quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6922: Blogoterapia (157): Ai, Timor (J. Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 24 de Agosto de 2010:

Caro Carlos e meus camarigos
A série já vai longa!

Junto agora outro escrito que elaborei nessa altura por causa de Timor. Julgo que foi quando do célebre massacre.
Claro que fica ao vosso critério publicá-lo ou não.

A série não sei se continua com o mesmo título ou não. Deixo a vós essa decisão dizendo-vos no entanto que a publicação daqueles escritos me levou a escrever outros dois agora, que em tempo vos enviarei e que dizem obviamente respeito à Guiné e ao tempo que por lá passámos.

Aqui vai então com um abraço camarigo de sempre
Joaquim


Ai, TIMOR...

Lá longe morre alguém
todos os dias…
Lá longe, mais longe
que o Sol,
e que a vista alcança…
Lá longe, mais longe
onde a memória
se chama esperança…
Lá longe,
mais longe, onde a minha Pátria
se cobre de vergonha…
Lá longe, tão longe
morre um povo,
feito no erro dos homens…
Lá longe, tão longe
onde a brisa do vento,
sussurra o esquecimento…
Lá longe, tão longe
onde toda a vida,
pode ser um só momento…
Lá longe, tão longe
onde a palavra aprendida,
se chama saudade…
Lá longe, tão longe
onde a palavra a aprender
se reclama liberdade…
Lá longe
e no entanto tão perto,
onde a vida de dor
se chama Timor…


J.M.A.
04.12.1991
__________

Notas de CV:

Vd. poste de 10 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6842: 20 Anos depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (10): Os meus fantasmas

Vd. último poste de série de 27 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6904: Blogoterapia (156): Luís, guardo o teu número de telefone para um dia! (Renato Monteiro)

8 comentários:

Anónimo disse...

Porquê Timor? Pelo sofrimento do Povo Timorense?
Tenho um livro intitulado "Foi Timor" que conta em poucas páginas, parte da história vivida pelos portugueses em Timor.
O poema é muito bonito.
Cumprimentos
Filomena

Anónimo disse...

Caro Joaquim,

Valente! Como se diz na planicie.

Lindo! Muito lindo.

Um abraço

Mário Fitas

manuelmaia disse...

Caro Joaquim,

A vergonhosa posição assumida por Portugal no caso Timor,deixando aquelas gentes ao abandono,confirma a verdade ineludível de que a honra militar morreu com a hecatombe de 74.
Gostei muito do teu poema.
Achei-o muito sentido,exteriorizando uma raiva toda ela fruto da impotência por assistirmos de muito longe à dèbacle,ao colapso total de um país que perdeu as estribeiras da honra mercê de governantes(?)e chefias militares sem a mínima noção de sentido de estado,ao escreverem as mais negras páginas
da história deste povo de quase nove séculos de vida...
Um grande abraço.
manuelmaia

Unknown disse...

Caros amigos, reconhecendo a minha quase absoluta incapacidade de interpretar poesia, salvo quando expressa sem (como dizer?), sem obrigar a uma transcendência intelectual.
Qûe NÃO é o caso (para mim) e que até gostei.
Só venho dar a opinião que sobre o ponto da perca da honra militar.

"...confirma a verdade ineludível de que a honra militar morreu com a hecatombe de 74."

Escreveu Manuel Maia. Eu creio que há aqui um lapso-memória qualquer, porque estritamente sobre o ponto de vista militar, aquela foi perdida em Goa Damão e Diu.
Portanto muitos anos antes do 25A, ou não foi?

Um abraço para todos e para cada um.

Carlos Filipe
ex CCS BCAÇ3872 Galomaro
galomaro@sapo.pt

Anónimo disse...

A honra militar nao terá sido perdida em Goa,Damao e Diu,aquando da invasao da Uniao Indiana.As tropas portuguesas nao tinham o mínimo material de guerra capaz para enfrentar o inimigo.(Espingardas de ANTES da primeira guerra mundial,nem um único aviao disponível,nao existência de blindados,etc,etc).Isto ao enfrentar um Exército modernamente armado e numeroso. "Mandar morrer os soldados,quando nao existe uma única possibilidade de êxito,nao é a funcao de um chefe militar,pois este nao é senhor e dono da vida dos seus homens."/General Carlos de Azeredo.O governo de entao,ao criar as condicoes existentes no Estado da Índia no que diz respeito à sua defesa militar...foi o criminoso responsavel pela tal honra perdida.Os militares,como Instituicao nao se atreveram,entao,a reagir ao tratamento injusto dado aos seus camaradas pelo poder político vigente. Um abraco.

Juvenal Amado disse...

Meu caro Mexia Alves

Julgo que te referes ao massacre de Santa Cruz neste teu poema não percebo no entanto, porquê esses acontecimentos cobriram de vergonha o teu «nosso» Povo.
Quando saímos de Timor éramos uma Nação descredibilizar pelo o nosso anterior regime, bem como o nosso passado colonial.
Na tua opinião deveríamos não ter saído de Timor?

Qual das facções devíamos apoiar?

Fazíamos frente ao poderoso exército da Indonésia e a todos os que o apoiavam a começar pela Austrália, ou apoiávamos as facções que defendiam a integração?

Na minha opinião o meu Povo cobriu-se de orgulho após aquela maravilhosa madrugada que a Sofia Mello Brayner tão bem descreve em poucas palavras.
Eu pelo o menos senti orgulho naquela farda e alguma inveja de a não envergar junto com os camaradas, que derrubaram aquele castelo de enganos que era o regime que foi deposto.

Porque havíamos nós de ter vergonha depois de termos feito o que a Comunidade Internacional nos exigia? Não tinhamos forças para ajudar a resolver os problemas, que essa mesmo Comunidade ajudou a criar e também não resolveu.

Seriamos como um pai que não tem poder para alimentar e educar os filhos. Para os outros não verem escondíamos-os nas traseiras da casa.

O caminho da Liberdade é sempre um caminho difícil, a prová-lo estão os países que após as suas independências atravessaram convulsões e guerras fratricidas durante muitos anos e hoje, são admirados como campeões do Mundo Livre.
Passaram 40 anos.
Quantos anos precisaram esses países para atingirem o equilíbrio desejado?
Não devemos esquecer que em muitos casos foram esses mesmos países a lucrar com os horrores que se praticam ainda no III Mundo.
Isto é minha opinião.

Um abraço e até Monte Real

Juvenal Amado

Joaquim Mexia Alves disse...

meu caro camarigo Juvenal Amado

Sabemos ambos que as nossas concepções e visão de certos factos são opostas e que são seguramente inconciliáveis no conteúdo.
Outra coisa bem diferente é a amizade, (ia a dizer empatia, mas preferi amizade porque a sinto), que nos une e que nos permite discutir, falar, sem deixarmos de nos estimar.

Como a minha resposta daria azo a outras certamente, não só tuas mas também de outros, e a politica entraria por aqui adentro, eu escuso-me com todo o respeito de aqui te responder e guardo a conversa para estarmos à volta do cozido e do tinto, que é bem mais agradável e salutar!!!

Grande abraço meu camarigo

Anónimo disse...

Não vesti a farda, mas fui Povo.

Derrubei um castelo de arreia, construi um castelo de cartas.

Hoje!

Tenho vergonha de muita coisa...


Mário Fitas