Mostrar mensagens com a etiqueta açorianos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta açorianos. Mostrar todas as mensagens

domingo, 22 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24782: Facebook...ando (43): O levantamento de 18 minas antipessoais PMD-6 valeram 9 contos (equivalentes a mais de 2 dois mil euros, hoje) ao fur mil at inf MA Armando Faria, da açoriana CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74

 

Leões de Cufar, CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/74), mobilizada pelo BI 17. Divisa: "Antes Morrer Que Em Paz Sujeitos" (Cortesia da página do Facebool do Armando Faria)


1. O nosso camarada Armando Faria (ex-fur mil at inf, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74, natural de Vila Nova de Gaia, técnico de seguros reformado, membro da Tabanca Grande desdc 10/5/2010), postou o seguinte comentário, na página do Facebook da Tabanca Grande, a propósito da mina antipessoal PMD-6, usada correntemente pelo PAIGC (*):

Em Cufar, de julho de 72 a julho 74, foram vários os "campos de minas" que tivemos que desmantelar/ levantar. 

Por duas vezes fizeram estragos: em 29 de julho de 72, o alferes Portela Rosa, do Pel Nat Caç 51,  e em maio de 74 o furriel Rui, da Cart. 6251...

Das outras vezes foram detetadas e desativadas, algumas delas por mim como especialista de minas e armadilhas. (Junto um comprovativo de uma dessas vezes.)| Sábado, 21 de outubro de 2023, 12h20.



Transcrição:

Batalhão de Caçadores 4510 | Companhia de Caçadores 4740 | Declaração:

Eu, Armando da Silva Faria, furriel miliciano, desta Companhia, declaro que recebo a importância de Esc. 9.000$00 (nove mil escudos), referente a: Picagem de 3 (três) minas anti-pessoais PDM-6; levantamento de 15 (quinze) minas anti-pessoais PDM-6.

O Declarante, Armando da Silva Faria, Fur Mil.


2. Comentário do editor LG:

Tenho que "tirar o quico", num gesto de apreço e admiração, pelos nossos sapadores (em geral, furriéis ou alferes milicianos atitradores de infantaria, com o curso de minas e armadilhas, mas também 1ºs cabos) que tinham o grande sangue-frio, a presença de espírito, a coragem e a competéncia para levantar minas e armadilhas no TO da Guiné.

Graças a eles, e também aos nossos valentes picadores, foi possível detectar e neutralizar, ao longo dos anos de 1972, 1973 e 1974 (até 30 de abril), 1218 minas, armadilhas e outros engenhos explosivos num total de 1570, ou sejam, 77,6 %. Estamos a falar de praticamente quatro em cada cinco minas!...

O levantamento integral de uma mina antipessoal era gratificado com 500$00, na época.(**) Embora a declaração acima reproduzida não venha datada, presumimos que seja (ou possa ser) de 1973. Por 18 minas A/P, o Armando Faria recebeu nove contos, o que a preços atuais equivaleriam a 2076,00 euros. (Tratando-se de "pesos" da Guiné, temos que aplicar uma quebra cambial de 10% (1868,4 euros).(***)

___________

Notas do editor:

(*) Vd. pposte de 18 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24766: Armamento do PAIGC (6): A mina antipessoal PDM-6 (António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, 1973/74)

(**) Vd. poste de 13 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24063: Roncos que davam prémios (em dinheiro)... mas podiam custar a vida: a deteção e levantamento de minas...

(**) Último poste da série > 13 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24754: Facebook...ando (42): António Medina, um bravo nativo da ilha de Santo Antão, que foi fur mil na CART 527 (1963/65), trabalhou no BNU em Bissau (1967/74) e emigrou para os EUA, em 1980, fazendo hoje parte da grande diáspora lusófona - Parte V: Colunas e viaturas

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22558: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XIII: o fatídico dia 6 de outubro de 1966, duas minas A/C, dois mortos, no Mato Cão


Guiné > Zona Leste> Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67)  > Estrada que atravessava a bolanha depois de Mato Cão  quando se vinha de Missirá para Enxalé



Guiné > Zona Leste> Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67) > Ao meio, o furriel de transmissões, à direita de costas, o capitão Pires e à esquerda o fur mil op esp António dos Santos Mano, que irá morrer em 6/10/1966, na sequência de uma mina A/C, na estrada Missirá-Enxale.


Guiné > Zona Leste> Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67) >Embora não possa pôr as mão no fogo sobre a sua exactidão, creio que foi este o Unimog  da coluna de 6 de outubro  que vinha a Missirá  a Enxalé. Eu estou nesta  foto ( em pé, o 3º da esquerda) que me parece ter sido tirada um dia quando eu estava em Missirá  antes do Zagalo .   

Fotos ( e legendas): © João Crisóstomo (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



João Crisóstomo
(a viver em Nova Iorque desde 1977)


1. Continuação da publicação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)


CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé,
Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história”
como eu a lembro e vivi
(João Crisóstomo, luso-americano,
ex-alf mil, Nova Iorque) (*)


Parte XIII: Um dia fatídico, 6 de outubro de 1966, duas minas A/C, dois mortos


Depois de 9 Set 1966 (o ataque a Enxalé):

Haverá com certeza muito a lembrar sobre a vida e actividades da CCaç 1439 depois do ataque a Enxalé. Recordo apenas de ter ficado surpreendido e consternado que o IN tivesse tido a coragem de vir atacar a própria Sede da Companhia, onde, pensávamos, estávamos bem seguros.

Lamentavelmente nem eu (mea culpa, mea culpa) nem ninguém mais teve o cuidado de pôr algo em papel para memória desses dias que se seguiuram e portanto nada mais me resta do que continuar esta “história da CC1439” como se tudo continuasse como antes e este ataque não tivesse acontecido. 

De facto, as várias minas de que fomos vítimas, a seguir, o ataque a Missirá e outros acontecimentos levam-me a concluir que este ataque a Enxalé é evidência de que o IN se sentia cada vez mais à vontade para se aproximar das NT, intensificar os seus ataques e aumentar o seu campo de acção. Foi isso que senti e mais tarde vim a confirmar ao ler o primeiro livro de Beja Santos ,“ Diário da Guiné, na Terra dos Soncó”.


Dia 23 de Setembro de 1966

Copio à letra o relatório:

(...) " Um grupo de combate da CCaç 1439 participou na Op Girândola que consistiu numa acção ofensiva na mata de Belel. As NT detectarm um acampamento IN o qual se encontrava abandonado. Foram destruidas as casas de mato e culturas, No regress as NT foram emboscadas duas vezes não tendo sofrido qualquer baixa." (...)

Não posso dizer as datas, mas sei que entre as muitas lacunas deste relatório contam-se muitas “patrulhas de reconhecimento” que fazíamos, e que não chegavam a receber o termo pomposo de “operações”. Umas fáceis e outras “menos fáceis”. 

Lembro de várias vezes termos permanecido , como que emboscados junto de picadas suspeitas de serem usadas pelo IN. Lembro de ter uma vez descansado ao fim do dia com a minha cabeca em cima de uma pedra antes de tomarmos posições para passar a noite junto a uma picada ; não sei se foi nesta mesma ocasião ou foi noutra em que fiquei numa depressão de terreno ( talvez fosse mesmo terreno de bolanha, não sei) e eu fiquei com água pela cintura, quase louco de frio,  esperando que o dia chegasse depressa e não aparecesse ninguém na picada.

Um destes casos, que não constam deste relatório, aconteceu nos dias 4 e 5 de Outubro. E creio que o efectivo das NT neste dia não era de um simples pelotão mas bem maior . A razão de eu lembrar este caso e não outros deve-se ao seu relacionamento com o dia fatídico de 6 de Outubro.



Guiné >Zona Leste> Sector L1 > Bambadinca > Estrada Enxalé-Missirá > Sítio do Mato Cão > 6 de Outubro de 1966 > Cratera povocada por uma mina A/C cuja explosão provocou a morte do Soldad Manuel Pacheco Pereira Junior, da CCaç 1439. Era natural de São Miguel, Açores. Os restos mortais (cerca de 3kg) ficaram no Cemitério de Bambadinca, Talhão Militar, Fileira 2, Campa 1, Guiné-Bissau. NO regresso de Missirá, a mesma coluna accionou outra mina A/C que decepou a perna do Fur Mil Op Esp António dos Santos Mano, acabando por morrer.

Foto (e legenda): © Henrique Matos (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Dia 6 de Outubro de 1966, um dia fatídico

Copio à letra o que consta no relatório: e escreverei depois “a minha versão” como as coisas se passaram, baseado na minha memória, por vezes bem fresca sobre casos como este, e também na memória de outros com quem tenho falado sobre o assunto.

(...) "As NT acionaram dois engenhos explosivos quando se efectuaram duas colunas, uma vinda de Missirá (para) Enxalé, e outra ao encontro da primeira. Os engenhos explosivos encontravam-se em pequenas poças de água, embora se tivesse os cuidados julgados necessaries na picada da estrada.

"Resultados dos dois engenhos explosivos:

Dois Unimogs destruidos
Uma espingarda G3 perdida em virtude de ter sido projectada para o Rio Geba.

Baixas sofridas pelas NT:

Furriel Mil António dos Santos Mano ( morto em combate) (**)

Soldado 203/65 Manuel Pacheco Pereira Jr. ( morto em combate) (***)

Furriel Mil ( Mec Auto) Octávio Albuquerque da Silva ( ferido)

1º cabo 7316565 Manuel Abreu Velosa 

1º cabo 3456665 José Firmino Quintal 

Soldado 9311265 Ernesto Camacho Rodrigues 

Sold 7317965 Manuel Correia

Sold 5974165 Francisco de Freitas Timóteo 

Sold 1011265 Manuel de Sousa Mendes

1º Cabo 9271565 José Ilídio Andrade Gouveia .

Soldado 8356465 Manuel Alves Junior

Sold 9805565 Agostinho Gerardo 

Sold cond auto  2630164 José Maria Mendes 

Sold cond auto5140464 Jerónimo Gonçalves Sadio 

Caç Nat Contratado Pucha Nanan, ferido

Foi detectado na região de Mato Cão uma armadilha antipessoal a qual foi destruida. Foi distinguido nesta acção o soldado telefonista 2642365 Júlio Martins Pereira, louvado pelo Cmdt Militar e condecorado.

Este foi um dia fatídico e traumático para todos e que todos mais ou menos lembram imediatamente quando se fala dele.

O Alferes Zagalo estava destacado neste momento em Missirá e precisava de reabastecimentos. Sabendo que o pessoal em Enxalé estava exausto e não podia fazer uma coluna para o abastecer, resolveu vir ele mesmo a Enxalé buscar o que precisava. A sua coluna constava de um jipe e um Unimog, com todo o pessoal que estes podiam transportar.

Antes de chegar a Mato Cão o Unimog pisou uma mina anticarro escondida numa poça de água. O jipe tinha-se desviado para evitar essa poça, precaução que o Unimog não teve.

Os resultados podem-se avaliar pelas fotos e pelo número de mortos e feridos. Entre estes o Furriel Mano. Como o Unimog vinha superlotado , ele vinha em cima do Unimog mas com a perna de fora e veio a falecer no local antes da chegada do helicóptero.

Houve ainda um outro morto, José Moreira, caçador nativo “contratado” e uma dezena de feridos, alguns deles com muita gravidade que foram evacuados para Bissau. A situação era desesperada e nem meios de comunicações para pedir auxílio tinham. Pelo que o soldado de comunicações Júlio Pereira que felizmente não estava ferido, pegou na sua G3 a tiracolo e foi a correr vários quilómetros , sujeitando-se a ser apanhado pelo IN em direcção a Finete, na margem do Geba, oposta a Bambadinca.

Aqui ,com a ajuda do pessoal amigo desta tabanca, conseguiu passar o Geba numa canoa e chegar a Bambadinca onde lhe facultaram um rádio para chamar os helicóperos e avisar Enxalé do sucedido.

 Em Enxalé esperávamos passar esse dia como um dia de descanso .O pessoal da Companhia tinha acabado de regressar duma dura saída ao mato ( embora nada conste no relatório) e estávamos todos exaustos. E de manhã ouvimos ao longe um estrondo, mas não fazíamos idéia do que fosse. Passado o que me perece ter sido mais de um hora recebemos notícia de que a coluna do Zagalo tinha sofrido uma mina, havia feridos e que os helicópteros já estavam a caminho.

Ficamos todos preocupados, incluindo o capitão Pires. Quando este disse que era preciso ir ao encontro da coluna para ajudar o Zagalo, eu ofereci-me. Ele aceitou logo e disse-me: “Eu sei que o pessoal está todo estafado. Pega em todo o pessoal de serviços que ficaram no quartel (nos dois dias anteriores) e vê se arranjas mais alguns voluntários. Se não arranjares voluntários, diz-me que eu arranjo-os."

Assim fiz e depois de ter dados instruções a todo pessoal de serviços, antes de perguntar a outros por voluntários,   eu chamei o meu pelotão, certo de que haveriam alguns que iriam comigo. Foi para mim uma sensacão tremenda quando, logo após eu ter dito o que precisava, eles barafustavam como se eu os tivesse ofendido; que não havia um nem dois e que iam todos . “O que é que o nosso alferes está a pensar da gente?” ouvi o “Figueira” a dizer para os outros .

E assim fomos, picadores à frente, um Unimog vazio a seguir e o resto da coluna atrás , caminhando tão ligeiro quanto possível. A região de Mato Cão é uma passagem muito perigosa: a estrada passa perto do Geba e do lado esquerdo há uma colina. Era sempre com o coração nas mãos que aí passava.

Por isso ao passar a bolanha que precede Mato Cão, já perto deste eu disse ao furriel Lopes: "Olha, Lopes, isto é mesmo um bom sítio para uma emboscada; eles sabem ( o IN) que a gente (ao ouvir o rebento duma mina) não deixa de vir e são capazes de estar à nossa espera. Pega na tua secção, sobe e faz um reconhecimento pela esquerda". 

Ele assim fez e a coluna continuou; e depois, logo passada a bolanha, de repente houve um grande estrondo e o Unimog deu um salto pelos ares. A mina, como o que sucedeu com a coluna do Zagalo, estava dentro duma poça de água e não foi detectada pelos picadores.

Imediatamente nos deitámos nas redondezas do buraco e do Unimog destruido, prontos a responder, mas nada sucedeu. E depois de algum tempo respirei fundo; ao fim e ao cabo podia ter sido muito pior, pensei eu: perdeu-se o Unimog, mas o importante é que não há mortos nem feridos. E não me recordo do que sucedeu a seguir, e o que foi o resto do dia, mas imagino (agora) o que terá sido para todos quando soubemos da morte do furriel Mano e dos vários feridos.

De volta no Enxalé, no dia seguinte fez-se a formatura geral de manhã. E parecia estar tudo certo, até que quando foi chamado o nome do Manuel Pacheco ( conhecido de todos como o Açoriano por ser dos Açores e o único soldado que não era madeirense) ele não respondeu. Perguntei se alguém o tinha visto ou se alguém sabia onde ele estava e foi então que alguém disse : "Quando o vi ontem a última vez ele estava a caminhar junto do Unimog… com certeza por não ter ouvido as intruções do furriel Lopes a cuja secção ele pertencia, ele estava junto do Unimog quando a mina rebentou"…

Imediatamente voltamos ao local (recordo que o Alferes Henrique Matos que estava naquele dia em Enxalé decidiu ir connnosco ) . Reproduzo o testemunho que sobre este momento ele deixou neste blogue, referindo-se ao Manuel Pacheco: no dia 10 de maio de 2008, poste P 2830 (***):

(...) "Quando digo pulverizado é o termo que melhor descreve a situação, pois sou um dos que andou à procura de restos do corpo e apenas encontrámos pequenos fragmentos de ossos com que fizemos um embrulho que pesava poucos quilos. Tem a sua campa em Bambadinca, como se pode ver na relação do Marques Lopes (...). A G3 dele nunca mais se viu, pensando-se que terá voado para o Geba que passa a não muitos metros de distância."

Mais informa ainda no poste P15998 (**), referenciando o lugar da sua sepultura: (...) "Era natural de São Miguel, Açores. Os restos mortais (cerca de 3 kg) ficaram no cemitério de Bambadinca, talhão militar, fileira 2, campa 1, Guiné-Bissau".

Como já está dito foram momentos tristes e difíceis estes,  em que com todo o respeito fomos juntando o que restava do nosso querido ‘Açoriano'. Lembro também o momento em que os seus restos sairam depois do Enxalé, num caixão normal, como se dentro estivessem uns restos mortais completos.

Durante esta busca pelos seus restos mortais e pela G3 que desapareceu , e que deve ter sido projectada com tanta violência que atingiu o Geba , mesmo ao lado da estrada, veio-se a descobrir uma mina antipessoal. A nossa sorte foi que alguém viu um fio, suspeitou e …lá estava uma mina, que foi destruida no mesmo momento.

16 e 27 de Outubro:

O relatório menciona a seguir três operações neste mês de Outubro de 1966:

Operação Grude a 16 de Outubro, 
Operação Grisu a 16 de Outubro 
Operação Giesta, a 27.

As três são descritas como “patrulhas de reconhecimento fluvial e terrestre ao longo do Rio Geba.” Sem qualquer acontecimento digno de nota. Mas há com certeza engano nas datas pois, tendo nós os forças divididas/destacadas em Missirá e Porto Gole, além de não podermos deixar Enxalé sem protecção, não me parece que fosse possível fazer duas operações no mesmo dia.

(Continua)

__________



quinta-feira, 22 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22394: Tabanca Grande (522): Ildeberto Medeiros ex-1º cabo condutor auto, CCAÇ 2753, "Os Barões" (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim/K3 e Mansabá, 1970/72): açoriano de Ginetes, Ponta Delgada, a viver em New Bedford, senta-se no lugar nº 845, à sombra do nosso fraterno e sagrado poilão

 



Ildeberto Medeiros senta-se à sombra do poilão da Tabanca Grande, 
no lugar n.º 845


1. Finalmente fica apresentado à Tabanca Grande o Ildeberto Medeirios, que foi 1.º cabo condutor auto, CCAÇ 2753, "Os Barões" (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim/K3 e Mansabá, 1970/72) (*), vindo assim juntar-se no nosso blogue, aos outros três "barões" que já cá estavam: os ex-alf mil Vítor Junqueira e José Carvalho, e o ex-fur mil Francisco Godinho, mas nenhum deles açoriano.  



O Ildeberto Medeiros e a esposa

Fotos (e legendas): © Ildeberto Medeiros (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. O Ildeberto Medeiros, açoriano, vive nos Estados Unidos da América. Pelo que sabemos, da sua página do Facebook;

(i) é natural de Ginetes, concelho de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores;

 (ii) nasceu em 23 de maio de 1949; 

(iii) andou na escola Escola Secundária Antero de Quental, Ponta Delgada; 

(iv) vive em New Bedford, estado de Massachusetts, EUA; 

(v) é casado; 

(vi) está reformado...

3. Comentário do editor LG:

Meu caro Berto (como te chamam os amigos do peito): és bem vindo, quer como "barão do K3", quer como nosso patrício dos Açores, a viver agora na diáspora lusitana... 

Louvo o teu esforço por chegares até nós e, finalmente, poderes cumprir as devidas formalidades e sentar-te à sombra do nosso sagrado e fraterno poilão. 

O teu lugar é o n.º 845. Sei que és sportinguista e que vais ficar ao lado de um portista, o Manuel Domingos Ribeiro, o n.º 844 (**). Mas aqui cabemos todos, independemente das nossas opções políticas, religiosas, futebolísticas, etc., ou das nossas diferenças de origem social, geográfica, étnica, etc. O que nos une é a camaradagem, fortalecida pelas memórias, boas e más,  da Guiné (1961/74).

O teu nome passa a figurar na coluna (estática), do lado esquerdo, do nosso blogue, na Lista Alfabética dos Amigos e Camaradas da Guiné.

Vês se nos mandas mais fotos do teu tempo de Guiné, com boa resolução e as respetivas legendas. Vou-te mandar os contactos do João Crisóstomo, que vive em Queens, Nova Iorque, e que é o régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona. Ele vai-te escrever e mandar s seus contactos, nomeadamente telefónicos. Ele vai gostar de poder falar contigo, se nos mandares, a  ele e a nós, o teu nº de telefone / telemóvel (, que naturamente não será divulgado no blogue).

Há muitos camaradas nossos, açorianos, madeirenses e continentais, que vivem nos EUA (e no Canadá) e que ainda não nos conhecem. Conto contigo para divulgares o nosso blogue, e para continuares a comentar os nossos postes. É também uma boa forma de afirmar a nossa língua materna na Internete. Vê se consegues sobretudo trazer mais açorianos até ao nosso blogue e à Tabanca Grande, que é a mãe de todas as tabancas... 

Boa saúde e longa vida, na companhia da tua esposa. Mantenhas (saudações em crioulo da Guiné). 
_______________

terça-feira, 13 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22370: O nosso livro de visitas (212): Ildeberto Medeiros, ex-1º cabo condutor auto, CCAÇ 2753, "Os Barões" (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim/K3 e Mansabá, 1970/72)... Açoriano, vive nos EUA e quer integrar a Tabanca Grande

1. Mensagem de Ildeberto Medeiros, nosso leitor  e camarada:

Date: sábado, 12/06/2021 à(s) 12:17
Subject: Tabanca Grande

Sou um ex-combatente da Guiné, ex-1º cabo condutor da CCAÇ 2753, "Os Barões Mansabá, K3 (1970/ 1972)

Sigo o vosso "site" para melhor recordar esses tempos que por lá andei, porque recordar é viver. Já me tentei regisitar e não consigo.

Actualmento vivo nos Estados Unidos. Gostava de saber se me podiam ajudar com este problema?

Um abraço, Luís
Ildeberto Medeiros


2. Resposta do editor LG:

Meu caro Ildeberto, já devia ter respondido ao teu pedido. I'm sorry, time management now is a big problem for me...

Vou ver se te ajudo:

(i) não te podes registar automaticamente no nosso blogue como membro da Tabana Grande (que conta já com 842 membros, 103 dos quais, infelizmente, já falecidos); mas o teu nome não me é estranho, tens feito comentários a postes aqui publicados;

(ii) tu podes ser, já amanhã, o nº 843: só preciso que me mandes as duas fotos da praxe: uma do teu tempo de Guiné (1970/72), e outra mais atual; (se não souberes como se manda, por email, pede ajuda a alguém das tuas relações, mais desenrascado nestas coisas da Internet);

(iii) já te apresentaste, hoje mesmo, embora laconicamente: estás situado no tempo e no espaço, pertenceste à CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim/K3 e Mansabá, 1970/72), eras 1º cabo condutor auto;

(iv) serás o primeiro açoriano da tua companhia a juntar-se, no nosso blogue, aos ex-alf mil Vítor Junqueiro e José Carvalho, e ao ex-fur mil Francisco Godinho, que são "continentais", como então a gente dizia; contigo, passarão a haver quatro "barões";

(v) mesmo com alguma dificuldade na escrita do português (, podes também escrever em inglês se te sentires mais à vontade), conta-nos depois algo mais sobre a tua vida, na tropa e depois da tropa, incluindo algumas das tuas recordações da Guiné mas também dos Açores; podes mandar algumas fotos digitalizadas, através do nosso endereço de email, o mesmo que usaste na tua última mensagem: luis.graca.prof@gmail.com


Terei, teremos todos, muito gosto e alegria em acolher-te aqui à sombra do nosso poilão, a árvore sagrada da Guiné, como bem te lembras... Ainda hoje tive o prazer de conhecer pessoalmente o José Carvalho (ex-alf mil, foto à esquerda) e de almoçar com ele, em Peniche... Embora meu vizinho (ele mora no Bombarral, e eu na Lourinhã), só agora tivemos a oportunidade de nos vermos "ao vivo e a cores"... 

O José Carvalho, hoje médico veterinário, por certo deve lembrar-se de ti, ao reconhecer-te na foto ou nas fotos  de 1970/72 que nos vai mandar. 

Falámos ao almoço dos "Barões do K3" e eu sou testemunha do carinho e apreço que ele ainda hoje manifesta por vocês, açorianos, da CCAÇ 2753. Foi ele, de resto, quem em fevereiro passado nos deu a triste notícia da morte do vosso antigo comandante, o cap mil art João Domingues da Rocha Cupido.

Conto contigo. Aguardo as tuas boas notícias. Best wishes. Good luck, good health. LG
___________

Nota do editor:

Último poste da série >11 d junho de 2021 > Guiné 61/74 -P22274: O nosso livro de visitas (211): João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, PTE - Pelotão de Transportes Especiais, Batalhão de Engenharia nº 447 (Bissau, 1968/71)

sábado, 13 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19100: (De) Caras (120): Gertrudes da Silva, comandante da CCAÇ 2790, de fevereiro a setembro de 1972, deixou um rasto enorme de simpatia, de camaradagem, de competência e de humanidade invejáveis (António Matos, ex-alf mil MA, CCAÇ 2790, Bula, 1970/72)







Guiné >Bula > CCAÇ 2790 > A equipa de futebol... De pé, do lado direito, de camuflado, o Cap Inf  Gertrudes da Silva, que sucedeu ao cap José Pedro Sucena , no comando da CCAÇ 2790, entre fevereiro e setembro de 1972. Foto gentilmente cedida pelo José Câmara (que vive nos EUA) ao António Matos, ex-alf mil, MA, CCAÇ 2790 (Bula, 1970/72). (A CCAÇ 2790 teve como unidade mobilizadora o BII 18, partiu para a Guiné em 24/9/1970 e regressou a 30/9/1972. Esteve em Ponta Augusto Barros e Bula. Comandantes:  cap inf José Pedro de Sucena, e cap inf Diamantino Gertrudes da Silva.)


Foto (e legenda): © José Câmara (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



 
António Garcia de Matos, ex-alf mil MA,
CCAÇ 2790  (Bula, 1970/72)
1. Comentário de António Matos ao poste P19099 (*):

Não pretendo mais do que uma singela homenagem ao Comandante, ao Capitão, ao Militar e ao Amigo com quem partilhei uma fase bem marcante da minha vida de alferes miliciano nos idos de 70 do séc. XX, muito especificamente no ano de 1972, na Guiné Bissau, sediado que estava em Bula e onde comandava um pelotão da CCaç. 2790, pertença do BCaç 2928.

Recorrendo para confirmação de datas (,que os neurónios já não ajudam nas certezas absolutas), consultei a "História da Unidade" daquela minha companhia e, claro, lá apanhei o Diamantino Gertrudes da Silva que passou a fazer parte dos quadros, tomando o comando na substituição do capitão José Pedro Sucena, em Fevereiro de 1972.

Meu caro Gertrudes da Silva, já tive ocasião de manifestar 
os meus sentimentos à sua família mas não quis desperdiçar 
a oportunidade de ter recebido uma alusão a este momento de 
saudade por via electrónica, sem daqui lhe endereçar um sentido "Rest In Peace".

O facto de a notícia-base não o mencionar como comandante da valorosa CCaç 2790 naquele 1972, foi motivo suficiente para exarcebar os meus orgulhos ( e julgo que de todos os nossos outros camaradas) pois a experiência foi-nos gratamente positiva.

Desde logo do ponto de vista operacional mas,  não menos importante, do ponto de vista humano.
Tive(mos) o prazer de o ter entre nós por várias vezes nos jantares (poucos) que vamos fazendo de quando em vez à laia de prova de vida ...

Você, meu caro amigo, juntou-se aos que já tinham partido mas creia que deixou um rasto enorme de simpatia, de camaradagem, de competência e de humanidade invejáveis. (**)

Descanse em paz !
António A.Garcia de Matos


2. Comentário do António Matos  (***):

Pois sou mesmo eu a iniciar esta secção de comentários a este meu poste (*)

Primeiro, corrijo a legenda da (...) foto [acima], onde o capitão é o Gertrudes da Silva [e não o Pedro Sucena];

Segundo: quero dizer ao José Câmara que consegui, hoje, falar com o José João e que ele e o José Bairos são uma e só uma pessoa ! Falei e deliciei-me com aquele sotaque inesquecível intervalado com expressões americanadas a reflectir os quase 40 anos de emigrado ! Engraçadíssimo !

O Bairos era do pelotão do alferes Pires e não consigo associá-lo às imagens que ainda tenho daquela malta.

Infelizmente os EUA são grandinhos e não permitem que esta gente tenha contactos com camaradas de outros tempos e por isso não me soube dizer nada de outros ...

António Matos
_____________

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17971: (De) Caras (99): Saia uma sandocha de "cabrito pé de rocha, manga di sabe" (Vitor Junqueira, ex-alf mil, CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim / K3, Mansabá, 1970/72; médico reformado, Pombal)

1. Já não temos notícias, desde 23 de setembro de 2011, há seis anos (!), do nosso camarada Vítor Junqueira (ex-alferes miliciano da CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá, 1970/72), hoje médico, reformado, e a viver em Pombal.  Foi o organizador do II Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 2007, em Pombal.


Ele tem 64 referências no nosso blogue e escreveu alguns dos nossos melhores postes...  Em 30 de novembro de 2010 disse-nos, numa nota deixada na caixa de comentários (*) que estava bem de saúde e "conectado"... Sabemos pelo seu gosto pelas viagens, ou não fora ele, noutras vidas, oficial da marinha mercante. É seguramente um  daqueles nossos camaradas que já deu várias vezes a volta ao mundo...

Lembrei-me dele e, sem pedir-lhe licença, vou republicar aqui um dos textos mais saborosos que ele nos deixou e que os nosso "periquitos" (os membros da Tabanca Grande entrados nos anos mais recebtes) têm também o direito (e a obrigação) de conhecer...

Já na altura, considerei a história da sandocha de "cabrito pé de rocha, manga di sabe" como  uma daquelas histórias dos nossos encontros e desencontros com aqueles povos amigos e hospitaleiros da Guiné, que um dia teria de figurar na antologia do nosso blogue!...  (Ele não me chegou a mandar, e ainda bem, a receita do "cabrito pé de rocha, manga di sabe"). (**)


2. Cabrito pé de rocha, manga di sabe

por Vítor Junqueira


Quando a minha Companhia [, a CCAÇ 2753,] aterrou em Bissau, após uns dez dias de viagem no velho N/M T/T (era mais ou menos esta a sigla para navio motor  de transporte de tropas) Carvalho Araújo (#), fomos acolhidos no cais do Pidjiguiti por malta que eu não conhecia de lado nenhum, que soltava uns piu-piu esquisitos cuja razão de ser não entendia. 

Soube ali que eram os choferes, velhinhos, das camionetas que nos haveriam de conduzir ao destino. As viaturas, alinhadas em coluna ao longo do cais, estavam a ser carregadas enquanto as entidades superiores tratavam da papelada. Até ao desembaraço da Companhia, e enquanto carrega, não carrega, os piu-piu acossavam-nos de todos os lados. Comecei a ficar enervado e com apetite!

Naquela zona portuária, que se poderia chamar marginal da Amura, existiam umas tabernas semelhantes às que poderíamos encontrar em qualquer lugar do Portugal de então: um garrafão de cinco litros ou um ramo de louro pendurado na frontaria, e uma tabuleta com os dizeres "casa de pasto, vinhos e petiscos".

Seriam para aí umas quatro da tarde quando entrei numa delas. Pela primeira vez na vida dirigi-me a alguém de outra... etnia. A situação era nova para mim e um pouco estranha. Meio tonhó, perguntei num português escorreito e pausado a uma negra, com estatura de bisonte, que se encontrava sentada num mocho do lado de dentro do balcão:
– Boa tarde, minha senhora, tem alguma coisa de que possa fazer uma sandes?
– Tem. Tem sim. Olha, tem cabrito pé de rocha, tem...
– Cabrito?
– Sim, cabrito, é muito bom. Ainda está quente.

Virou-me as costas e dirigiu-se para um canto da baiúca de onde regressou com um pequeno tacho de barro na mão contendo uns pedacitos de carne guisada, com bom aspecto e um cheiro capaz de fazer um morto babar-se. Perguntou-me o que queria beber e falou-me em coisas estranhas, Fanta, Coca-qualquer-coisa... Pedi uma laranjada.

Ali fiquei encostado ao balcão a vê-la rasgar a carcaça e nela acomodar o conduto. Ia magicando com os meus botões o quanto as aparência iludem. Aquela mulher enorme era um monstro de simpatia, nos gestos, no brilho do olhar, na doçura da voz. Acho que começou ali a minha paixão pela Guiné. Serviu-me com delicadeza numa pequena mesa de pinho, carunchosa e coxa, que só se mantinha de pé porque estava encostada à parede.

Comi. E que bem me soube. Ao fim de tantos dias a comer a lambeta de bordo, que nem era má, mas à qual o balanço do navio retirava todo o requinte, aquele petisco caiu-me que nem ginjas. Paguei em escudos, recebi o troco em pesos e saí animado com a perspectiva das vindouras patuscadas de cabrito pé de rocha que já se perfilavam no meu horizonte de expedicionário. Fosse parar aonde quer que fosse, não faltaria caça daquela, pois se até na cidade se encontrava ao dispor... Aquele cabrito era mesmo delicioso. E o apelido pé de rocha? Devia estar relacionado com o habitat do animal. Altas montanhas com os picos cobertos de neve, pensei eu. O Kilimanjaro devia ficar ali perto, provavelmente.

Juntei-me ao resto da guerra, a quem dei conta das minhas descobertas e lá vou com a tropa toda, sob um altíssimo astral, direito ao AGRBIS (eu sabia lá o que isso era!). À nossa espera estava um hangar, sem portas, sem janelas, sem luz e com milhões de mosquitos, gordos e ferozes. Nos oito dias seguintes dormimos em cima dos ferros das camas porque colchões também não havia para distribuir. E quanto à bianda, ração de combate ao almoço, ração de combate ao jantar. Sobremesa, sempre à base de mancarra que umas garotas apareceram por ali a vender dentro de uns penicos que transportavam à cabeça.

O problema maior era a água. Na altura grassava uma epidemia de cólera no território pelo que nos aconselharam a beber só água engarrafada. Resultado, ao terceiro dia estava não só falido, como via as dívidas a acumularem-se. É que a única água engarrafada disponível que havia era a Perrier, usada no tratamento do whisky, que eu comprava a oitenta mil réis cada garrafa, no bar dos oficiais do Depósito de Adidos que ficava ao lado. Escusado será dizer que, por essa razão ou outra qualquer, houve caganeiras monumentais.

E eis que recebo guia de marcha para ir comandar os destacamentos de Safim e João Landim.

Força instalada, faço o reconhecimento da zona e concluo que no que respeita a infra-estruturas de apoio como tasca, restaurante, animação (batuque e bajudas), posso considerar-me um homem de sorte. Tenho ao dispor um fundo de maneio e o seu parente, o inevitável saco azul. Agora sim, tinha qualidade de vida. Permitíamo-nos comer quase à la carte. Além disso, por ali não se ouviam tiros. Perfeito...

É neste contexto que, estando um dia a bater uma galharda sesta, sou acordado subitamente por um militar que me vem perguntar se pode ir lá fora dar um tiro com a G3...
– A quem? – perguntei.
– Não sei bem de que se trata – diz ele – É um gajo da população que está ali à porta de armas a pedir que vá alguém à tabanca abater uma peça de caça.
– Alto e pára o baile – disse eu, meio desconfiado. – Quem lá vai sou eu.

Visto os calções num ápice, enfio os chinelos, pego na canhota que tinha dependurada à cabeceira da cama e, todo nervoso, antecipando um presunto de gazela para o tacho, dirijo-me ao cavalo de frisa que servia de porta de armas.

Lá estava o homem. Pareceu-me inofensivo. Pediu-me que o seguisse, enquanto, num crioulo que eu já começava a entender, me explicava que se tratava de um cabrito pé de rocha que andava por ali a vaguear. Nisto aponta para o cocuruto de uma árvore e diz:
– Pessoal, olha ali. Por favor mata ele...

Fiz um único disparo. Aos meus pés caiu um bruto babuíno (macaco-cão) que devia pesar para aí uns trinta quilos. 

Dispensei a minha quota-parte da caçada! (##)

Vítor Junqueira (***)

[Revisão / fixação de texto: LG]
________________

Notas do autor:

(#) Esta foi a última viagem do Carvalho Araújo. De Lisboa para Bissau, navegou notavelmente adornado a estibordo. No regresso, ouvi dizer que chegou pelo seu pé a Cabo Verde, tendo sido depois rebocado até ao seu destino final.

(##) Voltei a comer cabrito pé de rocha, muitos meses depois e, desconhecendo a ementa, numa acção de Psico. Outra delícia! Um dia destes mando a receita.
________________

Notas do editor:

(*) 30 de novembro de  2010 > Guiné 63/74 - P7363: Que é feito de ti, camarada ? (1): Prakistou, diz o Vitor Junqueira, mas não desconectado

(...) Pois, meus caros, eu prakistou, mais ou menos bom de corpo, de cabeça, dirão vocês e, não é verdade que ande por aí, meio perdido, meio desconectado. Estou convosco todos os dias, normalmente mais do que uma vez por dia! Aprecio a matéria dada, revejo-me nalguma prosa e, tacanho que sou, apenas pressinto na verve a corda lírica, vibrante e fácil, dom de apenas alguns tertulianos. (...)

(**) Vd. poste de 11 de novembro de  2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): "Cabrito pé de rocha, manga di sabe" (Vitor Junqueira)

(***) Último poste da série > 24 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17901: (De)Caras (99): o comandante do BCAV 2868 (Bula, 1969/70), o ten cor cav Carlos José Machado Alves Morgado, mais o com-chefe António Spínola, em Pete, em 9/11/1970 (Victor Garcia, ex-1º cabo at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

domingo, 24 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17792: Fotos à procura de... uma legenda (90): uma vida precária de equilibrista na cambança de pequenos cursos de água ... (Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf, CCAÇ 4740, Cufar, 1.º semestre de 1973)


Foto nº 1 


Foto nº 1A


Foto nº 1B - Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > 3.º pelotão... Atravessia de... uma "ponte improvisada".

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mais uma foto  álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf, de rendição individual,  na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar,  1.º semestre 1973) e  comandante do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). 

A foto merece uma melhor legenda por parte dos nossos leitores. Quem andou no mato, facilmente se reconhece nesta foto... Havia muitas pontes destas que atravessavam pequenos cursos de água. E eram utilizadas tanto por nós como pelo IN... E, em geral, não se pagava "portagem"... (*)

Eram pequenas obras de arte de engenharia... hidráulica. Feitas de estacaria, bambu (?) e lianas... A guerra também nos obrigava ao difícil exercício de equilibrista... De vez em quando, lá ia um de nós ao charco... com armas e bagagens.

2. Recordo-me que, apesar de tudo, houve camaradas... com sorte. E deviam entrar no livro do Guinness dos recordes... O meu camarada, ex-1º cabo Carlos Galvão, da Covilhã,  que já não vejo desde 1994, é um deles...  Foi ferido duas vezes na mesma operação, coisa que deve ter sido rara naquela maldita guerra (**)... 

Era segunda feira de Carnaval, em 9 de bril de 1970, e na cambança do Rio Buruntoni (através de uma ponte de estacaria improvisada, como aquela que a foto nº 1 mostra), por volta das 5 e tal da manhã,  o 1º cabo Carlos Alves Galvão, cmtd da 1ª secção do 3º Gr Comb da CCAÇ 12, sofre um traumatismo num pé, tendo que ser transportado em padiola improvisada pelos seus soldados africanos... (O que seríamos nós sem os nossos bravos e leais soldados fulas que abandonámos em agosto de 1974?!)...

Às 13h, em Gundagé Beafada, já no regresso ao Xime, sofremos um violenta emboscada  de que resultariam uma série de baixas entre as NT (CART 2520, Pel Caç Nat 63 e CCAÇ 12), incluindo o 1º Cabo Galvão que ia nesse momento na "horizontal", de papo para o ar, à altura do capim,  o que o tornava um "fácil tiro ao alvo"...

Teve sorte, apesar de tudo, o Carlos Galvão... Sobreviveu a esta "brincadeira de morte", em dia de carnaval... e ainda lá anda pela Covilhã, deficiente das FA e reformado da AT (Autoridade Tributária)...

Eu fui dos que o ajudou a chegar a bom (heli)porto, em Madina Colhido... Mas nunca consegui, enquanto fundador, administrador e editor deste blogue,  que ele se dignasse descer ao povoado da Tabanca Grande... Lá terá as suas razões pessoais... Como eu costumo dizer, não temos o Panteão Nacional, mas temos melhor, a Tabanca Grande... que não é para todos, é só para quem quer e puder... LG

___________________

sábado, 23 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17791: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (20): Amigos e camaradas de Cufar - Parte III: Mais alferes milicianos



Foto nº 1 A > Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > O Luís Mourato Oliveira,  à civil, à direita, com o  alferes  mil cav, Faria, comandante do Pel Rec Fox (1)

 

Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > OO Luís Mourato Oliveira,  à civil, à direita, com o  alferes  mil cav, Faria, comandante do Pel Rec Fox (2)


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 > Na messe de oficiais, à esquerda parece ser o o alf mil mil António Eiriz  [, of icial  trms do CAOP1]. seguido do Luís Mourato Oliveira, o António Graça de Abreu e outro camarada do CAOP1.


Foto nº 3 A >  Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 >  "Eu e António [Octávio da Silva] Neto [, alf mil inf] junto ao Solar do Gringo, que era a "morança" deste último.


Foto nº  4 >  Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > 1973 >  "Eu, na bolanha".


Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 >  O "solar do Gringo",  a casinha do alf mil António Neto.

Fotos (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-
tabanqueiro, que foi alf mil inf da CCAÇ 4740 (Cufar, 1973) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74).  Lisboeta, tem razíes na Lourinhã, pelo lado materno,

De rendição individual, foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Irá terminar a sua comissão no setor L1 (Bambadinca), em Missirá, depois de Mato Cão, e extinguir o pelotão em agosto de 1974.

Até meados de 1973 esteve em Cufar, a comandar o 3º pelotão da CCAÇ 4740, no 1º semestre de 1973. Tem bastantes fotos de Cufar, que começámos a publicar no poste P17388.

Hoje mostram-se mostram-se mais algumas oficiais milicianos que estavam em Cufar, da CCAÇ 4740 ou outras subunidades. Recorde-se que, além da CCAÇ 4740, unidade de quadrícula, de origem açoriana, Cufar era uma verdadeira base militar, com pista de aviação e porto fluvial, contando com forças da marinha, da força aérea, do CAOP1, e ainda as seguintes: Pel Caç Nat 51; Pel Caç Nat 67; Pel Canhões s/r 3079; Pel Art 18; Pel Rec Fox 8870; PINT 9288; Milícias.

Relativamente à CCAÇ 4740, vd. aqui a história da unidade e a sua composição orgânica.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17267: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (15): Tabancas de Cufar e Matofarroba


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Tabanca > 1973 > Bajuda balanta


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Tabanca > 1973 > Pilão do arroz


Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > O al ff mil imf Luís Mourato Oliveira e o alf mil médico em visita ao reordenamento feito pelas NT


Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > Matofarroba > Tabanca > 1973 > Aspeto do reordenamento feito pelas NT. Matofarroba ficava/fica, a 2km/3km, a sul de Cufar.


Foto nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Cufar > > Tabanca > 1973 > Aspeto parcial



Foto nº 6 > Guiné > Região de Tombali > Cufar >  Tabanca > 1973 > Aspeto parcial com o fontenário à direita

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil inf da CCAÇ 4740 (Cufar,  1973) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

De rendição individual, foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Irá terminar a sua comissão no setor L1 (Bambadinca), em Missirá, depois de Mato Cão, e extinguir o pelotão em agosto de 1974.

Até meados de 1973 esteve em Cufar, a comandar o 3º pelotão da CCAÇ 4740, no 1º semestre de 1973. Tem bastantes fotos de Cufar, que começamos hoje a publicar.

Sobre esta subunidade, açoriana, mobilizada pelo BI 17,  há uma página na Net, criada pelo ex-furmil mec auto Mário [Fernando Lima de] Oliveira, podendo a sua história ser consultada aqui.

Sabemos, por exemplo, que em janeiro de 1973, o "alferes mil 01876771, Luís Fernando Mourato de Oliveira, substitui o alferes mil 18029168, Mário José Correia Salsinha, nomeado para as unidades africanas: CCAC 13".

Esta companhia, comandada pelo cap mil inf João Gaspar Dias da Silva teve 9 (nove!) alferes milicianos e 19 sargentos (, a maioria, furriéis milicianos). O pessoal partiu para o CTIG, em 21/6/1972, num Boeing 707 dos TAM. 

Em 22/7/1972 seguiu, em LDG, para Cufar onde, em sobreposição, realizou a rendição da CCAÇ 2797. Um mês depois assumiu a responsabilidade do subsetor. A 23/12/1972, Cufar sobreu uma flagelação com 9 mísseis ou foguetões 122 mm (os famosos Katiusha).

Em 11 de Julho de 1974 passou o último dos 690 dias passados em Cufar. No dia seguinte chega, transportada em LDM, a CCAÇ 4152/73 , ao porto de Impundega, para substituir a CCAÇ 4740.

Em 3/8/1974, chegou o finalmente a "peluda"... A CCAÇ 4740 regressa a casa: o Boeing dos TAM, com destino ao aeroporto de Figo Maduro, faz escala no aeroporto das Lajes, em Angra do Heroísmo, desembarcando aqui os militares açorianos.

2. Reuniões de convívio do pessoal da CCAÇ 4740:

1 de Dezembro de 2007 -1º Encontro Continental

21 de Junho de 2008 - 2º Encontro Continental,

10 a 14 de Junho de 2009 - 1º Encontro Açoriano, nas Ilhas Faial, Pico, Angra do Heroísmo e S. Miguel.

19 de Junho de 2010 - 3º Encontro Continental,

3 a 9 de Julho de 2010 - 2º Encontro Açoriano, nas Ilhas Faial, Pico, Angra do Heroísmo e S. Miguel.

18 de Junho de 2011 - 4º Encontro Continental,

16 de Junho de 2012 - 5º Encontro Continental,

15 de Junho de 2013 - 6º Encontro Continental,

21 de Junho de 2014 - 7º Encontro Continental,

20 de Junho de 2015 - 8º Encontro Continental,

18 de Junho de 2016 - 9º Encontro Continental,

17 de Junho de 2016 - 10º Encontro Continental.

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17227: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (14); Uma horta em Missirá, no regulado do Cuor

domingo, 9 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16580: In Memoriam (265): Manuel Francisco Moniz de Simas, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 / BCav 705 (Guiné, 1964/66) (Manuel Luís Lomba / Carlos Cordeiro)

Estacionamento de Cufar. Patrulhamento encabeçado pelo Furriel Simas
Foto: Manuel Luís Lomba


IN MEMORIAN 

Manuel Francisco Moniz de Simas, 
Bravo Furriel Miliciano da CCav 703/BCav 705, 
1964-66, (Bissau, Cufar, Buruntuma) 

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) [foto à direita], com data de 8 de Outubro de 2016, dando notícia do falecimento de mais um camarada, desta feita, o ex-Fur Mil Manuel Francisco Moniz Simas.

Deixou-nos – faleceu ontem no hospital de Ponta Delgada. 

Apenas pela formalidade da antiguidade, o Simas foi meu “2.º Comandante” das milícias que formamos e instruímos em Buruntuma. Depois, o Comandante da Companhia incumbiu-o de formar e comandar o seu próprio grupo de “comandos” que, pela audácia das suas manobras, dentro e fora da fronteira, provocará o aborto a alguns ataques a Buruntuma. 

Soldado português de primeira água, o Simas era uma alma de artista, com um elevado sentido de humor, um amigo solidário e de lealdade a toda a prova. 

Desmobilizado, fez-se à vida na América, notabilizando-se como escultor em marfim e osso de baleia, acabando a sua vida activa como professor na Escola Secundária de Ponta Delgada.

Descansa em paz, Simas. 
Sentidos pêsames à sua companheira e demais família. 
Manuel Luís Lomba

************

Manuel Francisco Moniz Simas
Fonte: Com a devida vénia ao Facebook dos Antigos Combatentes Açorianos


2. Post de Carlos Cordeiro no Facebook dos Antigos Combatentes Açorianos:

Camaradas e amigos.
Acabo de saber do falecimento do amigo e camarada d'Armas Manuel Moniz Simas, membro do nosso grupo ACA.

Natural de Ponta Garça (S. Miguel, Açores), foi aluno da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada.
Era professor aposentado da Escola Secundária Antero de Quental.
Integrava a direcção do núcleo de Ponta Delgada da Liga dos Combatentes.

Não tenho informação relativamente à sua comissão no Ultramar.
Que a sua alma repouse em paz.
Sentidos pêsames à família do nosso camarada e amigo.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 12 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16480: In Memoriam (264): Furriel Hugo Abreu e Soldado Dylan Araújo da Silva, que perderam a vida, aos 20 anos de idade, no contexto do 127.º Curso de Comandos, com votos de condolências às suas Famílias e pelo rápido restabelecimento dos que ainda estão internados (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil, CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)