quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26309: Os nossos regressos (42): Vim com o meu batalhão em 4/8/1969 no T/T Uíge (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


O T/T Império, da Companhia Colonial de Navegação, que a caminho de Moçambique com 1400 militares sofreu um grave acidente, um rombo, na casa das máquinas tendo ficado à deriva durante 3 dias. Ainda hoje não se sabe se foi um ato de sabotagem... Era então comandado pelo Óscar Fraústo de Oliveira Guimarães,  o oficial da marinha mercante que trouxe o T/T Uíge, de Bissau até Lisboa, em 4 de agosto de 1969 (nele tendo viajado o nosso camarada Virgílio Teixeira e o seu batalhão, o BCAÇ 1933).

(Fonte: Navios à Vista > 26 de junho de 2011 >  Paquete Português "Império" - 1948/74.)














T/T Uíge, viagem de regresso de Bissau a Lisboa > Festa de despedida a bordo, em 8 de agosto de 1969.


Fotos (e legenda): © Virgílio Teixeira (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. Mensagem, enviada em 21 do corrente, às 15:46, 
do Virgílio Teixeira (ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):

Olá,  Luis

Bom regresso às terras nortenhas.

(...) Junto envio a lista dos militares que viajaram comigo no T/T Uíge, no regresso a casa, bem como o programa da festa de despedida, a bordo, em 8 de agosto de 1969.

Entre os passageiros da 1ª classe estava o capitão Robles, figura afamada na Guiné, no meu tem
po (...) [ adjunto do comandante da 15.ª Companhia de Comandos, 1968/69],

Nunca o conheci pessoalmente. (...) Também não me lembro dele a bordo. Sei que depois foi para Tavira. (..:.)

O tempo está frio mas não consta a chuva.

Abraço, Virgilio

 

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Virgílio. Confirma-se, sem qualquer margem para dúvida,  que o teu regresso foi a 4 de agosto de 1969 e não a 10 (*). 

O Fernando Robles (bem como o Trotil) foi um dos instrutores militares conhecidos dos instruendos que passaram pelo CISMI de Tavira. Eu estive no último turno de 1968, já não apanhei o cap Robles, hoje cor inf, com 84 anos. (E o Trotil não sei quem era; do Robles contavam-se histórias do início da guerra de Angola; o que eu não sabia é que ele tinha começado a sua carreira militar como alferes miliciano.)

Viajou também contigo o médico do teu batalhão, Carlos Parreira Pinto Cortez, mais tarde psiquiatra, bem como a esposa, um casal com quem conviveste em Nova Lamego. Mas será que era capitão nessa altura ? Pareve haver um erro na lista dos passageiros de 1ª  classe: há 3 capitães milicianos médicos: além do teu, o João Martins Barata Crespo (mais tarde, médico de família, no centro de saúde de  Rio de Moura, e que já terá falecido) e  o Horácio David Garcia (mais tarde, ginecologista,com consultório privado em Lisboa).

Viajou ainda contigo um capitão, que eu iria conhecer, passados uns meses, em Fá Mandinga, como instrutor da Companhia de Comandos Africanos,  o cap art cmd Octávio Emanuel Barbosa Henriques, e grander amigo do nosso saudoso "Alfero Cabral". (Infelizmente, ambos já morreram; o Barbosa Henriques, que era de origem cabo-verdiana, tem nove referências no nosso blogue.)

Virgílio, lá foram todos a caminho de Lisboa (passando por Cabo Verde, ilha de Santiago e ilha do Sal) em ambiente festivo, ao som da famosa  Kamarinskaya, do  composityor russo Mikhail Ivanovich Glinka  (1804 – 1857)...

Não sei se havia mais gente conhecida. O comandante  de bandeira,  o capitão-de-mar e guerra Antóniio Malheiro  Júlio do Vale,já morreu há muito com o posto de  almirante reformado (1911-1997).

Uma curiosidade: o comandante do navio que te trouxe, Óscar Fraústo de Oliveira Guimarães, comandaria,  cinco meses depois, o T/T  Império, da Companhia Colonial Navegação, quando em 9 de janeiro de 1970, aconteceu um acidente grave :

 (...) Sofreu "um rombo na casa das máquinas, que originou enorme entrada de água, que acabou por inundar e paralisar as máquinas, e como tal a vida quotidiana a bordo ficou insuportável, quando aquele paquete se encontrava a quatro dias de viagem e a 400 mn de Cabo Verde, mais propriamente a 150 mn a sul de Dakar."

Transportava 1400 militares. Ainda hoje se discute se foi sabotagem ou acidente. Andou à deriva mais de 3 dias:

 (...) 
Chegado um rebocador de nacionalidade Grega, da Tsavliris, foi por este rebocado para o porto do Mindelo, no arquipélago de Cabo Verde, onde arribou passados cerca de seis dias, com o pessoal a bordo em desespero, particularmente a tropa, que dias depois seguiu para Moçambique no paquete Niassa. 

O paquete acidentado regressou a Lisboa rebocado pelo salvadego Holandês Jacob  Van Heemskerck, da NV. Bureau Wijsmuller, de Ijmuiden, e daí dias mais tarde seguiu para os estaleiros de Glasgow para reparações finais; pelos seus próprios meios" (...) (Fonte: Navios à Vista > 26 de junho de 2011 >  Paquete Português "Império" - 1948/74.)

Obrigado, Virgílio, pelos documentos que nos mandaste. São interessantes para a série "Os Nossos Regressos" (**)

15 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vendo essa viagem, retrospetivamente, não de deixo de sorrir, com ironia: o navio era português, a bandeira a "verde-rubra", a música era russa (Glinka), inspirada no folclore ... ucranianio (a dança "kamarinskaya")... Não havia bailarinos nem bailarinas cosssacos, mas na Guiné, brancos e pretos, dançavam ao som da Kalash e da PPsh, a "costureirinha", e outras armas do arsenal soviético... O programda festa de despedida do T/T Império escapou à censura dos coronéis...

Anónimo disse...

Obrigado Luis, uma boa prenda de Natal.
Escrevi agora um extenso comentário direto, e quando estou a terminar tudo se apaga.
Tenho de escrever no Word e depois copiar.
Agora não tenho mais tempo pois vou para o Porto para casa da minha filha.
Continuação de um grande e Feliz Natal, para ti e tua familia da Madalena, que bem conheço a terra.
Agraço a todos
VT/.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio, como sabes, é um valor sagrado do nosso blogue não cair na tentação de fazer juízos de valor sobre os nossos camaradas de armas. No dia em que nos armarmos em juízes, damos cabo do blogue e passamos a andar à batatada uns com os outros...Entre nós, não há heróis nem criminosos de guerra, fomos todos bravos, cumprimos a parte que nos coube, independentemente das nossas opiniões de hoje sobre o passado... Falamos de antigos combatentes, e como antigos combatentes, somos um blogue de antigos combatentes que passaram pelo TO da Guiné... Falar dos outros teatros de operações (Angola, Moçambique, Timor...) é-nos mais difícil. Não estivemos lá. Temos de ser mais cautelosos sobre o que se lá passou...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Náo tinha a mais pequena ideia deste "acidente" com o T/T Império, em 9 de janeiro de 1970... Acidente, sabotagem ?... Mas então não havia segurança nos navios quando estavam atracados ? Um navio de transporte de tropas é sempre um potencial alvo militar...

Valdemar Silva disse...

Virgílio, essa do "Jantar de despedida" não dá a ideia que quer dizer : despedida da guerra na Guiné.
Por outro lado ninguém se "aleija" quando repara que o navio T/T Uige era da CCN, Companhia Colonial de Navegação, mas é capaz ficar "aleijado" com aquela do Oficial embarcado no Tarrafal e questionar o que é que lá estaria a fazer.
E o Natal já passou e vem aí o novo ano.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Virgílio poder explicar: o navio foi ao Sal ? e à Praia ? Havia um oficial em Pedra Lume, ilha do Sal, e outro no Tarrafal, ilha de Santiago... De facto, é caso para perguntar: o que é que faziam lá ?!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Bem, pelos vistos, temos um erro factual nos livros da CECA... É natural que houvesse trocas (e se calhar baldrocas) com o planeamento das viagens de transporte de trocas... Mesmo assim a guerra obrigou a uma gigantesca logística... E ninguém ficou em terra, essa é que é a verdade...

Anónimo disse...

Responder por partes:
O nosso UIGE fez uma direta até Lisboa,
já tinha vindo do Tarrafal e Pedra Lume,
não faço ideia o que fariam lá.
O Tenente do Tarrafal, pode ser um oficial do quadro, ou um miliciano já com alguns anos de alferes.
Querem dizer que vindo do Tarrafal, era um preso politico?
VT.

Não me parece, mas também não sei.

Anónimo disse...

O nosso médico TEN Mil Carlos Parreira Pinto Cortez, esteve sempre desde o primeiro dia com a CCS do BATCAÇ1933. Ele e a sua esposa Eduarda, que também de Nova Lamego, foi numa coluna fardada a rigor de camuflado, até fronteira em PIRADA. E foi Ronco.
Ele passou de Tenente para Capitão, no periodo em que eu já não estava em São Domingos . Vim encontrá-lo a Bordo já como Capitão. Devia ter já os anos necessários para passar de escalão.
Era um dos tipos mais porreiros na convivência quer na messe ou em Serviço, muito competente no que fazia. Fizemos algumas tainadas na Tabanca do Morteiros,
ALF Azevedo de Évora, nos seus cozinhados de 'Ovos escalfados com chouriço e favas/ervilhas.´


Também tinha do seu lado um Enfermeiro melhor ainda, o Furriel Miliciano , Américo Veiga, NM - 09568065, que me safou de muita porcaria.
Quando regressou, formou-se em Medicina, mas já não faz parte do rol dos vivos.
Paz à sua alma.

E assim vão as recordações! ....
VT.

Anónimo disse...

Luis essa descoberta da nossa ementa de despedida, salteada com bandeiras portuguesas, musicas e orquestras Russas e Ucranianas, como vais descobrir tudo isso?
Alguma vez eu li este folheto da ementa de despedida?
Obrigado porque agora sei mais.
Será que estou metido na guerra entre a Rússia e Ucrânia?
Salvo seja !!!
VT/.

Anónimo disse...

Luis escreveste isto:

Virgílio, como sabes, é um valor sagrado do nosso blogue não cair na tentação de fazer juízos de valor sobre os nossos camaradas de armas.
Não consigo ver o alcance deste comentário , muito embora concorde com ele.
Mas eu não disse nada em contrário!
Ou escrevi e já não me lembro?

VT.

Anónimo disse...

Uma curiosidade: o comandante do navio que te trouxe, Óscar Fraústo de Oliveira Guimarães, comandaria, cinco meses depois, o T/T Império, da Companhia Colonial Navegação, quando em 9 de janeiro de 1970, aconteceu um acidente grave :

Não sabia deste acontecimento até hoje, nem do nome do navio de T/T Império!
Por alguns momentos ainda nos relacionamos a bordo, mas não deu para ficar gravado nas minhas memórias.
Ao contrário do comissário de bordo ' O Ayatola' com quem me relacionei bastante a bordo, e foi ele que proporcionou a minha entrada antecipada no UIGE, em 3 de Agosto 69, com uma noite inesquecível, e que deu azo às minhas fotos da chegada do pessoal nas LDG, tudo ao molhe e fé em Deus.
Um jantar monumental, com musica, bebidas no bar (conheci pela primeira vez as nossas
aguardentes, os conhaques) e tanta coisa, num ambiente único em dois anos, e, isso também não esqueço, que no UIGE a uma distância de pouco mais de um Km da costa até ao Porto, já não se sentia o calor e humidade tão características da Guiné.!
São estas pequenas coisas que também marcaram, mas infelizmente a maioria não conhece.
VT.

Anónimo disse...

Os outros dois médicos capitães, não os conheci, pese embora até estarmos possivelmente juntos no Bar, ou a beber ou ouvir musica Russa...

Devem ser do BCAÇ1932, que regressaram com o BCAÇ1933, ou até de outras subunidades, ou de rendição individual.
Ou médicos das Unidades permanentes, tipo Comandos, Paras, Fusos, BA12, QG etc.
VT.

Anónimo disse...

O capitão Comando, Henriques, viajou connosco, mas como tantos outros, tinham o seu grupo, e os conhecimentos não se fizeram.
Relembro aqui, que a maioria dos militares, passavam a maior parte do tempo na 'jogatina' à noite e depois não apareciam de dia.
Não era o meus caso, nunca joguei.
Mas teve uma boa companhia o alfero Cabral, um dos meus idolos do blogue, é impagável.
Já ambos faleceram, Paz às suas almas.
VT.

Anónimo disse...

Julgo já ter respondido a todas as questões colocadas.
Agora pergunto eu:

Eu mandei te Luis, umas fotos e um relatório extenso, sobre as peripécias na hora do embarque e saída do UIGE!
Foi por WhatsApp e acho que não chegaste a receber nem a ler, porque nunca comentaste isso.
Há cenas impressionantes, que não me esquecem também e faz parte de todo o resto da história da minha presença na Guiné como militar, e da saída atabalhoada de Bissau.
Embora as fotos já foram postadas em 2017/18, mas os comentários que agora fiz, não constam lá.
Também já não sei o que escrevi, mas vou ver na mensagem se ainda a tiver, pois da tua parte elas apagam se ao fim de 24 horas.
VT.