quinta-feira, 28 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4431: Blogoterapia (104): Não façamos deste Blogue um muro de lamentações (António G. Matos)

1. Mensagem de António G. Matos (*), ex-Alf Mil MA da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, com data de 21 de Maio de 2009:

Meus caros camaradas ex-combatentes da guerra do ultramar,
Temo sinceramente que muitos de nós tenhamos feito deste blog um verdadeiro muro de lamentações do qual não já não conseguimos libertar o espírito e tenhamos transformado um hobby que se pretendia salutar, numa doentia carpideira que em nada contribuirá para amenizar esta etapa final das nossas vidas.

É certo que temos histórias que nos fazem sorrir, umas, e rir a bandeiras despregadas, outras;

É certo que temos bons momentos vividos e relatados que nos enchem a alma;
Mas as angústias, os medos, os desgostos, as saudades, as lutas, a morte enfim, ressaltam como o leit motive das nossas mensagens de África.

Apercebi-me que temos que ter consciência disso sob pena de nos estarmos a infernizar e a infernizar a vida de outros...

Acho que temos de nos consciencializar que aquela época que todos nós vivemos é algo que, tendo deixado marcas incontornáveis nos nossos corpos e nas nossas almas, não podem ser as que comandam o resto das nossas vidas, sob pena de nos declararmos vencidos perante a enormidade que na altura vencemos!

Força malta! Arrebitemos para a vida e deixemos que uma reflexão do Picasso nos sirva de alibi para sabermos dar a volta POR CIMA!

Um abração,
António Matos


Receita de jovialidade de Pablo Picasso… (?)

Deita fora todos os números não essenciais à tua sobrevivência. Isso inclui idade, peso e altura. Deixa o médico preocupar-se com eles. É para isso que ele é pago. Frequenta, de preferência, amigos alegres. Os de "baixo astral" põem-te em baixo. Continua aprendendo...

Aprende mais sobre artesanato, jardinagem, qualquer coisa. Não deixes o teu cérebro desocupado. Uma mente sem uso é a oficina do diabo. E o nome do diabo é Alzheimer.

Curte coisas simples. Ri sempre, muito e alto. Ri até perder o fôlego. Lágrimas acontecem. Aguenta, sofre e segue em frente. A única pessoa que te acompanha a vida toda és tu mesmo.

Mantém-te vivo, enquanto vives! Rodeia-te daquilo de que gostas: família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, o que for. O teu lar é o teu refúgio.

Aproveita a tua saúde; Se for boa, preserva-a. Se está instável, melhora-a. Se está abaixo desse nível, pede ajuda. Não faças viagens de remorso. Viaja para o Shopping, para a cidade vizinha, para um país estrangeiro, mas não faças viagens ao passado.

Diz a quem amas, que realmente os amas, em todas as oportunidades. E lembra-te sempre de que: A vida não é medida pelo número de vezes que respiraste, mas pelos momentos em que perdeste o fôlego: de tanto rir... de surpresa... de êxtase... de felicidade...

"Há pessoas que transformam o Sol numa simples mancha amarela, mas há também as que fazem de uma simples mancha amarela o próprio Sol".



2. Comentário de CV:

Oportuna esta mensagem, com mensagem, do nosso camarada António Matos.

Criamos, por vezes, questiúnculas que exaltam os ânimos de maneira menos própria entre camaradas, com palavras ou frases acutilantes, desnecessárias, às quais o melhor destino é a indiferença.

Recentemente dois camaradas (?) dirigiram-se aos editores, de modo tão pouco cordial, por razões tão mesquinhas, que nos deixou sem palavras. Replicar para quê?

Por outro lado, não façamos da guerra que vivemos há tantos anos, um drama permanente da nossa vida. Ao longo da existência, todo e qualquer ser humano sofre perdas irreparáveis, mas o subconsciente tem defesas próprias para as colmatar. A família e os amigos precisam de nós sãos, física e mentalmente. Façamos um esforço para nos darmos a eles.

Quanto à receita atribuída a Picasso, enviada pelo camarada António, é bom que a sigamos à letra. Gozemos a vida em pleno, cada um a seu modo, deixemos de implicar com os que nos são mais chegados, família e amigos, porque estes são o nosso maior tesouro. Cuidemos da saúde e tratemos da azia que não nos deixa ver com clarividência os problemas do dia-a-dia.

Digamos frontalmente ao nosso interlocutor que discordamos dele, mas respeitêmo-lo. Se ele estiver errado, chamêmo-lo à atenção, cordialmente. É tão bonita a cortesia.

Termino com:

"Há pessoas que transformam o Sol numa simples mancha amarela, mas há também as que fazem de uma simples mancha amarela o próprio Sol".

Um grande e sentido abraço para todos os camaradas e amigos tertulianos, assim como para os milhares de leitores do nosso Blogue, em nome dos editores que tudo fazem para agradar.

Carlos Vinhal
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4427: "Restolhada", uma Operação da CCAÇ 2790 no Choquemone (António G. Matos)

Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4392: Blogoterapia (103): Coisas lindas de Guileje / que guardo num cantinho do meu coração (J. Casimiro Carvalho)

Em tempo
Nota às 20 horas e 45 minutos.

Como os leitores devem ter reparado, durante a edição deste poste, aconteceu uma publicação intempestiva. A mesma saiu sem número, sem autor, com o título incompleto, com o texto empastado, etc.
Do facto peço desculpa. Acrescentei todos os elementos identificativos do autor e um pequeno comentário meu, que estava já feito noutro rascunho criado em duplicado pelo sistema.

18 comentários:

JC Abreu dos Santos disse...

... ao veterano António Martins de Matos,

Subscrevo, integralmente, a preambular exortação.

Cumprimentos,
Abreu dos Santos

Anónimo disse...

Subscrevo igualmente.

Caros tertulianos,

Neste web site encontra-se a verdade. Sabe-se como foi, contado por quem viveu.

Ao pormenor.

BRILHANTE.

Mas ...

Mas para lá do pormenor, onde já nos encontramos, está o masoquismo do pormenor.

Coutinho e Lima, depois de anos como operacional NA GUERRA, na última operação passa a proscrito. Poucos concordam com o abandono. NA ÚLTIMA OPERAÇÃO.

AB, COMANDO altamente condecorado. COMANDO. Em 21 segundos de infeliz palavreado passa de bestial a besta. 21 SEGUNDOS.

E se repararem bem, o teor dos últimos postes já vai para toda a tropa especial. "Pois ... faziam umas operações ... mas depois iam p´ra Bissau, p´ró ar condicionado." UMAS OPERAÇÕES !!!

Aos meus amigos, que me proporcionam, diariamente, horas de MUITÍSSIMA e agradável leitura:

Dão-se conta que o Sr. Virgínio Briote É COMANDO.

Dão-se conta que o Sr. Eduardo Magalhães É RANGER.


Atentamente,

João Miguel Almeida
41 anos

Anónimo disse...

Já agora e só para terminar.

Se com os "nossos" somos tão críticos e por vezes violentamente críticos, como poderemos trazer para aqui, para o blogue, malta do PAIGC?

Bem, aí seria o fim da "Picada"!


Atentamente,

João Miguel Almeida
41 anos

Fernando Gouveia disse...

Subscrevo totalmente. Quando tiver tempo escreverei mais sobre este assunto.

Fernando Gouveia

António Matos disse...

Para todos em geral e para os que já comentaram, em particular, permitam uma correcção que se impõe.
A falta de cabeçalho no meu texto a par da falta da habitual fotografia provoca lapsos que urge corrigir.
O subscritor do post não é o António Martins Matos mas sim o António Garcia de Matos, moi même.
Abraços,
António Matos

Manuel Reis disse...

Caro canmarada António G. Matos:
A tua última intervenção no Blog foi simplesmente fabulosa. A receita de jovialidade de Picasso é "a cereja no topo do bolo". Isto era o que gostariamos que acontecesse, mas a realidade é outra. Os participantes no Blog são na sua maioria ex-combatentes com necessidade de libertarem os as suas angústias, medos e fanatasmas, que durante anos os agrilhoaram. Por outro lado os relatos e histórias de acontecimentos que relatam trazem uma vivacidade ao Blog, tornando-o mais participativo e interventivo.
Um simple exemplo: O comentário a de João Miguel de Almeita,sobre este mesmo poste, ao referir-se ao Coutinho e Lima como um homem proscrito pelos seus camaradas acicata-me o desejo de enviar para o Blog um depoimento que tinha em stand-by, há algumas semanas".
Julgo que no nosso Blog não existem proscritos, porque a existirem eram mais que muitos.

Manuel Reis

Anónimo disse...

Amigo João Miguel Almeida,
Em meu nome pessoal e em nome dos "especiais" que me tocam e dos ausentes, muito obrigado, pelas tuas palavras.
Sabes, eu agora como co-editor tenho-me escusado a comentar o que quer que seja no blogue, para não criar polémicas e, ou "telenovelas" desgastantes e desnecessárias.
Muito sinceramente, não tenho pachorra e, por outro lado, tenho mais que fazer e bem mais importantes coisas.
Mas, ao ler este teu comentário, não resisti a aproveitar esta oportunidade que bem criaste, para votar palavra.
Assim:
Como bem diz o bom povo há 3 ditados que eu perfilho:
"Quem não se sente não é filho de boa gente"
"Os cães ladram mas a caravana passa"
"Vozes de burros não chegam ao céu"
Já não é de agora, é do tempo da guerra, que existe muita "dor de corno" em relação aos "especiais", por parte de uma pequena minoria chamemos-lhes “inconsolados” (que fique bem claro que, como é óbvio, estas palavras não são generalizadas a toda a malta, mas apenas aos que desgostosa e traumaticamente não foram "especiais", porque não o puderam ser e, ou, não quiseram, por muitos motivos).
Fujo das respostas a esses tipos de provocações, para não confundirem o que digo com presumíveis tiques "elitistas", porque tal comportamento está muito longe do meu modo de ser e estar na vida, e por não me achar, nem por vagas réstias, por esse motivo, ser superior a quem quer que seja.
Já o disse e volto a repetir, que eu só estive entre os "especiais", em Lamego, no C.I.O.E. (Centro de Instrução de Operações Especiais), 12 semanas a frequentar o curso, tendo passado todo o resto do tempo entre a chamada tropa "macaca", perfeitamente confraternizado e conjugado com a mesma. Nunca ouvi alguém dizer-me, sequer, que eu tivesse taras ou manias de "especial". Soldado e general para mim é militar.
Diz outro ditado popular: "Não há regra sem excepção".
É evidente que há sempre um ou outro "especial", que não cumpre as normas todas, que lhe foram ministradas nos respectivos cursos e não seja digno de usar os emblemas que lhe foram confiados. Mas, como todos sabemos, exemplares desses existem em todos os lados e em todas as matérias, infelizmente, digo eu.
Agora, quem despeja essas aleivosias sobre os "especiais", generalizando, ou ignora pura e simplesmente os fatos e acontecimentos da guerra do Ultramar, ou maldiz e deprecia propositada e venenosamente, pela tal "dor de corno" que acima mencionei. Não vejo outro motivo.
Denegrir os “especiais” é cuspir nos seus mortos e estropiados em combate.
No meu blogue está uma relação dos RANGERS mortos em África.
Os COMANDOS, PARAQUEDISTAS, FUZILEIROS; GRUPOS ESPECIAIS e GRUPOS ESPECIAIS PARAQUEDISTAS, tiveram inúmeros mortos na guerra.
Houve um general que ousou dizer que os ex-Combatentes “na Guiné eram bandos acoitados dentro do arame farpado”… e ninguém gostou... NADA!
Pelo andar da carruagem, já faltou bem mais, um destes dias apareça um qualquer imbecil a dizer que os ditos mortos “especiais” faleceram nas matas de África, a jogar paintball.
Espero encontrar-te dia 20 de Junho próximo em Monte Real.
Até lá um grande abraço Amigo do,
Magalhães Ribeiro

Nota: Esqueceste-te de mencionar o Humberto Reis que também é RANGER e tem sido o nosso cartógrafo de serviço.

Julio Vilar pereira Pinto disse...

Meus amigos que é isto,então como é qiue na guerra eram tudo irmãos e primos e agora depois de já passados os sessenta é que não se entendem.
Pelo que vejo este senhor João Miguel de Almeida se tem 41 anos nasceu em 68, por isso se é especial já é especial do pós 25 de Abril,logo ainda ele andava no cu dos franceses e já a malta anmdava na mata.
Logo não pode sentir nem calcular o que o pessoal "bandos" por lçá passou. É um especial de parada.

Anónimo disse...

OK!
Mas o Manel pode continuar a enviar as suas ricas rimas e prosas?
Espero que sim. E como na vida é tudo relativo, se alguém enviar um texto mais mariquinhas ou diabolizado, só lhe atribuo a importância que eu achar que tem.
Abraços fraternos
José Dinis

Anónimo disse...

Muito importante: Não reagir "a quente". Deixem passar o fim de semana.

Têm 3 dias para meditar sobre as SÁBIAS e construtivas palavras do Sr. Matos.

Nota:

Muito obrigado ao Sr. Magalhães Ribeiro pelas palavras que me dirigiu directamente.


João Miguel Almeida
41 anos

Hélder Valério disse...

Caros amigos e camaradas, se bem entendi o A.G.Matos, ele aconselha-nos a colocar as coisas nas devidas proporções, ou seja, recorrendo ao alegado texto do Picasso, que é aliás uma preciosidade, dá-nos a receita para uma melhor e mais positiva atitude perante a vida e os seus problemas. Tudo bem.
O Carlos Vinhal, no seu comentário, secunda a idéia e também acrescenta algo, dando ênfase à necessidade do relacionamento entre nós ser pautado pela cordialidade, pelo menos. Igualmente, tudo bem.
E tudo isto como uma orientação programática. Não tenho oposição a fazer, até concordo, mas como um guia orientativo, pois acho que a faceta de "blogterapia" que também o nosso Blogue tem, faz muita falta a muitos dos nossos camaradas e penso que ainda faz falta expurgar uns quantos "fantasmas".
Portanto, criar condições para dar "a volta por cima" sim, mas deixem lá o pessoal cauterizar as feridas.
É necessário,isso sim, é que não se enveredem por caminhos onde prevaleçam as picardias.
Um abraço
Hélder S.

António Matos disse...

Camaradas, não esteve tão longe de mim quanto isso, a vontade de fazer alguma pedagogia com a maneira como lidamos com as memórias do nosso tempo de guerra.
Fiquei, portanto, sensibilizado com a aceitação que foi manifestada nestes comentários mas fico perplexo com o acicatar de alguns ânimos quando , afinal, o que se pretendia era exactamente o contrário.
Julgo que estamos a precisar de fazer "deleate" a alguns macacos que teremos no telhado e deixarmos de nos pôr em bicos de pés numa tentativa serôdia de nos considerarmos melhores do que os outros porque somos médicos, engenheiros, professores, militares ou qualquer outra coisa.
Pessoalmente, já fiz a minha reconversão há muito tempo e dedico-me com grande afinco a desfrutar os prazeres da vida e a rir-me de mim e, já agora, dos outros !
Tudo isso sem descurar, obviamente, uma ou outra "vergastada psicológica" em quem a merecer mas com grande sentido.... terapeutico ....
Para bom entendedor meia palavra basta e o jargão leva-me a recordar uma frase dum ilustre vilarealense que, perante os irritantes elogios que um pai fazia do seu filho perante outros pais, dizia : o meu filho quando entrou para a primária era muito inteligénte ! Depois, quando foi para a universidade, ficou burro !
Com amizade,
António Matos

Carlos Vinhal disse...

Camaradas, calma!!! Desanuviem a atmosfera, que está a ficar pesada.
Vamos partir do princípio que na Guiné éramos todos Especiais, só que havia uns mais especiais que os outros. Estão satisfeitos?

Os Op Esp (Rangers e afins) não integravam as Unidades de tropa macaca? Porquê? Seriam eles Especiais de 2.ª? Não, nós (a macacada) é que éramos Especiais de 1.ª.
Se vos contasse as histórias que vi, passadas com os ditos Especiais...
Não imaginam o gozo interior que sinto por me classificar por ex-tropa macaca. Sabem porquê? Porque da minha vida, cerca de 60 anos, apenas 3 foram passados na Tropa. Apenas 5% da minha vida.
O mais importante é ser cidadão Especial, respeitar o semelhante e deixar cada um viver com as suas ideias.
A vida é curta, rapazes, estamos com os pés para a cova.
Longa vida para todos.
Vinhal

António Matos disse...

Caro Carlos Vinhal, é com satisfação que vejo, pela 2ª vez neste post, que reinteras a minha opinião no âmbito do assunto em questão.
Sou eu agora que, fazendo minhas as tuas palavras, apelo aos verdadeiros especiais que todos fomos naquela guerra para nos enchermos de orgulho por termos vencido aqueles tempos e estarmos aqui com toda a vitalidade a defender o nosso bom nome e a nossa história!
É claro que, sentimentalmente, pendo mais para aqueles que, como eu, sem preparação física ou psicológica especial, desempenharam a missão com uma capacidade de sofrimento e, porque não dizê-lo, com um sucesso tais que deveriam constar nos mais credíveis tratados de estudos da guerra !
Não esqueçamos os outros, os "especiais-especiais" que também contribuíram com o seu saber para o complemento bélico estratégico.
Mas desses, não se esperava outra coisa, tinham sido treinados para tal !
Parabéns pelos sucessos que tiveram mas também lhes exijo que não se ponham num pedestal a cuspir para o ar !
É que às vezes o cuspo pode cair-lhes em cima ...

Colaço disse...

Os especiais opinião de um tropa macaca, em algumas saídas na Ilha do Como, ou Bafatá, Zona de Nova Lamego, [Gabú] tive por companheiros Fuzileiros, Comandos, ou Paras.
Sem menosprezar o valor dos Paras ou Comandos, os que me marcaram pela sua actuação no campo de batalha foram os fuzas.
Posso afirmar que os meus padrinhos de guerra foi o sétimo destacamento do tenente Ribeiro Pacheco no desembarque e ocupação do Cachil em 23/01/1964, daí talvez a minha costela fuza?
Cumprimentos Colaço.

Unknown disse...

Especialmente dirigido ao António Matos. O texto do Picasso já o conhecia, embora não sabendo que era dele. Mas para o caso não interessa. Era óptimo que todos nós o conseguíssemos interiorisar e fazer dele um caminho. Concordo contigo e com a tua intenção. Mas também me parece que a grande maioria dos escritos aqui publicados (com excepção daqueles que os nossos próprios ex-camaradas e "chefes" nos insultam)não são uma revolta nem sequer uma prisão ao passado. Repara, reparem, camaradas, uma coisa: quantos de nós falamos anteriormente das nossas vidas nas colónias ? Quando nos juntamos, falamos de petiscos, de bajudas,de brincadeiras, etc. E à família, aos amigos que nao passaram por África ? Alguma vez contamos como vimos perder um companheiro, como era o cheiro da pólvora, como viste voar um hunimog ?
Aqui, deram-nos uma oportunidade de contar as nossas "aventuras", de desabafar. Mas independentemente de tentarmos andar em frente, e há muita malta que o faz, há muitas memórias no sotão que sempre nos acompanhará.
Agora para o Miguel de Almeida: Não entendi muito bem o seu comentário. O que têm a ver os especiais com o post do Matos ? Será que ele entende, provàvelmente não sabe, - eu nao fui especial - que na realidade o seu risco de vida era muito elevado ? Eu nao sei a vida que levavam nos dias não operacionais. Mas levavam nos "cornos" como nós. E sabiam que estavam tão mal preparados para aquela guerra como qualquer um de nós da tropa fandanga. Também é verdade que me ligaram afectos especiais aos fuzas; porque foram os primeiros com quem convivi quando cheguei à Guiné. Porque uma secção do meu pelotão no Como os tiveram como anjos; Porque lidei mais com eles do que com os outros especiais. Fosse nos copos, fosse em outras situações. Mas no fundo, eramos todos carne para canhão. Caro Almeida, tem de ser mais explícito para saber(mos) como era a sua mentalidade de tropa (?) em relação a nós nos anos pós 25 de Abril.

Colaço disse...

Portojo quanto aos copos também tenho uma estória de amizade com os fuzileiros, não me recordo a data da noite mas foi no finais de 1964 ou início de 1965, ou talvez na passagem do ano, Nós estávamos no café bento e periferia. Regressados a Bissau com quase um ano de mato, não é difícil prever que já estávamos bem apanhados do cacimbo, eis que aparece a policia militar e toca de embirrar com a tropa macaca, pois o comportamento também não estava de acordo com a ética militar, mas as imperiais e o cacimbo já podes calcular.
Quando a P.M. tem a triste ideia de fazer detenções,os camaradas fuzas vêem em nosso apoio e avançam para dar porrada nos chulos da P.M.
A P.M. como estava em minoria para não apanhar fugiu, ainda houve tiros para ar.
A solução encontrada foi: a partir daquela noite a ronda da P.M. passou a ser mista. Exército,Marinha e Força Aérea.
Um abraço Colaço.

Manuel Reis disse...

Como é possível, que um texto tão bem concebido se transforme em motivo para os camaradas de digladiarem?
Este texto é um apelo à vida e só pode ser entendido como tal.

Um abraço para todos.
Manuel Reis