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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22959: Agenda cultural (798): Apresentação do livro "Guerra, Paz... e Fuzilamentos - Guiné 1970-1980" da autoria de Manuel Bernardo, dia 15 de Fevereiro, pelas 15h00, na Livraria-Galeria Municipal Verney, Rua Cândido dos Reis, 90 - Oeiras. A obra será apresentada pelo Coronel Tirocinado Comando Raul Folques

C O N V I T E


GUERRA, PAZ... E FUZILAMENTOS - GUINÉ 1970-1980

Da autoria do Cor. Manuel Amaro Bernardo

BARROSO da FONTE

Por ocasião dos 28 anos da inauguração do Monumento Nacional aos Combatentes do Ultramar, situado junto ao Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa, chega aos escaparates das melhores livrarias do país, a obra: GUERRA, PAZ... E FUZILAMENTOS - GUINÉ 1970-1980.

Assina este livro de livros, o Coronel Manuel Amaro Bernardo que nasceu em Faro, em 1939 e que é «um oficial reformado do Exército Português. Desde 1977, passou a fazer investigação sobre a História Contemporânea mais recente, tendo publicado nove livros até 2013». Extratos desses livros relacionados com a Guiné, mais aditamentos posteriores, reaparecem, em 472 páginas, algumas das quais já faziam parte de outra obra com idêntico título, em 2007.

Não conheci pessoalmente este meu coetâneo, ele do quadro permanente e eu miliciano. Mas a sua vasta obra, coerente, patriótica, disciplinada e rigorosa sempre me alentou a formar e a formatar essas virtudes culturais e cívicas que me nortearam, como jornalista e autor, nestes 68 anos de militância ininterrupta que completo em 24 deste mês. Na minha biblioteca pessoal, exposta ao público, na Cidade Berço, que chegou a ter vinte e três mil títulos, antes de enviar partes para Timor, Câmara de Montalegre e associações periféricas, consegui adquirir, cerca de um milhar de obras de militares de todas as ideologias. Prefaciei várias, editei dúzias (como editor) e como recensor literário, li muitos mais.

Confesso que uma leitora que pessoalmente não conheço mas que me privilegia com a sua amizade e a qual considero, uma espécie de anjo da guarda de todos, frequenta, em Lisboa, os centros culturais recomendáveis para as apresentações de livros.

A Editora Âncora, por exemplo, pegou no programa «Fim do Império» que foi criado pelo Coronel Manuel Barão da Cunha, quando foi funcionário da Câmara Municipal de Oeiras, no sector Cultural.

A maior parte dos livros dos militares de Abril, quer do quadro quer milicianos, primam pela entrega das obras que nos últimos 25 anos se têm publicado. Os amigos do livro, já conhecem os locais das apresentações. E, mal sabem de mais um, logo partilham essa presença, mesmo à distância.

Com mais esta obra assim aconteceu. Acabei de ler, reler e anotar elementos para uma recensão. Manuel Amaro Bernardo, Alberto Ribeiro Soares, Jorge Golias, Jorge Lage, Manuel Barão da Cunha, todos coronéis da Guerra do Ultramar, são figuras de alto nível intelectual e académico que aprecio ter à mão para reconhecer que todos fizemos parte do mesmo ciclo. Esse ciclo prejudicou a todos, quer os profissionais das armas, quer os milicianos. Aqueles viram interrompidas as suas carreiras às portas do generalato. No meu caso que foi o de muitos milhares, que atrasaram os seus cursos superiores o seu casamento, a reconstrução das suas vidas familiares. Nunca, alguém, corrigiu esta aberração. Mas ela existe desde que a democracia ficou institucionalizada. Esse quisto, quicá furúnculo gangrenoso, é irreversível

Compensações? Somente os 310 ex-políticos e juízes que durante toda a sua vida receberão, mensalmente, pensões de luxo, entre 883 e os 13.666 euros. Mas estas verbas, conhecidas por «subvenções mensais vitalícias» nada têm a ver com os restantes rendimentos do trabalho profissional desses sortudos.

Este livro de um comentador bem documentado, obriga a uma reflexão sobre os 48 anos de democracia em construção. Edição da Âncora - programa Fim do Império.

Barroso da Fonte

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22932: Agenda cultural (797): Museu do Aljube, Resistência e Liberdade, Lisboa: exposição temporária, de 13/1 a 20/3/2022: "A Guerra Guardada: Fotografias de Soldados Portugueses em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21365: (De)Caras (161): Cecília Supico Pinto e o MNF: entrevista realizada em 16/7/2005, aos 84 anos, no Hospital de Santa Maria em Lisboa, onde se encontrava internada, pelo cor inf Manuel Amaro Bernardo, da revista "Combatente": " A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema. Em Moçambique, o problema era também complicado"...




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Meados de Maio de 1969 >  Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por Cilinha... 

Todas as guerras têm a sua Pasionaria... A Cilinha terá sido a nossa, a da "guerra do ultramar" ... Infantilizava os combatentes tratando-os por "os seus meninos"... Em entrevista ao Expresso, de 18/2/2008, aos 86 anos, não esconde, antes pelo contrário, que tinha uma relação de grande intimidade e cumplicidade com Salazar. E dá a entender que havia gente do Estado Novo mas também comandantes militares, no mato,  que a odiavam... Talvez pelo seu excessivo protagonismo e acesso privilegiado a Salazar (que ela tratava como "príncipe" e nunca como "ditador").  Amiga do seu amigo, era capaz de interceder junto de Salazar em caso de "excessos da PIDE" (que ela diz que detestava, tal como a censura), de que foram vítimas por exemplo o casal Sousa Tavares (o advogado Francisco Sousa Tavares, "o Tareco", e a a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen).

A promiscuidade com o regime, a par do elitismo e classismo da direcção  do MNF, acabou por retirar-lhe credibilidade e aceitação social. Durante a guerra colonial, foi um mulher do regime, poderosa, colunável: a RTP dava-lhe honras de telejornal, as suas partidas para África eram tratadas quase como viagens de Estado...
 
Como seria natural, a lider do Movimento  branqueou o regime e a guerra, dando provas de dissonância cognitiva ... Apesar da sua frontalidade e até coragem... 

Terá dado apenas duas entrevistas à Comunicação Social no pós-25 de Abril: ao Expresso, em 2008, e à revista Combatente, em 2005, cujo  teor abaixo se reproduz, por cortesia do cor inf ref Manuel Amaro Bernardo. 

Quanto às  fotos do José Carlos Lopes, que acima reproduzimos,  são absolutamente notáveis...  A primeira é mesmo uma  foto de antologia, (O José Carlos Lopes, do meu tempo de Bambadica, foi fur mil amanuense do conselho adminitrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). (LG)




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Maio de 1969 > Ponte do Rio Udunduma, afluente do Rio Geba, na estrada Xime-Bambadinca > Possivelmente no(s) dia(s) seguinte(s) ao ataque (em força) ao quartel de Bambadinca, em 28 de maio de 1969,, já ddepois da visita da Cilinha. Nessa noite, esta ponte, vital para as comunicações com todo o leste da província, foi objeto do "trabalho" dos sapadores do PAIGC... Os estragos, embora visíveis, não abalaram a sua estrutura. Era uma bela ponte, em cimento armado, construída no início dos anos 50. Esta foto é "histórica". O José Carlos Lopes posou aqui para... a "posteridade", talvez na véspera de eu passar aqui  em 2/6/1969, a caminho de Contuboel... (LG)


Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editação e e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Do nosso leitor e camarada cor inf ref Manuel Amaral Bernardo (n. Faro, 1939; tem 4 comissões de serviço, no ultramar, em Angola e Moçambique; é autor do livro, entre outros, «Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros; Guiné 1970-1980»,  Lisboa, Editora Prefácio, 2007, 410 pp.; tem mais de uma dezena e meia de referências no nosso blogue)

Data - 15 set 2020 16:45

Assnto - Cecília Supico Pinto

Caro Prof.:

Como no site têm falado na Cilinha, para o caso de querer lá postar, junto em anexo.
Boa saúde
Ab M B

2. Entrevista com Cecília Supico Pinto, para a revista "Combatente", em  16/7/2005 (*)

por Cor Manuel Bernardo


De seu nome completo Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto, era mulher de Luís Supico Pinto, antigo ministro da Economia e Presidente da Câmara Corporativa. É Sócia de Honra da Liga dos Combatentes, para que foi eleita, por aclamação, na reunião da Assembleia Geral de 21 de Junho de 1971.


P.: Na sua qualidade de ex-Presidente do Movimento Nacional Feminino [, MNF], extinto em 25 de Abril de 1974, prestou um depoimento a José Freire Antunes, que foi incluído em "A Guerra de África", vol. I (1995). Gostaria de aprofundar alguns assuntos nele abordados, tal como colocar-lhe outras questões. Uma das inovações lançadas em 1961 foi a dos aerogramas. Pode clarificar melhor a concretização desta ideia?

R.: De facto lançámos essa ideia e conseguimos concretizá-la apesar das dificuldades surgidas. Ainda recentemente fui visitada pelo General Oliveira Pinto, que me ofereceu um livro sobre esse tema, resultante de um trabalho que levou a efeito. Nele lá vem referido que foi o MNF a fazer todas a edições dos aerogramas. Conseguimos a isenção da franquia postal, mas também nos disseram que tal apenas podia ir para a frente se fossemos nós a tomar conta do desenvolvimento desse projecto. 

Na altura tínhamos somente mil e quinhentos escudos em caixa ], o equivalente, a preços de hoje, em 16/9/2020, a 663,63 €...]  , mas, através da venda de publicidade nos próprios aerogramas, conseguimos editar milhões de exemplares. Vendíamos às famílias a vinte centavos [, nove cênti,os, hoje], sendo grátis para os militares. Nessa época arcámos com toda a responsabilidade e as despesas inerentes. 


E não vieram a receber subsídios do Estado para esse efeito?

Apenas cerca de quatro anos antes de 1974, face ao alargamento das três frentes de guerra, é que passámos a receber subsídios do Ministério da Defesa Nacional, assim como apoio jurídico e de contabilidade. 

A Administração Militar passou cerca de seis meses no Movimento a verificar toda a nossa documentação administrativa. Deste modo, quando acabou, o MNF tinha todas as suas contas em ordem. 

Nos primeiros anos o SPM (Serviço Postal Militar) funcionava mal, dentro de uma grande balbúrdia, onde nós ajudávamos no serviço, com várias senhoras. A certa altura colocaram lá o Major Tavares, que conseguiu dar eficiência ao serviço. Depois, ele queixava-se que nunca mais ia para o Ultramar, pois o MNF não o libertava. De facto, nós com o receio de que tudo voltasse à confusão anterior, fazíamos com que ele não seguisse para o Ultramar quando foi mobilizado. Ficou assim "demorado" por algum tempo.


Quais eram a vossas principais preocupações?

Uma das principais era o facto dos Serviços Sociais das Forças Armadas não funcionarem devidamente. Acabámos por sermos nós a empenharmo-nos nas soluções de determinadas questões. 

Uma delas era a subvenção de família, que estava prevista numa lei que não era executada. Ela estipulava que os pais dos militares mobilizados, com mais de 60 anos, tinham direito a esta subvenção. No entanto a lei não era cumprida por desconhecimento das Unidades Militares. Chegou a realizar-se uma reunião, no Governo Militar de Lisboa, com uma nossa delegada, para esclarecer a maneira como a lei devia ser interpretada.


O vosso Movimento nasceu em 1961 ligado às "vicentinas", uma obra da Igreja Católica.

Sim. Ligámo-nos às "vicentinas" cuja presidente nacional era a D. Maria da Glória Barros e Castro. Era uma obra fantástica espalhada por todo o território nacional. Foi essa a principal razão da nossa ligação e cooperação, com a finalidade de conseguirmos chegar a todas as regiões. 

Como sabe, o MNF nasceu oficialmente em Junho de 1961, quando levámos a efeito uma sessão pública na Sociedade de Geografia, com a difusão do nosso programa através da RTP e de outros órgão de Comunicação Social.


No entanto, na parte final da guerra, houve uma evolução negativa da parte de alguns sectores da Igreja em relação ao Ultramar...

Claro que nessas ocasiões acabam por surgir alguns elementos oposicionistas. No entanto, sempre tivemos óptimas relações com os elementos da Igreja, nomeadamente com os capelães militares que prestavam com eficiência o seu serviço de assistência religiosa nas Forças Armadas. Eram uns grandes "pedinchões", como nós dizíamos. Mas era tudo em defesa da melhoria das condições de vida dos militares no mato. 

Recordo que chegámos a espalhar por grande parte das cantinas e bares das três frentes de guerra aqueles jogos de bola com bonecos, os designados "matraquilhos", que eram muito apreciados. Isto além de livros, revistas e material didáctico.


Editaram também a revista "Presença"?

Sim. Começou sendo directora a Luísa Manoel de Vilhena, em meados da década de sessenta. Era uma boa revista, muito bem paginada e com bons colaboradores. 

Mais tarde editámos igualmente a "Guerrilha", um jornal mensal, que teve como directores o Martinho Simões e, depois, o Mário Matos e Lemos.


Uma das vossas preocupações foi também resolver o problema das trasladações dos militares falecidos no Ultramar...

Claro. Inicialmente tínhamos a preocupação de fotografar as campas onde eles eram enterrados para enviar às famílias e, em Angola, chegou a existir um movimento das senhoras locais para manterem as campas com flores. 

Recordo ainda que havia uma lei em relação à Guiné, em que o militar, antes de seguir para lá, tinha que assinar um documento onde afirmava que, em caso de morte, a família tinha que se ocupar da trasladação do corpo para o Continente. Telefonei ao Ministro da Defesa, General Luz Cunha e disse­-lhe: “Eu tenho aqui um documento que diz isto e eu não posso acreditar que seja verdade.” Respondeu-me: “Mande-me imediatamente esse papel!” Assim foi e nunca mais tal sucedeu.


A partir de 1967 o Exército passou a ocupar-se das trasladações para o Continente.

Sim e foi devido à pressão que fizemos nesse sentido. Nós estávamos sempre de "olho aberto". De tal modo que o Dr. Franco Nogueira afirmava que a verdadeira oposição no País éramos nós, porque chamávamos a atenção para tudo o que estava errado. E é verdade. 

Outro aspecto que também corrigimos foi o caso da vacina contra a febre amarela, que era aplicada na altura do embarque, o que era contra-producedente. Tinha que passar algum tempo para depois fazer marchar os militares para o seu destino.


Nos seus contactos pessoais com o Professor Salazar, não se apercebeu das razões por que ele nunca quis ir ao U1tramar?

Não sei porquê, já que ele tinha a paixão do Ultramar. Cheguei a dizer-lhe: “Olhe, Sr. Dr., se eu fosse a si, fazia assim, Portugal com a capital em Luanda”. Riu-se e disse. “Tenho que ir lá...; tenho todo o interesse em lá ir.”


Mas tinha receio de andar de avião...

Ele não gostava. Foi uma vez de avião, com uma senhora muito amiga, conhecida desde miúdos, que era a Geny Aragão Teixeira, mais tarde esposa do Prof. Francisco Leite Pinto, que foi Ministro da Educação Nacional. Ocorreu num 28 de Maio, em que fomos todos a Braga. Depois ela perguntou-lhe: “Então que tal?”. Resposta dele: “Foi o que fiz toda a vida, não fumar e apertar o cinto...”


Não notou uma grande diferença entre a liderança de Salazar e a de Marcello Caetano?

Claro! Julgo que o segundo não esteve à altura do que o País precisava dele, naquela época.


E a sua opinião sobre o General António de Spínola?

Foi um valente guerreiro, patriota e um bom militar em Angola e na Guiné. Nada mais do que isso. Como escritor e político deixou muito a desejar...

Para terminar poderá fazer um ponto de situação em relação à guerra no Ultramar, em 1974?

A guerra em Angola estava ganha. A Guiné era um problema e sendo ela perdida, seria muito complicado para o resto. 

Também acho que faltavam muitos meios nas Unidades, incluindo o armamento. A Guiné foi grave. A minha "Guinezinha" como eu costumo dizer, tão pobrezinha... Olhe que tenho a camisola amarela de zonas de intervenção visitadas. Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. Muitas vezes ia à frente das colunas e cheguei inclusivamente a "picar" a estrada.

Sobre Moçambique, que era muito grande, o problema era também complicado... De qualquer maneira devia ter-se enveredado por outros rumos. Por exemplo, por que não se fizeram novos Brasis? 

Depois do 25 de Abril e durante muito tempo recebia cartas de naturais desses países, onde me diziam que gostariam de receber de volta os portugueses. O que sucedeu foi o pior que poderia ter acontecido. Foi uma tristeza. E até uma vergonha. 


Sabe que também havia muitos oficiais descontentes com a maneira como foi tratado, pelo regime, o caso da Índia...

Sim e não só. Havia também o problema das mulheres dos oficiais que faziam comissões seguidas, assim como o caso dos brancos lá residentes, que não se portaram da melhor maneira. Eu assisti a muitos desses problemas e tentava apaziguar dentro das minhas possibilidades. Mas já era uma situação demasiado complicada...


(*) Entrevista realizada em 16-7-2005, no Hospital de Santa Maria em Lisboa, onde se encontrava internada, pelo Coronel Manuel Amaro Bernardo


2. Nota do cor Manuel Bernardo dobre o falecimento de Cecília Supico Pinto (1921-2011): 


Caros combatentes:

Sobre esta Senhora, quero referir que apenas a conheci em Julho de 2005, quando fui encarregado pela revista Combatente,  da Liga dos Combatentes, de a entrevistar quando estava com baixa no Hospital de St. Maria. 

Além de ter sido publicada nessa revista, também faria parte do conteúdo do livro "A Mulher Portuguesa na Guerra (...)", editado por aquela Liga em 2008.

Desse texto realço alguns pontos importantes, nomeadamente em relação às suas diligências sobre a solução de problemas dos combatentes.

Sobre os aerogramas afirmou: 

"De facto foi o MNF a fazer todas as edições dos aerogramas. Conseguimos a isenção da franquia postal, mas também nos disseram que tal apenas podia ir para a frente se fossemos nós a tomar conta do desenvolvimento desse projecto. Nessa altura tínhamos apenas mil e quinhentos escudos em caixa, mas, através da venda de publicidade nos próprios aerogramas, conseguimos editar milhões de exemplares. Vendíamos ás famílias a vinte centavos, sendo grátis para os militares. Nessa época arcámos com toda a responsabilidade e as despesas inerentes."

Sobre as trasladações dos militares falecidos afirmou:

"(...) Recordo que havia uma lei em relação à Guiné, em que o militar, antes de seguir para lá, tinha que assinar um documento onde afirmava que, em caso de morte, a família tinha que se ocupar da trasladação do corpo para o Continente. Telefonei ao Ministro Silva Cunha e disse-lhe: «Eu tenho aqui um documento que diz isto e eu não posso acreditar que seja verdade». Respondeu-me «Mande imediatamente esse papel!». Assim foi, e nunca mais tal sucedeu. (...)"

Sobre as suas idas à Guiné, disse:

 "(...) Cheguei a ir umas quatro vezes a Madina do Boé, a Buruntuma, a Nova Lamego e a muitas outras zonas de combate. Nunca virei a cara e posso andar em qualquer sítio de cabeça bem levantada. (...)"

Cecília Supico Pinto ainda deu mais uma entrevista em 2008,que foi publicada na revista do Expresso, em 16 de Fevereiro.

Com estes destaques pretendi, nesta sua despedida, homenagear o grande esforço despendido por esta Senhora no apoio aos combatentes do Ultramar

Que descanse em paz!

Cor Manuel Bernardo
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Nota do editor:

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18984: Agenda cultural (648): lançamento do livro "Moçambique: guerra e descolonização, 1964-1975", de Manuel Bernardo, na biblioteca municipal de Faro, dia 18 de setembro de 2018, pelas 18h00





Convite que nos foi endereçado pelo autor, cor inf ref Manuel Bernardo-

Nota biográfica:

(i) nascido em Faro, em 193, vive em  Carnaxide, Oeiras

(ii) endereço de email:  manuel.bernardo258@gmail.com

(iii)  Carreira militar: 

Curso da Academia Militar (1959).

Durante 36 anos, desempenhou funções de comando e chefia de pessoal militar e civil, sendo oito em África (Angola e Moçambique), nas quatro comissões por imposição (escala) que cumpriu em 1961/73 (alferes e capitão). 

Após o 25 de Abril, com o posto de major, esteve colocado no Batalhão de Comandos (depois Regimento), a proceder à liquidação do Regimento de Infantaria n.º 1, entretanto extinto, tendo feito parte do Posto de Comando, na Amadora, que coordenou as acções militares de contenção do golpe de 25 de Novembro de 1975. 

Desempenhou as funções de Director de Instrução do Regimento de Infantaria de Angra do Heroísmo, durante mais um deslocamento por imposição, nos Açores (1977/78).

 Foi Oficial de Operações e 2.º Comandante do então Batalhão n.º 2 da GNR, com área de actuação nos distritos de Lisboa, Setúbal, Santarém e Leiria (1979/85).

Após desempenhar as funções de Subchefe do Estado-Maior, no Quartel General da Região Militar Sul, em Évora, esteve colocado nos Tribunais Militares Territoriais de Lisboa, onde foi Promotor de Justiça e Juiz Vogal/Presidente, durante cerca de oito anos (1987/95).

(iv) é diplomado com o Curso Complementar de Ciências da Informação da Universidade Católica Portuguesa (1990/93).

(v)  Actividade Literária

Publicou em 1977, com o pseudónimo de Manuel Branco, o livro «Os Comandos no Eixo da Revolução; Crise Permanente do PREC; Portugal 1975/76» (352 pp) na Editorial Abril (seis semanas no quadro dos best-sellers).

Colaborador de alguns jornais diários e semanários lisboetas (1975/1980).

Redactor da revista Mama Sume da Associação de Comandos (1989/1993).

Colaborador do Semanário (1991), do Combatente, da Liga dos Combatentes, desde 1991, do semanário regional O Algarve em 1994-2004 e do Boletim da AFAP. (Associação da Força Aérea Portuguesa)

(vi) Publicações não-periódicas:

1.  «Marcello e Spínola – a Ruptura; As Forças Armadas e a Imprensa na Queda do Estado Novo; Portugal 1973-1974» (456 pp). Lisboa, Editora Margem, 1994 (em 2.ª edição na Editorial Estampa (368 pp), em 1996. Apresentada pelo Dr Luís Villas-Boas, em 13-10-2011, uma 3.ª edição actualizada (300 pp), no Museu Militar, em Lisboa, com o prefácio do Gen. Vasco Rocha Vieira. (Versbrava Editora – Edium - Porto).

  2. «Equívocos e Realidades; Portugal 1974-1975» (2 vol. 1 012 pp). Lisboa, Editora Nova Arrancada, 1999, com o prefácio do Eng.º Paulo Valladas. Lançado no Dia Internacional do Livro, na Livraria Municipal Verney, em Oeiras.    3. «Timor – Abandono e Tragédia; “A Descolonização” de Timor (19741975)», (271 pp) em co-autoria com o Coronel Morais da Silva.(falecido) Lisboa, Editora Prefácio, 2000, com posfácio do Comandante Virgílio de Carvalho (falecido).

  4. «Combater em Moçambique; Guerra e Descolonização 1964-1975» (452 pp). Lisboa, Editora Prefácio, 2003, com prefácio do Prof. Adriano Moreira.

  5. «Memórias da Revolução; Portugal 1974-1975» (740 pp). Lisboa, Editora Prefácio, 2004. Foi lançado no Dia Internacional do Livro, integrado nas comemorações do 30.º aniversário do 25 de Abril, é uma edição revista e actualizada de “Equívocos e Realidades 1974/75 (…)” e tem um prefácio do Prof. Artur Anselmo, actual Presidente da Academia das Ciências.

  6. «25 de Novembro; Os “Comandos” e o Combate pela Liberdade» (521 pp), em co-autoria com o Prof. Dr. Francisco Proença Garcia e o SargMor “Comando” Rui Domingos da Fonseca. Lisboa, Edição da Associação de Comandos assoc.comds@mail.telepac.pt . 2005. Tem o prefácio do General Tomé Pinto e o posfácio do General Ramalho Eanes e foi lançado no Instituto de Defesa Nacional, em 25-11-2005, nas comemorações do 30.º aniversário do 25 de Novembro, com apresentação do Prof. Barbosa de Melo, ex-Presidente da Assembleia da República.

  7. «Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros; Guiné 1970-1980».(410 pp) Lisboa, Editora Prefácio, 2007, com prefácio do General Ricardo Durão. Foi lançado em 29-11-2007, na Sociedade Histórica para a Independência de Portugal/Lisboa e em 13-12-2007, na Biblioteca Municipal de Faro.                                                                       

  8. «Grades de Papel; Caxias 1975; Condomínio Fechado» (182 pp), em coautoria com o Coronel Joaquim Evónio Vasconcelos (falecido). Porto, Versbrava (Edium) Editora, 2013. Apresentado na SHIP/Lisboa, pelo General Loureiro dos Santos, na Biblioteca Municipal de Faro pelo Almirante José Cabeçadas e na Biblioteca Municipal de Quarteira, em 2013, pelo Dr. Cristóvão Norte (falecido).

  9. «Moçambique; Guerra e Descolonização; 1964-1975», 2018 (382 pp), edição actualizada de obra anterior, na editora Âncora e integrada no Programa Fim do Império (Liga dos Combatentes, Comissão Portuguesa de História Militar e Câmara Municipal de Oeiras). Tem o prefácio do General Chito Rodrigues e a apresentação esteve a cargo do General “Comando” Júlio Oliveira, na Livraria Municipal de Oeiras, 15-05-2018.   Vai ser apresentado em Faro, na Biblioteca Municipal, em 18 de Setembro de 2018, pelas 18h00, pelo Dr. Luís Villas-Boas.

Fonte: dados fornecidos pelo autor, agosto de 2018. [Revisão / fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16734: Agenda cultural (518): "A Europa a ferro, fogo e gás (1914-1918)", de Graça Fernandes: apresentação do livro pelo cor inf ref Manuel A. Bernardo, 3ª feira, dia 22, às 18h00, no Palácio da Independência, Lisboa






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1. A sugestão (e o convite) chegou-nos, à caixa do correio, em 15 do corrente, pela mão do cor inf ref Manuel A. Bernardo, escritor  e leitor do nosso blogue:

Caro(a) Amigo(a):
No dia em que vou comemorar os 60 anos de entrada na então Escola do Exército (agora Academia Militar) difundo a apresentação deste livro da minha amiga e ex-colega da Univeridade Católica, Graça Fernandes, já com quatro livros publicados. Pode ser considerada como uma investigadora especialista da época da 1.ª Guerra Mundial que assolou a Europa.

O livro da Graça Fernandes, "A EUROPA A FERRO, FOGO E GÁS (1994-1918), é prefaciado pelo General Sousa Pinto, Presidente da Comissão de História Militar e tem posfácio do Professor João Luís Fernandes da Universidade de Coimbra.

Espero por vós no Salão Nobre da Sociedade Histórica para a Independência de Portugal, ao Rossio, Lisboa, na próxima semana (terça-feira).

Ab/Bjs, MB

3. Outras atividades na 4.ª e 5.º semanas de novembro de 2016 na Sociedade Histórica - Convite das Comemorações do 1.º de Dezembro de 2016


(i) INAUGURAÇÃO DE EXPOSIÇÃO DE PINTURA, SEXTA-FEIRA, DIA 18 DE NOVEMBRO DE 2016, ÀS 18H00

Exposição de Pintura de Rouslam Botiev “Aproximações a Cervantes e a Shakespeare”, na Galeria Fernando Pessoa do Palácio da Independência, seguida de palestra do Escultor Francisco Simões, com intervenções da Prof.ª Doutora Annabela Rita e do Prof. Doutor Renato Epifânio (A exposição vai estar patente até ao dia 2 de dezembro)


(ii) CONFERÊNCIAS

Segunda-feira, 21 de novembro, às 18h00 - “Aviação nos Açores: da 2ª Guerra Mundial aos dias de hoje”, pelo cor eng Eduardo Brito Coelho, promovida pelo Instituto Bartolomeu de Gusmão da SHIP;

Terça-feira, 22 de novembro, às 17h00 – “História da Arte dos Jardins”, pela Arq.ª Pais.ª Sónia Talhé Azambuja e “Carácter, Ambiente e Elementos do Jardim Português”, pelo Arq.º Pais.ª Miguel Coelho de Sousa;

Segunda-feira, 28 de Novembro, às 18h00 - “O acidente de Camarate”, pelo Cor Victor PilAv (Ref.) João Lopes de Brito, promovida pelo Instituto Bartolomeu de Gusmão da SHIP.

(iii) APRESENTAÇÕES E LANÇAMENTOS DE LIVROS

Apresentação, no dia 23 de novembro, às 15h00, da obra literária do Prof. Doutor René Pélissier (autor de “Le Naufrage des Caravelles. Études sur la fin de Empire Portugais, 1961-1975”; “História de Moçambique, formação e oposição, 1854-1918” e “História de Angola”) no âmbito das Tertúlias Fim do Império.

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Nota do editor:

sábado, 22 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15029: In Memoriam (236): Luís Casanova Ferreira (1931-2015), cor inf ref, com duas comissões no CTIG (1964/66 e 1970/74) foi ontem a sepultar no cemitério do Alto de São João, em Lisboa



Guiné > Região de Tombali > Catió > BCAÇ 619 (1964/66) > Grupo de oficiais à mesa, no famoso bar Tombali, em Catió.

Há dois palmeirins, da CCAÇ 728: o alf mil J.L. Mendes Gomes, o 2º a contar da direita, de óculos escuros; e o alf mil Gonçalves, o 1º a contar da esquerda. Os restantes pertenciam à CCS do BCAÇ 619, então sedeado em Catió, com destaque para o major Luís Casanova Ferreira [1931-2015],  de bivaque na cabeça e camuflado, ao fundo: era o homem grande da logística do batalhão e foi um dos mentores e atores do 25 de abril. 

 Da direita para a esquerda, são ainda visíveis o alferes de transmissões do batalhão, o Teixeira; a seguir ao J.L.Mendes Gomes, o alferes, do Pel Art, de apelido Maia); e por fim, o alferes Pires Marques, de cavalaria (Pel Rec). 

Foto do álbum do nosso camarigo J.L. Mendes Gomes.

Foto (e legenda): © J. L. Mendes Gomes (2006). Todos os direitos reservados.

1. Segundo notícia da agência Lusa, Luís António Casanova Ferreira foi ontem a sepultar no cemitério do Alto de São João, em Lisboa.  Morreu na sequência de doença. Tinha 84 anos.


[Foto à esquerda: Luís Casanova Ferreira, cortesia da página de Joaquim Evónio, Varanda das Estrelícias... Uma das raras fotos deste militar português, disponíveis na Net]


O coronel inf Luís Casanova Ferreira esteve ligado ao 16 de março de 1974 (, a revolta militar que predecedeu o 25 de abril). Foi um dos capitães de abril, ligado á ala spinolista do MFA. Foi preso na sequência do  11 de março de 1975, sendo na altura major, comandante da PSP de Lisboa. Foi libertado uma semana antes do 25 de novembro.

Casanova Ferreira fez duas comissões no TO da Guiné, em 1964/66 e 1970/74.  A Tabanca Grande, que reune centenas de amigos e camaradas da Guiné, cumpre o seu dever de curvar-se à memória deste militar português com quem alguns de nós conviveram e trabalharam no TO da Guiné, e apresenta sentidas condolências à família e amigos.

2. Nota biográfica de Luís Casanova Ferreira, segundo dados fornecidos pelo seu amigo e camarada de armas, o cor inf ref Manuel Bernardo:

(i) nasceu em Lisboa em 14 de frevereiro de 1931;

(ii) cumpriu quatro comissões de serviço em África: Moçambique (1961/64 e 1967/69) e Guiné (1964/66 e 1970/74);

(iii) uma semana depois de regressar da Guiné, participou no 16 de março de 1974, a chamada revolta das Caldas da Raínha, tendo estado preso na Trafaria até ao 25 de abril de 1974;

(iv) passou a comandar a PSP de Lisboa em maio de 1974, instituição que já tinha servido em 1958/60;

(v) foi preso no 11 de março de 1975,  sendo libertado uma semana antes do 25 de novembro de 1975;

(vii) comandou os regimento de infantaria nº 2 (Abrantes) (1977/79) e nº 11 (Setúbal), tendo passado à situação de reserva em 1981 e sido reformado em 1990.

(Fonte: adapt. de Manuel Amaro Bernardo, "Equívocos e Realidades, Portugal 1974-75", pp 425, 2.º vol., 1999).

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de julho de 2015  > Guiné 63/74 - P14930: In Memoriam (235): Manuel Moreira de Castro (1946-2015), ex-Soldado At Inf da CCAÇ 2315/BCAÇ 2835 (Bula, Binar, Mansoa, Bissorã e Mansabá, 1968/69)

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12765: Debate sobre o livro "Segredos da Descolonização de Angola", de autoria de Alexandra Marques, no passado dia 18 de Fevereiro, em Oeiras (José Manuel Matos Dinis)

1. Em mensagem do dia 19 de Janeiro de 2014, o nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), enviou-nos o seu testemunho de mais uma tertúlia integrada no ciclo Fim do Império*, em Oeiras, esta realizada no passado dia 18 de Fevereiro cujo tema era o livro de Alexandra Marques, "Segredos da Descolonização de Angola".

Olá Carlos!
Envio-te uma espécie de reportagem sobre um encontro realizado em Oeiras, cuja matéria respeita à descolonização de Angola.
Fi-la de maneira a reportar só o propósito da sessão, e espero ter evitado opinar sobre o que ali foi dito. No entanto, não podia deixar de constatar e transmitir a opinião ali generalizada, ou, pelo menos, incontestada.
Não cito nomes, que constam do livro, para não ferir susceptibilidades, e para que os "árbitros de bancada" não se fiquem pelo comentário sobre causa desconhecida. Ah! Também não me foi pedida a divulgação, faço-o no âmbito das recensões no Blogue e para conhecimento de eventuais interessados.

Um grande abraço
JD


No passado dia 18, na sede da delegação da Liga dos Combatentes Cascais/Oeiras, realizou-se uma reapresentação, com debate, do livro com o título "Segredos da Descolonização de Angola", da autoria de Alexandra Marques, no âmbito do seu doutoramento em história. À guisa de preâmbulo cautelar sobre eventuais reacções emotivas, o senhor coronel Barão da Cunha advertiu para o "picante" da obra, e apelou à urbanidade das intervenções sob os diferentes pontos de vista.

E do que consta esse picante?
Pois o picante radica nos actos de alguns elementos das FA, que durante o período da descolonização de Angola, ali protagonizaram atitudes que causam "vergonha" a alguns dos seus camaradas presentes no encontro. E ficou a sensação, por falta de manifestações divergentes, que na assistência todos repudiam situações de desleixo, de indisciplina e abuso de poder na instituição militar, de desonra à história de Portugal e à ética da condição militar, principalmente consubstanciadas pelo desprezo votado aos cidadãos, e pela entrega indigna de militares portugueses a um movimento, que sobre eles praticou sevícias, como corolário da exagerada desfaçatez de não se terem deixado desarmar pelos anteriores inimigos. Terão ido parar à praça de touros de Luanda.

O senhor coronel-comando Manuel Bernardo, que cumpriu comissões em Angola e Moçambique fez uma síntese sobre a situação militar que precedeu o golpe de 25 de Abril, e adiantou alguma notícia sobre os desenvolvimentos negociais em que participaram as FA, os movimentos ditos de libertação, e o novo poder político de Lisboa, anotando algumas contradições e sucessivas cedências da parte portuguesa.

A Autora referiu os pressupostos da obra, que leu grande quantidade de documentos, vasculhou arquivos oficiais e particulares, que enfrentou relutâncias de diversa ordem, recebeu conselhos para não mexer em certas matérias, mas decidiu prosseguir, e garante que o livro só espelha o que conseguiu provar, quer em documentação, quer por testemunhos. Acrescentou que, pelo menos um militar que entrevistou, já tentou vexá-la numa apresentação anterior, negando a entrevista e a projecção plasmada no livro.
Como se infere com facilidade, há responsáveis que tentam branquear as acções que determinaram e mantê-las escondidas da opinião pública. Igualmente os órgãos de informação sonegam sobre a obra tão importante para o conhecimento público, que já se considera da maior importância e coragem. Ao Expresso, conforme citou, enviou seis exemplares, e até hoje nem uma linha sobre a matéria.
A autora, que exerceu o jornalismo durante 20 anos até enveredar por esta investigação, acrescentou que tem sido essa a atitude dos diferentes órgãos da imprensa, onde, aliás, conta com muitos companheiros de trabalho, que por via do livro chegaram a abrandar o relacionamento.

Por fim, seguiu-se um período de intervenção do público (quase cinquenta pessoas, na maioria militares de profissão). E nesse tempo houve revelações complementares sobre a época em epígrafe. Assim, foi revelado sobre o caso Vila Alice, como consta do texto, que os movimentos entraram em Luanda com 600 efectivos cada, e instalaram-se quase em frente na mesma rua. Esse testemunho, de um oficial nascido em Angola, referiu que estava na Vila Alice a fazer um exame de Karate, participado com um mestre cubano, quando começaram os disparos de um lado para o outro, uns de uma vivenda, os outros de um edifício onde instalaram uma Browning, sob a quase complacência da autoridade portuguesa e a estupefação dos residentes.

Esse famoso episódio dá-nos conta da alteração da normalidade urbana, e foi um anúncio das dificuldades que passariam a afectar a população civil, já que os portugueses não puseram cobro àquela e a outras situações seguintes.
Também foi revelado que antes do apoio oficial cubano, já ali confluíam cidadãos daquele país que faziam a avaliação material para incremento de uma estratégia. E também foi apontada a coordenadora do MFA como parte bastante activa em benefício de um dos movimentos, com capacidade para repatriar quem se lhe opunha, como no caso em que o Alto-Comissário terá incumbido dois oficiais superiores para uma acção revanchista que aqueles recusaram.

A propósito desse Alto-Comissário, um dos presentes exibiu a célebre carta de aconselhamento a mal-tratar os colonos, cuja autoria a autora considerou não estar provada. Mas também ali foi dito, que um empresário, em seu nome e no de outros cidadãos que residiam e exerciam actividades em Angola, escreveu ao almirante no sentido de que lhes fossem dispensados meios de protecção, e obteve como resposta - assegurou que o empresário ainda conserva a resposta - que eram os movimentos que avaliavam sobre a questão da segurança, e acrescentava, que sendo o destinatário branco e português, seria aconselhável deixar Angola para os autóctones, mas com outra expressão, ou seja, desanda enquanto é tempo.

Também se falou do "batalhão em cuecas". A estória resume-se assim: as autoridades portuguesas tinham decidido providenciar por um equilíbrio bélico entre os movimentos, e um batalhão que retirava para Luanda, recebeu instruções para entregar o armamento à Unita, mas que por intervenção de alguém do MFA entregou a outro movimento. Em represália, a Unita aprontou uma emboscada e deixou parte do batalhão em cuecas, o que dá uma boa imagem da decência, e da proficiência da tropa naquele momento, que devia ser de grande responsabilidade, em que mais se exigia ordem e serenidade.
Do que se infere que a tropa, no geral obedecendo a ordens controversas e ofensivas da mais elementar racionalidade, abdicava.

Finalmente, foi divulgado que aquela delegação da Liga dos Combatentes, com o patrocínio da Câmara Municipal de Oeiras, está recolher testemunhos como os que aqui são revelados, para um eventual projecto editorial, na senda das publicações que já promoveu, pelo receberá com interesse todas as colaborações que lhe sejam endereçadas.

JD
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 15 de Fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12721: Agenda cultural (302): Tertúlia Fim do Império, dias 18 de Fevereiro, 18 de Março, 1 de Abril e 20 de Maio de 2014, às 15h00, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, em Oeiras (Manuel Barão da Cunha)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12093: Agenda cultural (284): Lançamento do livro “Homenagem Póstuma a Joaquim Evónio Vasconcelos”, no Salão Nobre do Palácio da Independência, Lisboa

1. Mensagem do cor inf ref Manuel Amaro Bernardo:



Completando o ciclo de louvor à vida deste nosso Amigo, que nos deixou há pouco mais de um ano.

Bjs/Ab
Manuel Bernardo (Cor. ref.) 


(In blog de Susana Custódio “Estados d´Alma” – Setembro 2013)

O livro “Homenagem Póstuma a Joaquim Evónio Vasconcelos” (Coord. José Verdasca) será apresentado no Salão Nobre do Palácio da Independência, pelo Dr. Jorge Rangel, Presidente do Conselho Supremo da Sociedade Histórica para a Independência de Portugal.

Solicita-se a difusão a camaradas militares, poetas e amigos.
Manuel Bernardo

2. Joaquim Evónio foi capitão na Guiné, por duas vezes... tendo na última comissão foi ferido com gravidade... ver aqui:


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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 



quarta-feira, 10 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11367: Agenda cultural (259): Lançamento do livro "Grades de papel: Caxias 1975, condomínio fechado", de Joaquim Evónio de Vasconcelos (1938-2012) e Manuel Amaro Bernardo, dia 17, 4ª feira, às 17h00, no Salão Nobre do Palácio da Independência, Lisboa



1. Mensagem do cor inf ref Manuel Amaro Bernardo, com data de 2 do corrente:

Agradeço, se possível, a postagem do convite para a sessão de lançamento do livro, escrito,  em co-autoria,  com o ex-capitão DFA Joaquim Evónio de Vasconcelos, [Funchal, 1938-Lisboa, 2012], que fez duas comissões na Guiné [, como cap Inf da CCAÇ 727 (1964/66) e da CCAÇ 2316 (1968/69), ].

Título do livro:
Grades de papel: Caxias 1975, condomínio fechado. 
Autores: Joaquim Evónio de Vasconcelos  e Manuel Amaro Bernardo,
Editora: Versbrava, Porto, 2013

Apresentação do gen Loureiro dos Santos.
Data e local da sessão: 17 de abril, 4ª feira, 17h00, Salão Nobre do Palácio da Independência, Lisboa
Largo São Domingos 11, 1150-320 Lisboa
Telefone:213 241 470
Transportes públicos: Rossio

Ob. Ab
Manuel Bernardo
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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11058: O Spínola que eu conheci (28): Figura incontornável da nossa História, que respeito mas não idolatro (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, 1970/72)

O SPÍNOLA QUE EU CONHECI

 por Hélder Sousa [, foto à esquerda, no seu quarto em Bissau, quando era fur mil trms TST,  nov 1970 / nov 1972]]

Esta série tem dado a oportunidade para que uma quantidade e diversidade notável de camaradas se tenham pronunciado sobre o tema.

E as intervenções têm sido desde o simples ‘conhecimento’ pelo contacto visual, pelo contacto pessoal directo, até às diversas considerações que a figura de António Spínola suscita. (*)

Eu também tenho um “Spínola que conheci”. Mas não tenho a menor dúvida em afirmar que António Spínola (aquilo que foi antes de Brigadeiro, o Brigadeiro, o General, o Marechal, o ‘caco Baldé’, etc.), é uma figura incontornável da História de Portugal e não pode, nem deve ser ignorado.

Estive perto do Comandante-Chefe do CTIG, António de Spínola, que me lembre, por duas vezes.

(i) Em Piche, fevereiro de 1971

A primeira foi em Piche e disso já dei conta num artigo que enviei para o Blogue a propósito do Carnaval. Nesse artigo relatei que, em consequência da Acção 'Mabecos’ ocorrida em Fevereiro de 1971, por ocasião do Carnaval desse ano, entre 20 e 22 de Fevereiro, o General Spínola ‘aterrou’ em Piche. E foi lá porque o que deveria ter sido o operacional responsável no terreno pela referida operação, Major cav Mendes Paulo (operação essa que correu bastante mal em termos organizacionais e também por atitudes, digamos assim, menos correctas por parte de ‘oficiais superiores’, daqueles que supervisionavam por via aérea a ‘progressão’ no terreno), quando regressou a Piche no final da referida operação, em atitude ostensiva de desagrado por tudo o que tinha acontecido, arrancou os seus galões de Major, deitou-os para o caixote de lixo que estava perto da porta do seu quarto, fechou-se nele e recusou-se a sair de lá a não ser que fosse o próprio Comandante-Chefe a ir ter com ele. Tudo isto foi visto e falado por muita gente.

E foi o que aconteceu, o General Spínola deslocou-se a Piche, não me recordo agora se foi logo no dia seguinte, mas creio que sim, dirigiu-se directamente ao alojamento do Major, conversaram, e depois o Major acabou o seu isolamento. Havia quem dissesse que o General tinha o Major de Cavalaria Mendes Paulo em alta estima e consideração e que se devia a essa estima mútua o facto das “Chaimites” terem ido para a Guiné.

Como se percebe da situação, ‘conhecer o Spínola’, nestas circunstâncias, foi só de longe, mas deu para ver e confirmar tudo aquilo que já aqui se tem dito sobre a sua pose, a sua figura, o seu carisma, a sua capacidade de suscitar a admiração e o reconhecimento por parte dos soldados.



O Capitão [Raul] Folques, até então 2º Comandante do Batalhão de Comandos, a receber das mãos de Spinola os galões de Major do Almeida Bruno. Uma cerimónia original. Foto do livro Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80, de Manuel Bernardo.  Com a devida vénia aos Coronéis Bernardo e Raul Folques e ao General Almeida Bruno. [Virgínio Briote].




Guiné > Bissau > Santa Luzia > Quartel do Agrupamento de Transmissões > 1972 > Foto do álbum do Sousa de Castro.

Foto: © Sousa de Castro (2005). Todos os direitos reservados

(ii) Na inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia [, finais de 1971 ou princípios de 1972]


A outra vez em que estive com Spínola foi aquando da inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia, [Bissau,] não me lembro agora da data.

Mas lembro-me bem das peripécias relacionadas com isso. Eu integrava a ‘guarda de honra’ e fiquei posicionado quase na ponta direita das tropas que estavam mais próximo e em frente ao palanque onde o General ia discursar. Podia assim vê-lo quase de perfil do seu lado esquerdo, a uns escassos 4 metros.

Em certa altura do discurso - parece que o estou a ouvir - Spínola diz, com a encenação habitual, ou seja, de braços abertos, dobrados pelos cotovelos, como quem está a acenar, agradecendo, com a sua voz meio rouca, meio gutural, marcando bem as pausas:

- “porque aqueles …”

- “que dizem …”

- “que o Exército …”

- “é uma máquina acéfala…”

Nisto, um ruído vindo da máquina do operador fotocine indicou que houve um problema. Fita partida? Encravamento? Já não me recordo, mas isso passou-se exactamente à minha frente pois vi claramente os olhos do nosso General faiscarem, quase fulminando o operador que estava perto de mim, em clara reprovação pelo sucedido, e manteve a pausa do discurso enquanto resolveram o problema. Breves instantes é certo, mas naquelas circunstâncias pareciam uma eternidade.

Resolvido o problema, o General retomou o ‘fio da meada’, e agora com o pingalim na mão esquerda recomeçou:

- “porque aqueles …”

- “que dizem …”

- “que o Exército …”

- “é uma máquina acéfala…”

- “em breve irão ver que assim não é!”

Reparem que esta última frase era a que faltava antes, mas ele achou por bem fazer todo o discurso.

Como disse, não tenho bem presente a data do acontecimento, inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, o qual deve ter sido no trimestre final de 1971, inícios de 1972, mas quem quiser ler nas entrelinhas pode ver já aqui, principalmente por essa frase final, a promessa/ameaça de maior protagonismo pessoal ‘em breve’…

Estes foram os dois momentos em que estive mais perto do Comandante Chefe, General António de Spínola. Entram portanto, naturalmente, na categoria do “Spínola que conheci”.

Mas há outros aspectos que podem ser chamados à consideração.

Que António de Spínola é uma figura incontornável da nossa História, disso não tenho nenhuma dúvida e até já o referi lá mais acima. Que o seu percurso de vida é controverso, também acho que esta afirmação, em si mesma, não tem contestação. Tem, quanto a mim, entre outras coisas, um grande mérito, trata-se de uma pessoa que procurou ‘ter opinião’, procurou agir no seu tempo, ou melhor, nos seus tempos e, já se sabe, só não erra quem não faz.

Agora, se me perguntarem se sou fã, como agora é moda, do Spínola, ou se sou seu detrator, o que direi?

Tenho que saber de que Spínola se trata.

Do ‘jovem Spínola’ fascinado pelas fardas, pela organização, pelas práticas do Exército Alemão dos anos 30-40? Do Spínola da Guerra Civil de Espanha? Do Spínola em Angola? Do Spínola na Guiné? Daquele que implementou a política de “Uma Guiné Melhor” procurando ganhar a população para o ‘lado’ de Portugal tentando fazer em poucos anos o que não fora feito em séculos? Daquele que implementou a “acção psicológica”, umas vezes exaltada, outras vezes rejeitada? Quantas vezes não se ouviu o “Zé Soldado” dizer “o que faz ‘isto’ é a filha da puta da psícola, agora já nem se pode dar uma chapada num cabrão dum preto”? Do Spínola que escreveu “Portugal e o Futuro” em que foi capaz de apontar caminhos que, na prática, eram contra a prática governamental que afinal tinha seguido toda a vida? O Spínola que se envolveu em conspirações?

A vida de um homem é um balanço complexo, não se pode ‘agarrar’ apenas num determinado tempo e espaço, é todo o conjunto. Tem todo o mérito de não se acomodar, de empreender uma constante evolução, de raciocinar e, pelo menos aparentemente, mudar quando entendeu dever mudar.

É um elemento de referência de uma época. Mas a minha consciência diz-me que o devo respeitar mas não o posso idolatrar.

Um abraço para toda a Tabanca!

Hélder Sousa

Fur. Mil. Transmissões TSF

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Notas  do editor:

(*) Vd. poste de 23 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3926: Efemérides (17): Piche, 22 de Fevereiro de 1971 ou... Carnaval, nunca mais! (Helder Sousa)

(...) Referência à Acção Mabecos, feita pelo Fernando de Sousa Henriques, ex-Alf Mil Op Esp, no seu livro No Ocaso da Guerra do Ultramar, obra em que retrata a história da sua Unidade, a CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, Canquelifá, 1972/74. Esta acção, em que tomou parte o BCAV 2922, em 22 de Fevereiro de 1971, é descrita como tendo sido de escolta e de segurança a forças de artilharia no trajecto Amedalai - Sagoiá - Rio Sagoiá - Rio Camongrou - Piche 4E545 - Rio Nhamprubana - Piche... As NT formavam 4 Agrupamentos, sendo o primeiro comandado pelo Major Mendes Paulo (...)

(...) As forças das NT foram comandadas pelo Major Mendes Paulo (à data oficial de operações do BCAV 2922, homem muito conceituado no seio da Arma de Cavalaria, da confiança do General Comandante-Chefe, falecido em 6 de Setembro de 2006 e autor dum livro intitulado “Elefante Dundum”), que o IN “composto por brancos e pretos sujeitou as NT a forte emboscada da qual resultou 3 mortos, 1 desaparecido (“apanhado à mão”), 2 feridos graves, 3 feridos ligeiros e a destruição de um Unimog e uma White”, sendo que é indicado terem sido infligidos ao IN 6 mortos e vários feridos. (...)

Vd. também poste de 25 de julho de 2012 >  Guiné 63/74 - P10195: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (12): O senhor Major Calixto

(...) Comentário de António J. P. Costa.

(...) Olá, Camaradas!... Conheci o major Mendes Paulo que passou à reserva a seu pedido, depois desta comissão. Creio mesmo que ainda meteu o requerimento durante a comissão. Era um homem sério e íntegro, embora tivesse "o seu feitio". Escreveu um livro e CD que se chama "O Elefante Dundum" em que relata assuntos tão interessantes como a aquisição/experiência das Chaimites, ou o uso de dois carros de combate M5A1 que estavam para ir para a sucata e que ele recuperou e usou em Angola, com certo êxito.
Enfim um livro interessante. Pena que tenha sido edição de autor, mas na BibEx existe e pode ser consultado. Um Ab.
António J. P. Costa


Quinta-feira, Julho 26, 2012 3:20:00 PM

(**) Vd. poste de 13 de setembro de 20006 > Guiné 63/74 - P1067: Morreu o major Mendes Paulo (BCAV 2922, Piche, 1970/72) (José Martins)

(...) Major de Cavalaria JOÃO LUIS LAIA NOGUEIRA MENDES PAULO, que foi Oficial de Informações e Operações no Batalhão de Cavalaria nº 2922, oriundo do Regimento de Cavalaria nº 3 de Estremoz.

Chegou à Guiné em 23 de Julho de 1970 e assumiu o sector L 4 - Piche em 12 de Agosto de 1970. Regressou à Metrópole em 20 de Junho de 1972.

É autor do livro 'Elefante Dundun', que conta as suas aventuras em Macau, Angola e Guiné. O livro é acompanhado de um DVD, que contou com a colaboração de seus filhos. (...)


(***) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2013 > Guimé 63/74 - P11043: O Spínola que eu conheci (27): Depoimentos de António Rosinha / António J. Pereira da Costa / José Martins / Augusto Silva Santos / José Manuel Dinis


domingo, 1 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10097: Notas de leitura (375): Prefácio de † Joaquim Evónio de Vasconvelos ao livro de Manuel Bernardo "Marcello e Spínola: a ruptura: as Forças Armadas e a Imprensa na queda do Estado Novo (1973-74)" (Lisboa, 1ª ed,, 1994)


"Marcello e Spínola: A ruptura", de Manuel A. Bernardo, 1ª ed., Lisboa, Editora Margem, 1994, 456 pp. Prefácio de † Joaquim Evónio de Vasconcelos, ex-cap Inf da CCAÇ 727 (1964/66) e da CCAÇ 2316 (1968/69).

Reproduzido, com a devida vénia, da página pessoal do Joaquim Evónio (1938-2012), Varanda das Estrelícias:


O desconhecimento do passado, recente ou remoto, nunca será bom conselheiro para quem pretenda compreender o presente e trilhar com segurança os caminhos do futuro.

Este livro, ao desvendar alguns eventos que ainda se podem considerar próximos no tempo, vem proporcionar elementos de informação significativos para a compreensão da conjuntura em que vivemos.

Só o contributo de muitas histórias, todavia, permitirá a explicação da verdadeira História, caracterizadora do espaço-tempo em apreciação, identificadora daquilo que é estável e permanente e não apenas passageiro ou efémero.

Do autor, Manuel Bernardo, poderá dizer-se que nunca conviveu directamente com o poder, embora tivesse estado bem posicionado para lhe avaliar as forças e as fraquezas.

Sempre Maquiavel e nunca Príncipe, quase vítima da voragem totalitária em 1974 e 75, desempenhou corajosamente a missão que se atribuiu de esclarecer a comunidade a que sente pertencer e assim publicou, em 1977, Os "Comandos" no Eixo da Revolução - Crise permanente do PREC.

O facto de estar em consciência seguro da sua verdade não impediria que se visse confrontado, entre outros dissabores, com uma acção no Tribunal e um processo disciplinar do foro militar.

A partir de fins de 1974 quando, atrabiliariamente mas sem sucesso, o quiseram estigmatizar, nunca mais descansou e, fazendo apelo ao seu dever para com todos nós, desencadeou uma notória acção pedagógica, veiculada por diversos periódicos e baseada na essência permanente e profunda das coisas, sublinhando com destemor as contradições emergentes de interesses marginais.

Campeão da perseverança, no desenvolvimento dum trabalho profícuo e rigoroso decidiu frequentar na Universidade Católica Portuguesa o Curso de Ciências da Informação, no âmbito do qual, como dissertação final, acaba de presentear-nos com esta lúcida peça informativa a que chamou "Marcello e Spínola: a Ruptura - As Forças Armadas e a Imprensa na queda do Estado Novo (1973-74)".

Para isso elegeu o período de dezasseis meses que antecedeu a queda do anterior regime perante o Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974.

Embora se acredite que a História é linear e não cíclica, difícil é, todavia, resistir à tentação de estabelecer uma analogia entre o referido período e o que actualmente vivemos.

De acordo com a vox populi, o clientelismo e o nepotismo encontram-se agora tão instalados entre nós como estariam no fim do regime marcelista, configurando um modelo a que poderá aplicar-se, sem grande margem de erro, o epíteto de ditadura administrativa. A grande diferença reside, obviamente, na natureza democrática do regime de hoje e, por inerência, na liberdade de expressão, fomentadora e propiciadora de correntes de opinião.

E este livro pode ser considerado um autêntico elogio da liberdade de expressão.

Manuel Bernardo é dotado duma honestidade intelectual bem patente nesta obra. Por isso não se espere encontrar nem especulação nem apressados juízos de valor.

Temos perante nós o resultado duma pesquisa elaborada por um bom profissional, um repositório de factos a todos os títulos interessante.

A notícia é em si mesma um facto e tende a ser cada vez mais importante que o próprio facto que lhe esteve na origem.

O autor fez reflectir no seu trabalho os enquadramentos então vigentes, tanto a nível nacional como internacional.

Colocou em evidência os silêncios do poder e abordou a patologia da comunicação como autêntica doença de que padecia então o tecido social.

Para os que viveram aquela época (1973-74) trata-se duma saudável recordação, hoje mais esclarecida pelos acontecimentos posteriores; para os mais novos, o testemunho da importância da comunicação, que ora não lhes está vedada, como elemento fundamental para o posicionamento perante os factos e para o fortalecimento da capacidade de opção.

Múltiplas referências são feitas neste livro ao Ultramar, tema de fundo de muitos analistas, e às diversas formas de o conservar ou alienar.

Os militares sabiam, desde 1961, que a Guerra do Ultramar não se ganhava pela força das armas, mas também não ignoravam que se poderia perder de armas na mão.

Por outro lado, por mais que tenha sido conveniente, de modo diferencial conforme o sector considerado, que existia apenas uma guerra, facilita bastante a compreensão não escamotear que havia duas: uma subversiva e outra revolucionária.

E se uma fazia apelo ao romantismo da liberdade por via da libertação, encontrando ecos de legitimidade no espírito dos combatentes que se lhe contrapunham, a outra não passava duma componente da estratégia global e totalitária de luta entre os grandes blocos, sendo ainda de referir que um deles, inibido por tácticas de aparente defesa de valores, vai precisamente permitir a vitória do seu adversário e, por consequência, a destruição irreversível dos próprios valores a que dizia prestar homenagem.

A nível nacional, no campo da oposição, verificava-se uma diferença fundamental entre a plataforma da Ala Liberal, que pugnava pelo estabelecimento das liberdades democráticas como condição prévia para a resolução de todos os problemas do País, incluindo os ultramarinos, e a que viria a ser consagrada no III Congresso da Oposição Democrática, em 1973, em que a primeira prioridade era o fim da guerra, seguida da luta contra o capital monopolista e da conquista das liberdades democráticas.

Que modelo de democracia poderia emergir de uma e de outra era fácil de prever, especialmente à luz do conturbado advento das "independências" africanas.

Voltando às soluções que então se perfilavam, no período de 1973-74 que é objecto deste trabalho, sublinhe-se apenas que não é possível negociar sem dispor de graus de liberdade como sustentáculo da capacidade negocial.

Ao precipitarem-se os acontecimentos, acelerados pela má fé de uns e consentidos pela ingenuidade de outros, não só se inviabilizou a negociação como se criaram situações que ainda hoje perduram e têm, na base, o facto inegável de que foi traída a confiança dos povos ultramarinos que confiaram em nós.

Ao servir-nos factos até agora inéditos ou ao apresentar-nos um pacote informativo bem delineado, Manuel Bernardo vem contribuir para a compreensão de fenómenos até hoje inexplicáveis, ou mal explicados.

Este livro evidencia de forma clara e categórica a importância das ideias e da sua circulação na sociedade, designadamente numa altura em que as pessoas mais carentes delas se encontravam.

O autor perseguiu a verdade com denodo e sem obediências, sistematizou os resultados da sua pesquisa e disso nos dá conta.

Vamos ler.

Lisboa, 12 de Abril de 1994

Joaquim Evónio de Vasconcelos 
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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10088: Notas de leitura (374): Obra Escolhidas de Amílcar Cabral (2) (Mário Beja Santos)