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sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26374: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (32): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte VII: O adeus a Bissau


Foto nº 19 >  O último adeus a Bissau



Foto nº 20 > Já no Atlàntico, em mar alto... O Virgílio Teixeira, ao centro, nesta foto de grupo



Foto nº 12 > Um contratempo: uma lancha da Marinmha vem buscar um militar a bordo...


Foto nº 13 > Uma hora depois, o militar regressa, na mesma lancha da Marinha...






Foto nº 14, 14A e 14B > Partida do Uíge, vista de Bissau Velho


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


1. Texto de Virgílio Teixeira (Continuação) (*)


Agora e depois de ver todo o filme da nossa partida de Bissau, vou comentar algumas fotos e cenas (*)

 
Parte I  -  A nossa partida, Bissau, 4 ago69

Continuando, na saída de Bissau, já estamos dentro do navio e por volta das 12 horas, quando se preparava o apito de partida, aparece uma lancha da qual tirei foto (Foto nº 12). Vieram uns capangas e levaram um aferes miliciano para o QG!... Um alferes cujo nome oculto.

Passadas menos de uma hora lá vem a mesma lancha com o dito, que entrou no Uíge sem nada dizer. Está retratado noutra foto (Foto nº 13(.

Eu sei a história, mas peço desculpa de não a contar, são regras básicas. Esta cena era impensável de acontecer. Mas aconteceu. Um navio com 700 homens a bordo, esperou uma hora para que um militar fosse a terra resolver alguma coisa que estava mal resolvida...

Dentro do Uíge já presentia que algo iria acontecer, pois esse companheiro e já amigo do Porto do tempo de escola, passou a manhã toda virado para mim e perguntava: "E se nos vêm buscar? ".

Muitissimas vezes, até que lhe perguntava porquê, sem respostas. E insistia sempre no plural, eu disse que "a mim ninguém me vem buscar!",,,

Continuando a viagem.


Foto nº 16 > O heli do Spínola,
 sobrevoando o T/T Uíge

Às 13 horas o navio Uige de T/T apita porque vai zarpar, começa a abandonar Bissau, a cidade a ficar mais longe (Foto nº 14), o heli do Spinola  a sobrevoar o navio (Foto nº 16), acompanhado com um bombardeiro T6 para protecção e mais o helicanhão. Várias fotografias anexas.

Tudo está retratado em fotos, que são a minha última despedida daquela terra.

Na primeira refeição a bordo, com o balouçar do navio, tive de correr, pois toda a comida foi borda fora. 
A primeira e única vez, nunca mais me lembrei disso. Era o meu baptismo de cruzeiro.

Em relação às fotos impensáveis, "todos ao molho e fé em Deus" (**), o que vim a saber depois, e agora parece que tem lógica depois das observações pertinentes do Luí e Valdemar, vendo agora melhor e com alta resolução e aumento, percebe-se que o pessoal nas lanchas anda atrapalhado com as malas e afins.

O pessoal do meu Batalhão depois da entrega das instalações em S.Domingos ao novo Batalhão que foi render o nosso, foi para Cacheu onde estiveram uns dias. Na viagem na LDG foi chuva toda a noite, e por isso acho que andam a ver se ainda alguma coisa resta em estado normal.

Eu não vim nessa viagem, já estava em Bissau, e nessa noite em que as nossas tropas faziam as deslocações no Rio Cacheu, eu já estava bem instalado em camarotes individuais , jantar de luxo, bar aberto e música de piano, e o jogo para quem gostava.

Tomamos todas as refeições nos 7 dias (3 a 9 de agosto de 1969) na mesa do comissário de bordo, Eduardo António de Ayala Monteiro. Éramos 6 e ao meu lado tinha o major José Manuel Barros Adão que comandava a força expedicionária rumo a suas casas. Era o comandante do BCAÇ 1932.

Embarcaram no Sal e outro sítio de Cabo Verde , e depois em Bissau as seguintes personagens.

- 1ª classe 47 pax
- 2ª classe 105 pax
- 3ª classe 539 pax

Total 691 militares e algumas famílias .

Ainda sobre algumas dúvidas, neste embarque veio do BCAÇ 1933 a CCS, a CC1790 e CCAÇ 1791. Quanto à CCAÇ 1792 nunca esteve juntamente com o seu comando. Foi para a Guiné um mês depois e veio um mês mais tarde.

Do BCAÇ 1932, vinha a CCS e algumas companhias que nunca soube quais eram.

Durante a viagem foi só apanhar sol (Fotos nº 19 e 20), à noite no terraço ver o mar e estrelas, enquanto que a maioria passava o tempo na jogatina, coisa que nunca pratiquei por não saber, nem me puxar.

Mas, ainda tinha um frete pela frente, nas 6 noites com o pessoal a bordo. Ao terceiro dia ou quarto, fui escalado para Oficial de dia no Uíge. Tanta malta para fazer esse serviço e porque me calhou a mim? Não foi fácil, pois além dos trabalhos normais, que todos conhecem, tinha de assistir às refeiçoes a bordo, pequeno almoço, almoço e jantar.


Foto nº 21 > Um navio (petroleiro)
 rumo ao sul

Ao almoço acontece o impensável. Um levantamento de rancho! Já tinha essa experiência quando nos Adidos em Brá acontece-me o mesmo, mas com o pessoal todo marado e eram centenas. Consegui resolver.
Neste caso e apelando à compreensão dos militares, que isso só iria me prejudicar e eles nada ganhavam com essa greve. Muitos soldados e cabos da minha CCS, com quem tinha laços de amizade e convívio, nas jantaradas que se organizaram ao longo da comissão, as coisas acalmaram e já pude ir dormir descansado.

Só pensava se aquilo corresse para o torto, 
teria de fazer relatórios e não sei que mais, e só me ia complicar a minha chegada e passagem à disponibiidade. Tudo acabou em bem, felizmente.

No quinto ou sexto dia, no alto mar esgotei a última foto dos rolos numa imagem de outro barco a navegar rumo a Sul. Para onde? (Foto nº 21).

Teria tanta foto para tirar se tivesse mais rolos mas esgotei com tudo, incluindo um a preto e branco, nem para a chegada tive a oportunidade de fazer uma fotos.

Fica para a próxima expedição.
 


Foto nº 31 > T/T Uíge: 5 ago 69 > Jantar
à mesa do comandante; o Virgílio, ao fundo, de óculos,
do lado direito

Parte II - O jantar de despedida do  dia 8 de agosto de 1969(**)


Um jantar excecional com farda a rigor, a surpresa da noite foi a entrada de vários funcionários de mesa, com as bandejas e o Peru assado à Condestável, com velas e outrascoisas, dançavam enquanto desciam rumo às mesas. Não dá para esquecer. Nunca tinha andado de cruzeiros ou barcos desta dimensão, era o meu baptismo, imperdoável.

Com musica, a Sinfonia nº 9 de Gelinka e Schubert. (**)

Depois os copos no bar e para quem queria havia musica para dançar se houvesse companhia feminina, e havia algumas senhoras.

Na noite do dia 9 de agosto de 1969 foi jantar normal, e dia 10 às 8h da manhã já se via o Cais de Alcântara e Lisboa. (ou Rocha do Conde de Obidos?)

As cerimónias e tudo o resto que a grande maioria já sabe. Eu até gosto disto, militarista.

Eu tinha à espera a minha namorada (minha mulher ainda), minha irmã e marido que a acompanharam, ela afinal tinha apenas 21 anos.

O nosso Tesoureiro tinha a mulher e filho de 2 anos à espera, e combinamos os 4 almoçar a um Restaurante que visitei sempre que ia apanhar avião para a Guiné.

Em 19set67, quando o avião militar DC6 não levantou voo e fiquei numa pensão (na Ajuda ou Anjos, julgo eu, desaguava em Almirante Torres) apanhava o eléctrico e depois de manhã cedo peguei um Taxi para Figo Maduro).

Mais tarde, nas primeiras férias, quando regressei em inícios de julho de 68;

Depois e finalmente, no final das ultimas férias em abril de 69.

Voltaria mais tarde, quando iniciei as minhas viagens para a Guiné Bissau, 4 no total.

O Restaurante Escorial , na Rua das Portas de Santo Antão, mais duas lojas acima do famoso Gambrinus, onde num jantar do dia 10 de agosto 99, data da minha chegada em 69, encontrei o nosso "Marocas", Mário Soares e familia (mulher, filho e filha).

O Escorial era já nesse tempo um restaurante de Luxo, almoçamos em 10 de agosto 69 os quatro, e mais a criança de dois anos e tal, filho do Tesoureiro. Eu comi sempre Bacalhau
assado na brasa com os respectivos acompanhamentos, o vinho nessa altura devia ser Verde Branco , mas não de lembro e finalmente uma conta sempre de respeito.

De seguida fomos de táxi para Tomar, a tropa foi de comboio e chegamos ao mesmo tempo.

Feito o espólio, recebemos a massa, e uma guia de marcha com data da peluda para o dia quatro de setembro, dia em que passei oficiosamente à disponibiidade.

No dia 11 de agosto já andava à procura do meu carro, na época os Mini 1000.  E ainda nesse mês já tinha ido ao chapeiro arranjar o carro com uma pequena batida. 

A 11 de março de 1971, tinha a minha filha, a primeira, 7 dias e já tive o acidente que marcou o fim do MINI. 

(Revisão / fixação de texto, seleção e reedição das fotos: LG)

______________


(**) Vd-. poste de 25 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26309: Os nossos regressos (42): Vim com o meu batalhão em 4/8/1969 no T/T Uíge (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26309: Os nossos regressos (42): Vim com o meu batalhão em 4/8/1969 no T/T Uíge (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


O T/T Império, da Companhia Colonial de Navegação, que a caminho de Moçambique com 1400 militares sofreu um grave acidente, um rombo, na casa das máquinas tendo ficado à deriva durante 3 dias. Ainda hoje não se sabe se foi um ato de sabotagem... Era então comandado pelo Óscar Fraústo de Oliveira Guimarães,  o oficial da marinha mercante que trouxe o T/T Uíge, de Bissau até Lisboa, em 4 de agosto de 1969 (nele tendo viajado o nosso camarada Virgílio Teixeira e o seu batalhão, o BCAÇ 1933).

(Fonte: Navios à Vista > 26 de junho de 2011 >  Paquete Português "Império" - 1948/74.)














T/T Uíge, viagem de regresso de Bissau a Lisboa > Festa de despedida a bordo, em 8 de agosto de 1969.


Fotos (e legenda): © Virgílio Teixeira (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. Mensagem, enviada em 21 do corrente, às 15:46, 
do Virgílio Teixeira (ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):

Olá,  Luis

Bom regresso às terras nortenhas.

(...) Junto envio a lista dos militares que viajaram comigo no T/T Uíge, no regresso a casa, bem como o programa da festa de despedida, a bordo, em 8 de agosto de 1969.

Entre os passageiros da 1ª classe estava o capitão Robles, figura afamada na Guiné, no meu tem
po (...) [ adjunto do comandante da 15.ª Companhia de Comandos, 1968/69],

Nunca o conheci pessoalmente. (...) Também não me lembro dele a bordo. Sei que depois foi para Tavira. (..:.)

O tempo está frio mas não consta a chuva.

Abraço, Virgilio

 

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Virgílio. Confirma-se, sem qualquer margem para dúvida,  que o teu regresso foi a 4 de agosto de 1969 e não a 10 (*). 

O Fernando Robles (bem como o Trotil) foi um dos instrutores militares conhecidos dos instruendos que passaram pelo CISMI de Tavira. Eu estive no último turno de 1968, já não apanhei o cap Robles, hoje cor inf, com 84 anos. (E o Trotil não sei quem era; do Robles contavam-se histórias do início da guerra de Angola; o que eu não sabia é que ele tinha começado a sua carreira militar como alferes miliciano.)

Viajou também contigo o médico do teu batalhão, Carlos Parreira Pinto Cortez, mais tarde psiquiatra, bem como a esposa, um casal com quem conviveste em Nova Lamego. Mas será que era capitão nessa altura ? Pareve haver um erro na lista dos passageiros de 1ª  classe: há 3 capitães milicianos médicos: além do teu, o João Martins Barata Crespo (mais tarde, médico de família, no centro de saúde de  Rio de Moura, e que já terá falecido) e  o Horácio David Garcia (mais tarde, ginecologista,com consultório privado em Lisboa).

Viajou ainda contigo um capitão, que eu iria conhecer, passados uns meses, em Fá Mandinga, como instrutor da Companhia de Comandos Africanos,  o cap art cmd Octávio Emanuel Barbosa Henriques, e grander amigo do nosso saudoso "Alfero Cabral". (Infelizmente, ambos já morreram; o Barbosa Henriques, que era de origem cabo-verdiana, tem nove referências no nosso blogue.)

Virgílio, lá foram todos a caminho de Lisboa (passando por Cabo Verde, ilha de Santiago e ilha do Sal) em ambiente festivo, ao som da famosa  Kamarinskaya, do  composityor russo Mikhail Ivanovich Glinka  (1804 – 1857)...

Não sei se havia mais gente conhecida. O comandante  de bandeira,  o capitão-de-mar e guerra Antóniio Malheiro  Júlio do Vale,já morreu há muito com o posto de  almirante reformado (1911-1997).

Uma curiosidade: o comandante do navio que te trouxe, Óscar Fraústo de Oliveira Guimarães, comandaria,  cinco meses depois, o T/T  Império, da Companhia Colonial Navegação, quando em 9 de janeiro de 1970, aconteceu um acidente grave :

 (...) Sofreu "um rombo na casa das máquinas, que originou enorme entrada de água, que acabou por inundar e paralisar as máquinas, e como tal a vida quotidiana a bordo ficou insuportável, quando aquele paquete se encontrava a quatro dias de viagem e a 400 mn de Cabo Verde, mais propriamente a 150 mn a sul de Dakar."

Transportava 1400 militares. Ainda hoje se discute se foi sabotagem ou acidente. Andou à deriva mais de 3 dias:

 (...) 
Chegado um rebocador de nacionalidade Grega, da Tsavliris, foi por este rebocado para o porto do Mindelo, no arquipélago de Cabo Verde, onde arribou passados cerca de seis dias, com o pessoal a bordo em desespero, particularmente a tropa, que dias depois seguiu para Moçambique no paquete Niassa. 

O paquete acidentado regressou a Lisboa rebocado pelo salvadego Holandês Jacob  Van Heemskerck, da NV. Bureau Wijsmuller, de Ijmuiden, e daí dias mais tarde seguiu para os estaleiros de Glasgow para reparações finais; pelos seus próprios meios" (...) (Fonte: Navios à Vista > 26 de junho de 2011 >  Paquete Português "Império" - 1948/74.)

Obrigado, Virgílio, pelos documentos que nos mandaste. São interessantes para a série "Os Nossos Regressos" (**)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26271: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (30): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IV: o embarque, no T/T Uíge, de regresso a casa, em agosto de 1969


Foto nº 1


Foto nº 1A


Foto nº 1B


Foto nº 2


Foto nº 2A


Foto nº 3


Foto nº 3A


Foto nº 3B


Foto nº 3C



Foto nº 3D



Foto nº 3 E


Guiné > Bissau > 4 (ou 20 ?) de agosto de 1969 > Zona portuária > Fotos, tiradas do T/T Uíge, na viagem de regresso a casa dos BCAÇ 1933 e 1932.


Fotos (e legenda): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. Fotos fabulosas do nosso camarada Vírgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM,CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) que estava no sítio certo na altura certa, a preparar o embarque dos seus camaradas, no T/T Uíge, de regresso à Metróple, em agosto de 1969 (ele diz que foi a 4, eu aponto para 20)..

Escreveu ele (*):

Tenho uma série destas fotos... É o dia 4 de agosto de 1969, o dia da saída da Guiné. Eu tinha passado a noite anterior no Uige, e por isso de manhã cedo estava de pé.

(...) Esta série de fotos que tenho da chegada das lanchas a encostarem ao Uige e depois a serem içadas  [as nossas malas], são realmente uma questão de sorte, eu estar no sitio certo à hora certa. 

Nenhum dos protagonistas, éramos cerca de 700 militares, conhece estas fotos, muitos vão rever-se nelas, um dia que as possam ver. 

(...) Fotografei a chegada, o içar da carga para o barco, um momento inesquecível, e como foi tirada com os 'slides', só foram revelados em Agosto e iam para França, e assim ficaram quase 50 anos. 

Nunca ninguém do BCAÇ 1933 e BCAÇ 1932 e outras Companhias e Pelotões, as viu, muitos poderão agora recordar a sua chegada em 4 de Agosto e entrada para o Uige, naquelas condições degradantes. " (...)

2. Comentário do editor Luís Graça;

Virgílio, as fotos são fabulosas!... Obrigado merecem "bis"! (**)... Mas há aqui um pequeno "desfasamento" de datas, tens que confirmar nos seus "canhenhos".

Tu dizes que foi a 4 de agosto de 1969 o vosso embarque; a CECA (livro 7, 2002) diz que o embarque do BCAÇ 1933 (pág. 101), do BCAÇ 1932 (pág. 98), bem como da CCAÇ 1801 (pág. 365), foi a "20Ago69", duas semanas depois... 

Não é relevante.  (A CECA não é a Bìblia, e também esta não pode ser levada à letra,  e só faz fé para os crentes: recorde-se que, segundo a Bíblia, a terra teria sido criada há 6 mil anos... Ora a Ciência aponta para os 4,5 mil milhões de anos.)

De qualquer modo,  não enccontrei nenhum embarque a 4 de agosto de 1969 patra o CTIG. Nesta data o BCAÇ 1932 foi substituído pelo COP 3, seguindo depois para Bissau para aí aguardar embarque. O mesmo aconteceu com o teu BCAÇ 1933, rendido pelo BCAç 2876, em 1 de agosto de 1969... As vossas companhias, CCAÇ 1790, 1791 e 1792 devem ter embarcado com o comando e a CCS n0 mesmo dia. O mesmo terá acontecido com o BCAÇ 1932, as CCAÇ 1789, 1788 e 1787. Quanto à CCaç 1801, essa era "independente".

Fonte: Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002.
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  20 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18109: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: Foto tirada do T/T Uíge, no nosso regresso, em 4/8/1969: vê-se o T/T Rita Maria atracado na ponte-cais de Bissau, e uma lancha da marinha que nos veio trazer o último militar a embarcar.

(**) Último poste da série > 2 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26225: Por onde páram os nossos fotógrafos ? (29): Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: São Domingos ou a "Guiné para os guinéus"...

domingo, 24 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26188: Cem pesos, manga de patacão, pessoal ! (9): uma viagem na TAP, de Bissau a Lisboa, em finais de 1970, custaria hoje c. 1450 euros (Valdemar Queiroz); uma viagem de férias (ida e volta), c. 1900 euros, em fevereiro de 1971 (Carlos Vinhal)



Bilhete de avião de regresso a Lisboa, em 18 de dezembro de 1970


Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Terminada a comissão,  o Valdemar Queiroz, que era de rendição individual (como todos os outros graduados e praças esepcialistas da CART 11), foi para Bissau onde gastou os últimos "pesos" (o patacão da guerra) e tomou o avião da TAP de regresso a casa, em 18/12/1970, como se pode comprovar no documento acima reproduzido.  

O bilhete,como era só de ida, custou-lhe a módica quantia de 4740 escudos, incluindo 80$00 (que deve ser o imposto de selo e  a taxa... "aeroportuária"). Lá se ia, quase todo, o "patacão" de um mês...




Recibo (?) nº 453, emitido pela agência de viagens Fernando S. Costa, Bissau, 13 de fevereiro de 1971

Foto (e legenda): © Carlos Vinhal (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Já o nosso coeditor Carlos Vinhal (fur mil art MA, CART 2732, Mansabá,1970/72, SPM 1388) veio de férias, em 15 de fevereiro de 1971, e pagou à agência de viagens Fernando S. Correia a importância de 6430$80 (vd. documento acima). 

Não sabemos se nesse valor estava incluído o preço da ligação aérea Lisboa-Porto (nem a comissão da agência).  De qualquer modo, para ir de férias, um furriel miliciano tinha que desembolsar mais do que o que ganhava num só mês.
 

3. Quanto valeria hoje esse patacão ?

(i) 4340$00 (em 1970) seriam hoje 1455 euros (!) (uma roubalheira ?);

(ii) 6430$80 (em 1971) equivaleriam  hoje a 1944 euros...

Fonte: Pordata > Simuladores > Simulador de Inflação > Quanto vale hoje o dinheiro do passado ?

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26187: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (8): uma viagem, de avioneta, nos TAGP, de São Domingos a Bissau, em 22/2/69, custava 224 escudos (ou "pesos"), o equivalente hoje a 70 euros (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

domingo, 17 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24966: Efemérides (422): A minha despedida da Guiné faz hoje, dia 15 de Dezembro, cinquenta anos (Ramiro Jesus, ex-Fur Mil Comando)

1. Mensagem do nosso camarada Ramiro Jesus (ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73), com data de 15 de Dezembro de 2023:

Venho, hoje, comemorar a minha despedida da Guiné, que aconteceu faz hoje cinquenta anos.

Foi, como calcularão todos os que por lá passaram, um dos dias mais felizes que vivi até àquela data.

Agora, passado meio século e com o "peso" das memórias e dos Dezembros, há, no entanto, um sentimento de nostalgia, quando revejo as imagens que relembram tudo o que ali foi vivido, como sejam aquelas que anexo e que foram tiradas já de dentro do NIASSA, assim que começou a deslizar pelo Geba e já no mar, entre as Ilhas Canárias.

O pior foi a partir dali, pois, com o mau tempo e os estômagos em bandoleira, por causa da ração de combate, poucos conseguiam comer e segurar as refeições.

Quando desembarcámos (já no dia 23, depois da chegada ao Tejo na noite de 22), parecíamos chineses ou japoneses, de raça amarela, portanto.

Boas-Festas e um alfa bravo para todos os vitor, eco, tango, eco, rómio, alfa, november, oscar, sierra (veteranos)!

Ramiro Jesus


15 de dezembro de 1973: adeus, Guiné!

Fotos: © Ramiro Jesus (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE DEZEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24913: Efemérides (421): À beira de fazer 52 anos do embarque do BCAÇ 3872 para a Guiné, admiro-me hoje da forma complacente com que encarei a viagem bem como o destino (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24629: Convívios (971): CCAÇ 3398 (Buba, 1971/73): Cinquentenário do regresso, Freiriz, Vila Verde, 2set2023 (Joaquim Pinto Carvalho)



Infografia: Joaquim Pinto Carvalho (2023)


1. Realizou-se em Freiriz, Vila Verde, distrito de Braga, em 2 do corrente, o anunciado convívio do pessoal da CCAÇ 3398 / BCAÇ 3852, "Incendiários" (Buba, 1971/73) (*), com a presença de cerca de 3 dezenas de ex-combatentes, a que se juntaram familiares (**). 

Não faltou como sempre o antigo cap inf Filipe Ferreira Lopes, hoje cor inf ref, que também passou pela CCAÇ 1788, 1967/69, como alferes QP, tendo substituído temporariamente o cap inf Artur Manuel Carneiro Geraldes Nunes (1934-1968), morto em combate.

Por ocasião deste convívio dos 50 anos do regresso dos "Incendiários", o nosso camarada e amigo Joaquim Pinto Carvalho,   mostrou mais uma vez os seus dotes musicais e poéticos. Ficam aqui, para "memória futura", três textos da sua autoria,  lidos (o soneto "Regressurreição" e a "Ode Alegre do Regresso") ou cantados,  durante a jornada (a letra do hino "Incendiário"). 

O Joaquim Pinto Carvalho, que tem mais de 60 referências no nosso blogue, e é membro nº 633 da Tabanca Grande; foi alf mil da CCAÇ 3398 (Buba) e CCAÇ 6 (Bedanda) (1971/73); natural do Cadaval, é advogado, poeta e régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã; é autor ainda  de uma brochura com a história da unidade, a CCAÇ 3398, distribuída no respetivo XXV Convívio, realizado no Cadaval, em 18/9/2021.





“INCENDIÁRIO”

(letra adaptada à música da cantiga popular do cancioneiro minhoto “Laurindinha”; autoria: Joaquim Pinto Carvalho,


Ó “incendiário” que foste à guerra

Ó “incendiário” que foste à guerra

E que regressaste ai-ai-ai vivo à tua terra ai-ai-ai

E que regressaste ai-ai-ai vivo à tua terra

 

Vivo à tua terra de que foste um dia

Vivo à tua terra de que foste um dia

Para assentar praça ai-ai-ai nesta companhia ai-ai-ai

Para assentar praça ai-ai-ai nesta companhia

 

Nesta companhia lá no BC 10

Nesta companhia lá no BC 10

Depois o Niassa ai-ai-ai levou-te à Guiné ai-ai-ai

Depois o Niassa ai-ai-ai levou-te à Guiné

 

Levou-te à Guiné, foste “periquito”

Levou-te à Guiné, foste “periquito”

Nas terras de Buba ai-ai-ai havia mosquito ai-ai-ai

Nas terras de Buba ai-ai-ai havia mosquito

 

Havia mosquito e muita bolanha

Havia mosquito e muita bolanha

Mas naquela guerra ai-ai-ai já ninguém te apanha ai-ai-ai

Mas naquela guerra ai-ai-ai já ninguém te apanha

 

Já ninguém te apanha já ninguém te quer

Já ninguém te apanha já ninguém te quer

É na tua terra ai-ai-ai  é que é bom viver ai-ai-ai

É na tua terra ai-ai-ai  é que é bom viver 

 

É que é bom viver e ter alegria

É que é bom viver e ter alegria

E sem esquecer ai-ai-ai a nossa companhia ai-ai-ai

E sem esquecer ai-ai-ai a nossa companhia

 

A nossa companhia - a dos “incendiários”

A nossa companhia  - a dos “incendiários”

Que está de parabéns ai-ai-ai neste cinquentenário ai- ai-ai 

Que está de parabéns ai-ai-ai neste cinquentenário



(Música: Oh Laurindinha, canção tradicional popular. Há várias interpretações musicais no You Tube. Ver por exemplo aqui: Sons da Terra - "Laurindinha" & "Ouvi o Passarinho"RTP - A Festa é Nossa (Manteigas) 18 Fevereiro 2012) (com a devida vénia...)


Oh Laurindinha, vem à janela.
Oh Laurindinha, vem à janela.
Ver o teu amor, (ai ai ai) que ele vai p'ra guerra.
Ver o teu amor, (ai ai ai) que ele vai p´ra guerra.

Se ele vai pra guerra, deixá-lo ir.
Se ele vai pra guerra, deixá-lo ir.
Ele é rapaz novo, (ai ai ai) ele torna a vir.
Ele é rapaz novo, (ai ai ai) ele torna a vir.

Ele torna a vir, se Deus quiser.
Ele torna a vir, se Deus quiser.
Ainda vem a tempo, (ai ai ai) de arranjar mulher.
Ainda vem a tempo (ai ai ai) de arranjar mulher.

Ele torna a vir, se Deus quiser.
Ele torna a vir, se Deus quiser.
Ainda vem a tempo, (ai ai ai) de arranjar mulher.
Ainda vem a tempo (ai ai ai) de arranjar mulher.
Ainda vem a tempo, (ai ai ai) de arranjar mulher.
Ainda vem a tempo (ai ai ai) de arranjar mulher.
Ainda vem a tempo, (ai ai ai) de arranjar mulher.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23759: Mi querido blog, por qué no te callas?! (8): É como a ponte, que atravessámos duas vezes, a maior parte de nós, "ao p'ra lá e ao p'ra cá": parece que treme, mas não cai...


Lisboa > Março de 2007 > A Ponte 25 de Abril, sobre o Rio Tejo (Ponte Salazar, até ao 25 de Abril de 1974), reflectida sobre a fachada de vidro de um dos edifícios da Administração do Porto de Lisboa... Parece que treme mas não cai...

Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa >  Junho de 1970 > A ponte sobre o Rio Tejo e o Cristo Rei, na margem esquerda... Em 1970, a febre da construção na outra banda já tinha começado, mas o Cristo Rei ainda era uma figura solitária na paisagem... Foto, sem legenda, do álbum do Otacílio Luz Henriques, 1.º cabo bate-chapas,  CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). 

Foto: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa > 8/1/1964 > A ponte sobre o Rio Tejo, em construção: imagem do pilar norte, tirada do T/T Quanza. Uma foto notável com esta obra, emblemátca do Estado Novo, cuja construção demorou 3 anos e meio (novembro de 1962 a agosto de 1966): no regresso, o BCAÇ 619 já passou sob o tabuleiro da  Ponte Salazar... Foto do álbum  de Carlos Alberto Cruz , ex-fur mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió e Cachil,  1964/66)

Foto (e legenda): © Carlos Alberto Cruz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa > Cais da Rocha Conde Óbidos> 18 de agosto de 1965> Embarque do pessoal da CCAÇ 1426 e de outras unidades para o TO Guiné, no T/T Niassa; ao fundo a ponte sobre o Tejo ainda em construção, não estando ligados as diferentes secções do tabuleiro... (Seria inaugurada um ano depois, em 6 de agosto de 1966.)

Foto: © Fernando Chapouto (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa > 29 de maio de 2012 > Ponte sobre o Rio Tejo > Iniciada a sua construção em 5 de novembro de 1962, foi inaugurada em 6 de agosto de 1966... Ainda havia, em 1962, montes de golfinhos no Tejo e centenas de fragatas e outras embarcações à vela... A contentorização do transporte de mercadorias marítimas  e o fim da estiva manual marcaram o seu fim... 

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa > Rio Tejo > 5/11/2011 > Pôr do sol no Atlântico, visto do estuário do Tejo, em Belém, junto ao Museu do Combatente (Forte do Bom Sucesso).

Foto: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Os mais velhos da geração da guerra colonial / guerra do ultramar / guerra de África viram-na crescer, entre 1962 e 1966, à belíssima ponte sobre o Tejo. Foi uma das coqueluches da política de obras públicas do Estado Novo. Deram-lhe o nome do homem forte do regime de então, o Salazar (que seguramente nunca passou debaixo dela, como nós, que fomos combater em África, a seu mando).

A grande maioria dos antigos combatentes passou debaixo dela, duas vezes, de barco, na viagem com destino  a Angola, Moçambique ou Guiné, e depois no regresso à Pátria... "Ao p'ra lá e ao pr'a cá", como diria o "caçula" do meu cunhado nortenho, que foi parar a Angola, em 1970 (e o mais velho a Moçambique, em 1963, só escapou o do meio, que  era cambo... e ficou livre da tropa; o resto eram raparigas, e nenhuma se ofereceu para enfermeira paraquedista, embora o pai fosse patriota e tivesse vindo uma vez ao Terreiro do Paço, arrebanhado para um comício da União Nacional, dando vivas ao Marcello Caetano e ao Portugal pluricontinental e plurirracial).

A grande maioria de  nós fez esta viagem de regresso, por via marítima, de Bissau a Lisboa, no Niassa, no Uíge, nos navios da nossa marinha mercante postos ao serviço do transporte da tropa mobilizada para a guerra, lá longe, a milhares quilómetros de casa. Era com emoção que se avistava a barra do Tejo, o Bugio, Cascais, a Costa da Caparica, a Trafaria, a torre de Belém, os Jerónimos, a ponte, o Cristo Rei, o casario de Lisboa, os golfinhos, as frgatas, o  cais da Rocha de Conde de Óbidos, donde tínhamos partido, 22, 23, 24 meses antes...

A maioria de nós atravessou esta ponte duas vezes, mas a água que corria sob ela já não era mais a mesma.  Tal como nós, quando fomos e quando viemos, também já não éramos mais os mesmos... Ninguém sobrevive, impunemente, a uma guerra...

E depois lá se ia de comboio até à nossa unidade mobilizadora... Essa derradeira vaigem, paga pelo Estado, tinha um profundo significado: a passagem à peluda, as últimas despedidas, a promessa de nos voltarmos a ver e a abraçar, enfim,  o regresso, solitário, a casa, onde nos esperavam, em alvoroço, a família, os amigos, os vizinhos...  

O "day after", o dia seguinte, não era fácil, não foi fácil para muitos de nós...  Uma geração partida e repartida,  uns tomaram os caminhos da emigração, transatlântica  (Brasil, EUA, Canadá) ou transpirenaica (França, Alemanha)... Outros, deixaram as suas terras  de vez (as pacatas aldeias, vilórias e pequenas cidades do interior),  fixando-se na grande Lisboa e no grande Porto, procurando oportunidades de trabalho, prosseguindo os estudos, reconquistando em Abril a(s) liberdade(s) perdida(s),  constituindo família, descobrindo o prazer de viajar por essa Europa fora, agora com outra mochila e outros sonhos... 

"Cacimbados", "apanhados do clima", "estranhos", "envelhecidos", "mudados", "fechados, de poucas falas", "truculentos", "noctívagos", "bebendo e fumando em excesso"... eram expressões que trocávamos uns com os outros, ou que ouvíamos aos nossos amigos, familiares e vizinhos... a nosso respeito, depois do regresso.

A (re)adaptação, em muitos casos, não foi fácil, e levou o seu tempo... A maior parte casou, teve filhos e netos e tentou ser feliz... Mas nunca mais foi o mesmo, tal como a água do Tejo que passa sob a sua ponte...

 2. Enfim, há que lembrar, por mor da verdade,  que, a partir de 1972, 
 os TAM (Transportes Aéreos Militares) compraram dois Boeing 707 e a rapazida passou a chegar mais depressa aos teatros de operações, mas também a casa, no regresso,  os que tiveram a estrelinha da sorte (ou a "santinha da sua devoção" ) a protegê-los... 

Que a guerra os esperava e já se fazia tarde, diziam os maiorais, também eles já cansados da guerra... Mas as saudades de casa, da terra, da Pátria / Mátria / Fátria, também eram mais do que muitas... Houve quem não aguentasse a espera do avião dos TAM e se metesse no avião da TAP, pagando a passagem do seu bolso...

O nosso blogue tem a  veleidade (utópica?) ou a pretensão (ingénua?) de tentar juntar o maior número dos que ainda estão vivos e ajudá-los a reconstituir o puzzle das suas memórias da guerra (e da Guiné, muito em particular)... 

Teima, ao fim destes anos todos, em pô-los a contar as histórias dos seus verdes anos. E a partilhá-las, neste blogue. Que, tal como  sugere a primeira foto de cima, é como a ponte, parece que treme, mas não cai... 

Que os bons irãs da Tabanca Grande nos continuem a proteger. E que no final do próximo ano de 2023, posssamos dizer: chegámos à meta dos 900 (*). Mesmo sabendo que a picada  da vida é cada vez mais dura e perigosa, "cheia de minas e armadilhas"... 

Ah!, e que daqui a uns meses, lá para abril ou maio, quando chegar a primavera (se lá chegarmos), tenhamos ainda a soberana e humana vontade de nos encontrarmo-nos, no XV Encontro Nacional da Tabanca Grande, que, recorde-se,  até chegou a estar  marcado para Monte Real, em 2 de maio de... 2020. (LG)
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 8 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23684: Mi querido blog, por qué no te callas?! (7): Campanha dos 900 membros da Tabanca Grande até ao fim de 2023... Toca a "tocar o burro"... Porque, como diz o provérbio guineense, Buru tudu karga ki karga si ka sutadu i ka ta janti (O burro, com pouca ou muita carga, se não é açoitado, não anda)...