Mostrar mensagens com a etiqueta Parque da Cidade do Porto. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Parque da Cidade do Porto. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 16 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22012: Os nossos seres, saberes e lazeres (441): Vicente, o corvo do Parque da Cidade do Porto, que não empatiza por dádivas, mas somente por quem estiver na mesma onda (Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf)


Parque da Cidade do Porto > O Vicente


1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 12 de Março de 2021 onde nos fala do seu novo amigo Vicente:

O CORVO DO PARQUE DA CIDADE DO PORTO

A necessidade de andar, de espaços livres e naturais, leva-me muitas vezes ao Parque da Cidade, que fica a setecentos metros da minha casa e do qual avisto, através da vidraça, enquanto escrevo, algumas das suas árvores mais altas. E logo atrás o Oceano Atlântico azul ou cinzento, conforme a cor do céu que reflete.

Há lá muitas árvores de diferentes alturas, formas e feitios, entre elas, muitos eucaliptos. É muito agradável sentir o ar que as plantas respiram, a brisa do mar e a beleza de todo o conjunto formado por prados, flores, árvores, arbustos e lagos.

Gosto muito de sentir o cheiro que exalam cerca de trinta eucaliptos, da espécie Corymbia Citriodora, conhecidos pelos nomes comuns de eucalipto-limão ou eucalipto-cheiroso situadas, não longe de um lago, quase a meio do parque.

Em terra, no ar ou nos lagos há muitas aves de espécies diferentes, sendo os mais visíveis:
- Os pombos comuns, sempre atentos a quem traz pão ou outros alimentos;
- Os pombos torcazes, maiores e em menor número, em voo alto ou pousados nas árvores maiores, que fazem incursões por hortas próximas, queixam-se vizinhos meus, para comer couves e outras plantas hortícolas. Pombos trocais, assim chamados na minha aldeia, viviam sobretudo nos sobreiros altos, onde faziam os ninhos que eu procurava na adolescência;
- Os garnizés, os galos com plumagens garridas e vistosas e as fêmeas com vestimentas mais humildes e modestas;
- Os patos reais, tão belos os machos, numa simbiose de cores perfeita. E outros patos que não sei nomear;
- Os gansos, sempre em bandos, quando em terra fazem uma chinfrineira dos diabos por motivos que eu nem sempre entendo.
- Há gaivotas em grande número, nos lagos ou em terra, já que o Parque confina com o mar.

É no meio do Parque, no lago, atravessado por uma pequena ponte e nas margens que o ladeiam, perto dos eucaliptos cheirosos que se concentra a maior parte desta fauna emplumada, onde se juntam muitos pais e meninos, avós e netinhos, alguns casais de avós, solitários ou não, a levar comida para as aves, e outros visitantes que gostam de conviver nessa sociedade de aves e gente. Um pouco à frente, à direita, vive o Vicente, um corvo solitário, empoleirado em ramos de árvores altas, que rodeiam, em parte um grande relvado, onde crianças, jovens e adultos costumam brincar com bolas. Por índole ou por necessidade, ou por ambos os motivos, vai estabelecendo relações próximas com os passeantes. 

A primeira vez que me cruzei com ele há alguns meses, estava pousado num ramo de uma árvore, ouvi-o grasnar, e sabendo da fama da inteligência de todos os da sua espécie, quis conhecê-lo melhor, chamei-o e para surpresa minha desceu para perto de mim. Eu nunca tive pássaro, cão, peixe ou gato, como animal de estimação, embora tenha convivido com todos os animais, chamados da quinta (bois, vacas, mulas, burros, ovelhas, cães, galinhas, perus, patos, cabras e outros) na infância e adolescência.

Não tem sido fácil, a minha amizade com o Vicente. Nem sempre aparece ao meu chamamento. Um dia encontrei-o muito próximo de uma jovem mãe, um pouco receosa, com ele a procurar conviver de uma forma alegre, com o filho dela, um menino com cerca de dois anos, numa relação divertida.

Para conquistar mais a sua simpatia levei-lhe algumas sobras de comida de almoços, um arroz malandro e alguma carne. Prova o arroz, come alguma carne e outra transporta-a no bico e vai escondê-la para perto ou para longe, em voos rasantes, que repete algumas vezes.

Terei que dar mais provas de amizade ao Vicente para ele ficar mais amigo e se aproximar de mim como se aproximou do menino que só tinha o amor dele e da mãe para lhe dar.

Há o amor inteligente, que se chama empatia, amor sem palavras que só os ingénuos, os simples, os poetas, os puros e alguns animais sabem transmitir. O Vicente, já percebi, não empatiza por dádivas, mas somente por quem estiver na mesma onda.

Ponte no lago
Eu e o Vicente
Um jogador no relvado
Árvores do Vicente
Relvado próximo
Lago
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22001: Os nossos seres, saberes e lazeres (440): Voltei a Abrantes e nem tudo está como dantes (Mário Beja Santos)