
Foto: O nosso camarada José Claudino da Silva durante a entrevista. Jornal "A Verdade" (2025), com a devida vénia...
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José Claudino da Silva. Arquivo pessoal, |
Disponível no Facebook do Jonal A Verdade,. 25
de Abril de 2025, 21:46, bem como na página do facebook do nosso camarada, membro da Tabanca Grande com o nº 756. Tem 63 referências no nosso blogue. Natural de Penafiel, trabalhou em Amarante, vive hoje na Lixa, Felgueiras.

Informação diária on-line da região do Tâmega e Sousa, com cerca de um milhão de visualizações mensais. Cobertura informativa dos municípios das regiões de Douro, Tâmega.
Penafiel, 25 abril 2025, 21:00
Entre junho de 1972 e junho de 1974, José Claudino da Silva escreveu 1108 cartas enquanto cumpria o
serviço militar na Guiné. Recebeu 692. Estão quase todas guardadas, como um diário da vida em tempo de guerra e de mudança.
José Claudino da Silva, hoje com 74 anos, recorda com lucidez e emoção os tempos em que foi mobilizado para a guerra colonial. Aprovado na inspeção militar em 1971, ingressou nas Forças Armadas em janeiro do ano seguinte, começando uma viagem que o levaria da recruta no Porto até Fulacunda, na Guiné, onde esteve até junho de 1974.
Sem medo, mas com um firme sentido de dever, Claudino foi preparado para “defender Portugal e o regime”. Apesar da perda de um amigo próximo na guerra, manteve-se firme na missão:
de Abril de 2025, 21:46, bem como na página do facebook do nosso camarada, membro da Tabanca Grande com o nº 756. Tem 63 referências no nosso blogue. Natural de Penafiel, trabalhou em Amarante, vive hoje na Lixa, Felgueiras.
Informação diária on-line da região do Tâmega e Sousa, com cerca de um milhão de visualizações mensais. Cobertura informativa dos municípios das regiões de Douro, Tâmega.
entrevista a José Claudino da Silva
Entre junho de 1972 e junho de 1974, José Claudino da Silva escreveu 1108 cartas enquanto cumpria o
serviço militar na Guiné. Recebeu 692. Estão quase todas guardadas, como um diário da vida em tempo de guerra e de mudança.
José Claudino da Silva, hoje com 74 anos, recorda com lucidez e emoção os tempos em que foi mobilizado para a guerra colonial. Aprovado na inspeção militar em 1971, ingressou nas Forças Armadas em janeiro do ano seguinte, começando uma viagem que o levaria da recruta no Porto até Fulacunda, na Guiné, onde esteve até junho de 1974.
Sem medo, mas com um firme sentido de dever, Claudino foi preparado para “defender Portugal e o regime”. Apesar da perda de um amigo próximo na guerra, manteve-se firme na missão:
“Estava preparado, não senti medo, mas estranhei estar rodeado de arame farpado, daí as minhas inquietações, e só depois percebi que não tinha liberdade”, diz.
Foi como condutor de viaturas que encontrou o papel no terreno, ajudando a resgatar carros presos, em zonas minadas e perigosas.
Mas foi fora do campo de batalha que Claudino encontrou uma forma de resistir ao isolamento: a escrita. Escrevia diariamente, mais do que uma carta por dia, e não apenas para si, mas também para os colegas que não sabiam escrever.
Mas foi fora do campo de batalha que Claudino encontrou uma forma de resistir ao isolamento: a escrita. Escrevia diariamente, mais do que uma carta por dia, e não apenas para si, mas também para os colegas que não sabiam escrever.
“Cheguei a escrever cartas de amor para as namoradas deles, copiando o que dizia à minha”, conta com humor.
Ao todo, redigiu 1108 cartas e recebeu 692. Hoje, guarda-as como um tesouro: um retrato íntimo e honesto da vida de um soldado, dos medos silenciosos e da paixão pela palavra. É, para ele, a forma de manter viva a memória de um tempo que moldou uma geração. O 25 de Abril chegou quando Claudino ainda estava na Guiné. Sentiu, de imediato, uma diferença no comportamento dos seus superiores: mais respeito, menos distância. “Foi a primeira vez que senti que algo estava mesmo a mudar".
De regresso a Portugal, mergulhou nas transformações da nova liberdade: frequentou comícios, escreveu para jornais, inclusive em protesto contra o modo como os soldados eram retratados e tratados. Após o regresso da guerra na Guiné, encontrou um país diferente e com mais liberdade.
Ao todo, redigiu 1108 cartas e recebeu 692. Hoje, guarda-as como um tesouro: um retrato íntimo e honesto da vida de um soldado, dos medos silenciosos e da paixão pela palavra. É, para ele, a forma de manter viva a memória de um tempo que moldou uma geração. O 25 de Abril chegou quando Claudino ainda estava na Guiné. Sentiu, de imediato, uma diferença no comportamento dos seus superiores: mais respeito, menos distância. “Foi a primeira vez que senti que algo estava mesmo a mudar".
De regresso a Portugal, mergulhou nas transformações da nova liberdade: frequentou comícios, escreveu para jornais, inclusive em protesto contra o modo como os soldados eram retratados e tratados. Após o regresso da guerra na Guiné, encontrou um país diferente e com mais liberdade.
“Antes da Revolução escrevi um pequeno texto para o Século Ilustrado, fui censurado pelo meu capitão”, recorda.
“O 25 de Abril deu-me voz. Deixei de ter medo. Passei a escrever sobre tudo e ainda hoje escrevo”, afirma Claudino, que guarda desses tempos não só as cartas, mas também os poemas e textos que continua a produzir, com uma visão crítica sobre o país, sobretudo no que toca à educação e ao futuro da juventude. Em criança lembra como foi colocado na última fila da sala de aula por ser de uma zona pobre, e como, mesmo assim, nunca deixou de querer aprender e escrever.
Com o 25 de Abril, também o contacto com a cultura e a liberdade de expressão se transformaram. “Antes não podia ler Marx. Depois comecei a ir a comícios e a ler tudo o que antes era proibido".
Num testemunho emocionado, Claudino alerta, ainda, para os perigos da regressão social:
“O 25 de Abril deu-me voz. Deixei de ter medo"
“O 25 de Abril deu-me voz. Deixei de ter medo. Passei a escrever sobre tudo e ainda hoje escrevo”, afirma Claudino, que guarda desses tempos não só as cartas, mas também os poemas e textos que continua a produzir, com uma visão crítica sobre o país, sobretudo no que toca à educação e ao futuro da juventude. Em criança lembra como foi colocado na última fila da sala de aula por ser de uma zona pobre, e como, mesmo assim, nunca deixou de querer aprender e escrever.
Com o 25 de Abril, também o contacto com a cultura e a liberdade de expressão se transformaram. “Antes não podia ler Marx. Depois comecei a ir a comícios e a ler tudo o que antes era proibido".
Num testemunho emocionado, Claudino alerta, ainda, para os perigos da regressão social:
“Temo não por mim, mas pela minha neta. A liberdade de hoje existe, mas não sabemos interpretá-la".
Num paralelo com a infância, refere que Portugal continua a liderar negativamente no número de crianças institucionalizadas, como há 50 anos. “Isso não é liberdade. Há problemas que resistem à revolução".
Esta história é um testemunho vivo de um tempo difícil, mas também de esperança e transformação. As cartas que escreveu, e que hoje guarda, são mais do que palavras, são pedaços de história, de vida e de liberdade.
Num paralelo com a infância, refere que Portugal continua a liderar negativamente no número de crianças institucionalizadas, como há 50 anos. “Isso não é liberdade. Há problemas que resistem à revolução".
Esta história é um testemunho vivo de um tempo difícil, mas também de esperança e transformação. As cartas que escreveu, e que hoje guarda, são mais do que palavras, são pedaços de história, de vida e de liberdade.
(Seleção, negritos, revisão e fixação de texto para efeitos de publicação no blogue: LG)
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Nota do editor:
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