Foto do nosso amigo e camarada J. Casimiro Carvalho, ex-fur mil inf op esp/ranger, CCAV 8350 (Piratas de Guileje) e da CCAÇ 11 (Lacraus de Paunca), que passou por Guileje, Gadamael, Nhacra, Paúnca, entre 1972 e 1974...
Foto (e legenda): © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados Blogue. [ Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
Foto (e legenda): © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados Blogue. [ Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
1. Além das antiaéreas, a arma de artilharia mobilizou unidades próprias de apoio de fogos (artillharia de campanha) (#). Foram usados diversos modelos de bocas de fogo no CTIG, nomeadamente:
- os obuses britânicos 8,8 cm m/43, e 14 cm m/43, além da peça 11,4 cm m/46;
- os obuses alemães R 10,5 cm m/41 e K 10,5 cm m/41.
Na Guiné, a artilharia de campanha estava muito descentralizada, chegando a ter no final da guerra mais de 3 dezenas de Pel Art , espelhados pelo território, tanto no interior como ao longo das linhas de fronteira. Cada um dispunha em geral de 3 armas (às vezes 2).
Os Pel Art, em 1972 e 1973, estavam uniformente espalhados pelo território (de acordo com o quadro que se reproduz acima):
- Zona Oeste > 13
- Zona Sul > 11
- Zona Leste > 11
Os valores constantes do quadro são relativos sobretudo ao dispositivo em 1972 (incluindo os primeiros 29 Pel Art, numerados de 1 a 29). Depois, em 1973, foram acrescidos mais 5, chegando aos 34 do final da guerra.
Houve, entretanto, de 1972 para 1973 significativas alterações (trocas de guarnição, de modelos de bocas de fogo, etc.)
Em 1 de julho de 1973, por exemplo, o 15º Pel Art (que estave em Guileje até 22/5/1973) foi colocado em Gadamael (14 cm). E, segundo a "ordem de batalha" de 10/4/1974, é o 15º Pel Art (14 cm) que está em Gadamael (e já não o 23º Pel Art, 10,5 cm, como consta do quadro acima reproduzido).
Nessa data, em Jemberém está o 5º Pel Art (10,5 cm). E o 17º Pel Art (14 cm) está em Chugué... O 4º Pel Art (10,5 m) está em Empada... O 30º Pel Art (14 cm) mantem-se em Catió, tal como 14º Pel Art (14 cm) continua em Aldeia Formosa, e o 31º Pel Art (14 cm) em Bajocunda...
Em Buba está o 19º (14 cm) (em 1972 estava em Canquelifá)... O 2º Pel Art (10,5 cm) está agora em Fulacunda. Em Ganjauará está agora o 6º Pel Art (10,5 cm )(em 1972 estava em Tite)...
Tite, por sua vez, tem agora o 10º Pel Art (14 cm) que estava em Cuntima...
O 8º Pel Art (10,5 cm) continua em Pirada, na fronteira com o Senegal. Enquanto em Canqueliá está o 27º Pel Art (14cm) (que em 1972 estava emFarim)... O 28º Pel Art (14 cv,) que estava em Sare Bacar e Bafatá foi "socorrer" Buruntuma... Piche passa a ter o 14 cm (já não havia granadas para a peça 11,4...).
Entre Nova Lamego e Piche, ficava Dara, que continua pachorrentamente com o seu 16º Pel Art (10,5 cm). Tal como em Camaju, o 3º Pel Art (10,5 cm). Sare Bacar, na fronteira Norte, com o Senegal, contnua como 22º Pel Art e com os obuses 10,5.
Bafatá foi despromovida: o 29º Pel Art (10,5 cm) deve ter cedido auma boca de boca alguém mais aflito... O 20º Pel Art (10,5 cm) continua de pedra e cal no Xime (agira com a CCAÇ 12 como unidade de quadrícula), mas a artilharia não chega ao coração do IN (Ponta do Inglês / Poindom, margem direita do Rio Corubal), é preciso ajuda de Ganjauará (na península de Gampará)...
Na zona oeste, vemos a pacata S. Domingos com o 25º Pel Art (10,5 cm), que vem do antecente (1972). O mesmo se passa com Ingoré (33º Pel Art, 10,5 cm). E com Bachile, com o 21º Pel Art (10,5 cm). Guidaje está mais calmo, depois dos acontecimentos de maio de 1973: continua a ter lá o 24º Pel Art (10,5 cm). Em Bigene, por sua vez, a defendre a integridadeas fornteiras, está lá o 18º Pel Art, com os seus temíveis obuses 14 cm. E em Cuntima, o 23º Pel Art (10,5), que trocou com Gadamael, "a ferro e fogo" (em maio/junho de 1973): tem uma secção em Jumbembem e outra em Canjambari... (Mesmo só uma boca de fogo mantem a rapaziada do PAIGC à distância..., do outro lado da fronteira ou nas suas confortáveis imediações.)
Enfim, uma verdadeira dansa (absolutamente esquisofrénica...) da nossa artilharia de campanha, dando resposta a alterações (cada vez mais imprevisíveis) da situação militar no terreno...
Os Pel Art, no final da guerra, dão a impressão de serem como 112, ou sejam, uma "barata tonta", como aqui escreveu o cor art ref Morais Silva: não têm mãos a medir, a "apagar fogos"...
Amigos e camaradas: só com tempo, vagar e muita paciència poderíamos atualizar o quadro que elaborámos com os dados fornecidos pelo ten cor Pedro Marquês de Sousa, e que são sobretudo respeitantes ao ano 1972. (Felizmente, para ele, não conheceu os vários infernos do CTIG...).
Na Guiné a Bateria de Artilharia, sediada em Bissau (mais tarde, Grupo, GA7 / GA 7) funcionava como unidade territorial, para efeitos de instrução, administração e gestão logística). Recorria-se essencialmente a praças do recrutamento local, sendo os graduados oriundos da metrópole.
Segundo Pedro Marquês de Sousa, nas três frentes da guerra de África chegaram a estar presentes 283 bocas de fogo de artilharia (31,4% em Angola; 47% na Guiné; e 21,6% em Moçambique) (op. cit, pág. 197).
A evolução da artilharia de campanha, na Guiné, foi a seguinte ao longo do tempo:
- 1963 > 1 bateria
- 1964/65 > 6 Pel Art
- 1966/67 > 12 Pel Art
- 1968 > 15 Pel Art
- 1969 > 20 Pel Art
- 1970/73 > 29 Pel Art
- 1974 > 34 Pel Art.
Estes números também são reveladores da escalada da guerra no CTIG.
No final da guerra, predominavam os seguintes modelos de bocas de fogo:
- Obus 10,5 > 20 Pel Art
- Obus 14 > 12 Pel Art
- Peça 11,4 > 2 Pel Art (só existia no CTIG)
- Obus 8,8 > 1
As bocas de fogo eram posicionadas em espaldões dentro do perímetro dos aquartelmentos e destacamentos. Eram usadas na resposta aos ataques e flagelações do IN, mas também no apoio às NT em operações no mato.
2. Comentário do nosso camarada C. Martins,que comandou o 15º Pel Art (14 cm) em Gadamael, em 1973/74. (Beirão, hoje médico reformado, nunca se increveu formalmente na Tabanca Grande, por razões pessoais, profissionais edeontológicas, mas é um leitor assíduo e ativo, com mais de 35 referências no blogue) (##):
Caro Camarada Luís Graça:
(...) Para tua informação e de todos os camaradas, éramos reabastecidos por batelões só com granadas, espoletas e cargas e outro material só para o Pel Art.
Ía em média uma vez por mês[ o batelão]. Como é evidente, este stock foi feito durante vários meses. Não tínhamos restrições, mas conseguiu-se aumentar o stock falseando os gastos, isto é gastavámos menos do que dizíamos para Bissau. Isto tinha como única finalidade não sermos apanhados com as "calças na mão".
Nos intervalos das flagelações, coçavámos a micose mas também repunhamos granadas e etc. lavavamos os obuses ( "tocar punheta", na gíria artilheira, sim que ao lavar o tubo aquilo parecia mesmo isso), [fazíamos} pequenas reparações, etc..
Tínhamos 3 companhias, 1 Pel Art (52 militares e não trinta), 1 pelotão de canhões s/r, 1 pelotão de morteiros 81, e 2 pelotões de milícias, no total éramos à volta de 600 militares. (##)
(...) Para tua informação e de todos os camaradas, éramos reabastecidos por batelões só com granadas, espoletas e cargas e outro material só para o Pel Art.
Ía em média uma vez por mês[ o batelão]. Como é evidente, este stock foi feito durante vários meses. Não tínhamos restrições, mas conseguiu-se aumentar o stock falseando os gastos, isto é gastavámos menos do que dizíamos para Bissau. Isto tinha como única finalidade não sermos apanhados com as "calças na mão".
Nos intervalos das flagelações, coçavámos a micose mas também repunhamos granadas e etc. lavavamos os obuses ( "tocar punheta", na gíria artilheira, sim que ao lavar o tubo aquilo parecia mesmo isso), [fazíamos} pequenas reparações, etc..
.Quando era necessário vinham mecânicos de Bissau no mesmo dia de heli até Cacine e depois de sintex ou zebro até Gadamael.
Onde guardávamos tanto material ? No paiol, obviamente, que tinha a porta aberta e cada um servia-se à vontade. Um dia dei-me ao trabalho de contar os cunhetes de munições de G3 e cheguei aos 400 e depois desisti.
Cada granada pesava 45 kg (...) e cada tiro custava 2.500$00 [c. 600 euros, a preços de hoje].
Onde guardávamos tanto material ? No paiol, obviamente, que tinha a porta aberta e cada um servia-se à vontade. Um dia dei-me ao trabalho de contar os cunhetes de munições de G3 e cheguei aos 400 e depois desisti.
Cada granada pesava 45 kg (...) e cada tiro custava 2.500$00 [c. 600 euros, a preços de hoje].
Tínhamos 3 companhias, 1 Pel Art (52 militares e não trinta), 1 pelotão de canhões s/r, 1 pelotão de morteiros 81, e 2 pelotões de milícias, no total éramos à volta de 600 militares. (##)
Notas do editor:
(#) Último poste da série > 18 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26162: Elementos para a História dos Pel Art - Parte I: Manuel Friaças, ex-fur mil art. 1º Pel Art (14 cm) (Cameconde e Cacine, 1971/73); vive em Aljustrel
4 comentários:
Impõe-se publicar o quadro com o dispositivo da artilharia de campanha em 10 de abril de 1974, no final da guerra... Houve de facto muitas "mexidas"...De qualquer modo, a ideia é ajudar a recosntituir a história dos nossos valentes artilheiros....
Um território tão pequeno, do tamanho do Alentejo, concentrava quase metade das bocas de fogo da nossa artilharia de campanha... Dá que pensar... LG
Entre Nova Lamego-Piche são 30 km e de Piche a Cabuca outros 30 km (linha recta).
Quer dizer que os 11,4 de Piche não ajudavam Nova Lamego e também a Cabuca.
Depois em 1971, já não é do meu tempo, com os 10, 5 em Dara parece terem ficado mais
"resguardados".
Como curiosidade, os 10,5 de Paunca mudavam de direcção da posição durante o dia e a posição à noite.
Valdemar Queiroz
….. na Guiné, a Bataria de Artilharia, BAC1, mais tarde GAC7 e por último GA7……(Domingos Robalo)
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