sábado, 4 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6935: A Cantora Careca, estreado em Bissau no dia 5 de Abril de 1970 (Carlos Nery)

Mensagem de Carlos Nery (ex-Cap Mil, Comandante da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70), com data de 29 de Agosto de 2010:

Caros Camaradas,
Tantas vezes prometido, aí vai o material para o Poste sobre A Cantora Careca, estreado em Bissau em 05ABR70.
Como expliquei trata-se de um trabalho conjunto, meu, do Mário Cláudio e do João Barge. Já têm foto minha e do Mário Cláudio, usadas do antecedente, noutros Postes.

O Barge remeteu-me a sua, agora, com idêntico objectivo. Enviar-vos-ei o email que recebi dele. Poder-se-á, certamente, encontrar forma de colocar as três no início do Poste. Há outras que não possuo e que seria interessante incluir. De Otto de Habsburo, de Carlos de Áustria (seu pai), talvez de Aristides de Sousa Mendes. E, por fim, dos três majores assassinados. Enfim, vocês verão se isso é possível.

Dia 4, sábado, vamo-nos encontrar os três, no Porto. Direi que desde 1970 que tal encontro não tem sido possível.
Teria graça se o Poste estivesse pronto, nessa data... Vocês verâo se isso é possível.

Tentarei fazer fotos do encontro e, se houver matéria de interesse, tentarei fazer um Poste sobre esse reencontro.

Um abraço forte,
Carlos Nery



“A Cantora Careca”, Bissau, Abril de 1970 (Maria Guilhermina, Rui Barbot e João Barge)

Verbete

A empresa de levar à cena nas adjacências do Quartel-General de Bissau A Cantora Careca, de Ionescu, produzida pelo então capitão miliciano Carlos Nery Gomes de Araújo, ainda hoje retém, quando lembrada, uma intocada luz de audácia juvenil, e de discreta rebeldia. Tratava-se de descerrar uma certa janela, propiciadora de mais funda respiração, no quadro constritor da guerra, e com tal gesto propunha-se o grupo de gente moça, mobilizado por Carlos Nery, prestar serviço aos camaradas que, interessados em pensar para além daquilo que constituía motivo de colectiva apreensão, poderiam ver no teatro moldura adequada ao exercício da sua inteligência, e da sua fantasia.
Entre as recordações da pequena aventura, documentada por textos e fotografias, uma muito especial ficaria, exclusivamente guardada na memória, e que oferece agora, quatro décadas passadas, algum pretexto de reflexão.
Um jornalista estrangeiro, afecto ao regime português da altura, e que viajava em reportagem pelas três frentes de combate, tendo assistido a uma das récitas daquele espectáculo vanguardista, levantado na maior economia de meios, viria felicitar-nos efusivamente, a nós, artistas mais ou menos improvisados, com palavras que não se esqueceriam. Chamava-se o senhor Otto de Habsburgo, e representava tão-só a última candidatura ao trono imperial austro-húngaro, esse mesmo que com Carlos V, rei de Espanha, se arrogara um domínio de além-mar que apenas com Manuel I, rei de Portugal, por algumas décadas partilharia.
Relata-se isto para que conste, e para que se reabram os compêndios de História.
Que importam ao fraterno convívio as opções ideológicas, navegantes como somos, todos nós, na nau de velas pandas da relatividade do Tempo?

Mário Cláudio
(alferes Barbot)

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1 – Prontidão de Embarque

Carlos Nery - No início de Novembro de 1969, vinda de Buba, a CCAÇ 2382 chegava a Bissau, ficando adida ao BART 2866, em Brá.
Tinha terminado a parte mais dura da nossa comissão. Somos declarados com prontidão de embarque a partir de 10JAN70. Porém, até Março, iríamos, ainda, colaborar na segurança da cidade, de algumas das suas instalações militares e de destacamentos próximos.

João Barge - Anos 70 do século passado, ou, para ser mais exacto, na transição de Dezembro de 1969 para Janeiro de 1970!

Carlos Nery - Bissau era cheia de vida, de movimento, de civis e de militares. As viaturas corriam por toda a cidade. Esta ocupava uma vasta área, as distâncias eram grandes. Não raro, viam-se oficiais pedindo boleia a viaturas militares que passavam a grande velocidadade fingindo não os ver.

João Barge - Estava eu então, pela cidade, um pouco órfão, uma vez que a Companhia que me tinha acolhido, ainda em 1968, em rendição individual, a CCaç 2317, regressara a Portugal, pouco antes, acabada a comissão de serviço.

Carlos Nery - Era ao fim da tarde e à noite que a cidade se tornava mais atractiva. Tomado um duche e mudada a roupa, saíamos de Brá, da sede do Batalhão, em grupo, num velho jipe, para a Messe de Oficiais. Aí jogava-se bridge, conversava-se, tomavam-se bebidas. O uísque, livre de taxas ou de impostos, era mais barato do que a água Perrier que se usava para beber com ele.

João Barge: Talvez porque amargara (e amargurara)...

João Barge - Talvez porque eu amargara (e amargurara) Gandembel e Ponte Balana, e logo a seguir, para não me desabituar, também amargara (e amargurara) Buba, resolveram poupar-me a maiores infortúnios bélicos e colocaram-me no Quartel General, na Secção de Transportes Marítimos. Daí as idas frequentes, de dia e tantas vezes de noite, ao cais do Pidjiguiti. Ficou-me, nos olhos e talvez na alma, a marginal, com suas palmeiras, com seu cheiro a mar e a gente, com aquela brisa que chegava ao fim da tarde e me reconciliava um pouco com tudo e com todos.

Carlos Nery - Em certas noites da semana, junto da piscina onde se improvisara um recinto de cinema ao ar livre, eram projectados filmes recebidos dos distribuidores de Lisboa.

João Barge - Não era muito o tempo livre mas, ao fim do dia, normalmente rumava ao Clube Militar, para mastigar qualquer coisa, bebericar um qualquer álcool e trocar dois ou três dedos de conversa. O Clube Militar era basicamente a Messe de Oficias, a piscina e um cinema ao ar livre. Havia quem não se encolhesse muito a afogar as mágoas, havia quem se desse mais ao jogo.

Carlos Nery - Uma bela noite fez a sua irrupção uma novidade, o Bingo! Na época era desconhecido, mesmo em Portugal. Em sessões cada vez mais concorridas, por fim ao ar livre nas belas noites de Bissau, compravam-se cartões e ouviam-se anunciar os números saídos. Por último, havia já grandes painéis iluminados onde os mesmos eram exibidos. Os prémios eram aliciantes, objectos caros adquiridos nas lojas que proliferavam na baixa da cidade.

João Barge - A minha “praia” era outra, cinema sim, o resto nem por isso.

Carlos Nery – Já me ocorreu se todo aquele aparato não se destinaria a permitir, sem chamar a atenção, a compra de idênticos artigos a ser oferecidos, pelos Majores Passos Ramos, Pereira da Silva e Magalhães Osório, aos seus interlocutores, durante as negociações que estabeleciam, nessa altura, com quadros intermédios do PAIGC. Sabendo-se que quem os assassinou foi quem com eles dialogou, em encontros sucessivos, pergunto-me se não contribuíu para a sua eliminação o receio de que, se tivessem sido feito prisioneiros, pudessem vir a revelar pormenores comprometedores para os seus captores.


2 – Dar a Outra Face

Arménio Vicente e duas amiguinhas nossas que preferiam os ensaios a outras brincadeiras e que já sabiam de cor toda a peça... Onde estão hoje vocês, queridas amigas?

João Barge - Ora como o mundo é pequeno e a Guiné não é grande, por esse tempo, entre tanta e desvairada gente que no Clube Militar desaguava, quem haveria de por ali também aparecer? O Cap. Mil. Gomes de Araújo, comandante da CCaç 2382, companhia que estava em Buba, quando a minha, a CCaç 2317, também ali esteve, nos meses de Fevereiro a Maio de 1969.

Carlos Nery – Não me recordo como mas, em dada altura, passaste a fazer parte do nosso grupo, que não jogava, era pouco dado à bebida e não apreciava o Bingo por aí além.

João Barge – Saíamos para o recinto da piscina, deserto à noite, e conversávamos.

Junto à piscina (Rui Barbot, Maia Alexandre e Maria Guilhermina)

Rui Barbot - Maio de 68 tinha sido há menos de dois anos, de Portugal vinham notícias de confrontos entre estudantes e o poder, havia notícias de Associações encerradas, os “gorilas” tinham feito a sua aparição nas Faculdades. No ano anterior haviam-se realizado eleições em Portugal. Não faltavam motivos de conversa que, claro, incidia também nas peripécias da guerra da Guiné.

Carlos Nery - Lembram-se de que o Tenente-Coronel Saraiva, homem culto que havia sido amigo de José Régio, responsável pelo Clube, nos pediu para o ajudar a seleccionar os filmes a exibir? Engraçado, tendo nós feito uma escolha baseada na qualidade, logo os distribuidores avisaram que, para poder alugar esses, teriam que ser aceites outros filmes, digamos, de qualidade inferior... Aliás, isso veio ao encontro das reclamações de alguns oficiais que se queixavam, afirmando querer distrair-se e não ter de pensar nos problemas propostos pelos realizadores de maior nomeada de então, os Bergman, os Antonioni, os Fellini, os Rosselini, os Claude Chabrol...

João Barge - Ora um belo dia, tu, o Cap. Gomes de Araújo, cristianissimamente e sem que tivesse havido qualquer ofensa prévia, presumo eu, resolveste dar a outra face, a tua outra face: e surge o encenador Carlos Nery mais o projecto de criar de raiz um grupo de teatro.

Analisando o texto (Arménio Vicente e Maria Guilhermina)

Carlos Nery – Das conversas sobre Cinema passou-se ao Teatro... E em fazer-se Teatro... E em breve tínhamos uma bela PEDRA para fazermos uma bela SOPA: uma IDÉIA! Mas como conseguir os legumes, o sal e mais temperos, as ervas aromáticas? Não tínhamos, nem texto, nem palco, nem actores, nem técnicos, mas... começámos o trabalho!


3 – Onde se fala em “Audácia”, “Rebeldia”, “Ousadia” e até em “Coragem”...

Bombeiro (Maia Alexandre)

Rui Barbot - “A empresa de levar à cena A Cantora Careca, de Ionesco, ainda hoje retém, quando lembrada, uma intocada luz de audácia juvenil, e de discreta rebeldia”, escrevi lá em cima, no textinho a que pus o título de Verbete...

João Barge – O Luís Graça, aqui do blogue, já deu uma opinião semelhante...
“Parabéns pela ousadia e até coragem de levar à cena a peça do Ionesco”, disse num comentário ao P6183...

Maria Guilhermina, Rui Barbot e João Barge

Carlos Nery – Tem graça nunca pensei nesses termos. E quando fui o “motor” do empreendimento
admiti tudo menos ser necessário coragem para tomar tal iniciativa... Nunca senti a coisa assim... Mas, passados estes quarenta anos, pode ser... É que a obra de arte ultrapassa, muitas vezes, a intenção do artista, como sabemos.... Na altura, pensei que a nossa coragem residia unicamente em preferirmos aquele nosso convívio a eventuais “copofonia” ou “batota”, lá dentro, na messe...


4 – Traz Outro Amigo Também

Conversa com o público (João Manuel, Rui Barbot, Ana Maria, Carlos Nery, Maria Guilhermina, João Barge, Lisa Nunes, Maia Alexandre e Arménio Vicente). Notem-se os elementos de cena muito simples, as mesas de refeitório proporcionando o tablado e o conjunto de improvisados projectores.

João Barge – Do nada, na base de um amigo que traz outro amigo também, o grupo foi nascendo e fazendo o seu caminho, descobrindo e formando actores, inventando técnicos, confiando o guarda-roupa a senhoras sábias e generosas (1), improvisando palco e materiais de cena, propondo, discutindo, até se chegar à primeira peça (afastados o Auto da Índia e a Gota de Mel para evitar melindres maiores) - um texto de Eugène Ionesco - La Cantatrice chauve (A Cantora careca), publicado em 1950, um clássico do chamado Teatro do Absurdo.

Casal Martin e Mary (João Barge, Maria Guilhermina e Lisa Nunes)

Carlos Nery – Sugeri, efectivamente, esses dois textos: “A Gota de Mel” de Léon Chancerel (2) e o “Auto da Índia” de Gil Vicente. O primeiro é um poema lindíssimo que crítica o absurdo da guerra. O segundo, todos sabemos, evoca alguns aspectos negativos da nossa expansão marítima. Fidelidades e infidelidades de um casal separado pela ausência do marido na India, marido esse que, no regresso, se assume sem rebuços como um émulo, no sec. XVI, do já célebre Capitão Garcez... Pois bem, pediram-nos que fizéssemos outra coisa...
“Ah, grande Gil Vicente!”, lembro-me de ter exclamado...


5 – Dialogar no Caos



Mr. Martin (João Barge)
Mr. Smith (Rui Barbot)

Rui Barbot – E foi aí que irrompeu “A Cantora Careca”, de Eugene Ionesco. Teatro de Absurdo no teatro de Guerra? Tinha algum sentido...

Carlos Nery - “A peça que seleccionamos serve, porém,inteiramente a nossa finalidade: propor uma saída para eventuais conversações labirínticas ou marcar uma pausa na eternidade de certos jogos.
Que uma dúzia de pessoas haja decidido pôr em comum os seus esforços e tentar esta prova, pode ser em absoluto indiferente; pode causar surpresa, admiração e mesmo um certo alarme. Qualquer reação se justificará, se a não justificar o espectáculo que ides ver.
Gostaríamos, porém - e só formulamos este voto - que nos pudesse aproveitar a lição das personagens de Ionesco: - a lição de que, apesar de tudo, é possível dialogar no caos. E talvez nem seja preciso gritar muito alto."

Rui Barbot – Escrevi isso, em 1970, para o programa, não foi?


Mrs. Smith (Ana Maria)

Carlos Nery – Barbot, essa de que “ apesar de tudo, é possível dialogar no caos” era bastante ousada, naquele contexto... Não nos esqueçamos de que eram tempos em que se não dialogava com “terroristas”...

Rui Barbot - “E talvez nem fosse preciso gritar muito alto”, apetece insistir.

Carlos Nery – Valeu-nos a Comissão de Censura não ter alçada ali no Clube Militar...


6 - Un son mon ka ta toka palmu

Durante o ensaio (Ana Maria e Carlos Nery)

João Barge - Bem, mas escolhido o texto, mãos à obra. Ensaios diários, perceber o espectáculo no seu conjunto, cada um a aprender o seu papel, a trabalhar a voz, a decorar as marcações, a ganhar ritmo, a dar e receber as deixas tantas vezes até que a naturalidade apareça. E tu, agora Carlos Nery, metidos na gaveta os galões de capitão, a explicar, a corrigir, a incentivar, a acreditar e a fazer-nos acreditar. Um grupo unido na certeza de que todos juntos haveríamos de conseguir. Un son mon ka ta toka palmu (provérbio Bissau-guineense: uma só mão não chega para bater palmas).

Carlos Nery - Todas as portas se nos abriam. O tablado? Mesas de refeitório, presas solidamente, de topo para o público, ligeiramente inclinadas para permitir uma melhor perspectiva. Iluminação? Explica-se a um electricista militar, o soldado António Esteves, de pronto conquistado pelo nosso projecto, como se improvisa um orgão de luzes. E para projectores de cena, os usados, nas unidades de mato, para iluminar o terreno para lá do arame farpado.

João Barge – Lembram-se do Zé Camacho, o actor já falecido? Aquele dos “Malucos do Riso”... Também nos apoiou muito... Era cabo, julgo, no PIFAS... .

Carlos Nery – Talvez tenha nascido ali o seu gosto pelo teatro, quem sabe?
Seja como for conseguiu-se apoio para o som. Sonoplasta, o João Manuel, também soldado no PIFAS. O ecrã usado nas sessões de cinema é agora, para nós, um ciclorama onde é possível a projecção de tonalidades e sombras, numa feérie de cor e movimento. A imaginação, ali, anda à solta sem aceitar qualquer baia ou constrangimento...


7 – Um Anjo de Motorizada

Mrs. Martin (Maria Guilhermina)

João Barge - Claro que também houve alguns sustos. Uma das actrizes, por vontade própria ou alheia, resolveu renunciar e nós íamos ficando descalços ou, mais tropicalmente falando, perdidos no mato sem cachorro.

Carlos Nery – Vamos a sua casa, no recinto do Clube de Oficiais. Sou persuasivo, sou agressivo, sou convincente, sou duro. Nada a demove. É casada com um médico de nome, mobilizado para o serviço do Hospital Militar. Talvez o marido não ache graça ver a mulher metida em “teatrices”... A má fama dos “cómicos” vem de longe...

João Barge - Sentimo-nos derrotados...“Inventar” uma mulher capaz de representar o papel subitamente em falta não é fácil...

Carlos Nery – E é nesse ambiente de derrota que, subitamente, se ouve uma voz: “Tenho de ir ao Aeroporto”... É o Joaquim Fidalgo, um dos elementos do nosso grupo. Comprou uma motorizada, desloca-se facilmente. “Ao Aeroporto?” pergunto. “Sim, casei por procuração, vou buscar a minha mulher que deve estar a chegar, ainda passo por cá com ela... Até já”...
Instantaneamente todas as antenas se eriçam...

João Barge - E foi buscar a sua alma gémea, de motorizada...
Quando chegaram ao QG foram ambos devidamente emboscados, por quem de direito, e a actriz que faltava deixou de faltar.
Uma bem sucedida operação-relâmpago (sem baixas e que nos deixou em alta).

Carlos Nery – Quando os noivos chegam, vindos do aeroporto, vêem a sua lua-de-mel comprometida ou, pelo menos, adiada um bom par de horas. Eis-me, imparável, “vendendo”o que pretendemos fazer, aliciando a noiva para o nosso projecto... Acaba por aceitar e logo ali, naquela noite, se retomam os ensaios com a nóvel “actriz”...

João Barge - Foi a primeira e se calhar a última vez na minha vida que vi chegar um anjo salvador de motorizada...

Carlos Nery - Horas mais tarde, Maria Guilhermina, finalmente a caminho de casa, comenta não ter gostado de ser convencida tão facilmente...

João Barge – Tão facilmente, é força de expressão... Ela deu muita luta, se estou bem lembrado...

Carlos Nery - A “sopa de pedra” rescende sobre o lume forte que a aquece...


8 – Otto de Habsburgo e as Palavras que se não Esquecem

Otto de Habsburgo 

Carlos Nery - Na noite da estreia, depois do espectáculo, escondidos entre o ecrã e a parte posterior das mesas, cujos tampos foram chão de um palco, recebemos os abraços e as felicitações dos amigos e de muita gente que mal conhecíamos. Também a “actriz” desistente nos vem abraçar entusiasmada.

Rui Barbot - “Um jornalista estrangeiro, afecto ao regime português da altura, e que viajava em reportagem pelas três frentes de combate, tendo assistido a uma das récitas daquele espectáculo vanguardista, levantado na maior economia de meios, viria felicitar-nos efusivamente, a nós, artistas mais ou menos improvisados, com palavras que não se esqueceriam. Chamava-se o senhor Otto de Habsburgo, e representava tão-só a última candidatura ao trono imperial austro-húngaro, esse mesmo que com Carlos V, rei de Espanha, se arrogara um domínio de além-mar que apenas com Manuel I, rei de Portugal, por algumas décadas partilharia.”

João Barge – Otto de Habsburgo garantiu-nos conhecer bem o teatro de Ionesco, ter assistido já a várias versões de A Cantora Careca e nunca ter visto uma encenação da peça tão de seu agrado e tão bem representada...

Carlos Nery – Talvez estivesse a ser sincero, não sei...

Rui Barbot – Parecia sincero...

João Barge – Sei lá...


9 – Aristides de Sousa Mendes

Carlos de Áustria

Carlos Nery - Era o filho mais velho de Carlos de Áustria, último soberano do Império Austro-Hungaro que, tendo sido forçado a abdicar durante a Guerra de 1914/18, se fixou na Ilha da Madeira tendo vindo a falecer aí, em 01 de Abril de 1922. Está sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Monte, sendo alvo de grande devoção popular. Foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 03 de Outubro de 2004.

Rui Barbot – Otto de Habsburgo foi uma das primeiras pessoas a quem Aristides de Sousa Mendes, contrariando ordens expressas de Salazar, passou o visto necessário para poder passar a fronteira Franco-Espanhola a caminho de Portugal. Sendo pretendente ao trono do Império Austro-Hungaro tinha a cabeça posta a prémio por Hitler. De Portugal passou aos Estados Unidos da América.

João Barge – Na altura Aristides de Sousa Mendes acabou por conceder vistos a cerca de 30000 pessoas, entre elas 10000 judeus. Além dos vistos passados a Otto de Habsburgo e às pessoas que com ele fugiam, fê-lo também a membros do governo belga e luxemburguês, à Grã-Duquesa Charlotte do Luxemburgo, ao Rabino de Antuérpia e, uma coisa que pouca gente sabe, a Salvador Dali.

Rui Barbot – Mas que fazia em Bissau, em Abril de 1970, Otto de Habsburgo? Apresentava-se como jornalista, segundo julgo. Para que jornal escrevia?


10 – Le Pinay Circle, António de Spínola e Otto de Habsburo

Carlos Nery – Na Net há imensas referências acerca da sociedade secreta Le Circle (ou The Cercle) que dizem ter sido criada pela CIA. Veio a ser designada como Pinay Circle, antes de 1990. O Pinay Circle teria sido criado em 1969 por Antoine Pinay, Jean Violet e Otto de Habsburgo. O seu objectivo seria, na época, o combate ao comunismo. Pertenceriam ao Pinay Circle políticos, banqueiros e intelectuais europeus e americanos.

João Barge - A novidade é que, em vários sites sobre o assunto, se afirma que António de Spínola pertencia, ele próprio, ao Pinay Circle.

Carlos Nery - Nuno Barbieri, outro amigo que fiz em Buba, rejeita esta hipótese. Segundo ele, Spínola pertenceria sim à Maçonaria nunca podendo, por isso, estar ligado a uma Sociedade Secreta com ligações à Oppus Dei, como seria o caso da Pinay Circle.


11- Questões de Segurança, disseram-nos...

João Barge – Estreámos no primeiro fim-de-semana de Abril, à noite e ao ar livre, e foi um êxito. Um êxito tão grande que logo nos pediram para o repetir. Se a memória não me falha, acabámos por fazer, naquela primeira quinzena de Abril, uma série de quatro espectáculos.

Carlos Nery – No primeiro fim-de-semana para oficiais e suas famílias, no fim-de-semana seguinte para os sargentos. Ainda pensámos trazer também algumas unidades da guarnição de Bissau ao Clube Militar. Não foi considerado possível.
Quisemos, ainda, montar o dispositivo cénico no Pilão para a população africana.

João Barge - Não tenho dúvidas que teria sido um êxito. Mas... Nem pensar nisso! Os problemas de segurança seriam muitos, disseram-nos.

Rui Barbot - Descobrimos na cidade uma colectividade que tinha um pequeno palco numa sala de festas. As responsáveis pelo espaço, se estou bem lembrado, religiosas católicas, tinham-no reservado para outros eventos. Não se mostraram interessadas na nossa iniciativa nem disponibilizaram datas..

Carlos Nery - Aliás a Ccaç 2382, que eu comandara, regressara já a Portugal, em Março. Tinha-me oferecido para substituir o Alferes mais antigo, que deveria ter ficado com o Sargento que respondia pela companhia, a ultimar burocracias, entregas de material e contabilidades. Mas o meu objectivo era, principalmente, terminar o trabalho teatral a que me dedicara. Não podia, porém, prolongar por mais tempo a minha comissão na Guiné...


12 – Uma Ponta de Orgulho, Estamos Vivos...

Casal Martin (João Barge e Maria Guilhermina)

João Barge - Ionesco considerava que o seu teatro era sobretudo insólito, em vez de absurdo.
Acho que tinha razão, o que nós fizemos foi algo de insólito, naquele tempo e naquele lugar.
Que ninguém me leve a mal mas, olhando para trás, não posso deixar de sentir uma ponta de orgulho, por mim e por todos os companheiros de viagem.

Carlos Nery - Para nós, expressarmo-nos em termos de arte, era pôr de lado a guerra e libertar a imaginação soltando-a rumo ao céu pleno de estrelas da Guiné! Uma criação artística tem sempre um alvo... Mas, desta vez, julgo que, no fundo, o alvo éramos nós próprios...

Mário Cláudio – Insisto: “Tratava-se de descerrar uma certa janela, propiciadora de mais funda respiração, no quadro constritor da guerra, e com tal gesto propunhamo-nos prestar serviço aos camaradas que, interessados em pensar para além daquilo que constituía motivo de colectiva apreensão, poderiam ver no teatro moldura adequada ao exercício da sua inteligência, e da sua fantasia”.

João Barge - Creio, a esta distância, que o entusiasmo posto por todos, foi uma forma de derrotarmos aquela guerra que nos consumia. De nos dizermos: estamos vivos, somos capazes de pensar, de sentir e de transmitir emoções.




A capa (autoria de Ruy Lobato) e as duas primeiras páginas do programa
Clicar nas imagens para ampliar


13 – O Drama de Jolmete

Carlos Nery - Cerca de uma semana depois do nosso último espectáculo, deu-se o drama de Jolmete, junto ao Rio Cacheu. O assassinato dos Majores Passos Ramos, Pereira da Silva e Magalhães Osório, do Alferes Palmeiro Mosca e dos Militares que os acompanhavam, emocionou toda a gente. Nunca mais se jogou o Bingo e julgo que, a ter acontecido algum tempo antes, ter-nos-ia levado a desistir da apresentação da “Cantora Careca” em Bissau.



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(1) – Sobras do fabrico de tecidos em fábricas texteis portuguesas eram postas à venda no comércio da Baixa de Bissau, muito baratas. Foram comprados retalhos diversos e com eles se costurou o guarda-roupa do nosso espectáculo.

(2) - “A Gota de Mel” foi um dos textos utilizados por António Pedro, em 1953, quando começou a trabalhar com os amadores do Teatro Experimental do Porto. Assisti ao espectáculo de que o poema fazia parte. Fiz parte do TEP, por essa altura, participando nas peças Antígona, na versão do António Pedro, e Macbeth, também traduzida por António Pedro e ambas encenadas por ele em 1956. Quando a Companhia se profissionalizou passei a trabalhar integrado no grupo dos alunos. Contudo, assistia avidamente aos ensaios dos profissionais até que fui chamado para o COM em Vendas Novas em 1957. No início dos anos 60, em Coimbra, integrei o CITAC participando em vários espectáculos, dirigidos por Luís de Lima, entre eles o Tartufo, de Moliére.

Já em Lisboa, na Guilherme Cossul, participei na primeira apresentação de Harold Pinter em Portugal, em 1963, O Monta Cargas, tradução de Sttau Monteiro, encenação de Jacinto Ramos, cenários de João Vieira. Actores, Filipe Ferrer e Carlos Nery. (Ver minha entrevista a Jorge Silva Melo na revista dos Artistas Unidos, n.º 8 de Julho de 2003. Consultar também http://www.haroldpinter.org/plays/frn_dumbwaiter_po63.shtml

Regressado da Guiné, em Maio de 1970, fiz parte da Direcção do 1º.Acto Clube de Teatro, até 1973. Voltei a encenar aí A Cantora Careca e, em seguida o Woyseck,de Büchner (espectáculo que não chegou a ser levado ao público por ter sido alvo de cortes substanciais no ensaio de censura).
Depois do 25 de Abril, em 1976, encenei no Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, em Lisboa, A Excepção e a Regra de Bertold Brecht.

Trabalhei, a seguir, em 1977 e 78, no Teatro da Cornucópia, como actor. (http://www.teatro-cornucopia.pt/htmls/conteudos/EElVkyZApAoiXxluKM.shtml)

Actualmente pertenço à Companhia Maior do CCB.(http://www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Teatro/Pages/BELA%20ADORMECIDA%2028%20A%2031%20DE%20OUT%20DE%202010.aspx).

Fotos dos ensaios e do espectáculo: © Carlos Nery (2010). Direitos Reservados
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6876: (Ex)citações (94): A maioria silenciosa do nosso blogue (Carlos Nery)

Vd. também postes de:

3 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6670: V Convívio da Tabanca Grande (12): Caras novas (Parte III): O João Barge, da CCAÇ 2317, que foi meu actor em A Cantora Careca, com o Rui Barbot/Mário Claúdio... (Carlos Nery)
e
24 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6781: Controvérsias (98): Quem não se sente... não é filho de boa gente (Carlos Nery)

Guiné 63/74 - P6934: Memória dos lugares (96): Tavira, Quartel da Atalaia, CISMI (Carlos Cordeiro / Manuel Maia / Pereira da Costa)



Tavira > Quartel da Atalaia onde funcionou durante meio século, de 1939 a 1989.  o CISMI... 

Foto: Cortesia de Wikipédia

"O Quartel da Atalaia, situado na freguesia de Santiago, em Tavira, foi mandado construír no ano de 1795, pelo Governador General do Algarve, o Conde de Vale dos Reis, Nuno José Fulgêncio de Mendonça Moura Barreto. Para este quartel veio o denominado Regimento de Infantaria nº 14 (R.I.14), da cidade de Faro.

"Por volta de 1837, e pela extinção do R.I.14, devido ao apoio dado a Miguel I de Portugal durante as Guerras Liberais, é colocado neste quartel o Batalhão de Caçadores nº 5, substituído dez anos depois pelo Batalhão de Caçadores nº 4 (B.C.4). Este último batalhão é transformado, anos depois, no Regimento de Infantaria nº 4 (R.I.4), que regressa a Faro em 1915.

"Em 1917, durante a 1ª Grande Guerra, parte de Tavira, para combater em França, um Batalhão do R.I. 4. E em 1926, como resultado de diversos pedidos ao Governo, o R.I.4 regressa a Tavira, ficando nesta cidade até 1939, voltando neste ano a Lagos.

"No ano de 1939, o Quartel da Atalaia recebe o Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria (CISMI), para formação de sargentos, que se mantém até final da Guerra Colonial. O CISMI é extinto em 1989, e integrado no Regimento de Infantaria de Faro".  
(Fonte: Wikipédia)



Comentários seleccionados ao poste P6919 (*)

1. Caro Carlos Carlos Cordeiro:

Três anos depois [de ti], calhou-nos a dose "reforçada" de queda na salaina...

Curiosamente o alferes do meu pelotão , Diogo, foi mais tarde meu colega de trabalho (, vendedor na mesma firma onde exerci essa actyividade...).
Praticamente só de um dos que lá estiveram comigo, recordo o nome: Manuel Rita Francisco, que creio era da Luz de Tavira, e do Cabo Mil Eusébio.

Abraço.
Manuel Maia, 2 de Setembro de 2010.



2.  Caro Carlos Cordeiro, também estive no 1.º turno de 1968 no CISMI mas a tirar a especialidade de Reconhecimento e Informação. Também andei nas salinas e só este ano quando fui ao Algarve tive coragem de ir ao CISMI, que está igual , mas agora com militares femininas de sentinela e falando com elas, recordando que tinha lá estado há 42 anos, um sorriso de indiferença foi o que ganhei. São outros tempos, sem ver o Ten Robles a saltar do 1.º andar depois de gritarem : 
- Robles,  vem atender o telefone.

Tenho uma fotografia com alguns camaradas fazeendo de Policia da Unidade. Também me interrogo do que foi feito deles!?. Depois daqui fomos para Lamego para o CIOE e ainda encontrei um ou outro. Que lhes aconteceu ?

 Estive na Guiné no Leste e não foi nada bom. Os amigos Helder e Luis Borrega foram-me render. Já nos juntamos e comemoramos. A vida é assim de surpresas. Um grande abraço de amizade e solidariedade. 

Pereira da Costa, 3 de  Setembro de 2010.

3. Antes da passagem do poste para a 2.ª página, um abraço aos amigos que fizeram o favor de comentar. Infelizmente, não apareceu ninguém daquele pelotão. Mas como o poste fica arquivado, pode ser que um dia... 

O Manuel Maia foi "visitante" como eu e muitos milhares de jovens das salinas, assim como o Pereira da Costa. Nunca mais voltei ao CISMI. Não por qualquer ressentimento, mas por não se ter proporcionado a ocasião. E tu, Manuel, voltaste lá?

Lembro-me bem do Robles (acho que o chamávamos de Tenente Trotil, não é verdade?) e depois, julgo que já na especialidade, do capitão Robles. Ambos fui depois encontrar no CIC.
O que era pior no CISMI era o rancho e os cheiros do refeitório, bem como a falta de água. E também o frio de manhã e à noite.

Na instrução nocturna de orientação, de tão solidários que éramos, todos a quererem ajudar... a minha secção regressou ao quartel já de madrugada, quando o aspirante (ou o oficial de dia, não me lembro) já estava à rasca sem saber o que tinha acontecido. 

Lembro-me também de ter ido, com camaradas açorianos, aos bailes de Carnaval no Clube de Tavira, julgo que era assim que se designava. Até à meia-noite podia estar-se de máscara; a partir daí ou se tirava a máscara ou se saía. Perdi o meu par... 
Bailes bem à moda tradicional, com as mães e avós sentadas (de vigia) à volta da sala e os pais, certamente, no bar.

Um abraço amigo,
Carlos Cordeiro, 3 de Setembro de 2010


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Nota de L.G.:


Guiné 63/74 – P6933: Estórias avulsas (40): Uma história da minha guerra (António Barbosa)

1. O nosso Camarada António Barbosa (ex-Alf Mil Op Esp/RANGER do 1º Pelotão da 2.ª CART do BART 6523, Cabuca, 1973/74, enviou-nos em 4 de Setembro uma mensagem, marrando-nos um episódio hilariante:
Camaradas,
Os meus dotes de escritor não são os melhores, mas vou tentar passar a palavras um dos muitos episódios passados em Cabuca - Gabu 1973/74.
No longínquo dia 24/01/74 (se não me falha a memória), estava eu a tomar um belo e tranquilizante duche e, de repente, ouviram-se várias explosões e vi toda a gente a correr, e a refugiar-se nas valas circundantes do aquartelamento.
Estupefacto saí do duche e quando dei por mim, também enfiado na vala junto do restante pessoal, só com a toalha enrolada na cintura e o capacete de aço da ordem enfiado na cabeça.
Findos os rebentamentos vi o pessoal a olhar para mim e a desatar aos risos.
Acabamos por verificar que, o que aconteceu, foi termos acabado de ser flagelados com foguetões de 122 mm (os tais Katyuska made in URSS), que felizmente caíram na periferia do quartel.
Como o nosso Capitão Franklin fazia anos, ainda pensei que tivesse encomendado algum fogo-de-artifício.
Mas não, ao que parece foi mesmo um ataque falhado do PAIGC, ou por falta de pontaria, ou propositadamente, como forma de aviso futuro.
Ao fim e ao cabo este simples facto, acabou por ser mais uma hilariante história da minha guerra. Junto algumas fotos de Cabuca.


O jardim do quartel
O meu grupo de combate
O chuveiro do pessoal
Pormenor do choveiro e seu harmonioso depósito
Um abrigo
Pedaços de foguetões 122 mm disparados sobre nós
Para a foto junto dos estilhaços
O fim de uma caçada, garantindo carne boa e fresca


O aquartelamento e a tabanca
Um abraço, António Barbosa
Alf Mil Op Esp/RANGER da 2.ª CART do BART 6523

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.

Fotos: © António Barbosa (2010). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

21 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 – P6877: Estórias avulsas (92): Episódio insólito (António Inverno)

Guiné 63/74 - P6932: Convívios (268): 5.º Encontro da Tabanca do Centro, dia 29 de Setembro de 2010 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

5.º ENCONTRO DA TABANCA DO CENTRO


Há as "reentrés politicas", mas também há as "reentrés camarigo-gastronómicas", por isso mesmo fica aqui, e desde já, marcado o 5.º Encontro da Tabanca do Centro.

Então, no dia 29 de Setembro, deste ano de 2010, lá nos ajuntaremos outra vez, para dar cabo de mais umas travessas de Cozido à Portuguesa, em franca e sã camaradagem ou se preferirem, camarigagem!

A data limite para inscrições será o dia 27 de Setembro, pedindo a todos que a respeitem, para boa organização do Cozido.

O ponto de encontro será no Café Central às 13.00 horas, com almoço às 13.30 horas, repito, 13.30 horas, para facilitarmos a vida à Preciosa e estarmos mais à vontade.

As inscrições serão feitas na caixa de comentários da Tabanca do Centro ou em tabanca.centro@gmail.com, como sempre.

Peço aos camarigos que entretanto me façam chegar por mail ou comentário aqui, ideias ou casos concretos para podermos dar destino à verba já recolhida, (referida no post anterior), no Apoio aos Combatentes, a que nos propusemos.

Fico à espera de textos para colocar neste espaço da Tabanca do Centro, que podem enviar para o mesmo mail.

(Joaquim Mexia Alves*)
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Notas de CV:

(*) Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73

Vd. último poste da série de 24 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6897: Convívios (184): 1º Encontro da Tertúlia “Linha da Frente”, 4 de Setembro de 2010, na Base das Cortes em Leiria (Victor Barata)

Guiné 63/74 - P6931: Estórias do Juvenal Amado (30): Quando o passado vem ao nosso encontro



1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 24 de Agosto de 2010:

Caros Luis, Carlos, Virgínio, Magalhães e restante Tabanca grande
Uma pequena estória que traz à luz a verdade sobre o sr. Regala, que aquí já foi falado por diversas.

Um abraço
Juvanal Amado



Estórias do Juvenal Amado (30)

Quando o passado vem ao nosso encontro em forma de abraço é uma experiência única

Assim aconteceu há dias quando me encontrei com o meu camarada do 3972, que foi meu comandante de pelotão.
O ex-Alferes Amadeu foi evacuado com hepatite aos vinte e um meses de comissão.

Alf Mil Luís Amadeu

Lembrei-me dele logo. Recordei o momento da sua evacuação e contei-lhe que tinha corrido o boato da sua morte felizmente mentira.
Falamos de Galomaro, dos nossos camaradas, dos lugares e acontecimentos que nos marcaram com é natural.
Veio à conversa o sr. Regala e sobre isso ele enviou-me posteriormente a estória, que segue em anexo tal como a mandou.

Um abraço a todos os tabanqueiros.
Juvenal Amado


O sr. Regala I

Juvenal:
Como sei que gostas de contar estórias, certamente também gostas de as ler. Aqui vai uma que se passou comigo. Começa em Galomaro e termina em Lisboa alguns anos depois em meados da década de 80.

Da esquerda para a direita: Fur Mil Claudino, 2.º Srgt Silva e Alf Mil Amadeu

Poucas vezes estive na esplanada do Sr. Regala. Talvez duas ou três. Mas lembro-me que uma vez, penso que a convite dele, estive com outros camaradas a comer um frango a cafreal e a beber umas Super Bocks.

O Sr. Regala estava sentado ao meu lado. Enquanto saboreava uma tíbia do frango, vejo passar à minha frente um rapaz talvez com 14 ou 15 anos impecavelmente vestido com umas calças pretas e uma engomada camisa branca. Acompanhei com o olhar a sua deslocação até ao balcão e a sua saída por uma porta que ficava por trás. A minha observação não passou despercebida ao Sr. Regala, que me disse de seguida:

- É o meu sobrinho. Está cá a passar as férias. Vive em Bissau com a minha… (já não me lembro)

Pensei em que altura do ano estávamos e não creio que fossem férias escolares. Mas decididamente não quis saturar mais os meus neurónios e resolvi atacar outra tíbia do animal.

Passados cerca de 15 anos, estava eu a trabalhar na EDP em Lisboa quando fui informado que vinha estagiar para o meu departamento alguém dos PALOP durante uma semana.

Como tinha uma secretária livre no meu gabinete disse que podia ficar directamente comigo que eu o apoiaria no que ele necessitasse.

Apareceu-me então o indivíduo novo de raça negra que era guineense.

Conversamos sobre o seu curso de engenharia tirado na Bulgária. Procurei saber pormenores do curso, matérias, programas e sinceramente pareceu-me bastante fraco o curso de engenharia, mas certamente suficiente para a Guiné. Como até conhecia aquele ambiente, sabia o que lhe poderia fazer alguma falta e prontifiquei-me a mandar tirar umas cópias de alguns projectos-tipo e outra documentação que o pudesse ajudar. Qualquer dos casos iria ficar uma semana comigo.

Resolvi então dizer-lhe que já tinha estado na Guiné durante a tropa. Ao que ele me perguntou.

- Onde?
- Em Galomaro.
- Então conheceu o Sr. Regala.
- Sim.
- Era o meu tio.

Ainda não refeito do que estava a ouvir. Como o mundo é pequeno. Indaguei mais.

- Houve uma vez que eu vi lá um jovem com umas calças pretas e uma camisa branca e o Sr. Regala disse-me que era o seu sobrinho.

Resposta pronta do rapaz.

- Era eu.

Então já refeito do acontecimento, devo ter olhado para ele com uma cara de inquiridor e sem mais, disse-me:

- É que o meu tio era um alto quadro do PAIGC, e depois da independência arranjou maneira de eu ir estudar para o estrangeiro.

No dia seguinte tinha um monte de fotocópias para lhe entregar conforme estava combinado. Mas ele não apareceu naquele dia nem apareceu mais.

Caro Juvenal, gostava de te ver a escrever outras histórias que não fossem sobre a Guiné. Acredita, acho que tens muito talento.

Um Abraço,
Luís Amadeu


O sr. Regala II

O sr Regala era homem de certa idade, baixinho e de origem cabo-verdiana.

Tinha se não estou em erro duas camionetas, com elas para além fazer transportes e comércio entre várias povoações na Zona Leste, era frequentemente contratado para fazer colunas de abastecimentos integrado nas colunas de Galomaro.

Dizia-se que nas colunas em que ele participava podíamos estar descansados, tal era as boas relações que entre ele e a guerrilha existiam. Facto que não me custa acreditar.

Assim falei muitas boas horas com ele onde era fácil adivinhar, que comércio era uma coisa, ideais quanto ao futuro da Guiné era outra.

Também tinha um posto de venda em que vendia umas “bazucas” bem fresquinhas, servia uns bifes com batatas fritas e ovo a cavalo, bem ao jeito de “bitoque” que era uma delícia.

Bem quero isto dizer que este pequeno posto fazia parte do imensa cantina, que era formada à volta dos soldados por toda a Guiné.

Uma terra com agricultura de subsistência, sem industria, sem bens minerais, era pois à volta dos soldados que a economia fervilhava.
Lavadeiras, vendedoras de mancarra, de caju e frutas várias, todas se juntavam perto do arame.

Nas aldeias também comprávamos umas galinhas e a carne para o quartel, também era adquirida por nós a fornecedores junto dos Homens Grandes.

Ao vinho de palma e aguardente de cana, juntavam-se vendedoras de prazer nas ruelas das tabancas, que também dividiam embora por breves momentos o leito os favores e o patacão, que custava essa também transacção.

Em Bafatá lá estavam os restaurantes portugueses e libaneses, a escola de condução, que o artesanato, que bonito era o de filigrana de prata, que os nossos furriéis e alferes mais endinheirados mandavam fazer de encomenda. Não esquecer os vendedores ambulantes que normalmente nada sabiam de português.

Éramos por assim dizer o motivo e fonte de subsistência em todas áreas daquela terra.

Quero eu dizer com isto tudo que o que para lá levamos, trouxemos mais a saudade que tende a crescer.

Comecei por falar no Regala.
Se calhar se comesse hoje o tal bife, diria que não era nada de especial e naquele tempo longe de casa, qualquer coisa nos satisfazia desde que saíssemos da ração de combate ou do rancho, que era servido no Restaurante da Morte Lenta e outros locais com “gerência” parecida.

Mas o que eu não daria por voltar lá, sentar-me e comer para ver se era verdade ou não.

Um abraço
Juvenal Amado
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 – P6798: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (25): Fátima Amado, filha do nosso camarada João Amado, encontra no nosso Blogue notícias sobre a morte de seu pai (Juvenal Amado / Carlos Vinhal)

Vd. último poste da série de 11 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6716: Estórias do Juvenal Amado (29): Depois do meu regresso, ou o homem que num certo dia teve três mães

Guiné 63/74 - P6930: Notas de leitura (142): Amílcar Cabral, textos políticos (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Agosto de 2010:

Queridos amigos,
Quem fez esta antologia, publicada logo em Julho de 1974, conhecia na perfeição o teórico e o líder político que moldou o PAIGC.
Talvez seja uma raridade bibliográfica mas permite saber, antes de mais, que o pensamento de Cabral era seguido e estudado entre nós, na perfeição.

Um abraço do
Mário


Uma antologia de Amílcar Cabral, logo a seguir ao 25 de Abril

Beja Santos

Em Julho de 1974 aparecia nas livrarias portuguesas “Amílcar Cabral, textos políticos”. A edição era de Henrique A. Carneiro e a distribuição da CEC (seria o acrónimo de Centros de Estudos Coloniais?). O editor sabia o que estava a fazer e conhecia em profundidade o pensamento de Cabral, em escassas 60 páginas deu-nos um reportório significativo do seu conteúdo, e de acordo com um critério adequado dos temas fundamentais. Assim, numa primeira parte, procede-se a uma selecção de textos sobre a situação de Guiné e Cabo Verde. Na segunda parte integram-se as análises predominantemente teóricas, que singularizaram o pensamento político de Cabral. Na terceira parte, denominada política anti-colonial abrem-se as perspectivas das relações internacionais logo que a política colonial portuguesa tivesse entrado em colapso. Igualmente se transcrevem longas passagens daquilo que foi considerado o testamento político de Amílcar Cabral – o seu último discurso, a sua mensagem de Ano Novo, em 1 de Janeiro de 1973.

A comunicação de Cabral era altamente pedagógica, usava uma sólida construção em língua portuguesa, era uma escrita fluente de quem podia transferir a escrita para a palavra. Sabia expor com uma simplicidade luminosa, contar a história da resistência dos guineenses sem lamechice, com de igual modo falava da história do PAIGC apagando naturalmente o seu pensamento e acção. A antologia ilustra com alguns dos trechos que marcaram a presença de Cabral em artigos, intervenções, entrevistas, conferências, documentos, mensagens e discursos em grandes plateias, como a ONU ou a organização da unidade africana. Logo em 1962 ele escreve na revista Partisans: “O Governo português está doravante consciente de uma realidade: nenhuma força poderá impedir a liquidação total do colonialismo português. A dialéctica da repressão colonial provou que, nos nossos dias, nenhum agressor colonialista pode ser vencedor dos povos decididos a conquistar a sua liberdade”.

Em 1964, no Centro Frantz Fanon, de Milão, depois de passar em revista as dificuldades do início da luta armada e das questões postas pela mobilização das massas numa base em que não era possível lutar contra o imperialismo num território em que os colonos não se apropriaram das terras, explica como subverteu e surpreendeu os exércitos portugueses que esperavam os guerrilheiros na fronteira, isto quando o PAIGC atacou no centro e rapidamente desarticulou a economia do sul da Guiné.

Cabral surpreendeu o auditório da primeira conferência de solidariedade dos povos da África, Ásia e América Latina, que se realizou em Havana, em 1966 justificando os fundamentos da libertação nacional em estrita concordância com a estrutura social dos povos em luta. Cabral não tinha nenhuma classe operária ao seu lado, antevia os perigos no neocolonialismo e considerava que o movimento de libertação era inteiramente responsável por engendrar uma cultura em que o antigo colonizado vencesse a sua superstição, o fatalismo e a ideia da submissão na mulher.

No auge das suas faculdades políticas e credor de amplo reconhecimento internacional, no final dos anos 60 e princípio dos anos 70, Cabral deixa peças de rara qualidade para a compreensão do que ele esperava do futuro do relacionamento entre a Guiné-Bissau e Portugal. Intervindo numa comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1972 ele declara: “Se não afirmamos que Portugal se arrisca a uma derrota militar entre nós, é simplesmente porque ele nunca teve nenhuma oportunidade de sair vitorioso. É só podem sofrer derrotas aqueles que têm pelo menos uma oportunidade de ganhar. Apela a negociações sinceras para se chegar à independência do país, não deixando advertir que a missão de acabar com as guerras coloniais será levada a cabo pelo povo português.

A antologia acolhe extractos de um documento secreto distribuído em Março de 1972 aos quadros do PAIGC sobre um eventual plano português para destruir o partido, e onde se admite expressamente a liquidação do principal dirigente, Amílcar Cabral. O chamado último discurso aborda as diligências para a declaração da independência unilateral e, obtida esta, entrar-se numa nova fase da luta, direccionada para a independência de Cabo Verde.

É certamente um documento histórico, talvez uma raridade bibliográfica, tem todo o cabimento aqui lhe fazer referência para futuro levantamento de todas as edições sobre a obra de Amílcar Cabral.

O livro foi-me gentilmente emprestado pelo nosso confrade António José Pereira da Costa, sensível à minha permanente lamúria, a pedinchar ajuda com vista a que o blogue esteja ao serviço dos estudiosos e investigadores.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 2 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6923: Recordações de umas férias numa biblioteca em fogo (9): Ébano Febre Africana, de Ryszard Kapuscinski (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 3 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6818: Notas de leitura (141): Corte Geral, de Carlos Lopes (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6929: Parabéns a você (147): Torcato Mendonça, 66 anos, uma referência do nosso blogue, um português pré-esforçado, um orgulhoso ex-combatente (Luís Graça)




Fotos falantes II > Sem título, 35 > O Alf Mil Art Torcato Mendonça, o terceiro a contar da direita, a  caminho da Guiné



Fotos falantes I I > Foto 12 > Mansambo, "poda"...


Fotos Falantes II > Foto 12 > No Geba...



Fotos Falantes II > Foto 14 > Mansambo > Com o Sargento de Milícias Baldé...




Fotos Falantes II > Sem título > Mansambo > Junto do obus 10,5

Fotos Falantes II > Sem título > Foto > Mansambo > O pelotão de artilharia...




Fotos Falantes II > Sem título > Foto 12 > Mansambo >  O jovem José...



Fotos Falantes II > Sem título >  Mansambo > Outra pose do jovem José...




Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservado

O Torcato Mendonça (TM) não precisa de apresentação, nem de salamaleques,  nem de elogios, nem de louvores, nem de condecorações: tem apenas cerca de 150 referências no nosso blogue, na I Série... (Não estamos a contar com a sua participação na I Série, numa altura em que não havia etiquetas ou marcadores)... Mas também não é fácil arrumá-lo, classificá-lo, resumi-lo, descrev~e-lo, em meia dúiza de linhas (Mas tenho a incumbência de fazê-lo, já que o Carlos Vinhal e o Miguel Pessoa não chegam para todas as encomendas desta série;  e faço-o com toda a naturalidade e vontade porque, além de camarada, e bom camarada, o TM é também, um amigo, um grande amigo).

Se a memória não me falha,  o TM está formalmente connosco desde Abril de 2006... É, portanto, um membro sénior do nosso blogue, um activissímo autor, leitor e comentador... Não temos estatísticas individualizadas sobre os comentários aos nossos postes... O nosso TM é capaz de ser responsável por algumas centenas (Publicam-se, em média, uns mil comentários por mês).

É o segundo ano que aqui celebramos o seu aniversário... Em 2009 fez 65 anos (*), a idade em que um português passa a ter desconto no cinema, na CP, nos museus... Este ano, em 2010, pelas minhas contas, fará uma bela capícua, 66... Julgo que em termos de saúde e da sua vida familar, o ano 2010 foi melhor do que o 2009. De certo que o nosso José terá este ano mais alegria na celebração do seu dia de festa, reunido com a a sua Ana, os seus filhos, o seu neto...

Este ano não tive a alegria de o abraçar por ocasião do nosso V Encontro Nacional, em Monte Real.  Esteve inscrito, mas não pôde vir, à última hora...  Também não tenho ido ao Fundão onde reside este apaixonadíssimo e grande português que tem muitas costelas, mas duas delas são muito especiais, algarvia e alentejana... Temos falado ao telefone, o que não é a mesma coisa...

Hoje, sábado, só espero que haja grande ronco lá no Fundão... Todos os amigos e camaradas da Guiné, reunidos sob o frondoso e generoso poilão da Tabanca Grande, vão-lhe cantar os parabéns, desejando boa saúde e muita vida, muita qualidade de vida, que ele bem merece... Como prenda, fui repescar (e editar) algumas das suas Fotos Falantes, ainda não divulgadas ou pouco conhecidas dos nossos periquitos...

Quero dizer ao TM quanto tenho apreciado as suas manifestações, off record, de preocupação, desvelo, cuidado, carinho... em relação aos nossos editores e ao nosso blogue (e ao rumo, às vezes, desconfortável que as coisas tomam, na sequência das nossas cavaqueiras bloguísticas).

O TM é daqueles camaradas que pode estar uns tempos sem aparecer mas nem por isso deixa de estar atento, muito tempo,  ao que se passa, ao que se diz, ao que se comenta, e até ao que não se diz com a frontalidade, a assertividade e a lealdade que ele cultiva e que ele gostaria que fosse partilhada por todos... Está atento, é crítico, mas também é um bom conselheiro... A sua palavra é ouvida com muito respeito e apreço por mim e pelos demais editores... 

O TM não esconde os seus valores e aquilo em que se acredita: é um feroz patriota, um patriota de têmpera rija (, de material pré-esforçado) e tem orgulho na sua condição de antigo combatente.  Às vezes até chego a pensar que ele (ou o fantasma do José) ainda paira lá pelas bandas de Mansambo... Mas também é determinado nas suas convicções  como homem e cidadão. É um exemplo de tolerância e de firmeza.

Por tudo isto (e muito mais: as suas histórias, os seus pensamentos em voz alta, o seu fabuloso ábum fotográfico...),  o TM é um dos camaradas de que temos orgulho no nosso blogue,  com quem podemos contar nas nossas difíceis e que está sempre ao alcance de um clique... (Felizmente, há muitos outros mais).

Parabéns, camarada e amigo: é já tarde e eu tive uma viagem em cheio, por comboio (do Marco de Canaveses até ao Pocinnho) e barco até à Foz do Rio Coa (através da Dourototal Lda, com o Mário Costa ao leme), fiz 2,5 GB de fotografias e vídeos e conheci gente fantástica, incluindo mais um camarada da  Guiné, de 1972/73, 1º cabo enfermeiro (que ainda tem na pinha a lista das doenças tropicais!...) e que é um dos grandes pastores (500 ovelhas)  da região do Coa... O João António Sousa Cassote, de seu nome, passou pelo Cumeré e por Guidaje,  era de rendição individual...  (Pertenceu à CCS de um Batalhão, cujo número não me soube dizer; se alguém se lembrar, que me diga, é uma figura que eu gostaria de retratar na galeria dos meus heróis).

E a propósito da minha galeria dos meus heróis, prometo, ao TM, para o ano fazer-lhe o retrato a corpo inteiro, com a ajudinha do Miguéis ou do Pessoa, os nossos dois geniais e voluntariosos cartoonistas... (**)







Rio Douro > Cachão da Valeira > 3 de Setembro de 2010 > Um dos muitos troços deslumbrantes do Curso Superior do Rio Douro... Fotos tiradas de comboio ao meio dia... Dedicadas ao nosso aniversariante de hoje (e pensando no nosso também querido Zé Manuel Lopes, que está a pedir à malta para votar no seu/nosso Douro, no Vale do Douro, no concurso das 7 Maravilhas Naturais de Portugal).

Fotos: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados
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Notas de L. G.:

(*) Vd. poste de 4 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4894: Parabéns a você (23): Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339 (Os Editores)

(**)  Último poste da série > 4 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6928: Parabéns a você (146 ): José da Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Guiné, 1971/73) (Editores)