1. Comentário, com data de 23 do corrente, de Torcato Mendonça [ , foto à esquerda, em Candamã, subsector de Mansambo, CART 2339, 1968/69,] ao Poste P6885:
Antº Rosinha:
Tenho um defeito, tenho muitos claro, mas um é acreditar que só há uma raça: a humana. Li mais este texto, estes teus pensamentos, estes relatos de reflexões fruto de vivências e tive que voltar a reler. Não quer dizer que concorde ou discorde. Talvez antes sinta necessidade de aprender e apreender a vida, em paz ou guerra, vista e relatada por quem viveu na África, dita portuguesa. Não só, por quem, após a independência por lá trabalhou. Essa informação, quanto a mim e com toda a subjectividade, enriquece o conhecimento dos que por África se interessam. Caso dos ex-combatentes como nós.Tenho uma visão diferente, vivências diferentes e saberes adquiridos em circunstâncias de guerra e não só.
Um exemplo de não guerra: em 63,talvez, houve os campeonatos da FISEC (creio ser este o nome) (*) e vieram atletas, como convinha ao regime, de Angola. Os encontros eram na Cruz Quebrada e tinham como apoio o então INEF (**), Estádio Nacional e Centro da Mocidade Portuguesa.
Um dia num jantar qualquer com chefões e muita gente, atletas e de outras actividades, cantaram uma canção em voga: Angola é nossa. (***) Como não sabia a letra e não estava ali para cantar, fui observando a galhofa, comedida é certo, de muitos angolanos brancos, como dizes e não sei se algum negro. Ri para dentro e, se não acreditava em certo País pluricontinental e multirracial, menos fiquei a acreditar. Só que haviam soldados do meu País espalhados pelo dito Império, lutando e morrendo por essa Pátria. Só que eu, passado meia dúzia de anos fui para lá.
Para eu compreender melhor África, as antigas colónias, preciso de testemunhos como os teus. Eu também me interrogo muito sobre o antes, a guerra, e o depois...a paz. Questiono-me sobre tanto acontecimento. Porquê? Ou leio aqui neste blogue tanto pensamento diverso. Respeito, claro, e apoio a pluralidade de opinião. Vamos sempre aprendendo e, para melhor o fazermos, são necessários homens como tu e outros que passaram por vários lados e em tempos e situações diferentes. Alonguei-me e é pena. Nem devia escrever assim. Já tenho idade para ser mais comedido.
Escreve e vai relatando as tuas experiências e vivências. Um abraço do Torcato.
___________
Notas de L.G.:
(*) Fédération Internationale Sportive de l'Enseignement Catholique, Federação Interancional Desportiva do Ensino Católico
(**) Instituto Nacional de Educação Física
(***) Edição de A Voz do Dono, 1961. Letra de R. Santos Braga e música de Duarte F. Pestana. Coro e Orquestra da FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho).
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Caro Amigo Torcato Mendonça
Em 1963 não estiveram cá só atletas. Estiveram delegações das Corporações de Bombeiros de todas as Províncias Ultramarinas às quais se juntaram as de todo o País (Metrópole) para a inauguração da Ponte da Arrábida em Junho desse ano. Enquanto na Cidade do Porto estiveram adidos aos Bombeiros Voluntários do Porto que os levaram a conhecer todo o Norte de Portugal
Armandino Alves
Pois eu disso não sei Armandino.
Da ponte da Arrábida sei ser uma fabulosa obra de engenharia, devido ao arco...etc com projecto do Engenheiro Edgar Cardoso e construída pela Zagope (salvo erro e corro o risco). Nada mais...em 63 era um puto estudante, que nada tinha a ver com a Mocidade Portuguesa ou com as Colónias. Estava ali por outras razões.
Quanto aos comentários do Antº Rosinha, concorde-se ou não, dão determinada visão do período colonial. Ainda hoje ele comenta e eu li com interesse, um Poste sobre Cabo Verde.
Se tivesse tido vagar tinha enviado um breve apontamento e colocado duas ou três questões.
Cabo Verde é diferente do Continente Africano. Era bom também analisar como o cabo-verdiano era "sentido" na Guiné pela população, antes, durante e após a guerra colonial.
Alonguei-me. Continua a escrever Rosinha e Nelson Herbert. O tratamento "mais velho" é respeitoso. Recordo o carinho dispensado aos mais velhos e ás crianças.
Aqui também.Até nos chamam seniores...
Ab Do Torcato
Torcato, o facto de eu ser ligeiramente mais velho e ter mais uns anos alem mar do que alguns, continuo a ver-me cada vez mais "piriquito".
E aprendo muito com o que leio neste blog, principalmente com aquilo que é mais contrário ao meu ponto de vista.
E é pena que alguns bons analizadores que eram habituais neste blog, estejam a tornar-se pouco assíduos.
Mas, onde adquiri mais sensibilidade sobre esta guerra, alem de logo no inicio da guerra morrer gente das minhas relações, foi na Guiné, quando foi derrubado Luis Cabral, em 1980, e ouvi com uma momentânea liberdade o povo do PAIGC, e a multidão eloquentemente silenciosa.
E, o que me fez acreditar que não estava errado em pessoalmente não me negar às "ordens do Salazar", em vestir a farda da tropa em 1961, em Angola, foi porque tinha visto o inicio da independência do vizinho angolano ex-Congo Belga em 1960.
E o que de horrivel vi naquela independência, pensei que se podia evitar em Angola e nas outras colónias.
Parcialmente, fui encontrar passados 20 anos, na independência da Guiné, em menor grau, os mesmos problemas do Congo.
Cada um com a sua experiência e o seu ponto de vista.
Cumprimentos
Enviar um comentário