Mostrar mensagens com a etiqueta artilharia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta artilharia. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26169: Elementos para a História dos Pel Art - Parte II: a artilharia de campanha estava bem representada no CTIG, com 34 Pel Art, e 47% das do total (=283) das bocas de fogo

 

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > 15º Pel Art > Obus 14 cm.... O heróico obus de Gadamael... 

Foto do nosso amigo e camarada J. Casimiro Carvalho, ex-fur mil inf op esp/ranger, CCAV 8350 (Piratas de Guileje) e da CCAÇ 11 (Lacraus de Paunca), que passou por Guileje, Gadamael, Nhacra, Paúnca, entre 1972 e 1974...

Foto (e legenda): © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados Blogue. [ Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]. 

 



Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)



1. Além das antiaéreas, a arma de artilharia mobilizou unidades próprias de apoio de fogos (artillharia de campanha) (#). Foram usados diversos modelos de bocas de fogo no CTIG, nomeadamente:

  • os obuses britânicos 8,8 cm m/43, e 14 cm m/43, além da peça 11,4 cm m/46;
  • os obuses alemães  R 10,5 cm m/41 e K 10,5 cm m/41.
Na Guiné, a artilharia de campanha estava muito descentralizada, chegando a ter no final da guerra mais de 3 dezenas de Pel Art , espelhados pelo território, tanto no interior como ao longo das linhas de fronteira. Cada um dispunha em geral de 3 armas (às vezes 2). 

Os Pel Art, em 1972 e 1973, estavam uniformente espalhados pelo território (de acordo com o quadro que se reproduz acima):
  • Zona Oeste > 13
  • Zona Sul > 11
  • Zona Leste > 11

Os valores constantes do quadro são relativos sobretudo ao dispositivo em 1972 (incluindo os primeiros 29 Pel Art, numerados de 1 a 29). Depois, em 1973, foram acrescidos mais 5, chegando aos 34 do final da guerra. 

Houve, entretanto, de 1972 para 1973 significativas alterações (trocas de guarnição, de modelos de bocas de fogo, etc.) 

Em 1 de julho de 1973, por exemplo, o 15º Pel Art (que estave em Guileje até 22/5/1973) foi colocado em Gadamael (14 cm). E,  segundo a "ordem de batalha" de 10/4/1974, é o 15º Pel Art (14 cm) que está em Gadamael (e já não o 23º Pel Art, 10,5 cm, como consta do quadro acima reproduzido).

Nessa data, em Jemberém está o 5º Pel Art (10,5 cm). E o 17º Pel Art (14 cm) está em Chugué... O 4º Pel Art (10,5 m) está em Empada... O 30º Pel Art (14 cm) mantem-se em Catió, tal como 14º Pel Art (14 cm) continua em Aldeia Formosa, e o 31º Pel Art (14 cm) em Bajocunda...

Em Buba está o 19º (14 cm) (em 1972 estava em Canquelifá)... O 2º Pel Art (10,5 cm) está agora em Fulacunda.  Em Ganjauará está agora o 6º Pel Art (10,5 cm )(em 1972 estava em Tite)... 

Tite, por sua vez, tem agora o 10º Pel Art (14 cm) que estava em Cuntima...

O 8º Pel Art (10,5 cm) continua em Pirada, na fronteira com o Senegal. Enquanto em Canqueliá está o 27º Pel Art (14cm) (que em 1972 estava emFarim)... O 28º Pel Art (14 cv,) que estava em Sare Bacar e Bafatá foi "socorrer" Buruntuma... Piche passa a ter o 14 cm (já não havia granadas para a peça 11,4...). 

Entre Nova Lamego e Piche, ficava Dara, que continua pachorrentamente com o seu 16º Pel Art (10,5 cm). Tal como em Camaju, o 3º Pel Art (10,5 cm). Sare Bacar, na fronteira Norte, com o Senegal, contnua como 22º Pel Art e com os obuses 10,5.  

Bafatá foi despromovida: o 29º Pel Art (10,5 cm) deve ter cedido auma boca de boca alguém mais aflito... O 20º Pel Art (10,5 cm) continua de pedra e cal no Xime (agira com a CCAÇ 12 como unidade de quadrícula), mas a artilharia não chega ao coração do IN (Ponta do Inglês / Poindom, margem direita do Rio Corubal), é preciso ajuda de Ganjauará (na península de Gampará)...

Na zona oeste, vemos a pacata S. Domingos com o 25º Pel Art (10,5 cm), que vem do antecente (1972). O mesmo se passa com Ingoré (33º Pel Art, 10,5 cm). E com Bachile, com o 21º Pel Art (10,5 cm). Guidaje está mais calmo, depois dos acontecimentos de maio de 1973: continua a ter lá o 24º Pel Art (10,5 cm). Em Bigene, por sua vez, a defendre a integridadeas fornteiras, está lá o 18º Pel Art, com os seus temíveis obuses 14 cm. E em Cuntima, o 23º Pel Art (10,5), que trocou com Gadamael, "a ferro e fogo" (em maio/junho de 1973): tem uma secção em Jumbembem e outra em Canjambari... (Mesmo só uma boca de fogo mantem a rapaziada do PAIGC à distância..., do outro lado da fronteira ou nas suas confortáveis imediações.)

Enfim, uma verdadeira dansa (absolutamente esquisofrénica...) da nossa artilharia de campanha, dando resposta a alterações (cada vez mais imprevisíveis) da situação militar no terreno... 

Os Pel Art, no final da guerra, dão a impressão de serem como 112, ou sejam, uma "barata tonta", como aqui escreveu o cor art ref Morais Silva: não têm mãos a medir, a "apagar fogos"... 

Amigos e camaradas: só com tempo, vagar e muita paciència poderíamos atualizar o quadro que elaborámos com os dados fornecidos pelo ten cor Pedro Marquês de Sousa, e que são sobretudo respeitantes ao ano 1972. (Felizmente, para ele, não conheceu os vários infernos do CTIG...).

Na Guiné a Bateria de Artilharia, sediada em Bissau (mais tarde,  Grupo, GA7 / GA 7) funcionava como unidade territorial, para efeitos de instrução, administração e gestão logística). Recorria-se essencialmente a praças do recrutamento local, sendo os graduados oriundos da metrópole.

Segundo Pedro Marquês de Sousa, nas três frentes da guerra de África chegaram a estar presentes 283  bocas de fogo de artilharia (31,4% em Angola; 47% na Guiné; e 21,6% em Moçambique) (op. cit, pág. 197). 

A evolução da artilharia de campanha, na Guiné, foi a seguinte ao longo do tempo:

  • 1963 > 1 bateria
  • 1964/65 > 6 Pel Art
  • 1966/67 > 12 Pel Art
  • 1968 > 15 Pel Art 
  • 1969 > 20 Pel Art
  • 1970/73 > 29 Pel Art
  • 1974 > 34 Pel Art.
Estes números também são reveladores da escalada da guerra no CTIG.

No final da guerra, predominavam os seguintes modelos de bocas de fogo:

  • Obus 10,5 > 20 Pel Art
  • Obus 14 >  12 Pel Art
  • Peça 11,4 > 2 Pel Art (só existia no CTIG)
  • Obus 8,8 > 1
As bocas de fogo eram posicionadas em espaldões  dentro do perímetro dos aquartelmentos e destacamentos. Eram usadas na resposta aos ataques e flagelações do IN, mas também no apoio às NT em operações no mato.


2. Comentário do nosso camarada C. Martins,que comandou o 15º Pel Art (14 cm) em Gadamael, em 1973/74. (Beirão, hoje médico reformado,  nunca se increveu formalmente na Tabanca Grande, por razões pessoais,  profissionais edeontológicas, mas é um leitor assíduo e ativo, com mais de 35 referências no blogue)  (##):


Caro Camarada Luís Graça:


 (...) Para tua informação e de todos os camaradas, éramos reabastecidos por batelões só com granadas,  espoletas e cargas e outro material só para o Pel Art.

Ía em média uma vez por mês[ o batelão]. Como é evidente, este stock foi feito durante vários meses. Não tínhamos restrições, mas conseguiu-se aumentar o stock falseando os gastos,  isto é gastavámos menos do que dizíamos para Bissau. Isto tinha como única finalidade não sermos apanhados com as "calças na mão".

Nos intervalos das flagelações, coçavámos a micose mas também repunhamos granadas e etc. lavavamos os obuses ( "tocar punheta", na gíria artilheira, sim que ao lavar o tubo aquilo parecia mesmo isso), [fazíamos} pequenas reparações, etc..

.Quando era necessário vinham mecânicos de Bissau no mesmo dia de heli até Cacine e depois de sintex ou zebro até Gadamael.

Onde guardávamos tanto material ? No paiol, obviamente, que tinha a porta aberta e cada um servia-se à vontade. Um dia dei-me ao trabalho de contar os cunhetes de munições de G3 e cheguei aos 400 e depois desisti.

Cada granada pesava 45 kg (...)  e cada tiro custava 2.500$00  [c. 600 euros, a preços de hoje].

Tínhamos 3 companhias,  1 Pel Art (52 militares e não trinta), 1 pelotão de canhões s/r, 1 pelotão  de morteiros 81, e 2 pelotões de milícias, no total éramos à volta de 600 militares. (##)


_____________________

Notas do editor:


(#) Último poste da série > 18 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26162: Elementos para a História dos Pel Art - Parte I: Manuel Friaças, ex-fur mil art. 1º Pel Art (14 cm) (Cameconde e Cacine, 1971/73); vive em Aljustrel

(##) Vd. poste de 8 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9460: Lições de artilharia para os infantes (2): Cada granada de obus 14 pesava 45 kg e custava 2500$00 (C. Martins, ex-comandante do Pel Art, Gadamael, 1973/74)



segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26162: Elementos para a História dos Pel Art - Parte I: Manuel Friaças, ex-fur mil art. 1º Pel Art (14 cm) (Cameconde e Cacine, 1971/73); vive em Aljustrel




Foto nº 1 e 1A > Guiné > Região de Tombali > Cameconde > 1º Pel Art > 1972 (?)






Foto nº 2 e 2A > Guiné > Região de Tombali > Cacine > 1º Pel Art > 1973


Foto nº 3  > Guiné > Região de Tombali > Cameconde > 1º Pel Art > c. 1971/72



Foito nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Cacine > CCAÇ 2520 e  1º Pel Art  / > c. 1972  > Messe de sargentos (?)





Foto nº 5 e 5A > Guiné > Bissau > "Convívio durante um patrulhamento ao arame em Bissau 1973". (Publicado na página "Guiné-Recordações", Grupo Privado, 29 de março de 2022, 15:21)

Fotos (e legendas): © Manuel Friaças (2022). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Há um défice muito grande de informação sobre os Pel Art (Pelotões de Artilharia) que passaram pelo CTIG (integrados no BAC / BAC1 e depois, a partir de 1 de julho de 1970, no GAC1 / GA7).

 No final da guerra, eram mais de 3 dezenas, 34 ao todo... Só temos, no nosso blogue, referências (e para mais sucintas) a dezanove.


O que tem mais referências (=43) é o 23º Pel Art, que esteve em Gadamael, Cacine e Cuntima, graças aos postes de camaradas como, entre outros:

  • Manuel Vaz (Gadamael, 1965/67);
  • Vasco Pires (Gadamael, 1970/72);
  • Tibério Borges (Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72);
  • Humberto Nunes (Gadamael e Cuntima, 1972/74);
  •  C.Martins (Gadamael, 1973/74)...

Vamos inaugural uma série com o título "Elementos para a História dos Pel Art". E vamos começar  pelo 1º Pel Art (14 cm), de que fez parte o Manuel Friaças, ex-fur mil art. Esteve em Cameconde e Cacine, entre 1971 e 1973. E, por exclusão de partes, só pode ter pertencido ao o 1º Pel Art (que não parece ter existido antes de 1971).

Encontrei, até agora, cinco fotos dele no Facebook. Ele tem uma página mas com uma muita reduzida atividade (não tem nenhuma publicação disponível). 

Também colaborou pontualmente na página  Escola Prática de Artilharia (Grupo Público), com um comentário.  Outra página, a dos Antigos Combatentes da Guiné (Grupo Público) reproduziu, sem qualquer edição, quatro fotos do seu álbum.

Na página da Escola Prática de Artilharia o Manuel Friaças comentou: 

"Estive nesse GI [Grupo de Instrução, da EPA] de abril a junho de 1971 e  [ fui 1º] cabo miliciano na 4ª BBF até setembro de 1971, data da mobilização para a Guiné" (9 de setembro de 2024, 14:24).

Na sua página pessoal, tem escassos elementos sobre si e a sua atividade operacional. Além das fotos que reproduzimos (depois de editadas, e que vinham sem legenda ou escassa informação sobre a data e o local), ficámos a saber que o Manuel Friaças:

(i) é alentejano de Aljustrel, onde de resto vive;

(ii) trabalhou na antiga Direcção Geral das Contribuições e Impostos (DGCI) (hoje Autoridade Tributária);

(iii)  estudou em Universidade de Évora.

Presume-ser que esteja reformado, sabendo-se que deve ter nascido por volta de 1949. Não temos o seu email. Mas fica desde já convidado a integrar a nossa Tabanca Grande. Tomamos "emprestadas" estas fotos, que são os primeiros elementos que encontramos para a história do 1º Pel Art.  Oxalá apareçam mais, dele e doutros camaradas.

2. Na época em que o nosso camarada Friaças esteve no CTIG, em rendição individual (1971/73), o 1º Pel Art esteve em Cameconde (1971/72) e depois foi transferido para Cacine (1973).


Em 1 de julho de 1971, o dispositivo das NT no subsetor de Cacine  / Setor S3 (BCAÇ 2930, Catió) era o seguinte:

  • CCaç 2726 (-) >  Cacine | 2 Pel  > Cameconde
  • 1º Pel Art (14 cm)  > Cameconde
  • Pel Mil 261/CMil 21 > Cameconde
  • Pel Mil 262/CMil 21 > Cacine
  • Pel Mil 263/CMil 21 > Cacine
Em 1 de julho de 1972, o dispositivo das NT no subsetor de Cacine  / Setor S3 (BCAÇ 2930, Catió) era o seguinte:

  • CCaç 3520 (-) > Cacine | 2 Pel Cameconde
  • 1° Pel Art (14cm) > Cameconde
  • Pel Mil 261 > Cacine (Reordenamento)
  • Pel Mil 262 (-)  > Cacine | 1 Sec > Cacine (Reordenamento)
  • Pel Mil 263 > Cacine

E,m 1 de julho de 1973, o 1º Pel Art (14 cm) estava em Cacine, subsetor de Cacine, COP 5, sendo a companhia de quadrícula a CCAÇ 3520 (com 2 pelotões em Cameconde e 1 no subsetor de Gadamael-Porto). Havia mais as seguintes subunidades no subsetor de Cacine:

  • Pel Mil 261 > Cacine (Reordenamento)
  • Pel Mil 262 (-) > Cacine | 1 Sec Cacine (Reordenamento)
  • GEMil  263  >  Cacine
  • CArt 6552/72 > Cameconde
  • Pel Rec Fox 3115 >  Cacine
Em 10 de abril de 1974, o dispositivo militar era o seguinte ( além do DFE 22. temporariamente em Cacine, e às ordens do Comando do COP 5):
  • CCav 8354/73 > Cacine
  • 1° Pel Art (l4 cm)  > Cacine
  • CArt 6552/72 >  Cameconde
  • Pel  Rec Fox 8871/73 >  Cacine
  • Pel Mil 261 > Cacine (Reordenamento)
  • Pel Mil 262 (-) > Cacine | 1 Sec > Cacine (Reordenamentp)
  • GEMil 263 > Cacine
Fonte: Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume: aspectos da actividade operaciona. Tomo II: Guiné, Livro III, Lisboa: 2015,  554 pp.

PS - Não encontrámos quaisquer referências ao 1º Pel Art anteriores a 1971, nos livros da CECA, 6º volume (aspectos da actividade operaciona), tomo II (Guiné), Livros I e II. 

3. Fichas de unidade > BAC / BAC1 e GAC7/GA7

3.1. Bateria de Artilharia de Campanha | Bateria de Artilharia de Campanha nº  1

Identificação BAC | BAC 

Cmdt (a): Cap Art António Soares Fernandes | Cap Art Carlos Rodrigues Correia | Cap Art José Júlio Galamba de Castro | Cap Art João Carlos Vale de Brito e Faro |! Cap Art Ernesto Chaves Alves de Sousa | Cap Art José Augusto Moura Soares (a) (Os Cmdts Btr são apenas indicados a partir de 1jan61)

Divisa: "Os Olhos na Pátria e a Pátria no Coração"
Início: Anterior a 1jan61 | Extinção: 30kun70

Síntese da Actividade Operacional

Era uma subunidade da guarnição normal, com existência anterior a 1jan61 e foi constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local, estando enquadrada nas forças do CTIG então existentes.

Inicialmente, destacou efectivos para guarnecer algumas localidades até à chegada de forças de Caçadores, nomeadamente para Bissorã, de finais de abr61 a meados de ag061 para Mansabá, de finais de abr61 a princípios de nov61 e para Enxalé, de princípios de jun61 a princípios de nov61.

Após ter destacado pelotões de material 8,8 cm para Mansabá, a partir de 10ut63, para Bissorã, de 6nov63 a 24dez63, para Olossato, a partir de 24dez63 e para Catió, a partir de 4fev64 - este destacamento, inicialmente, para apoio da operação "Tridente", nas ilhas de Como, Caiar e Catunco, continuou a formar pelotões para atribuição em apoio de fogos a diversas guarnições. 

Assim, constituiu durante o ano de 1964 mais três pelotões, em 1966 mais seis pelotões, dos quais, três de material 11,4 cm e em 1967 mais três pelotões, estes de material 14 cm.

Em 1abr67, a subunidade passou a designar-se Bateria de Artilharia de
Campanha n.º 1.

A partir de 1968, os pelotões de 8,8 passaram a ser equipados com material de 10,5 cm, tendo ainda sido formados mais 7 pelotões de 10,5 e mais 4 pelotões de 14 cm, um dos quais, por extinção de um pelotão de 11,4 cm.

A localização dos pelotões foi caracterizada fundamentalmente pela capacidade de atuação sobre as linhas de infiltração do inimigo e de reação aos ataques sobre os aquartelamentos fronteiriços, como S. Domingos, Guidage, Cuntima, Buruntuma, Cabuca, Aldeia Formosa, Guileje e Cameconde, entre
outras e para prolongar as acções de fogo sobre as áreas de refúgio tradicionais do Morés, Tiligi, Caboiana, Quínara, Tombali e Cubucaré, entre outras.~

Em 1out70, a subunidade foi extinta e os seus meios foram transferidos para o GAC 7, então criado.
Observações - Não tem História da Unidade.

3.2. Grupo de Artilharia de Campanha nº 7 | Grupo de Artilharia nº 7

Identificação:  GAC 7 | GA 7

Cmdt: TCor Art António Luís Alves Dias Ferreira da Silva | TCor Art António Cirne Correia Pacheco | TCor Art Martinho de Carvalho Leal |! Maj Art José Faia Pires Correia

2.° Cmdt (a): Maj Art João Manuel de Magalhães Melo Mexia Leitão | Maj Art José Joaquim Vilares Gaspar | Maj Art Martinho de Carvalho Leal | Maj Art José Faia Pires Correia | Cap Art Jaime Simões da Silva | (a) só a partir de 27mar71

Divisa:
Início: 1jul70 | Extinção: 140ut74

Síntese da Actividade Operacional

A unidade foi criada em 1jul70, a partir dos meios de Artilharia da BAC 1, os quais já englobavam, na altura, 114 bocas de fogo constituídas em 27 pelotões, dos quais 16 pelotões eram de material 10,5, 2 pelotões de 11,4 e 9 pelotões de 14. 

Posteriormente, foram ainda organizados mais um pelotão de 10,5, em 1972 e mais um pelotão de 8,8, outro de 10,5 e dois pelotões de 14, em 1973.

Na sequência da missão da BAC 1, continuou a exercer o comando e controlo técnico dos diferentes pelotões colocados em apoio de fogos das diversas guarnições do interior, tendo comandado e coordenado diversas acções de fogo sobre bases inimigas situadas junto da fronteira. 

Comandou e coordenou ainda a atividade das subunidades de AA (antiaéreas).

Em 14nov70, passou a designar-se Grupo de Artilharia n.º 7, a fim de harmonizar a sua designação com o comando e controlo de baterias de AA, entretanto colocadas na Guiné, de acordo com despacho ministerial de 11ag070.

Após a recolha dos pelotões existentes, de acordo com o plano de retracção do dispositivo, a Unidade foi desactivada a partir de 2set74, tendo sido posteriormente extinta.

Observações - Não tem História da Unidade.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 658/661.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25985: Memórias de um artilheiro (José Álvaro Carvalho, ex-alf mil, Pel Art / BAC, 8.8 cm, Bissau, Olossato e Catió, 1963/65) - Parte X: o pai chamava-lhe o "C"... e, embora não fosse crente, foi a Fátima a pé, para cumprir uma promessa que fizera, caso o filho regressasse inteiro...



Guiné > Região de Tombali >  Catió >  c. 1964/65 > Espaldão do obus 8.8. Ao lado, o comandante do Pel Art, alf mil art José Álvaro Carvalho, populamente conmhecido por "Carvalhinho"




Guiné > s/l (Região de Tombali ? ) >  Catió  (?) >  c. 1964/65  (?) >  O  alf mil art José Álvaro Carvalho sentado a escrever

Fotos: © José Álvaro  Carvalho (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do "Livvro de C", de José Álvaro
Almeida de Carvalho (Lisboa
Chiado Books, 2019, 710 pp.)
 
1. Publicamos hoje a X (e última) parte das memóras do ex-alf mil art, José Álvaro Carvalho (*), membro nº 890 da nossa Tabanca Grande, desde 26 de junho de 2024 (**):

(i) tem 85 anos, sendo natural de Reguengo Grande, Lourinhã;

(ii) com 26 meses de tropa, acabou por ser moblizado para o CTIG por volta da primavera de 1963 (não conseguimos ainda apurar a data);

(iii) foi render um alferes de uma companhia de intervenção, de infantaria, sediada em Bissau (QG/CTIG) (não conseguimos ainda identificar qual);

(iv) irá cumprir mais uns 26 ou 27 meses, no TO da Guiné, entre o primeiro trimestre de 1963 e o início do segundo semestre de 1965;

(v) passou por Bissau, Olossato, Catió e a ilha do Como, aqui já a comandar um Pel Art, obus 8.8 (a duas bocas de fogo), com que participou, entre outras, na Op Tridente (jan-mar 1964);



Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > Ilustração,  "Tridente - Memórias de um Veterano", de António Manuel Constantino Vassalo Miranda (2007)
(com a devida vénia...)


(vi) no CTIG era popularmente conhecido pelo seu nome artístico, "Carvalhinho" (cantava o fado de Lisboa e tocava guitarra); em Bissau, chegou a fazer espetáculos com o alf médico Luís Goes (que cantava e tocava o "fado de Coimbra");

(vii) tornou-se também amigo dos então alferes milicianos 'comandos' Justino Coelho Godinho e Maurício Saraiva (já falecidos), quando se estavam a organizar os Comandos do CTIG (ofereceu-se para os "comandos",mas não foi aceite);

(viii) o José Álvaro Almeida de Carvalho (seu nome completo) publicou em 2019 o "Livro de
 C", Lisboa, na Chiado Books (710 pp.)  ("C" é o "nickname" pelo qual o pai o tratava);

(ix) é empresário reformado, trabalhou também como quadro técnico em empresas metalomecânicas como a L. Dargent Lda; aqui foi diretor do departamento de trabalhos exteriores, e sócio minoritário (fez, por exemplo, a montagem da superestrutura metálica e cabos de suspensão da ponte na foz do Rio Cuanza em Angola).



2. Em Catió ficou adido ao BCAÇ 619 (1964/66), comandando um Pel Art obus 8.8 a duas bocas de fogo. Participou em grandes operações no setor de Catió ("Tridente", "Broca", "Macaco", "Tornado" e "Remate"). A sua atuação operacional, como comandante do Pel Art, valeu-lhe, em 1967, uma Cruz de Guerra de 3ª Classe.


O alferes Carvalho esteve em dois meses na Ilha do Como, no àmbito da Op Tridente (jan-mar 1964).

 
Memórias de um artilheiro (José Álvaro Carvalho, ex-alf mil, Pel Art / BAC, 8.8 cm, Bissau, Olossato e Catió, 1963/65) 

Parte X:   o pai chamava-lhe o "C"... e, embora não fosse crente,  foi a Fátima a pé, para cumprir uma promessa que fizera, caso o filho regressasse inteiro...



O horizonte era verde visto do pequeno avião em que voava com o piloto, por cima da floresta.

Ia ali para poder dar as ordens de fogo ao sargento que ficara a comandar as bocas de fogo. Tinha que observar o tiro de avião por não haver referências no matagal cerrado.

De cima havia duas tonalidades de verde. Um mais escuro da floresta mais elevada, com raízes em terra firme e o outro mais claro, que era a maior parte, da floresta com menos porte que nascia na lama e era inundada na maré cheia. Esta multiplicava-se com ramos que desciam da parte superior até ao chão
e se enterravam depois na lama e assim enraizavam. Eram mais tarde o habitat natural de ostras que aos milhares a estes se vinham agarrar.

De terra disseram que estavam a vê-lo.

Respondeu:

− Dispara um very-light para te poder assinalar no mapa.

Daí a pouco subiu um no céu, que assinalava a posição do pelotão sobre o lado esquerdo, a qual pela direcção da bússola do avião e pela distância percorrida, marcou no mapa.

Estou a ser emboscado. Tenho feridos.

Enviou ao sargento os elementos de fogo para 500 jardas á frente da posição assinalada. Pouco depois ouviu os disparos pela rádio. Pelas tabelas de tiro calculou o tempo que as granadas levavam a chegar e na altura própria disse ao piloto:

 − Pique sobre o objetivo cerca de 1 km à direita do ultimo rebentamento.

O piloto assim fez. Começaram a ouvir-se os pec pec pec das chicotadas das balas das metralhadoras inimigas apontadas ao avião, á medida que se aproximavam do objetivo.

E de repente o rebentamento das duas granadas enviadas:

− Broummmmm! Broummmmm!

O comandante do pelotão disse: 

− A direcção está certa mas os tiros estão compridos.

Entretanto o comandante da companhia de intervenção informou que já tinha vindo para o local um novo pelotão de reforço. Pediu também ao alferes deste pelotão que disparasse um very-lyght para o assinalar no mapa o que veio a acontecer daí a pouco.

Disse ao Sargento para encurtar a alça 200 jardas e disparar quando pronto.

Daí a pouco ouviu no rádio este ordenar: 

Fogoooo! – duas vezes.  

E daí a alguns minutos viu-se e ouviu-se o rebentamento das granadas:

 − Broummmmm! Broummmmm!

A chicotada das balas do inimigo a passarem junto ao avião intensificou-se: Pec! Pec! Pec! .... O piloto disse:

− Ou nos pomos a andar daqui ou vamos parar lá abaixo.

Respondeu o alferes Carvalho: 

− Vamos embora.

O piloto descreveu uma curva larga para a direita e subiu. Depois voou de novo para a esquerda para não se perder o contacto rádio dos comandantes do pelotão. Este disse: 

− Preciso de mais alguns tiros 500 metros à direita e à esquerda.

Deu ao sargento do pelotão ordens de fogo nesse sentido.

Pouco depois o piloto disse:

 
− Temos que reabastecer.

Disse para terra:

− Fogo terminado. Vamos reabastecer. Depois vimos de novo.

Regressaram à pequena clareira coberta de erva alta que servia de pista, na sede do batalhão,  onde pousaram.

Enquanto se processava o reabastecimento, aproveitou para desenferrujar as pernas. O espaço no pequeno avião era muito apertado e mal lá cabiam ele e o piloto. Aproveitou também para refletir sobre a sua vida, o que dum modo geral evitava.

Naquele dia o alferes Carvalho  deu-lhe para aquilo. Pensou na família e principalmente no pai, que tinha pago à mais variada casta de traficantes, amiguistas, supostos influentes do regime, etc. para que ele não viesse a África.

Pedia-lhe frequentemente para acompanhar um ou outro, a falar aqui e ali, supostos de moverem influências nesse sentido mas o que queriam era apanhar-lhe dinheiro.

Nunca se sentira muito bem neste papel e duvidou sempre da capacidade desses indivíduos para realizar o que se propunham. Por outro lado, toda a sua geração estava a caminhar para África e não lhe parecia muito correto evitar fazê-lo.

Até que um dia no seguimento de mais uma dessas diligências disse :

 − Ó pai,  deixemo-nos disto. Já devia estar em África há muito tempo!  − o que deixou toda a gente boquiaberta.

Mas o pai nunca desistiu. Já próximo do final da comissão recebera uma carta dele a dizer :

−  Agora é que conheci um sujeito que te vai tirar daí.

Continuava nestas diligências não só por si mas também pressionado pela mãe.

Quando mais tarde regressou, o pai, embora não fosse crente foi a Fátima a pé, para cumprir uma promessa que fizera de assim fazer se o filho regressasse inteiro.

Acreditava que nos movimentos de libertação havia boa gente, mas também muitos oportunistas. Quanto ao recrutamento de soldados, havendo dinheiro era fácil de fazer em África.

Por fim pôs-se a pensar na filosofia da guerra. Há cerca de dois mil anos, um imperador chinês de grande sucesso, adotou e impôs na China uma filosofia (mais tarde religião ) – “Legalismo “ – que se fundamentava em que o homem era por natureza mau e,  não sendo regido por leis e regras rígidas, destruiria a sociedade. No seguimento desta imposição proibiu o Confucionismo e o Taoismo, filosofias mais antigas e moderadas. 

Com base nestas novas regras e leis, este imperador veio a unificar o país, a escrita e a moeda, sendo assinalado como um dos grandes criadores da civilização chinesa.

Por outro lado a formação que tivera, fizera-o acreditar que havia uma grande falta de tolerância no mundo. A tolerância pode ser real ou imaginária. Esta última, a mais comum, fundamenta-se no princípio de que uma coisa é adotá-la e outra concretizá-la, mesmo quando colide com os nossos interesses materiais ou ideológicos.

No que a si se refere, naquela situação optou pela filosofia do verdadeiro soldado, que é a de que as ordens não se discutem.

Todos estes pensamentos pareciam contraditórios, já que era,  por educação, de cultura antimilitarista.

Procurou incutir ao seu pessoal o comportamento de soldado acima referido e talvez por isso o seu pelotão fora elogiado ou louvado em todas as operações em que participou.

Sendo talvez também por isso que, não tendo condições para integrar qualquer exército, acabou por ser condecorado com uma cruz de guerra.

Nas horas vagas o que lhe dava o maior prazer era alhear-se de tudo e de todos e escrever versos nem sempre muito coerentes, principalmente nos que pretendia descrever a vida duma personagem histórica que o fascinava: Menés,  o primeiro faraó do Egipto que viveu há cerca de 5000 anos.

Descendente duma tribo do Sul,  conseguiu conquistar e unificar todo o vale do rio Nilo. Região cuja prosperidade se começara a fazer notar e cujos excessos de produção permitiam que uma parte significativa da sociedade se dedicasse a atividades diferentes do cultivo, recolha,  caça ou conquista de alimentos. 

No que se refere à religião que derivou da feitiçaria, acabou por se tornar ainda no seu tempo numa notável organização de alguns sacerdotes a que ele próprio presidia na qualidade de Horus,  o deus falcão,  descendente principal de Amon --Rá,  adorado pelo clã da tribo de que descendia e modelo do seu símbolo totémico, distribuídos por alguns locais de adoração, dedicados a outros tantos deuses todos descendentes de Amon-Rá e Hórus que detinham o poder e a maior parte da riqueza existente.

Estes locais de adoração vieram muito mais tarde, nas dinastias que se lhe seguiram,  a transformar-se em sumptuosos templos.

Assim que enchia um caderno com versos destes, levava-o para o Quartel General, na capital, e guardava-o juntamente com os restantes num cacifo que tinha na messe de oficiais. Queria deixar estas recordação ao filho que viesse a ter.

(Revisão / fixação de texto: LG)

_____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 16 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25947: Memórias de um artilheiro (José Álvaro Carvalho, ex-alf mil, Pel Art / BAC, 8.8 cm, Bissau, Olossato e Catió, 1963/65) - Parte IX: De novo em Catió... P*rra, deixem-me comer o petisco em paz!

(**) Vd. poste de 26 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25684: Tabanca Grande (560): José Álvaro Almeida de Carvalho, ex-alf mil art, Pel Art / BAC, obus 8.8 m/943 (1963/65) , adido 14 meses ao BCAÇ 619 (Catió, 1964/66): senta-se no lugar nº 890, à sombra do nosso poilão

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25777: Casos: a verdade sobre... (47) "Fogo amigo", Xime, 1/12/1973: o obus 14 cm m/43 usava a granada HE (45 kg) com alcance máximo de 14,8 km... (Morais Silva, cor e prof art AM, ref; ex-cap art, instrutor 1ª CCmds Africanos, Fá Mandinga, adjunto COP 6, Mansabá, cmdt CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)










1. Mensagem do nosso amigo cor art ref Morais Silva, professor de artilharia e investigação operacional, ref, na AM; no CTIG, foi cap art, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e cmdt da CCAÇ 2796, em Gadamael, 1970/72.


Data - terça, 9 de julho de 2024 23:16
Assunto - Fogo amigo

Caro Luís

Aqui vai o meu contributo (*). Ab do MS


Mansambo - XIME = 15 km medidos na carta 1:50000

O nosso Obus 14 cm m/43 usava a granada HE (45kg) com alcance máximo 14 800 metros. Com o gastamento das bocas de fogo o alcance máximo das nossas velhinhas b.f. era garantidamente inferior (**).

_________

Notas do editor:

(*) 23 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25772: Casos: a verdade sobre... (45): O "incidente" de 1/12/1973 que levou à morte de 7 civis no Xime, por "fogo amigo": nessa data não havia obuses em Mansambo e Gampará já tinha o obus 14 (António Duarte,ex-fur mil, CART 3493, Mansambo, e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, dez 71 - jan de 74)

(**) Último poste da série > 25 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25775: Casos: a verdade sobre... (46): Sim, o obus 14 (a partir de Ganjauará ou de Mansambo) tinha alcance para chegar ao Xime (a 15 km de distância) em 1/12/73 (Domigos Robalo, ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7 / GA 7, Bissau, 1969/71; ex-cmdt, 22º Pel Art, Fulacunda, 1969/70; vive em Almada)

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25737: Memórias de um artilheiro (José Álvaro Carvalho, ex-alf mil, Pel Art / BAC, 8.8 cm, Bissau, Olossato e Catió, 1963/65) - Parte II: 15 minutos, de ferro e fogo, no K3, em meados de 1963


Foto nº  5


Foto nº 6


Foto nº 6A

Foto nº 6B


Foto nº 7

Guiné > s/l > s/d > O alf mil art José Álvaro Carvalho  (1º trimestre de 1963/meados de 1965) > Nestas fotos do seu álbum ainda não conseguimos identificá-lo: talvez possa ser o militar que se vê na foto nº 6B, em segundo plano, de pefil, de óculos.




Angola > Ponte do rio Cuanza (em contrução, desenhada pelo eng. Edgar Cardoso) > c. 1971 > O José Álvaro Almeida de Carvalho, diretor do departamento de trabalhos externos da empresa L. Dargent Lda. Aqui ainda no início da montagem do tabuleiro da ponte...Viveu 5 anos em Angola (até depois do 25 de Abril de 1974).

Fotos: © José Álvaro Carvalho (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O José Álvaro Carvalho, 85 anos, natural de Reguengo Grande, Lourinhã, entrou recentemente para o nosso blogue. Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 890 (*). 

Não dispondo da sua caderneta militar (diz que nunca a teve), o Zé Álvaro (como eu o trato, afetuosamente), não sabe exatamente em que data chegou ao CTIG, para render um alferes de uma companhia de intervenção, sediada em Bissau. Aponta para a primavera de 1963, escassos depois da guerra ter "oficialmente" começado, na "narrativa" do PAIGC,  com o ataque  a Tite, na região de Quínara, em 23 de janeiro de 1963.

Já estava há 26 meses na tropa. E deve ter cumprido mais uns 26 ou 27, no CTIG, entre o primeiro trimestre de 1963 e o segundo semestre de 1965. Passou por Bissau, Olossato e Catió, aqui já a comandanr um Pel Art / BAC, obus 8.8 (a duas bocas de fogo).


O alf mil Maurício Saraiva,
nascido em Sá da Bandeira,
quando ainda frequentava
 o curso de comandos,
em Luanda, em 1963.
Foto de Virgínio Briote
(2015)
No CTIG era popularmente conhecido pelo seu nome artístico do fado, "Carvalhinho" (*) . O Mário Dias, o Manuel Luís Lomba, o Virgínio Briote são (ou ainda são) do seu tempo e rconhecem-no.  O Armor Pires Mota (ex-alf mil, CCAV 488/BCAV 490, Bissau, Ilha do Como, Jumbebem, 1963/65) também era do seu tempo (ligeiramente mais novo: jul 63/ ago 65). Era também amigo do então alferes  'comando' Maurício Saraiva, que será depois visita da sua casa, em Lisboa (foto à direita, em q963, quando frequentava, em Angola, o curso de comandos).De acordo com as as suas memórias de guerra, ao oitavo mês de Guiné, o Carvalho (ou "Carvalhinho") ainda estava no Olossato. E no excerto que passamos a reproduzir. preparava-se para fazer uma golpe de mão ao K .  
Por sua conta e risco, tanto quanto dá para perceber. (K, leia-se K3 / Saliquinhedim: 
Saliquinhedim ao Km 3 da estrada Farim-Mansabá, será ocupado mais tarde, no último trimestre de 1965, pela  CCaç 1421).

Na versão, digital, que nos facultou, em formato pdf,  das suas memórias de guerra, os topónimos da Giné aparecem só com as iniciais (como é o caso  de O, 
de Olossato). Não há nomes de militares.  Nem datas.  Esclarecimentos  e informações  complementares têm sido obtidas através das  nossas conversas na Praia da Areia Branca (onde reside atualmente).

Pelas nossas contas (e apenas com base dos livros da CECA), essa companhia para a qual ele terá ido, inicialmente, em rendição individual,  pode ter sido a CCAÇ 273 (mo
bilizada pelo BII 17, Angra do Heroísmo): esteve no CTIG desde janeiro de 1962 e acabou a comissão em janeiro de 1964. (Nessa altura, a comissão na Guiné era de 24 meses.)  

Sabe-se que a CCAÇ 273 teve um pelotão destacado no Olossato, por períodos variáveis, em 1963. Era comandada pelo cap inf Jerónimo Roseiro Botelho Gaspar.

Mas voltemos às memórias do Olossato, destacamento que ele vai reforçar,  dois meses depois de estar em Bissau, a fazer segurança a Bissalanca (de 3 em 3 dias) e patrulhamentos nos arredores.  

De acordo com o poste anterior, ele  tinha saído em coluna auto,  para uma missão na região do Cacheu, de que foi desviado, para o Olossato, ao chegar a Mansoa, por ordem do QG (**): 

(...) "O pelotão para aí destacado, não conseguia não só defender o povoado, como até impedir que o inimigo, encurralando-o de metralhadoras apontadas a cada porta do edifício do quartel, um antigo celeiro de amendoim rodeado de arame farpado a distância conveniente, se passeasse impunemente na aldeia, entrando nos dois estabelecimentos comerciais existentes, abastecendo-se do que bem entendia, em troca de requisições supostamente válidas, após ganha a guerra e exercendo junto da população civil branca ou africana as mais variadas formas de propaganda e intimidação.

"Após confirmar por rádio para o QG as ordens que acabara de receber, desviou a marcha no sentido da povoação de 
O[lossato] , entrando na região onde a guerrilha tinha começado a atuar recentemente e era constituída por um polígono com cerca de 120 kms de comprimento na sua maior dimensão e oitenta na outra , cuja principal estrada, que o atravessava em diagonal, estava obstruída por árvores derrubadas assim como todos os pontões e pequenas pontes já destruídas que atravessavam as linhas de água, que eram muitas em todo o território por ser este a foz dum rio importante, que se dividia por grandes e pequenos canais que se ligavam e entrelaçavam entre si." (...)

Portanto, quando chegou ao Olossato, com o seu pelotão, a "guerra subversiva" tinha começado na região do Oio. Estava-se já na época das chuvas. (E na sua terra, Lourinhã, estava-se em plena época balnear.) É uma narrativa, quase telegráfica, incisiva, "pura e dura", que me faz lembrar as crónicas do "Tarrafo",  o livro de 1965, do Armor Pires Mota, que também andou por aqueles lados (sector de Farim), além de ter estado na Ilha do Como (Op Tridente).



Guiné > Região do Oio > Carta de Farim (1954) > Escala 1/50 mil) > Pormenor: localização de Saliquinhedim / K3, entre o Olossato e Farim. (Não confundir com o verdadeiro Olossato, que fica a sudoeste de Farim, e que está localizado na carta de Binta.)



Guiné > Carta da Província (1961) (Escal: 1/500 mil) > Posição relativa do Olossato, em pleno coração da região do Oio... Do Olossato a K3 / Saliquinhedim eram c. 20 km por estrada. (A o
cupação de Saliquinhedim ao Km 3 da estrada Farim-Mansabá foi feitta pela  CCaç 1421 no final do ano de 1965.)

Infografias:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)



Memórias de um artilheiro (José Álvaro Carvalho, ex-alf mil, Pel Art / BAC, 8.8 cm, Bissau, Olossato e Catió, 1963/65) 

Parte II:   15 minutos, de ferro e fogo, no K3, em meados de 1963



Durante as sestas, depois do almoço , o sono era calmo e repousado. Mas agora era noite e não conseguia dormir.

− Eles aí estão,  meu Alferes!!!

Choviam tiros por todo o lado. As metralhadoras dos postos principais matraqueavam o mais que podiam à medida que aumentavam os pec-bum dos disparos contrários.

Pegou numa granada de mão e, curvado, correu para o posto mais próximo.

 
Deixem-nos vir!!!

As metralhadoras calaram-se. As palmeiras suavam humidade, indiferentes aos homens e aos ruídos da noite.

Ouviam-se rebentamentos ao longe.

  Estão a estoirar com os acessos!!!

Tinham medo que alguma ajuda fosse pedida, mas não corriam esse risco. À noite o teto de nuvens era tão baixo que o rádio só emitia ruídos.

Chamou o furriel mais próximo.

 
− Não quero mais tiros! Deixem-nos chegar à vedação e depois acendam as luzes exteriores e abram fogo de novo. Por cada tiro quero um homem ferido ou morto! Se se vão embora sem "levar na tromba",  amanhã estão cá de novo!

No dia seguinte:

− Encontrámos alguns rastos de sangue.

− Quantos?

− Quatro.

− Já não foi mau.

O sol a pique aquecia a humidade excessiva, para que as plantas vivessem prósperas, numa inundação de verdura que era preciso destruir diariamente, à volta do celeiro de amendoim, único edifício do aquartelamento.

Durante o dia, a carne dos homens ficava mole. Ainda bem que só havia ataques à noite.

Era a hora do rancho. Os quinze homens do pelotão desfalcado, os nove da secção que o reforçava e os quatro condutores juntaram-se à volta das panelas fumegantes na cozinha de campanha instalada ao fundo do edifício, para receberem a sua ração e irem em seguida para a mesa de refeições, num compartimento separado por divisórias de esteira com 2 metros de altura como todos os outros que formavam as instalações do pelotão.

O impedido aproximou-se:

−  Meu Alferes, o jantar está pronto.

Trazia-lhe a amostra: sopa de feijão, batatas com bacalhau, bolachas, café instantâneo e vinho.

Provou e disse:

 Está bom.

Sentado com os três furriéis à volta duma mesa de caixotes, aguardava em silêncio que o impedido lhe trouxesse a refeição, a pensar que o tempo nunca mais passava. 

Tinha tido 26 meses de serviço militar na metrópole e já estava em África havia oito meses.

O operador rádio trouxe-lhe uma mensagem cifrada do pelotão do alferes que comandava uma guarnição a Norte, a guarnição de B
 [Bigene],  que havia pouco tempo ali tinha estado a contar-lhe do almoço com o comandante da lancha patrulha do rio C[acheu]

Tinha-lhe dito que esse comandante era uma óptima pessoa, uma vez que,  mesmo sem o conhecer, tinha atracado a lancha no cais e convidara-o para um excelente almoço. 

Não lhe apeteceu dizer que aquele almoço se destinava a ele, conforme tinha sido previamente combinado mas não tivera oportunidade de informar o comandante da lancha do desvio que lhe fora imposto e da alteração das instruções do quartel-general.

Na referida mensagem indicava-se em pormenor todo o percurso dos guerrilheiros treinados num campo junto à fronteira do S
 [enegal]. que passavam na região Norte, atravessavam no rio junto à povoação de
K[3],  onde recebiam apoio logístico e seguiam depois por um trilho a corta-mato até à estrada que passava a alguns km do seu aquartelamento, entrando depois na zona que o inimigo pretendia dominar, lutando por ocupar e controlar um território que lhe parecia estrategicamente propício.

Depois do café disse aos furriéis :

− Vamos arrasar o 
K[3].

− Fica a 30 kms.

 Por isso não nos esperam.

Levantou-se da mesa e foi fumar um cigarro sentado do lado de fora do edifício. Não havia vento. O calor continuava a encharcar-lhe o corpo. Tinha anoitecido. As estrelas mal se descortinavam por entre a humidade do ar. Devia ser aí que habitavam as coisas certas e decentes. Dentro em pouco viria mais uma das repentinas trovoadas da época, a descarregar água por todo o lado, a inundar tudo.

Já deitado, pensava que com alguma sorte a operação correria bem. O 
K[3] era a passagem obrigatória dos abastecimentos e dos homens do inimigo, treinados junto à fronteira, que diariamente reforçavam os efectivos da região. Ali se devia esconder todo o apoio necessário à travessia do rio: canoas e barcos de borracha,  como dizia a mensagem cifrada. Nas palhotas da aldeia próxima, ouvia-se o choro de crianças assustadas.

***

Eram 4 horas da manhã. O sargento de ronda que o antecedia, foi acordá-lo:

− Meu alferes, está na hora.

Levantou-se cheio de sono, e acendeu um cigarro que apagou depois de saborear algumas fumaças com força. Deu a volta a todos os postos e parou por fim no último.

− Tudo bem?!

 
− Tudo bem, meu alferes.

Para lá do arame farpado pouco se via além do reflexo das poças de água onde centenas de rãs coaxavam no silêncio da noite. Sentou-se ao lado da sentinela a sacudir os mosquitos que lhe mordiam o corpo por cima do fato de combate.

Já no seu compartimento, estendeu-se na cama à espera do café.

Pensava nas praias da sua terra, naquela altura cheias de gente e sol e paz. Deu-lhe vontade de rir o facto da vida poder ser tão diferente.

O rádio, em escuta, fazia a zoada do costume. Ouviu o ruído dos homens a acordar e foi até à cozinha.

 Quer provar o café,  meu alferes?

 Não, obrigado.

Depois de comer chamou os 4 furriéis ao seu compartimento. Apontou um deles e disse:

 Você entra comigo no centro da aldeia.

Apontando outro disse:

 Você fica no aquartelamento.

Apontando os dois restantes disse:

 
− Vocês entram à direita e à esquerda. 100 balas a cada homem, quatro granadas de mão, uma ração de combate. Levantar às zero horas, partida à uma. Caras sujas com rolha queimada.

Apontou no mapa e disse:

 Seguimos por aqui a corta-mato durante cerca de 20 kms até onde se situa a estrada que conduz ao 
K[3].. Nesta altura estamos a 2 kms do objectivo. Seguimos a pé. Os carros estacionam escondidos. Os motoristas aguardam no máximo 8 horas pelo nosso regresso. Se não regressarmos ao fim desse tempo, voltam para o aquartelamento pela estrada. Se forem descobertos ou tiverem suspeitas disso regressam também de imediato. Se mandar retirar e dispersar, o local de reunião será sempre junto do estacionamento das viaturas mesmo depois destas terem partido. O ataque não pode demorar mais do que 15 minutos. Ao fim desse tempo retiramos à minha ordem. Se houver algum tiro prévio que nos denuncie, abandonamos o objetivo, dispersamos e retiramos para o ponto de reunião sem atacar. Vamos entrar de Este para Oeste,  destruindo tudo o que for útil ao apoio do inimigo.

Apontou um furriel e continuou :

 − O Furriel J, da 1ª secção que entra pela esquerda, vai passar no rio e com granadas de mão o seu pessoal, destrói todas as canoas assim como qualquer outro tipo de embarcação. A segunda secção dá-lhe apoio. Hoje à tarde quem não estiver de serviço deita-se e procura dormir. Podem retirar-se.   [...]

 Na madrugada seguinte, á saída da povoação  [do Olossato],  entraram no mato. As viaturas, ligadas entre si por correntes, roncavam no trilho enlameado estreito demais para elas. A vegetação rompia as capotas. Os homens seguiam em silêncio. O domínio do medo torcia-lhes as caras pintadas. De quando em quando era necessário que os guias indígenas procurassem melhores trilhos explorando o caminho mais à frente. e, em cada uma destas paragens, os soldados saltavam e escondiam-se no mato. Os motores ferviam. 

Ao fim de 3 horas, encontraram a estrada que levava a K[3]. Esconderam as viaturas e dentro em pouco os gritos da floresta tornaram-se normais. Caminhavam curvados, a um e outro lado da estrada em fila indiana, em silêncio. Parecia participarem num jogo de segredos fora do tempo, em que jogavam a vida.

A humidade diluía o suor, tornando-lhes o corpo peganhento, as roupas pesadas, repulsivas, a cara negra com riscas brancas. Pousavam os pés no chão com todo o cuidado, e investigavam com os olhos, reflexos e sombras. Sabiam bem o que os podia denunciar. 

Há mais de 1 ano que andavam metidos naquelas andanças. Agora davam mais importância  vida, porque a morte, na guerra é sempre uma derrota.

 [Ele, o alf Carvalho], seguia à frente com os guias. Em cada curva do caminho levava dois homens e avançava algumas dezenas de metros. Só depois o resto do pelotão avançava.

A terra exalava humidade e calor. Os mosquitos não os largavam há muito. Zumbido enlouquecedor,  ávido de sangue quente.

Perto da aldeia, abandonaram a estrada e redobraram as cautelas. O céu, com rasgos de luz menos escura, anunciava os sons da manhã.

Progrediam agora a dois e dois, de abrigo em abrigo. A alguns metros das primeiras cubatas, sentada no chão e encostada a um tronco velho, a primeira sentinela dormitava. Foi engolida em silêncio pelas facas de dois soldados.

Alguns cães ladraram. Farejavam sarilho. Rebentou a primeira granada. Daí em diante foram sombras vertiginosas, respirações de morte, ferro e fogo, gritos, ferro e fogo, confusão, instantes infernais, ferro e fogo, palavrões, guinchos, ferro e fogo, gemidos, correrias, aflições, ferro e fogo, e cubatas a arder reflectidas na água mole e suja do rio e tiros, tiros e explosões.

Veio depois o silêncio da retirada dispersa e rápida, corrida louca para o ponto de encontro junto das viaturas, com tiros ocasionais a persegui-los. Contou os homens já com os motores em marcha. Estavam todos. Regressaram.

***

Levantou-se. Tomou o pequeno almoço e foi passear pela povoação.

 
− Bum dia, noss' alfero.

As poucas casas dispostas dos dois lados da estrada faziam-lhe lembrar a aldeia onde tinha nascido.

O inimigo lutava o mais que podia para arranjar simpatizantes e para isso não molestava a população civil,  branca ou negra. Só em ultimo caso empregava a força.

Homens e mulheres faziam a sua vida de todos os dias como se nada houvesse, mas,  por de trás dos olhos de cada um, lá estava o terror, a duvida, a ansiedade, a insegurança da hora seguinte. Os nervos tensos à espera do mínimo sinal para fugir, recolher ao abrigo possível.

Depois da sesta da tarde, verificou a situação de todas as medidas defensivas instaladas. Esperava uma represália. Passou o resto da tarde a estudar a forma de melhorar as defesas existentes e implementar métodos de ataque em situação de fogo como sair do aquartelamento através de trincheiras etc.

A noite adivinhava-se pesada, escura, trovejante, desagradável. São estas noites que escondem medos e vergonhas, disfarces e desumanidades. Mas não são noites de guerra, porque a falta de claridade dificulta os movimentos.

Pensava em tudo isto depois de dar ordem de prevenção, e se encostar solitário junto ao abrigo duma sentinela.

Estava tudo a postos para mais um jogo de morte.

O pequeno Unimog blindado com chapas de bidão endireitadas, tinha a traseira encostada à porta principal do celeiro de amendoim que servia de aquartelamento. 

Junto a esta porta, o piso do edifício era sobrelevado em relação ao chão cerca de 1,2 metros, a fim de permitir o carregamento fácil dos camions de transporte que em tempo aí se abasteciam.

A corda amarrada ao “cavalo” de arame farpado que na vedação servia de porta, estava estendida no terreiro e entrava no interior do edifício de modo a que daqui, puxando-a,  se desobstruísse a entrada e o Unimog pudesse sair.

As metralhadoras das duas portas foram abastecidas com mais caixas de munições. Os dois morteiros, um atrás e outro à frente,  entrincheirados também.

Fora enviado para ali porque o destacamento anterior tinha sido várias vezes encurralado no aquartelamento com fogo cruzado inimigo que,  após enfiar uma metralhadora a cada porta, se passeava no povoado abastecendo-se nos estabelecimentos existentes, a troco de improvisadas requisições supostamente válidas, alardeando o seu poder e exibindo a sua melhor propaganda.

Tinha esperança de que com o seu pelotão isso nunca acontecesse.

Todas as máquinas de guerra do destacamento luziam limpas e oleadas, possivelmente satisfeitas por poderem vomitar fogo tão frequentemente. Tinham-nas feito para isso.

(Continua)

(Seleção, revisão / fixação de texto, itálicos e negritos, parênteses retos: LG)
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  
26 de junho de  2024 > Guiné 61/74 - P25684: Tabanca Grande (560): José Álvaro Almeida de Carvalho, ex-alf mil art, Pel Art / BAC, obus 8.8 m/943 (1963/65) , adido 14 meses ao BCAÇ 619 (Catió, 1964/66): senta-se no lugar nº 890, à sombra do nosso poilão