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quarta-feira, 18 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26931: Manuscrito(s) (Luís Graça) (269): o azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim








Lisboa > 8 de junho de 2025 > O mês da feira do livro e dos jacarandás

Fotos: © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim

por Luís Graça



Não gostavas de escrever a azul.
Também não gostavas de escrever a vermelho.
Sempre gostaste de escrever a preto.
Em papel liso.

Sempre detestaste as linhas
mas nem sempre havia papel liso
nem esferográficas pretas.

Vermelho, não, carmesim (*),
como se dizia antigamente,
no tempo em que o vermelho era proibido
nas repartições públicas do Estado de Direito.
E muito menos
nos registos paroquiais 
de batizados, casamentos e óbitos.

Carmesim e não vermelho,
era a cor das vestes dos cardeais.
Carmesim flamejante.

Também se usava o carmesim
nas provas tipográficas dos livros 
no tempo em que os tipógrafos eram anarcossindicalistas
e tinham três ódios de estimação:
Deus, o Rei e o Capital.

Branca e azul era a bandeira.
Depois passou a ser verde e vermelha,
Por pudor dizia-se verde-rubra.
Rubra da cor das faces das moçoilas do povo
que era pouco republicano
e muito temente a Deus.
Rubra como o tomate saloio.

Deus que, nesse tempo,
escrevia direito por linhas tortas.
Mas sempre a azul,  celestial.
Deus, Pátria e Família
também só podiam ser escritos a azul.
Era a única tinta que se usava
na tua Escola Conde Ferreira.

Gostavas de escrever à mão.
Mas às vezes não tinhas esferográficas pretas,  à mão.
E, depois, nem todas as esferográfica pretas prestavam.
Nem todas eram válidas e fiáveis.
Cmo as escalas,
biométricas, psicométricas e até sociométricas,
deviam ser.

Ficavas pior que estragado 
quando o bico (ou a ponta ?)
arranhava o papel liso do teu bloco de notas gráfico.
Dizia-se bico (e náo ponta) no tempo da Bic.
Gostavas da Bic, passe a publicidade.
Mas depois a Bic passou a ser feita em países
que eram pouco fiáveis mas que tinham futuro.

O teu país era fiável,
no tempo em que o ouro se mordia com os dentes.
Mas  depois, dizia-se, deixou de ter  futuro.
Há 500 anos que perdia a bússola
e passava a navegar à bolina,
em linguagem náutica.
Ou à deriva,
 em termos mais comesinhos.

Do azul só gostavas das flores dos jacarandás.
Não gostavas do azul
no tempo em que se embrulhava um homem 
em papel selado.
Que era azul, e tinha linhas,
25 linhas.
E não havia tira-linhas, só tira-nódoas.

Não gostavas do papel selado.
Azul, de 25 linhas.
Não gostavas do azul 
nem do vermelho, aliás, carmesim.
Do tempo em que os coronéis da censura
usavam lápis azuis e vermelhos, aliás, carmesins.

Quando foste para a tropa,
gostavas do preto.
Usavas boina preta, 
camisola preta, 
calças pretas, 
luvas pretas...
E esferográfica preta.

Mas depois, disseram-te, 
que era  politicamente incorreto,  o preto.
Por causa não-sei-quê-de-conotações-racistas.
Dizia-se negro, e não preto.
Mas houve uma altura em que o preto dava  jeito.
E, depois, dizia o capelão,
no princípio era o mundo.
E o mundo era a preto e negro.

Ainda te lembravas das fitas 
a preto e vermelho, aliás, carmesim,
com que batias à máquina
poemas sem pés nem cabeça,
só com tronco e braços decepados.
No tempo em que era proibido escrever a vermelho,´
por isso dizia-se carmesim.
E até os sinais de proibição do código da estrada
eram a carmesim.
Não se podia dizer nem escrever
vermelho.

E os próprios jornais, sobretudo os do reviralho,
só podiam publicar títulos de caixa alta
a carmesim.
Em dias de festa.
Ficava cara a impressão.
O preto não era cor, logo era mais barato.
Mas o azul também não vendia jornais.

O preto era a ausência de cor.
Não havia o preto na paleta das cores do arco-íris,
explicava-te o teu professor de química.

Os espanhóis, esses, eram daltónicos
e  foram mais pragmáticos:
só havia os rojos e os blancos.
E mataram-se uns aos outros.


Lisboa, Feira do Livro, 8 de junho de 2025


© Luís Graça (2025)

Nota do autor:

(*) carmesim

carmesim
(car·me·sim)

Imagem

Gradação muito carregada da cor vermelha.

nome masculino

1. Gradação muito carregada da cor vermelha.

adjectivo de dois géneros

2. Que tem essa cor.

Origem etimológica: árabe qirmezi, tingido de vermelho, de qirmiz, vermelhão, encarnado.

"carmesim", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/carmesim.
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 20 de março de 2025  > Guiné 61/74 - P26599: Manuscrito(s) (Luís Graça) (268): A velha Amura dos tugas, agora panteão nacional...

terça-feira, 17 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26930: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (16): Para recordar; Quadro de Honra; Feridos em combate e Outros que serão sempre lembrados

CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70


VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA

POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA


49 - PARA RECORDAR

A amizade entre todos era forte e sincera, que ainda hoje perdura. Mas dada a maior convivência destaco:

- Furriel Jardim, um bom amigo, conversador e conselheiro.
- Furriel Lima e Furriel Oliveira Miranda, os irmãos metralha, sempre pegados como o cão e o gato, mas bons amigos.
- Furriel Baeta, autêntico computador à época, grande memória pois sabia de cor algumas dezenas de números mecanográficos. Passados vinte anos num convívio perguntei-lhe se sabia o meu, tendo respondido de pronto 06026567 e é mesmo.
- Furriel Bettencourt, mais do que enfermeiro foi o médico que nunca tivemos.
- Furriel Brito, o nosso fotógrafo e DJ no quarto de Tite.
- Soldado Xabregas, espirituoso e sempre bem disposto e o poeta que escreveu a letra da marcha de Nova Sintra que começava assim:

Defendemos Nova Sintra
com muito orgulho e altivez
pertencemos à companhias
que é a dois quatro oitem e três
Furs Mil Jardim e Aníbal
Furs Mil Aníbal e Brito
Furs Mil Baeta e Miranda
Cap Bernardo; Lima; Ludovico; Aníbal e Lopes
Capitão Bernardo
Furs Mil Aníbal e Bettencourt

Obviamente não posso deixar de referir o capitão Bernardo, o nosso chefe, amigo de toda a gente, grande condutor de homens, cuja perda prematura foi muito sentida. Jamais esquecerei uma das suas palavras de ordem “à falta de meios avança a imaginação


50 - QUADRO DE HONRA

****** Aqueles que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando ******

24 de Julho de 1969 - Soldado José Pedroso de Almeida
24 de Julho de 1969 - Soldado Adelino Sousa Santos
04 de Agosto de 1969 - Soldado Domingos Conceição Verdades Ventinhas
17 de Novembro 1969 - 1.º Cabo José Maria Lomba
17 de Novembro 1969 - Soldado António Abrantes do Couto


51 - FERIDOS EM COMBATE

Cap Cav - Joaquim Manuel Correia Bernardo, em 11/07/69
Fur Mil - José Joaquim Oliveira Miranda, em 24/07/69
Fur Mil - Aníbal José Soares da Silva, em 04/08/69
Fur Mil - Fernando José Barriga Vieira, em 17/11/69
1.º Cabo - Manuel João
Soldado - Isidoro Soares Machado
Soldado - Gabriel Matias dos Santos, em 17/11/69
Soldado - António Augusto Soares Poupada, em 17/11/69
Soldado - Leonel Jorge Pascoal Germano, em 17/11/69
Soldado - Joaquim Marques Batista, em 17/11/69
Soldado - José Maria Silva Soares



52 - OUTROS QUE SERÃO SEMPRE LEMBRADOS

E que entretanto faleceram, após o regresso a casa:

1.º Sargento Josué Júlio Monteiro Ludovico
2.º Sargento José Fidalgo Canaveira
Fur Mil Alberto Augusto Ramos P. Azevedo
Fur Mil José Santos Moreira
Fur Mil Jorge Manuel Frazão Damaso
1.º Cabo Artur Oliveira Soares
1.º Cabo Gregório João Revés
1.º Cabo José Correia
1.º Cabo José Manuel Chambrinho Braz
1.º Cabo Rogélio Carlos Cipriano
1.º Cabo Sérgio Alves Pereira
Soldado Amândio Alves Amaral
Soldado António Francisco Soares
Soldado António Jesus Garcia
Soldado António Augusto Fernandes Poupada
Soldado Carlos Alberto Neves Lourenço
Soldado Fernando Jacinto da Silva
Soldado Gustavo Liz Castro
Soldado João Henrique Martins Boleto
Soldado Joaquim Marques Batista
Soldado José Augusto Batista Rodrigues
Soldado José Guerreiro Estevans
Soldado José Joaquim Alves Cruz
Soldado Leonel Jorge Pascoal Germano
Soldado Manuel Gouveia de Oliveira (Xabregas)

ARCOZELO – GAIA, 01 de JUNHO DE 2020


(FIM)
_____________

Nota do editor

Vd. posts da série de:


4 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26551: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (1) Formação do BCAV 2867 - Partida para a Guiné e Chegada a Bissau

11 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26573: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (2): Partida para Nova Sintra - Chegada a Nova Sintra - Em Nova Sintra

18 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26595: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (3): A Alimentação

25 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26615: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (4): Cantina - Encontros em Bissau e Entretenimento

1 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26636: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (5): Jogos de futebol e voleibol - Natal e Fim de Ano de 1969 e Hotel Miramar e Pensão Xantra

8 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26664: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (6): Pelotão de Caçadores Nativos 56 - Primeira vez debaixo de fogo e Emboscada virtual

15 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26692: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (7): Coluna de Reabastecimento a S. João - Coluna a S. João em 08/12/69 e Colunas de reabastecimento a Lala

22 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26714: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (8): O gerador; O bezerro; Os cães e a raiva; As botas trocadas; As abelhas e As rolas

29 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26743: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (9): Messe de sargentos; O Correio; A Enfermagem; As Transmissões e A Ferrugem

6 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26770: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (10): Os grandes azares; Insensatez; O ronco; Caso do Furriel Moreira e Chuveiro do abrigo dos Morteiros

13 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26796: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (11): Uma jóia de criança; A Tombó; Abutres e pelicanos e As larvas de asa branca

20 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26820: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (12): O meu acidente

27 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26852: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (13): Comissão liquidatária e Esferográficas Parker

3 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26878: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (14): Tite, Quarto dos Furriéis e Últimos dias em Bissau
e
10 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26904: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (15): A despedida do Quartel de Brá e o Regresso

Guiné 61/74 - P26929: Agenda cultural (889 : Lourinhã, Salão Nobre da Câmara Municipal, sábado, 21, às 11 horas: sessão de lançamento do livro de Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos: os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial"



Cartaz de lançamento do livro "Não esquecemos: os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial", da autoria do lourinhanense Jaime Bonifácio Marques da Silva

Cortesia de: Página do facebook de Município da Lourinhã, terça, 17 de junho d2 2025, 13:00

 1. Estão convidados os nossos leitores para assistir à sessão de lançamento do livro, "Não esquecemos: os jovens militares do concelho da Lourinhá mortos na guerra colonial".

O evento vai realizar-se na Lourinha, no Salão Nobre da Câmara Municipal, dia 21, sábado, às 11h00.

A edição do livro tem a chancela da Câmara Municipal da Lourinhã (2025, c. 230 pp.).  O autor é o nosso grão-tabanqueiro nº 643 (desde 31 de janeiro de 2014), Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72). 

O livro será apresentado pelos nossos tabanqueiros Joaquim Pinto Carvalho e Luís Graça. 

Na mesa terão ainda presentes, além do autor, o presidente da edilidade,engº  João Duarte (tem 3 irmãos antigos combatentes),  a profª Leonor Bravo (professora de história, do Agrupamento de Escolas João das Regras, Lourinhã) e ainda a profª Maria João Picão Oliveira (moderadora).






(i) nasceu em 1946, no Seixal,Lourinhã;

(ii) foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72);

(iii) tem uma cruz de guerra por feitos em combate;

(iv) viveu em Angola até 1974;

(v) licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH);

(vi) professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ;

(vii) autarca em Fafe, em três mandatos (1987/97), com o pelouro de desporto e cultura;

(viii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte;

(ix) é membro da nossa Tabanca Grande, nº  643, desde 31/1/2014;

(x) tem uma centena de referências no nosso blogue.


(Fixação do texto e edição de fotos: LG)
_______________

Guiné 61/74 - P26928: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: A piscina do "Clube de Oficiais" do QG/CTIG, em Santa Luzia (Fotos de 11 a 17)


F11 – Na barra de elevações com a Suzi, filha do Coronel "Lavrador", chefe daquilo tudo. Abril68.   [ Seria coronel de intfantaria Saraiva, diretor do Clube Militar de Oficiais em 1 de julho de 1972 ? Vd.  comentário abaixo do editor LG]



F12 – Apanhar sol na relva da piscina, ao lado da minha amiga Suzy. Abril/68



F13 – Refrescando-me na piscina, que como se vê com pouca gente. Abril68




F14 – Deitado na prancha da piscina, com algumas pessoas. Abril68.



F15 - Preparando-me para um mergulho. Abr68.


F16 – Tomando um duche na piscina, e pelo aparato deve ser o bar de piscina, sem certezas,



F17 – A descançar na piscina fumando um cigarro. 02Abril/68


Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG/CTIG > 1968 >  A piscina  do "Clube Militar 
de Oficiais"  

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).


1.1. Comentário do autor (enviado por email, 
17 jun 2025, 12:25) ao poste P26922 de 15junho2025 > O Biafra » O Clube de Oficiais de Santa Luzia (*)

(...) Entenda-se que não estamos a fazer uma tese de doutoramento, nem uma pesquisa para a História de Portugal. São noções que ainda vamos tendo do que se passou em 67 a 69, já passaram 58 anos, a memória já é curta e confusa. Depois existem comentários e outras descrições em diversas fontes, aqui eu falo do periodo de 21set67 a 04agosto69. Acredito que com o andar dos anos, muita coisa fosse melhorada ou até piorando, mas não é da minha lavra.

Como já disse o "Biafra"  era o então barracão de madeira e teto de chapas de zinco, onde eram colocados oficiais inferiores, que andavam de passagem. O nome de "Biafra" advém portanto das péssimas condições de alojamento, mas era um local de passagem, ninguém vivia lá em permanência, até porque passavam por lá não só os chamados "periquitos", como também a malta da pesada já com uma grande tarimba, e pirados da cabeça, ou apanhados pelo clima.

O nome advém, julgo eu, porque nesse ano de 1967, já se notavam movimentações de aviões e material para a guerra do Biafra, na Nigéria, essa sim sem nenhumas condições. A associação é fácil de compreender.

O então novo empreendimento situado ao cimo da estrada de Santa Luzia, com Porta de Armas, chamado por vários nomes: Clube de Santa Luzia, Clube de Oficiais do QG, Messe do QG, ou até Piscina do QG, era tudo do mesmo. Aqui já eram instalações de certo luxo relativo, não tem nada a ver com a guerra do Biafra.

A caserna dormitório, onde se alojavam, passe o termo, os oficiais milicianos de aviário, era então o chamado pejorativamente o "Biafra"

Não me consta a existência dessa praxe de atirarem com lapas para cima da chapa, simulando um ataque dos turras!

Se existia o termo de "Biafra" da Base Aérea eu desconheço, e ainda lá fui uma única vez, enquanto esperava transporte para Nova Lamego.

Esta é a minha versão do excelente Clube de Oficiais de Santa Luzia, com a sua piscina, messe, esplanadas, bares, salas de jogos e muito mais.

O local icónico que não dá para esquecer, pois aqui, ao invés do Café Bento (ou 5ª Rep), não se discutia a guerra, era coisa que passava ao lado. Sei que depois, anos depois já não era local seguro.

 "Biafra" de Sargentos e Biafra de Praças???

Francamente não tenho a mínima noção da sua existência, pois mal se viam sargentos neste espaço, e Praças muito menos. Será que ocupavam as instalações do Quartel do 600 que fazia a segurança do QG? Ficava por trás do Clube.

Conforme já li entretanto nos comentários, constato que na realidade nunca vi um "Biafra" para Sargentos e muito menos para Praças.

Isto leva-me a pensar melhor como se ia para lá parar.

Eu, pessoalmente, vinha a Bissau em serviço, com Guia de Marcha e apresentação no QG. Logo tinha estadia no Clube de Oficiais, cama, mesa e roupa lavada. Mas quando passei lá por duas vezes, a caminho de férias na metrópole, e depois no regresso, era tudo por minha conta, inclusive a estadia e alimentação.

É aí que recorro à estadia no "Grande Hotel", e comidas e bebidas nos vários pontos, nomeadamente, o "Solar dos 10".

Fala-se muito no "Pelicano", mas já vi as fotos e não me lembro de existir no meu tempo.

O pessoal, sargentos e praças, que estariam em serviço em Bissau, tinham as instalações dos Adidos, em Brá, e como já foi dito, eram muito más, faz-me lembrar o levantamento de rancho quando fiz um Oficial de Dia.

Os quartos eram abafados e quentes, verdadeiros viveiros de baratas, que me alteraram o sistema nervoso, e foi uma das causas que me levou ao internamento na Psiquiatria do HM 241, entre outros problemas, nomeadamente de colocação após ter terminado a minha função no CA do BCAÇ 1933. (...)

(Seleção, reedição e numeração das fotos, revisão / fixação de texto: LG)


1.2. Comentário do editor LG:

A propósito do coronel "Lavrador", pai da Susy das fotos 11 e 12, cito aquu um excerto do depoimento do Coronel Engº de Transmissões Jorge Golias, publicado em 
Memórias do Agrupamento de Transmissões e Histórias de Guerra na Guiné – 1972/74


(..:) Cheguei ao aeroporto de Bissalanca no dia 1 de Julho de 1972 (...)

(...) O Agrupamento de Transmissões em Bissau era um aquartelamento confortável, com todas as suas instalações feitas de raiz, bem adaptadas à função e ao clima. Bem perto ficava o Grupo de Artilharia nº 7 (GA-7) e fazia-se a pé o percurso até ao Clube Militar de Oficiais (CMO) em Santa Luzia, mas sempre se utilizava o Jeep Willis para evitar a exposição ao sol do meio-dia. (...)

(...) Seguiu-se a apresentação e, logo nesse mesmo dia, a passagem do testemunho pelo Cap. Cordeiro, que eu ia render.(...)

(...) Foi este ambiente, inesperadamente agradável, que vim encontrar no dia 1 de Julho de 1972. Foram meus companheiros de voo o Capitão comando Carlos Matos Gomes e o Cap miliciano José Manuel Barroso, à data jornalista do Jornal “República”.Ao fim da tarde desse dia, e enquanto me refrescava na esplanada do Clube, chegou-me aos ouvidos o som de várias explosões que não percebi se tinham origem na cidade ou mais longe. (...)

A segunda emoção da minha chegada à Guiné acontece quando, já de noite e tomando um digestivo na mesma esplanada, assisto a uma debandada geral dos presentes, apenas porque umas gotas de água refrescantes começavam a cair. (...)

(...) À noite recolhi a casa do Cap Cordeiro (por alcunha o Verde) que eu ia render. Seria nesta casa que me instalaria, aguardando a chegada da família, que só viria a estar comigo seis meses, por questões de segurança. Esta casa ficava na Rua Gen. Arnaldo Schulz, o anterior governador, e onde era vizinho do Coronel Saraiva, um camarada de Infantaria que não tinha casa no Continente e que sempre tinha vivido no Ultramar até uma idade já avançada e com duas filhas adultas.

Era ele o Director do Clube Militar de Oficiais. Curiosamente viria ainda a cruzar-me com ele nos Açores onde, já na Reserva, viria a acabar o seu serviço militar, refugiando-se a seguir e, finalmente, não no Continente, mas na ilha de Santa Maria! 

E ao escrever estas linhas ao correr da pena, recordo-o com saudade pela companhia que me fez na Guiné e nos Açores e porque é dele a frase para mim mais marcante que ouvi na altura do PREC (processo revolucionário em curso) e que foi dita aos oficiais que comandava numa unidade da RMN: os senhores mantenham-se sempre unidos, nem que seja contra mim! (...)


(Seleção, revisão / fixação de texto, itálicos e negritos: LG)

Guiné 61/74 - P26927: Parabéns a você (2386): Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74)

_____________

Nota do editor

Último post da série de 8 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26897: Parabéns a você (2385): João Gabriel Sacôto, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 617/BCAÇ 619 (Bissau, Catió e Cachil, 1964/66)

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26926: (De) Caras (234): o nosso Raul Solnado da Guiné... o Abílio, Valente e Magro, ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG (Bissau, 1973/7)



1. Comentário do nosso editor LG, ao poste P26923 (*)


Abílio: já em tempos aqui escrevemos que os "tugas" podem ter muitos defeitos, como todos gajos, "cagões", que habitam o planeta... Mas têm uma virtude: sabem rir-se de si próprios.. Talvez os italianos não saibam, nem os alemães, ou os "amaricanos"...Muito menos os russos, os chineses, e outros povos "imperiais",,, Mas os "tugas", desde o berço da nacionalidade até, pelo menos, às "campanhas de pacificação" nos Algarves d'aquém e d'além-mar em África, depressa aprenderam que:

(i) chorar no molhado não adiantava nada;

(ii) dar de beber à dor podia ajudar;

(iii) cantar o fado fazia bem à alma;

(iv) pedir aos santos dava jeito mas nem sempre resultava ("quando Deus não quer, os santos não ajudam");

(v) mas nada melhor, afinal,  do que uma boa anedota "para desenrascar a coisa", "desopilar"...


Uma anedota, uma "estória", não sobre o vizinho espanhol mas sobre si próprio (o alentejano, o alfacinha, o tripeiro, o marafado, o bimbo, o ilhéu...). Nada como uma boa história, de preferência, pirosa, galhofeira, brejeira, pícara... Às vezes misturada com uma lágrima quente...

Abílio, sei que não estás nos melhores dias...("A doença vem a cavalo, e vai a pé".) Mas és um rapaz do Norte, e já aqui escreveste, no blogue, algumas peças de antologia do nosso bom humor de caserna, na tua série "Um amanuense em terras de Kako Baldé"... Bom humor, já que o mau humor, de gente ressabiada, não nos interessa, dispensamo-lo, não ajuda o moral da tropa quando está enrascada, atolada na bolanha ou no tarrafe....

Tu, "mano" Abílio Magro, já não precisa de apresentações: fostes fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74), foste um dos últimos soldados do império... Entraste para a Tabanca Grande em 2013 e tem seis dezenas e meia de referências no blogue... 

Ganda pintarola!

Seguramente és um caso único na história das nossas "guerras da descolonização" (como dizem agora os senhores historiadores...), és proveniente de uma grande família de combatentes, pois, de 8 irmãos (6 rapazes e 2 raparigas) todos os machos foram dar com os costados nos vários TO (Angola, Moçambique e Guiné), chegando a estar 5 irmãos (todos milicianos) ao mesmo tempo, a cumprir serviço militar, dos quais 4 no Ultramar... 

Ainda não explicaste por que é que as manas não foram para enfermeiras paraquedistas. (A tua mãe teve juízo em travar o ímpeto guerreiro da família... Afinal, alguém tinha que ficar em casa para receber e ler o correio!).

Dos 8 irmãos tu eras (e és, felizmente estás vivo) "o mais novo", o caçula, e regressaste da Guiné em setembro de 1974, com a Guiné já independente e com os "turras" do PAIGC (perdoados e reabilitados, promovidos à categoria de "combatentes da liberdade da pátria") a fazerem patrulhas em Bissau, em conjunto com a nossa PM (sic)... (Fizemos a gurra e a paz, mas ainda não o luto, um pequeno pormenor importante para a história, e sobretudo para a nossa saúde mental.)

Não tens nenhuma cruz de guerra (foram todas vendidas em saldo, antes de chegar a tua vez), mas podes gabar-te de ter honrado a tua família, e os seus pergaminhos, como Valente e Magro que é...

As tuas histórias da guerra (antes da água do Geba, já tinhas provado a água do Cacine!) merecem figurar ao lado das histórias que o Raul Solnado que, se fosse vivo e tivesse tido o privilégio de te ter conhecido, a ti e à nossa Guinézinha, adoraria por certo (re)contá-las...

Abílio, aceita um chicoração fraterno deste teu "mano mouro"... Põe-te fino! Luís Graça (e Carlos Vinhal, teu "mano visigodo" de Leça da Palmeira).(**)

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Notas do editor:


´(*) Vd. poste de 16 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26923: Humor de caserna (200): "Bomba" no Clube de Oficiais, em Santa Luzia, Bissau, em plena sessão de cinema ao ar livre (Abílio Magro, ex-fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74) 

Guiné 61/74 - P26925: Notas de leitura (1809): Guiné - Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril; Âncora Editora, 2024 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Maio de 2024:

Queridos amigos,
Aparece finalmente uma coletânea de depoimentos dos milicianos que intervieram entre 1973 e 1974, em convergência com os oficiais do quadro permanente, na formação e atividade do MFA da Guiné, são depoimentos que em alguns casos forçosamente se repetem mas há em muitos deles a singularidade do testemunho, um olhar lúcido sobre a evolução da guerra, a participação nas conversações com os quadros do PAIGC, muitos deles dão conta do anacronismo das pretensões de Spínola fazer um referendum na Guiné quando já houvera o reconhecimento internacional para um Estado soberano que terá a liderança do PAIGC. Esta obra, que se saúda pela pertinência dos testemunhos, tem o poder de complementar um acervo de depoimentos e análises do MFA da Guiné, em que constam nomes como Sales Golias, Duran Clemente, Carlos de Matos Gomes e António Duarte Silva.

Um abraço do
Mário



Os milicianos no MFA da Guiné (1)

Mário Beja Santos


Muito se tem escrito sobre a formação e atividade do MFA da Guiné, intervenientes como Sales Golias, Duran Clemente, Carlos de Matos Gomes, investigadores como António Duarte Silva, são algumas das figuras mais salientes desse fenómeno original de um movimento altamente sigiloso formado em 1973 e que ganhou vida própria. É facto que a presença dos milicianos não é descurada da narrativa, aparece sempre a figura do capitão José Manuel Barroso, mas quanto à competição do desempenho dos milicianos ainda não existia um conjunto organizado de depoimentos, e daí saudar-se esta obra coletiva intitulada "Guiné Os Oficiais Milicianos e o 25 de Abril", com doze testemunhos de participantes, e aonde não falta a lembrança daqueles que já partiram como José Aurélio Barros Moura, Luciano Avelãs Nunes, Jorge Cabral Ventura e Joel Hasse Ferreira, Âncora Editora, 2024.

O primeiro depoimento cabe a Álvaro Marques que dá ênfase à crise académica de 1969 e à incorporação nas Forças Armadas. Esteve em Mafra e em Santarém, aí conheceu Salgueiro Maia, é amnistiado em 1970, reincorporado em 1972, tem uma troca de palavras com Spínola, este convida-o para um jantar no Palácio, não esconde ao general que aquela guerra perdeu sentido, segue depois para Aldeia Formosa, recebe o convite do capitão José Manuel Barroso para vir para Bissau trabalhar no PIFAS, vai fazer parte do Núcleo de Luta Anticolonial, irão juntar-se, entre outros, Celso Cruzeiro, Barros Moura, Sacadura Botte, estes pretenderam ser advogados de Coutinho e Lima, que estava preso no Cumeré, a ira de Spínola não se fez esperar, Barros Moura foi despachado para S. Domingos; o núcleo alargou-se, vão assistir à criação do MFA em Portugal, o MFA da Guiné passa a ter estatuto próprio, incluindo o projeto de desencadear o golpe de Estado, caso falhasse o de Lisboa.

Os milicianos terão desempenho na criação do MAPOS, um movimento para a paz que em 1 de julho aprovou uma moção onde se repudiava qualquer solução local e unilateral que não fosse aceite pelo Governo central em Portugal, exigindo que fossem imediatamente reatadas as negociações com o PAIGC e, ponto curioso, “Apelar para que os militares portugueses encarem a sua presença atual e estrutura na Guiné como uma forma de prestar a sua cooperação desinteressada ao povo da Guiné, assim contribuindo para o pagamento da dívida histórica criada pelo colonialismo português.” Álvaro Marques refere o seu trabalho na publicação Voz da Guiné.

O segundo depoimento pertence a Amaro Jorge, que foi alferes miliciano no Batalhão de Intendência de Bissau, também esteve ligado à crise académica de 1969, pertenceu aos Serviços Auxiliares, assim chega à Intendência de Bissau, colocado na chefia da Secção de Reabastecimentos, dá-nos conta da delicadeza do que era organizar a listagem de bens, combustíveis e outros, havia sempre comida a estragar-se ou a desaparecer. Foi destacado da Intendência para o Palácio do Governo, para adjunto do Governador, tendo ficado com os assuntos do pessoal e das relações de trabalho. Regressou a Portugal em 1 de setembro.

O terceiro testemunho vem de Canhoto Antunes, foi capitão miliciano, este em Madina Mandinga, Nema e Empada. Estagiou na Guiné integrado na CAOP 2 (Gabu), voltou a Mafra, forma a CCAÇ 4944, conta por onde andou, a atividade operacional, incluindo em 26 de maio de 1974 que houve 10 feridos numa emboscada. Chegou a Empada em 4 de junho, estabelecem-se contactos com o PAIGC. Regressa a Lisboa em 28 de setembro, em plena manifestação da “maioria silenciosa”, o que os obrigou a vários stops nas estradas até casa, até pensou que saíra de uma guerra para entrar noutra.

O quarto testemunho pertence a Celso Cruzeiro, da chefia do serviço de Justiça do Quartel-General, redator do Voz da Guiné. Chamo a atenção para o reconhecimento que os jovens capitães cedo fizeram do papel desempenhado pelos milicianos, eles contribuíram para melhor compreender a guerra como fenómeno dependente dos interesses do poder económico e do sistema de influência geopolítica. Salienta a importância dos encontros na Guiné em 1973 entre os jovens oficiais do quadro permanente e o conjunto dos oficiais milicianos ali presentes, ao longo dos primeiros meses de 1974 foram-se estreitando os laços. Recorda o abaixo-assinado lançado no dia 28 de abril de 1974 e dirigido ao Presidente da Junta de Salvação Nacional, solicitando um cessar-fogo imediato e conversações prontas com o PAIGC; fará um historial das etapas subsequentes, as conversas havidas entre Fabião e Spínola, a importância dos Movimento para a Paz, à institucionalização do MFA da Guiné, a ira de Spínola que convocou para Lisboa vários oficiais do quadro permanente e milicianos e recorda, em jeito de conclusão, que a participação dos milicianos tinha a dupla preocupação de colaborar com o MFA no processo de descolonização da Guiné e, por outro lado, fornecer uma base mínima de politização ao contingente dos soldados portugueses. Não deixa de lamentar como o novo país independente vestiu rapidamente o manto dramático da tragédia em que permanece.
Gadamael, maio de 1974. A primeira visita do PAIGC à tabanca e aquartelamento de Gadamael: Em primeiro plano, ao centro, o Comandante do COP5 (Cap Ten Fuzo Patrício); do seu lado direito está o comissário político do PAIGC, de cigarro russo na boca. Imagem retirada do nosso blogue
Pirada, primeiros contactos com o PAIGC, junto à fronteira do Senegal com o fim de combinar a "passagem de testemunho", dirigido pelo Comandante Jorge Matias, do BCAV 8323. Fotografia de António Rodrigues, com a devida vénia
China, Amílcar Cabral e o PAIGC: um namoro em três tempos Delegação do MPLA e do PAIGC na China, em Agosto de 1960, a convite do Comité Chinês de Solidariedade com África e Ásia. Imagem da Associação Tchiweka de Documentação

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 13 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26916: Notas de leitura (1808): Lembranças do que foi o Museu da Guiné Portuguesa (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26924: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Adenda: Kalú de Nhô Roque e a sua "circunstância"



Capa do livro de Carlos Filipe Gonçalves (que teve a gentileza de nos mandar, a título pessoal, uma cópia em pdf deste seu livro; a edição de 2019 está esgotada).

Ficha técncia:

Título: Bá Da'l na Rádio – Memórias da Rádio Barlavento
Autor: Carlos Filipe Gonçalves
Editora : LPC – Livraria Pedro Cardoso – Bairro da Fazenda, Cidade da Praia, Cabo Verde.
Ano : 2019
Nº páginas : 252
ISBN : 978-989-8894-34-2


Sinopse: o titulo é em crioulo, significa literalmente: Vai dar isso na rádio. Ou seja, vai difundir isso na rádio. Trata-se uma frase jocosa que surgiu depois da invasão / assalto da Rádio Barlavento, na Ilha de S. Vicente, em Dezembro de 1974, em pleno período «revolucionário» após o 25 de Abril. É que o assalto ou «tomada da rádio» foi justificado por uma «soit disant» democratização/pluralismo de acesso, o que na verdade não se verificou porque todos os elementos contrários à «Unidade entre a Guiné e Cabo-Verde» foram presos poucos dias depois...

Teve início então uma avalanche de «comunicados revolucionários» depois das reuniões do comités do PAIGC, que eram enviados à rádio! Surgiu então esta frase jocosa, a criticar esta situação… Começou deste modo o «regime de Partido Único»…

Carlos Filipe Gonçalves, que começou a trabalhar na Rádio Barlavento aos 16 anos, conta as recordações dele, de colegas e amigos que lá trabalharam, descreve o contexto social da época e traça o percurso histórico que culmina no assalto e encerramento daquela rádio e do Grémio Recreativo Mindelo em 1974: um acerto de contas numa luta de classes latente desde inícios do século XX que terminou com a nacionalização dos órgãos de comunicação social e um monopólio/situação dominante do Estado que vigora até ao presente. (*)


I. O Carlos Filipe Gonçalves, nosso antigo camarada na Guiné (foi fur mil amanuense,  CefInt/QG/CTIG, Bissau, 1973/74), é uma figura pública no seu país, Cabo Verde (ver aqui entrada na Wikipedia). 

Fez questão de partilhar connosco, em 9 (+5) postes, as suas recordações desse tempo (**). Por dever e direito de memória, que assiste a qualquer um de nós, antigos combatentes. 

Temos trocado com ele algumas mensagens, e ele tem gentilmente respondido a perguntas nossas ou comentários dos nossos leitores. 

Os excertos que aqui publicámos fazem parte de um livro que ele tem em mãos, mas, para efeitos de publicação no nosso blogue, ele omitiu as notas de rodapé  e outras informações mais detalhadas. Daí fazer sentido publicar uma "adenda" à sua série, "Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74)".


II. Mensagem de Carlos Filipe Gonçalves, com data de 10 de junho último:


Olá caro amigo e camarada:

Antes de mais, desejos de vida e saúde.

Sobre a tua pergunta, o conteúdo dos pontos 1 e 2 é público; são dados conhecidos de biografias dessas pessoas.

O ponto 3 é a minha resposta a alguns comentários que foram feitos, nos meus postes. Logo é público.  

Sobre o teu comentário, em que dizes que passaste a conhecer melhor as minhas origens e ligações - afinal o mundo é pequeno!... Devo chamar a tua atenção, no meu texto já publicado (Despedida e Partida para a Guiné, poste P26819, de 20 de maio de 2025), faço uma referência à minha tia Orlanda Amarílis (1924-2014), que foi se despedir de mim no cais da Alcântara. 

Aliás, durante o tempo que estive em Portugal desde Dezembro de 1971 a Fevereiro de 1972 passava os fins de semana em casa da Orlanda Amarílis e do meu tio Manuel Ferreira, em Linda a Velha.

Outro dado, que devo indicar é que Manuel Ferreira  conheceu e namorou a Orlanda na mesma casa de família onde eu cresci, em Mindelo, onde vivia o meu avô, Roque da Silva Gonçalves, pai de António Aurélio Gonçalves, o escritor, um dos fundadores com Baltazar da revista Claridade em 1936. 

Ora, o meu avô Roque faleceu e o filho, António de Nhô Roque, acabou a ser conhecido apenas, por Nhô Roque! Bem, eu como fui educado pelo meu tio António de Nhô Roque, acabei também por passar a ser chamado de Kalú de Nhô Roque. 

Devo explicar, em Cabo Verde, tradicionalmente, as pessoas, são referidas pela evocação da ascendência dos familiares mais próximos ou diretos, ou seja, pai, avô ou bisavô: António de Nhô Roque, é, pois, António, filho de Nhô Roque... 

Continuando, Manuel Ferreira acabou por se integrar na elite literária de Mindelo, através das relações que desenvolveu com a nossa família. O meu tio António é primo da Orlanda, é parente próxima do poeta José Lopes, a quem ela e minha mãe chamavam tio José Lopes. 

O pai da Orlanda Amarílis, que é Armando Napoleão Fernandes (meu avô),  é o autor do primeiro Dicionário Crioulo Português, já pronto em meados dos anos de 1940.

 Manuel Ferreira casou-se com a Orlanda, em casa do genro, em Santa Catarina (Vila da Assomada),  Ilha de Santiago; foi uma festa que contou o tradicional Batuque que antecede as bodas. Como estás, a ver o Manuel Ferreira teve contactos profundos com Cabo Verde e com a elite literária, daquele tempo....

Agora, referencias num poste e comentário, sobre o Grémio Recreativo Mindelo, alguém escreveu sobre Rafael Torres e outros a tocarem naquele clube... pois, é, esse conjunto era do meu pai, Arnaldo Gonçalves (Naldinho) pianista, muito conhecido. 

No meu canal You Tube poderás escutar Naldinho Morna Perseguida FINAL uma faixa do conjunto Centauros; na foto pode-se ver, Rafael Torres, o primeiro à direita, a seguir, Ângelo Lima, afamado guitarrista, foi um membro ativo do partido UDC (União Democrática de Cabo Verde), foi preso dezembro de 1974, enviado para o Tarrafal, juntamente umas dezenas dos chamados «contrarrevolucionários», seriam soltos na véspera da Independência. 

O meu pai não foi preso, foi para Portugal em março de 1975, como era casado com uma grega, foi para Atenas, onde faleceu em fevereiro de 1991.

O livro sobre a Rádio Barlavento, está esgotado, mas, vou te enviar uma cópia em PDF, para teu consumo privado, agradecia que não fosse divulgada, devido aos direitos editoriais e de autor.



Fonte: (1963-1973), "Júlio de Carvalho, Tchifon, Cláudio Duarte e Valdemar Lopes", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43496 (2025-5-31) (Coim a devida vénia...)


III. Mensagem  anterior, com data de 2 de junho, do Kalú de Nhô Roque:


1. Sobre a foto, eis as pessoas nela constantes (vd. poste P26871) (**): 

  • Eduardo Silva Santos ("Tchifon"). Mindelo, S. Vicente 1942 – 22 de Janeiro de 1997. Depois de uma comissão na tropa em Moçambique, integrou o PAIGC; 
  • Claúdio Duarte, vive desde 1975 na Praia, foi estudante em Louvain na Bélgica (não tenho a data de nascimento, mas se conseguir envio; 
  • Valdemar Lopes da Silva ("Val de Nhô Balta"),  músico, violão – Mindelo, S. Vicente, 1943 – 2000. Filho do célebre escrito Baltazar Lopes da Silva. Organizou o grupo musical que gravou o disco de música revolucionária, em 1973 intitulado “Música Cabo Verdiana Proteso e Luta” que marca uma época depois do 25 de Abril. 

Nota – enviarei por outro email a biografia do Valdemar Lopes da Silva que consta do meu livro, “Kab Verd Band Música & Tradições” ed. do autor Carlos Filipe Gonçalves, em 2023; é um dicionário da música de Cabo Verde, com mais de 3 mil entradas/verbetes 700 páginas.


2. JJ não consta da foto – Dados, resumidos: João José Lopes da Silva, mais conhecido por JJ, Ilha do Fogo, 26 de Dezembro de 1947 – Praia, Janeiro de 2015. Abandonou em 1969 o curso de engenharia na Universidade de Coimbra para integrar o PAIGC.

 Li os comentários no Blog. Como já esperava, surgem questões sempre relacionadas com a ausência dos rodapés que explicam pormenores no texto, neste caso, as biografias do JJ e Tchifon. 

Por outro lado, por se tratar de extractos, muitas descrições, ficam desenquadradas de contextos anteriormente descritos. Note-se, este meu livro, não é simplesmente uma descrição do que eu vi ou do meio em que vivi em Bissau. No livro, descrevo as impressões de um cabo-verdiano (que sou eu) no ambiente social em Bissau, os problemas vários que enfrentei, etc. 

Por isso, vou te enviar, não para publicação, mas para tua informação, o capítulo 4 (completo) do livro, que que te dará uma outra visão. 

Nos capítulos anteriores sobretudo durante a viagem de Lisboa a Bissau, em «flash back» conto toda uma história da pressão da Pide em Mindelo, de como isso afectava os jovens, depois, como eu, faço tudo em Tavira, para eu e outros colegas, nos «safarmos» e passar aos serviços auxiliares…. 

Surpresa, foi numa consulta no Hopistal Militar em Évora que encontro, um oficial que tinha uma filha casada com um cabo-verdiano e tinha sido minha professora… não vou contar mais… Bem, acredita acabei até por voltar a Mindelo, antes do final da recruta…. Etc. e tal…

A segunda parte do livro, que pode parecer apenas do interesse de guineenses e cabo-verdianos…, conta como vivi e vi o início de uma «repressão» violenta que foram vítimas, antigos militares e pessoal civil guineense… assisti à purga de Março de 1975…. Apresento biografias e dados sobre os cabo-verdianos envolvidos nessas prisões, felizmente, não foram fuzilados…


3. Como, sou o sobrinho e fui educado por António Aurélio Gonçalves, o escritor mentor do movimento Claridade juntamente com Baltazar Lopes da Silva, fui bem acolhido em Bissau depois da vinda do PAIGC,


III. Mensagem de 9 de junho:


Respondi à tua msg, sobre esse assunto, não foi enviado, por isso utilizo agora este meu outro email:

Acabo de receber o teu link, já vi a foto do meu post que publiquei há uns anos. Olha trata-se do Grémio Recreativo Mindelo, era um clube que reunia as pessoas da sociedade mindelense; era a proprietária da Rádio Barlavento. Olha, escrevi um livro sobre a Rádio Barlavento e o Grémio. O meu pai foi um dos fundadores e o último director dessa rádio, aconteceu com ele a «tomada da rádio» pelo PAIGC, eu me encontrava em Bissau, foi em 9 de Dezembro de 1975...

No livro desmistifico a propaganda que foi feita sobre o Grémio e os seus associados, conto a História da Rádio Barlavento. O meu pai acabou exilado em Atenas, Grécia, só nos, vimos 15 anos depois, os meus irmãos, só, nos vimos em 2007 e 2009 respectivamente. Estás a ver a tragédia que foi isso tudo… O título do livro: «Bá D’al na rádio Memórias da Rádio Barlavento, ed. Livraria Pedro Cardoso, 2019.

Quanto ao Zeca Macedo, é um amigo meu desde a infância, a família é do Fogo, são parentes próximos da família do escritor Dr. Teixeira de Sousa. Estivemos juntos na Guiné, era fuzileiro, telefonou-me há dias, mas a chamada caiu, voltei a ligar não respondeu.

Olha, aconteceu, com este teu email, o mesmo que aconteceu com o último que te enviei: só cá chegou metade do teu texto… Parece que há algo com o meu gmail. Já Chamei o meu neto para vir ver. Por isso, eis o meu Hotmail, para caso de dúvidas (...).

Vou passar a utilizar este na nossa correspondência. Olha, não tive tempo, na semana passada para reescrever a mensagem que foi pela «metade», porque estava preparando uma palestra sobre a «música revolucionária/de intervenção» no âmbito dos 50 anos da Independência. Por outro lado, tenho estado com o problema da doença de uma das minhas filhas (...)

Aquele abraço.


IV. Comentário do editor LG:

Afinal, a História com H grande e a história com h pequeno (entre)cruzam-se e, no meio, lá estamos nós, indivíduos e famílias, apanhados desprevenidos...Nos períodos revolucionários (e contrarrevolucionários), ou quando o poder "cai na rua" (ou nas mãos de minoria pretensamente "iluminadas"), tudo pode acontecer...

Seguramente essa foi uma tragédia familiar que tiveste de viver em silêncio, durante os 15 anos que durou o regime de partido único. Não deve ter sido fácil para o teu pai viver no exílio, num país onde, apesar de tudo, também tinha, como nós, reconquistado a democracia. Só agora fico a saber que a tua mã era a escritora Ivone Ramos, a mana da Amarília (temos diversas referências no blogue ao Manuel Ferreira, 3 anos mais velho do que o meu, Luís Henriques, estiveram os dois no MIndelo, durante a II Guerra Mundial,. o meu entre julho de 1941 e setembro de 1943).

Obrigado pela confiança e amizade que demonstraste ao partilhar este teu "segredo"...Já agora, como foi a receção do teu livro ? Vou ver se o encontro por aqui, mas não deve ser fácil...

Há uns anos ofereci o teu "Kap Verd Band" ao meu filho que já tocou em diversas ilhas da tua (é psiquiatra e músico) (já não sei se era a edição antiga, 1998: pensando bem, talvez tenha sido o "Cabo Verde, 30 anos de música 1975 - 2005" in "Cabo Verde 30 Anos de Cultura. Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 2005)


(...) Mantenhas. Um forte abraço, Luis
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20658: Agenda cultural (741): "Bá D'al na Rádio: memórias da Rádio Barlavento", livro do nosso camarada Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74, membro da Tabanca Grande, nº 790, mindelense, jornalista e radialista, a viver na Praia, Santiago, Cabo Verde

(**) Vd. poste de 13 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26917: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - X (e última) Parte : a guerra de nervos nos últimos seis meses

Vd. postes anteriores da série:

8 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26899: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) Parte VIII: quando cheguei a São Vicente, de férias, em outubro de 1973, fiquei encabulado, não sabiaaticamemte nada sobre a proclamação unilateral da independência pelo PAIGC

4 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26880: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte VII: Os "turras" têm agora um míssil que abate aviões e helicópteros


27 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26853: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte V: aqui sinto-me em casa, encontro tias, primos, vizinhos, colegas de escola e do liceu...

25 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26843: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte IV: Na Repartição de Autos Víveres, tenho de assinar o ponto todos os dias, trabalha-se das 8h00 às 12h30, e das 15h00 às 18h30, sábado e domingo de manhã... "Estamos em guerra, até em Bissau", dizem-me!...

22 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26829: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte III: Desembarque e colocação em Bissau, na CEFINT, 1ª Rep QG/CTIG, em Santa Luzia

20 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26819: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte II: De Lisboa a Bissau, no T/T Uíge

19 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26815: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte I: Em Lisboa, à espera do embarque, aproveitando a farra para esquecer


Vd. também a série complementar:

3 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26760: No 25 de Abril eu estava em... (40): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte V

30 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26744: No 25 de Abril eu estava em... (39): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte IV

29 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26739: No 25 de Abril eu estava em... (38): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte III

28 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26738: No 25 de Abril eu estava em... (37): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte II

27 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26736: No 25 de Abril eu estava em... (36): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, vive hoje no Mindelo) - Parte I