Foto (e legenda): © António Inverno (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região do Cacheu > Pel Caç Nat 60 > Estrada São Domingos - Susana > 13 de novembro de 1969 > A primeira mina A/C detetada e levantada: na imagem o alf mil Nelson Gonçalves e o 1º cabo Manuel Seleiro.
Foto (e legenda): © Manuel Seleiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
Citação: (1963-1973), "Guerrilheiros do PAIGC colocando uma mina", Fundação Mário Soares / DAC – Documentos Amílcar Cabral, disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43786 (com a devida vénia)
Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O rebenta-minas com rodado duplo à frente e sacos de areia na cabine, sem tejadilho... Uma GMC, adaptada, com 12 rodas...
1. As minas (A/C e A/P) e armadilhas (fornilhos, etc.) foram um dos "ossos mais duros de roer" na guerra que tivemos de enfrentar no TO da Guiné... Não sabemos quantas foram montadas, identificadas e levantadas... De um lado e do outro... Impossível haver estatísticas. Mas foram dezenas e dezenas, senão centenas, de milhares, ao longo dos anos, as minas que montámos, de um lado e do outro, para provocar baixas no campo do inimigo e desmoralizá-lo... Uma "arma suja", nesta e noutras guerras...
Pior ainda, não sabemos quantas foram accionadas pelas nossas viaturas, ou pelos nossos pés... Nem o número de mortos, feridos e incapacitados, provocados por estes engenhos mortíferos... Falamos de minas terrestres, mas também as havia aquáticas...
As minas eram o terror de quem fazia colunas logísticas, de quem tinha que se deslocar por picadas (intransitáveis no tempo das chuvas...), de quem fazia operações no mato e tinha que se aproximar de alvos do inimigo... Era o terror de guias e picadores, dos condutores dos "rebenta-minas" (que seguiam à frente das colunas logísticas)... Mas também da população: muitas tabancas, em autodefesa, bem como destacamentos e aquartelamentos das NT, eram cercadas por campos de minas...
Enfim, toda a gente tem histórias de minas e armadilhas, teve camaradas que morreram ou ficaram feridos com o accionamento de minas, A/C ou A/P, mas também conheceu camaradas que foram heróis, sobretudo a leventar minas: sapadores ou graduados (alferes e furriéis) com o curso de minas e armadilhas que se tirava em Tancos, se não erro...
O tema está bem documentado no nosso nosso blogue. Temos cerca de 220 referências sobre minas e armadilhas (**)...
O que toda a gente também sabe é que as minas também davam... "patacão", desde que fossem identificadas e levantadas, ou só identificadas e destruídas... A partir de 22/9/1967, uma mina anticarro (desde que detectada e levantada/capturada com todos os seus componentes) valia tanto como um canhão s/r, um LGFog (RPG 2 ou 7), morteiro pesado ou médio, ou seja, 2 contos (o que equivaleria, a preços de hoje, a 771 euros). A mina ou "fornilho, antipessoal, só valia metade, mil escudos... (Afinal, uma GMC, um Unimog ou uma Berliet sempre valia mais do que um homem.)
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Capitulo IV - Ano de 1964
Anexo n° 1 - Normas para a atribuição de prémios pela captura de material ao inimigo
(CIRCULAR N° 2219/B DE 25 DE Abril da 2ª- Rep/QG/CTIG)
1. Pela captura ao lN de pistolas, espingardas, pistolas metralhadoras e morteiros serão atribuídos prémios, desde que a sua apreensão se verifique nas seguintes condições:
a. Em acções de combate (sob o fogo do lN);
b. Como consequência directa de acções de combate.
Não é atribuído qualquer prémio ao material dos tipos indicados que seja simplesmente encontrado (inclui-se aquele que tenha sido abandonado pelo lN devido ao funcionamento de armadilhas montadas pelas NT).
2. Serão também atribuídos prémios pela captura de minas ou armadilhas apess [antipessoal, A/P] e minas ou fornilhos acar [anticarro, A/C].
A designação "fornilho", além do seu significado clássico, engloba também as cargas explosivas convenientemente preparadas e prontas a serem accionadas.
Terão a designação de fornilho acar [A/C] ou armadilha apess [A/P] consoante a respectiva quantidade de explosivos e o fim a que se destinam.
A estes materiais serão atribuídos prémios nas seguintes condições:
a. Detectado e capturado com todos os seus componentes;
b. Detectado e destruído.
3. Os prémios a atribuir são os seguintes:
4. A atribuição de prémios individuais é dificil, além de se considerar passível de afectar a disciplina e a eficiência operacional das unidades, pelo que se considera excepcional.
Aos Comandos de Batalhão competirá definir, para cada caso, se o prémio deverá ser atribuído individual ou colectivamente.
5. Os Comandos de Batalhão, para os fins de atribuição de prémios, informam o QG das condições em que se verificou a apreensão de material (1.a. ou 1.b. e 2.a. ou 2.b.).
6. Os Comandos de Batalhão devem enviar ao QG, mensalmente, a relação do material apreendido.
7. Modelos para a relação a que se refere o número anterior.
8. A presente Circular substitui a de referência, n° 1843/B de 02Dez63.
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro II (1.ª edição, Lisboa, 2014), pp. 288/289.
Capítulo I - Ano de 1967 (...): Directivas do Comandante-Chefe
Directiva para "Atribuição de prémos a militares e CIVIS por apreensão de material de guerra ao inimigo" do Comandante-Chefe de 22 de Setembro (referência ao oficio n° 1042/B, do SGDN, 2.ª Rep, de 31 Mar67). Esta directiva substituiu a distribuída com o n° 1980 em 101200Jul67.
" 1. Com vista a conseguir um procedimento uniforme nas Províncias Ultramarinas da Guiné, Angola e Moçambique quanto aos prémios a atribuir a militares e civis por apreensão de material de guerra ao inimigo, Sua Ex". o Ministro da Defesa Nacional, por seu despacho de 07Mar67, determinou o seguinte:
a - Os prémios devem ser iguais nas diferentes Províncias Ultramarinas e para os três Ramos das Forças Armadas;
b - Os prémios por captura de material inimigo devem ser atribuídos quaisquer que sejam as circunstâncias em que esta se efectue;
c - O montante dos prémios deve ser igual para militares e civis;
d - Deve ser também recompensado quem fornecer elementos que conduzam à captura de material do inimigo. O montante para cada caso deve ser fixado pelo Comando-Chefe;
e - No caso de apreensão do material levada a efeito por um grupo de civis ou unidade militar, a repartição do prémio pelos seus componentes ficará ao critério do Comando-Chefe;
f - Os prémios a atribuir deverão ser os constantes da tabela que a seguir se indica:
2. Os comandos dos três Ramos das Forças Armadas da Guiné, o Comando da Polícia de Segurança Pública da Guiné, a Organização Provincial de Voluntários, a Polícia Internacional e de Defesa do Estado e os Serviços de Administração Civil da Província, devem fazer entrar em vigor, em 22/9/67 a tabela de prémios estabelecida pelo despacho de Sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional referido no número anterior. [...]"
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro II (1.ª edição, Lisboa, 2015), pp. 47-48(*) Vd. poste de 20 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7480: Estórias avulsas (46): Desminagem entre S. Domingos e Susana (António Inverno)
(**) Ver uma pequena amostra de postes:
4 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2327: PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI Parte): Minas I (A. Marques Lopes)
8 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4304: (Ex)citações (27): Lembrando a memória de meu tio Manuel Sobreiro, morto por uma mina (Nelson Domingues)
11 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3870: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (14): As minas e o seu poder destruidor
4 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9850: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (52): Bula - A guerra das minas (2) - Os "eleitos"
4 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12540: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (5): Sou do famigerado XX Curso de Explosivos de Minas e Armadilhas, iniciado a 8 de Agosto e terminado a 17 de Setembro de 1966, na Escola Prática de Engenharia (EPE), em Tancos
14 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21450: (In)citações (170): Comover-me-ei até ao último dos meus dias, cada vez que penso nos farrapos da farda do fur mil MA Ferreira, da CCAÇ 2616, dependurados nas árvores, no local da explosão da mina A/C armadilhada, na estrada Aldeia Formosa-Buba (Juvenal Danado, ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2892, Aldeia Formosa, Nhala, Buba, 1969/71; vive em Setúbal)
13 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22903: Efemérides (361): À uma e meia da tarde, à saída do reordenamento de Nhabijões... Em 13 de janeiro de 1971... Quando o teu relógio parou... (Luís Graça)
17 comentários:
Por acaso levantei uma mina anti-pessoal armadilhada com uma granada de morteiro na estrada Bambadinca/Xitole e não recebi coisa nenhuma.
Julgo que a história está contada aqui no blog.
Acho que vou reclamar!!!
Com juros ainda dava uma boa reforma!!!
Abraços
Joaquim Mexia Alves
Joaquim, eu não posso pôr isso no meu currículo... Não tinha nem o engenho nem a arte... Nâo era para todos... Fiz outras coisas... No teu caso foste teso. E felizmente estás cá para nos poder contar... Mas tinhas direito ao patacão. Mil pesos dava para comprar dez garrafas de uísque velho...
Aquele abraço. Luis
Em matéria de minas, não nem detetei nem levantei, não tinha o "diploma" nem era maluco... Mas sei bem do seu efeito devastador... Apanhei com uma anticarro e vi camaradas mortos e feridos... E todos brincamos com "elas", no jogo do gato e do rato... Não rebentava na primeira nem na segunda... Ia rebentar na quarta ou quinta viatura... Aconteceu-me num coluna ao Xitole... Não rebentou no meu Unimog, rebentou na GMC carregada de sacos de arroz: a desvantagem de ter rodados duplos....
Se não erro, o meu Unimog 404 ia em terceiro lugar
A seguir ia a GMC... Ela rebentou do meu lado...
Na frente de trabalhos da conclusão da asfaltagem da estrada Mansabá-Farim, o aparecimento de minas antipessoais era dário. Felizmente havia uma equipa de Sapadores dedicada a essa zona onde não lhes faltava trabalho.
A zona de acção da CART 2732 não era, felizmente, muito problemática em matéria de minas e fornilhos, no entanto acabamos por ter três episódios que nos tocaram de perto. O primeiro em 06OUT70 quando o Alf Mil Art Minas e Armadilhas Santos do Couto faleceu ao manusear uma mina AP inimiga. Em 16JUL71, a nossa GMC, conduzida pelo nosso camarada CAR Arlindo Bicho, accionou uma mina AC no Bironque, que originou que ficasse gravemente ferido. Por último, em 28AGO71, o CMDT da CART 3417, Cap Faria Monteiro, pisou uma mina AP na zona de Manhau. Participei na sua evacuação do local até Mansabá, e ao fim do dia fiz parte da coluna que o levou até ao HM 241 por impossibilidade de evacuação por heli.
Ao longo da comissão rebentei uma quantas minas AP inimigas (nunca levantei nenhuma nem a isso me obrigaram) e levantei uma AC, no Bironque, no mesmo local onde havia rebentado uma outra em 16JUL71.
Numa operação comandada pelo Cap Mil Jorge Picado, onde eu também participava, alguém encontrou na picada um atado com 3 granadas de canhão sem recúo. Chamaram-me para eu verificar se estavam armadilhadas. Tudo bem, foi só pegar e trazer para casa, como nos supermercados. Aqui nem foi preciso passar pela caixa.
O tipo de mina AC, de madeira, constante da foto, assim como as AP, eram muito traiçoeiras, por imprevisíveis. De inverno a madeira "inchava", empenava e tornava muito perigosa a sua neutralização. Ou se estava muito traquejado no manejo do sistema de disparo ou então era melhor rebentar com elas.
As minas do nosso descontentamente, a maneira mais traiçoeira de fazer a guerra, qualquer uma.
Carlos Vinhal
Fur Mil Art MA da CART 2732
Já agora, falando em pesos (dinheiro).
Das minas AP que rebentei, não haveria lugar a compensação já que não se podia provar a sua destruição. Com testemunhas? Desconheço.
Da AC que levantei mais o Sousa, no Bironque, eu e ele prescindimos do prémio, com a condição de que fosse distribuída pelos militares que a detectaram.
Pelas três granadas de canhão sem recúo, não sei se houve alguma compensação pecuniária, eu não quereria nada já que o meu trabalho se limitou a verificar se estava tudo bem. Não sei de o amigo Jorge Picado tem conhecimento de alguma compensação pelo achado.
No comentário anterior, esqueci de referir que depois de evacuar o Cap Faria Monteiro para Mansabá, voltei a Manhau para rebentar mais duas ou três minas AP detectadas. O dia 28AGO71 (que até era um sábado) foi um dia inesquecível.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
Caro Joaquim
Quando dizes armadilhada, queres mesmo dizer armadilhada ou reforçada? São situações diferentes.
Abraço
Espero que estejas bem
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
Na tabela ainda não apresentava valores para granadas e tubos/aparelhos de lançamento Strela.
As terríveis minas A/C ou A/P deveriam ter um valor mais elevado, por o mal que faziam.
Não me recordo se o 3º. Peltão da nossa CART11 recebeu algum patacão pela Simonov, dez granadas de RPG e muitas munições 7,62 deixados no terreno pelo IN quando da emboscada nocturna de Sinchã Lali, talvez o Abílio Duarte se lembre.
A primeira foto é toda moderna, já com um detector com deve ser que até apanhava alguma moeda de dez pesos.
A mina A/C retirada ainda dentro do cunhete era das potentes, só assim podia ser transporta devido ao peso e era armada dentro do caixote.
O duplo rodado da frente na GMC rebenta-minas nunca tinha visto. A GMC tem o rodado da frente mais estreito que o duplo rodado traseiro e dos Unimogs. A mina que atingiu a nossa GMC foi no rodado traseiro.
Valdemar Queiroz
p.s. o que havemos de fazer, ainda não está tempo de praia para falar da nova moda de biquínis.
Como editor fico entusiasmado por ver que este posite está a dar alguma pica, pelo número de comentários...
Vocês estão a imaginar um rebenta-minas como aquela GMC com doze rodas, três rodados duplos, dois atrás e um à frente ?!...
Lembro-me de o ver a andar em Bambadinca, não sei é se o condutor conseguia manobrar o guiador, virar para a esquerda e para a direita!... Nao me lembro de o ver em colunas logisticas, era só para a "reinação" Enfim, a maluqueira que o pessoal da ferrugem fazia com as viaturas automóveis... Algumas eram "canibalizadas", levando peças que se ia buscar à sucata (que era coisa que não faltava nos nossos quartéis).
Pedro Marquês de Sousa (Comentário de hoje, no Facebook da Tabanca Grande Luís Graça):
Durante o ano de 1973 foram detectadas 750 minas implantadas pelo PAIGC.Em Moçambique esta ameaça (minas) era ainda maior do que na Guiné, pois no mesmo ano (1973) temos o registo de mais de 2000 colocadas pela FRELIMO das quais 665 foram detonadas pelas nossas tropas (uma média de 55 minas detonadas por mês).Páginas 174 , 184 e 185 do meu livro.
Nota do editor LG: o ten cor na reserva, Pedro Marquês de Sousa, doutorado em história pela FCSH / Universidade NOVA de Lisboa (2014),é autor do livro "Os números da Guerra de África"(Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, 381 pp.).
Veja-se o poste de 22 DE JULHO DE 2022
Guiné 61/74 - P23450: A nossa guerra em números (18): o consumo de munições e granadas pelo exército
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2022/07/guine-6174-p23450-nossa-guerra-em.html
Pedro Marquês de Sousa, no seu livro "Os números da Guerra de África"(Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, 381 pp.), dá-nos algumas "dicas" sobre o consumo de minas A/C e A/P por parte das NT em Moçambique:
(i) para o ano de 1972, aqui vai um resumo das quantidades das principais munições e granadas fornecidas, em milhares de unidades (por arredondamento por excesso ou defeito) (Adaptado por nós, op cit, pág.301):
Munições 7,62 mm > 2152,3
Granadas de mão defensivas > 4,2
Granadas de mão ofensivas > 41,8
Granadas de morteiro 60 mm > 6,3
Granada de morteiro 81 mm > 5,7
Minas A/P (antipessoais) > 43,2
(ii) estranhamente, os consumos de minas nos anos de 1970 e 1971, em milhares, são muito díspares:
Minas A/C: 0,5 (1970) | (-) (1971)
Minas A/P:1,3 (1970) | 50,7 (1971)
Obviamente, as NT usavam muito mais das minas A/P do que as minas A/C...
Nos últimos anos, parece que a mina A/C já era paga a 3 contos!...
Vd. poste de 7 DE MAIO DE 2009
Guiné 63/74 - P4299: Histórias de Juvenal Candeias (1): Pirofobia ou a mina que não rebentou por simpatia
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/05/guine-6374-p4299-historias-de-juvenal.html
(...) De novo a caminho, que Cacoca já não estava longe, sendo atingida por volta das 14 horas! A paisagem era desoladora! Qual farwest! Ao fundo os edifícios em completa ruína, antes deles a pista de aviação, de terra batida e completamente esburacada, o capim a crescer por todo o lado!... O tempo de observação foi curto… alguém clamou… miiiiiina!
A mensagem passou rápido, da frente para trás, e toda a gente parou, instalando-se em posição de defesa! Os especialistas na matéria, entre os quais o graduado dos milícias, Sarifo de seu nome, mas popularmente conhecido por “Xerife”, para quem as minas eram como ratoeiras, tal a facilidade com que as levantava, avançaram, de pica em riste, pesquisando o terreno que iam pisar!
O prémio era tentador! O Estado pagava 1000 pesos (o escudo da Guiné!) por mina anti-pessoal levantada, 3000 por mina anti-carro. Boa oportunidade para aumentar os parcos rendimentos! E afinal… não era apenas uma mina, havia mais, tratava-se de um campo de minas, instalado na pista de aviação, ao que consta por rumores chegados ao PAIGC de que os tugas iam reactivar o aquartelamento de Cacoca! Ai! A contra-informação a funcionar!... (...)
Caros Camaradas
Segundo corria no meu tempo, o que rendia eram as minas A/P a 1000 pesos, a mina A/C a 3000 pesos e as rampas de foguetões ou os foguetões 120mm a 5000 pesos.
Do rendimento obtido com as apreensões em minas e armas, foi decidido pelos graduados da minha companhia (CCAÇ3491), distribuir o pecúlio resultante (que já não recordo quanto) pelos praças. deve ter dado para umas cervejas e umas ostras em Bissau antes do regresso. Levantei uma A/P, com os cuidados devidos (estava colocada no meio de uma picada, na zona onde o IN colocara, meses antes, uma mina A/C que matou elementos da CCAÇ2700, que nos antecederam no Dulombi.
Abraço
Luís Dias
Camarada e Amigo Vinhal
De facto, no relatório dessa operação, no material capturado, constam as granadas de canhão sem recuo de que falas. Agora se houve recebimento por isso,desconheço.
De notar, que poucos dias depois disso, o Major lá me despachou para Bissau, afim de seguir para Teixeira Pinto e não passei contas a quem ficou. O Honesto e íntegro 1.º Sargento madeirense muito deve ter "passado" e assumido a responsabilidade, com tantas mudanças de comando...
Abraço
Jorge Picado
Amigo Jorge
O primeiro sargento que referes era o açoriano João Rita de quem continuei amigo até à sua morte.
Era na verdade um homem fora de série e honesto tanto quanto se percebia pelo seu comportamento no dia a dia.
Abraço
Carlos Vinhal
Caro Carlos Vinhal, meu amigo
Pois a pergunta é interessante, mas não te sei responder pois já não me lembro se a granada, (que estava debaixo da mina), estava ligada à mina ou se era para explodir por "simpatia".
Por email envio-te uma fotografia que julgo no entanto estar aqui no blog.
Um grande e amigo abraço
Joaquim Mexia Alves
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