1. Comentário do Virgínio Briote, ex-Alferes Comando (Brá, 1965/67) (o segundo a contar da esquerda, na foto), e nosso co-editor, ao poste P4409, de hoje (*):
Em relação ao comentário do Luís Graça sobre os Comandos Africanos:
(i) O caso que o Diniz refere sobre o morto, ao lado do qual dormiu, aparece nas memórias do Amadu (**), neste pequeno extracto:
"O soldado Nicolau, numa das primeiras saídas, para montarmos uma emboscada em Sare Aliu, junto à linha da fronteira na área de Bajocunda, foi satisfazer as necessidades e não avisou ninguém. Era uma noite escura e quando regressava para junto do grupo perdeu a orientação e entrou por outro lado da emboscada. Ninguém o reconheceu, nem deu tempo para fazer perguntas."
(ii) Muito haverá a dizer sobre os comandos africanos. Espero que as memórias do Amadu Bailo Djaló tragam alguma luz sobre a utilização das referidas tropas. Do que me foi dado a conhecer até agora, do resultado de horas de conversa, há, de facto, muita coisa para esclarecer.
Algumas questões:
- existem dúvidas sobre a morte de vários cmds africanos, se terão caído em combate ou se essas alturas foram aproveitadas para alguns ajustes de contas;
- parece hoje ser claro que havia rivalidades dentro dos cmds Africanos, nomedamente entre fulas e balantas. As próprias promoções, louvores e medalhas foram alvo de contestação no seio das referidas tropas;
- a op [Mar Verde,] a Conacri foi afectada claramente pelo mau ambiente entre os diferentes grupos de cmds da 1ª CCmds. Do que tenho lido, a motivação estava longe de ser a adequada para uma operação de tal envergadura;
- ao longo do tempo os militares africanos iam ganhando consciência de que a guerra estava a ser transferida cada vez mais para as suas mãos. E não podemos esquecer que muitos deles, tinham familiares a lutarem pelo PAIGC;
- O caso do Januário é elucidativo. Há vários militares que referem ter ouvido o tenente, ainda na [LDG] Montante dizer que desertava logo que pusesse os pés em Conacri. Nenhum dos que o ouviu a defender a deserção, denunciou o facto aos seus comandantes. Deste procedimento podemos tirar as conclusões sobre o empenhamento, ou falta dele, dos cmds africanos.
Em resumo, há muito ainda a saber. E fico esperançado que o Amadu vá saindo do politicamente correcto e conte realmente o que viveu durante esses anos. (***)
vbriote
________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 24 de Maio de 2009
Guiné 63/74 - P4409: História da CCAÇ 2679 (17): Deslocação a Bajocunda (José Manuel M. Dinis)
(**) Vd. poste de
16 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4359: Tabanca Grande (143): Amadu Bailo Djaló, Alferes Comando Graduado, incorporado no Exército Português em 1962 (Virgínio Briote)
(***) Vd último poste desta série > 13 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4332: Os Nossos Camaradas Guineenses (8): Braima Baldé, ex-Alf Cmd Graduado, BCA (1938-1975) (Amadu Djaló / Virgínio Briote)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Se VB, conseguir pôr-nos a ver a guerra pelos olhos dos comandos africanos, nem que seja por uma pequena nesga, vai ajudar a explicar melhor a história do que muitos autores que vão aparecendo pela praça.
Será uma tarefa dificil a de VB, até pelos tabús africanos, mas pode ser que seja o inicio de outros pontos de vista.
Antº Rosinha
É como conduzir com nevoeiro denso, António. Mas que fique claro: do meu comentário não deve ser extraída a conclusão de que a 1ªCCmds Afr não tinha valor!
vb
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