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sábado, 30 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24715: Facebook...ando (38): António Medina, um bravo nativo da ilha de Santo Antão, que foi fur mil na CART 527 (1963/65), trabalhou no BNU em Bissau (1967/74) e emigrou para os EUA, em 1980, fazendo hoje parte da grande diáspora lusófona - Parte III: de sintex pelo rio Cacheu e afluentes, até às ilhas de Pecixe e Jeta


 Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3 

 Guiné  > Região do Cacheu >  Rio Cacheu e afluentes >  CART 527 (1963/65)   

Por determinação do nosso comandante do Batalhão de Bula, BCAÇ 507 (Bula, 1963/65), tenente coronel Hélio Felgas, tivemos que fazer reconhecimentos fluvial nos afluentes, estendidos às Ilhas de Jeta e Pecixe (a sul / sudoeste de Teixeira Pinto).

Para isso foi-nos distribuído uma pequena lancha em plástico reforçado, (sintex) com motor fora de borda, manobrado por um cabo e um soldado de Engenharia.

Interessante saber, com exceção do Rio Corubal,  no Sul da Guiné, onde se dá o fenómeno do Macaréu,  à semelhança do Amazonas (recuo das águas para a nascente, criando uma onda de grande porte), os denominados Geba, Mansoa e Cacheu não são rios, mas sim braços de mar que entram pela terra dentro, |  21 de Dezembro de 2013 
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Fotos (e legenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da seleção de fotos do álbum do nosso camarada da diáspora lusófona, 
António Medina:

(i) ex-fur mil at inf,  CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió 1963/65), de resto o único representante desta subunidade, na Tabanca Grande;

(ii) de seu nome completo, António Cândido da Silva Medina, nasceu em 26 de setembro de 1939, na ilha de Santo Antão, Cabo Verde (completou há dias 84 anos);

(iii) estudou no liceu Gil Eanes (Mindelo, São Vicente) (o único liceu então existente nas ilhas);

(iv) depois da "peluda", em Bissau, e até à independência, foi funcionário do BNU (Banco Nacional Ultramarino), entre 1967 e 1974;

(v) vive desde 1980 nos EUA, em Medford, no estado de Massachusetts, onde foi bancário;

(vi)  tem página no Facebook (último poste: 30 de outubro de 2022); 
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 27 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24703: Facebook...ando (37): António Medina, um bravo nativo da ilha de Santo Antão, que foi fur mil na CART 527 (1963/65), trabalhou no BNU em Bissau (1967/74) e emigrou para os EUA, em 1980, fazendo hoje parte da grande diáspora lusófona - Parte II

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16818: Memória dos lugares (352): Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta, região do Cacheu: um local muito bonito onde, para o ano, quero vir passar umas férias (Patrício Ribeiro, Bissau)


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha  (?) > Aqui, na ponta de Caió, terá funcionado uma "estação  de pilotos" [EP]... Os pilotos, primeiro brancos e depois guineenses, levavam os navios até ao porto de Bissau. . No princípio da década de 1960, o chefe da estação era um guineense, Edmundo Bernardino Monteiro, denunciado num documento do Arquivo Amílcar Cabral ("O Ilhéu de Caió, estação de pilotos ou colónia penal", de Nandjam Silva) como um "devotado servidor dos seus patrões colonialistas":  [vd. Pasta: 04616.076.028]. Aqui vai um excerto:

"Os pilotos, aos quais incumbem a grande responsabilidade de conduzirem os navios através [d]as perigosas rias, ganham apenas 1200$00 mensais com[o] salário, e uma gratificação de 150$00 por cada navio levado de Cai+ó a Bissau, enquanto que o 'piloto' do porto, um europeu, àparte seus vencimentos substanciais, percebe 500$00 de gratificação para atração do navio, sabido como é que a manobra é inteiramente executada pelos pobres marinheiros africanos". 

[A preços de hoje, 1200 pesos seria o equivalente a 516,26 €, menos 10% tendo em conta o câmbio escudo/peso praticado em Bissau... Já agora acrescente-se que na lista clandestina do "Comité Central" do PAI - Partido Africano para a Independência, em 31/8/1960, figuravm 4 indivíduos da zona de Caió,. 2 pilotos,1 radiotelegrafista marítimo e 1 chefe marinheiro... O nome do Domingos Ramos, "aspirante a oficial" (sic) também aparece, representando o "quartel de Bolama", a par do Laurentino Gomes; vd. documento do Arquivo Amílcar Cabral, Pasta: 07063.036.007 ]



Foto nº 1A Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ihéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Não se percebe o quer dizer a sigla: EP... Escola de Pilotos ? Sabemos que passaram por aqui também equipas do Instituto Hidrográfico.


Foto nº 1B  > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Estação de Pilotos (EP) > Pormenor: por detrás do edifício vê-se um silhueta que parece ser uma viatura blindada, um tanque com a sua peça apontada para o mar... Presume-se que sejam vestígios das guerra civil de 1998/99.


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha >  Estação de Pilotos


Foto nº 2A > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha >  Estação de Pilotos >  Ao fundo o farol, que terá sido construído em 1944


Foto nº 2B > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Estação de Pilotos


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Inscrições na pedra com nomes de marinheiros fuzileiros [MAR FZ]  e grumetes fuzileiros [ GRT FZ], que terão estado aqui entre 1972 e  1974 > (?) CAIO (?) 25-4-74 > 72 | GRÁFICO DA CIA 2  |.74 > 1º SARG LUÍS ... 


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta >  Aproximação ao ilhéu


Foto nº 5 Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ihéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Farol, construído em 1944


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ihéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Farol  > Inscrição com o ano da construção (?)...Não descodificámos a sigla O. P. M  [Oficinas Provinciais da Marinha ?]

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2016) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro, com data de ontem:

[Foto à direita: Patrício Ribeiro, de 68 anos de idade, português de Águeda, vivido, crescido, educado e casado em Angola, Nova Lisboa / Huambo, antigo fuzileiro naval, que retornou ao "Puto" depois da descolonização, fixando-se entretanto na Guiné-Bissau, há 3 décadas, país onde fundou a empresa Impar Lda, líder na área das energias alternativas; é um daqueles portugueses da diáspora que nos enchem de orgulho e nos ajudam a reconciliarmo-nos com nós mesmos e afugentar o mau agoiro dos velhos do Restelo, dos descrentes, dos pessimistas; é de há muito tratado carinhosamemte como o ´pai dos tugas´, pelo apoio que dá aos mais jovens que chegam à Guiné-Bissau, em visita ou em missões de cooperação; de vez em quando lembra de nós e mando-nos fotos com vestígios arqueológicos da nossa passagem por estas bandas da África Ocidental]


Muitos aqui passam, poucos aqui moraram.

Junto mais umas fotos dos meus passeios pelo interior da Guiné, em dezembro de 2016.

Um farol em 1944.

Umas inscrições de alguns “filhos da escola FZ” mais novos, que aqui viveram.

Uma casa da capitania, com boa vista para o mar.

Um local muito lindo, onde muitos milhares passaram perto e para eles foi a 1ª visão da Guiné.

Para outros, era a visão de quem ia subir o Rio Cacheu, onde começavam a vida dura ...

Vai ser um dos lugares onde vou passar umas férias, no próximo ano.

Abraço
Patrício Ribeiro

IMPAR Lda  Energia | Bissau
impar_bissau@hotmail.com


PS - 10/12/2016, 13h10 -

O Pontão, como é chamado em Bissau a este local, na gíria da marinha e de pessoas ligadas ao mar.

Tem uma praia,  a nascente, bonita, com areia onde foi construído um pontão em pedra e pouco cimento, está muito degradado, já não dá para acostar qualquer embarcação.

O canhão com rodas de borracha é de fabrico Russo, as rodas estão com os pneus em baixo. O Comandante Alpoím Calvão, não o encontrou, caso contrário tinha o cortado aos bocados, como fez a muitos outros, para o mandar para a sucata, numa das ultimas missões que fez recentemente na Guiné.

Na Guiné, houve depois da Independência oficial, algumas guerras declaradas e outras não, com vizinhos. O local é estratégico. Neste momento a guerra é com a frota e barcos de pesca Chineses... que levam todos os peixes e camarões. Vai ser o meu trabalho lá, para os controlar com electrónica.




Guiné > Mapa geral da província > 1961 > Escala 1/500 mil >  Pormenor: Posição relativa do Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta e a oeste da Ilha de Pecixe.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné (2016)

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16666: Memória dos lugares (351): Canquelifá, a minha primeira estadia no mato. Permaneci lá durante o terceiro trimestre de 1966. Muitas coisas boas e más aconteceram durante esse tempo (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7626: Camaradas na diáspora (4): José (ou Joe) Ribeiro, natural de Leiria, a viver em Toronto, Canadá, há mais de 35 anos: Sold Inf , 4º Gr Comb, CCAÇ 3307/BCAÇ 3833 (Pelundo, Jolmete, Ilha de Jete, 1970/72)

Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Canchungo >  Pelundo > 2008 > Restos do antigo quartel português, ao tempo do BART 6521/72 (Pelundo, 22/9/1972 - 27/8/1974), a unidade que fez a transferência de soberania para o PAIGC, e que era comandado pelo Ten Cor Art Luís Filipe de Albuquerque Campos Ferreira.   


A foto foi-nos enviada, em Setembro de 2008, juntamente com as fotos de uma série de ex-camaradas nossos,  manjacos do Pelundo (que estiveram ao serviço do exército português e para quem se pedia apoio), pelo sociólogo António Alberto Alves, que reside(ia) desde 2006 em Canchungo (antiga Teixeira Pinto) e trabalha (ou trabalhava) para uma ONGD portuguesa.


Foto:  © António Alberto Alves (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradadas da Guiné. Todo os direitos  reservados.


1. Telefonou-me, ontem, do Canadá (*) o nosso camarada José Ribeiro:

(i) É natural de Leiria;

(ii) Vive em Toronto, "na zona dos portugueses", há 35 anos (vai fazer em breve 36).

(iii) Foi Sold At Inf da CCAÇ 3307/BCAÇ 3833, 1970/72 (*); pertenceu ao 4º Gr Comb;

(iv) Passou pelo Pelundo, Jolmete e Ilha de Jete;

(v) Era conhecido por “O Caçador”: no Pelundo e em Jolmete saía de noite e trazia caça (cabras, lebres, etc.); tornou-se desse modo um precioso ajudante do Fur Mil SAM, o vaguemestre, de apelido Osório (que era das Caldas da Raínha);

(vi) Chegou ao Pelundo pouco tempo depois da morte dos “três majores”;

(vii) Ainda se lembra da cambança do Rio Mansoa,  em Jolandim.

(viii) Depois de passar à peluda, ainda foi mecânico na Volvo, em Leiria, durante dois anos;

(ix) Acabou por ir para o Canadá onde tinha um irmão;

(x)  Hoje é operador de grua numa grande empresa (mais de mil trabalhadores);

(xi) Convive com muita malta portuguesa, incluindo gente da minha terra, Lourinhã: citou o nome de Rogério Henriques, um caso de sucesso (empresário, ligado ao ramo dos materiais de construção, milionário, radicado há muitos anos no Canadá, respeitado pela comunidade);


O José Ribeiro (ou Joe Ribeiro) está à espera dos 60 para se reformar (e vir passar mais tempo a Portugal). É casado, tem 2 dois filhos. Uma das filhas (se bem entendi)  já lhe deu dois netos. Foi para a tropa, como voluntário, sendo portanto um ano mais novo do que a generalidade dos seus camaradas.

Descobriu o nosso blogue de que se tornou fã, embora ainda não domine tão bem o computador como domina a sua grua. Tem feitos contactos com ex-combatentes, a residir em Portugal: caso do Mário Silva (Aveiro; esteve em Angola); Adriano Ferreira, sold cond auto da CCS/BCAÇ 3833 (não fixei onde vive actualmente); Joaquim, de Rio Maior… Tem uma conta no Facebook mas que eu não ainda não consegui localizar.

Deu-me três endereços de e-mail para quem o quiser contactar:
joeribeiro@live.ca
joseribeiro@hotmail.com
ribeiro.jose34@gmail.com


2. Comentário de L.G.:

José Ribeiro: Foi um prazer conversar contigo. Vejo que tens saudades de (e amas) a terra que te viu nascer. Conforme combinado, ficas então deu de me mandar fotos, tuas, digitalizadas, para te apresentares, como deve ser, à Tabanca Grande. Naturalmente que serás recebido de braços abertos por todos os nossos camaradas e demais amigos da Guiné.

Em princípio, serás o 2º elemento do BCAÇ 3833 sentar-se debaixo do poilão da nossa Tabanca Grande, depois do Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306 (**)... O nosso camarigo Jorge Picado, ex-Cap Mil (CCaç 2589, CART 2732, CAOP 1)  também andou lá para os teus lados (aquando da sua passagem pelo CAOP 1, em Teixeira Pinto) e faz uma referência à tua companhia, a CCAÇ 3307 (podes ver aqui) bem como ao comandante do teu batalhão, o Ten Cor Inf Nívio José Ramos Herdade... (O BCAÇ 3833 tinha então a seu cargo o Sector 07: Pelundo, Có e Jolmete).

Vê, entretanto,  se (re)conheces alguns dos camaradas manjacos do Pelundo,  do teu tempo,  que serviram no nosso exército, e que precisam do nosso apoio (quanto mais não seja uma palavra de apreço, de saudação, de solidariedade). Também, eles, esses camaradas manjacos, foram miseravelmente abandonados por nós...
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Notas de L.G.:

(*) Último poste desta série > 22 de Dezembro de 2010 >Guiné 63/74 - P7488: Camaradas na diáspora (3): O luso-americano Franklin Galina, aliás, ex-Fur Mil Franklin, Pel Mort 4575 (Bambadinca, Julho de 1972 / Agosto de 1974)

(...) Julgo que estou a ser o primeiro elemento do BCAÇ 3833 que esteve na Guiné entre 1970/72, respectivamente no Pelundo com a CCS e a CCAÇ 3307, em Có com a CCAÇ 3308, e em Jolmete com a CCAÇ 3306, a colaborar nesse blogue. Se estiver enganado, algum camarada que me corrija. (...) 

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2053: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (7): o pelotão dos bravos na Ilha de Jete

1. Mensagem do Raul Albino, ex-Alf Mil, da CCAÇ 2402

Caro Luís e editores,


Aqui vai o texto nº 7 das Memórias de Campanha da CCAÇ 2402 (1). Por acaso, não pensava enviar este episódio, mas como o Luís me pediu no último mail que me enviou, que relatasse alguma coisa sobre o destacamento na Ilha de Jete, faço-lhe hoje a vontade.

Um abraço a toda a equipa,

Raul Albino


Destacamento na Ilha de Jete



1º Pelotão no destacamento da Ilha de Jete

No dia 24 de Setembro de 1968, seguiu o primeiro Grupo de Combate reforçado com alguns elementos dos outros grupos, a ocupar a Ilha de Jete, comandado pelo Alferes Brito, com a missão de montar instalações para as tropas e captar a população da área através de assistência directa às gentes nativas e contactos com os seus chefes.
Esta decisão estratégica de destacar este grupo para Jete reduziu substancialmente a capacidade operacional da restante companhia sediada em Có, sobrecarregando os restantes grupos com as actividades militares atribuídas à Companhia. Este enfraquecimento da defesa de Có poderia ter causado sérios reveses às nossas tropas, como o demonstra o segundo ataque ao quartel de Có, um dos mais violentos de toda a nossa campanha na Guiné, que só por sorte não teve consequências mais dramáticas (Ver 2º Ataque a Có em 12/10/68). Estes militares de ocupação da Ilha de Jete, voltariam a Có no dia 1 de Dezembro de 1968, com a sua missão cumprida.


À esquerda, o Nelinho com os galões de alferes e o furriel Bragança
Fotos e legendas: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.


O nosso soldado Manuel Vicente Fernandes, mais conhecido por Nelinho, cedeu-nos algumas fotografias do tempo em que por lá permaneceu. Numa delas o Nelinho apresenta-se com os galões de alferes, pedidos ao Alf Brito para tirar a fotografia, fazendo a família pensar que ele tinha sido promovido. Brincadeiras inofensivas ... Escreveu o Nelinho juntamente com as fotografias que enviou à família:
“Ofereço à Minha Querida Mãe para ver nos estados em que a gente se encontra a dormir, pois como está a ver, é nessa barraca que aí vê onde nós dormimos quatro e a nossa miséria é essa que se vê. Adeus.”


Depoimentos de quem lá esteve

Os depoimentos que se seguem, mantiveram o texto original, só corrigidos alguns erros gráficos essenciais. Preferi assim, para manter a maneira de se expressar dos autores, mesmo à custa de alguma forma de expressão menos perfeita.

Texto da autoria de José Manuel Ferreira:

O dia mais inesquecível, não sei a data, foi na véspera de ir para a Ilha de Jete em que o Capitão Vargas Cardoso me informou que no dia seguinte ia para a tal ilha. Eu não tinha roupa, pois tinha dado a lavar à minha lavadeira de nome Amália. Então não estive com meias medidas, saí pela porta de armas sozinho, sem imaginar o perigo que corria desarmado, pedi ao militar para me deixar sair e saí sem dar conhecimento ao nosso capitão. Fui à procura da casa da Amália no meio das tabancas e da população nativa para trazer a roupa. Só depois de entrar no quartel é que reflecti no tremendo disparate que tinha acabado de fazer. O então capitão nunca chegou a saber. Acabei felizmente por não ser capturado pelos turras, mas não escapava de uma porrada.

José Manuel Ferreira

Texto da autoria de António Fangueiro da Silva, mais conhecido por Silva Condutor:

O primeiro pelotão foi destacado para a Ilha de Jete com mais alguns elementos de outros pelotões, ao todo eram trinta e seis homens. Esta ilha tinha poucos habitantes e era a base da raça Papel que eram pescadores e da raça Fula. Aí não havia guerra, mas construímos uma base com abrigos, utilizando como materiais as palmeiras, terra e muita força dos nossos delgados braços, um traçador de serrar e um machado que era manobrado por todos. No pelotão tínhamos o lenhador, o soldado Paiva, que tinha uma força fora do comum. Os abrigos foram feitos para todas as secções e comando, mas enquanto estes não se encontravam prontos, dormíamos em tendas de oito pessoas e colchões pneumáticos. O Alferes Brito, que era o comandante do destacamento, recebeu ordem para ir à outra ilha para trazer a população que quisesse vir para a nossa. Íamos ao porto que era uma parte da ilha que tínhamos armadilhado com granadas para o inimigo não entrar, no entanto, tivemos de retirar as armadilhas para podermos ir à outra ilha a pé aproveitando a maré baixa. Como entretanto eu disse que a maré demorava seis horas a vazar e seis horas a encher, ficando nós durante esse período à mercê do inimigo, ele pensou então melhor e não fomos, tendo assim de armadilhar o porto outra vez. O nosso sistema de comunicação era por meio de rádio, sendo a energia fornecida por um gerador Manual que era da guerra de 1914, tendo de dar à manivela para gerar corrente. Quando a malta precisava do rádio, normalmente os acumuladores estavam em baixo e dávamos à manivela e nada, ninguém respondia do comando da ilha que pertencia a Teixeira Pinto. Numa das vezes que não tínhamos rádio, o barco que nos trazia os mantimentos também avariou e não veio durante oito dias, não tendo nós de comer e beber. Esta falta de contacto levou o Alferes Brito a ter receio de importunar o comando. Este acontecimento levou a que eu tivesse uma chatice com o Alferes, dizendo-lhe que tinha de fazer rádios, assim não dava, pois estávamos a passar mal, ao ponto dos nossos lábios com sede se assemelharem aos dos pretos, todos inchados e gretados. Ele entendeu e disse ao Vito para fazer os rádios, mas eles não respondiam. Em Có ouviram o rádio, tendo o Capitão Vargas mandado o padeiro fazer trinta e seis pães e, como estava lá uma avioneta, o capitão pediu para eles nos mandarem dessa forma. Quando a avioneta pairou no ar, lançou os sacos que pareciam sacos de correio, mas o nosso desejo era que fosse pão. Quando os sacos se aproximaram vimos que eram maiores que os sacos de correio e exclamámos que era pão e fomos todos a correr, de forma a cada um ser o primeiro, não aguentando mais a fome. Viemos então embora para Teixeira Pinto e tivemos de receber cuidados médicos. Nesta ilha havia um negro que era cabo e mandava na população, ele tinha dezasseis mulheres, tendo eu curiosidade de saber como era a vida dele, disse-me que ficava uma semana com cada uma. Depois disse-me que ia falar com o Alferes, pois os soldados andavam com as suas mulheres, respondi-lhe que de nada adiantava, corria o risco de algum soldado lhe bater, decidiu então nada dizer.

Silva Condutor

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Nota dos editores:

(1) Vd. post anteriores:

15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira

6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN

12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga

13 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1658: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (4): Uma emboscada em Catora e um Lobo Mau pouco predador

28 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1790: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (5): Protecção a uma coluna logística Bula/Có

31 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2016 : História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (6) : O grande ataque a , em 12 de Outubro de 1968