1. Mensagem de José Eduardo Alves (Leça) (*), ex-Condutor da Cart 6250, Mampatá, 1972/74, com data de 23 de Maio de 2009:
Camaradas
Luís, Briote, Vinhal e demais camaradas
Hoje vai uma história de camaradagem.
Como sabem, eu África sinto-me como em casa. Na minha última intervenção no blogue, disse tudo.
Quando estive em Angola, perguntei a um angolano se sabia o que era a camaradadagem, ao que ele respondeu que sim, que era aquela coisa que anda dentro do pneu.
Não vim aqui para contar anedotas, mas sim para falar do blogue, o que penso dele. Este blogue deve ser visto como um local quase sagrado, onde todas as pessoas se devem respeitar. Um pouco de cultura é o que falta a alguma gente que diz, mas não sabe o quê, isto é uma expressão africana. Este meu reparo, é para uma boa interpretação, sem ofensas a ninguém. Há bastante tempo que venho a apreciar quem é quem, por isso conheço o pessoal todo do blogue. Por vezes gostava de dar um abraço a certos camaradas, mas dou-o agora através do blogue. Tive um professor na universidade que dizia que quando rodamos a cara para os lados sabemos o que valemos.
Agora vou falar de África, porque uns escrevem o que lhes vai na alma, outros o que passaram, mas poucos são capazes de analisar, porque é mais difícil, é preciso tempo, e eu também tenho pouco. Aqui deixo o meu pensar de que os portugueses em África construiram cidades e amizades nunca esquecidas, tendo o Ocidente aproveitado a teimosia salazarista para destruir o que nós portugueses construimos. Branco e africano comiam na mesma mesa, dormiam na mesma casa, coabitava da mesma maneira e isto foi obra nossa.
Quando estive em Brazzaville, diziam os africanos, que Luanda em África era comparada a Paris na Europa.
Quando entrei nas plataformas de petróleo em 1984, dentro do mesmo barco havia cozinha para branco, cozinha para africano, balneários para brancos e outros para africanos, e eu surpreendido perguntei a um africano se aquilo era normal. Sim - disse ele - E sabes porquê? É que os santos são brancos e Deus também, só o diabo é que é preto.
Chega de histórias reais. A minha luta é ajudar esta gente, na terra deles, porque é lá que eles se sentem bem, por isso eu subscrevi algumas coisas e vamos para frente.
Devo dizer, com alguma modéstia, que por onde passei deixei amigos, e é assim que a vida tem sentido.
Este ano fui à Guiné e gostava de ter encontrado mais gente conhecida, mas como diz o guineense: - Deus não quis, fica para o ano.
Agora vou deixar um alerta, é que as cerejas com esta chuva já começam a ficar recheadas. Para os amigos eu tenho um verde tinto feito só com uva.
Deixo ao vosso critério este texto para publicar, porque tem muitas coisas à mistura, mas com o tempo eu vou aprender a separar os assuntos.
Aquele abraço do J.E.S. Alves a todos quantos o queiram aceitar, e não se esqueçam, quando apartarem a minha mão, façam-no com força.
Um grande abraço.
José Eduardo e António Carvalho durante a recente viagem à Guiné-Bissau
2. Comentário de CV:
Mais um texto do nosso universitário da vida, Eduardo Alves, texto simples que se espera tenha a sua essência intacta, uma vez que precisou, aqui e ali, de uns toques.
Camaradas, analisemos este parágrafo que retirei do texto acima:
Não vim aqui para contar anedotas, mas sim para falar do blogue, o que penso dele. Este blogue deve ser visto como um local quase sagrado, onde todas as pessoas se devem respeitar. Um pouco de cultura é o que falta a alguma gente que diz, mas não sabe o quê, isto é uma expressão africana. Este meu reparo, é para uma boa interpretação, sem ofensas a ninguém. Há bastante tempo que venho a apreciar quem é quem, por isso conheço o pessoal todo do blogue. Por vezes gostava de dar um abraço a certos camaradas, mas dou-o agora através do blogue. Tive um professor na universidade que dizia que quando rodamos a cara para os lados sabemos o que valemos.
Deixo-vos com estas simples, mas oportunas palavras do Eduardo.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 22 de Maio de 2009 Guiné 63/74 - P4400: História de Vida (14): Refazendo a vida correndo o mundo (José Eduardo Alves)
Vd. último poste da série de 28 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4431: Blogoterapia (104): Não façamos deste Blogue um muro de lamentações (António G. Matos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Sim senhor! Sábuas palavras!
Um abraço.
Hélder S.
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