferi 'ver' nos escritos do Francisco uma forma amigável de aligeirar o assunto.
No entanto as questões levantadas pelo C.Martins foram e são pertinentes e dado que possibilitaram as explicações necessárias acho que se pode dizer que se percorreu um bom caminho.

Sobre a questão da regulação de tiro, mesmo não sendo "da arte", acho a situação 'esquisita'.
E digo isto pela minha vivência em Piche, pelos relatos gerais que fui lendo por aqui no Blogue e numas quantas explicações do C.Martins e outros artilheiros.
Numa situação que considero normal, as regulações de tiro a partir das posições dos vários aquartelamentos onde haviam peças de artilharia para os possíveis locais que se consideravam como passíveis de se constituírem 'bases de fogo' do IN seria das primeiras e principais actividades e esses dados seriam passados de Pelotão a Pelotão, tanto mais que a geografia do terreno não variava. Daí que aquando das 'saídas' que se ouviam dos ataque IN a acção da nossa artilharia fosse bastante eficaz, pela eficácia ou pela dissuasão.
Portanto, o que o Francisco relata, a ter sido de facto assim e não uma mera e pessoal percepção, deverá ter sido uma excepção e não uma regra, tanto mais que a presença do Francisco em Buba é de 1970/71 e por essa altura a artilharia não seria 'novidade' por lá.

# por ser comprido vai ter que seguir outro#

Hélder Valério disse...

#aqui vai a continuação#

Agora outra questão e que constitui uma observação minha.
Trata-se do "ataque fantasma a Bissau".
A frase utilizada faz pressupor que não se tratou bem de uma ataque, ou flagelação, tanto mais que os mísseis foram "cair no mar, ainda longe do cais", ficando no ar a interrogação se teria de facto havido essa 'flagelação' e se não teria sido 'pedida' ou 'incentivada' para garantir a continuidade da integração de Bissau em zona 100% de guerra.

Colocam-se então novas interrogações: falharam de propósito? só queriam 'mostrar-se'? por haver muitos combatentes do PAIGC em férias em Bissau? por 'incompetência'? por falta de regulação de tiro? por falta de tempo para o fazer? por algum comprometimento de Nino com as Autoridades?

Ora bem, tanto quanto me lembro, pois estava de serviço no Centro de Escuta nessa ocasião, para que essa acção de flagelação de foguetões lançados sobre Bissau, alguns dos quais caíram no Geba e outros próximos dos depósitos de combustíveis, foram atacados ou flagelados quase em simultâneo uma série de posições das NT cujo número exacto e denominações agora não consigo precisar (e desde já peço desculpa aos puristas dos números por isso), mas foram mais de uma dúzia numa envolvente larga de Bissau.
Tiveram o efeito de prender as atenções, de as fazer dispersar por vários locais, em autêntica manobra de diversão, para assim ser mais fácil a aproximação ao objectivo e a dar cobertura à retirada.

Tanto quanto me apercebi de 'conversas', as pessoas que nas NT se dedicavam a analisar os acontecimentos não se deixaram embalar em atitudes de arrogância e menosprezo pelo IN (que, a serem tomadas, tantas vezes conduzem ao desastre) mas sim não deixaram de enquadrar a acção numa perspectiva de que o que se passou foi uma inequívoca demonstração de capacidade de acção e de coordenação, ou seja de comando, por parte do IN o que fez desencadear a tomada de precauções e de outras medidas.

Portanto, para mim, não foi um 'falso ataque'. Não foi um 'ataque falhado'.
Foi uma demonstração de capacidade (real ou circunstancial, isso não sei) com as inerentes falhas de eficácia de atingimento de alvos que eram peculiares naquelas armas (ainda para mais nas circunstâncias em que foi feito) e semelhante ao que se tem dado conta aqui no Blogue de tantas flagelações 'falhadas' no mato.

Abraços
Hélder S.

Francisco Baptista disse...

Amigo e camarada Helder Valério:

Tens muitos e bons comentários no blogue e este não deixa de ser também.
Reconheço que não foi feliz o meu comentário sobre o Baptista artilheiro por outro lado pareceu-me muito duro o comentário inicial do C. Martins. Com outros comentários e com compreensão de parte a parte acho que essa polémica já foi encerrada. Aprendi com ela a não me meter por caminhos que não domino. O que significa que me resta muito pouco!
Sobre a questão repetidamente posta pelo Mendes, dos 35 ataques durante um mês de 1971, ou 1 ataque por dia durante um mês que não é muito diferente tenho a dizer o seguinte:
Em Buba durante alguns meses desse ano ouviram-se muitos ataques de armas pesadas a vários aquartelamentos da zona sul.
Os quarteis ficavam a vários kms. 20, 30, 40 etc. Nós não sabiamos precisar qual o quartel atacado em dado momento.
A notícia dos 35 ataques a Guileje foi noticiada por alguém e ficou-me na memória pelo excesso. Para quem possa não saber o quartel de Guileje ficava mesmo na fronteira com a Guiné Conakry não longe duma base importante do Paigc e foi evacuado em 1972 ou 1973 depois de duramente atacado.
Sobre o ataque Bissau, que realmente existiu, só lhe chamei fantasma porque não consegui entender que o inimigo metesse tantas granads e misseis em Buba num ataque, sendo um alvo pequeno, não conseguiu meter um só missel em Bissau dos sete ou oito que disparou, sendo Bissau um alvo tão grande.
Dos ataques ou flagelações que terá havido em simultâneo próximas da cidade, sem querer põr em causa a sua veracidade, eu pessoalmente não me recordo de todo. Eu também é certo que não estava em Bissau, tinha estado lá 8 ou 10 dias antes, a um consulta externa e ouvi o ataque a Tite, ali bem perto, semelhante ao ataque a Buba cerca de 15 dias antes.

A todos um grande braço
Francisco Baptista

Anónimo disse...

Está esclarecido o erro dos 35 ataques (flagelações)a Guilege, num mês de 1971.
Fica também esclarecido que tal número não foi sequer atingido durante todo o ano de 1971.
Mendes

Francisco Baptista disse...

Conclusões precipitadas do Mendes. Fica tu com as tuas que eu fico com as minhas.
Passa bem

Francisco Baptista

Anónimo disse...

Não fico com a minha mas antes com a info da História da Unidade da CCaç 3325,que estava em Guilege em 1971.
Mendes