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segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27435: Notas de leitura (1864): "Atlas Histórico do 25 de Abril", por José Matos; Guerra e Paz, 2025 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Maço de 2025:

Queridos amigos,
A meu ver, o grande mérito do atlas gizado por José Matos tem a ver com o teor da narrativa de uma bem estruturada sequência de texto e imagens elucidativas, uma narrativa que prima pela sua simplicidade de quem sabe tratar bem os seus trunfos da investigação e saber relevar aquilo que são matérias consabidas sobre as causas próximas do golpe do 25 de Abril com apontamentos às vezes parodiantes do comportamento humano; esta simplicidade da narrativa capta imediatamente o leitor, e ainda bem, é um modo original de apresentar os acontecimentos do golpe do 25 de Abril relembrando-nos que a simplicidade nada tem a ver com a vulgaridade da escrita. Parabéns, José Matos.

Um abraço do
Mário



Atlas Histórico do 25 de Abril, por José Matos, um confrade que nos dá imensa companhia (3)

Mário Beja Santos

Os conspiradores avançam para o regimento da Pontinha. É o caso do comandante Vítor Crespo, vem em representação da Marinha. “Como não sabia onde era esta unidade, teve de perguntar a um polícia que estava na rua, que achou estranha a pergunta, pois não era a primeira vez que alguém se dirigia para o quartel àquela hora da noite.” Vão chegando outros, Otelo trazia na mão uma pasta e dentro dela um mapa de estradas do Automóvel Clube de Portugal, uma carta militar de Lisboa e arredores, um mapa da cidade, o plano geral de operações; Lopes Pires levou um pequeno rádio para ouvirem as senhas. “Faltavam cinco minutos para as 23h00, quando a canção de Paulo de Carvalho se fez ouvir no Rádio Clube Português. Depois seria a vez da Rádio Renascença que passara às 00h20 a canção de Zeca Afonso. Era o sinal definitivo para dar início às operações em todo o país.”

Nem tudo começou a correr bem. O Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea e de Costa em Cascais não conseguiu sair na noite do golpe, devido ao facto dos comandantes da unidade terem bloqueado a entrada dos oficiais afetos ao MFA. O resto correu como o previsto. Vão sendo tomadas as posições. A sorte parecia favorecer os audazes. Quando chegou às instalações da Emissora Nacional, Luís Pimentel viu dois polícias armados e de capacete em frente à rádio. Ficou desconfiado, mas mesmo assim dirigiu-se aos dois agentes e disse-lhe calmamente: “Tenho aqui uma Ordem de Operações do Governo Militar de Lisboa para ocupar a Emissora Nacional.” De seguida, mostrou-lhes um documento que tinha forjado no Quartel da Carregueira. E o oficial entrou nas calmas.


Ocupou-se o Rádio Clube Português e às 04h26 Joaquim Furtado lia aos microfones da rádio o primeiro comunicado do MFA, escrito pelo Major Vítor Alves.
Joaquim Furtado, Luís Filipe Costa e Clarisse Guerra foram os três locutores a ler os comunicados do MFA no Rádio Clube Português (Arquivo do Rádio Clube)

Estavam já ocupadas as instalações das duas principais estações emissoras de rádio e a RTP. Membros do Governo começam a ter notícia das movimentações de madrugada, mas os mais operacionais ainda estavam na completa ignorância, caso do Ministro do Exército que às 03h00 garantia ao Ministro da Defesa que a situação estava sem alteração e perfeitamente sob controlo.

Otelo tinha preparado uma artimanha, um isco para atrair as forças favoráveis ao Governo. A unidade escolhida era a Escola Prática de Cavalaria de Santarém, estas forças blindadas viriam para o Terreiro do Paço para aí prender alguns membros do Governo, assim se faria convergir para o local dos ministérios as tropas do regime. Salgueiro Maia era o oficial responsável pelo comando. Na Escola Prática da Infantaria os revoltosos foram tomando conta do quartel, o segundo-comandante decide não aderir ao golpe. Salgueiro Maia já está a caminho com uma coluna de 240 homens que levam consigo dez viaturas blindadas e doze viaturas de transporte pessoal.

Mapa com o trajeto das tropas de Santarém até Lisboa

O primeiro comunicado do MFA é lido às 04h26, a essa hora já o Aeroporto da Portela tinha sido tomado pelas tropas vindas de Mafra. José Matos conta-nos histórias deliciosas como a que viveu o soldado mecânico da Escola de Santarém, Francisco João Ferreira, era ele que conduzia o jipe que comandava a coluna, a seu lado estava Salgueiro Maia. “Depois de tomar os objetivos previstos na baixa da cidade, a coluna de Santarém seguiu para o largo do Carmo, onde Marcello Caetano se tinha refugiado no Quartel da GNR. No largo do Carmo, o jipe do comandante da força serviu também para levar os emissários do regime (Pedro Feytor Pinto e Nuno Távora) a casa do General Spínola com uma mensagem do Chefe do Governo. Depois do regresso, João Ferreira precisou de abastecer o jipe e foi queixar-se a Salgueiro Maia. Este mandou-o ir a uma bomba de gasolina para atestar o jipe, mas o condutor queixou-se de que não tinha dinheiro. ‘Não é preciso. Vais a uma bomba, dizes que ela foi nacionalizada e atestas’.”

Tarde e a más horas, os operacionais do regime pensam numa reviravolta, enquanto arquitetam uma resposta já estavam cercados pelas tropas de Santarém. O autor dá-nos conta do que se vai passando noutras regiões do país, a Norte. A população portuense manteve-se um pouco alheada do que se passava em Lisboa durante grande parte do dia, os comunicados do MFA não chegavam ao Porto, só a meio da tarde é que chegou informação, a população anima-se, há confrontos com a polícia, esta, nos dias seguintes, não se atreverá a sair das esquadras com receio dos populares. O pessoal da PIDE/DGS entrará em fuga, os civis entraram nas instalações do Porto e destruíram ficheiros e documentos da delegação.

Unidades do MFA no norte de Portugal. Missões cumpridas.
Unidades do MFA no sul de Portugal. Missões cumpridas.

O golpe tornou-se imparável, nas emissões do MFA já passam conversas entre dirigentes das Forças Armadas apoiantes do regime que revelam a sua paralisia. Os ministros que se tinham refugiado no Terreiro do Paço fogem pela porta do cavalo, entraram numa carrinha e fugiram para o Regimento de Lanceiros 2, sede da Polícia Militar, uma das poucas unidades da capital que ainda estava do lado do regime. As forças de Cavalaria 7 avançaram para o Terreiro do Paço, isto numa altura em que um dos esquadrões de reconhecimento já tinha aderido ao golpe. Conversa puxa conversa, o segundo esquadrão passa para o lado dos revoltosos. A fragata da Marinha Almirante Gago Coutinho, em frente ao Terreiro do Paço, tinha recebido ordens do Estado-Maior da Armada, quando partia para Itália com outros navios da NATO e o seu comandante, Seixas Louçã, optou por não cumprir a ordem de disparar sobre as tropas estacionadas no Terreiro do Paço, as chefias insistem para que a fragata faça alguma coisa, fala-se em dar tiros para o ar, nada aconteceu.

Forças afetas ao regime comandadas pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis avançam para o Terreiro do Paço, o primeiro embate ocorre na Ribeira das Naus, há gritaria e agressões, aos poucos é neutralizada a operação de desmobilizar os revoltosos do Terreiro do Paço.

Tropas de Cavalaria 7 que passaram para o lado do movimento dos capitães, na Baixa de Lisboa (Arquivo José Matos)

O resto é uma história já bem conhecida. Salgueiro Maia ocupa o Carmo, Marcello Caetano pretende falar com Spínola, não quer que o poder caia na rua, são estes os acontecimentos determinantes que levam à queda do Governo, Caetano é metido na Chaimite Bula e ficará detido na Pontinha, o Estado Novo está derrubado. Forças da Marinha vão cercar o edifício da PIDE, conversam com o diretor da PIDE que está acompanhado de Alpoim Calvão, retiram, entretanto, a multidão avança, os agentes abrem fogo sobre os manifestantes, estes voltam depois da queda do Governo, são recebidos a tiro, haverá 4 mortos e 45 feridos. À noite chegam ao local tropas de Cavalaria 3, haverá conversações, Spínola telefonará ao diretor da PIDE, este coloca-se às ordens do novo poder.

Pela madrugada, o país verá na televisão a Junta de Salvação Nacional, anuncia-se um programa novo para Portugal. Pelas 09h43 do dia 26, entra uma força na sede da PIDE, os agentes são desarmados, os agentes capturados irão ser transferidos para a prisão de Caxias, e haverá durante esse dia uma caça ao PIDE nas ruas de Lisboa. São libertos os presos políticos. Entretanto, o Almirante Américo Thomaz, que tinha sido esquecido pelos homens do MFA, vem a ser preso acompanhará Caetano e outros ministros na primeira viagem para o exílio, um voo com destino ao Funchal.

Foi no quartel da Pontinha que se juntaram os membros convidados para fazer parte da Junta de Salvação Nacional. Saber-se-á mais tarde que houve discussão séria entre Spínola e os homens do MFA sobre o teor do comunicado ao país, Spínola fez finca-pé que ficasse explícito na alocução que “a sobrevivência da nação no seu todo pluricontinental será garantida”, nos primeiros tempos não aparece qualquer referência à possibilidade de autodeterminação dos territórios africanos. A exceção passar por Otelo que entrevistado por uma jornalista da televisão espanhola insinuará que deverá haver um plebiscito. Otelo não dormia há dois dias, entrou no seu velho Morris 1100 e foi para a sua casa em Oeiras, tinha acabado de derrubar a mais velha ditadura da Europa.


Esta soberba obra de José Matos finaliza com a bibliografia essencial.
A Chaimite Bula entra no Quartel do Carmo para retirar em segurança os ex-membros do Governo (Arquivo Histórico da Assembleia da República/Coleção Miranda Castela)
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Notas do editor:

Vd. post de 10 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27408: Notas de leitura (1862): "Atlas Histórico do 25 de Abril", por José Matos; Guerra e Paz, 2025 (2) (Mário Beja Santos)

Úlltimo post da série de14 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27421: Notas de leitura (1863): "Ecos Coloniais", coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto; edição Tinta-da-China 2022 (6) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27408: Notas de leitura (1862): "Atlas Histórico do 25 de Abril", por José Matos; Guerra e Paz, 2025 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Maço de 2025:

Queridos amigos,
Entendi por bem recapitular matéria do primeiro texto e estender até aos preparativos do 25 de Abril, chegámos à madrugada e começou a reunião no Regimento da Pontinha. Confesso a grande satisfação que tive em ler este livrinho que condensa perfeitamente os principais acontecimentos dos preparativos do golpe e as causas próximas. Temos aqui o essencial sobre a revolução, os seus protagonistas, a tensão e os acontecimentos dramáticos que precedem o 25 de Abril. Fala-se na última reunião do Conselho de Ministros, que decorreu em 23 de abril, Baltazar Rebelo de Sousa fará uma declaração ao Conselho sobre a necessidade de acelerar o processo de autonomia das províncias, ouvem-se vozes reticentes, havia ministros com medo que o Exército contestasse essas iniciativas. Dá para entender como estes políticos à volta de Marcello Caetano estavam a leste do que se passava ao nível de capitães, negavam, no fundo, a realidade de que se tinha ultrapassado em tempo a possibilidade de encontrar formulações de paz e uma verdadeira negociação dos interesses nacionais.

Um abraço do
Mário



Atlas Histórico do 25 de Abril, por José Matos, um confrade que nos dá imensa companhia (2)

Mário Beja Santos

Interrompemos a súmula do livro do nosso confrade José Matos, investigador em História Militar, exatamente nos preparativos do 25 de Abril. Voltando um pouco atrás, é na reunião em Óbidos que os capitães constituíram o MOFA (Movimento de Oficiais das Forças Armadas) e votaram o nome do General Costa Gomes para encabeçar o movimento. Em 5 de dezembro realizou-se uma reunião da nova missão coordenadora, escolheu-se uma direção executiva formada pelos majores Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves, e o capitão Vasco Lourenço. Ao tempo, ocorriam movimentações de oficiais associados a Kaúlza de Arriaga, coube ao major Fabião fazer a denúncia dessas movimentações no curso de promoção a oficial superior no Instituto de Altos Estudos Militares, a intenção golpista abortou. O Governo não estava de olhos fechados com estas movimentações, sabia o que se tinha passado em Óbidos, o subsecretário de Estado do Exército, coronel Viana de Lemos, convocou Vasco Lourenço e Dinis de Almeida, a advertência estava feita, não deviam continuar a pisar terreno muito perigoso, as reuniões deviam acabar.

Em 17 de janeiro Spínola toma posse como Vice-chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, a 22 de fevereiro é publicado Portugal e o Futuro, gerou um verdadeiro terramoto político. José Matos vai agora descrever o turbilhão destes acontecimentos. Caetano chama os dois generais, a 23 de fevereiro, diz-lhes que não podia continuar a governar tendo o topo da chefia militar em discordância, eles que fossem falar com o Presidente da República, o que não aconteceu, Caetano parte para uns dias de férias, nessa altura o Movimento dos Capitães já contava com alguns oficiais da Marinha e da Força Aérea, uma comissão de que faziam parte o Tenente-coronel Costa Brás e os Majores Melo Antunes e José Maria Azevedo e o Capitão Sousa e Castro produzem o primeiro documento programático do movimento. Regressando de férias, Caetano pede uma audiência a Thomaz apresenta formalmente a demissão, o presidente não a aceita, é a vez de Caetano querer agir em contra-ataque: propõe à comissão do Ultramar na Assembleia Nacional que estude uma moção para apresentar no Parlamento de forma a legitimar a política ultramarina, fará ali um discurso em 5 de março, no mesmo dia em que decorre a reunião de Cascais, e onde Melo Antunes apresenta o documento “O Movimento, as Forças Armadas e a Nação”.
Mapa de Cascais com a rua visconde da luz n.º 45, onde se realizou a reunião de 5 de Março de 1974

É no decurso da reunião de Cascais que foram ratificados os nomes de Costa Gomes e Spínola como os chefes máximos do movimento. A seguir ao seu discurso na Assembleia, Caetano é chamado ao Presidente da República, este não percebia como é que Costa Gomes e Spínola se mantinham em funções, de regresso a São Bento, Caetano envia uma carta ao presidente a pedir novamente a demissão, novamente negada, vem então uma cerimónia em que são convocados os oficiais generais dos três Ramos das Forças Armadas para mostrar fidelidade à política prosseguida, Costa Gomes e Spínola não comparecem bem como o Almirante Tierno Bagulho, seguem-se as demissões no topo das Forças Armadas, acende-se um rastilho, a Revolta das Caldas.
O General Andrade e Silva, ministro do Exército, cumprimenta Marcello Caetano durante a cerimónia de apoio ao Governo no Palácio de São Bento (Arquivo Histórico da Assembleia da República/Coleção Miranda Castela)

José Matos descreve-nos a narrativa do insucesso, os conspiradores aprenderam com a lição, impunha-se um projeto, cabe a Otelo Saraiva de Carvalho a organização das operações que levarão ao 25 de Abril: precisava-se de um centro de comandos seguro com um bom sistema de comunicações, o que vai acontecer. E começa o capítulo da queda do regime. Líderes da esquerda, PCP e PS, vão sendo informados das movimentações, havia profundas hesitações, Álvaro Cunhal não acreditava que uma revolta militar pudesse ter sucesso, dado que as Forças Armadas eram o grande sustentáculo do regime. Realiza-se a reunião de Londres, em Dolphin Square, no mais completo sigilo, entre o cônsul português em Milão e uma delegação guineense com Vítor Saúde e Maria à frente, é proposta uma nova reunião no mês seguinte, não terá lugar.
Kissinger e Rui Patrício em Lisboa, durante uma visita que o Secretário de Estado norte-americano fez a Portugal em dezembro de 1973 (Arquivo Yale University Library)

As autoridades portuguesas procuram desesperadamente comprar novos armamentos compatíveis com os já utilizados pelo PAIGC e a FRELIMO, muitas promessas, poucas realizações, ainda se comprou o sistema antimíssil Crotale, foi revendido depois do 25 de Abril, os aviões Mirage nunca chegaram a Portugal, Kissinger prometeu uma resposta ao sistema antimíssil, também não se concretizou. A última reunião do Conselho de Ministros realizou-se a 23 de abril de 1974, facto significativo foi a abordagem de Baltazar Rebelo de Sousa que chamou à atenção para a necessidade de acelerar a autonomia das colónias.

O plano gizado por Otelo assentava na neutralização muito rápida dos departamentos de Estado, estações de radiotelevisão e aeroporto, deviam ser tomados entre a madrugada e o amanhecer, foram mobilizadas várias unidades para tomar estes pontos-chave de Lisboa. Garcia dos Santos foi o responsável pelo material de comunicações necessário para se usar na revolta militar. Otelo previra ocupar uma estação de rádio que transmitisse um sinal de código para o início das operações, optou-se pelo Rádio Clube Português. Foi contactado o locutor João Paulo Dinis que explicou a Otelo que não pertencia aos quadros do Rádio Clube, a única coisa que ele podia fazer era assegurar a transmissão do primeiro sinal nos Emissores Associados de Lisboa. A primeira senha é transmitida por João Paulo Dinis, a canção de Paulo de Carvalho “E Depois do Adeus”. A segunda senha foi emitida por Carlos Albino na Rádio Renascença, a canção do código foi “Grândola, Vila Morena” de José Afonso.

José Matos descreve o desenrolar das operações em vários pontos do país, dá-nos conta da elaboração do programa político. Ficou decidido que o golpe seria desencadeado na última semana de abril para evitar o período do 1 de Maio, Costa Gomes e fundamentalmente Spínola vão sendo informados do que se prepara. Aprovado o projeto, começou a distribuição de missões, na semana derradeira para o golpe, Otelo assegurou a neutralidade dos paraquedistas e dos fuzileiros. Como não podia deixar de ser, Otelo sabe que era na capital que estavam os principais objetos a tomar e que se podia encontrar oposição nas forças de Cavalaria 7 e de Lanceiros 2, a GNR e a PSP estariam do lado do Governo, mas só a GNR podia realmente constituir alguma ameaça, sem esquecer o problema de PIDE/DGS. O historiador mostra-nos os blindados utilizados nas operações, e assim chegamos à noite de 24 de abril, Otelo partiu para o Regimento da Pontinha, nesse dia fora enviado um programa codificado para Melo Antunes nos Açores: “Tia Aurora Parte Estados Unidos 25 03 00 Abraços. Primo António” Otelo vai encontrar-se com o Capitão António Ramos, Ajudante de Campo de Spínola, na redação do Jornal do Comércio para lhe dizer que o golpe era naquela noite. Findas estas negligências parte para a Pontinha, vão chegando outros oficias como os Tenentes-coronéis Fisher Lopes Pires, Garcia dos Santos e Comandante Vítor Crespo.

(continua)
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Notas do editor:

Vd. post da 3 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27382: Notas de leitura (1858): "Atlas Histórico do 25 de Abril", por José Matos; Guerra e Paz, 2025 (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 8 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27399: Notas de leitura (1861): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte V: "Tenho um papel na gaveta", disse-lhe o Salazar, na véspera de partir para o CTIG, como capelão-chefe, em fevereiro de 1966... Era o papel que criava a capelania militar, a meio da guerra...

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27382: Notas de leitura (1858): "Atlas Histórico do 25 de Abril", por José Matos; Guerra e Paz, 2025 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Maço de 2025:

Queridos amigos,
O nosso confrade José Matos é de uma delicadeza extrema, mal foi publicado este seu último livro deu-me conhecimento do seu conteúdo, autorizando a revelá-lo, sob a forma de uma súmula, a todos os camaradas. Habituou-nos ao rigor das fontes e dos documentos, ilustra com textos pontos sugestivos da obra, igualmente recorre a ilustrações que facilitam a compreensão dos factos. Em termos de narrativa, contextualiza toda a guerra de África e desvela os principais acontecimentos de 1973 que aceleraram a sublevação militar; são igualmente mostradas as etapas da sublevação a partir da legislação que criava um Quadro Especial de Oficiais, e assim progredimos até aos preparativos da sublevação, depois do insucesso da revolta das Caldas os militares esboçaram uma estratégia que contemplou os três ramos das forças armadas e uma multiplicidade de unidades espalhadas pelo continente. Da operação em si e dos acontecimentos do 25 de Abril e subsequentes se fará referência no próximo texto.

Um abraço do
Mário



Atlas Histórico do 25 de Abril, por José Matos, um confrade que nos dá imensa companhia (1)

Mário Beja Santos

Acaba de ser dada à estampa pela editora Guerra e Paz o Atlas Histórico do 25 de Abril, a obra mais recente do nosso confrade José Matos, publicação muito sugestiva que nos permite recordar as etapas fundamentais do 25 de Abril, acompanharemos os alvores da revolução, chega-se à obra de Spínola Portugal e o Futuro e será esmiuçada a queda do regime e revisitada toda a operação que vitoriou o MFA; leitura tão mais sugestiva pela apresentação de imagens e quadros esclarecedores dessas diferentes etapas.

Em 1973, ainda havia a ilusão de que a ditadura portuguesa teria condições para durar; mas nesse ano alterou-se profundamente o cenário internacional, mudou profundamente a situação dos teatros de operações da Guiné e também em Moçambique; chegar-se-á mesmo ao momento de questionar se a Guiné era defensável, foi tema abordado no Conselho Superior de Defesa Nacional, perto do final do ano, julgava-se que ainda havia uma janela de oportunidade, isto na altura em que Portugal começa a sofrer as consequências não só da crise petrolífera, o país é castigado pelo mundo árabe, a inflação torna-se galopante. O ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo, procura uma solução para a falta de oficiais para a guerra, propõe um Quadro Especial de Oficiais, estala a indignação do corpo de oficiais do quadro permanente, vão começar as reuniões, a primeira na Herdade do Monte do Sobral no Alentejo.

Desenhado por Diniz de Almeida, o croqui com indicações para os militares chegarem ao Monte do Sobral (Arquivo Diniz de Almeida)

Marcello Caetano remodela o Governo, Silva Cunha passa para ministro da Defesa, os militares continuam a protestar como se verá na reunião de S. Pedro do Estoril. A política ultramarina do Estado Novo isolara Portugal, consumia cada vez mais recursos ao país. Mesmo os Aliados da NATO furtavam-se a apoiar Portugal e a compra de armamento era cada vez mais difícil. José Matos rememora os acontecimentos que envolvem tal política ultramarina, o aparecimento da luta armada a partir de 1961. Destaca o problema da Guiné. Refere uma carta do chefe do Gabinete Militar Arnaldo Schulz, Tenente-Coronel Castelo Branco, para o governador, então em Lisboa, dizendo que “o inimigo colocou-nos a mão no pescoço, como bom lutador de judo, e nós temos dificuldade em sair desta posição”. Toda a situação na Guiné é passada em revista, Spínola regressa da Guiné em agosto, não escondendo que a situação se tornou incomportável, não podia haver solução militar, impunham-se negociações. Marcello Caetano nomeia novo governador, ele escreverá nas vésperas do 25 de Abril que se chegara à exaustão dos meios. Nessa altura já Marcello Caetano procurara sigilosamente conversações com o PAIGC, que ocorreram em Londres, em março.
Os apartamentos de Dolphin Square em Londres (Arquivo José Matos), foi aqui que decorreram as conversações secretas entre o PAIGC e o cônsul português José Manuel Villas-Boas, toda esta operação fora urdida pelo embaixador britânico em Lisboa

Prosseguem as reuniões dos militares conspiradores, o autor descreve a atmosfera em que é publicado o livro de Spínola Portugal e o Futuro, a proposta de criar uma federação já não assentava na realidade, não só nenhum dos movimentos de guerrilha era a favor como Portugal perdera oportunidade de preparar o ambiente que permitiria a conjugação de todas estas vontades. Mas o livro foi o rastilho da revolução, como Marcello Caetano constatou após a leitura do livro, na noite de 22 de fevereiro de 1974. Caetano está já entre a espada e a parede, quer demitir-se mas Thomaz não consente, discursa na Assembleia Nacional, pede-lhe um voto favorável para a continuação da política ultramarina, recebe os oficiais generais, demite Costa Gomes e Spínola, enquanto discursa na Assembleia Nacional surge o manifesto dos capitães numa reunião que se realizou em Cascais, Melo Antunes lê aos presentes um documento por ele elaborado: o regime era incapaz de se autorreformar, a perpetuação da guerra não ia resolver um problema ultramarino; os povos africanos tinham direito à autodeterminação, embora devessem ser acautelados os interesses dos portugueses residentes no Ultramar; era necessário um novo poder político eleito democraticamente que fosse realmente representativo das aspirações e interesses do povo.

Com a demissão de Costa Gomes e Spínola, os militares já em estado de sublevação vão procurar, a partir das Caldas da Rainha, caminhar em direção a Lisboa, a operação não é sucedida, Caetano falará dela na sua última Conversa em Família. Pelas diferentes vias diplomáticas, tenta-se adquirir novas armas, suscetíveis de se equiparar com o armamento da guerrilha. Temendo o uso da Força Aérea por parte do PAIGC, é comprado o Crotale.

Originalmente desenvolvido para a África do Sul pela Thomson-CSF e pela Matra, o Crotale era um sistema de defesa antiaérea para alvos a baixa altitude. Uma bateria de Crotale era composta por dois a três veículos de disparo, cada um com o seu próprio radar de controlo de fogo e quatro mísseis prontos a disparar, e um veículo de vigilância/aquisição. Portugal assinou um acordo de compra com os franceses em Janeiro de 1974, mas este sistema já não seria entregue a tempo. A única bateria de Crotale chegaria em Setembro de 1974, após o fim da guerra, e com a ajuda de Thomson foi revendida à África do Sul em 1976.

Vamos ver agora os preparativos do golpe, estiveram a cargo de um estratega, Otelo Saraiva de Carvalho; ele teve o cuidado de envolver várias unidades militares espalhadas pelo país, era imperativo tomar a capital. Sede do Governo, aqui estavam a televisão e as mais importantes estações de rádio e o aeroporto. Todas as operações seriam comandadas a partir de um centro de comando do MOFA (mais tarde MFA), havia necessidade de um sistema de comunicações fiável, ficou a cargo do tenente-coronel Garcia dos Santos, foi ele o responsável por arranjar o material de comunicações para a revolta.

A fuga do tenente Castro Gil:

“No dia 31 de Janeiro de 1974, ao fim da tarde, os guerrilheiros abateram com um míssil terra ar um Fiat G.91 que prestava apoio de fogo ao aquartelamento de Canquelifá, que estava sob ataque do PAIGC. Este quartel na fronteira nordeste com o Senegal distava cerca de 200 km de Bissau e era uma zona flagelada com alguma frequência pela guerrilha. O piloto ejetou-se e aterrou em segurança, mas teve de fugir para não ser capturado pelo inimigo. Decidiu rumar a norte, para o Senegal, indo pelo mato rasteiro ainda com cinzas ardentes para que a aragem do ar apagasse o seu rasto. De manhã, regressou à Guiné e foi ter a uma aldeia. Aproximou-se e escondeu-se nuns arbustos, a observar o movimento dos naturais e a ver se via homens armados ou fardados como os guerrilheiros. Quando viu que era seguro, entrou na aldeia e pediu ajuda. Surgiu então um homem com uma bicicleta e mandou o tenente Gil instalar-se atrás, arrancando a pedalar em direção ao sul para o Quartel de Piche. No quartel, começou a grande festa da recuperação do jovem tenente, que, no dia seguinte, chegou à base aérea de Bissalanca, onde a receção foi apoteótica e onde a festa se prolongou até de madrugada. Bastante alcoolizado, o tenente acabou internado no hospital de Bissau amarrado a uma cama.”

Texto retirado da obra de José Matos.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 31 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27370: Notas de leitura (1857): "Ecos Coloniais", coordenação de Ana Guardião, Miguel Bandeira Jerónimo e Paulo Peixoto; edição Tinta-da-China 2022 (4) (Mário Beja Santos)

sábado, 11 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27307: Manuscrito(s) (Luís Graça) (275): 50 pequenas coisas que mudaram em 50 anos no Portugal sacro-profano que eram as terras de Candoz, no Marco de Canveses, em Entre-Douro-e-Minho



Marco de Canaveses > circa anos 40 do séc. XX  > O típico carro de bois de Entre Douro e Minho...O boi com a sua "molhelha",,, A mulher, com o seu lenço de cabeça, escondendo o cabelo, ela e o seu "home", cada um no seu lugar... Ela a tanger os bois...Ele de chapéu e varapau...

(Molhela: almofada, geralmente composta de couro, palha e estopa, onde assenta a canga que junge os bois,e que é  colocada no cachaço, protegendo-o do atrito da canga).


Marco de Canaveses > circa anos 40 do séc. XX  >  A vinha de enforcado, a vindima (com recurso a escadas altas), os grandes cestos de verga à cabeça, as mulheres e os seus "cantaréus" (canções de trabalho, cantadas a 3 vozes, exclusivamente femininas, nas "serviçadas", como a vindima, as desfolhadas, etc.)

Fonte: Aguiar, P. M. Vieira de - Descrição Histórica, Corográfica e Folclórica de Marco de Canaveses. Porto: Esc Tip Oficina de S. José. 1947. (Com a devida vénia).



Quinta de Candoz > A matança do porco (c. 1975/80): uma cena que Bruxelas conseguiu banir definitivamente dos nossos campos e aldeias (mas não da nossa memória) em nome de uma conceção ( fundamentalista, dizem os críticos) da saúde pública e de uma Europa securitária, globalizada, normalizada e tecnocrática, matando a etnodiversidade... 

Declaração de interesses: Não sou "vegan", adoro carne de porco, adoro leitao... Claro que eu hoje não queria ver as minhas netas a assistir a uma cena "cruel" como esta (hoje fala-se em "bem-estar" animal)... Na nossa infância tivemos que "ver e ouvir" os gritos lancinantes do pobre animal, mas a seguir comíamos-lhe o sarrabulho, os rojões, as "febras", as bochechas, o presunto, os salpicões, os chouriços... E jogávamos á bola com a bexiga do porquinho!)



Marco de Canaveses > c. 1975/80>   O "toirinho" (sic), vendido na feira do Marco, uma das poucas fontes de receita dos "caseiros" (ou "rendeiros", tínhamos um em Candoz, nessa altura), para além do vinho e do milho... Este era um
 boi de trabalho, não de engorda; a junta de bois puxava a charrua de ferro, e trazia do "monte" uma carrada de lenha. Por sua vez, o porco era o governinho da patroa (que o guardava, com engenho e arte,  na "salgadeira" ou no "fumeiro"). 




Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > O que resta do velho carros de bois...Foi caindo aos pedaços, já com uma bela idade...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Comecei a ir a Candoz há 50 anos, em 1975... Freguesia de Paredes de Viadores, concelho de Marco de Canaveses, na bacia hidrográfica do rio Douro e do rio Tâmega;  a sul , em frente, ficava/fica a serra de Montemuro, já no distrito de Viseu. 

1975,  em "pleno verão quente", um ano depois do 25 de Abril.  Fui fazer, eu e a Alice, uma viagem pelo "Portugal profundo", "sacro-profano",  que eu não conhecia. Ela sim, tinha começado a trabalhar na instalação do Parque Nacional da Peneda-Gerês. E era nada e criada naquelas terras, donde já se avista o Marão. 

Foi então que descobri a  região do vinho verde, e ainda a tempo de "apanhar em andamento o passado" deste País, a vinha de enforcado, as latadas, o milho, os engenhos (moinhos a água), as histórias do linho e das desfolhadas, as tradições comunitárias como as "serviçadas", a matança do porco,  os carros de bois "a chiar pelos montes acima ou abaixo", a parceria agrícola e pecuária (formas pré-capitalistas de produção) , as feiras de gado, as romarias, as tunas rurais, os bailes mandados, etc.... E, pela primeira vez (e única) na minha vida também ajudei a pisar a uva (tinta) no lagar... Uma tarefa que só podia ser feita pelos homens porque não eram,,, "menstruados".

Casar-nos-íamos, lá, em Candoz, um ano depois. Pelo civil. O primeiro casamento civil do ano, no Marco de Canaveses, segundo nos disse o ajudante de registo civil que foi lá a casa.  Uma heresia, numa família católica e conservadora.

 A 7 de agosto de 1976. Ganhei uma nova família. Fiquei mais rico tendo optado pela exogamia (a lei que manda nunca casar na tua terra...).

As formas de estar, viver, trabalhar, pensar, educar, amar, morrer... até aos anos 60 ainda estavam  ligadas a uma economia agrícola fracamente monetarizada, e em grande parte de autossubsistência... 

Ainda apanhei a tradição e a transição, a mudança, as pequenas mudanças operadas naquelas terras do Norte de Portugal...Em meio século, assisti a muitas mudanças, pequenas e grandes. Naquele microcosmo  (socioantropológico...), no coração de Entre-Douro-e-Minho, aonde dantes ia meia dúzia de vezes por ano (e agora um pouco menos)... E quando digo dantes, ainda era no tempo em que não havia autoestradas (!), e a viagem de Lisboa até lá (400 km), demorava um dia...

Hoje são uma série delas (se eu partir de Alfragide): CRIL A8, A17, A1,CREP, A4... Recorde-se que a autoestrada A1 só ficou completamente concluída em 1991, ligando Lisboa ao Porto. Já a autoestrada A4, que liga o Porto a Amarante, foi concluída em 1995...

2. Aqui vão, por ordem alfabética, sem  qualquer ordem de precedência, importância,  relevância ou cronologia, algumas das 50 (ou mais) pequenas grandes mudanças ali operadas (refiro-me, no essencial, à freguesia de Paredes de Viadores, onde se situa a Quinta de Candoz,  e onde as pessoas precisavam de berrar ou falar alto para comunicarem umas com os outros, porque o povoamento era e é disperso).

***

  • a Água de consortes, as "levadas" (como a água de Covas, que vinha da serra, e de que o meu sogro tinha direito a utilizar, só no solstício do inverno, uma vez por semana, das 10h da manhã às 6h00 da tarde); a construção civil, a abertura de estradões, a abertura de poços e minas, as alterações climáticas, etc.,  levaram... a "levada", a água de Covas, que chegava a Candoz e continuava pela encosta abaixo: era uma alegria para os sentidos, a vista, o ouvido, etc., assistir à rega do milho;
  • o Anho assado com arroz de forno, que hoje é produto... "gourmet" (e tem confraria);
  •  Bacalhau “lascudo” (que ainda não havia no Natal, nem o bacalhau era a pataco, como a República prometia em 1910)
  • o “Baile mandado” com “mandador” e os homens e as mulheres separados, de pé, encostados às paredes da casa; e dançavam-se as danças palacianas e burguesas do passado; a valsa, a mazurca, a contradança, o fado; e o mandador era também o "coreógrafo";
  • cozia-se a Broa de milho e centeio (três partes de milho e uma de centeio), no forno a lenha, e que tinha de durar 8 dias (ou até 15, "duro que nem cornos"!);
  • o Caciquismo político e eleitoral (do regedor, do padre, do comerciante, do professor, do “fidalgo"...);
  • só os homens usavam Calças (!) (e as raparigas, Tranças, que cortavam quando ficavam "comprometidas" ou iam para o Porto estudar, um privilégio);
  • a Canalha, a miudagem,  uma  Cama para três (e às vezes era no Palheiro, o quarto dos rapazes);
  • ouvia-se o Carro de bois a chiar, "com toda a cagança",  pelos estradões (uma verdadeira sinfonia!); 
  • o osso com Carne ("ó pai, chuche e dê  -mo!") no Moado  (caldo);
  • as Cebolinhas do "talho" (de talhão, da horta, provenientes da monda do cebolal...), o Presunto Verde, o Salpicão,  o Verde,  o Arroz de Cabidela, as Papas de Farinha de Pau, a "Aletria", o "Doce da Teixeira", a Regueifa, e outros pequenos manjares da culinária local
  • os grandes Cestos de vime de 50 kg de uva que os “homes” transportavam aos ombros (e as mulheres à cabeça), por leiras e socalcos abaixo (ou acima) até ao “lagar do vinho” (em geral, no piso térreo, da casa, e com chão saibroso por causa da temperatura ambiente: a "loja" onde também ficava a "salgadeira"); 
  • o Compasso Pascal, a Festa de Nra. do Socorro, a Festa do Castelinho (gente de folgar e trabalhar, ou trabalhar muito e folgar pouco);
  • não se conhecia a Contraceção nem o Planeamento familiar (mesmo a “Pílula” chegaria tarde à cidade…) ("porra e lenha é quanto a venha", um provérbio que pode ter uma conotação sexual, mas não tenho a certeza);
  • a Cultura do milho de regadio, exigente em água e mão de obra (escondia-se o milho nas “minas”, as nascentes de água, para escapar à requisição do governo nos anos da II Guerra Mundial e do pós-guerra);
  • as Crianças habituavam-se, cedo, às “Sopas de cavalo cansado” e eram “Sedadas com Bagaço” quando se contorciam com dores, tinham fome ou estavam doentes;
  • andava-se Descalço (ou, tal como em África, se levava os sapatos na mão até à entrada da vila, da escola, da igreja…);
  • a autossuficiência da Economia do pequeno campesinato familiar onde o pai era “pai e patrão” e a “ranchada de filhos” era garantia de mão-de-obra abundante e gratuita;
  • a Electricidade, o Frigorífico a Televisão, etc., só chegariam depois do 25 de Abril (mesmo com a barragem do Carrapatelo a escassos quilómetros de Candoz);
  • Emigração, primeiro para o Brasil (até aos anos 50) e depois para França ( "a salto") e Alemanha, também depois Luxemburgo e Suiça;
  • não havia  Estradões ( e foi com essa promessa de abrir estradões que caciques como o Ferreira Torres ganhavam eleições);
  • a “Esterqueira” (ao pé da porta onde se faziam todos os despejos domésticos e se deitava todo o lixo orgânico que não fosse para a “gamela” de, "com a sua licença", o porco) (já não é do meu tempo, mas da infância da Alice; aliás, da minha infância quando ia casa dos meus tios no Nadrupe, á Quinta do Bolardo,  á casa dos meus parentes do clã Maçarico, em Ribamar);
  •  não havia  Estradões ( e foi com  a promessa de abrir estradões que caciques como o Ferreira Torres ganhavam eleições) ("roubava, mas fazia obra", dizia o povo...);
  • a Estratificação social nos campos: ”fidalgos”, pequenos proprietários, rendeiros…e cabaneiros (gente sem terra nem casa) (e que na igreja também se dispunham pela mesma ordem, com homens e mulheres, socioespacialmente separados);
  • as Feiras anuais e sobretudo as feiras de gado (onde se levava o porquinho e o tourinho para vender, ou onde se ia comprar uma "junta de bois") (era lá que também se fazia, além de negócios, namoros, casamentos, alianças; tal como a igreja, a feira era um importante local de socialização):
  •  a importância das Feiras e romarias como factor de lazer, de socialização, de negócios, de informação, conhecimento e propaganda (ah!, os pregões dos feirantes!);
  • batia-se  forte e feio nos Filhos (em casa e no campo) e nas crianças (na escola) ("quem dá o pão, dá a educação");
  • em que os mais remediados diziam: “criei-os [aos Filhos] fartos e cheios [de pão, que não se escondia na “trave” do telhado de telha vã, fora do alcance dos ratos e… das crianças, isso era sinal de pobreza];
  • o Fumeiro e o Barro vidrado que tanto cancro no estômago provocou;
  • a criação, em cortes, do  Gado bovino (o “tourinho”, mais bem tratado que a “canalha”, a miudagem,  porque rendia dinheiro ao ser vendido na grande feira do Marco de Canaveses);
  • só os Homens usavam calças (!) (e as raparigas cortavam as tranças quando ficavam comprometidas ou iam estudar para o Porto, um privilégio, nos anos 60);
  •  as Juntas de bois lavrando a terra com arados de ferro;
  • só se bebia Leite (de cabra, de vaca era mais raro) quando se estava doente (em geral os adultos);
  •  as Longas caminhadas a pé (para se ir à missa, à romaria, à feira, à repartição de finanças na sede do concelho, mas também ao médico e o hospital da misericórdia... a 13/15 km de distância);
  •  a Luz do candeeiro a petróleo ou querosene;
  • o valor comercial da Madeira de carvalho, castanho, pinho, cerejeira, etc. (madeira nobre hoje destronada pelo eucalipto);
  • a Matança do porco, o fumeiro e a salgadeira (que eram o “governinho da tia Aninhas”, e também uma das principais causas de morbimortalidade por doenças cérebro-vasculares, como a “trombose”):
  • o Médico da vila  ("João Semana") que só se chamava a casa na hora da morte para passar a certidão de óbito;
  • o Medo das trovoadas, das bruxas, dos lobisomens, do mau olhado, das pragas que se rogavam uns aos outros por ódio, vingança,  inveja, intrigas, desamores, etc.; 
  • a escassez de Meios de tração mecânica na lavoura (tratores, motocultivadores, serras mecânicas, etc.) e de transporte automóvel (não me lembro de haver nenhum trator em 1975...);
  • cultivava-se o Milho, o  Centeio... e o Linho (!);
  • a fraca Monetarização da economia (fazia-se algum dinheiro com a venda das uvas, do milho, do tourinho, da cereja e pouco mais; ou trabalhando à jorna, ocasionalmente para o "ramadeiro", para o "construtor civil, etc., que os mais sortudos iam para a polícia e os caminhos de ferro, a CP);
  • os "Montes” (pinhais) que eram “rapados” todos os anos, não só para limpeza e prevenção dos incêndios (não havia incêndios) como sobretudo por causa da importância que tinha o mato para fazer a "cama dos animais” e depois o estrume (fundamental para a cultura do milho ou da batata); 
  • "na casa desta Mulher come-se tudo o que ela der";
  • as grandes Mulheres (ou "Mulheres Grandes") que em geral se escondem(iam) atrás dos seus “homes" (e tinham sempre uma palavra de peso, a última, nos negócios, nas compras de propriedade, nos amores, nos casórios dos filhos, etc.);
  • o Obscurantismo não só político e cultural mas também religioso (como o daquele pároco que mandou cortar as pilinhas dos anjinhos na igreja);
  • a "minha Palavra vale mais do que a minha terra toda" (a palavra dada era lei);
  • as Panelas de ferro, ao lume, na lareira (onde se faziam os "Rojões");
  • as “Parteiras” (que não as havia, diplomadas) eram as “aparadeiras” (sic) (mulheres curiosas, mais velhas, que já tinham sido mães...);
  • jogava-se ao Pião (os rapazes) e  brincava-se às Bonecas de trapos (as raparigas);
  • ó Maria, dá-me o Pito...E Porra e Lenha é quanto a venha (a maneira brejeira, pícara, desta gente do... carago!);
  • as Professoras do ensino primário que se chamavam "regentes escolares"; 
  • fatalismo dos Provérbios populares (“boda e mortalha no céu se talha”, "muita saúde e pouca vida que Deus não dá tudo"...); 
  • as Ramadas e o Ramadeiro (construtor de ramadas);
  • a luta dos Rendeiros, a seguir ao 25 de Abril, contra a parceria agrícola e pecuária, formas pré-capitalistas de exploração da terra, com o pagamento das “rendas” em géneros  (em geral, numa proporção fixa, por exemplo ao terço, a meias, etc.);
  • os Salamaleques da “servidão da gleba”: “com a sua licença, meu senhor e meu amo”, dizia o caseiro para o “fidalgo”, desbarretando-se a 10 metros de distância, num  concelho onde em 1958 mais de metade dos agricultores eram rendeiros;
  • a Salgadeira (onde se guardava o porco, desmanchado) (responsável por muitos AVC);
  • os Salpicões feitos em vinho verde tinto (fundamental na cozinha e nos enchidos, este vinho único no mundo);
  • não havia Saneamento básico, água potável (a não ser o das minas) nem banheiro com duche;
  • a Sardinha “para três” (que chegava de Matosinhos na Linha do Douro até  a estação do Juncal, e depois era transportada à canastra e vendida de porta em porta) (... e os ovos que se vendiam para comprar a "sardinha para três");
  • o Sável e a Lampreia do rio Douro (que as barragens "mataram") (comia-se o sável pela Quaresma,  quando a Igreja proibia o consumo de carne... aos pobres);
  •  as "Serviçadas” como a vindima, a malha do centeio, a desfolhada do milho, a espadelada do linho, a matança do porco, etc., em que os familiares e os vizinhos se ajudavam, uns aos outros;
  • "Ir às Sortes" (à junta médica militar, e ficar apto ou apto para a tropa); (era também um a "ritual de passagem para os "machos", e o início do "home leaving"; quando se regressava, é para para o jovem adulto a começar a governar a sua vida, deixar a casa dos pais, ir para o Porto trabalhar na África, ou para o Brasil, e mais tarde para França, Luxemburgo, Suiça...na construção civil;
  • "na casa deste home quem não Trabalha não come";
  • começava.se a Trabalhar muito cedo (“ o trabalho do menino é pouco, mas quem não o aproveita é louco”; "na casa deste home, quem não trabalha não come; e na casa desta mulher, come-se tudo o que ela fizer"):
  •  as “Tunas rurais do Marão” (indispensáveis nos "bailes mandados") (uma rabeca, um violão, uma viola, um cavaquinho, unas ferrinhos, uma voz) ;
  • “Varapau” como símbolo da masculinidade (mas também de violência) (a ponto de ter sido proibido na via pública, nas festas, nas romarias e nos bailes, sendo o seu cumprimento fiscalizado pela GNR):
  • a Venda, o estabelecimento comercial que era mercearia, tasca, casa de comidas (para os de fora), cabine pública de telefone, caixa de correio, palco de mexericos, boatos e notícias, etc. (a da Candoz, ficava no Alto,na estrada real Porto-Régua,   a 3 km de distância por caminho de carro de bois, que agora é estrada municipal e nos leva à albufeira da barragem do Carrapatelo); 
  • o Verde (ou Bazulaque) (é ou era um prato típico da Páscoa, na altura em que se matava o anho; feito com  colaça, o coração, o fígado e rins);.
  • a Vinha de bordadura e de enforcado (e na sua grande maioria, videiras de tinto… jaquê, um híbrido americano de  há muito proibido mas sempre tolerado; de fraca graduação e pior qualidade, o “jaquê” chegava a maio já era intragável; de resto, nas vindimas toda a uva podre ia “para o tinto”; e não havia vinho verde branco, o que se fazia era “para o padre”; e muito do que ia para o "ultramar", a tropa, que tinha poder de compra, era vinho branco leve, de 9 / 10 graus, enviado para os armazéns do Porto e de Vila Nova de Gaia, e depois gaseificado e rotulado como "vinho verde branco");
  • o Vinho verde branco, feito de bica aberta, e que era só para o padre e para a missa (hoje é um dos senhores "embaixadores de Portugal");
  • o Vinho verde tinto, o tal "berdinho", carrascão, bebido da malga de barro vidrado ou da “caneca de porcelana”;
  • a Virgindade (feminina) antes do casamento (e ai da rapariga que fosse "rejeitada" pelo rapaz...); ou tivesse a desgraça de ser "mãe solteira";
  • ... e quando a gente (a nossa geração) nasceu, por volta de 1945, no fim da II Guerra Mundial, ainda morriam 120 crianças em cada mil nados-vivos.

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Nota do editor LG:

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27283: Agenda cultural (904): Continuação da minha visita em 21 de setembro à exposição “Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975”. Para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Setembro de 2025:

Queridos amigos,
"Venham mais Cinco, O Olhar Estrangeiro Sobre a Revolução Portuguesa, 1974-1975", é uma exposição soberba como auxiliar da História, por nos trazer à memória eventos que acompanhámos na época, mais não seja pelos órgãos de comunicação social. Como se escreve na folha de sala, "De um dia para o outro aterraram em Lisboa fotógrafos das maiores agências internacionais, jovens e veteranos, que captaram imagens por todo o país, acompanhando a sucessão vertiginosa dos acontecimentos. Muitos vieram em missões de curta duração, outros instalaram-se vários meses para perceber e retratar o que se passava. Quase tudo era surpreendente para os estrangeiros: a situação política inédita num país europeu, o quotidiano dos portugueses, a forma como a política entrava na vida da população. Eram fotógrafos experientes. Tinham um olhar incisivo, procuravam imagens para as capas de revistas de maior tiragem, mas também revelavam empatia, encantamento e genuíno interesse antropológico. Durante cerca de um ano e meio fotografaram tudo e transmitiram ao mundo esse novo conceito: a revolução dos cravos. Após 50 anos, alguns arquivos desapareceram. Assim, em casos excecionais, quando não houve acesso a negativos nem a provas de papel, decidiu-se reproduzir fotografias publicadas em livros. À data de hoje é a única forma de partilhar imagens únicas, de um período decisivo da história e que nunca estiveram reunidas em Portugal."

Um abraço do
Mário



Continuação da minha visita em 21 de setembro à exposição “Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975”.

Exposição de visita obrigatória, ajusta-se à Educação para a Cidadania, oxalá que percorra o País todo

Mário Beja Santos

A exposição decorre no Parque Tecnológico da Mutela, em frente das ruínas da Lisnave, pode ser vista até 23 de novembro. Porquê Venham mais cinco? É o título de uma canção de José Afonso, inicialmente escolhida para ser tocada na Rádio Renascença na madrugada de 25 de abril de 1974, como senha do início do golpe militar. Mas, como esta canção estava proibida na rádio, a senha acabou por ser substituída por Grândola, Vila Morena. Através deste título, os organizadores prestam homenagem a José Afonso.

Na folha de sala o curador da exposição, Sérgio Tréfaut, recorda in memoriam Margarida Medeiros, pelo seu papel essencial neste levantamento único de imagens:
“Venham mais cinco foi uma ideia que surgiu no verão de 1993, quando Margarida Medeiros e Ana Soromenho propuseram que se fizesse uma grande exposição com as imagens dos fotógrafos estrangeiros que haviam retratado o processo revolucionário português. No ano seguinte seria comemorado o vigésimo aniversário do 25 de abril. Margarida e eu rumámos a Paris e mergulhámos nos arquivos das grandes agências internacionais, vasculhando milhares de provas de contacto.
Três décadas depois, a expedição abre as suas portas. Entre o início da nossa pesquisa, no outono de 1993, em Paris, e o seu recente desaparecimento, Margarida Medeiros tinha-se transformado numa das maiores especialistas de fotografia em Portugal, autora de livros de referência, curadora de exposições e responsável pela formação de várias gerações de estudantes. Esta exposição nasceu da nossa amizade.”


Na primeira visita pus o foco nos acontecimentos ligados ao 25 de abril e às primeiras transformações sociopolíticas e económicas ocorridas no país. Senti, no entanto, que ainda havia algumas imagens a captar, seguindo depois para os acontecimentos da Reforma Agrária, as eleições do 25 de abril, as independências e o retorno de muitos, e, finalmente, o 25 de novembro, com este evento diminuiu drasticamente o interesse do olhar estrangeiro sobre a Revolução portuguesa. Vamos, pois, a este punhado de imagens que tenho o maior prazer em partilhar convosco.

Começa-se pelas secções A Festa da Liberdade e Novas Formas de Poder
Henri Bureau, Getty Images, 1º de maio 1974, Lisboa
Guy Le Querrec, Magnum Photos, julho 1974, Lisboa
Guy Le Querrec, Magnum Photos, maio 1975, Beira Alta. Campanhas de Dinamização Cultural, Veterinários do MFA vacinam suínos

Imagens representativas da Reforma Agrária e as mudanças no Alentejo:
Vojta Dukát, 1975, Aljustrel
Sebastião Salgado, 1975, Aljustrel. Trabalhadores na sede do PCP
Sebastião Salgado, julho de 1975, Alentejo. Conversas entre trabalhadores agrícolas
Sebastião Salgado, outubro 1975, Alcácer do Sal. Ocupação de um latifúndio por trabalhadores agrícolas
Guy Le Querrec, Magnum Photos, 25 de abril 1975, Baleizão. Primeiras eleições livres para a Assembleia Constituinte
Jean-Paul Paireault, 1975, Beja. Comício do PCP, Álvaro Cunhal, secretário-geral do partido, ao centro

Imagens das independências:
Jean-Claude Francolon, setembro 1974, perto de Tete, Moçambique. Imagem da reconciliação tirada a pedido do fotógrafo
Sebastião Salgado, dezembro 1975, Angola. Hospital recebe soldados feridos da Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA) e civis atingidos durante a fuga
Alain Mingam, Getty Images, 11 de novembro de 1975, Luanda. Crianças-soldado durante um desfile no dia da independência
Alécio de Andrade, ADAGP, Verão de 1974, porto de Lisboa. Retornados chegam da Guiné-Bissau
Alain Keler, Agence Myop, setembro de 1975, Padrão dos Descobrimentos, Belém. Caixotes dos retornados
Sebastião Salgado, 1974, Fátima. Antigo combatente vem agradecer à Virgem Maria

Imagens de um país dividido:
Alain Mingam, Sipa Press, 12 de novembro de 1975, Lisboa. Deputados passam a noite no Palácio de São Bento, cercado pelos manifestantes
Sebastião Salgado, 7 de julho de 1975, Rio Maior. Primeiro grande ataque às sedes do PCP

Imagem do 25 de novembro:
Alain Mingam, Getty Images, 26 de novembro de 1975, Tancos. Paraquedistas rendem-se às forças vitoriosas

(Fotos editadas por CV)
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Notas do editor:

Vd. post de 26 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27258: Agenda cultural (902): "Venham Mais Cinco", o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975, exposição fotográfica para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)

Último post da série de 30 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27270: Agenda cultural (903): Convite para a Conferência Círculo do Mar - "Dar Voz Às Guarnições" - Ultramar 1961-1974, dia 16 de Outubro de 2025, pelas 17 horas, a ter lugar na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, Lisboa (José Maria Monteiro, ex-Marinheiro Radiotelegrafista)