Temos curiosidade em saber algo mais sobre alguns dos homens e mulheres, portugueses e timorenses, que conseguiram resistir, ativa ou passivamente, à ocupação estrangeira do território (entre dezembro de 1941 e setembro de 1945), e nomeadamente à ocupação japonesa. Vamos, assim, continuar a publicar mais algumas notas de leitura do livro do citado José dos Santos Carvalho. (*)
Capa do livro "Quando Timor foi Notícia", de Cacilda dos Santos Liberato (Braga, Editora Pax, 1972, 208 pp.). Encontrei um exemplar na Biblioteca Municipal da Lourinhã. Já o li de um fôlego. Cacilda foi uma "mãe coragem: viúva de Júlio Gouveia Leite, secretário da administração de Aileu (vítima do massacre de Aileu, em 1/10/1942, a que sobreviveu), irá casar depois com o tenente António Oliveira Liberato, também ele viúvo, e com um filho de 12 anos, Luís Filipe, no campo de concentração de Liquiçá, em 1943. Viu a morte á sua frente por diversas vezes. Publicou as suas memórias trinta anos depois.
2. A par do advogado portuense, deportado por razões políticas em Timor, Carlos Cal Brandão ("Funo: guerrra em Timor", Porto, edições "AOV", 1946, 200 pp.), o tenente António de Oliveira Liberato foi o primeiro a publicar um relato circunstanciado dos acontecimentos ocorridos em Timor, entre finais de 1941 e setembro de 1945 ("O caso de Timor" Lisboa, Portugália Editora, s/d, c. 1946, 242 pp.).
PORTARIA N.° 1:137-A
Ao tornar a entrar a Colónia na sua vida normal, pelo restabelecimento pleno da autoridade portuguesa em todo o seu território, é dever do governador da Colónia não esquecer aqueles que, durante um período de extremas dificuldades, bem souberam cumprir o seu dever de portugueses e de funcionários, ocupando através de tudo os postos que as circunstâncias impuseram, trabalhando e sacrificando-se pelo bem comum, não hesitando nas mais rudes provações e dando tudo para serem úteis.
Nestes termos: O governador da Colónia de Timor, no uso das faculdades que lhe são atribuídas pelo artigo 31.° do Acto Colonial e pelo n.° 21.° do artigo 33.° da Carta Orgânica do Império Colonial Português, determina:
— O tenente de infantaria António de Oliveira Literato, pela forma como sempre desempenhou as suas funções de subalterno da Companhia de Caçadores de Timor durante o período da ocupação da Colónia e especialmente pela sua actuação como comandante da força incumbida da repressão da revolta de indígenas da Circunscrição da Fronteira em Agosto, Setembro e Outubro de 1942, em que deu provas de tacto, energia e desprezo pelo perigo que o afirmam como óptimo oficial, com uma nítida compreensão dos seus deveres para com a Pátria e para com os seus chefes. (...)
Fonte: Excerto de "O restabelecimento da Autoridade Portuguesa de Timor", in José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pp. 132-141.
O governador também louvou seis deportados mas nenhuns dos portuguese que alegadamente se suicidaram.
3. Sobre o tenente Liberato e outros "prisioneiros de guerra", escreveu J. S. Rocha (2022) (**):
As autoridades portugueses, já no pós-guerra, em meados de 1946, não se terão mostrado recetivas e colaborantes com a comissáo australiana para a investigação de crimes de guerra cometidos no território.
Regresso a Lisboa, do tenene Liberato, em 1946, a bordo do N/M Angola, Foto do arquivo de Helena Oliveira Liberato, filha de Cacilda e de António Oliveira Liberato, já falecidos, nascida em Portalegre em 1952. Com a devida vénia à Visão História nº 8, abril de 2010.
"Conhecemo-lo em Portalegre, no posto de capitão, sem no entanto, e dado a larguíssima diferença de idade, alguma vez lhe tivéssemos dirigido a palavra. (,...)
"Era uma figura importante do Estado Novo em Portalegre, e recordamo-lo como uma pessoa simpática. Que nos lembre, pertencia à Legião Portuguesa e era responsável pela Censura.
Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, 208 pp. Cortesia de Internet Archive. O livro é publicado trinta anos depois dos acontecimentos. O autor terá nascido na primeira década do séc. XX. |