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domingo, 13 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27013: Os nossos seres, saberes e lazeres (689): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (212): Um dia na rota da cereja, Fundão e Castelo Novo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Maio 2025:

Queridos amigos,
Em hora feliz verifiquei que a CP tem uma gama de excursões de dia inteiro, não hesitei em ver os cerejais do Fundão em flor. Sorte no dia, ensolarado, depois de praticamente duas semanas de céu pardacento e mesmo pluvioso; o Tejo a correr em galope, bem caudaloso, e é sempre um prazer, mesmo vendo de raspão, as portas do Ródão. Foi bem gentil o apoio dado pelos guias autárquicos, à chegada a visita a um núcleo interpretativo, um regalo de muito boa qualidade museográfica e museológica. E depois viagem para ver deslumbrantes cerejais, o espetáculo da paisagem passando pela Cova da Beira até às faldas da Serra da Estrela; e depois a aldeia histórica de Castelo Novo, nunca aqui estivera, abençoado programa de aldeias históricas de Portugal que permite requalificações de Almeida até Trancoso. Fiquei confiante em novas deambulações com a marca CP, sou amante de viajar em comboios, lá para os lados do Reguengo Grande estou sempre à espreita que abra a linha do Oeste e anseio que o mesmo aconteça com a linha da Beira Alta para ir visitar um querido amigo a Trancoso.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (212):
Um dia na rota da cereja, Fundão e Castelo Novo


Mário Beja Santos

Deu-me para abrir no site da CP, queria fazer uma pesquisa sobre passeios organizados, logo me chamou à atenção a rota da cereja, viagem da Gare do Oriente até ao Fundão, boas-vindas por um guia da autarquia, visita ao Núcleo de Interpretação da Moagem do Centeio (reconstituição do circuito de maquinaria de processamento do cereal da antiga empresa A Moagem do Fundão), passei pelo Fundão, comes e bebes à escolha do visitante, rota da cereja, com passeio em Alcongosta, ver os cerejais em flor e seguir de autocarro para a aldeia histórica de Castelo Novo, regresso ao Fundão, mais comes e bebes à escolha do visitante e regresso até à Gare do Oriente. Gostei do preço, 49€, tive sorte com o dia, segue viagem, o Tejo está caudaloso, as Portas do Tejo, depois de Vila Velha do Ródão, deixam correr a água em cachão, tempos depois arribamos ao Fundão. Cumprimentos efusivos, o grupo segue para a moagem do centeio, era este o cereal que se dava na região, dele se guarda boa memória. Como vamos ver, todo este património está cuidadosíssimo tratado, tenho todo o gosto em exaltar o que me parece tão boa museografia e museologia.
O que estamos a ver chama-se tarara, era equipamento que servia para limpar o centeio com o apoio de um ventilador, que separava as impurezas. Tem um tambor de rede metálica com orifícios de menor diâmetro que o centeio.
Este aqui chama-se ensacadora, é maquinismo onde termina o processo da moagem. O controlo da operação era feito manualmente. O produto era conduzido pelo bico de enchimento para o saco, que era preso por uma mola ou cinta. As farinhas e as sêmolas eram embaladas em sacos de serapilheira.
Para que o visitante fique a saber o que era o sistema de moagem Austro-Húngaro
A imagem fala por mil palavras
Duas imagens de tão impressionante maquinaria
Já percorremos a avenida principal do Fundão, estamos diante da câmara, edifício que já teve outras utilidades, temos à frente vistoso pelourinho, espaço bem ajardinado, bancos ocupados por gente que veio aproveitar o dia ensolarado.
Já foi casino, agora é casa de cultura. Impressionou-me na avenida principal a remodelação do cineteatro da Gardunha, no turismo tive acesso à programação cultural no segundo trimestre de 2025, há cinema, exposições, feira ibérica de teatro do Fundão, festival internacional do Fundão, e muito mais, já que vim à procura de cerejais em flor, descobri que existe o motoclube Os Trinca Cereja.
Começou a rota da cereja, Alcongosta é um espaço de eleição. Não me resisto a transcrever de um folheto que me entregaram no turismo: “A rota da cereja é um calendário dos sentidos. Na primavera, as cerejeiras vestem-se de branco, pintando a Gardunha num espetáculo único. No verão, o verde das árvores é pontuado pelos frutos vermelhos que deliciam o paladar. No outono, os tons ocre amarelo-alaranjado das folhas inundam a serra de matizes e cores magníficas. A rota da cereja tem duas portas de entrada localizadas junto à entrada de Alcongosta e na casa da floresta de Alcongosta.” Repito que tive sorte com o dia, a semana precedente fora de dias enevoados, é um espetáculo ver-se com a ilusão de que estamos próximos da Serra da Estrela a partir da Gardunha.”
Tirei fotografias a fio, como é de prever o cerejal domina as paisagens, seguimos num daqueles comboios rodoviários, para-se nuns miradouros, contempla-se a deslumbrante paisagem sobre a Cova da Beira, que se estende até aos limites do sul da Serra da Estrela, fiquei com vontade de voltar, e percorrer Alcongosta com mais cuidado, os seus miradouros e a levada. Há para aqui nomes muito bonitos, como Ribeira da Bárbara ou Vale de Alcambar.
Prossegue a viagem até Castelo Novo, os cenários paisagísticos são deslumbrantes. Leio noutro folheto que esta aldeia histórica se abriga no regaço da Gardunha, teve origem em tempos medievos, a ribeira chama-se Alpreada, foi aliás o primeiro nome deste bastião templário que teve floral em 1202. Por aqui me passeio cheio de contentamento, e o que mais gostei nesta igreja da terra foi este agrupamento de anjinhos, devemos ter aqui nesta estatuária o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Nunca vi uma fonte como esta, poderá ser ilusão minha ou o escultor quis fixar a concha de Santiago, é de uma impressionante singeleza.
O leitor, se assim o entender, tem aqui o essencial da história de Castelo Novo
A torre sineira domina a povoação, fica-me a dúvida se não era também Atalaia, dá para ver até dezenas de quilómetros, os templários esmeravam-se na prevenção do seu sistema defensivo, Castelo Novo deve ter conhecido um grande abandono, mas agora o visitante tem acessos seguros para andar de cima a baixo.
Já conheceu melhores dias, mas ainda é um pano de muralha que mete respeito.
Andava-se em digressão lá por cima e chegava-nos a estridência dos Dire Straits, algures havia festa rija. E havia mesmo. Um candidato a deputado apresentara-se pela sua comitiva e oferecera uns comes e bebes, quem vinha na excursão da CP beneficiou da festa, resta dizer que o pelourinho está muito bem mantido bem como a praça envolvente.
Estamos regressados ao Fundão, ainda sobra tempo para umas mastigações e beberragens. Mas não quis despedir-me do Fundão sem fotografar este lobo com que Bordalo II brindou o Fundão. E até à próxima viagem, da CP ou outra.
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Nota do editor

Último post da série de 5 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26986: Os nossos seres, saberes e lazeres (688): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (211): Visita ao novo acervo permanente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – 2 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22629: In Memoriam (413): Torcato Mendonça (1944-2021), ex-alf mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69)... Homenageando também um casal que sempre soube, em vida, amparar-se mutuamemnte, "na saúde e na doença" (Luís Graça)


Fundão > 27 de Janeiro de 2007 >  O Torcato Mendonça (TM) que eu conheci, pessoalmente,no Fundão, sua terra adotiva... Foi lá que casou com a Ana Lurdes e onde nasceram os seus filhos, dois rapazes. O TM  que encintrou para a nossa Tabanca Grande em 2006, participou pelo menos em cinco dos nossos encontros nacionais, de 2007 a 2011.


Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Tabanca Grande > A Ana, que veio a conduzir do Fundão, para acompanhar o seu José (alter ego do Torcato Mendonça). 

A Ana Lourdes de Mendonça foi coordenadora dos serviços administrativos do conceituado Jornal do Fundão (que alguns de nós assinávamos na Guiné, ao tempo da guerra, a par do Comércio do Funchal, do Notícias da Amadora e outros).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Agora que o nosso querido amigo, camarada e colaborador Torcato Mendonça deixou a Terra da Alegria (*), e nos deixou tristes, inconsoláveis e mais pobres, vou recuperar escritos antigos em que falo dos dois, do José e da Ana, um casal por quem sempre tive admiração e carinho porque souberam, ao longo da sua vida em comum,  amparar-se um ao outro "na saúde e na doença". A Ana, felizmente, continua viva e vai por certo continuar a acompnhar o nosso blogue (**)


Em 17 de maio de 2008, veio de longe, do Fundão, das faldas da Gardunha, a conduzir, com o seu José ao lado (que pode mas não deve fazer tantos quilómetros ao volante), só para estar com os seus (dele) camaradas da Guiné... Le coeur oblige, mon bijou... E o que tem de ser tem muita força, diz o provérbio: a doença, traiçoeira, que vem trazer negrura às nossas vidas, apreensão aos que nos amam, incerteza aos que nos rodeiam, finitude aos nossos projectos, angústia para o jantar, pesadelos às tantas da madrugada...

Nem um ai nem um ui: a Ana (Mendonça, por casamento) viveu, em silêncio, o seu drama, individual e familiar... No píncaro do Verão... Por uns tempos, o José desapareceu (ou melhor não apareceu, recolheu-se, não se expôs, preparou-se, como nos duros tempos de Mansambo, da CART 2339, mobilizou toda a sua energia para fazer face à devastação)....

Como é que a nós, distraídos com as nossas blogarias - tu, Carlos, tu, Virgínio, eu, Luís - , não nos ocorreu que algo estava errado nessa pesada cortina de silêncio, puxada pela mão do Torcato Mendonça, o TM, um homem com lugar ao sul e que gostava de pensar em voz alta ? 

Em meados de dezembro de 2008,  escrevi-lhe, ao TM,  o seguinte:

"Um bj para a tua Ana, que é uma mulher de armas e que já sei que voltou ao trabalho... A vida é dura, José, aqui ou em Mansambo... Mas também pode ser bela, se tiver afecto(s): amor, paixão, amizade, camaradagem, emoção, compaixão, poesia... 

Diverte-te, se puderes: 'Esta vida são dois dias e o Carnaval são três'... Mas há, pelo menos, uma certeza: 'Quem de novo não morre de velho não escapa'... 

Uma coisa que a guerra da Guiné não nos deu, foi serenidade... Pelo contrário, trouxe-nos inquietude (que é mais do que inquietação). Em contrapartida, aprendemos a enfrentar a morte e a não temê-la: 'Temer a morte é morrer duas vezes' ... E tu és, para nós todos, um exemplo vivo e corajoso, de como um homem pode sorrir à morte com meia cara ou meio coração, parafraseando o título da narrativa autobiográfica do grande escritor José Rodrigues Miguéis, um lisboeta de Alfama (1901) que morreu longe da Pátria, da Mátria e da Fátria (Manhattan, N.Y., 1980). 

Que esta tertúlia, a nossa Tabanca Grande, seja, ao menos para ti, um pouco da Fátria perdida em Mansambo, em Bambadinca e em tantos lugares da Guiné onde sofremos e fomos solidários"...

A Ana, que voltou ao seu José, passou a acompanhar desde então com solicitude mas também com a máxima das discrições as nossas blogarias... E o Natal de 2008 surpreendeu-me (e emocionou-me) com o seguinte cartão do José onde se podia ler:

"Luís Graça: Um beijo agradecido pela simpatia posta na mensagem (de força) enviada através do Torcato e que eu li. Votos de um Feliz Natal extensivo a toda a Família. Ana Lourdes de Mendonça"...

Somos, afinal, um blogue de afectos e de histórias, mas também de gente solidária... Por um momento, por uma vez ao menos, eu senti que valeu (ou valia)  a pena esta tontaria de querer juntar o fio de tantas meadas, de destar tantos nós da memória, de inquirir estas tantas vidas que foram/são as nossas (parafraseando o belo título do antigo blogue do Virgínio Briote)... Por um dia senti que também podemos fazer bem a alguém...

Senti que as palavras também podem matar, também podem ferir, também podem destruir; senti que as palavras vêm muito antes das balas, e que são as palavras que nomeiam a morte e desencadeiam a guerra, muito antes dos obuzes e dos aviões e dos carros de combate, das minas e armadilhas...Mas também senti que as palavras, em seu sítio, também podem dar conforto, animar, dar força... Senti-me feliz por saber que a Ana, que eu mal conhecia, passava os testes todos de sobrevivência... e estava apta, apartir de então,  para enfrentar o futuro, pronta para o que desse e viesse...

Em de dezembro de 2008, voltámos a pôr a Ana a sorrir, na nossa fotogaleria, como no dia 17 de Maio de 2008, na Ortigosa... E desejámos-lhe Boas Festas:

"Boas Festas,  quentes e boas como as castanhas da tua Cova da Beira... Há castanhas na Gardunha ? Por mim, só conhecia as cerejas, que são as melhores do mundo. E o requeijão... Ah! o requeijão do Fundão. Ah!, e o Torcato, o José, o Mendonça, o Viriato (o santo patrono da CART 2339)!... Ah!, e agora a Ana, mulher da vida do José, e nossa camariga."

Nessa altura aumentou o meu conhecimento (e reconhecimento) da geografia do amor, da amizade, da solidariedade, da humanidade... E por isso eu pedia paar lhe escreverem o nome, no quadro escuro, a giz, onde listamos as nossas mulheres, as nossas companheiras de uma vida, as nossas camarigas: Ana, simplesmente Ana.. Um exemplo de tenacidade e de coragem, para todos nós. 

E mais disse: 

"Temos orgulho em ti, José!... Temos orgulho em ti, Ana. Deixa-me, José, deixa-me, Ana, oferecer-vos, por fim, este poema do meu modesto poemário... Para ler nos dias de chuva miudinha e de tristeza, quando só apetece colar a cara à vidraça da janela virada para o absurdo da doença, do azar, da morte, com o maciço central da Serra da Estrela a aniquilar-nos... No fim, perceberás, Ana, e tu, José, o sentido do título. ("Poemombro, ou o ombro amigo", de Luís Graça,  2004. revisto em 2008) (**) .


PS - O TM (Torcato Mendonça) comentou seca e laconicamente: "Luís,  depois escrevo...agora não, agora não... abraço-te...somente...forte...sentido... desculpa se te molho o casaco...é uma lágrima de facto... recebe o meu abraço Amigo TM

19 de dezembro de 2008 às 10:03 (**)
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quinta-feira, 28 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P16027: Os nossos seres, saberes e lazeres (151): Mário Serra de Oliveira sugere uma visita a Alcaide, Fundão, na época das cerejas... (Por que não uma excursão da Tabanca Grande, a partir de Lisboa, uma, e outra do Porto?)

Alcaide Foto: São Esteves. Com a devida vénia


1. Mensagem do nosso camarada Mário Serra de Oliveira (ex-1.º Cabo Escriturário, Bissau, 1967/68):

Olá Carlos:

Com votos de boa saúde, gostaria de começar por dizer que adorei estar no convívio em Monte Real.

Entretanto, não sei se sabes que aqui na minha zona, há muita cereja e de qualidade. Por meu lado, tenho uma mista de olival e cerejal, com 5500 m2. No entanto, não sou de andar a colher nem uma coisa nem outra.

O que aqui muita gente faz... é organizar excursões de gente de fora, que goste de cerejas. Então aqui vêm, uns de carro e outros de autocarro, colhem as suas próprias cerejas, comem as que quiserem e pagam €5 - levando 1kg. O extra, pagam ao preço de mercado.

Alguns almoçam por aqui... (temos cá um restaurante que normalmente está fechado... chamado Cunha Leal, político famoso e filho adotivo do Alcaide).

Bem, neste ponto, há que acertar agulhas antecipadamente,  para alguém organizar o almoço. Ementa e quantas pessoas.

Assim, se considerares que valeria a pena, poderias divulgar e quem estivesse interessado, contactaria comigo ( telem 968 173 329), para coordenar tudo.

Se for um grupo razoável, poderiam vir de autocarro.
Tenho a certeza que iriam gostar do passeio e do convívio.

Que acham da ideia-convite?

Abraço a todos.
Mário S. de Oliveira

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2. Aqui fica o Convite do camarada Mário Oliveira para um dia diferente, passado em Alcaide, sua freguesia natal, do concelho de Fundão.

CV 
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P16024: Os nossos seres, saberes e lazeres (150): A pele de Tomar (2) (Mário Beja Santos)