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segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26162: Elementos para a História dos Pel Art - Parte I: Manuel Friaças, ex-fur mil art. 1º Pel Art (14 cm) (Cameconde e Cacine, 1971/73); vive em Aljustrel




Foto nº 1 e 1A > Guiné > Região de Tombali > Cameconde > 1º Pel Art > 1972 (?)






Foto nº 2 e 2A > Guiné > Região de Tombali > Cacine > 1º Pel Art > 1973


Foto nº 3  > Guiné > Região de Tombali > Cameconde > 1º Pel Art > c. 1971/72



Foito nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Cacine > CCAÇ 2520 e  1º Pel Art  / > c. 1972  > Messe de sargentos (?)





Foto nº 5 e 5A > Guiné > Bissau > "Convívio durante um patrulhamento ao arame em Bissau 1973". (Publicado na página "Guiné-Recordações", Grupo Privado, 29 de março de 2022, 15:21)

Fotos (e legendas): © Manuel Friaças (2022). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Há um défice muito grande de informação sobre os Pel Art (Pelotões de Artilharia) que passaram pelo CTIG (integrados no BAC / BAC1 e depois, a partir de 1 de julho de 1970, no GAC1 / GA7).

 No final da guerra, eram mais de 3 dezenas, 34 ao todo... Só temos, no nosso blogue, referências (e para mais sucintas) a dezanove.


O que tem mais referências (=43) é o 23º Pel Art, que esteve em Gadamael, Cacine e Cuntima, graças aos postes de camaradas como, entre outros:

  • Manuel Vaz (Gadamael, 1965/67);
  • Vasco Pires (Gadamael, 1970/72);
  • Tibério Borges (Cacine, Cameconde, Gadamael e Bedanda, 1970/72);
  • Humberto Nunes (Gadamael e Cuntima, 1972/74);
  •  C.Martins (Gadamael, 1973/74)...

Vamos inaugural uma série com o título "Elementos para a História dos Pel Art". E vamos começar  pelo 1º Pel Art (14 cm), de que fez parte o Manuel Friaças, ex-fur mil art. Esteve em Cameconde e Cacine, entre 1971 e 1973. E, por exclusão de partes, só pode ter pertencido ao o 1º Pel Art (que não parece ter existido antes de 1971).

Encontrei, até agora, cinco fotos dele no Facebook. Ele tem uma página mas com uma muita reduzida atividade (não tem nenhuma publicação disponível). 

Também colaborou pontualmente na página  Escola Prática de Artilharia (Grupo Público), com um comentário.  Outra página, a dos Antigos Combatentes da Guiné (Grupo Público) reproduziu, sem qualquer edição, quatro fotos do seu álbum.

Na página da Escola Prática de Artilharia o Manuel Friaças comentou: 

"Estive nesse GI [Grupo de Instrução, da EPA] de abril a junho de 1971 e  [ fui 1º] cabo miliciano na 4ª BBF até setembro de 1971, data da mobilização para a Guiné" (9 de setembro de 2024, 14:24).

Na sua página pessoal, tem escassos elementos sobre si e a sua atividade operacional. Além das fotos que reproduzimos (depois de editadas, e que vinham sem legenda ou escassa informação sobre a data e o local), ficámos a saber que o Manuel Friaças:

(i) é alentejano de Aljustrel, onde de resto vive;

(ii) trabalhou na antiga Direcção Geral das Contribuições e Impostos (DGCI) (hoje Autoridade Tributária);

(iii)  estudou em Universidade de Évora.

Presume-ser que esteja reformado, sabendo-se que deve ter nascido por volta de 1949. Não temos o seu email. Mas fica desde já convidado a integrar a nossa Tabanca Grande. Tomamos "emprestadas" estas fotos, que são os primeiros elementos que encontramos para a história do 1º Pel Art.  Oxalá apareçam mais, dele e doutros camaradas.

2. Na época em que o nosso camarada Friaças esteve no CTIG, em rendição individual (1971/73), o 1º Pel Art esteve em Cameconde (1971/72) e depois foi transferido para Cacine (1973).


Em 1 de julho de 1971, o dispositivo das NT no subsetor de Cacine  / Setor S3 (BCAÇ 2930, Catió) era o seguinte:

  • CCaç 2726 (-) >  Cacine | 2 Pel  > Cameconde
  • 1º Pel Art (14 cm)  > Cameconde
  • Pel Mil 261/CMil 21 > Cameconde
  • Pel Mil 262/CMil 21 > Cacine
  • Pel Mil 263/CMil 21 > Cacine
Em 1 de julho de 1972, o dispositivo das NT no subsetor de Cacine  / Setor S3 (BCAÇ 2930, Catió) era o seguinte:

  • CCaç 3520 (-) > Cacine | 2 Pel Cameconde
  • 1° Pel Art (14cm) > Cameconde
  • Pel Mil 261 > Cacine (Reordenamento)
  • Pel Mil 262 (-)  > Cacine | 1 Sec > Cacine (Reordenamento)
  • Pel Mil 263 > Cacine

E,m 1 de julho de 1973, o 1º Pel Art (14 cm) estava em Cacine, subsetor de Cacine, COP 5, sendo a companhia de quadrícula a CCAÇ 3520 (com 2 pelotões em Cameconde e 1 no subsetor de Gadamael-Porto). Havia mais as seguintes subunidades no subsetor de Cacine:

  • Pel Mil 261 > Cacine (Reordenamento)
  • Pel Mil 262 (-) > Cacine | 1 Sec Cacine (Reordenamento)
  • GEMil  263  >  Cacine
  • CArt 6552/72 > Cameconde
  • Pel Rec Fox 3115 >  Cacine
Em 10 de abril de 1974, o dispositivo militar era o seguinte ( além do DFE 22. temporariamente em Cacine, e às ordens do Comando do COP 5):
  • CCav 8354/73 > Cacine
  • 1° Pel Art (l4 cm)  > Cacine
  • CArt 6552/72 >  Cameconde
  • Pel  Rec Fox 8871/73 >  Cacine
  • Pel Mil 261 > Cacine (Reordenamento)
  • Pel Mil 262 (-) > Cacine | 1 Sec > Cacine (Reordenamentp)
  • GEMil 263 > Cacine
Fonte: Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume: aspectos da actividade operaciona. Tomo II: Guiné, Livro III, Lisboa: 2015,  554 pp.

PS - Não encontrámos quaisquer referências ao 1º Pel Art anteriores a 1971, nos livros da CECA, 6º volume (aspectos da actividade operaciona), tomo II (Guiné), Livros I e II. 

3. Fichas de unidade > BAC / BAC1 e GAC7/GA7

3.1. Bateria de Artilharia de Campanha | Bateria de Artilharia de Campanha nº  1

Identificação BAC | BAC 

Cmdt (a): Cap Art António Soares Fernandes | Cap Art Carlos Rodrigues Correia | Cap Art José Júlio Galamba de Castro | Cap Art João Carlos Vale de Brito e Faro |! Cap Art Ernesto Chaves Alves de Sousa | Cap Art José Augusto Moura Soares (a) (Os Cmdts Btr são apenas indicados a partir de 1jan61)

Divisa: "Os Olhos na Pátria e a Pátria no Coração"
Início: Anterior a 1jan61 | Extinção: 30kun70

Síntese da Actividade Operacional

Era uma subunidade da guarnição normal, com existência anterior a 1jan61 e foi constituída por quadros metropolitanos e praças indígenas do recrutamento local, estando enquadrada nas forças do CTIG então existentes.

Inicialmente, destacou efectivos para guarnecer algumas localidades até à chegada de forças de Caçadores, nomeadamente para Bissorã, de finais de abr61 a meados de ag061 para Mansabá, de finais de abr61 a princípios de nov61 e para Enxalé, de princípios de jun61 a princípios de nov61.

Após ter destacado pelotões de material 8,8 cm para Mansabá, a partir de 10ut63, para Bissorã, de 6nov63 a 24dez63, para Olossato, a partir de 24dez63 e para Catió, a partir de 4fev64 - este destacamento, inicialmente, para apoio da operação "Tridente", nas ilhas de Como, Caiar e Catunco, continuou a formar pelotões para atribuição em apoio de fogos a diversas guarnições. 

Assim, constituiu durante o ano de 1964 mais três pelotões, em 1966 mais seis pelotões, dos quais, três de material 11,4 cm e em 1967 mais três pelotões, estes de material 14 cm.

Em 1abr67, a subunidade passou a designar-se Bateria de Artilharia de
Campanha n.º 1.

A partir de 1968, os pelotões de 8,8 passaram a ser equipados com material de 10,5 cm, tendo ainda sido formados mais 7 pelotões de 10,5 e mais 4 pelotões de 14 cm, um dos quais, por extinção de um pelotão de 11,4 cm.

A localização dos pelotões foi caracterizada fundamentalmente pela capacidade de atuação sobre as linhas de infiltração do inimigo e de reação aos ataques sobre os aquartelamentos fronteiriços, como S. Domingos, Guidage, Cuntima, Buruntuma, Cabuca, Aldeia Formosa, Guileje e Cameconde, entre
outras e para prolongar as acções de fogo sobre as áreas de refúgio tradicionais do Morés, Tiligi, Caboiana, Quínara, Tombali e Cubucaré, entre outras.~

Em 1out70, a subunidade foi extinta e os seus meios foram transferidos para o GAC 7, então criado.
Observações - Não tem História da Unidade.

3.2. Grupo de Artilharia de Campanha nº 7 | Grupo de Artilharia nº 7

Identificação:  GAC 7 | GA 7

Cmdt: TCor Art António Luís Alves Dias Ferreira da Silva | TCor Art António Cirne Correia Pacheco | TCor Art Martinho de Carvalho Leal |! Maj Art José Faia Pires Correia

2.° Cmdt (a): Maj Art João Manuel de Magalhães Melo Mexia Leitão | Maj Art José Joaquim Vilares Gaspar | Maj Art Martinho de Carvalho Leal | Maj Art José Faia Pires Correia | Cap Art Jaime Simões da Silva | (a) só a partir de 27mar71

Divisa:
Início: 1jul70 | Extinção: 140ut74

Síntese da Actividade Operacional

A unidade foi criada em 1jul70, a partir dos meios de Artilharia da BAC 1, os quais já englobavam, na altura, 114 bocas de fogo constituídas em 27 pelotões, dos quais 16 pelotões eram de material 10,5, 2 pelotões de 11,4 e 9 pelotões de 14. 

Posteriormente, foram ainda organizados mais um pelotão de 10,5, em 1972 e mais um pelotão de 8,8, outro de 10,5 e dois pelotões de 14, em 1973.

Na sequência da missão da BAC 1, continuou a exercer o comando e controlo técnico dos diferentes pelotões colocados em apoio de fogos das diversas guarnições do interior, tendo comandado e coordenado diversas acções de fogo sobre bases inimigas situadas junto da fronteira. 

Comandou e coordenou ainda a atividade das subunidades de AA (antiaéreas).

Em 14nov70, passou a designar-se Grupo de Artilharia n.º 7, a fim de harmonizar a sua designação com o comando e controlo de baterias de AA, entretanto colocadas na Guiné, de acordo com despacho ministerial de 11ag070.

Após a recolha dos pelotões existentes, de acordo com o plano de retracção do dispositivo, a Unidade foi desactivada a partir de 2set74, tendo sido posteriormente extinta.

Observações - Não tem História da Unidade.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 658/661.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25727: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (2): "Quando tinha seis anos metera-se-lhe na cabeça que queria ser padre"



Capa do livro "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", de João Gaspar Carrasqueira (pseudónimo do nosso camarada A. Marques Lopes) 
(Lisboa, Chiado Editora, 2015, 582 pp. ISBN: 978-989-51-3510-3, 
Colecção: Bíos, Género: Biografia).



Dedicatória autografada: "Para o Luís Graça, com muita amizade. 
A.Marques Lopes, 17.09.15"



Beja  > Penedo Gordo > 30 de setembro de 1951 > O A. Marques Lopes, 
aos sete anos, com a mãe e um "canito" ao colo.


"Lembranças de Julho de 1995. Eduardo, era o meu pai, avô do Francisco, morreu há 26 anos: Hélder António, meu sobrinho, filho do Fernando Vale, morreu há dois meses; Fernando Vale, meu cunhado, morreu há 13 anos. Francisco, meu filho, está vivinho da costa com 29 anos." (A. Marques Lopes, página do Facebook, 24 de dezembro e 2023, 18:57)

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2023). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


"O MEU HISTORIAL", por A. Marques Lopes (Lisboa, 1944-Matosinhos,2024)

(i) 1944-1951 – Nascido em Lisboa, na Mouraria, acabou por ir viver no Alentejo, até aos 7 anos (Penedo Gordo, arredores de Beja), por razões de saúde da mãe;

(ii) 1951/1955  – Instrução Primária nas Oficinas de S. José, em Lisboa;

(iii) 1955/1964  – Seminário;

(iv) 1964/1965 – Trabalha nos Armazéns da AGPL (Administração Geral do Porto de Lisboa) e frequenta a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa;

(v) janeiro 1966/julho 1966 - COM (Curso de Oficiais Milicianos) na EPI (Escola Prática de Infantaria) em Mafra, onde tiru a especialidade de atirador de infantaria ( o seueu instrutor foi o tenente Chung Su-Sing);

(vi) julho 1966 /  dezembro 1966 – Aspirante no RI1 (Regimento de Infantaria nº 1) na Amadora;

(vii) dezembro 1966 / abril 1967 –  Instrutor de um pelotão da CART 1690 (Companhia de Artilharia nº 1690) em Torres Novas e Oeiras, unidade mobilizada para o Ultramar;

(viii) 15abril1967  – Chegada à Guiné como alferes da CART1690; a companhia foi colocada, logo no dia seguinte, na zona do Oio (Geba, Banjara, Cantacunda e Camamudo);

(ix) agosto 1967 – Ferido por uma mina AC/: nesse período tinha participado, como comandante de um Grupo de Combate, em oito operações: numa delas (24 de junho de 1967) foi dado como “desaparecido em combate”;

(x) setembro1967– Evacuado para o HMP (Hospital Militar Principal), de Lisboa por ferimentos em combate;

(xi) maio1968 – Reenviado para a Guiné e colocado na CCAÇ 3 (Companhia de Caçadores nº 3, de naturais da Guiné) em Barro, a 3 kms. do Senegal; participou em 36 operações como comandante de um Grupo de Combate;

(xii) março 1969  – Regresso à Metrópole e passagem à disponibilidade; depois disso e até ao 25 de Abril teve participação em acções contra o regime e a guerra colonial;

(xiii) reingresso no Exército por disposições estabelecidas após o 25 de Abril (Decreto-lei 43/76 do Conselho da Revolução); passagem à Reforma Extraordinária como Coronel em 2000;

(xiv) Membro da Direcção da Delegação do Norte da Associação 25 de Abril.

Fonte: Adapt. de A. Marques Lopes (página do Facebook, 2 de abril de 2024, 17:15)

  

O melhor de... A. Marques Lopes (1944 - 2024) (2) > 

Quando tinha seis anos metera-se-lhe na cabeça 
que queria ser padre


O pai e a mãe, bem como os seus avós, bisavós e trisavós nasceram todos no Alentejo, no Baixo, e talvez os de antes também, mas isso não sabia ao certo. Já falara sobre isso, sobre as raízes e a árvore genealógica da família, mas o pai riu-se dizendo-lhe que essa árvore era um chaparro com raízes fundas, como há muitos nos montados. 

Lembravam-se dos seus antepassados diretos mais chegados mas não conseguiam ir muito longe. A mãe foi ceifeira que andava à calma , lembrava-se bem desta canção, e o pai foi tratorista nos campos dos latifundiários, rasgando-os com aivecas . Pensa que foi por isso que lhe acrescentaram a alcunha Aiveca ao nome próprio, sendo conhecido lá na terra como Eduardo Aiveca. 

Mas a vida era má, contaram-lhe da miséria e da fome passada, razão por que tinham vindo para Lisboa na tentativa de encontrar melhor. Foi por isso que nascera na maternidade Magalhães Coutinho, ali para os lados da Estefânia. O pai quis pôr-lhe o nome de António Aiveca mas o registo civil do Socorro não deixou acrescentar Aiveca,  pois não era o apelido que ele tinha no bilhete de identidade. Mas a família sempre o tratou assim e assumiu esse nome toda a vida. 

Até porque, após o nascimento, só passara um anito na Rua da Mouraria. A mãe adoeceu dos pulmões e o médico disse-lhe para ir apanhar ares para o campo, lá para baixo. Fora com ela, ainda bebé, e ali ficou sete anos. Lá na terra sempre foi tratado por António Aiveca, o filho do Eduardo Aiveca. Não desgostava do nome.

Quando tinha seis anos metera-se-lhe na cabeça que queria ser padre. Não havia pároco a residir no Penedo Gordo, devido à extrema miséria dos assalariados rurais que constituíam a grande maioria da população da aldeia e porque a maior parte deles não ligava grande coisa às questões da religião. Só aos domingos é que o seminário de Beja mandava um padre para que os crentes pudessem cumprir os seus deveres dominicais. 

Nessa altura ia à igreja com a avó Rosário. Os avôs Salustiano e João, materno e paterno, não ligavam, nem os tios, a mãe não ia porque estava doente, dizia ela, mas sempre lhe pareceu a ele que também não ligava muito àquilo. A avó Violante, a mãe do seu pai, nunca a vira na igreja. Mas ele gostava de ver o senhor prior com aquelas vestes bonitas, as campainhas, a solenidade, e o respeito de todos os que lá estavam impressionavam-no muito. Todas aquelas cores, luzes e sons eram uma maravilha. Os revérberos do sol através dos vidros coloridos das janelas exerciam o mesmo efeito que qualquer coisa extraterrestre poderia exercer, encantamento, espanto e redobrado respeito. 

Era bonito, também queria ser padre. Tanto insistiu com a mãe que esta, num dia que teve de ir a Beja, levou-o ao seminário para lá ficar. O reitor ficou encantado, sorriu e afagou-lhe a cabeça. Mas recomendou-lhe, depois, com ar sério que tinha primeiro de tirar a 4ª classe e deu-lhe uma mancheia de rebuçados. Deixou-o contente e muito esperançado de um dia poder igualmente viver no meio de tantas maravilhas, numa casa enorme e bonita como aquela e ter sempre à mão quantos rebuçados quisesse.

Estas lembranças ainda agora eram agradáveis e o faziam sorrir. Mas queria ver mais algumas páginas.

A. Marques Lopes, quando 
jovem

Quando completara sete anos regressou a Lisboa. No período seguinte, até completar a instrução primária, andou pelas ruas da capital. O seu fascínio e bulício substituíram o anterior encantamento das luzes e colorido da igreja da aldeia alentejana. Não foi, no entanto, porque deixasse de estar em contacto com padres e igrejas. Pelo contrário. Através de umas senhoras protectoras dos pobrezinhos entrou para uma escola dirigida por padres. O contacto com as coisas sagradas passou a obrigatório. Missa diária, oração diária, e grandes castigos para quem faltasse. 

Mas o contacto com a cidade foi mais forte. Grandes e belas gazetas deram-lhe muitas tardes de brincadeira no jardim da Estrela, no Parque Eduardo VII, no Castelo de S. Jorge, por toda esta Lisboa, enfim. Com outros gazeteiros mais afoitos foram grandes caminhadas para tomar 
banho, em cuecas, na praia de Algés.

Na altura, os pais moravam numa parte de casa em Campo de Ourique. Sempre que conseguia uns tostões enfiava-se no Paris ou no Europa para ver filmes de aventuras. Mas o ambiente preferido era o jardim da Parada , aquele jardim era maravilhoso. Pequeno, mas cheio de gente, de rãs, de peixes e de carros a abarrotar de gelados era um jardim enorme para os miúdos. Permitia brincadeiras de índios e cowboys, polícias e ladrões, provas de resistência em corridas à volta do jardim, torneios de caricas nas bordas dos passeios, sessões de anedotas picantes promovidas pelos mais espigadotes, histórias de bruxas e lobisomens. Havia também jogos mais suaves com as miúdas da mesma idade, o jardim da Celeste, mais um par de jarras que na roda entrou, a vida do marujinho é uma vida amargurada, jogar aos casados…
 
Tinha saudades disso. Muitas recordações deixara naquele jardim. Célia, Maria João, Maria Emília, não conseguia esquecê-las. Nem queria. Principalmente a Célia com aquela trança caída sobre o peito, vestido de fantasia e olhos gaiatos. 

É triste ver tudo isso já atrás sem poder voltar, principalmente nos momentos em que a tristeza e o desalento ferem o coração e em que a vida real, com as suas vicissitudes, tortura o pensamento. Quem lhe dera voltar a ser criança como fora naquela altura, para não ser atormentado por pensamentos em luta, como estava agora.

A. Marques Lopes

(Seleção, revisão/fixação de texto, negritos, para efeitos de publicação deste poste: LG) (Com a devida vénia...)

PS - António Aiveca é o protagonista do livro "Cabra Cega", um "alter ego", do autor, que usou outro "alter ego", João Gaspar Carrasqueira, para "assinar" a obra... 

O recurso a pseudónimos literários é muito frequente entre militares: Carlos Vale Ferraz (cor cav 'cmd' ref Carlos Matos Fomes), Manuell Andrezo (ten gen ref Aurélio Manuel Trindade, 1933-2024), João Gaspar Carrasqueira (cor inf DFA António Marques Lopes, 1944-2024)... E tantos mais, militares e civis: Carlos Selvagem (maj cav Carlos Tavares de Andrade Afonso dos Santos, 1890-1973), Miguel Torga (médico Adolfo Correia da Rocha, 1907-1995), Júlio Dinis (médico Joaquim Guilherme Gomes Coelho, 1839-1871), etc.

Nos últimos meses de vida, o António escreveu imenso no seu Facebook, e retomou algumas das melhoras páginas do seu livro autobiográfico, "Cabra Cega", entretanto publicado também no Brasil, com o seu nome verdadeiro, A. Marques Lopes, "Cabra Cega" (São Paulo: Paperblur, 2019).
__________

Nota do editor:

Último poste da série > 6 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25720: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (1): O meu cruzeiro no N/M "Ana Mafalda": ficámos contentes por saber que era só até à Guiné, e não até Timor...

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25193: Efemérides (427): José António Paradela (1937-2023): um ano de saudade... ("Sou um ilhéu de nome, um ilhavense, um antigo insular, mas também faço parte de um arquipélago mais vasto, que é afinal o mundo todo, à minha volta")

Ílhavo > Costa Nova do Prado > Ria de Aveiro > 25 de Agosto de 2008 > Por aqui andava o nosso Zé António,  José Antóno Boia Paradela, de seu nome completo, arquiteto e escritor, amigo de família... "Fez a tropa" na pesca do bacalhau... É membro da nossa Tabanca Grande... Com a sua morte (em 21 de fevereiro de 2023), os seus amigos também morreram um pouco...  Mas agora também eles são todos, um pouco, "ilha...venses" de nome... 


Ílhavo > Costa Nova do Prado > Ria de Aveiro > 25 de Agosto de 2008 >  O anfitrião e amigo, o ilhavense arquitecto José António Boia Paradela (pseudónimo literário, Ábio de Lápara (Ílhavo, 1937- Aveiro, 2023)


Ílhavo > Costa Nova do Prado > Ria de Aveiro > 25 de Agosto de 2008 > Costumávamo passar um dia, no verão, com o Zé António e a Matilde, na sua adorada Costa Nova, antes de seguirmos para as vindimas, para o Norte, para Candoz, nos últimos dias de agosto... Na foto, a Alice e o Zé António atolados no "tarrafo" da ria... De repente, vi-me transplantado para as margens do Geba Estreito, nas proximidades de Mato Cão, quarenta anos atrás...
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados.[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É mais do que um ano de saudade, Zé António… São muitos anos de convívio e de amizade, grande parte, afinal,  das nossas vidas, ao longo do tempo em que os nossos filhos cresceram e se fizeram homens e mulheres…  Continuamos desolados com a tua perda, irreparável.

No ano em que se comemoram também os 50 anos do 25 de Abril, não podemos deixar de evocar o teu exemplo, não apenas como criador, arquiteto e artista de obra feita, mas também como cidadão, justo e livre, e  como homem, bom, afável, culto… 

Sempre foste amigo do teu amigo, estar contigo era um prazer e uma fonte de conhecimento, tu que tocavas tantas teclas do piano da cultura humana, das artes plásticas à música, da literatura às ciências do mar, da história pátria à “epopeia da faina maior”... Tu que adoravas o mar, as Berlengas, a tua ria de Aveiro, as tuas tertúlias, um bom copo,  um bom peixe vivinho da costa, um bom marisquinho,  o ensopada de enguias da tua Costa Nova do Prado … Tu que  sempre quiseste (e lutaste por) o melhor para a tua terra e o teu/nosso  querido país.   

Por tua causa, por "mor de ti (como se diz no Norte, na terra da Alice) somos também um pouco “ilha...venses", o que para ti queria dizer: 

"Sou um ilhéu de nome, un ilhavense, um antigo insular, mas também faço parte de um arquipélago  mais vasto, que é afinal o mundo todo, à minha volta; um ilhéu, mesmo de nome,  quando deixa a sua ilha  ou a sua península, quando embarca para a Terra Nova, na “Faina Maior", ou vai para Lisboa estudar e trabalhar, nunca destrói as pontes, nunca corta o cordão dunar e umbilical que o liga ao passado e ao futuro"...

Eu e a Alice (e seguramente também o João e a Joana) não podíamos deixar de te deixar aqui uma palavrinha de ternura, à procura das peugadas cósmicas que marcam ainda os nossos trilhos em vida... Um palavra que é também de conforto para com os teus (a Matilde, o Marco, o Jorge, a tua neta, a tua nora, os teus amigos mais próximos…).

 Teu "mano" Luís.

PS – Última mensagem do seu “alter ego”, Ábio De Lápara, no Facebook (foto *a esquerda), no dia em que se despediu da Terra da Alegria:

21 de fevereiro de 2023,  14:33

Querido Facebook, o destino levou-me para um local etéreo, onde descanso agora. Como última paragem despeço-me de todos os meus amigos dia 23 na Igreja Matriz de Ílhavo, por onde andei em seu redor descalço durante a minha meninice.

Agora, o início de algo que desconheço. Parti em Paz junto dos que me amam.

Cuida da minha conta,  meu Querido , um até já.

____________

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24594: Fichas de unidade (31): BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Bula, Nhala e Mampatá, março de 1973/setembro de 74)

Tem página no Facebook > Batalhão
Caçadores 4513 



Batalhão de Caçadores n.º  4513/72


Identificação: BCaç 4513/72

Unidade Mob: RI 15 - Tomar

Cmdt: TCor Inf César Emílio Braga de Andrade e Sousa | TCor Inf Carlos Alberto Simões Ramalheira | Maj Inf Duarte Dias Marques

2º Cmdt: Maj Inf Duarte Dias Marques

OInfOp/Adj: Cap Inf Jorge Feio Cerveira

Cmdts Comp:

CCS: Cap SGE Carlos Santos Pereira | Alf SGE Jerónimo dos Santos Rebocho Carrasqueira


1ª  Comp: Cap Mil Inf João Luís Braz Dias

2ª  Comp: Cap Mil Inf Domingos Afonso Braga da Cruz | Cap Mil Inf grad José António Campos Pereira

3ª  Comp: Cap Mil Cav João Carlos Messias Martins Cap Mil Inf Joaquim Manuel Guerreiro Dias

Divisa: "Non Nobis" (em latim quer dizer "não para nós"...)

Partida: Embarque em 16Mar73; desembarque em 22Mar73 | Regresso: Embarque em 03Set74 (3.ª Comp), 04Set74 (2ª Comp) e 06Set74 (Cmd, CCS e 1ª Comp)

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 26Mar73 a 22Abr73, no CIM, em Bolama, seguiu, em 27 Abr73, para o sector de Aldeia Formosa, com as suas subunidades, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com o BCaç 3852.

Em 13Mai73, após o final do treino operacional, ficou, com as suas subunidades, na dependência operacional do referido BCaç 3852, que manteve, entretanto, a responsabilidade do sector, sendo orientado para reforço da contrapenetração e reacções à pressão inimiga na área.

Em 27Jun73, passou a batalhão de intervenção do CAOP 1, orientado para a interdição do corredor de Missirá e acções na região de Nhacobá, estabelecendo a sede em Cumbijã a partir de 29Jun73, integrando as forças instaladas em Cumbijã e Colibuia, além das suas próprias subunidades estacionadas no sector S2, em Aldeia Formosa e Mampatá.

Em 10Ag073, rendendo então o BCaç 3852, assumiu a responsabilidade do referido Sector S2, com a sede em Aldeia Formosa e abrangendo os subsectores de Buba, Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa. 

Em 06Set73, a função de intervenção já anteriormente executada pelo batalhão foi temporariamente atribuída ao BCaç 4516/73 até 30Out73.

Desenvolveu intensa actividade operacional, tendo comandado e coordenado diversas acções e operações e a realização de patrulhamentos, reconhecimentos e acções de vigilância da fronteira e de contrapenetração. 

A par disso, actuou ainda na protecção aos trabalhos de abertura e melhoramento de itinerários e de segurança e defesa das populações e da sua promoção socioeconómica.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 1 metralhadora ligeira, 5 espingardas, 1 lança-granadas foguete, 61 granadas de armas pesadas e a detecção e levantamento de 30 minas.

A partir de 07Ag074, comandou e coordenou a execução do plano de retracção do dispositivo e a desactivação e entrega dos aquartelamentos ao PAIGC, a qual foi sucessivamente efectuada nos subsectores de Mampatá, em 29Ag074, de Aldeia Formosa, em 31Ag074, de Nhala em 02Set74 e de Buba, em 04Set74. 

Em 31Ag074, foi transitoriamente deslocado de Aldeia Formosa para Buba, onde se manteve até à desactivação e entrega do aquartelamento em 04Set74, após o que recolheu a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

***

A 1ª Comp, após o treino operacional no subsector de Buba com a CCaç 3398, sob orientação do BCaç 3852, passou a reforçar a actividade daquela subunidade no esforço realizado de contrapenetração no referido subsector e depois integrada no seu batalhão, na função de intervenção que lhe foi atribuída, tendo-se instalado, a partir de 17Mai73, em Mampatá.

Em 15Ag073, rendendo a CCaç 3398, assumiu a responsabilidade do subsector de Buba, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 04Set74, após a desactivação e entrega do aquartelamento ao PAIGC, recolheu a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

***

A 2ª Comp, após a realização do treino operacional na região de Nhala com a CCaç 3400, sob orientação do BCaç 3852, foi deslocada para Aldeia Formosa, a fim de colaborar na segurança dos trabalhos da estrada Mampatá-Nhacobá. Em 29Jun73, integrando o seu batalhão na função de intervenção, instalou-se em Cumbijã.

Em l8Ag073, rendendo a CCaç 3400, assumiu a responsabilidade do subsector de Nhala, onde se manteve até à desactivação c entrega do aquartelamento, em 02Set74, recolhendo então a Bissau para efectuar o embarque de regresso.

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A 3ª Comp, após a realização do treino operacional na região de Aldeia Formosa com a CCaç 3399, sob orientação do BCaç 3852, passou a reforçar o esforço de contrapenetração realizado por aquela subunidade no referido subsector.

Em 211un73, mantendo-se em Aldeia Formosa, ficou integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão, então em função de intervenção naquela zona de acção.

Em 13Ag073, substituindo a CCaç 3399, assumiu a responsabilidade do subsector de Aldeia Formosa, no sector do seu batalhão.

Em 31Ag074, após desactivação e entrega do aquartelamento, recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 113 - 2.ª  Div/4.ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 170/172.

2. Comenmtário do editor LG:

Militares deste batalhão que integram o nosso blogue, ou sejam, fazem parte da Tabnca Grande, a "mãe de todas as tabancas"...

(i)  da 1ª companhia (Buba, 1973/74), o camarada Manuel Oliveira,  bem com o António Alves da Cruz a mais recente admissão, o nº 880, com convite pendente desde... 2014!)),  

(ii) da 2ª companhia, já cá temos, há muito,  o António Murta, ex-alf mil inf Minas e Armadilhas (que tem mais de 90 referências, sendo autor da notável série "Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513"); e ainda o José Carlos Gabriel (ex-1.º Cabo Cripto): ambos estiveram en Nhala, 1973/74 (estiveram em Aldfeia Formosa, Cumbijã e Nhala);

(iii) há  um quinto camarada, o Fernando Costa (ou Fernando Silva da Costa), ex-fur mil trms d
a CCS/BCAÇ 4513, que esteve em Aldeia Formosa (infelizmente já falecido, em 2018, segundo informação da página do Facebook, do batalhão; tem 17 referências no nosso blogue, para o qual entrou em 25/10/2009; vamos fazer-lhe um poste In Memoriam: só agora, cinco anos depois temos conhecimento desta triste notícia).
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domingo, 2 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23662 Voltamos a recuperar as antigas cartas da província portuguesa da Guiné, um dos recursos mais preciosos do nosso blogue - Parte II: De Cabuca a Fulacunda


Rosto da página pessoal de Luís Graça, socólogo, "Saúde e Trabalho", criada em 1999, e alojada, até a meados de 2022, no sítio da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa, que foi entretanto reformulada. 

A página (www.ensp.unl.pt/luis.graca) pode agora voltar a ser consultada no Arquivo.pt, da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia. Foi aqui, nesta página, que começou a aventura do blogue "Luis Graça & Cmaradas da Guiné", o maior blogue em língua portuguesa criado em 2004 e mantido por antigos combatentes da guerra colonial / guerra do ulltramar na antiga colónia ou província ultramarina portuguesa  da Guiné, abarcando o período de 1961 a 1974. 


1. Estamos a recuperar as cartas (ou mapas) da Guiné,  dos Serviços Cartográficos do Exército, que estavam alojadas desde finais de 2005 na página pessoal do editor Luís Graça, cujo servidor era o da Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa, e que ficaram temporariamente, indisponíveis, há alguns meses atrás.

Mais concretamente estavam alojadas numa pasta institulada " Luís Graça e Camaradas > Subsídios para a História da Guerra Colonial"...De qualquer modo, honra seja feita ao departamento de informática da ENSP/NOVA, os ficheiros da minha página foram-lhe devolvidos, represnetando 263 Mb de dados (5 mil ficheiros, 63 pastas)...

As cartas (ou mapas) da Guiné e os demais recursos da minha antiga página passam doravante a poderem ser consultadas, de novo,  "on line", no Arquivo.pt.(https://arquivo.pt):
 
O Arquivo.pt é uma poderosa infraestrutura de investigação, mantida pela FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia, que permite pesquisar e aceder a páginas da web arquivadas desde 1996. 

O principal objetivo é a preservação da informação publicada na Web  portiguesa para fins de investigação.

É sabido que, passado um ano, apenas 20% de um conjunto de endereços se mantêm válidos. E nada mais irritante e frustrante para os utilizadores da Net (incluindo os investigadores, das mais diversas áreas,  História, Sociologia, Linguística, etc.) do que  encontar "links quebrados".

Isto quer dizer o quê, no nosso caso  ? Que muitas nossas páginas, entusiástica e generosamente  criadas e mantidas, por antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial, deixam de aparecer e perdem-se irremediavelmente... Foi o caso de muitas páginas ou sítios que nós seguíamos e que, por essa razão, deixámos de listar no nosso blogue (já não existem ou os links estão quebrados).

Infelizmente, não sabemos se há uma inventário das páginas criadas neste domínio, sobretudo desde há duas décadas para cá. Algumas foram criadas em servidores, portais ou plataformas que permitiam o alojamento gratuito de páginas pessoais ou arquivo de fotos, e que hoje já nem sequer existem ou que passaram a cobrar pelos seus serviços: estou-me a lembrar do portal Terravista, por exemplo, onde eu comecei a publicar na Net,e onde tive uma página; ou do portal Sapo (inicialmenet criado em 1995 pelo Centro de Informática da Universidade de Aveiro); ou do Photobucket (cujas condições de subscrição forma alteradas em 2017, se não erro). Devíamos todos ter percebido, logo na altura, que neste mundo não há almoços grátis...

Daí o interesse do Arquivo.pt (que não deve ser confundido com o Internet Archive), permitindo "a preservação da informação publicada na Web portuguesa para que o conhecimento nela contido esteja acessível às nossas gerações futuras"... 

É o caso da página pessoal do nosso editor, "Saúde e Trabalho - Luís Graça", e o blogue que ele fundou e tem ajudado a manter desde 2004, "Luís Graça & Camaradas da Guiné"Para saber mais, ver aqui: Arquivo.pt.

O Arquivo.pt também tem uma página no Facebook: Arquivo.pt: pesquise páginas do passado.


2. Continuamos, entretanto, a repor as nossas preciosas cartas da Guiné (Escala 1/50 mil), por ordem alfabética, agora alojados no Arquivo.pt. É só carregar no link.

No final desta série continuarão a estar disponíveis na coluna estática do blogue, do lado esquerdo. Por enquanto esses links constinuam quebrados, bem como todos os topónimos que até agora (u até há alguns meses) usavam os links antigos, quando estavam alojados na página da ENSP/NOVA. Aqui vão os novos links, das cartas (de C a F):

Cabuca (1959) (inclui um troço do rio Corubal)

Cacheu / Sâo Domingos (1953) (Carta de Cacheu, inclui Cacheu, São Domingos, rio Cacheu, rio Grande de São Domingos, Caboiana...)

Cacine (1960) (inclui Cacine, rio Cacine, rio Cumbijã, parte do Cantanhez...)

Cacoca  / Gadamael (1954) (incluiu Cacoca, Sangonhã, Gadamael Porto, parte do Quitafine e do Cantanhez, rio Cacine e fronteira sudeste com a Guiné-Conacri)

Caiar  (Ilha de)  ( Como (Ilha do Como) (1959) (inclui as ilhas de Caiar, Como e Catunco, ainda o rio Cumbijã...)

Canchungo / Teixeira Pinto (1953) (carta de Teixeira Pinto, hoje Canchungo, inclui Teixeira Pinto,  Bassarel, Catequisse, Bachile / Churoenque...)


Catió (1956) (inclui Catió, Darsalame, rios Tombali, Pobreza, Cobade...)

Colina do Norte (1956) (incluin Fajonquito...)

Como (Ilha de) / Caiar (Ilha de) (1959): vd. 
Caiar  (Ilha de) (1959)

Contabane (1959) (incluin Saltinho, Contabane, rio Corubal...)

Contuboel (1956) (inclui Contuboel, Jabicunda, rio Geba...)

Duas Fontes (Bangacia) (1959) (inclui Galomaro...) 

Empada (1955) (Inclui Empada, rio Grande de Buba...)

Farim (1954) (inclui Farim, rio Farim, Canjambari, Bironque, Mansabá, K3 / Saliquinhedim...)

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23641: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (4): CCAÇ 2637, mobilizada pelo BII 18, Ponta Delgada, Açores (Teixeira Pinto, 1969/71), e a que pertenceu o fur mil enf Fernando Almeida Serrano, natural de Penamacor e futuro novo membro da Tabanca Grande




Guião e crachá da CCAÇ 2637 (Teixeira Pinto, 1969/71). 

Coleção: Carlos Coutinho (com a devida vénia...)


1. Ontem, no 49º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, em Algés, fiquei,  na mesa,  ao lado do camarada Fernando Almeida Serrano. Foi a segnda vez que ele veio a esta tertúlia, onde não conhecia ninguém. Fui eu que o puxei para a minha mesa. E tivémos uma longa, agradável, franca e proveitosa conversa. 

Fiquei a saber que era professor primário, natural de Penamacor,  conterrâneo, amigo, colega e camarada do Libério Lopes (ex-2º srgt mil, CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65). Falámos também da sua terra, e do seu ilustre conterrâneo, o médico cristão novo António Nunes Ribeiro Sanches (Penamacor, 1699 - Paris, 1783), cujas obras  (as principais, em edição moderna da Universidade da Beira Interior, em formato pdf), lhe fiquei de mandar uma cópia em próxima oportunidade. (É um dos grandes pioneiros da saúde pública, e o nosso maior médico do séc. XVIII, especialista em "males de amores", e figura que eu muito admiro; é o único português que tem uma entrada na famosa enciclopédia de Diderot e D'Alambert, Paris, 1751-1772, justamente sobre "venerologia": "Maladie vénérienne inflamatoire chronique", ou seja, "doença venérea inflamatória crónica").

O Fernando reside desde 1972 em Carnaxide, Oeiras onde deu aulas juntamente com a esposa.  Foi furriel mil enfermeiro da "açoriana" CCAÇ 2637 (Teixeira Pinto, 1969/71), de que, como é frequente, com as unidades moblizadas pelo BII 18, Ponta Delgada (e também BII 17 e BII 19), não temos nenhum representante na Tabanca Grande... A emigraçao, nomeadamente transatlântica, levou para longe muitos dos nossos camaradas açorianos e madeirenses. 

O Fernando Almeida Serrano conhece o nosso blogue e manifestou vontade em juntar-se aos 864 membros da Tabanca Grande. Tem uma forte ligação aos seus "irmãos açorianos", se bem que muitos dos antigos militares da CCAÇ 2637, tenham seguido os caminhos da emigração.  A sua casa é a casa deles, qaundo vêm ao Continente, e a casa deles, nos Açores, é a sua casa, quando ele lá vai.   

Tem uma página na Net, que eu ainda não localizei, "Guiné-Recordações" (julgamos que se trata de uma página no Facebook, de um grupo privado, com 5 mil membros, criado há 2 anos). Tem também página pessoal no Facebook. É amigo (e cunhado) do nosso grã-tabanqueiro, ten cor art ref, José Francisco Robalo Borrego (qye foi fur art,  Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau, e 9.º Pel Art, Bajocunda, 1970/72). Aporesentei-o ao António Graça de Abreu, que esteve em Teixeira Pinto, no CAOP1, em 1972, ao tempo do coronel paraqueista Rafael Durão, mas não chegaram a estar juntos, o Fernando e o António, já que a CCAÇ 2673 terminou a sua comissão em agosto de 1971.

Publicamos, para já a ficha da unidade, referente a esta companhia, mobilizada pelo BII 18.


Ficha de Unidade > Companhia de Caçadores nº 2637

Identificação: CCaç 2637

Unidade Mob: BII 18 - Ponta Delgada

Crndt: Cap Inf José Cândido de Oliveira Bessa Meneses

Divisa: "As armas não deixarão enquanto a vida não os deixar"

Partida: Embarque em 220ut69; desembarque em 280ut69 | Regresso: Embarque em OçSet71


Síntese da Actividade Operacional

Em 300ut69, seguiu para Teixeira Pinto, a fim de efectuar o treino operacional sob orientação do BCaç 2845 e substituir a CCaç 2368 no reforço àquele batalhão e depois ao BCaç 2905, como subunidade de intervenção e reserva do sector, a partir de 17Dez69, tendo realizado diversas acções nas regiões de Pechilal, Bajope e Belenguerez, entre outras.

Em 07Jan70, mantendo o comando em Teixeira Pinto, passou a orientar a sua actividade para a realização dos trabalhos dos reordenamentos de Bassarel, Bajope, Chulame, Blequisse e Batucar, este último até 150ut70, e para a promoção socioeconómica das respectivas populações.

Em 28Jun71, com a instalação da CCaç 3327 em Bassarel, transferiu a sua sede, temporariamente, para o reordenamento de Chulame, permanecendo efectivos da subunidade nos reordenamentos de Bajope e Blequisse.

Em 20Ago71, foi substituída nos reordenamentos por efectivos da CCaç 3327 e recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações > Tem História da Unidade (Caixa n.º 86 - 2.ª Div/4ª Sec, do AHM)

Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 384.

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Nota do editor:

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22763: O que é feito de ti, camarada? (14): Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3.º Gr Comb, CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)...Viúvo, acaba de fazer 72 anos, está reformado como industrial de panificação... e abriu conta no Facebook.


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7

Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Piche > Ponte sobre o Rio Caium > CCAÇ 3546 (1972/74) >  Destacamento da Ponte Caium, guarnecido pelo 3º grupo de combate, "Os fantasmas do leste",  de que fazia parte o nosso amigo e camarada Jacinto Cristina, natural de Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, 72 anos, feitos no passado dia 14 (*). 

Soldado atirador de infantaria, foi mobilizado para a Guiné, casado e pai de um filha pequena,   foi um "sem-abrigo", viveu um ano e tal em cima de um tabuleiro da Ponte Caium, com a G3 a seu lado... 

É membro da nossa Tabanca Grande desde 24/9/2010, tem cerca de 4 dezenas de referências no nosso blogue. Vive em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, reformado de padeiro e viúvo.

Fotos: © Jacinto Cristina (2010). Todos  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O que é feito deste camarada (**)  que ficou "famoso" por bater o recorde de permanência no destacamento da Ponte de Caium ?

A ponte, a padaria e o padeiro... O forno foi construído na parte inferior da ponte... Como o espaço era acanhado, tudo se aproveitava... O forno e a cozinha ficavam do lado esquerdo, no sentido Piche-Buruntuma (Foto nº 1)...

De costas, em tronco nu, vê-se o Manuel da Conceição Sobral (que vive hoje em Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém), e era o ajudante de padeiro. O Jacinto Cristina, o padeiro, está a enfornar (Foto nº 1)...

No destacamento da ponte de Caium (Foto nº 6) estava um grupo de combate, à época pertencente à CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74). O Sobral e o Cristina faziam reforço das 4 às 6 da manhã. Por volta das 5h/5h30, um deles ia amassar a farinha (12 kg / dia)... O outro ficava de reforço até às 6. Depois das seis, até às 8h/8h30, ficavam os dois a trabalhar. Às 9h já havia pão fresco... 

Todos os dias coziam. Tinham um stock de farinha que dava para um mês. Faziam uma média de 30 pães de 400 gramas, por dia. Como bons tugas, os camaradas que defendiam a ponte, adoravam pão!... O resto do dia os padeiros descansavam, ou jogavam à bola, ou brincavam no rio, quando levava água... Tabanca só havia a 3 km dali.

O Sobral era o apontador do morteiro 81 e o Cristina o municiador. Portanto, uma parelha completa!... Depois na "padaria", trocavam de papeis...Também havia um morteiro 10,7, ao cuidado do Pinto e do Algés. O 81 ficava do lado direito, à saída da ponte, no sentido de Buruntuma. O 10,7 ficava no lado esquerdo, junto ao paiol, também no sentido de Buruntuma... Mais à frente estava o 1º cabo Torrão, apontador da HK 21 (irá morrer na emboscada de 14 de Junho de 1973, na estrada Ponte Caium - Piche). Também havia o morteiro 60 e a bazuca 8,9.

O Cristina (eu trato-o sempre por Jacinto, pai da minha querida amiga Cristina Silva, enegenheira e empresária,  e sogro do meu querido amigo, o médico madeirense Rui Silva, não o  posso tratar por "doutor" que ele vai aos arames...)  tornou-se de tal maneira imprescindível (por causa do "pão nosso de cada dia") que, além de municiador (e apontador, quando necessário) do morteiro 81, ficou na ponte de Caium 14 meses!!!... (Em rigor, 13, se descontarmos o glorioso mês de férias, em abril de 1973, em que veio a casa para estar com a mulher e a filha; com ele, de férias, vieram também o Pinto, o Charlot e o Algés; no avião da TAP, uma alegria!...Já não se lembra de quanto pagou... Uma fortuna para um soldado, para mais casado e pai de filha..."Seis contos, para aí", diz-me ele.)

Diziam que o pão da dupla Cristina-Sobral era o melhor casqueiro da Zona Leste... Na foto nº 2,   o Jacinto está varrer e a limpar o forno... Na foto nº 3, está a fazer um petisco, ou não fosse ele um alentejano dos quatro costados... Na foto nº 4, está a barbear-se... Mesmo com o metro quadrado mais caro da Guiné, nas "suites" da Ponte Caium não faltava nada (Foto nº 5)... O chuveiro era um bidão de 200 litros, furado...

Terrível foi aquele período de um mês (entre meados de maio e junho de 1973) em que o destacamento esteve sem reabastecimentos, sem farinha, sem pão... Por que a fome era negra, meteram-se a caminho de Piche, no Unimog, a 14 de junho de 1973, tendo sofrido uma brutal emboscada (que não era paraceles..
) e em que morreram o 1º cabo apontador de metralhadora David Fernandes Torrão, e os soldados atiradores Carlos Alberto Graça Gonçalves ("Charlot"), Hermínio Esteves Fernandes e José Maria dos Santos...

Disse-me o Jacinto Cristina (que ficou na ponte a tomar conta do seu morteiro 81), que os corpos foram cortados em quatro, com rajadas de Kalash... O bigrupo do PAIGC (onde foram referenciados cubanos) levou cinco armas (incluindo a do furriel que foi projectado com o impacto do RPG7, juntamente com o sold cond auto Rocha, o Florimundo ).

Uns meses antes, em 19 de Fevereiro de 1973, tinha morrido o fur mil op esp Amândio de Morais Cardoso, na sequência da desmontagem de uma armadilha de caça. Essa cena passou-se debaixo dos olhos do Cristina que se salvou por um triz, ao pressentir o perigo.

Na foto nº 5, vê-se o tabuleiro da ponte por onde passava a estrada Piche-Buruntuma,,, A padaria ficava em segundo plano do lado esquerdo... A foto deve ter sido tirada no dia dos anos do Sobral, em março de 1973, a avaliar pelos dois cabritos que estão junto ao "burrinho" (o Unimog 411)... Tinham sido comprados na tabanca fula, que ficava a nordeste da ponte, a 3 km, e onde residiam as lavadeiras...

Soldado atirador, o Cristina era, como já dissemos, municiador do morteiro 81. Mas, uma vez que Piche ficava longe e era preciso fazer pão todos os dias, aprendeu a arte de padeiro (que depois seria o seu ganha-pão, em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, onde vive, hoje já refiormado; durante anos, teve um negócio próprio na área da panificação; passei várias vezes pela casa e padaria, e trazia para Lisboa o seu pão feito na hora; pude, pois, comprovar que o seu "casqueiro" era, de facto, o melhor da região).

Como se percebe pelas fotografias, as estruturas da ponte foram aproveitadas ao milímetro...

Na foto nº 6 (s/d, tirada na época seca, em 1973), o destacamento é visto da margem esquerda do Rio Caium, a sul da estrada, no sentido Buruntuma-Piche. Segundo o Carlos Alexandre (, de alcunha, "Peniche"), ao examinar melhor uma imagem destas que lhe mandei, com maior resolução, vê-se que,  à entrada do tabuleiro, estão dois camaradas que parecem ser o Cristina e o Sobral.

Um novo troço da estrada Piche-Buruntuma estava então em construção, a cargo da Tecnil. De Nova Lamego a Piche já se ia, há muito, em estrada asfaltada. Daí talvez este desvio, contornando a pontes.  O desvio é visível (parcialmente, em primeiro plano) na foto nº 6.

Na foto nº 7, pode-se ver um aspecto dos pilares da ponte... O Cristina, mais um camarada, na "hora do recreio" (ele não se recorde do nome)... Ali no rio Caium, naquela improvisada jangada, poderiam dar largas à sua imaginação de marinheiros e aventureiros... Na época seca, o rio levava pouca água... O abastecimento de água era feito mais longe, de Unimog, com segurança,

Na época seca, o rio Caium ficava seco (ou reduzia-se a um pequeno charco à volta da ponte). Este rio é um afluente do Rio Coli, que fica a sul da estrada Nova Lamego-Piche-Buruntuma e serve de linha fronteiriça entre a Guiné-Bissau e a Guiné-Conacri. (***)

Entre o destacamento e a fronteira era "terra de ninguém" mas onde o PAIGC podia movimentar-ser à vontade.

Foto nº 8


Foto nº 9

Ferreira do Alentejo  > Figueira de Cavaleiros >  2021 > O Jacinto Cristina, agora reformado, ainda vai fazendo pão  para a a família e os amigos... Fotos da sua página no Facebook.

Fotos (nºs 8 e 9): © Jacinto Cristina (2021). Todos  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 10


Foto nº 11

Ferreira do Alentejo > Figueira de Cavaleiros > 14 de novembro de 2021 > O Jacinto Cristina e o genro, o médico Rui Silva....A foto nº 10  foi tirada pela filha, a engª Cristina Silva (que aparece na foto a seguir, nº 11.). Uma família feliz... Filha e genro vieram de propósito do Funchal para fazer uma surpresa no 72º aniversário do Jacinto...

Fotos (nºs 10 e 11): © Rui Silva (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Há já uns tempos (, uns anos bons,) que o não vejo nem lhe falo ao telefone... Mas não nos esquecemos de lhe dar todos os anos os parabéns pelo seu aniversário, a 14 de novembro... 

Este ano eu estava no Funchal quando a filha, Cristina Silva (, membro da nossa Tabanca Grande),  e o genro, Rui Silva, se preparavam para vir fazer-lhe, na sua casa em Figueira de Cavaleiros,  uma surpresa!... E que surpresa!..

Eu fiz questão de me associar à festa, e o Rui Silva teve ocasião de lhe ler a mensagem e os versinhos que escrevi para o Jacinto... E que reproduzo aqui, mesmo já com duas semanas de atraso. (Apesar de sermos camaradas, ele é um pouco formal comigo, tratando-me por professor e por você... Fiz questão agora de começar a tratá-lo por tu, esperando que ele faça o mesmo comigo...)


Mensagem para o Jacinto Cristina, no seu dia de aniversário

Camarada Jacinto, os bravos da Guiné tratam-se por tu...E em dia de aniversário eu venho aqui desejar-te o melhor da vida. Sei que já não te apanho, muito menos no teu centenário.. E ainda pro cima de canadianas.Mas quero que sejas muito  feliz e tenhas boa saúde e o amor e a estima da tua família e dos teus amigo. Trata-me sempre muito bem as tuas princesas, a Cristina e a Sara [, a neta, a estudar em Inglaterra ]. E es um sortudo por teres arranjado um genro como o Rui Silva que tem um coração maior do que a terra dele. Felicidades tambémpara a tua  companheira que eu ainda não conheço.

Gostava de te voltar a ver em Figueira de Cavaleiros, em Lisboa ou na Lourinhã. Ou até no Funchal. Pode ser que um dia destes calhe...Para alegrar a tua festa, viu-te mandar uns versinhos que fiz no avião Lisboa-Funchal para a Cristina ou o Rui lerem...

Tanto tempo sem te ver,
Meu camarada Jacinto,
Já saudades de ti sinto,
'Tá na hora d'aparecer.

'Tá na hora d'aparecer.
Sempre foste hospitaleiro,
De Caium o milagreiro,
Qu'a muitos deu de comer.

Qu'a muitos deu de comer,
Lá na ponte de Caium,
Não faltando a cada um
O que todos queriam ter.

O que todos queriam ter,
Era o casqueiro p'la manhã,
Mesmo sem manteiga haver,
Lembrava o pão da mamã.

Lembrava o pão da mamã,
O teu Alentejo querido,
Na alma vieste dorido,
Da guerra em terra pagã.

Da guerra em terra pagã,
Resta a camaradagem,
Mas p'ra próxima viagem,
Tens que vir à Lourinhã.

Daqui do Funchal bebemos um copo à tua saúde,
e dos teus queridos que estão aí à tua mesa.
Luís (e Alice), 14 nov 2021.

Comentário do Rui Silva:

Lindo! Obrigado...E missão cumprids. O seu gentil texto e o poema comoveram o Jacinto,
como se pode  apreciar nas fotos que vos enviei por Whatsapp. Deram um toque muito pessoal e amigo a esta singela festa... Ele adorou, bem haja, uma vez mais... Rui
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de novembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22717: Parabéns a você (2004): César Dias, ex-Fur Mil Sapador Inf da CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá, 1969/71); Jacinto Cristina, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883 (Piche e Camajabá, 1972/74) e Maria Arminda Santos, Ex-Tenente Enfermeira Paraquedista (1961/1970)

(***) Vd. poste de 24 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7033: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (1): O melhor pão da zona leste...