sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16818: Memória dos lugares (352): Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta, região do Cacheu: um local muito bonito onde, para o ano, quero vir passar umas férias (Patrício Ribeiro, Bissau)


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha  (?) > Aqui, na ponta de Caió, terá funcionado uma "estação  de pilotos" [EP]... Os pilotos, primeiro brancos e depois guineenses, levavam os navios até ao porto de Bissau. . No princípio da década de 1960, o chefe da estação era um guineense, Edmundo Bernardino Monteiro, denunciado num documento do Arquivo Amílcar Cabral ("O Ilhéu de Caió, estação de pilotos ou colónia penal", de Nandjam Silva) como um "devotado servidor dos seus patrões colonialistas":  [vd. Pasta: 04616.076.028]. Aqui vai um excerto:

"Os pilotos, aos quais incumbem a grande responsabilidade de conduzirem os navios através [d]as perigosas rias, ganham apenas 1200$00 mensais com[o] salário, e uma gratificação de 150$00 por cada navio levado de Cai+ó a Bissau, enquanto que o 'piloto' do porto, um europeu, àparte seus vencimentos substanciais, percebe 500$00 de gratificação para atração do navio, sabido como é que a manobra é inteiramente executada pelos pobres marinheiros africanos". 

[A preços de hoje, 1200 pesos seria o equivalente a 516,26 €, menos 10% tendo em conta o câmbio escudo/peso praticado em Bissau... Já agora acrescente-se que na lista clandestina do "Comité Central" do PAI - Partido Africano para a Independência, em 31/8/1960, figuravm 4 indivíduos da zona de Caió,. 2 pilotos,1 radiotelegrafista marítimo e 1 chefe marinheiro... O nome do Domingos Ramos, "aspirante a oficial" (sic) também aparece, representando o "quartel de Bolama", a par do Laurentino Gomes; vd. documento do Arquivo Amílcar Cabral, Pasta: 07063.036.007 ]



Foto nº 1A Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ihéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Não se percebe o quer dizer a sigla: EP... Escola de Pilotos ? Sabemos que passaram por aqui também equipas do Instituto Hidrográfico.


Foto nº 1B  > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Estação de Pilotos (EP) > Pormenor: por detrás do edifício vê-se um silhueta que parece ser uma viatura blindada, um tanque com a sua peça apontada para o mar... Presume-se que sejam vestígios das guerra civil de 1998/99.


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha >  Estação de Pilotos


Foto nº 2A > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha >  Estação de Pilotos >  Ao fundo o farol, que terá sido construído em 1944


Foto nº 2B > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Estação de Pilotos


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Inscrições na pedra com nomes de marinheiros fuzileiros [MAR FZ]  e grumetes fuzileiros [ GRT FZ], que terão estado aqui entre 1972 e  1974 > (?) CAIO (?) 25-4-74 > 72 | GRÁFICO DA CIA 2  |.74 > 1º SARG LUÍS ... 


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta >  Aproximação ao ilhéu


Foto nº 5 Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ihéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Farol, construído em 1944


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Ihéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta > Antigas instalações da Marinha > Farol  > Inscrição com o ano da construção (?)...Não descodificámos a sigla O. P. M  [Oficinas Provinciais da Marinha ?]

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2016) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro, com data de ontem:

[Foto à direita: Patrício Ribeiro, de 68 anos de idade, português de Águeda, vivido, crescido, educado e casado em Angola, Nova Lisboa / Huambo, antigo fuzileiro naval, que retornou ao "Puto" depois da descolonização, fixando-se entretanto na Guiné-Bissau, há 3 décadas, país onde fundou a empresa Impar Lda, líder na área das energias alternativas; é um daqueles portugueses da diáspora que nos enchem de orgulho e nos ajudam a reconciliarmo-nos com nós mesmos e afugentar o mau agoiro dos velhos do Restelo, dos descrentes, dos pessimistas; é de há muito tratado carinhosamemte como o ´pai dos tugas´, pelo apoio que dá aos mais jovens que chegam à Guiné-Bissau, em visita ou em missões de cooperação; de vez em quando lembra de nós e mando-nos fotos com vestígios arqueológicos da nossa passagem por estas bandas da África Ocidental]


Muitos aqui passam, poucos aqui moraram.

Junto mais umas fotos dos meus passeios pelo interior da Guiné, em dezembro de 2016.

Um farol em 1944.

Umas inscrições de alguns “filhos da escola FZ” mais novos, que aqui viveram.

Uma casa da capitania, com boa vista para o mar.

Um local muito lindo, onde muitos milhares passaram perto e para eles foi a 1ª visão da Guiné.

Para outros, era a visão de quem ia subir o Rio Cacheu, onde começavam a vida dura ...

Vai ser um dos lugares onde vou passar umas férias, no próximo ano.

Abraço
Patrício Ribeiro

IMPAR Lda  Energia | Bissau
impar_bissau@hotmail.com


PS - 10/12/2016, 13h10 -

O Pontão, como é chamado em Bissau a este local, na gíria da marinha e de pessoas ligadas ao mar.

Tem uma praia,  a nascente, bonita, com areia onde foi construído um pontão em pedra e pouco cimento, está muito degradado, já não dá para acostar qualquer embarcação.

O canhão com rodas de borracha é de fabrico Russo, as rodas estão com os pneus em baixo. O Comandante Alpoím Calvão, não o encontrou, caso contrário tinha o cortado aos bocados, como fez a muitos outros, para o mandar para a sucata, numa das ultimas missões que fez recentemente na Guiné.

Na Guiné, houve depois da Independência oficial, algumas guerras declaradas e outras não, com vizinhos. O local é estratégico. Neste momento a guerra é com a frota e barcos de pesca Chineses... que levam todos os peixes e camarões. Vai ser o meu trabalho lá, para os controlar com electrónica.




Guiné > Mapa geral da província > 1961 > Escala 1/500 mil >  Pormenor: Posição relativa do Ilhéu de Caió, a sudoeste da Ilha de Jeta e a oeste da Ilha de Pecixe.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné (2016)

________________

Nota do editor:

Último poste da série > 1 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16666: Memória dos lugares (351): Canquelifá, a minha primeira estadia no mato. Permaneci lá durante o terceiro trimestre de 1966. Muitas coisas boas e más aconteceram durante esse tempo (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547)

6 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camarada

Pode não ser EP, mas PE, ou seja Propriedade do Estado, mas isso só a Marinha poderá esclarecer.
É provável que o Arquivo Central da Marinha, à Junqueira.
É uma hipótese...
~
Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

fui marinheiro estive embarcado no P Nunes e fazia-mos Hidrografia na Guiné, assim no ano 1970 passei por Caio onde estive naquelas instalações de fuzileiros, eles a fazerem a guerra e eu registava as alturas das Marés num velha ponte cais que o amigo Patrício não fotografou, informo que não havia escola de pilotos mas sim pilotos de cor preta para a navegação comercial pois a navegação de navios de guerra não era precisa é uma ilha muito linda e nunca lá existiu guerra no nosso tempo assim aquele blindado não é do nosso tempo nunca lá existiu militares que não fossem fuzileiros, agradeço ao filho escola Patrício puder reviver uma parte da minha vida onde fica o nosso coração para sempre, sou assíduo visitante deste Blogue um abraço especial para o Luís Graça e para todos aqueles que passaram pela linda Guiné

Patricio disse...

O Pontão, como é chamado em Bissau a este local, na gíria da marinha e de pessoas ligadas ao mar. Tem uma praia a nascente bonita, com areia onde foi construído um pontão em pedra e pouco cimento, está muito degradado, já não dá para encostar qualquer embarcação.
O canhão com rodas de borracha, é de fabrico Russo, as rodas estão com os pneus em baixo.
O Comandante Alpoim Galvão, não o encontrou, caso contrário tinha o cortado aos bocados, como fez a muitos outros, para o mandar para a sucata, numa das ultimas missões que fez recentemente na Guiné.
Na Guiné, houve depois da Independência oficial, alguma guerra declarada e outras não, com vizinhos, o local é estratégico.
Neste momento a guerra é com a frota e barcos Chineses... que levam todos os peixes e camarões. Vai ser o meu trabalho lá, para os controlar com electrónica.

Anónimo disse...

filho da escola Patricio,obrigado por estas fotos que me dizem muito, se um dia fores á ilha de Bolama também estive na ponta de Bolama frente á ilha das Galinhas no canal de Pedro Alvares, onde naquele tempo havia um pequeno Farol
penso que és de 1965 fuzileiro eu era de 1969 manobra,e já vi que és da zona de Agueda,pois eu moro em OIÃ,somos filhos da terra
gostava de encontrar a secção de fuzileiros que estiveram em Caió quando lá estive mas Até hoje ainda não consegui foi em Dezembro de 70 a Março de 71
uma curiosidade quando estávamos a chegar á guiné 22 de Novembro de 1970 vinham os navios a vir da operação MAR VERDE sem bandeiras e nºs de costado. e foi preciso os sinaleiros fazerem um bom serviço porque entramos em postos de combate mas depois tudo se arranjou.um abraço filho da escola

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Olá, "filho da escola", anónimo, que moras em Oiã... Mostra lá a cara ao menos, ou seja, diz o teu nome, que é para o Patrício e a gente te sinalizar...


Se és leitor frequente do nosso blogue, sabes que em princípio nºão aceitamos comentários "anónimos" no nosso blogue... Diz ao menos quem és, já sabemos que és de Oiã, foste fuzileiro, de um dos cursos de 1969... Ficamos sempre felizes pro ter aqui camaradas da Marinha... E se quiseres integrar a nossa Tabanca Grande e partilhar as tuas fotos e demais memórias, melhor, ficamos todos a ganhar...

Um alfabravo do editor, Luís Graça

Artur Lima disse...

Antes de mais, muito obrigado por estas imagens, inseridas nesta excelente peça sobre esta parte da minha terra que muito me toca! Chamo-me Artur Lima, sou guineense e vivo actualmente em Paris. Estive com os meus irmãos Germano, Diamantina e Genoveva neste ilhéu de Caió (Ponton ou Caió di fora para nôs guineenses!) em Julho/Agosto de 1978 a passar umas férias maravilhosas, ali levados pelo nosso saudoso pai José Francisco Lima, na altura piloto nesta EP (Estação Piloto) que foi de uma importância capital para a Economia guineense,tanto na época colonial como no período posterior, até aos nossos dias! Lembro-me ainda perfeitamente e com muita saudade, do Sr Raimundo Lêdo Pontes, colega e grandíssimo amigo do meu pai, que já reformado em Portugal, viria a falecer, anos mais tarde! Hei-de guardar eternamente no meu coração a amizade deste senhor para com o meu pai e para comigo! Repouse em Paz, Sr Raimundo Pontes!
Para além destes, importa recordar o indispensável Sr Fonseca, chefe da Estação, talvez a figura mais simbólica de entre todos os homens (Pilotos ou simples marinheiros) que por este calhau se instalaram ao longo dos anos, ao serviço da Marinha civil guineense! Apôs o falecimento do chefe Fonseca, antecedido da ida para a reforma do Sr. Raimundo Pontes, o meu pai passa a assumir a chefia desta Estaçao Piloto por mais 5 a 6 anos, aproximadamente, até 1986/87, tendo sido obrigado a cessar as suas funções, por doença!... E Sou órfão de pai, desde Junho de 1989! Compreenderão pois, o quanto este seu trabalho (a narração e as fotos!) me vai ao fundo do coração!
Ainda, no que concerne aos colegas do meu pai, não posso deixar de prestar uma homenagem aos também pilotos Sr Agostinho e o Sr Cabral! Com eles trabalhava também, de entre uma pequena dezena de marinheiros, um senhor chamado '20 Metros', ignoro o porquê...?!
Ainda me recordodo com imensa saudade dos passeios que, com o Germano fazia pelo ilhéu, disfrutando, de forma 'gulosa', da extrema beleza deste cantinho do nosso país! Ponton, ficará eternamente ligado-intimamente ligado-ao meu coração de guineense e ao meu coração de filho de MARINHEIRO!
Assim, ficar-lhe-ia grato se, para além destas belíssimas fotos com que ilustra este trabalho, pudesse o senhor facultar-me mais alguma imagem (foto ou vídeo) deste ilhéu.
Mais uma vez, muito obrigado pela sua obra!

Artur Lima, PARIS

TEL 00 33 6 64 58 27 01.

arlima4@gmail.com