Quartel de Galomaro
1. Mensagem do nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), datada de 4 de Dezembro de 2016:
Inofensivas batotas
Camarigos,
Estávamos em finais de Fevereiro de 1972, quase no final da comissão. Atrás deste tronco, sito a uns metros depois da pista dos hélis, do quartel de Galomaro, estacionei, embosquei e comandei um grupo de camaradas. BATOTA...
Tinha de me embrenhar uns bons metros além deste local que militarmente não era muito aconselhável. O tronco estava bem posicionado porquanto de lá via o quartel, ouvia o barulho do gerador e até as vozes dos meus camaradas mais noctívagos. Barulhos inofensivos para quem por vezes ouvia gritos de dor e ruídos do fogo IN.
Não foi o caso daquela noite. O quartel tão perto e ninguém via do quartel. Havia um inconveniente: ficava perto do local onde os guinéus enterravam os mortos. Eu sabia.
O cheiro da Metrópole estava mais próximo de cada um de nós e a vontade de aventuras era menor. Alguns dos meus camaradas, que conheciam bem o local, protestaram mas por ali ficámos durante seis horas, das 20H00 às 02H00.
Foto: © Carlos Filipe
A “VALENTIA” e a “CORAGEM” do início da comissão, em Maio/70, estavam muito gastas.
Foi o meu último serviço, fora do quartel, em postos avançados.
(…)
Essas patrulhas eram a pé,
Feitas com poucos homens e muita pressa,
Abordávamos o chefe da tabanca
E dávamos dois dedos de conversa.
Enquanto éramos “periquitos”,
Cumprir a rigor procurávamos,
À medida que íamos ficando cansados
O percurso traçado encurtávamos.
O encurtar foi tanto,
Esquema usado por toda a gente,
Até havia quem saísse do quartel
E entrasse na tabanca quase em frente.
Era preciso fazer passar o tempo,
Como se tudo fosse cumprido,
E aproximar do quartel
Pelo lado contrário ao que tínhamos saído.
(do livro – Guineíadas, de 2003)
Na secretaria dos Reabastecimentos do BCaç 2912:
- Alterávamos os mapas de SITMUNIÇÕES; SITARMAS; SITVIATURAS…
- Eram acrescentados alguns quilómetros às distâncias percorridas pelas viaturas civis utilizadas nas colunas de reabastecimentos, isto é, um percurso real de 40 Kms era pago por 50 Kms.
O COMCHEFEGUINÉ, em Bissau, aprovava ou não as distâncias utilizando os mapas Cartográficos do Exército.
Inofensivas BATOTAS, realizadas em 1970/72, em que procuravam não prejudicaros civis ou os militares do batalhão.
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16800: Inquérito 'on line' (93): "Batota no mato" .. ou no blogue ?... Esperávamos 100 respostas, obtivemos apenas 45... Resultados: as três formas mais frequentes de batota: (i) emboscar-se perto do quartel (37%); (ii) começar a “cortar-se", com o fim da comissão à vista (37%); e (iii) “acampar” na orla da mata, ainda longe do objetivo (24%)... Só não fazíamos batota era com o Natal no mato...
1 comentário:
António Tavares, íamos para a Guiné fazendo figas para que no regreso viessemos todos... Não vieram todos... Havia uma guerra, e na guerra há baixas...
Quem por lá passou, em unidades de intervenção ou de quadrícula, ou em tropas especiais, sabe que para virmos todos, não bastava um grande espírito de corpo e um alto desempenho em termos de comando...Não podíamos cometer erros e tínhamos que acreditar que a "sorte protegia os audazes"...
Nalguns casos, tivemos que fazer batota, alguma batota, usar mais a inteligência do que os músculos...Usar a inteligência contra a estupidez, o bom senso contra a prepotência...
Ab. Luis
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