terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16807: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (39): pedido de ajuda para tese de doutoramento em Antropologia, pelo ISCTE-IUL, sob o tema do uso de álcool e drogas na guerra colonial (Vasco Gil Calado)





Vasco Gil Calado, « As drogas em combate: usos e significados das substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa », Etnográfica [Online], vol. 20 (3) | 2016, Online desde 27 Novembro 2016, consultado em 06 Dezembro 2016. URL : http://etnografica.revues.org/4628 ; DOI : 10.4000/etnografica.4628


Resumo (em português):

"Apresentam-se as principais questões suscitadas pelo trabalho em curso acerca do uso de substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974). São identificados alguns aspetos-chave que emergem das narrativas dos ex-combatentes acerca da sua experiência de guerra e que contextualizam um conjunto de práticas, entre elas o uso de drogas. Confirma-se o abuso de álcool e o uso de canábis entre os militares das forças armadas portuguesas envolvidas no conflito, numa altura em que em Portugal surgiam as primeiras iniciativas de combate às drogas. Tanto o consumo de bebidas alcoólicas como de outras drogas pode ser entendido como uma forma de lidar com a ansiedade e a violência do quotidiano."



Algumas conclusões do autor:

(...) "A análise das respostas permite chegar a duas conclusões: a ausência de consumo de canábis por parte das tropas portuguesas na Guiné e um consumo relevante em Angola e Moçambique. De entre os 210 respondentes, todos aqueles que estiveram na Guiné afirmam não ter consumido a planta e desconhecer por completo o seu uso no território durante a guerra. 

O mesmo não se passa com os respondentes que estiveram em Angola e Moçambique: 15% dos militares que fizeram a guerra naqueles territórios afirmam ter consumido canábis, enquanto outros 25% afirmam ter assistido ao consumo ou tido conhecimento direto disso. Feitas as contas, dos respondentes que estiveram em Angola e Moçambique durante a Guerra Colonial Portuguesa, perto de metade (40%) declaram ter tido um contacto direto com a planta." (,..)


1. Mensagem de nosso leitor e doutorando em antropologia Vasco Gil Calado: 

Data: 30 de novembro de 2016 às 11:03
Assunto: Doutoramento Antropologia

 Bom dia, Prof. Luís Graça


No seguimento do meu trabalho em curso, publiquei um artigo na revista Etnográfica. Vinha propor-lhe que divulgasse o artigo no blogue, se achar oportuno (eu divulguei o artigo numa comunidade do facebook sobre a guerra colonial onde recrutei um informante e algumas das pessoas que preencheram o inquérito on-line mas a verdade é que fui muito mal recebido. Portanto, se achar que a divulgação irá levantar uma polémica desnecessária, esqueça o meu pedido).

A minha ideia em divulgar o artigo agora é que, como me encontro na fase da escrita da tese de doutoramento, quaisquer críticas, sugestões e reparos (a imprecisões, termos mal usados, erros conceptuais, etc.), ou até mesmo encontrar alguém que queira colaborar com informação será muito bem-vindo.

O link é: http://etnografica.revues.org/4628

Cumprimentos,

Vasco Gil Calado
ISCTE-IUL; SICAD, Portugal
vascogil@gmail.com


2. Mensagens anterior de Vasco Gil Calado com data de 5/3/2015

Chamo-me Vasco Gil Calado, antropólogo e técnico superior do SICAD [Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências]. 

Estou a fazer o doutoramento em Antropologia, no ISCTE, sobre o tema do uso de álcool e drogas na guerra colonial. Foi o Renato Monteiro quem sugeriu que o contactasse, na condição de grande especialista e dinamizador de um blog essencial sobre a guerra colonial. No âmbito académico da tese, gostava de o entrevistar, de forma anónima e confidencial, naturalmente.

O meu orientador é o Prof. Francisco Oneto, do departamento de Antropologia do ISCTE.
Nós cruzamo-nos no ISC-Sul, numa pós-graduação de Sociologia da Saúde, em que deu um módulo sobre Educação para a Saúde, se bem me lembro, para aí em 1999 ou algo do género. (...)

______________

12 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Álcool, sim, e em grandes quantidades: cerveja, vinho, uísque, gin... Canábis , erva ou liamba, não me apercebi, em 1968/71, no meu cícrulo de relações...

Os nossos soldados africanos usavam bastante a "noz de cola", mas não creio que se possa considerar um "psicoativo", uma droga... Dizia-se que era um afrodisíacoo.. Alguns "tugas" gostavam de mascar "noz de cola"...

Penso que em Angola estaria mais generalizada a canábis: "maconha" vem justamento do termo quimbundo "ma'kaña"... e "liamba", do quimbundo "liamba"...

Se calhar andei distraído... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tema tabu ? As drogas ?... No nosso blogue só tínhamos até agora o marcador "alcool"... Temos 20 e tal referências... E fizemos inclusive uma inquérito "on line"...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/alcool

Nunca soube da existência de plantações de canábis / marijuana / liamba na Guiné nem do seu uso pelos guineenses... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há as drogas l+icitas e as ilícitas... Enter as primeiras, estão o álcool e o tabaco... Fumava-se e bebia-se muito na Guiné. Mas era um consumo "social", em grupo... Não se bebia sozinho... Nalguns casos e em certas ocasiões tornava-se um consumo exceissivo... Mas ninguém podia dar-se ao luxo de ir para o mato sob o efeito do álcool...

Dizer que a cerveja era barata é um insulto... E que os soldados portugueses da guerra colonial trouxeram droga para a metrópole é "arriscado"...

Na Guiné tudo era importado, logo caro... Nunca vi nenhum soldado ("tuga")encomendar uma caixa de cervejas e embebedar-se sozinho... É certo que os meus soldados eram muçulmanos, não bebiam... Quanto aos do PAIGC, os animistas (balantas, etc,) bebiam, e não era pouco, o vinho de palma...

Outras drogas ? Talvez em Bissau, o único centro urbano, houvesse algum consumo (e oferta), não sei... É preciso equacionar o binómio oferta/procura...

Antº Rosinha disse...

Em Angola, nos últimos anos da guerra, já havia gente "fina" e jovem que estava bem actualizada nessa do canabis, a célebre e vulgaríssima maconha cultivada e consumida pelos indígenas, contra a vontade dos chefes de posto, pide e PSP.

Não na soldadesca rasa, mas uns milicianos oriundos principalmente de Lisboa, Porto e Coimbra e outros centros citadinos, já tinham por bom tom ser consumidores e conhecedores desse produto.

Mas Luanda não tinha nada a ver com a guerra, antes pelo contrário, era um regabofe.

Estudantes do Liceu, já eram assediados a comprar dessa droga, pelos vendedores ambulantes de gelados.

Aqui no Continente ficou no ar que os Retornados trouxeram para cá esse maldito bicho da droga e que foram os impulsionadores de muita desgraça que hoje vive debaixo das pontes e jardins de Lisboa.

Não deve ficar nada por esclarecer sobre a guerra do ultramar.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Rosinha, é essa a postura do nosso blogue: somos uma montra aberta e até os armários da loja devem estar escancarados, com as portinholas bem abertas, de par em par para mostrar que não há lá esqueletos escondidos lá no fundo...

Mas não é bem assim, isso depende de todos e de cada um de nós que aqui escreve, comenta, lê, vê... Há zonas da nossa memória que poderão estar eventualmente minadas ou armadilhadas... E algumas estarão mesmo: alguns de nós terão dificuldade em abordar este tema (uso de substânbcias psicoativas durante a guerra colonial), na medida em que ele envolve crítica ou censura social... Quem se assumiria, em público, consumidor de liamba em Angola ou Moçambique, hoje, perante os filhos e netos e perante os seus camaradas ?

No meu tempo, liamba e outras drogas ainda não tinham chegado à Guiné. (E muito menos a coca, se ela lá chegou, mais tarde, depois da independência, não será por nossa culpa)... Nesse aspeto, a Guiné não era o Vietname... A nossa droga (social, culturalmente.. e disciplinarmente aceite!) era o álcool...

Mesmo assim soubemos lá aprender a beber... Falo da generalidade do pessoal... Sabíamos quando, onde, o quê e com quem beber... Nomeadamente, os operacionais...E depois há que operar a distinção: no mato e no quartel (, no regersso de opereaç~ºoes...). Drogas em conmbate ? Andar com uma elevada taxa de alcoolémia, no mato, em operações, podia ser a morte do artista...

Aliás, era impensável levar para o mato um gajo bêbado, com tempertaturas elevadíssiumas e 100% de humidade no ar, e muitos quilómetros a palmilhar, num terreno tramado para um europeu, e em que era preciso estar na melhor forma sísica possível, com todos os olhos e ouvidos bem abertos...

Portanto, nada de fanfarronices, camaradas... Em matéria de álcool (e sexo), temos sempre a tendência para a fanfarronice: somos os maiores!...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mais um excerto do artigo do nosso doutorando Vasco Gil Calado... neste caso sobre o uso de substâncias psicoativas pelos soldados americanos durante a guerra do Vietnaem (... retiramos bibliográficas)... Mas o mnelhor é ler o artigo completo, disponível aqui:

http://etnografica.revues.org/4628

(...) No entanto, para a definição da estratégia de guerra às drogas adotada pela administração Nixon, foi tão ou mais importante o alarme social criado pelas constantes notícias e reportagens difundidas pelos media americanos acerca do elevado uso de canábis (marijuana), heroína e LSD por parte dos militares envolvidos na Guerra do Vietname (1965-1975) (...). Estimativas da altura apontavam para que cerca de 10 a 25% dos soldados norte-americanos presentes no Vietname fumassem heroína com regularidade (...).

Na esfera pública, as tropas norte-americanas de então eram representadas como um indisciplinado grupo de soldados maioritariamente sob o efeito constante de substâncias psicoativas ilícitas (...).

Assente num pânico moral (...), o tema foi elevado à categoria de problema social, e muitos líderes de opinião expressaram o receio de que os militares constituíssem um foco de instabilidade e que o seu regresso e desmobilização se traduzissem numa súbita enchente de toxicodependentes na sociedade norte-americana (...). O que não veio a acontecer: de volta a casa, a grande maioria dos militares cessou os consumos de heroína (...).

Tabanca Grande Luís Graça disse...


(---) "15% dos militares que fizeram a guerra naqueles territórios [Angola e Moçambique] afirmam ter consumido canábis, enquanto outros 25% afirmam ter assistido ao consumo ou tido conhecimento direto disso. Feitas as contas, dos respondentes que estiveram em Angola e Moçambique durante a Guerra Colonial Portuguesa, perto de metade (40%) declaram ter tido um contacto direto com a planta." (,..)

Gil: viocê teve 210 respondentes a um inquérito "on line", na plataforma "Surveymonky", se não oerro...Eera bom que nos desagregasse a amostra por TO (teatro de operações)...Quantos foram os que estiveram na Guiné, em Angola em Moçambique ?... Que garantias de que os respondentes são antigos combatentes da guerra colonial ? E desses, quanto foram operacionais ?... Pelo que percebi o seu estudo incide sobre o uso de substâncias psicoativas "em combate"... Vai exluir os casos em que o consumo foi fora do teatro de operações (Bissau, Luanda, Lourenço Marques...) ?

Pode haver aqui várias variáveis a confundir-nos e a envesar os seus resultados... A malta que esteve em Angola e em Moçambique era muito heterogénea, e se calhar vão "cair em cima de si"... A liamba estava assim generalizada, de norte a sul de Angola e Moçambique, como se tratasse de uma vulgar erva culinária ?... Não sabemos nada sobre a produção e comercizalização da canábis nestes territórios naquela época... Nem me parece que houvesse grandes alertas, na época, por parte das autoridades militares...

Explique-nos bem os números e a metodologia de amostragem que é para o leitor (leigo) não a extrapolar abusivamente os resultados... Passaram pelos TO de África mais de 800 militares portugueses, da metrópole, mais 200 mil afriacanos... É muita gente e sobretudo muito heterogénea...

O "surveymonkey" é cómodo e barata, mas é suscetível de uso indevido por parte de respondentes que não caibem nos critérios de inclusão: por exemplo, não combatentes, mulheres, jovens, não portugueses....

O nosso objetivo é apenas o de ajudar!,,, Oxalá a escrita da tese esteja a correr bem, dentros dos prazos e das normas (exigentes) do ISCTE-IUL. Pode usar esat caixa de comentários para dialogar connosco. Podemos inclusive fazer um poste com os seus esclarecimentos adicionais. Aguardamos que haja mais coemntáriso e sugestões dos nossos leitores, camaradas de armas. LG

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Parece-me que os doutorandos ou mestrandos estão a partir de ideias que colheram algures.
Não serão ideias pré-feitas, mas ideias a que foram conduzidos.
É certo que nós sabemos da Guiné e bastante. Daí que só em relação à Guiné possamos falar.
Poderíamos lançar um inquérito escorreito e bem elaborado.
Será necessário uma boa "amostra" e disso poderemos encarregar-nos.
Por mim darei teestemunho do que vi.

um Ab.
António J. P. Costa

Antº Rosinha disse...

Atenção que em Angola a liamba ou maconha, chamava-se das duas maneiras, embora proibida pela polícia, e chefes de posto, era plantada como se fossem plantas de jardim ou como qualquer cultura de uma qualquer horta por velhos e novos, pelas sanzalas e muceques.

Se fizermos uma entrevista aos militares ou jovens civis que tenham vivido em Luanda entre o 25 de Abril e até Rosa Coutinho embarcar, Novembro de 1975, com certeza que as percentagens dos consumidores/curiosos/experimentadores, rebentam qualquer escala.

Tudo o que era proibido, (acabou Salazar, PIDE, Judiciária, PSP, Censura) desde a liamba até negócio de diamantes, ultimo-tango-em-paris, ninguem chumbava nas escolas e universidades, passou a valer tudo tal como aqui na metrópole.

Nos cafés e hoteis, cantinas da tropa, cinemas, em todos os lugares esses assuntos e negócios eram conversa corrente, sem grandes preocupações.

Aquilo ficou em roda livre durante um ano e meio em que valia tudo.

Foi o fim do mundo à boca de sino, cabelo pelas orelhas e quico às três pancadas.

Deve ser desse período angolano que apareceram essas percentagens, o que não seria absolutamente nada representativo.

Até ao 25 de Abril, o contacto dos militares da metrópole com os africanos, sempre foi mínima.

Embora nos últimos dois ou três anos já havia algum interesse nos jovens militares mais "evoluidos", pois como já disse anteriormente, era de bom tom, conhecer, não ser bota de elástico.

Mas não tinha nada a ver com a guerra, era mais com uma vidaça especial que havia em Luanda.

Henrique Cerqueira disse...

Enquanto estive na Guiné no período 72/74 era praticamente impossível algum militar fazer missões ou serviços alcoolizado e muito menos sobre o efeito de qualquer tipo de droga,pois que o controlo e até a disciplina era muito elevado . No entanto os soldados africanos nas CCAÇs e melícias (alguns) mascavam constantemente umas folhas secas que seriam de coca ou cola(?). Sendo isso uma droga?que revigorava o estado físico e de certo modo impedia a vontade de comer ,já que no meu entender os soldados africanos se alimentavam muito precariamente. Penso que essas folhas eram de coca(?)(muito parecidas com as folhas de loureiro).
A propósito de droga,em certa altura um helicóptero caí no mato por avaria e o nosso grupo partiu de imediato para ajudar a socorrer essa malta.Só que a pressa foi tanta que não houve tempo para nos prepararmos com agua e comida para essa missão.Mais tarde viemos a verificar não ser necessário essa preparação de alimento e água porque no local da queda o pessoal da Força Aéria não nos faltou com nada. Mas o meu problema foi que na correria pelo mato par chegarmos a tempo ao Heli acidentado as forças físicas faltaram-me de tal ordem que pura e simplesmente o meu corpo não reagia e desistiu por completo de se mover.Vai daí o Fur.Enfermeiro deu-me uma pastilha que passado uns segundos eu me senti totalmente revigorado e cheio de força.Claro que o problema foi quando passou o efeito.
Bom isto para dizer que drogas,talvez só nos casos que apresentei. Álcool isso era claro que havia com abundância,até porque segundo o meu juízo dava jeitinho aos senhores da guerra trazer o pessoal meio embrutecido pelo álcool e tabaco,mas a verdade seja dita era só nas horas de folga que eram os momentos de mais saudades e essas coisas...não é?Aliás nos reabastecimentos havia mais quantidade de bebidas e tabaco que comida e então se compararmos com alimentos frescos aí a diferença é abissal.
Mas Drogas e álcool em serviço é num não definitivo.
Um abraço Henrique Cerqueira

alma disse...

Emprenhadores de bajudas...Batoteiros operacionais...E drogados, pois claro...Fico à espera de uma Tese, sobre o número de crianças que ensinámos a ler, os cuidados de saúde que prestámos, as estradas que construímos...Abraço J.Cabral

Torcato Mendonca disse...

Olá Jorge
Li o que escreves e estou de acordo.
Tenho lido "postes" muito bons...mas outros deixam-me...enfim teria eu estado, como militar, na Guiné????????????????

Já não vais ler mas mando-te um abraço.
Abraços a todos os Camaradas..adeus e até o meu regresso.

Ab,T.