quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26310: Historiografia da presença portuguesa em África (458): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, finais de 1888, início de 1889 (15) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
A governação da província, nestes tempos, passa do contralmirante Teixeira da Silva para a governação interina de Joaquim da Graça Correia e Lança, o Boletim Official não deixa de ter um tom monótono de entradas e saídas, nomeações, assuntos da fazenda pública e alfândega e raramente dados que possam ser aproveitados para a investigação. O que aproveitei deste período foi a vinda em comissão extraordinária dos chefes do serviço de saúde a Bissau que existiu sobre a necessidade de derrubar o muro à volta da povoação, ele achava que a vila devia sair de Bissau e ir para Bandim, ali havia melhores ares e condições de salubridade, insiste na vasta superfície lodosa e imunda da praia, na baixa-mar e na má construção das casas existentes na vila, faz referência ao lazareto que estava no Ilhéu dos Pássaros, devia ser transferido para o Ilhéu do Rei e termino com a apresentação dos enviados do régulo Mamadi Paté, do Forreá, este fazia questão de reiterar os seus protestos de fidelidade ao rei, então D. Luís,. No próximo texto, far-se-á um cômputo dos acontecimentos de 1889, morre o monarca e o Infante D. Augusto.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, finais de 1888, início de 1889 (15)


Mário Beja Santos

Há muito pouco mais a dizer sobre o ano de 1888, encontrei o relatório do Chefe de Serviço de Saúde em Bissau, datado de 12 de março desse ano, é assinado por Aristides Bernardo de Sousa, contém informações que reforçam outras já conhecidas, mas também há aspetos inovadores, como o leitor apurará. Um tanto à semelhança do documento lavrado por Damasceno Isaac Costa, ele apresenta a ilha de Bissau e a respetiva fortaleza, destaca a situação da vila e dá uma sugestão:
“Como em diferentes capitais e filas das nossas províncias ultramarinas, na instalação da vila não presidiu infelizmente o elemento mais essencial da higiene, a escolha do terreno, porque era a todos os respeitos preferível para sede da capital da província a aldeia de Bandim, ponto relativamente elevado e com vertentes para a praia que é completamente arenosa. Ainda não era tarde para se mudar a capital para a aldeia de Bandim e não seriam grandes os sacrifícios encarregados com a transferências das repartições públicas, dos quartéis, do hospital e de outros edifícios.
Os negociantes que de futuro quisessem estabelecer-se na Guiné preferiam prontamente a nova capital e muitos dos atuais encontrariam grande compensação na maior garantia da sua saúde.”


E o problema da higiene atormenta-o:
“São várias as causas que tornam insalubre a praça de Bissau. As medidas higiénicas não podem decerto modificar as condições meteóricas, mas removendo tudo quanto possa concorrer para poluir o solo e inquinar a atmosfera, podem aniquilar ou ao menos atenuar as causas da insalubridade. Cercada por um muro, a vila acha-se soterrada num vale e é dominada por alturas e com uma área de circunscrição incomportável com a sua população; de onde resulta a aglomeração dos seus habitantes.
As ruas são estreitas e na construção das casas não se observaram s mais rudimentares preceitos da higiene. O muro que cinge a população obsta à disseminação da população, ao desaperto das casas e à circulação do ar e da luz difusa. A permanência do muro é incompatível com eficaz saneamento geral. O principal e imprescindível empreendimento, referente à saúde pública, deve ser a demolição do muro, porque só assim desaparecerá o perigo da acumulação alargando-se o terreno e desafogando-se as ruas e as casas.”


O chefe do serviço de saúde aborda seguidamente o Ilhéu dos Pássaros onde tinham sido construídos três barracões para o isolamento dos doentes, ilhéu com 219 metros de comprimento e 33 de largura, refere a superfície lodosa, a natureza do terreno, os ventos, a composição dos barracões, observando que estes barracões podem comportar 18 leitos, são construções temporárias que não poderão durar mais de 1 ano, a bagabaga já estava a destruir a madeira. “Tendo, porém, visitado ultimamente os dois ilhéus que defrontam com a praça de Bissau, parece-me que é o ilhéu do Rei que deve ser escolhido para futuro lazareto permanente da Guiné, e para enfermarias isoladas, porque além de estar mais próximo da praça, tem bastante água potável e condições meteóricas mais constantes.”

Atenda-se a outros aspetos higiénicos da vila de Bissau e à enfâse que o relator põe:
“Tendo percorrido a vila mais de uma vez, observei que eram regulares as condições da limpeza pública nas ruas e nos domicílios. Não se pode conseguir muito mais da população indígena que geralmente não prima pelo asseio e está aferrada a conceitos velhos. Peço finalmente a atenção do ilustrado Governo da província para os melhoramentos que exige o Hospital de Bissau, cujo teto está bastante deteriorado e o sobrado também precisa de ser reparado. Além disso, o edifício em grande parte não está caiado por dentro, há muitos anos, apesar das repetidas instâncias do delegado de saúde. A farmácia precisa também de armação e de vidrame novos. Faltam também os mais indispensáveis artigos de mobília que convém prover-se tão importante edifício.
A existência das muralhas e dos fossos, circundando a praça; a vasta superfície lodosa e imunda da praia, na baixa-mar; a má construção das casas existentes na vila, são outros tantos fatores que se no estado ordinário prejudicam a salubridade da terra, muito mais agravantes são quando reina uma epidemia.
Muitas edificações precisam ser reparadas e convirá determinar que os pavimentos de todas as casas tenham certa e determinada altura do nível das ruas; que os pavimentos sejam argamassados ou assoalhados de madeira; que as portas e janelas sejam largas a fim de que o ar circule livremente. Depois de demolido o muro, será também conveniente ordenar-se que as futuras construções sejam feitas fora do recinto da atual praça.”


E terminam as referências a 1988 com uma notícia publicada em novembro e referente a Buba:
“No dia 19 de novembro estiveram nesta capital os grandes de Forreá, Bóbójintos e Saná, enviados por Mamadi Paté, régulo principal daquele território, os quais acompanhados de um intérprete vieram pedir uma audiência ao conselho governativo, que de bom grado lhe a concedeu. Na sessão do conselho desse dia disseram que: - Vinham encarregados pelo seu rei de significar ao governo provincial, como delegado de Sua Majestade El-Rei de Portugal a amizade que lhe dedicava e reiterar-lhe os seus protestos de fidelidade, por isso que só conhecia e respetiava a nossa bandeira à sombra da qual desejava viver e o nosso Governo de quem gostosamente recebia ordens e a quem somente queria estar sujeito, por cujos motivos solicitava do Governo lhe permitisse estreitar mais as suas relações de amizade com os portugueses, consentido a sua aproximação à praça de Buba pelo estabelecimento de três tabancas, sendo uma em cada um dos postos denominados Sambafim, Iaocunda e Cam-Ióbá, pelo que prometia prestar todo o auxílio que lhe for pedido pelo comando da praça, para onde fará convergir todos os seus produtos a fim de os permutar, demonstrando por esta forma o empenho que tem em estreitar as suas relações de amizade já referidas.”

Nada de relevante encontrei nos primeiros meses de 1889, aa partir de 4 de maio, e depois em 11 e 18, temos um relatório do serviço de saúde da vila de Bissau que merece referência, mais adiante se falará do estado de suspensão de garantias no presídio de Geba por insurreição do régulo de Ganadu, e teremos depois um documento do comando militar de Buba, bastante interessante.

Notícia do falecimento do Infante D. Augusto, Duque de Coimbra
Notícia do falecimento do rei D. Luís
Monumento a Nuno Tristão, Bissau, década de 1960
Uma imagem que vale por mil palavras
Ilhéu dos Pássaros, Guiné-Bissau

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 18 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26279: Historiografia da presença portuguesa em África (457): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1888, há bons relatórios e pouco mais (14) (Mário Beja Santos)

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