sábado, 6 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4472: Tabanca Grande (150): Luís Marcelino, ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74

1. Mensagem de Luís Marcelino (*), ex-Cap Mil, Comandante da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74, com data de 4 de Junho de 2009:

Assunto: Para começar

Na sequência do convite recebido, que muito agradeço, aqui estou para a todos saudar e manifestar o desejo de participar no convívio desta grande família.

Junto as duas fotos, uma antiga e outra recente, aproveitando para lhes juntar mais duas referentes a momentos vividos na Guiné.

Antes de mais, quero apresentar-me:

Sou Luís Marcelino, a viver em Leiria.
Fiz o meu serviço militar, entre Janeiro de 1971 e Agosto de 1974.
No primeiro Trimestre de 1972, em Vila Nova de Gaia, foi formada a CART 6250 que comandei ali fazendo a preparação para a comissão na Guiné.

Em Junho desse ano, partimos para a grande aventura, que terminou em Agosto de 1974.

Fizemos o treino Operacional em Bolama, durante cerca de um mês, findo o qual partimos para Mampatá, em rendição de uma Companhia de Infantaria.
A nossa Companhia era independente e estava adida ao Batalhão sediado em Aldeia Formosa, a cerca de 7 Kms de Mampatá.

Após o regresso da Guiné entrei para a GNR, onde prestei serviço em Leiria, Évora, Santarém e Lisboa. Estou actualmente aposentado.

A experiência vivida na guerra da Guiné marcou profundamente a minha vida, pelas ocorrências sentidas e, de um modo especial pela solidariedade e grande amizade partilhadas em todo o tempo com todos os componentes da Companhia.

Na verdade, se humanamente não estava preparado para a responsabilidade que assumi, tive muita sorte nos homens que me calharam, tornando-me mais suave uma missão absolutamente desconhecida, conseguindo fazer-se justiça ao nosso lema "UNIDOS".

Ali se criaram verdadeiros laços de amizade que perduram até hoje, bem expressos nos convívios anuais que realizamos.

A todos os camaradas um gande abraço, na certeza de que já estou acolhido nesta grande família, em boa hora constituída.


2. Lembremos o primeiro contacto do nosso camarada Luís Marcelino com o Blogue:

Assunto: Testemunho

Tenho visitado regularmente este espaço, que considero de convívio, recordação e expressão de muita amizade.
Aqui tenho encontrado algumas pessoas que conheci ou conheço, com quem experimentei a vida difícil na Guiné. Algumas tenho visto em encontros que fazemos, outras, nunca mais..

Estive na Guiné entre 1972 e 1974, na CART 6250,em Mampatá. Fui o comandante, na altura, um jovem Capitão miliciano, graduado, de nome Marcelino. Vivo em Leiria.

Muito gostaria de estar presente no almoço do dia 20. Tenho outro compromisso que me impede. Contudo, estarei atento para que em encontros futuros possa ter o prazer de participar.

Ao fundador do blogue, à equipa editorial e a todos os participantes, as minhas saudações amigas e com todo o gosto também poderei participar neste espaço, com alguns episódios ou vivências da Guiné.

Um abraço







************

3. Comentário de CV:

Caro Luís Marcelino, estás oficialmente apresentado à Tertúlia.

Bem-vindo a esta grande família de ex-combatentes, fundada por Luís Graça há cerca de 4 anos, que felizmente não pára de crescer. És o 339.º membro oficialmente registado.

Terás, como ex-comandante de Companhia, conhecimentos da guerra, que na época não deveriam ser do conhecimento geral. Passados todos estes anos, poderás divulgá-los e contribuir assim para aumentar este repositório histórico da guerra colonial na Guiné, em que estamos todos, e cada um a seu modo, empenhados em levar por diante.

Peço-te o favor de quando nos mandares fotografias a acompanhar os teus textos, não te esqueceres de as legendares.

Já que quiseste dar-nos o gosto de contarmos com a tua participação, podes desde já começar a trabalhar.

Recebe, em nome da tertúlia um grande e fraterno abraço.

Pela tertúlia
Carlos Vinhal
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de 29 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4437: O Nosso Livro de Visitas (65): L.J.F. Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250, Mampatá, 1972/74
e
3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4458: Bem-vindo, Comandante Marcelino! Obrigado por ter tomado conta de mim na Guiné (José Eduardo Alves)

Vd. último poste da série de 5 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4464: Tabanca Grande (149): Armandino Alves, ex-1.º Cabo Aux de Enfermeiro da CCAÇ 1589, Guiné 1966/68

Guiné 63/74 - P4471: Encerrar um capítulo de não-vida da nossa vida? (António G. Matos)

1. Mensagem de António G. Matos (*), ex-Alf Mil MA da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, com data de 5 de Junho de 2009:

Assunto: Dou por mim a pensar...

Caros editores,
Reflexões a que me dediquei numa altura em que outras reflexões de índole nacional nos poderão preocupar...

Um abraço,
António Matos


Dou por mim a pensar...

Dou por mim a pensar...
O que terá levado toda esta geração de ex-combatentes da guerra do ultramar a, passados 35 anos, envolver-se numa narrativa que sempre repudiou e guardou só para si?

Dou por mim a pensar...
Que valores intrínsecos despertaram que os pusesse a contar estórias de solidão, estórias de amarguras, de desgostos, de dores físicas e morais, de sentido de defesa da integridade, de solidariedade, de compaixão, de falsos patriotismos como se de uma auto-comiseração se tratasse?

Dou por mim a pensar...
Será a catarse um processo sem fim?
A libertação dos nossos medos, dos nossos demónios, dos nossos fantasmas transformar-se-à numa mera acção de vaidade a que a prosa dá vida?

Dou por mim a pensar...
Quantos falsos sentimentos, quantas deturpações da realidade (o que é a realidade?), quantas subtilezas podem ser equacionadas quando nos confrontamos com a epidemia editorial em que se transformou um país labrego por excelência?

Já foi referido nesta colectânea "Luís Graça & Camaradas da Guiné" a necessidade inexorável de cada um vir, a seu tempo, a encerrar o capítulo Guiné como se de uma verdadeira missão de vida se tivesse tratado.

Concordo em absoluto embora o momento certo tenha que ser aferido individualmente.

Dou por mim a pensar quão intrigante é a mente humana que consegue voltar de costas ex-camaradas pela simples razão da sua realidade ser diferente da realidade do outro.

Dou por mim a pensar até que ponto a grandeza em se respeitar um antigo inimigo não se transforma em bacôca pelintrice quando o elevamos a níveis mais altos do que aquele que os nossos parâmetros éticos permitem.

Dou por mim a pensar porque propagandeamos as qualidades guerreiras dum antigo combatente só porque um dia morre e esquecemos todo o rio de sangue que derramou em prol da usura dum despotismo primitivo.

Dou por mim a pensar que tanta lucidez pode ser prenúncio que expurguei a minha vida não-vida entre 1969 e 1972.

Neste capítulo estou de bem comigo.
António Matos
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4431: Blogoterapia (104): Não façamos deste Blogue um muro de lamentações (António G. Matos)

Guiné 63/74 - P4470: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (6): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (V Parte)

1. Mensagem de Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70, com data de 1 de Junho de 2009:

Caro Carlos / Luís:

(Com um novo mês não sei bem a quem me dirigir). Com um pouco menos de uma
semana de intervalo junto em anexo a continuação da estória sobre Madina Xaquili
- parte 5. Como está a chegar ao fim, por mim, gostaria de apressar o seu termo.
O editor de serviço fará o que entender.

Gostaria, se for possível, que fizessem duas correcções aos meus textos
anteriores, também para bem do Blog, assim:

1 - Na minha 1ª estória (3 oficiais): No 11º parágrafo:
Cheguei a Bafatá que integravam Bafatá: Ponte Nova, Rocha e
(substituir os três pontos por: Nema)

2 - Na minha 3ª estória (Madina Xaquili Parte 2): No penúltimo parágrafo:
Como era sabido no 1º ataque à tabanca, em 24JUN69
(a data correcta é 24JUL69)

Dois abraços.
Fernando Gouveia


A GUERRA VISTA DE BAFATÁ

6 - Um Alferes destacado (desterrado) em Madina Xaquili com um cano (só o cano) dum morteiro 60 - parte 5.

Preâmbulo

Como tenho vindo a referir, na sequência do agravamento da situação no Cossé, fui destacado para Madina Xaquili, onde vivi uma experiência verdadeiramente inesquecível.

No Poste anterior – 4429 (7.º, 8.º e 9.º dias dessa minha experiência), relatei o patrulhamento até Cantacunda em que na volta se ouve o primeiro tiro em Madina Xaquili, o aparecimento de um heli e a minha iniciação como consultor sentimental.

Relato do 10.º dia – 21JUN69:

Pela manhã, bem cedo, partiu um grupo de combate rumo a Padada, armado até aos dentes, ou melhor, além das G3 o cano dum morteiro 60 (só o cano). Na tabanca, encarregado da sua defesa, sem o cano de morteiro e com a incumbência de pedir apoio aéreo caso ouvisse restolhada para os lados de Padada, ficou o 2.º Comandante, o Furriel que tinha chegado três dias antes, sim, porque meios rádio não tínhamos para levar. O João Vieira foi comigo, mais por questões de tradução simultânea. Íamos uns 20 africanos e 10 metropolitanos.

A Ordem de Operação determinava que se fosse até à antiga tabanca de Padada distante cerca de 12 Km e já a uns escassos 15 Km do rio Corubal. Aí reunir-nos-íamos com outro grupo de combate que vinha de… (não recordo donde) e, caso houvesse vestígios IN, montaríamos uma emboscada na zona. Os vestígios IN encontrados foram muitos, como descreverei.

De acordo com a miséria, em termos de armamento, que pairava por todos os aquartelamentos, o Cap Jerónimo (recordaram-me o seu nome no último almoço da Tabanca de Matosinhos) teve que deixar ir 8 militares para Madina Xaquili só com um cano velho de um morteiro 60 com 16 granadas, sem sequer disponibilizar uns dilagramas.

Assim, pelo facto de a maior parte do percurso se fazer pela mata e não ter muitas hipóteses de usar o morteiro, congeminei (talvez uma heresia) usá-lo em tiro tenso como se fosse uma basuca. Em Mafra tinha feito muitos disparos com morteiro 60 e tinha verificado que mediavam umas fracções de segundo entre a percussão e o disparo. Assim, e só no caso de emboscada IN, só precisava que no desencadear da mesma me calhasse ficar ao pé dum tronco de árvore para poder encostar a rótula do morteiro. Também sabia que as granadas só activavam ao fim dum certo tempo de trajecto, pelo que, se não baixasse a tempo o cano e a granada batesse numa árvore por cima de mim, esperava que não explodisse. Ademais o apanhado pelo clima fazia esquecer todo o perigo.

Os dois primeiros quilómetros foram percorridos descontraidamente. Seguimos pela picada para Padada cerca de 1 Km, até uma depressão de terreno criada por uma linha de água, local que marquei como ideal para montarmos emboscadas, caso continuasse muito mais tempo na tabanca. Sim, porque não daríamos oportunidade ao IN de nos encontrar dentro do arame.

A seguir a essa linha de água dei ordem para deixarmos a picada tendo atravessado pequenas clareiras, lindíssimas, pejadas de montículos, tipo cogumelo, de formigas que não as baga-baga.

Uma clareira com os montículos das formigas, ainda perto de Madina

Outra clareira

Numa dessas clareiras pedi que me tirassem uma foto em progressão. Sem querer (veja-se a foto) ficou registado o ataque de abelhas que sofremos. Tivemos muita sorte pois só tivemos três ou quatro picadas e ainda não estávamos em zona IN. Continuámos.

O ataque de abelhas. À frente o pessoal foge para a esquerda

A partir de 2/3 Km percorridos nova ordem: Ir sempre pela mata e em silêncio absoluto com a picada sempre à esquerda.

A cerca de 2/3 Km de Padada começámos a cruzar trilhos recentes do IN, desse dia ou do anterior. Como o capim nessa altura tinha cerca de um palmo, facilitava bem a datagem.

Estávamos a chegar a Padada à hora estabelecida e agora a minha grande preocupação era o momento de contacto com o outro grupo de combate, até porque sabia que também integrava africanos. Naquela altura achava que só as armas, G3 ou Kalash, nos diferençavam.

A certa altura vêm-me informar que o contacto tinha sido estabelecido. Respirei fundo.

Momentos depois vim a saber que uns quinze dias antes outro grupo de combate desse destacamento tinha tido ali um encontro, frente a frente, com o IN. Os primeiros elementos de cada grupo encontraram-se, de caras, a acerca de 20m um do outro. Dispararam ambos tendo o nosso soldado recebido um tiro que lhe desfez uma cartucheira que lhe salvou a vida.

Montada a segurança, reabastecemo-nos de água numa fonte de Padada e almoçámos.

A fonte em Padada onde nos reabastecemos de água

Depois do almoço com o João a meu lado

No pressuposto que era a segunda vez que as NT iam a Padada e que ainda não haveria minas, andei livremente (com a segurança montada) pelas ruínas da tabanca onde tirei algumas fotos. Depois desta segunda incursão achava que o IN iria armadilhar a zona. Mais tarde e já no Agrupamento em Bafatá chegaram as notícias disso mesmo.

Junto aos restos de uma palhota em Padada

Restos da antiga tabanca de Padada

Conforme a ordem de operações, montámos uma emboscada na zona de um trilho IN. A meio da tarde, sem que o IN se manifestasse, retornámos a Madina Xaquili, agora uma coluna de uns 80 elementos com mais armamento que um simples cano velho de morteiro 60. Chegámos a tempo de ouvir o relato de um Sporting/Académica.

No relato do dia seguinte vou descrever como vou encontrar o João Vieira a andar de pernas abertas. As mordomias de chefe tinham-no traído.

Até para a semana camaradas.

Texto e fotos: © Fernando Gouveia (2009). Direitos reservados
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4429: A Guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (5): Um alferes desterrado em Madina Xaquili, com um cano de morteiro 60 (IV Parte)

Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Gomes da Cunha e Manuel Reis






Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > "Guileje, terra de fé e de coragem" (*)... A capelinha construída no tempo do Zé Neto (1929-2007) (**)...

Fotos: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento. (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Pepito, com data de 3 do corrente:

Assunto – A arqueologia prossegue - Capela

Luís

Como vês a fundação da Capela já está completamente à vista, o que irá facilitar a sua reconstrução.

Tudo foi feito com muito cuidado e até a zona do altar está quase intacta, mais de 35 anos depois.

Vamos respeitar ao máximo a planta original, incluindo a cobertura e a madeira de suporte.

Será que poderemos criar um "Grupo de Amigos da Capela de Guiledje"? O objectivo seria o de repor os símbolos religiosos que se vêm na foto do Capitão Neto, a partir de envios de Portugal para cá.

abraço
pepito

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Secção de Guiledje > 2009 > Restos arqueológicos da antiga capela do quartel de Guileje, erigida no tempo da CART 1613 (1967/68), e que está ser reconstruída no âmbito do Museu Memória de Guiledje

Fotos: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados


2. Através da nossa rede interna, foi enviada aos mais de 330 amigos e camaradas da Guiné, a seguinte mensagem:

Amigos e camaradas:

Esta capelinha tinha um significado muito especial para o nosso Zé Neto e para todos aqueles que passaram por esse mítico lugar que foi Guileje, de 1964 a 1973 (e mais tarde, 1995, 2008)...

Vamos aceitar o desafio dos nossos amigos da Guiné que estão a preservar a memória de todos nós, dos guineenses e portugueses que estão ligados àquele lugar ? Vamos fazer de Guileje também um espaço de ecumenismo, de paz, de tolerância religiosa ? Vamos reerguer a 'nossa' capelinha ? Vamos arranjar o Grupo dos Amigos da Capela de Guileje ? Vamos arranjar maneira de repor os objectos litúrgicos desaparecidos ? Não faltarão algumas mecenas, incluindo empresas de artigos religiosos (Fátima, Braga, etc.)...

Quem está disposto a liderar este projecto, do lado português ? Vamos ser generosos e solidários na paz tanto quanto fomos lúcidos e corajosos na guerra...

Um abração.
Luís


3. Já recebemos os primeiros

(i) Patrício Ribeiro (antigo fuzileiro em Angola, empresário português há 25 anos na Guiné-Bissau, "pai dos portugueses na Guiné-Bissau", membro da nossa Tabanaca Grande

Bom dia, pessoal.

Podem contar comigo, para apoio logistico. Vou passar a informação ainda hoje, até ao Bispo de Bafatá.

Um grande abraço, desde Bissau.
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau,
Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645, Guiné Bissau
Tel / Fax 00 351 218966014 Lisboa
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com


(ii) António Gomes da Cunha (ex-1º Cabo Radiotelegrafista, CART 1613, Guileje, 1967/68, membro da nossa Tabanca Grande desde Dezembro de 2008 mas de quem ainda não temos nenhuma foto, nem antiga nem actual) (*****)

Amigo Luís Graça

Fiquei extremamente feliz por constatar que a capelinha de Guileje, construída pela minha Companhia, CART 1613, “Os Lenços Verdes”, comandada pelo Capitão Corvacho
e organizada contabilisticamente pelo nosso camarada e amigo Capitão Zé Neto em 1967, vai ser reconstruída.

Não tenho dúvidas em dizer que me encontro totalmente disponível para, dentro do possível, colaborar em tudo aquilo que me seja possivel, para ver reconstruída a Capela do maior santuário de Guerra da Guiné. Todos os camaradas que passaram por Guileje, Mejo, Gadamael, jamais esquecem este triângulo de Guerra aonde os que sobreviviam eram considerados uns sortudos como que se lhes tivesse saído o Euromilhões.

Estou por isso disponível e tenho a certeza que os elementos da minha Companhia que no próximo Sábado dia 6 de Junho de 2009 nos reunimos para mais um almoço de confraternização, por sinal com concentração na RAP 2 em V.N.Gaia, unidade que nos mobilizou há cerca de 42 anos para a Guiné, tendo nos passado cerca de onze meses e meio da nossa comissão em Guileje, dentro das nossas possibilidades tudo faremos para ajudar nessa reconstrução que para nós representa não só a passagem por esse local sagrado de Guerra, mas acima de tudo representa a nossa vitória pela vida.

Neste momento não posso esquecer todos aqueles meus e nossos irmãos e camaradas que como nós trabalharam e lutaram ardorosamente para erguer a Capela e tombaram em combate bem como outros que, fruto dessa mesma Guerra, vieram a morrer junto dos seus familiares e amigos, é também por eles que me disponibilizo.

Para ajudar, no sentido de poder ser resposta com toda a firmeza como no momento em que, em 1967, construimos a capela e num acto de satisfação e glória, aqui reproduzimos a lápide onde nela deixámos gravado o sentimento de toda a Companhia:

”A TI DEUS ÚNICO E SENHOR
TE OFERECEMOS ESTAS GOTAS DE SUOR
QUE NOS SOBRARAM
NA DEFESA DA TUA PALAVRA ETERNA
SOLDADOS DA CART 1613”


Os meus contactos são:

António Gomes da Cunha (O Malhado)
BART 1896 / CART 1613 “Os Lenços Verdes”
Guiné 1966/1968

Morada: Rua João Braga, 47 – Nogueira
4715-198 Braga
Telefone/Fax: 309912004
Telemóvel: 982503954

Com um grande abraço a todos os camaradas.
António Gomes da Cunha


(iii) Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCAV 8350, Guileje, 1972/73, professor, Aveiro, membro da nossa Tabanca Grande) (******)

Amigo Luís:

É com muito agrado que me disponibilizo para ajudar em tudo o que respeita a Guileje.
Aceito fazer parte do "Grupo dos Amigos da Capela de Guileje" com muito prazer e colaborar no que puder para a melhoria do local.

Como em breve teremos uma Biblioteca/ Museu, eu tenho imensos livros de Matemática (7º ao 12º Anos) e posso oferecê-los, caso vejam neles alguma utilidade. De Portugês também posso arranjar, basta para isso mobilizar a minha mulher.

Um abraço.
Manuel Reis
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

14 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXVII: Guileje, terra de fé e de coragem (LuísGraça)

3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(5): ecumenismo e festa do fanado

16 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3749: RTP1, As Duas Faces da Guerra (1): A emoção de rever Guileje e a nossa capela (António Cunha, CART 1613, 1967/68)

(**) Sobre o Cap Art Ref, membro da nossa Tabnaca Grande, José Neto, vd. postes de:

30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1801: Capitão José Neto (CART 1613, Guileje, 1967/68), a última batalha

30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1802: Zé Neto (1929-2007): Morreu um Homem Grande, adeus, amigo, adeus, meu capitão ! (Pepito)

(***) Vd. poste de 21 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4391: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (5): O Museu Memória de Guiledje e o video de homenagem dos Homens Grandes (Pepito)

(****) Vd. postes de:

5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1402: Um bom ano de 2007 a partir de Mejo, Guileje (Patrício Ribeiro).

6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3705: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (13): O jacaré da praia do Biombo (Patrício Ribeiro)

>29 de Janeiro de 2009Guiné 63/74 - P3812: Dicas para o viajante e o turista (7): Viagens pelo sul da Guiné-Bissau (Patrício Ribeiro)

(*****)Vd. postes de:

18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3644: Tabanca Grande (105): António Cunha, Radiotelegrafista da CART 1613, Os Lenços Verdes

16 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3749: RTP1, As Duas Faces da Guerra (1): A emoção de rever Guileje e a nossa capela (António Cunha, CART 1613, 1967/68)

(******) Vd. poste de 12 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4175: Os Bu... rakos em que vivemos (5): Guileje bem se podia considerar um hotel de 5***** (Manuel Reis)

Guiné 63/74 - P4468: Memória dos lugares (28): Beli e Madina do Boé, CCAÇ 1589, 1966/68 (Armandino Alves)


O Armandino Alves, que foi 1º Cabo Aux Enf da CCaç 1589, 1966/68, e é um dos mais recentes membros da nossa Tertúlia, e a quem incitamos a escrever-nos mais sobre tudo aquilo que se lembrar sobre Beli e Madina do Boé. Recentemente deixou 2 comentários que merecem ser postes:


Armandino deixou um novo comentário na mensagem "Guiné 63/74 - D: Madina do Boé, 37 anos depois":

Camarada Luis Graça,

A Companhia de Caçadores foi substituir a minha Companhia 1589, como se vê em vários artigos publicados no blogue mas as datas é que não coincidem.

Senão vejamos:

Há uma data para o 1º Pelotão da CCaç 1589 ir para Béli e, outra, para o restante da companhia seguir para Madina do Boé. Ora vendo os relatos isso era impossível. Alguém se acredita que se ia mobilizar uma Companhia, ou mais, para fazer segurança a um pelotão mais de 200 Km (ida e volta), e passados dias voltava para levar a Companhia?

Não. A Companhia foi completa no mesmo dia até a bifurcação das duas picadas. Aí havia a separação do 1º Pelotão, que tinha que calcorrear mais 60 Km, que era a distância entre Madina e Béli.

Aquando da retirada a Companhia esperou na bifurcação pelo Pelotão e seguiu para Nova Lamego-Bambadinca-Bissau.

(Armandino Alves)



Armandino deixou um novo comentário na sua mensagem "Guiné 63/74 - P3061: Louvores e punições (5): Antó...":


Camarada António Pinto,

Também estive no Destacamento de Béli integrando o 1º Pelotão da Companhia de Caçadores 1589, com o posto de 1º Cabo Auxiliar de Enfermeiro, enquanto a restante companhia foi para Madina do Boé.

Estive lá desde Abril de 67 a Fevereiro de 68. Sofremos durante esse tempo 4 ataques felizmente sem consequências.

O destacamento era constituído por 4 edifícios feitos de adobe com dois salões cada um. Havia fora do arame farpado um edifício de tijolo e cimento, todo esburacado pelas bazucas e outro mais pequeno onde guardavam a mancarra.

Haviam 5 abrigos em volta e dois pequenos no meio dos edifícios, que eram um para o serviço de transmissões e outro onde se encontrava o gerador a gasóleo.

Havia também um pequeno abrigo para onde ia o Comandante do Pelotão em caso de ataque. Julgo que isto já não será do teu tempo e, visto através do Google Mapas, já lá nada existe.

Armandino Alves
Ex 1º Cabo Aux Enf
CCaç 1589
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série:

3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4457: Memória dos lugares (27): Álbum fotográfico do Xime, CCAÇ 526, 1963/65 (Libério Lopes)

Guiné 63/74 - P4467: Parabéns a você (8): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo do STM (Editores)

Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau

Hoje, dia 6 de Junho de 2009, o nosso camarada Belarmino Sardinha completa 59 anos de vida. Toda a Tertúlia deseja que a sua vida seja tão longa quanto possível, com saúde, junto dos seus familiares e amigos.

Simbolicamente, vamos recordar a abordagem que o Belarmino fez ao Blogue no sentido de vir a fazer parte da nossa grande família.

Assim, no dia 8 de Junho, Belarmino Sardinha dirigia-se ao nosso Blogue:

Camaradas, Companheiros, Amigos,
[...]
Só agora tomei conhecimento deste blogue que me parece muito bem elaborado, mas mesmo que o não estivesse, merecia o meu apreço pelo esforço feito por quem se dedica a procurar juntar-nos e a reunir já tanta, mas ainda tão pouca informação.

Irei ao meu baú, ao sótão ao que necessário for para ver se lá encontro alguma coisa, talvez umas fotos.

Darei notícias logo que consiga descobrir o que os anos vão apagando ou vai ficando esquecido com o nascer de novas vidas e as preocupações do dia-a-dia.

Pode ser que ajude a incentivar outros a aparecerem ou a falarem daquilo que conhecem melhor do que eu.

Fui 1.º Cabo Radiotelegrafista STM - 036858/71 - e estive colocado em Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau nos anos de 1972/74
.[...](*)


Após a pré-apresentação à nossa Tabanca Grande no dia 14 de Junho na série "O Nosso Livro de Visitas", Belarmino Sardinha apresenta-se formalmente com esta mensagem, de 16 de Junho, e o texto que anexou.

Estimado Camarada,

Foi com agrado que recebi a tua resposta. Claro que irei enviar as minhas fotos para me juntar a vós.

Quanto a factos, como fui em rendição individual e fazia parte daqueles que não saíam em operações, por ser do STM, felizmente não tenho história nem histórias dessa vivência a não ser por compreensão e solidariedade. Justifico assim a minha presença no almoço do BCAÇ 3832, com quem convivi durante seis meses.

Não deixarei por isso de vos dar o meu apoio e contributo sempre e quando for necessário.

Junto umas palavras que melhor descrevem o que aqui refiro. Por ser folha e meia, juntei como ficheiro para possibilitar a sua leitura em separado. Mas achei importante enviá-lo para melhor nos conhecermos.

Estava já em Bissau quando aconteceu o 25 de Abril, irei pensar se houve algum facto que mereça destaque.

Desculpem se pouco tenho que vos ajude, mas contem pelo menos com o apoio.

Um abraço,
Belarmino Sardinha
Odivelas
Ex-1º Cabo Radiotelegrafista STM
(**)


Como se pode ver, Belarmino Sardinha teve algumas intervenções no nosso Blogue, apesar de não ter sido operacional. Fica provado que nem só quem palmilhou o mato pode intervir. Todos temos algo para dizer, todos fomos importantes à nossa maneira.(***)

Fotografias é que o Belarmino não nos mandou pelo que fica esta, tirada pelo nosso Editor Luís Graça no dia 11 de Novembro passado, aquando do lançamento do livro do nosso camarada Beja Santos, "Tigre Vadio".

Lisboa > Museu da Farmácia > 11 de Novembro de 2008 > Lançamento do livro Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio > No hall do museu da Associação Nacional de Farmácias três camaradas nossos fazem horas: Carlos Marques dos Santos (de costas), o António Santos, à sua direita, e o Belarmino Sardinha.

Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(*) Vd. poste 14 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2942: O Nosso Livro de Visitas (16): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)

(**) Vd. poste de 17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2956: Tabanca Grande (75): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM (Guiné 1972/74)

(***) Vd. postes d Belarmino Sardinha, com datas de:

1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3009: Com sangue na guelra: Nós e a mística dos comandos da 38.ª, em Mansoa (Belarmino Sardinha)

6 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3026: Convívios (69): Pessoal do BCAÇ 3832, no dia 31 de Maio de 2008 na Covilhã (Germano Santos/Belarmino Sardinha)

10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3047: Os nossos regressos (9): Uma viagem tranquila...(Belarmino Sardinha).

20 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3075: Estórias avulsas (19): Os cães da guerra (Belarmino Sardinha)

29 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3377: O meu baptismo de fogo (19): Como, porquê e não só (Belarmino Sardinha)

22 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3498: No 25 de Abril eu estava em... (4) Agrupamento de Transmissões, Bissau (Belarmino Sardinha)

16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3633: Dando a mão à palmatória (18): O meu reparo (Belarmino Sardinha)

9 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4162: Convívios (106): Almoço convívio do pessoal do BCAÇ 3832 em Monte Real, 9 de Maio de 2009 (Belarmino Sardinha)

15 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4189: Estórias avulsas (27): O meu amigo Dinha e o RDM (Belarmino Sardinha)

16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4195: Blogoterapia (100) Desabafo - Agirão os editores com parcialidade? (Belarmino Sardinha)

12 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4331: Convívios (125): Comemoração do 39º Aniversário do Regresso do BCAÇ 3832, 9 de Maio p.p., em Monte Real (Belarmino Sardinha)

Vd. último poste da série "Parabéns a você" de 29 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4261: Parabéns a você (7): Giselda Pessoa, ex-Srgt Enf Pára-quedista, sobrevivente a um ataque de míssil SAM-7 Strela (Editores)

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4466: O Grupo Especial do Marcelino da Mata em Galomaro (Luís Dias)

1. Mensagem de Luís Dias (*), ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, com data de 1 de Junho de 2009:

Caros Editores

Incluso história de uma ataque IN à tabanca de Campata-Galomaro, em Março de 1973, e o aparecimento do GE do Marcelino da Mata, para publicação se o acharem oportuno, no nosso blogue.
As fotografias que fazem parte publiquem as que entenderem e que acharem de interesse para ilustrar a história.

Um abraço
Luís Dias


O GRUPO ESPECIAL do MARCELINO da MATA EM GALOMARO

O ATAQUE IN A CAMPATA E A INTERVENÇÃO DO GE DO ALF CMD MARCELINO DA MATA


A 16 de Março de 1973, o IN flagelou o quartel do Dulombi, às 17h55, sem quaisquer consequências, abandonando na base de fogos, diverso material, nomeadamente granadas de RPG-2 e RPG-7, isto devido à reacção das nossas forças, através de disparos dos 2 morteiros 81 mm e dos vários de 60 mm.

Mais tarde, pelas 21h15, um grupo inimigo atacou com violência a Tabanca de Campata, situada a alguns quilómetros de Galomaro. Contudo, a pronta reacção do Pel Mil, que defendia o local, bem comandado por Semba Embaló, o qual, após ter sido detectada a presença inimiga e sabedor das intenções dos guerrilheiros, dispôs os seus homens nas valas e só ordenou fogo quando o IN estava já muito perto da tabanca. A justeza e direcção do fogo das milícias, obrigou os elementos do PAIGC a fugir, deixando no terreno 5 mortos e diverso material.

Elementos dos Pel Mil de Pate Gibel e Dulô Gengele e o 4.º GComb da CCAÇ 3491, comandado pelo Alf Mil Parentas, que se encontrava emboscado na zona dirigiram-se ao local em apoio de Campata. O IN na sua retirada é interceptado em Dulombi (A) vindo a sofrer feridos graves, pelos vestígios de sangue encontrados, a captura de um guerrilheiro armado e apreensão de 2 Espingardas automáticas Kalashnikov, 3 RPG-2, 1 pistola Tokarev TT33, diversas granadas defensivas F1 e chinesas de cabo de madeira.

Com a captura de um elemento do PAIGC, surgiu em Galomaro, no dia seguinte, o Cmdt das Forças Especias, o então Major Almeida Bruno, acompanhado do Alf. Cmd, Marcelino da Mata e o seu Grupo Especial. O Grupo era composto por 16 elementos, armados com 2 Kalashnikov (Alf e Fur), 7 Dectyarev RDP e 7 lança granadas foguete (RPG-2 e RPG-7). Depois de se conseguir obter do prisioneiro a orientação da base IN, situada na República da Guiné-Conackri, junto à nossa fronteira, aquela força fez-se transportar pelo fim da tarde de hélio até perto do local, vindo a ser recolhida no dia seguinte, do nosso lado, após assalto à base do PAIGC, que destruíram.

Antes da partida ainda perguntámos ao Marcelino se achava que os 16 elementos seriam suficientes para o assalto, dado que as informações colhidas diziam ali estarem cerca de 40/50 guerrilheiros, ao que ele respondeu, com ar zombeteiro:

- E só lá entro com 10, os outros ficam de reserva!.


Algumas das tabancas de Campata que foram incendiadas pelo forte ataque do PAIGC. Aqui não se sente o cheiro a queimado, o choro das mulheres e das crianças e o lamento pelos feridos da população e da milícia, que foram sentidos pelos elementos da CCAÇ 3491 e da CCS de Galomaro, que acorreram ao local.

Guerrilheiros do PAIGC mortos em combate no ataque a Campata

O GE do Alf Cmd Marcelino da Mata a caminho dos hélis que os iriam transportar no assalto a uma base IN, na Rep. da Guiné-Conacri - Galomaro, Março de 1973

O heróico chefe do Pel Mil de Campata - Semba Embaló (aqui com o Alf Mil L. Dias da CCAÇ 3491), que soube organizar as suas forças de forma a repelir com grande sucesso o ataque de um grupo IN fortemente armado. Campata 1973.

Fotos e legendas: © Luís Dias (2009). Direitos reservados
Fotos editadas pelo Editor

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4346: Os bu...rakos em que vivemos (10): Também havia um em Nova Lamego (Luís Dias)

Guiné 63/74 - P4465: Estórias de Jorge Picado (7): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (III): Reunião com o Secretário Geral - Generalidades

1. Mensagem de Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 27 de Maio de 2009:

Caros Amigos e Camaradas

Segue mais uma transcrição dumas papeletas do CAOP 1, que Anexo respectiva digitalização, para vossa apreciação.
São 7 folhas mais o verso da última, escritas a lápis

Abraços
Jorge Picado


I – Generalidades

Sua Ex.ª o actual Governador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, após um estudo detalhado acerca do panorama desta Província, traçou uma linha de orientação e trabalho tendo como objectivo o desenvolvimento e progresso sócio-económico e cultural do Povo da Guiné, com tanta oportunidade sintetizado na expressão “Uma Guiné Melhor Para os Guinéus”.

Assim, a meio do ano de 1969 e por razões estratégicas definiu a zona de etnia Manjaca como área piloto para a incidência de um esforço colectivo exercido pelo Governo da Província, que ficou portanto conhecido como a “Manobra Socio-Económica e Cultural no Chão Manjaco”.

Este Chão Manjaco, actualmente mais reduzido do que nos tempos de outrora, pois segundo consta inicialmente estendia-se mais para o interior incluindo o regulado de Bula – agora área de Mancanhos – e as Ilhas de Bissau até Sanfins e de Bolama – hoje em dia zona de Papéis – encontra-se distribuído por (?) 28 Regulados (?) povoados na sua esmagadora maioria por Manjacos, aos quais se juntam diversas minorias étnicas, além de Mancanhos e Balantas já em percentagem significativa.

Actualmente a população nesta zona ronda os 60.000 habitantes, quase exclusivamente animistas, se bem que existam (?) alguns católicos e ainda mais islamizados, estes com tendências expansivas.

Para implantação e execução do pensamento governativo nesta(?) área foi criado o CAOP, (?) que posteriormente englobou a zona de Bula, predominantemente Mancanha e mais recentemente a de Binar, já de ocupação Balanta.

A missão dada ao CAOP foi a de “Restabelecer a vida normal no Chão Manjaco” e em face disso, a par das actividades puramente militares que garantissem o espaço, o tempo e a tranquilidade necessários à criação dum clima de Paz, atribuíram-se-lhe actividades pacíficas de colaboração na execução dos diferentes programas nos campos da educação, da saúde, da agricultura, da pecuária e das obras públicas.

Actualmente este esforço desenvolvido e ensaiado nesta área piloto do Chão Manjaco estende-se a outros Chãos, nomeadamente o Balanta.

II – Reordenamentos

1- Uma das características da estrutura populacional da Província é a sua grande pulverização em núcleos pequenos e dispersos por largas áreas, aliás própria das sociedades vivendo numa fase da agricultura (económica) economicamente de subsistência, em zonas do globo com determinadas características.

Em face disso, todos os benefícios primários de natureza colectiva em que assenta qualquer promoção perdem muito da sua rentabilidade quando aplicados a essa sociedade multidividida, nomeadamente qualquer esforço que se faça no campo da Instrução, Assistência Técnica e Comunicações, pontos base de qualquer programa sério e honesto de desenvolvimento (económico ?) destas sociedades primárias.

Surgiu consequentemente a necessidade de aglomerar essas sociedades dispersas, de modo a usufruírem os benefícios que a civilização moderna pode facultar, sem contudo as ferir nos seus interesses e tradições ancestrais. Deste modo, essa aglomeração estudada e planeada tem sido feita unicamente de acordo com aceitação livre das populações, previamente elucidadas dos objectivos a atingir e que se resumem:

- Obtenção da máxima rentabilidade no esforço de promoção realizado, aproveitando melhor as pessoas e os meios;
- Criação de hábitos de trabalho mais comunitários;
- Garantir uma melhor protecção às populações beneficiadas.

A reacção inicial a estes reordenamentos foi como se esperava de descrença na nossa capacidade de realização e de desconfiança na honestidade e fins dos nossos propósitos, consequência de atitudes passadas e de permeabilidade à propaganda IN.

No entanto apesar das dificuldades encontradas e traduzidas em insuficiência de meios e materiais e mão-de-obra, venceu-se essa reacção inicial e actualmente acreditam e aceitam estas realizações.

2 - 1.ª Fase

Sector de Teixeira Pinto

Reordenamentos - 7
Casas previstas - 1397
Casas concluídas (Época seca 70/71) - 575
Casas a construir - 819

Sector de Pelundo

Reordenamentos - 3
Casas previstas - 411
Casas concluídas (Época seca 70/71) - 347
Casas a construir - 64

III – Saúde

1- A saúde pública é um dos principais aspectos que mais afecta a vida das populações, muito especialmente em zonas caracterizadas por elevado índice de doenças endémicas, como é o caso da maioria das regiões africanas, onde numerosas doenças existem e grassam facilitadas pelo habitat sui generis existente. A acrescentar a estes flagelos endémicos há ainda todo o restante espectro de doenças vulgares, traumatismos e a elevada mortalidade infantil que, tornam a duração média de vida destes povos bastante baixa, em comparação com sociedades mais evoluídas, além de constituírem uma das causas inibitórias duma real promoção sócio-económica.

As próprias características destes povos primitivos e sub-desenvolvidos, sem qualquer educação sanitária e possuidores duma forte crença nos seus mézinhos, contribuem para a existência dum retrato sanitário francamente mau destes habitantes.

Conhecendo-se estas verdades e concomitantemente as necessidades sanitárias do Chão Manjaco, idênticas aliás a todos os outros Chãos, e sabendo-se ser neste campo onde os resultados positivos de promoção e captação das massas mais rapidamente podem surgir, procurou-se, aproveitando a estrutura dos serviços de saúde existentes, suprimir os inconvenientes e melhorar e ampliar o que havia de útil.

Resumidamente, desejava-se proporcionar uma melhoria de vida biológica e social do Povo Manjaco, praticando fundamentalmente uma medicina preventiva, assegurando a medicina curativa e incrementando a educação sanitária, de forma a:

- diminuir a mortalidade
- assegurar a cobertura sanitária de todo o “Chão” Manjaco
- actuar sobre a origem das doenças
- modificar os hábitos higiénicos da população
- elevar o estado geral de saúde.

2- Realizações

2.1- Reparação dos edifícios já existentes

2.1.1-Hospital de T.Pinto

2.1.2-Postos Sanitários de Cacheu
Caió
Calequisse
Jeta
Pecixe

2.2- Ampliação e construção de diversos serviços do Hospital

2.3- Construção de novos Postos Sanitários
-Batucar
-Carenque
-Pelundo

2.4- Construção de novos Postos de Socorros
-Bassarel
-Có

2.5- Simultaneamente procedeu-se a um apetrechamento adequado de todos os serviços em material e ampliaram-se os quadros de enfermagem e auxiliar.
Nota: Não se toma em consideração o volumoso trabalho de assistência prestado pelos serviços militares nos diversos destacamentos.
(Nas costas da folha que acabei de transcrever está escrito, igualmente com a minha letra, mas esferográfica vermelha: profilaxia tétano; profilaxia poliomielite; profilaxia cólera; profilaxia sono.)

IV – Educação

Num plano de promoção dirigido a massas populacionais primitivas com um tão baixo nível cultural e uma percentagem de analfabetismo bastante elevada, não se podia menosprezar o ensino, compreendido (?) como instrução quer como educação propriamente dita.

Deste modo, fácil se torna compreender que o esforço no campo educacional teria forçosamente de absorver grande parte do esforço aplicado ao desenvolvimento do Chão Manjaco, tanto mais que os meios existentes, se eram suficientes para atender a instrução solicitada, manifestavam-se insuficientes para satisfazer uma instrução obrigatória, necessária para criar uma nova geração com capacidade para assimilar as inovações trazidas pelo progresso e aplicá-las duma forma eficiente.

Por estas razões, trabalhou-se e trabalha-se com a finalidade de:

- Colocar a escola e o professor ao alcance de todos, tornando a instrução obrigatória, de forma a reduzir ao máximo o analfabetismo.
- Associar ao ensino escolar (o ensino?) uma iniciação agrícola elementar (?), para criar hábitos de trabalho, fazendo contactar tanto quanto possível as crianças com novas técnicas e novas culturas.
- Ministrar durante o ensino escolar conhecimentos de higiene pessoal e habitacional e (???) criar o gosto na juventude pelos regimes alimentares diferenciados e completos
- Seleccionar os mais inteligentes, proporcionando-lhes (?) através da concessão de bolsas de estudo, a possibilidade de atingirem níveis mais adiantados de cultura, pela frequência dos Liceus, Escolas Técnicas, Institutos e Universidades.
- Seleccionar os mais aptos para frequentar a Escola de Artes e Ofícios, a criar em T.PINTO, ou a Escola de Iniciação Rural, na Granja de T.PINTO.
- Mentalizar as crianças de acordo com os propósitos da Nação Portuguesa.

Congregaram-se por conseguinte todas as entidades empenhadas (?) desenvolvendo actividades de fomento educacional, – (?) serviços de educação civil, serviços de educação militar e missões – (para que se atingisse o objectivo global???) a fim de proporcionarem uma escolaridade para todos, combatendo assim o analfabetismo e possibilitando aos mais dotados o acesso a outro(a)s (fontes?) (graus) de ensino, tendo em atenção que a população a escolarizar, no Chão Manjaco (era em 1969 - 10139?) apresentava os seguintes valores:

- 1969 – 10139
- 1970 – 10640
- 1971 – 11172

Escolas Oficiais

Existentes - 4
Construídas - 13
A construír -

Escolas Missões

Existentes - 13
Construídas - 1
A construír -

Escolas Militares

Existentes -
Construídas - 7
A construír -

No verso da última folha estão as seguintes notas

- Delegacia de Saúde em Teixeira Pinto

– vacinação
- lepra e tuberculose
- materno infantil

Subdelegacias de Saúde em:
- Calequisse
- Cacheu - Postos Sanitários
- Pelundo - Brigadas de Socorros móveis
- Có

- Hospital Regional em Teixeira Pinto

Postos Sanitários em:
– Jeta
- Caió
- Pecixe
- Calequisse
- Cacheu
- Batucar
- Carenque
- Pelundo

Posros de Socorros em
- Bassarel
- Có

- Missão Combate Tripanossomiases

Concomitantemente, a par destas realizações materiais de construção e reconstrução de edifícios e apetrechamento adequado dos mesmos em material, aumentou-se o número de enfermeiros e parteiras na área.

Oficiais
Batucar
Carenque
Bassarel

P.E.M.
Batucar
Carenque

11 Oficiais + 7 P.E.M.

Acerca deste documento julgo que falta alguma(s) página(s), pois tal como se apresenta, está manifestamente incompleto. Por outro lado não está datado, ainda que saiba ter sido elaborado já em 1971 – uma vez que refere expressamente elementos desse mesmo ano –, nem assinado. Não me recordo já se foi alguma resenha que me tivessem mandado fazer para ser remetida ao COMCHEFE (como algumas correcções feitas e o que está escrito nas costas de certas folhas parecem indicar ser apontamentos de algo que faltava) ou se foi uma transcrição que fiz, de documento em arquivo, para mostrar depois em casa (coisa que aliás nunca fiz, já que não abri a boca sobre o passado na Guiné), algo onde estava envolvido, mas na verdade não sei precisar.

Destas transcrições ressalta a natureza dos trabalhos, no âmbito da ACAP e POP, fundamentais na execução das Directivas do ComChefe com vista à obtenção do sucesso militar e baseadas em: Reordenamento das POPs; melhoria do Estado Sanitário das mesmas; elevação do grau cultural com o desenvolvimento da Educação; apoio e desenvolvimento na Agricultura e Veterinária; fornecimento de infra estruturas diversas; etc.

Por isso é que eu me desloquei por diversas vezes a todas essas povoações, não só para aquilatar da execução do programado, mas também para acompanhar algumas das personalidades que eram aí enviadas, para visitarem a Obra que o Governo da Guiné estava efectuando em prol daquelas Populações.

Só tenho pena de não me recordar dos militares que me acompanhavam e protegiam nessas deslocações. Se algum deles for Tabanqueiro, ou tenha conhecimento destes escritos que dê sinal de vida par refrescar a memória.

Jorge Picado
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4430: Estórias Jorge Picado (6): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (II Parte)

Guiné 63/74 - P4464: Tabanca Grande (149): Armandino Alves, ex-1.º Cabo Aux de Enfermeiro da CCAÇ 1589, Guiné 1966/68

1. Mensagem de Armandino Alves, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 1589, Guiné 1968/70, novo camarada que se apresenta na Tabanca Grande, com data de 30 de Maio de 2009:

Camarada Luis Graça

Gostava de fazer parte da Grande Tabanca, mas não tenho possibilidades de enviar fotos do tempo de tropa pois como tive um grande incêndio na casa onde morava, todas as fotos desse tempo, incluindo a Caderneta Militar, se foram. Por isso não consigo fotos antigas.
Como participar?

Armandino Marcílio Vilas Alves
Ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem
CCAÇ 1589
Guiné 1966/68


2. Mensagem enviada em 1 de Junho ao nosso camarada:

Caro camarada Armandino Alves
Obrigado pelo teu contacto.
Para fazeres parte da nossa Tabanca Grande só precisas de manifestar esse desejo, o que aliás já fizeste.
Manda então uma foto tua actual e conta-nos alguma coisa sobre ti e sobre a tua Unidade. Quando foste para a Guiné, quando regressaste, por onde andaste e tudo o mais que aches que devas escrever.

Aguardamos, então as tuas notícias para te receber formalmente.

Um abraço do camarada
Carlos Vinhal


3. No dia 2 de Junho recebemos esta mensagem de aprsentação do nosso novo companheiro Marcílio.

Caro camarada Carlos Esteves Vinhal

Aí vai a minha história do tempo de tropa:

Assentei praça no Regimento de Infantaria 7 em Leiria, 4.ª incorporação de 1965 como soldado.

Depois dos três meses de Recruta fui mandado para o Regimento do Serviço de Saúde em Coimbra onde fiquei classificado em 1.º lugar no Curso de Enfermagem e fui enviado para o Hospital Militar Regional n.º 1, no Porto onde fui colocado no Serviço de Infecto Contagiosas.

Terminado o Estágio, regressei a Coimbra donde fui despachado para a Academia Militar em Dona Estefânia.

Quando já tinha 11 meses de tropa recebi ordem para regressar a Coimbra onde me deram uma guia de marcha para o RI15 em Tomar onde estive dois dias, sendo depois enviado para o Depósito Geral de Adidos, em Lisboa, pois a minha mobilização era de rendição individual.

Embarquei num cargueiro da CUF - Alfredo da Silva - onde fomos alojados no porão.

Cheguei a Bissau a 6 de Outubro de 1966. Fui enviado para Santa Luzia, para o 600, e apresentei-me na Companhia de Caçadores 1589, que salvo erro tinha chegado em Julho.

Enquanto em Bissau ainda fiz uma patrulha a nível de Companhia.

Em Dezembro recebemos ordem de marcha e embarcámos numa LDG rumo a Bambadinca onde desembarcámos, e em coluna de camiões, fomos para Fá Mandinga (de baixo) pois ficava num fundão onde o Amílcar Cabral tinha guardado o material para a sua fazenda modelo.

Em Fá de Cima estava outra companhia mais velha do que a nossa. Passámos aí o Natal e foi nesse aquartelamento que o Comandante de Companhia foi promovido a Capitão.

Nessa altura fizemos várias operações em Porto Gole, Enxalé e a maior foi à mata do Saraoul, a nível de Batalhão, e que durou 10 dias, onde fomos atacados por formigas, abelhas e onde não podiamos dormir devido aos obuses lançados de Mansoa sobre o aquartelamento inimigo.

Como prémio recebemos ordem para seguirmos para Nova Lamego onde passamos a Páscoa, fizemos uma patrulha a nível de Pelotão e depois arrancamos para o Che-Che, para atravessarmos o rio Corubal na célebre jangada.

Nessas travessias o pessoal desse aquartelamento, com as milicias na travessia dos Unimogs que levavam os garrafões de vinho, balançavam a jangada de maneira a virá-la e os garrafões e viatura caíam ao rio.
Depois ligavam um cabo de aço a uma GMC e tiravam o Unimog e depois mergulhavam para irem buscar os garrafões, mas só apareciam metade dos que caíam.

Atravessado o Rio Corubal e com todo o pessoal do outro lado, lá seguimos em direcção a Madina do Boé, trajecto esse feito a pé, pois havia o perigo das minas.

Ao segundo dia apareceu a FAP com os Fiats e os bombardeiros e aí íamos descansando à vez em cima dos carros. Para nos levantar a moral, em certo ponto do trajecto estavam duas GMC todas queimadas pois tinham sido atacados pelo IN e houve luta corpo a corpo.

Dizem que morreram sete militares entre soldados e milicias. O meu pelotão foi destacado para Béli que ficava a 60 Km de Madina, para a esquerda.

Estivemos aí de Abril de 1967 a Fevereiro de 1968. Entretanto a Companhia seguiu para Madina do Boé onde teve um morto, atingido a tiro na barriga por um atirador solitário, que também teve a mesma sorte pois foi abatido a rajada de G3.

No regresso ao Che-Che e apesar de trazermos de cada lado da picada, picadores de minas, uma Daim ler, pisou uma e os tripulantes, o apontador de metralhadora voou por cima da mesma e poucos ferimentos sofreu. Em contrapartida o condutor por não trazer capacete de protecção, sofreu traumatismo craniano com perda de massa encefálica, e morreu antes mesmo de ser evacuado. Só depois soubemos que eles se tinham oferecido como voluntários a quatro dias de regressarem à Metrópole.

Novamente atravessámos o Corubal e mais uma vez um Unimog caiu ao rio com material nosso. Eu fiquei sem o capacete, a bolsa de enfermagem e parte do camuflado.

Regressámos a Bissau onde a minha Companhia embarcou de regresso à Metrópole onde chegou em 16 de Maio de 1968. Eu fui para o QG, onde estive até Setembro, embarcando para a metrópole noutro barco da CUF (salvo erro o Ana Mafalda).

Quarenta anos depois conseguimos, graças ao Furriel Carvalho, que muita gasolina gastou para conseguir a lista completa do pessoal da Companhia e depois o contacto pessoal ou telefônico com cada um.

Assim em 24 de Maio de 2008 fizemos o 1.º almoço nos arredores de Viana do Castelo juntando cerca de 50 camaradas. Este ano foi Bustelo-Amarante no dia em que a Companhia fez 41 anos que chegou a Lisboa, 16 de Maio


4. Comentário de CV:

Caro camarada, bem-vindo à Tabanca Grande.
Um pequeno à parte só para te dizer que és o segundo Marcílio que conheço, sendo o primeiro um tio meu.

Pena que te tenha acontecido aquele contratempo do incêndio em casa, pois além das perdas irreparáveis de obejectos que lembram o nosso percurso ao longo da vida, há que somar os danos materiais. Esperamos que tenhas já ultrapassado esse mau momento da vida.

Como dizes, não tens recordaçoes fotográficas da tropa, mas tens uma coisa que só a morte apaga, que é a memória.

Recorre a ela e conta-nos as estórias vividas pelo enfermeiro que foste. A tua actividade como curador das maleitas de militares e civis, deixaram-te concerteza, marcas indeléveis.

Com votos de muita saúde para colaborares connosco, deixo-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia.

O teu novo amigo
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4417: Tabanca Grande (148): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil da CART 2412, Bigene, Guidage e Barro (1968/70)

Guiné 63/74 - P4463: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (5): Colaboração do nosso blogue

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Fiofioli > Março de 1969 > Operação Lança Afiada. O Alf Mil Paulo Raposo, da CCAÇ 2405, junto a um dos helicópteros. O número de evacuações, por insolação, desidratação, doença, ataque de abelhas e esgotamento foi enorme: mais de uma centena de casos (*)

Fotos: © Paulo Raposo (2006). Direitos reservados


Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Maio/Agosto de 1968 > A construção do aquartelamento de Gandembel requereu muitas canseiras envoltas em perigo permanente, para que se garantisse alguma segurança aos nosso homens, uma vez que eram alvo de inúmeros e consecutivos ataques inimigos.

Foto 320 > "E nestas acções, a aeronave trazia sempre algo. Desta vez, uns cunhetes de armamento que se descarregam, enquanto o ferido espera a oportunidade de ser levado até ao Hospital Militar" (**)


Foto e legenda: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados


1. Mensagem de Matt Hurley

Senhores,

Many thanks for posting this on your web site! (*) I look forward to comments from your comrades, fellow veterans of the war in Guinea.

If I could be so bold, might I make one more request? I would like permission from your contributors to use any original photos of they might have. These include photos already posted on your site, which would be most convenient to download and use. Of course, I will give them full credit! I am most interested in photographs of:

- Aircraft used in Guinea (F-86, PV-2, C-47, AL-III, T-6, G.91, DO-27, C-54/DC-6, Boeing 707), especially "on the ramp" at Bissalanca and in FAP markings;
- The airfield at Bissalanca--overhead views, the runway, the shelters, etc.;
- Captured PAIGC anti-aircraft weapons, such as the ZPU-4 or the 12.7mm machinegun;
- Portuguese aircraft during operations over Guinea, especially pictures from inside the aircraft;
- Pictures of personnel who played important roles, such as Ten Cor Brito, Gen Spinola, Ten Pessoa, Cor Lemos, or others;
- Reconnaissance photos of targets, either before or after FAP missions;
- And, sadly, pictures of aircraft that were damaged or shot down in Guinea.

I respectfully request the rights to use any photographs in my dissertation, or any book that might follow. Again, full credit will be given to anyone who permits me to use such photographs.

Very respectfully,
- Lt Col Matthew Hurley Tradução do e-mail do Matt


Tr. do Miguel Pessoa:

Senhores,

Muito obrigado por terem publicado a minha súmula no vosso site! Aguardo com expectativa os comentários dos vossos camaradas, colegas veteranos da guerra na Guiné (***).

Se me permitem a ousadia, poderia fazer-vos mais um pedido? Gostaria da permissão dos vossos colaboradores para utilizar quaisquer fotos originais de que possam dispôr, o que incluiria fotos já publicadas no site, as quais são fáceis de copiar e usar. Claro que irei dar todo o crédito aoa respectivos propritários!

Estou mais interessado em fotografias de:

(i) Aeronaves utilizadas na Guiné (F-86, PV-2, C-47, AL-III, T-6, G.91, DO-27, C-54/DC-6, Boeing 707), especialmente nas placas de estacionamento, em Bissalanca, com as marcas da Força Aérea Portuguesa;

(ii) A pista em Bissalanca - imagens na vertical, da pista, dos abrigos, etc;

(iii) Armamento anti-aéreo capturado ao PAIGC, como a ZPU-4 ou a metralhadora 12,7 mm;

(iv) Imagens de aeronaves da FAP no decorrer de operações na Guiné, especialmente as obtidas do interior da aeronave;

(v) Fotos de pessoal que desempenhou papéis importantes, como o Ten Cor Brito, Gen Spinola, Ten Pessoa(*), Cor Lemos Ferreira, ou outros(**);

(vi) Reconhecimento fotográfico de objectivos, quer antes quer depois da execução das missões;

(vii) E, infelizmente, as imagens dos aviões que foram danificados ou abatidos na Guiné.

Respeitosamente, solicito o direito de utilizar as fotografias na minha dissertação, ou em qualquer livro que possa vir a ser publicado. Mais uma vez, todo o crédito será concedido àqueles que me permitirem a utilização de tais fotografias.

Muito respeitosamente, Tenente Coronel Mateus Hurley.

(*) Texto do autor, esclarecimento de MP.

(**) Nota de MP: Aqui, deveria acrescentar-se o nome do Cor Gualdino Moura Pinto, o qual era à época Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné.


2. Mensagem original de resposta, em portugês:

Caro Matt

Recebi o teu e-mail. Na sequência do pedido que fazes, o Luís Graça deu a sua permissão para a utilização do material publicado no site - textos e fotos. Da minha parte também não há qualquer restrição.

No entanto, o material específico que pedes não existe nos arquivos do blog nem nos meus arquivos pessoais.

Dado o bom relacionamento que tem havido entre vós no passado, sugiro-te que encaminhes esse pedido para o Chefe de Estado Maior da Força Aérea ou para o Arquivo Histórico da Força Aérea.

Cheers. Miguel


Versão em inglês do texto anterior, enviada ao Matt Hurley em 2JUN09


Dear Matt I received your e-mail. Answering to your request, Luís Graça gave his permission for the use of all the material published on the site - text and photos. From my part there isn't also any restriction.However, the specific material you are asking doesn't exist in the archives of the blog or in my personal files.

Given the good relations that you have mantained in the past, I suggest that you forward this request to the Portuguese Air Force Chief of Staff (CEMFA) or the Arquivo Histórico da Força Aérea (AHFA) Cheers. Miguel



3. Resposta do Matt, com data de 3 de Junho:

Miguel, Many thanks! I will certainly contact Cor Alves at AHFA, but the photographs on Luis' blog are certainly a great place to start!

Cheers, - Matt Hurley


[Miguel, muito obrigado! Irei seguramente contactar o Cor Alves, do AHFA, mas não dispenso, para começar, as fotografias do vosso blogue, que são muito importantes para mim. Saudações, Matt Hurley.

4. Comentário de L.G.:

Teremos muito gosto em colaborar neste projecto de doutoramento. Só mais recentemente com a entrada de alguns camaradas da FAP (Incluindo, pára-quedistas, enfermeiras pára-quedistas,pilotos e técnicos de manutenção aeronáutica) é que começaram a aparecer histórias e fotos relacionadas com este ramo das forças armadas portuguese que estiveram no CTIG, entre 1963 e 1974. O nosso arquivo sobre a FAP não é tanto rico como o do Exército. Mas assim é muito melhor do que o da Marinha... Isto tem a ver essencialmente com a composição da nossa Tabanca Grande. Dentro destas limitações, daremos a melhor colaboração ao Matt Hurlei. Desde já lhe desejamos felicidades para levar a cabo, com sucesso, a sua tese de doutoramento.



Graça's comments to be read by Matt Hurley and other English-speaking persons:

We appreciate very much the honnor and the opportunity of participating, as actors, key-informants or only verbal and non-verbal documentation suppliers, in this research project on the air power during colonial war in the Guinea-Bissau. Only recently some Portuguese Air Force veterans (including paratroops, paratroops nurses, pilots and aircraft maintenance technicians) have come into our group blog, starting now to tell their stories and send their photos. By this reason, our documentation on the Air Force, this branch of the Portuguese Armed forces having played an important role during the colonial war, is not so rich as the Army one. Neverthless, it is much better than the Navy's stories and pictures... Explanation is mainly due the composition of our Tabanca Grande [ Big Village, in the Portuguese-based creole language of Guinea-Bissau, is the name of our social network]. Apart from these limitations, we will give the best collaboration to Matt Hurley. Best wishes to you. Good luck to to carry out and accomplish, successfully, your Ph D dissertation. Many thanks too to our Friend and Comrade Miguel Pessoa, Retired Air Force Pilot, Colonel, by offering his knowledge and language skills to our veterans' community.

_____________

Notas de L.G.:


(*) Vd. poste de 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2592: Voando sob os céus de Bambadinca, na Op Lança Afiada, em Março de 1969 (Jorge Félix, ex-Alf Pil Av Al III)

(**) Vd. poste de 21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28

(***) Vd. postes anteriores desta série:

29 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4436: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: tradução de Miguel Pessoa (4): Alguns comentários

27 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4430: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (3): Parte III (Bibliografia)

27 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4423: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (2): Parte II

26 de Maio de 2009 >
Guiné 63/74 - P4418: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (1): Parte I



quinta-feira, 4 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4462: História do BCAÇ 4612/72 (5): Aspecto político, Aspecto Administrativo e Organização Militar (Enviado pelo Jorge Canhão)


Amigos e Camaradas, 

Este é o 5º Poste da série História do B CAÇ 4612/72, da Autoria do então Alferes Ferreira, da CCS, escrita sob alguma "supervisão" do então Capitão Vicente (Operações). 

Ao falar do saudoso Capitão Vicente (que na sua carreira militar chegou ao posto de Coronel), não posso deixar de mencionar que, enquanto foi vivo, sempre participou entusiástica e alegremente nos almoços das várias companhias do Batalhão. 

Alguns textos da História do BCAÇ foram extraídos da História da Guiné. 

Um abraço para todos, 

(Jorge Canhão) 


(4) Aspecto político 


Os grupos étnicos de maior representação numérica no Sector: 
 
- Balantas, Mansoancas e Oincas - são dos que mais se ligaram à subversão, muitas vezes coercivamente, no inicio do terrorismo; houve então milhares de indivíduos que fugiram para o “mato”ou para o SENEGAL - por vezes até tabancas inteiras - e se subtraíram ao controle das nossas autoridades. Dos que estão no "mato" e passaram à clandestinidade, nem todos pegaram em armas contra a nossa soberania. 

É evidente que as populações sob controle das nossas autoridades o que constituem a grande maioria não se alheiam da situação e da sorte dos que estão no “mato” aos quais estão ligados por laços familiares, de amizade ou simplesmente étnicos e a quem ajudam, em maior ou em menor grau, em caso de necessidade. 

Consequentemente o IN obtém algum apoio das populações sob o nosso controlo, nomeadamente na contribuição com alimentos, na recolha de informações e na colecta de fundos; há conhecimento que elementos IN, OU de populações fugidas, contactam com relativa frequência com elementos da população sob O controlo das nossas autoridades por vezes até nas próprias Tabancas. 

Neste campo, destacam-se as populações das povoações de BRAIA e INFANDRE de quem o IN das áreas do QUERE e do CUBONGE obtém fácil apoio e da povoação do BINDORO, com ligação com o IN da área de CHANGALANA. 

É curioso verificar que a esmagadora maioria das populações sob nosso controlo, (bem como a quase totalidade das populações que vivem na clandestinidade e até mesmo muitos elementos do IN armados, desconhecem o que seja o PAIGC, quem são os seus dirigentes e qual o seu ideal político ou os objectivos que se propõe alcançar. 

A luta que se trava tinha, para eles, uma feição essencialmente racial, conceito este que vai sendo desfeito com o crescente número de soldados e milícias nativos que servem nas nossas fileiras. 

Aparentemente as populações sob controlo das nossas autoridades mostram-se submissas e colaborantes quando lhes é pedido um esforço físico remunerado (trabalho de desmatação, capinagem, etc.); contudo repete-se - há entre elas vários elementos - e até mesmo em MANSOA – que são colaborantes em maior ou menor escala com o IN. Embora haja alguns elementos suspeitos, torna-se difícil a detecção e neutralização de possíveis redes subversivas, devido fundamentalmente à índole reservada e pouco expansiva das populações do Sector. 


São frequentes, principalmente em épocas de crise alimentar, apresentações às nossas autoridades de elementos Balantas da população fugida do mato, provenientes das áreas do CUBONGE; na sua maior parte são velhos, mulheres e crianças, alegando como razão da sua apresentação, terem no mato uma vida de privações e de insegurança. Contudo, desde que a área de MANSABÁ passou para o Sector 04, ainda não se apresentou qualquer elemento Oinca que estivesse sob controlo do IN, o que se enquadra na sua maneira de ser e rebeldia tradicionais. 

(5) Aspecto administrativo 

O Sector 04 abrange: 

- No concelho de MANSOA: a quase totalidade do Posto Sede, no qual se localizam os Regulados de MANSOA,CUBONJE, JUGUDUL e SANSANTO. Grande parte da área do Posto Administrativo de PORTO GOLE, onde se localiza o regulado de ENXALÉ. 

- No Concelho de FARIM: Parte da área do Posto Administrativo de MANSABÁ, onde apenas existe o regulado de OIO. As relações com as autoridades Administrativas têm sido normais. 

Conclusões 

- Predominam no Sector os grupos étnicos Balantas, Mansoancas e Oincas que no início do terrorismo foram dos que mais aderiram à subversão; consequentemente, as populações sob nosso controlo não merecem confiança absoluta, pois embora se mostrem colaborantes com as nossas autoridades, têm também elementos que colaboram com o IN, ao qual estão ligados por laços de parentesco e étnicos Salientam-se neste aspecto, as povoações de BRAIA, INFANDRE e BINDORO. 
 
- A população nativa aprecia e aceita de bom grado as realizações materiais que lhes ocasionam benefícios no campo socioeconómico (construções do tipo reordenamento, escolas, poços, etc.) e à Assistência Sanitária prestada pelas NT. Os Fulas e Mandingas de MANSOA, pedem, com frequência, às autoridades, apoio e auxílio de toda a espécie; em contrapartida os Balantas, mais sóbrios e independentes, raramente pedem seja o que for. 

- A economia nativa da região assenta na agricultura, com grande destaque para a cultura do arroz; consequentemente a sua riqueza e poder de compra subordinam-se às colheitas que, por sua vez, dependem em larga escala das condições climatológicas. Se chove bem na época própria, há um ano de abastança; se chove pouco o ano é de escassez. 

- A influência no campo de desenvolvimento económico, da escassa população europeia do Sector pouco se faz sentir; são comerciantes e funcionários que se dedicam ao modo de vida que escolheram sem se manifestarem muito quanto à luta que se desenrola. 

3. ACTIVIDADES DO INIMIGO 
 
a. Resumo das actividades 
 

- Até ao momento da tomada de responsabilidade do Sector pelo BCAÇ 4612/72, a actividade do IN tem sido a seguinte: 
 
- Flagelações às povoações e aquartelamentos das NT, especialmente aos de MANSOA e MANSABÁ. 

- Intimidação e acções de rapto e roubo, contra as populações sob o controlo das NT. 

- Emboscadas e implantação de engenhos explosivos nos itinerários utilizados pelas NT, nomeadamente nas estradas MANSOA–MANSABÁ e MANSOA-BISSORÃ. 

- Reacção à penetração nas suas áreas de refúgio, especialmente nas regiões de MORÉS, CUBONGE e CHANGALANA. 

b) Organização civil e militar 

(1) Generalidades 

No quadro da organização IN, o Sector 04 integrado, na INTER-REGIÃO NORTE, compreendendo a parte dos "SECTORES" de MORÉS, SARA e CANJABARI, da organização político-administrativa do IN, e parte dos “SECTORES” de MORÉS e NHACRA, da FRENTE DA LUTA–MORÉS–NHACRA, parte do sector do BIAMBE da FRENTE DE LUTA CANCHUNGO–BIAMBE e ainda parte do SECTOR de SAMBUIÁ, da FRENTE DE LUTA S.DOMINGOS–SAMBUIÁ, da actual organização militar do IN. 

(2) Organização Civil 

Dentro da ZA do Batalhão, incluem-se os seguintes Sectores da organização político-administrativa do IN: 

- MORÉS, com as secções de CUBONJE, NANJA, MORÉS, MANSODÉ, MADINA e parte das secções de GANSAMBO, IRACUNDA e DANDO. 

- CANJABARI, com as secções de CAMBAJU, UÁLIA, e BRICAMA e parte das secções de CANJABARI (TAMBICÓ) e IONFARIM. 

- SARA, com as secções de LAMOI, DAR-ES-SALAM, BESSUNHA ou CORBA, BANTANJÃ E MANHAU e parte das secções de CUBDJAL e BANIR. 

(3) Organização Militar 
 
Na área de interesse do Batalhão, o IN tem o seguinte dispositivo e potencial: 

(a) FRENTE MORÉS/NHACRA 

1. SECTOR DO MORÉS 
CANJAJA 
- 01 bi-grupo, comandado por JOSÉ INDEQUE. 

MORÉS 
- 01 bi-grupo, comandado por BRAIMA SEIDI. 
- 01 bi-grupo, comandado por IMBEMBA SEIDI. 
- 01 bi-grupo não identificado. 
- 01 Bateria comandada por TURÉ MANTCHA. 
- 01 GR de Sapadores, comandado por ALBINO NANCASSA. 
- 01 GR de Foguetões 122, comandado por ALFA DJALÓ, destacado do CE 199/A/70. 
- 02 Grupos FAL, referenciados em MORÉS e MANSODÉ. 

SANTAMBATO 
- 01 Grupo, comandado por MAMADU SEIDI. 
- 01 Grupo FAL, na região de SANTAMBATO. 
 
CAMBAJO 
- 01 Grupo, comandado por MADA.  

CUBONGE 
- 01 Bi-grupo, comandado por NHAGA NHAME. 
- 01 Grupo, não identificado. 
- 04 Grupos FAL, referenciados em CUBONGE, TALICÓ, MADANE e SINRE. 
BIRIBÃO 
- 01 Bi-grupo, comandado por SEIDICÓ TURÉ. 

2. SECTOR DE NHACRA 
 
- CE 199/C/70, comandado por ANDRÉ PEDRO GOMES, responsável da FRENTE DE LUTA MORÉS/NHACRA, com as seguintes unidades: 

SARA/MANTEM 
- Sede do CE 199/C/70 e do Comando da FRENTE. 
- 01 Bi-grupo, comandado por FERNANDO NANCASSA. 
- 01 Bateria, comandado por BRAIMA PADRE. 
- 01 GR de Foguetões 122, comandado por SAMBÁ LAMINE MANÉ (ROBALDE). 
- 03 GR FAL, referenciados nas zonas de SUARECUNDA, SARAOUL e BUMAL. 

CHANGALANA (POLIBAQUE) 
- 01 Bi-grupo comandado por INFANDA NABENA. 

MADINA/ENXALÉ 
- 01 Bi-grupo (-) comandado por ALFOCENE SEIDI. 
- 01 GR de Sapadores, não identificado. 

MALFO 
- 01 Grupo do bi-grupo de ALFOCENE SEIDI. 

PORTO GOLE/BESSUNHA 
- 01 Bi-grupo comandado por CAMBRA. 

b) Capacidade de Combate 
 
- O IN dispõe de armamento eficiente e em quantidade. 
 
- Os elementos combatentes, a par do seu conhecimento profundo do terreno em que actuam, estão já dotados de uma mais apurada técnica de guerra de guerrilha, resultante, além do mais, de vários anos de ex¬periência. 

c) População sob o seu controlo 
 
O estudo da situação do IN e a análise dos binários IN/população e IN/terreno, mostram-nos a existência de duas áreas distintas na ZA. 

(1) Uma vasta área a OESTE do itinerário MANSOA-MANSABÁ-SALIQUINHEDIM, onde o IN controla totalmente as populações, perfeitamente integradas na sua organização político-administrativa, e mantém um dispositivo militar solidamente implantado e ainda FAL para defesa e controle da população. Constitui área de esforço em ordem a manter os itinerários do reabastecimento e a consolidar as estruturas sociopolíticas. 

(2) Na área a LESTE do itinerário MANSOA-MANSABÁ-SALIQUINHEDIM, podem considerar-se ainda duas zonas distintas, a primeira, a região de CANJABARI-BANJARA, a NORTE da estrada MANSABÁ-BANJARA, dispondo de FAL e situando-se em estado de evolução semelhante ao MORÉS, e a segunda, a SUL da mesma estrada, dispondo de forças do Exército Popular e das FAL, que dela irradiam para acções de guerrilha contra as NT e para acções de roubo e rapto das populações sob seu controlo, e exercendo sobre elas esforço de mobilização psicológica, aliciamento e intimidação.  

d) Movimentos, Linhas de infiltração e comunicação.  

São as seguintes as linhas de infiltração e comunicação do IN com incidência sobre a ZA do Batalhão: 

(1) Continuação do "corredor" de SAMBUIÁ que a partir da zona do MORÉS se bifurca segundo os eixos: 

                                 MABONCÓ-SUARECUNDA 
MORÉS<                                                                                          >SARA 
                                SAMTAMBATO-MANDINGARÁ  

(2) Continuação do corredor de LAMEL, que de BRICAMA, se bifurca segundo os eixos: 

                       BIRIBÃO-IONFARIM-BIRONQUE-CÃ QUEBO-MORÉS 
BRICANA < 
                       FARANDITO-TENTO-UÁLIA-GUSSARÁ- MANTIDA-SARA  

2.1) Formas de actuação. Táctica. 

De um modo geral o IN só tem actuado no Sector: 

- Em flagelações às povoações e aquartelamentos das NT. 

- Intimidação e acções de rapto e roubo, contra as populações sob o controlo das NT.  

- Por emboscadas e implantações de engenhos explosivos nos itinerários mais utilizados pelas NT.  

- Reagindo à penetração das NT nas suas áreas de refúgio. Para a execução da sua actividade, o IN tem modos de actuação característicos. Assim, relativamente ao Sector 04 e de um modo muito genérico: 

- O IN quando executa uma flagelação: 

- Monta normalmente as suas bases de fogos durante o dia, quando pretende flagelar uma povoação e respectivo aquartelamento a partir do cair da tarde, o que tem feito por sistema. 

- Monta normalmente mais do que uma base de fogos. 

- Tem procurado abordar o arame farpado durante a flagelação, sobretudo quando tem actuado contra os destacamentos de INFANDRE, BRAIA e JUGUDUL e sobre a tabanca em auto-defesa do CUSSANÁ 

- Deixa-se ficar, durante algum tempo, perto das suas bases de fogos, enquanto a Artilharia normalmente procura bater os possíveis itinerários de retirada. 

- Tem deixado ultimamente as suas bases de fogos, depois da retirada, armadilhas. 

- Procura flagelar mais de que um destacamento a fim de evitar o apoio de fogos e o socorro em tempo oportuno. 

2.2) Redes de informações e de colectas de fundos 

E do conhecimento do Batalhão que existem no Sector, redes de informações que até à data não foram detectadas, muito embora se encontrem vários elementos em observação, por haver desconfiança de possíveis ligações com o IN. 

No que respeita a colectas de fundos, o Batalhão tem notícias de que continuam a ser feitas, através dos comités de tabancas no que respeita às populações controladas pelo IN e através de elementos que recruta para o efeito, nas tabancas das populações reordenadas e controladas pelas NT. 

Neste aspecto predomina o apoio fornecido pelas populações de BINDORO, BRAIA e INFANDRE. Nos restantes reordenamentos populacionais há conhecimento de que se colectam, mas em menor escala. 

e) Situação em abastecimentos. Locais de apoio.

O IN leve a efeito regularmente colunas de abastecimentos, através dos "corredores" tradicionais utilizados para o lado da fronteira do SENEGAL, socorrendo-se ainda por vezes de ligações e cambanças para o SUL, quando pretende abastecer-se através dos "corredores" tradicionais de penetração da REPUBLICA DA GUINE. 

Para estas colunas de reabastecimentos o IN serve-se normalmente das populações sob seu controlo e só raramente se serve das que se encontram controladas pelas NT. 

Neste último caso procura as referidas populações quando se encontram a trabalhar nas suas bolanhas ou embosca trilhos por elas utilizadas nos seus deslocamentos e em ambos os casos rapta-as para Utilização posterior nas referidas colunas. 

Dentro do Sector podem-se considerar como locais de apoio o MORÉS e o SARA. É a partir destas duas regiões que o IN faz irradiar os reabastecimentos. No que respeita a alimentação, o IN recorre: 

- A colecta de alimentos junto das populações sob controlo das NT.  

- Aos produtos cultivados pelas populações sob seu controlo.  

- A produtos por ele próprio cultivados, embora em menor escala.

f) Aspectos característicos e pontos fracos. 

- O IN continua a ter necessidade de se apoiar nas suas populações que controla a fim de se alimentar. 

- Utiliza as populações normalmente na periferia das suas bases e acampamentos, servindo-lhe de escudo e alarme à aproximação das NT. 

- Nos últimos contactos havidos na região do CUBONGE e no SARA, tem sido com FAL que as NT têm tido inicialmente contactos, evitando deste modo que as NF cheguem, por terra às suas bases. 

- Tanto o IN como as suas populações controladas, continuam a ter necessidade de fazerem as suas trocas comerciais nas povoações por nós controladas, visto que dificilmente terão outro processo de terem dinheiro, alimentos que lhes faltem e vestuário. 

- Continua a ter necessidade de realizar colunas de reabastecimento de trajectos longos e difíceis servindo de carregadores, normalmente, os elementos que recruta de entre as populações que controla. Estes elementos já de há tempo que vêm manifestando o seu descontentamento, porquanto: 

-Já há anos que o vem fazendo, e é fácil de imaginar o seu cansaço. 

- Não recebem qualquer pagamento e muitas das vezes nem alimentação lhes é fornecido, 

- Prometem-lhes ofertas, sobretudo de vestuários, que não chegam a cumprir. 

(Jorge Canhão – Ex-Fur. Milº da 3ª Cia)  
Fotos: © Augusto Borges & Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados
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Nota de MR: 

Vd. último poste desta série em: