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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25982: Timor Leste: Passado e presente (23): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Anexo II: O tenente, e depois capitão, António de Oliveira Liberato











Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) 

Anexo II:  O tenente, e depois capitão, António de Oliveira Liberato
 
 

1. Não fazia a mínima ideia da existência do tenente (e depois capitão) António de Oliveira Liberato, até começar a ler algo mais sobre a história de Timor.

Afinal foi um dos heróis portugueses de Timor durante a II Guerra Mundial. Era tenente de infantaria, adjunto do comando da Companhia de Caçadores de Timor (constituída por praças indígenas), cujo comandante, cap inf António Maria Freire da Costa (ex-aluno da Escola de Guerra,  incorporado em 1917 para Infantaria, e natural de Lisboa) se terá suicidado, em Aileu, em 1 de outubro de 1941, juntamente com a esposa Maria Eugénia Freire da Costa, e mais outros três portugueses que estavam nessa noite em sua casa, incluindo o médico dr. Dinis Ângelo de Arriarte Pedroso (*).

O António de Oliveira Liberato tem dois livros de memórias sobre esse trágico período, os quais são abundantemente citados pelo médico de saúde pública José dos Santos Carvalho, seu companheiro de infortúnio, autor de "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (Lisboa, 1972, 208 pp.), disponível em formato digital no Internet Archive.

Temos curiosidade em saber algo mais sobre alguns dos homens e mulheres, portugueses e timorenses,  que conseguiram resistir, ativa ou passivamente, à ocupação estrangeira do território (entre dezembro de 1941 e setembro de 1945), e nomeadamente à ocupação japonesa. Vamos,  assim, continuar a publicar mais algumas notas de leitura do livro do citado José dos Santos Carvalho. (*)



 António Oliveira Liberato, capitão: capas de dois dos seus livros de memórias: "O caso de Timor" (Lisboa, Portugália  Editora, s/d, c. 1946, 242 pp.)  e "Os Japoneses estiveram em Timor" (Lisboa, 1951, 336 pp.). São dois livros, de difícil acesso, só dispossiveis em alguns alfarrabistas e numa ou noutra biblioteca pública.


Capa do livro "Quando Timor foi Notícia", de Cacilda dos Santos Liberato (Braga, Editora Pax, 1972, 208 pp.). Encontrei um exemplar na Biblioteca Municipal da Lourinhã. Já o li de um fôlego.   Cacilda foi uma "mãe coragem: viúva de Júlio Gouveia Leite, secretário da administração de Aileu (vítima do massacre de Aileu, em 1/10/1942, a que sobreviveu), irá casar depois  com o tenente António Oliveira Liberato, também ele viúvo, e com um filho de 12 anos, Luís Filipe,  no campo de concentração de Liquiçá, em 1943. Viu a morte á sua frente por diversas vezes. Publicou as suas memórias trinta anos depois. 



 2. A par do advogado portuense, deportado por razões políticas em Timor, Carlos Cal Brandão ("F
uno: guerrra em Timor", Porto, edições "AOV", 1946, 200 pp.),  o tenente António de Oliveira Liberato foi o primeiro a publicar  um relato circunstanciado dos acontecimentos  ocorridos em Timor, entre finais de 1941 e setembro de 1945 ("O caso de Timor" Lisboa, Portugália  Editora, s/d,  c. 1946, 242 pp.).

O que aconteceu depois do seu regresso a Lisboa, aonde chegou a 15 de fevereiro de 1946 ? (*)

É um dos portugueses de Timor que é louvado pelo Governador Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, no final do seu mandato, em 10 de outubro de 1945, 

Estranhamente não há qualquer referência à sua prisão pelos japoneses em 9 de abril de 1944, e à sua deportação, três meses depois, em 11 de julho de 1944, para a  ilha holandesa de Alor, juntamente com o engenheiro geógrafo Artur do Canto Resende, o gerente do BNU João Jorge Duarte e o aspirante administrativo José Duarte Santa. Eram todos "suspeitos" de colaborar com o inimigo (os Aliados).

Só o José Duarte Santa e o tenente Liberato sobreviveram, ao isolamento, aos maus tratos, à fome e à falta de assistência médica. Os dois sobreviventes só foram libertado em 28 de agosto de 1945.

Teor do louvor:

(...) Determinou, S. Ex. a o Ministro das Colónias que, pelo seu especial interesse fossem publicadas no Boletim as seguintes três portarias subscritas pelo Sr. governador de Timor:

PORTARIA N.° 1:137-A

Ao tornar a entrar a Colónia na sua vida normal, pelo restabelecimento pleno da autoridade portuguesa em todo o seu território, é dever do governador da Colónia não esquecer aqueles que, durante um período de extremas dificuldades, bem souberam cumprir o seu dever de portugueses e de funcionários, ocupando através de tudo os postos que as circunstâncias impuseram, trabalhando e sacrificando-se pelo bem comum, não hesitando nas mais rudes provações e dando tudo para serem úteis. 

Todos os portugueses que em Timor se conservaram, souberam, de uma maneira geral e com um elevado espírito de patriotismo, cumprir o seu dever. Para eles são dirigidos neste momento os agradecimentos do governador da Colónia. Alguns houve, porém, e felizmente em número apreciável, que souberam cumprir esse dever por forma a bem merecerem ser distinguidos e terem individualmente público testemunho de louvor.

Nestes termos: O governador da Colónia de Timor, no uso das faculdades que lhe são atribuídas pelo artigo 31.° do Acto Colonial e pelo n.° 21.° do artigo 33.° da Carta Orgânica do Império Colonial Português, determina: 

Que sejam louvados: (...)

— O tenente de infantaria António de Oliveira Literato, pela forma como sempre desempenhou as suas funções de subalterno da Companhia de Caçadores de Timor durante o período da ocupação da Colónia e especialmente pela sua actuação como comandante da força incumbida da repressão da revolta de indígenas da Circunscrição da Fronteira em Agosto, Setembro e Outubro de 1942, em que deu provas de tacto, energia e desprezo pelo perigo que o afirmam como óptimo oficial, com uma nítida compreensão dos seus deveres para com a Pátria e para com os seus chefes. (...)

Fonte: Excerto de "O restabelecimento da Autoridade Portuguesa de Timor", in José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972,  pp. 132-141.

O governador também louvou seis deportados mas nenhuns dos portuguese que alegadamente se suicidaram.


3. Sobre o tenente Liberato e outros "prisioneiros de guerra", escreveu J. S. Rocha (2022) (**):

(...) Se dúvidas houvesse, sobre o tratamento dado pelos japoneses aos portugueses e timorenses acusados de colaborarem com as forças australianas, atente-se no caso do tenente Liberato. 

No dia 10 de julho de 1944 um militar português, tenente António Oliveira Liberato, e três destacados funcionários civis também portugueses, foram, após detenção e interrogatório pela polícia militar nipónica, a temida kempeitai, transferidos por via marítima para um local de cativeiro situado na ilha de Alor designado Kalabai, onde ficaram detidos numa casa rudimentar, rodeada de arame farpado, à guarda de indígenas armados comandados por um militar japonês. 

"O tenente Liberato, como outros habitantes, acusado de colaboração com as forças australianas e holandesas, tinha sido detido dois meses antes e durante o seu cativeiro em Díli foi sujeito a apertado interrogatório onde não faltaram sessões de tortura, 'suplícios de inenarrável desumanidade'...

"De acordo com diversos relatos, amarrados pelos pulsos com uma corda os prisioneiros eram em seguida pendurados nas grades do cárcere e içados de modo que os pés não tocassem o solo. Seguiam-se sessões intermináveis de interrogatórios e espancamentos, apenas interrompidos por breves períodos para rotação do interrogador ou então, seguindo um qualquer programa de ação psicológica sobre o prisioneiro que passava, depois de espancado, sentá-lo à mesa, conversar amistosamente com ele, fornecer-lhe algum alimento e cigarros sendo em seguida novamente pendurados nas grades. 

"Aos prisioneiros timorenses era também aplicada a chamada 'tortura da água' que consistia em deitar o prisioneiro '(...) de costas, sobre um estrado, amarrados de pés e mãos, na boca um funil introduzido, à força, entre dentes, enchiam de água o estômago do paciente. Expelida pela boca, pelas narinas e pelos ouvidos a primeira dose, repetia-se outra (...).' 

"Em 23 de fevereiro de 1945 faleceu o primeiro português (eng. Canto Resende). Observados por um médico em 20 de março de 1945, aos restantes três portugueses foi diagnosticado beribéri e paludismo sem que, contudo, lhes fosse fornecido qualquer tipo de tratamento. Em 25 desse mês faleceria outro português (gerente do BNU João Duarte) inchado e com graves dificuldades de locomoção. 

"Viriam a deixar a ilha de Alor em 23 de agosto de 1945, chegando a Díli no dia 28 do mesmo mês. Só no dia seguinte, e após intervenção do Governador junto Cônsul japonês, seriam definitivamente libertados." (...) (**)

As autoridades portugueses, já no pós-guerra, em meados de 1946, não se terão mostrado recetivas e colaborantes com a comissáo australiana para a investigação de crimes de guerra cometidos no território.

 (...) Por outro lado, e "no que respeita ao reconhecimento dos actos valerosos levados a cabo por portugueses e timorenses em Timor durante a ocupação japonesa, ele foi efetivo por parte das autoridades australianas e inexistente por parte das portuguesas que se revelaram mais empenhadas em punir exemplarmente muitos dos resistentes de Timor. 

"Ainda antes da invasão japonesa, em janeiro de 1942, o Governador de Timor proibira a população em geral de apoiar as forças australianas e holandesas que tinham entrado no território ilegalmente. Essa proibição voltou a ser anunciada publicamente em agosto e setembro de 1943 passando a contemplar também todo e qualquer apoio prestado às forças militares japonesas. (...) (**) 


4. Não sabemos mais pormenores sobre o  passado miltar do António de Oliveira Liberato. (Teria feito parte do CEP - Corpo Expedicionário Português, 1914/1918, como soldado  ? ... Ao que parece, terá chegado a Timor nos anos 30. Em 1941 era viúva e tinha um filho de 12 anos. Pelas nossas contas, terá nascido em finais do séc. XIX. )

Encontrámos apenas um artigo  sobre o "Capitão Oliveira Liberato", no   Correio de Nisa, 9 de janeiro de 1965 (e que  reproduzimos acima). 

Na altura acabava de se reformar, era "capitão de infantaria QR" , tendo sido louvado, em setembro de 1964, pelo Comando Geral da PSP,  pelos 17 anos dedicados àquela corporação como oficial, ou seja, desde 1947 até 1964.  Era, além disso,  o delegado distrital da Censura.




Regresso  a Lisboa, do tenene Liberato, em 1946, a bordo do N/M Angola, Foto do arquivo de Helena Oliveira Liberato, filha de Cacilda e de António Oliveira Liberato, já falecidos, nascida em Portalegre em 1952. Com a devida vénia à Visão História nº 8, abril de 2010.



5, No blogue A Voz Portalegrense, há um artigo de 20 de junho de 2010, sobre o "Capitão Liberato", da autoria de Mário Casa Nova Martins,

A propósito da nº temático dedicado a “Portugal e a II Guerra Mundial”,   pela revista Visão História n.º 8 , abril de 2010, diz o autor:

 (...) 'Este número fala sobre o caso de Timor, no tempo da ocupação japonesa. E ao fazê-lo, refere o então tenente António de Oliveira Liberato.

"Aquela figura militar foi uma personalidade importante em Portalegre após aquele episódio da História de Portugal, no qual foi interveniente e do qual deixou em dois livros o relato dos factos que protagonizou.

"Conhecemo-lo em Portalegre, no posto de capitão, sem no entanto, e dado a larguíssima diferença de idade, alguma vez lhe tivéssemos dirigido a palavra. (,...)  

"Era uma figura importante do Estado Novo em Portalegre, e recordamo-lo como uma pessoa simpática. Que nos lembre, pertencia à Legião Portuguesa e era responsável pela Censura.

"Como seria de esperar, teve dissabores após a Revolução do 25 de Abril de 1974, tendo estado preso.

"Mas quando regressou, teve sempre o respeito e consideração da maioria das gentes de Portalegre." (...)

E é tudo o que por ora sabemos deste militar, herói de Timor na II Guerra Mundial.
 


Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, 208 pp. Cortesia de Internet Archive. O livro é publicado trinta anos depois dos acontecimentos. O autor terá nascido na primeira década do séc. XX.



Capa do livro de Carlos Vieira da Rocha,
" Timor: ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial,
2ª ed rev e aum, Lisboa: Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 1996,  309 pp.




Mapa de Timor em 1940. In: José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pág. 11. (Com a devida vénia). Assinalado a vermelho a posição relativa de Maubara e Liquiçá, a oeste de Díli, onde se situava a zona de detenção dos portugueses, imposta pelos japoneses (finais de 1942 - setembro de 1945)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)

 
(Seleção, fixação/ revisão de texto: LG)
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Notas do editor:


(**) Rocha, J. S. (2022). Guerra irregular em Timor: a resistência contra o invasor japonês (1942-1945). In Jorge Silva Rocha (Ed.), Atas do XXX Colóquio de História Militar “A guerra irregular em Portugal: da fundação à atualidade”. (pp. 421-445). Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar. (Disponível em formato pdf, https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/28198/1/conferenceObject_95242.pdf )

sábado, 20 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25417: Efemérides (435): Homenagem aos Combatentes no Ultramar naturais da Freguesia de São Saturnino e inauguração do Monumento de Homenagem do Município de Fronteira aos Combatentes do Ultramar



Fronteira: Câmara homenageia combatentes do Ultramar nos 50 anos de Abril

A Câmara de Fronteira vai assinalar os 50 anos de Abril com a inauguração de um Monumento de homenagem aos combatentes do Ultramar, naturais da freguesia de São Saturnino.

A inauguração está marcada para o dia 25 de abril, pelas 11:30, em Vale de Maceiras, na freguesia de São Saturnino.

As comemorações integram ainda um almoço, animação musical com Nuno Florentino e jogos tradicionais.

Gabriel Nunes
18-04-2024
Rádio Portalegre

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Nota do editor

Último post da série de 18 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25409: Efemérides (434): Homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar da União das Freguesias Anreade e São Romão - Concelho de Resende (Fátima's)

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24890: E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas (Joaquim Costa) - Parte II: Depois de Santo Tirso, Portalegre... e 18 razões para não mais esquecer o Alto Alentejo


Portalegre: Escola Secundária de São Lourebço

1.Continuação da nova série do Joaquim Costa, "E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas"...


(i) ex-fur mil at Armas Pesadas Inf, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74);

(ii) membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021, tem cerca de 7 dezenas de referências no blogue;

(iii) autor da série "Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)" (de que se publicaram 28 postes, desde 3/2/2021 a 28/7/2022) , e que depois publicou em livro ("Memórias de um Tigre Azul - O Furriel Pequenina", por Joaquim Costa; Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp);

(iv) tirou o curso de engenheiro técnico, no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto;

(v) foi professor do ensino secundário, tendo-se reformado como diretor da escola secundária de Gondomar;

(vi) minhoto, de Vila Nova de Famalicão , vive em Rio Tinto, Gondomar;



Portalegre: O histórico café Alentejano..

 
Joaquim Costa

"E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas" (Joaquim Costa);  Parte II: E depois de Santo Tirso, Portalegre...


Foi desta cidade que às 2 da manhã do dia 29 de outubro de 1972, fui conduzido (juntamente com a minha companhia) até Figo Maduro, onde embarquei num avião da FAP ruma à Guiné.

O pouco tempo que aqui permaneci, enquanto militar, não deu para conhecer esta bela região alentejana e o seu fantástico triângulo: Portalegre, Marvão, Castelo de Vide.

Lembro-me, na altura, da nossa infantilidade ao entrarmos na escola secundária, em frente do quartel, “matando o tempo”, deliciando-nos com os nomes, para nós, invulgares, mesmo bizarros, dos alunos afixados nas pautas, e, quem sabe, arranjar uma (ou mais) madrinha de guerra…

Nesta cidade lecionou José Régio – reclamado por Vila do Conde onde nasceu e por Portalegre onde viveu, sempre no meio da sua imensa coleção de Cristos.

Depois de dois anos em Santo Tirso, muitas dúvidas permaneciam sobre se seria este o meu caminho. Continuava com a ideia fixa de fazer o meu percurso profissional numa empresa, ou dar corpo a um gabinete de projetos de engenhria,  que estava na incubadora.

A forma como fui recebido em Portalegre: o excelente ambiente entre o corpo docente, o comportamento afável dos alunos (sempre brincando com o meu sotaque nortenho e sempre me dando os parabéns, todas as segundas feiras, pelo desempenho das minhas equipas – FCP e Famalicão que deram cartas nesse ano), as magníficas paisagens, as suas gentes e o seu sotaque doce e meigo e o seu cante, esfriaram a ideia de abandonar o ensino.

Um ano depois de Portalegre, surgiu uma resposta positiva para um emprego numa multinacional Alemã do ramo elétrico. Não obstante umas noites mal dormidas, acabei por rejeitar. O ano em Portalegre creio que foi decisivo para esta decisão.

Nada me tira o meu Minho (… e o meu Douro vinhateiro e...) mas o Alentejo e os Alentejanos estão no meu coração, inclusive o homem que “deitou abaixo” o meu pequeno garrafão de verde tinto nos longínquos anos 60 a caminho de Ermidas Sado.

Na passagem em trânsito para a Guiné, em 1972, não deu para conhecer a bela região do Alto Alentejo, desforrando-me “à tripa forra” em 1977/78.

Jamais esquecerei:

(i) as tertúlias na esplanada do Tarro, depois do jantar, até que os funcionários arrumando as mesas vazias e limpando o lixo debaixo dos nossos pés nos davam ordem de saída;

(ii) o cimbalino (termo que sempre fiz questão de utilizar, com o empregado sempre retorquindo: uma bica?) depois do almoço no café “Facha”, em frente ao imponente plátano, lendo as gordas do jornal da casa;

(iii) uma ou outra vez tomando o cimbalino, depois do jantar, no café Central, a meio da rua direita, mas que é muito “torta”, onde grandes jogadores de xadrez se juntavam;

(iv) um pingo (com o empregado sempre a retorquir: um garoto?) e uma nata, a meio da tarde, no lindo e histórico café Alentejano (onde David Mourão Ferreira comeu uns belos bifes com José Régio), felizmente ainda aberto e mantendo o mesmo “glamour”;

(v) as tardes mais quentes passadas debaixo do frondoso plátano (hoje quase monumento nacional);

(vi) o lanche com um grupo de amigos habituais, depois dos jogos de futebol, na tasquinha do Marchão, bebendo umas espetaculares imperiais (que eu insistia em chamar finos) acompanhadas com perninhas de rã (que eu nunca fui capaz de comer) e umas divinais empadinhas de frango, que eu devorava com sofreguidão;

(vii) as idas a um magnífico restaurante na Serra de S. Mamede, do qual já não me lembro o nome, com paragem obrigatória no magnífico miradouro;

(viii) a Pensão 21 onde me instalei com outro colega e amigo de Viana do Castelo: a qui fomos tratados como filhos pelo proprietário (o Sr. Mourato) e pela simpática empregada que nos servia as refeições; no dia em que decidimos fazer um estendal, na varanda do quarto, com as nossas cuecas a secarem ao sol, foi o dia em que não só o proprietário e a empregada, bem como todos os hóspedes, ficaram definitivamente rendidos aos jovens e prendados professores do Minho;

(ix) as refrescantes idas a uma fonte de água pura e fresca; nos dias de maior calor, a caminho da serra, onde sempre éramos alertados por simpáticas mulheres que aí vendiam fruta; que no alto da sua sabedoria espelhada nos seus cabelos brancos, que bebendo água da fonte o feitiço o ligaria ao Alentejo pelo casamento: o meu amigo de Viana do Castelo casou com uma jovem e simpática professora de Marvão e eu com a Isabel, uma alfacinha de Alcântara, (embora natural de Idanha), professora também deslocada na cidade, ou como diz o provérbio, “Tantas vezes o cântaro vai à fonte que um dia fica lá a asa”!!!

(x) as idas às tasquinhas da Serra de S. Mamede, onde aprendi a letra do “Fado do Embuçado” ;

(xi) o calcorrear, milímetro a milímetro das ruas e tasquinhas de Marvão e Castelo de Vide;

(xii) um fim de semana passado na casa de um colega de Évora, comendo uma divinal sopa de Cação preparada pela sua simpática esposa; 

(xiii) a noite passada numa taberna, estilo Zé d’Alter de Estremoz, onde o fado aparecia de onde menos se esperava, devorando um magnífico gaspacho; terminando a noite a ver nascer o Sol numa das zonas altas da cidade;

(xiv) a abordagem de uma patrulha da polícia, às 4 horas da manhã quando esperava-mos o nascer do sol, pedindo-me a carta de condução, que tinha ficado na pensão, o BI, o título de propriedade da minha Diane, que também não tinha - com o polícia já desesperado a pedir, qualquer documento com fotografia que também não tinha; dada a minha calma, adocicada com algum humor nortenho, o polícia esboçou um sorriso dizendo: parecem boas pessoas, aproveitem bem o fim de semana em Évora;

(xv) uma incursão a Badajoz com o regresso já com a fronteira fechada (chegamos 5 minutos depois da meia noite), voltando a Badajoz, esperando a abertura dos primeiros cafés para o pequeno almoço e acelerar para a primeira aula da manhã;

(xvi) assistir ao dérbi da cidade entre os Estrelas de Portalegre e o Desportivo Portalegrense com as rivalidades levadas ao extremo, durante o jogo, mas logo esvaziadas nas inúmeras tabernas da cidade;

(xvii) participar numa manifestação contra a Lei Barreto, já com o PREC a perder força, com direito a carga policial (e tudo o mais a que tinha-mos direito nestas manifestações…) com fuga ao cassetete com o meu amigo deixando a sua mala de engenheiro para trás;

(xviii) as viagens de comboio (sempre adorei viajar de comboio) a caminho de casa nas pausas escolares na direção: Chança, Mata, Crato… e no regresso ao Alentejo na direção: Crato, Mata, Chança...como gostavam de dizer os portalegrenses;

Viajo de comboio sempre com o mesmo entusiasmo como se fosse a primeira vez. Com o comboio cheio de gente sinto-me personagem de um filme no meio de um turbilhão de cenas do quotidiano. Sozinho sinto-me numa sala de cinema vendo passar o mundo lá fora, pela janela do comboio, como se de uma tela se tratasse.

Durante as viagens faço sempre um esforço tremendo para não adormecer, já que um minuto dormido é um minuto não vivido.

Nos primeiro anos depois da Guiné vivi sofregamente os dias, “engasgando-me” aqui e ali na ânsia de agarrar o mundo todo num só dia. Fui há procura de resgatar os três anos “roubados” da minha juventude, até hoje ainda não devolvidos.

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Nota do editor:

Último poste da série >20  de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24865: E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas (Joaquim Costa) - Parte I: Santo Tirso, o dono da "tasca"

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23613: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XXXV: Pedro Carrazedo Campos Viana de Andrade, alf art (Portalegre, 1897 - França, CEP, 1918)


Pedro Carrazedo Campos Viana de Andrade (1897 - 1918)


Nome: Pedro Carrazedo Campos Viana de Andrade
Posto: Alferes de Artilharia
Naturalidade: Portalegre
Data de nascimento: 10 de Fevereiro de 1897
Incorporação: 1916 na Escola de Guerra (nº 85 do Corpo de Alunos)
Unidade: 6º Grupo de Baterias de Artilharia
Condecorações
TO da morte em combate: França (CEP)
Data de Embarque: 22 de Agosto de 1917
Data da morte: 11 de Abril de 1918
Sepultura: França, Cemitério Civil de Gondecourt, Jazigo da famíla Vendame
Circunstâncias da morte: Na batalha de 9 de Abril foi feito prisioneiro vindo a falecer em 11 de Abril, numa ambulância alemã em Lazarette, vítima de intoxicação por gases. Foi sepultado no
cemitério alemão de Gondecourt Nord. Em 1919 foi exumado e reconhecido por seu pai
que o trasladou para jazigo particular.




António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem


1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

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quinta-feira, 13 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22196: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte III A: Depois de Estremoz, fomos “despejados” para Portalegre, aguardando embarque para o CTIG

 


Foto nº 1 > Portalegre > Convento de S. Bernardo - Séc. XVI > 2021


Foto nº 2 > Portalegre> Arcadas do Convento de S. Bernardo (séc. XVI) > Os belíssimos painéis de azulejos (séc. XVIII), fazendo lembrar a belíssima Estação de S. Bento, Porto) > 2021 > A Isabel apontando um pormenor para as esposas de outros camaradas num dos encontros da companhia, neste caso em Portalegre, organizado pelo camarada Parola 

Fotos (e legendas): © Joquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex- furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte III A (*)

 
Depois de Estremoz fomos “despejados” para Portalegre, aguardando embarque para a Guiné (**)

   

Portalegre, de passagem... com direito a fotografia...e discurso

 


Foto nº 3 > Portalegre > 1972 > Uma “carinha” de Lobito 
e um boné de “General”. Foto tirada com o boné do sargento Redondeiro.



Foto nº 4  > Portalegre > 1977 > Resquícios do efeito do “cacimbo” da Guiné... 
Com a minha Diane percorri “seca e meca” no Alentejo


 

Com o fim da instrução em Estremoz (RC3) (**), fomos “despejados” para o quartel de Portalegre,  instalado no Convento de São Bernardo, do Século XVI, com belíssimos painéis de azulejos (séc. XVIII), a maior parte deles apresentando cenas da vida de São Bernardo (fazendo lembrar a bela e “mui nobre”, estação de S, Bento no Porto), para permitir o início da instrução de novas companhias.

Permanecemos neste magnífico convento muito pouco tempo (antes que nos transformássemos em monges!!!) a aguardar embarque para a Guiné. O tempo suficiente para tirarmos umas fotografias, com o boné do sargento Redondeiro, que enchemos com folhas de jornal para o mesmo não se enterrar até ao pescoço nas nossas cabeças, para o nosso novo cartão de militar. (Foto nº 3).

Foi aqui que o mesmo sargento, de fisionomia a condizer com a patente, grande e gordo, com uma avantajada barriguinha, decidiu, dado a sua experiência de outras comissões, fazer o discurso de despedida, antes de rumarmos a Lisboa para o embarque. Era suposto um discurso a chamar ao patriotismo mas ao mesmo tempo de ânimo e de tranquilidade e de que tudo iria correr pelo melhor. Contudo o discurso saiu completamente ao lado ao começar logo por dizer:

- Caros militares, infelizmente, alguns de vocês não voltarão a casa…

O moral de todos aqueles rapazes bateu no fundo, pelo que a nossa tarefa, durante e todo o dia, recorrendo aos nossos conhecimentos de psicologia (que não eram nenhuns) e também afetados por aquele discurso, de alguém que sabia do que estava a falar, foi tentar recompor-se e recompor o pessoal.

O Redondeiro, juntamente com um seu colega Pereira (únicos militares de carreira apenas com tarefas logísticas), foram sempre bons camaradas. O Redondeiro desde o primeiro dia assumiu o papel de “paizinho” da companhia. Recordo-o aqui com muita saudade e ternura.

O pouco tempo que aqui permanecemos não deu para conhecer esta bela região alentejana e o seu fantástico triângulo: Portalegre, Marvão, Castelo de Vide. (Vd. fotos da nossa visita em 2021: Nºs 1,2, 5,6,7,8)

Só me lembro da nossa infantilidade ao entrarmos na escola secundária, em frente do quartel, “matando o tempo”, deliciando-nos com os nomes, para nós, invulgares, mesmo bizarros, dos alunos afixados nas pautas, e, quem sabe, arranjar uma (ou mais) madrinha de guerra…

Esta ida à escola foi premonitório já que no ano letivo de 1977/78, fui colocado nesta mesma escola (nesta cidade lecionou José Régio – reclamado por Vila do Conde onde nasceu e por Portalegre onde viveu, sempre no meio da sua imensa coleção de Cristos), onde conheci a minha mulher (na altura professora de matemática de uma das minhas turmas), pelo que esta região ficou para sempre marcada, pela positiva, nas nossas vidas. Em 72 não houve madrinha de guerra mas em 79 houve casamento…

O contacto com os invulgares nomes dos alunos afixados nas pautas no ano de 1972 não me livrou de pequenos percalços em 1977:  logo no primeiro dia de aulas, como era habitual, promovi as respetivas apresentações, com um aluno, de sorriso rasgado, apresentando-se como (V)Bagina. Fiquei à espera de um “bruaá” na sala, que não aconteceu. Como bom nortenho, escrevi Vagina na minha caderneta;

Na apresentação dos professores do meu grupo disciplinar, um dos mais efusivos apresenta-se como Lacão. Devido à minha surdez do ouvido direito (ainda hoje penso que devido aos disparos do canhão sem recuo no fogo real para a ilha de Tavira) entendi “Lacrau”. Passei todo o meu tempo de Portalegre a chamar Lacrau ao homem e ele, como bom alentejano, nunca nada me disse!

Nada me tira o meu Minho (… e o meu Douro vinhateiro e...) mas o Alentejo e os Alentejanos estão no meu coração, inclusive o homem que “deitou abaixo” o meu pequeno garrafão de verde tinto nos longínquos anos 60 a caminho de Ermidas Sado. (**)

Na passagem em trânsito para a Guiné, em 1972, não deu para conhecer a bela região do Alto Alentejo, desforrando-me “à tripa forra” em 1977/78.

Jamais esquecerei:

• as tertúlias na esplanada do Tarro, depois do jantar, até que os funcionários arrumando as mesas vazias e limpando o lixo debaixo dos nossos pés nos davam ordem de saída;

• o cimbalino (termo que sempre fiz questão de utilizar, com o empregado sempre retorquindo: uma bica?) depois do almoço no café “Facha”, em frente ao imponente plátano, lendo as gordas do jornal da casa;

• uma ou outra vez tomando o cimbalino, depois do jantar, no café Central, a meio da rua direita, mas que é muito “torta”, onde grandes jogadores de xadrez se juntavam;

• um pingo (com o empregado sempre a retorquir: um garoto?) e uma nata, a meio da tarde, no lindo e histórico café Alentejano (felizmente hoje ainda aberto e mantendo o mesmo “glamour”), em frente à estátua do “Semeador” namorando […]; 

• as tardes mais quentes passadas debaixo do frondoso plátano (hoje quase monumento nacional), namorando […];

• o lanche com um grupo de amigos habituais (no qual se incluía o “Lacrau”!), depois dos jogos de futebol, na tasquinha do Marchão, bebendo umas espetaculares imperiais (que eu insistia em chamar finos) acompanhadas com perninhas de rã (que eu nunca fui capaz de comer) e umas divinais empadinhas de frango, que eu devorava com sofreguidão;

• as idas a um magnífico restaurante na Serra de S. Mamede, do qual já não me lembro o nome, com paragem obrigatória no magnífico miradouro...para namorar;

• a Pensão 21 onde me instalei com outro colega e amigo de Viana do Castelo. Aqui fomos tratados como filhos pelo proprietário (o Sr. Mourato) e pela simpática empregada que nos servia as refeições. No dia em que decidimos fazer um estendal, na varanda do quarto, com as nossas cuecas a secarem ao sol, foi o dia em que não só o proprietário e a empregada bem como todos os hóspedes ficaram definitivamente rendidos aos jovens e prendados professores do Minho!;

• as refrescantes idas a uma fonte de água pura e fresca; nos dias de maior calor, a caminho da serra, onde sempre éramos alertados por simpáticas mulheres que aí vendiam fruta; que no alto da sua sabedoria espelhada nos seus cabelos brancos, que bebendo água da fonte o feitiço o ligaria ao Alentejo pelo casamento; o meu amigo de Viana do Castelo casou com uma jovem e simpática professora de Marvão (Escusa) e eu com a Isabel, uma alfacinha de Alcântara,  (embora natural de Idanha), professora também deslocada na cidade, ou como diz o provérbio, “Tantas vezes o cântaro vai à fonte que um dia fica lá a asa”!!!

• as idas às tasquinhas da Serra de S. Mamede, onde aprendi a letra do “Fado do Embuçado” (2);

• o calcorrear, milímetro a milímetro das ruas e tasquinhas de Marvão e Castelo de Vide;

• as incursões a , Elvas, Alegrete, Monforte, Nisa, Vila Viçosa, Campomaior, etc.;

• um fim de semana passado na casa de um colega de Évora, comendo uma divinal sopa de Cação preparada pela sua simpática esposa; a  noite passada numa taberna, estilo Zé d’Alter (2), onde o fado aparecia de onde menos se esperava devorando um magnífico gaspacho; terminando a noite a ver nascer o Sol numa das zonas altas da cidade;

• a abordagem de uma patrulha da polícia, às 4 horas da manhã quando esperava-mos o nascer do sol, pedindo-me a carta de condução, que tinha ficado na pensão, o BI, o título de propriedade da minha Diane, que também não tinha - com o polícia já desesperado a pedir, qualquer documento com fotografia que também não tinha. Dada a minha calma, adocicada com algum humor nortenho, o polícia esboçou um sorriso dizendo: parecem boas pessoas aproveitem bem o fim de semana em Évora;

• uma incursão a Badajoz com o regresso já com a fronteira fechada (chegamos 5 minutos depois da meia noite), voltando a Badajoz, esperando a abertura dos primeiros cafés para o pequeno almoço e acelerar para a primeira aula da manhã;

• assistir ao dérbi da cidade entre os Estrelas de Portalegre e o Desportivo Portalegrense com as rivalidades levadas ao extremo durante o jogo, mas logo esvaziadas nas inúmeras tabernas da cidade;

• participar numa manifestação contra a Lei Barreto, já com o PREC a perder força, com direito a carga policial (e tudo o mais a que tinha-mos direito nestas manifestações…) com fuga ao cassetete com o meu amigo deixando a sua mala de engenheiro para trás;

• as viagens de comboio (sempre adorei viajar de comboio) a caminho de casa nas pausas escolares na direção: Chança, Mata, Crato… e no regresso ao Alentejo na direção: Crato, Mata, Chança...como gostavam de dizer os portalegrenses;

Viajo de comboio sempre com o mesmo entusiasmo como se fosse a primeira vez. Com o comboio cheio de gente sinto-me personagem de um filme no meio de um turbilhão de cenas do quotidiano. Sozinho sinto-me numa sala de cinema vendo passar o mundo lá fora pela janela do comboio como se de uma tela se tratasse.

Durante as viagens faço sempre um esforço tremendo para não adormecer, já que um minuto dormido é um minuto não vivido.

Nos primeiro anos depois da Guiné vivi sofregamente os dias, “engasgando-me” aqui e ali na ânsia de agarrar o mundo todo num só dia. Fui há procura de resgatar os três anos “roubados” da minha juventude, até hoje ainda não devolvidos.


Foto nº 5 > O famoso Plátano de Portalegre. Candidato, em 2021, a árvore da Europa > 2021

 

Foto nº 6 > Castelo de Vide > 2021


Foto nº 7 > Marvão > 2021 > A Isabel, minha esposa



Foto nº 8 > Portalegre > Café Alentejano, um dos “ex libris” da cidade > 2021 (1)

Fotos (e legendas): © Joquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do autor:

(1) O Alentejano não é apenas um café mas um museu. Um museu vivo, que recupera memórias de gentes e de acontecimentos. O Café Alentejano foi concebido pelo pintor e decorador Benvindo Ceia, o maior artista de Portalegre, embora tenha sido depois ligeiramente alterado o projeto original. É precisamente o Alentejano, aquele que José Régio mais frequentou, de onde há notícia mais exata pelo relato escrito de David Mourão-Ferreira sobre os belos bifes que ali saboreavam, é precisamente o Alentejano que se mantém quase idêntico a esses tempos distantes mais de meio século.

(2) ...Aproveitando o descanso de um dia de instrução, reunimos um pequeno grupo de amigos e lá fomos à taberna do tão falado Zé D’Alter , para beber uns canecos e ouvir o afamado fado espontâneo. Entramos, e logo nos apercebemos que não estávamos a entrar em mais uma taberna mas sim numa casa onde estavam reunidos um grupo de amigos, tal a cumplicidade dos presentes: pessoal da terra e muitos militares. Todos falavam com todos ninguém servia ninguém cada um servia-se, da pipa, do garrafão, do tacho, da frigideira etc. Ao terceiro copo já um representante da terra dava o mote ao tocar uns acordes na sua viola cantando, timidamente, o primeiro fado da noite. O esvaziar das canecas libertou os fadistas espontâneos e já todas se achavam capazes do seu número. O ambiente foi aquecendo ao ponto do Zé D’Alter dar um murro na mesa e dizer: "Silêncio, que isto agora é para quem sabe!"... Fez-se um silêncio de ouro e o fado surge na sua nobreza e pureza maior da taberna na voz do Zé D’Alter. No fim houve palmas, lágrimas e vivas ao fado…e ao Zé.

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Notas do editor:

(*) Vd. útimo poste da série > 1 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22159: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VIII: A primeira visita... dos "vizinhos", com ataque ao arame!

Restantes postes da série > 


24 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22032: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte VI: (i) batismo de fogo... com a reza do terço; e (ii) uma patuscada... de gato por lebre!

23 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22028: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte V: As nossas lavadeiras... e o furriel 'Pequenina'

12 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21996: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte IV: O embarque, as 'hospedeiras'… e África Minha

13 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21893: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte II: A minha passagem pela maravilhosa cidade de Chaves depois do martírio de Tavira

3 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21844: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 3851, 1972/74) - Parte I: Caldas da Rainha (A chegada às portas da tropa: um fardo pesado); Tavira (Amor, ódio e... trampa)

sábado, 9 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18064: Consultório militar do José Martins (31): Memórias de Guerra (5): Distritos de Portalegre, Évora, Beja, Faro e Setúbal


1. Quinto poste, de sete, de um trabalho de pesquisa de autoria do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), sobre as Memórias de Guerra (Grande Guerra e Guerra do Ultramar), que podem ser vistas pelo país e estrangeiro. Aceitam-se, e agradecem-se, correcções e actualizações por parte dos nossos leitores.




(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 8 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18059: Consultório militar do José Martins (29): Memórias de Guerra (4): Distritos da Guarda, Castelo Branco e Santarém

Último poste da série de 8 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18060: Consultório Militar do José Martins (30): o 2º grumete fuzileiro, da CF nº 3 (1963/65), morreu, em Bolama, em 13/4/1964, tendo caído ao rio, quando fazia parte da escolta ao rebocador "Atro". O corpo nun a mais foi encontrado

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13173: (De) Caras (18): Pedido de desculpas... Afinal não foi o oficial da GNR quem, em Portalegre, no antigo aquartelamento do BC1, nos mandou comprar a bandeira portuguesa na loja do chinês (Vasco da Gama, ex-cap cav, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74)

1. Com pedido de publicação, aqui vai um email, datado de 19 do corrente,  do nosso grã-tabanqueiro Vasco da Gama:


Camaradas, porque não me pareceu correcto colocar directamente nos comentários o texto que anexo, aqui estou a dar-vos conhecimento do mesmo para que vocês o possam fazer, acrescentando o que lhes aprouver.

Muito obrigado. Um abraço amigo do Vasco



Assunto - Pedido de desculpas (*)

Meus queridos Camaradas

Recebo amiúde telefonemas de Camaradas da minha Companhia a recordar este ou aquele acontecimnto, a perguntar pela saúde, se a consulta correu bem ou mal, a combinar novo encontro, a convidar para o baptizado do neto....enfim, vivências comuns entre Amigos.

Depois de vários deles me terem perguntado: “Já viu o nosso vídeo'”? (refiro-me ao vídeo da reunião da minha querida Companhia C.Cav. 8351 no passado 3 de Maio em Portalegre), hoje mesmo o fiz e atentei particularmente no meu discurso. Terei exagerado no que disse? Não importa agora falar sobre isso, pois o que está dito, dito está!

Na sequência da conversa que acabei de ter com o meu Camarada Parola, este esclareceu-me de que, ao contrário do que me foi dito em Portalegre e do que escrevi, o oficial de dia NÃO lhe disse : “vá comprar uma bandeira à loja dos chineses”.

O oficial apenas disse que o quartel não tinha bandeira disponível para nos ceder, tendo o meu Camarada Augusto Covas dito ao Parola: “Vamos comprar uma bandeira à loja dos chineses” e foi isso que fizeram! 

Aqui estou a pedir públicas desculpas por ter induzido em erro os Camaradas que se deram ao trabalho de ler o meu texto.

Tenho demasiado respeito e carinho por este local de encontro para me “ficar nas covas” .

Quanto ao resto, incluindo a não disponibilidade de uma bandeira de Portugal para cobrir a lápide onde figuram os nomes dos meus Companheiros que tombaram na Guiné, à falta de afecto e solidariedade para com a minha CCav. 8351, está dito e aqui o repito. Ninguém mo disse, vivi-o!

Tal como o grande José Régio, considerado por alguns dos intelectuais da nossa praça como poeta menor, também a minha querida CCav 8351 teve um tratamento pouco consentâneo com o respeito que lhe é devido.

Vasco A. R. da Gama

[Negrito, do autor; realce a amarelo, do editor]

2. Comentário de L.G.: 

Vasco, errar é humano. E pedir desculpas mais humano é. Muitos dos nossos conflitos (a começar pelos que temos tido, aqui, na Tabanca Grande, e que felizmente não têm sido muitos nem de maior gravidade, em 10 anos de existência...) resultam de problemas de perceção e comunicação, em última análise de "mal entendidos" (como diz o povo)...

Aqui fica o teu pedido de desculpas, mais um exemplo da tua grande nobreza de caráter, o que não invalida a constatação da desconsideração de que foram objeto os bravos tigres de Cumbijã, em Portalegre, nas antigas instalações do BC1, hoje centro de formação da GNR. Vemo-nos em Monte Real, no dia 14 de junho.  Guardo o meu alfabravo fraterno e solidário para te dar, ao vivo, nesse dia e lugar,  na festa anual da Tabanca Grande.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 16 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13151: (De) Caras (17): A nudez da pedra, o Vasco da Gama e os seus "tigres do Cumbijã"... Convívio anual da CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74)

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13151: (De) Caras (17): A nudez da pedra, o Vasco da Gama e os seus "tigres do Cumbijã"... Convívio anual da CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74)








Portalegre, 3 de maio de 2014 >  Convívio anual dos "Tigres de Cumbijã", CCAV 8351, Cumbijã (1972/74)


Fotos: © Vasco da Gama   (2014). Todos os direitos reservados


1. A Minha Querida CCav 8351...e....A NUDEZ DA PEDRA

por Vasco da Gama [, ex-cap mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74]

O frenesim que de mim se apodera com a chegada do dia da reunião anual da minha Companhia parece que cresce todos os anos, apesar de saber que por cada comemoração que passa, menos uma nos resta para o fim do percurso.

Desta feita foi em Portalegre que se seguiu à reunião de Sever do Vouga e que antecede a de Torres Novas.

Portalegre, “cidade do Alto Alentejo, cercada de serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros,”que José Régio imortalizou na sua Toada, viu-nos partir, há quarenta e dois redondos anos, com destino à Guiné.
Aqui permanecemos por três ou quatro semanas, vindos de Estremoz, aguardando embarque para a guerra! A pátria, que por vezes não sabemos bem o que é, chamara por nós e nós ali estávamos prontos a cumprir com a obrigação (que não dever?) já que outra saída não descortinávamos para o nosso futuro! Até de França, Camarada nosso então se apresentou para que sobre ele não caísse o anátema de refractário ou de desertor, anátema que alguns, nos dias que correm, ( como é fácil hoje em dia fazê-lo) transformaram em elogio, vá-se lá saber porquê! Falo nele, no “Francês”, pois desta feita e pela primeira vez veio abraçar os seus Camaradas, que não via há quarenta anos!

O B. C. 1 de onde saímos em 1972 é hoje um Centro de Formação da G.N.R.

Em finais de Março solicitámos autorização ao Comando para que pudéssemos visitar as instalações e colocar uma lápide em honra dos Camaradas mortos na Guiné.

O tempo ia passando e a resposta não vinha! O meu Camarada Parola, o organizador do convívio, alertou-me e eu, sem demora, liguei para o Centro no dia 20 de Abril. Depois de vários “não se encontra” tive de dizer ao meu interlocutor que não desligava enquanto não fosse atendido por quem quer que fosse, pois a minha pergunta não ficaria sem reposta.

Lá veio um senhor sargento, muito simpático e solícito que, admirado, me disse:
- O senhor Comandante já fez o despacho no dia 2 de Abril, a autorizar a vossa visita.

 Prometeu falar com o senhor Capitão para que cópia do despacho nos fosse enviada, ao meu Camarada Parola e a mim mesmo. Tal veio a verificar-se a 23 de Abril.

Porventura esta demora terá a ver com a programação de alguma operação, quiçá a da perseguição ao senhor Manuel Baltazar, um tuga conhecido por Manuel Palito, lá para as bandas de São João da Pesqueira, que ,ao que sei, ainda não teve resultados práticos.

Demorássemos nós, CCav 8351, enquanto na Guiné, todo este tempo a encontrarmos a base de onde o IN nos atacava e, por certo, ainda a esta hora por lá andávamos à procura de Nhacobá, de Lenguel do rio Habi ou de Samenau. Outros tempos....outra gentes..

O nosso encontro estava marcado para 3 de Maio, e no dia primeiro, portador que fui da lápide, lá me apresentei para a colocar no local indicado. O oficial de dia, um jovem alferes, recebeu-nos com simpatia e a meu pedido prometeu-me que a lápide, no dia da visita, estaria coberta pela bandeira nacional para que o seu descerramento tivesse o mínimo de dignidade. Perante a minha insistência mandou-me ir descansado, pois a bandeira de Portugal estaria em seu devido sítio!

A malta começou a chegar logo pela manhãzinha do dia três de Maio. O encontro foi no largo fronteiriço ao do antigo B.C.1. Abraços, gargalhadas, uma ou outra lágrima furtiva, o relembrar da emboscada do dia xis ou os ataques ao arame no Cumbijã, mais o assalto a Nhacobá, fazem sempre parte do primeiro contacto.

Subimos então a rampa de acesso à entrada do Centro e, antes que fosse transporta a porta de armas, avistava-se lá ao fundo a lápide, tal qual eu a deixara dois dias antes. Não avancei mais! O meu Camarada Parola lá foi falar com o oficial de dia, um capitão, que de pronto lhe disse não haver bandeira disponível para a cerimónia e que a fôssemos comprar a uma loja dos “chineses”.

O meu Camarada lá foi comprar a bandeira com que se cobriu a nudez da Pedra.

Este lavar de mãos do cavalheiro e oficial senti-o como se de ofensa se tratasse à memória dos meus Camaradas mortos em combate e, logo ali, no discurso que fiz, tive de expressar, para que dúvidas não restassem, o meu repúdio perante tamanha indiferença.

Porventura se tivesse ido ao beija-mão talvez me tivessem dado fanfarra e me prestassem tributo, mas eu não vou por aí e cito outra vez Régio :

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

["Cântigo Negro", de José Régio, "Poemas de Deus e do Diabo", 1925]


Cerimónia finda, ala que se faz tarde e lá foram os cinquenta e um Combatentes acompanhados pelos familiares para a missa da praxe, celebrada na sé de Portalegre por um padre simpatiquíssimo. Foram lidos os nomes dos vinte e dois mortos que são do nosso conhecimento e à medida que cada nome era referido ecoava na vastidão dos claustros um arrepiante PRESENTE a provocar um estremeção de emoção.

Os arredores de Castelo de Vide acolheram-nos num local perfeito para o almoço e lanche!

Esquecidos os contratempos, em vivência íntima e familiar,  de novo o recordar dos momentos mais difíceis nos vinte e dois meses que passámos juntos.

Vinte e dois meses que nos marcaram de tal forma, que ninguém, mas mesmo ninguém, será capaz de destruir.

Esta imensa solidariedade dos Combatentes da minha Companhia parece vir a cimentar-se com o passar dos anos e eu apenas peço que para o próximo ano estejamos os mesmos deste ano e mais uns quantos a quem a saúde e a crise impediram de ir a Portalegre, “cidade do Alto Alentejo, cercada de serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros” [, "Toada de Portalegre", de  José Régio,  do livro de poesia "Fado", publicado em 1941].

Vasco Augusto Rodrigues da Gama

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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12897: (De) Caras (16): Quem tramou o alf mil capelão Mário de Oliveira, do BCAÇ 1912 (Mansoa, 1967/69) ?... Não foi o BCAÇ 1912 que expulsou o Mário de Oliveira, a PIDE tinha escritório aberto em Mansoa (Aires Ferreira, ex-alf mil inf, minas e armadilhas, CCAÇ 1698, Mansoa, 1967/69)