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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12538: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (4): Elementos para a história e a cultura da nossa presença em África: o antropólogo Augusto Mesquitela Lima, refundador do Museu do Dundo / Diamang, e o comandante Ernesto Vilhena, administrador-delegado da Diamang

1. Mensagem, de 28 de dezembro último, de Mário Gaspar (*:

Camarada da Tabanca Grande Luís Graça

Enviei-te este texto, e volto a reenviar,  visto dizeres estar interessado em saber quem era o comandante Ernesto Vilhena, e não obtive resposta. 


Como disse, neste mail que te reenvio – porque fiquei com dúvidas se chegou às tuas mãos – quero acrescentar que o Antropólogo Professor Doutor Augusto Mesquitela Lima era o maior coleccionador de máscaras do Mundo. Foi viver para Angola, terra da sua mulher, ainda antes da independência desta colónia portuguesa, fundou o Museu do Dundo (**), em Angola e esteve integrado no grupo de professores, na fundação da Universidade Nova de Lisboa. Segue o texto já enviado anteriormente.

Após as dúvidas colocadas sobre o comandante Ernesto Vilhena – como curioso que sou – pesquisei na internet, e com pouco sucesso. Entretanto surgiu-me um elemento novo: “importante colecionador em Portugal de escultura”.


2. O antropólogo Augusto Mesquitela Lima (1929-2007), de orgem caboverdiana, refundador do Museu do Dundo, em Angola,  meu professor na Academia Sénior de Lisboa

Como conheci um “importante colecionador de escultura” e que “fundou o Museu Dondo, em Angola” – o antropólogo Professor Doutor Augusto Mesquitela Lima –,  aqui vão alguns elementos informativos sobre ele:

(i) nasceu a 10 de janeiro de 1929, no Mindelo,  ilha de São Vicente,  Cabo Verde; (ii) após o liceu, veio Portugal, para completar os seus estudos, justamente numa altura em que os Estudantes da Casa do Império, em Lisboa, já falavam das independências das colónias; (iii) diplomou-se, em 1963,  pelo antigo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina (ISCSPU).

Mesquitela Lima irá  depois doutorar-se em Etnologia em França, na Sorbonne,  quando se viviam as experiências do Maio de 68, tendo sido preso por ter se ter envolvido nesses acontecimentos. Estudou igualmente nos Estados Unidos. Foi, entretanto,  viver para Angola, terra da sua mulher, ainda antes da independência desta colónia portuguesa.

Além dos países africanos esteve igualmente, entre outros, na Índia, Brasil e China. Ficou conhecido pela vasta obra que publicou, teve por volta de 30 trabalhos científicos e publicou 25 livros. Reestruturou Museu do Dundo, da XDiamang (que já existia como  em Angola, onde estudou vários grupos étnicos, com especial destaque para os kyaka.

Fez parte do grupo de professores que estiveram na origem da fundação da Universidade Nova de Lisboa (UNL), após 25 de abril de 74. Jubilou-se como Professor Catedrático de Antropologia Cultural da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL. Foi responsável pelo aparecimento de um grupo de antropólogos que reformularam a antropologia em Portugal, até então muito centrada no antigo ISCSPU.

Conheci-o na Academia Sénior de Lisboa, onde foi professor de Antropologia. Gostava muito das suas aulas. Um dia, convidou-me a mim e ao Presidente da Direção desta mesma Academia, para visitarmos a sua casa. Inacreditável! Salas repletas de relíquias e de encantos. Impossível descrever. Esquecera-se de reservar espaço para si. As preciosidades envolviam-nos. E que riqueza! Notei no rosto de sua mulher, uma senhora bastante simpática, algumas reservas decerto motivadas pelo pouco espaço que restava para si e para seu admirável marido naquela casa, naquele Museu do Professor Mesquitela Lima.

O grito do Professor era “O Caos”, as aulas na Academia não tinham outro tema. Foi de viagem à Índia e adoeceu, uma pneumonia, mas ainda voltou à Academia. Era conhecido mundialmente pela coleção de máscaras africanas. Para além das máscaras, no corredor de sua casa, repleto de recordações das suas viagens, tivemos a oportunidade única de ver: desenhos de mulheres africanas; miniaturas de peças artesanais, pinturas executadas por amigos; a cadeira de um rei africano; livros já sem espaço (perto de 30 mil); muitas obras de vários pintores consagrados; muitas mais peças de arte adquiridas em todo o mundo e uma secretária com um computador onde um dos filhos (tinha três filhos) memorizava todo o seu espólio. Concluía o tal estudo científico intitulado “O Caos”.

Faleceu, quando era director do Instituto Superior de Gestão, vítima de pneumonia, a 14 de janeiro de 2007.

3. Comandante Ernesto Vilhena (1876-1967), administrador delegado da Diamang

Foi então que mais motivado fiquei e recolhi o seguinte sobre o comandante Ernesto Jardim de Vilhena [, Reproduzido, na íntegra,  com a devida vénia,  do Arquivo Histórico da Presidência da República]:

"O Comandante Ernesto Jardim de Vilhena (Capitão de Fragata, na Reserva e Administrador da Companhia de Diamantes) nasceu em Ferreira de Alentejo, em 4 de Julho de 1876, filho de Júlio de Vilhena (1845-1928) – Conselheiro e Ministro de Estado, Par do Reino, deputado e chefe do Partido Regenerador, jornalista e director de jornais, vogal do Supremo Tribunal Administrativo e III Governador do Banco de Portugal – e de Maria da Piedade Leite Pereira Jardim. 

"Na qualidade de militar da Marinha Portuguesa, serviu na Administração Colonial desde 1886. Foi Secretário-Geral da Sociedade de Geografia de Lisboa, na 1ª década do séc. XX e deputado pela Madeira na legislatura de 1908. 

"Depois da implantação da República, e apesar de monárquico, foi Ministro das Colónias do 12º Governo da Iª República, chefiado por Afonso Costa (25 de Abril a 10 de Dezembro de 1917) do qual foi igualmente Ministro dos Negócios Estrangeiros interino, entre 19 de Novembro à queda do Governo. Foi Governador dos territórios da Companhia do Niassa e dos Distritos da Zambézia de Lourenço Marques. Foi vogal do Conselho Colonial e Chefe de Gabinete do Ministro do Ultramar e da Marinha João de Azevedo Coutinho (1909- 1910) e do Ministro do Interior Artur de Almeida Ribeiro (1915-1917).

"Foi Administrador-delegado da Diamang – Companhia de Diamantes de Angola, entre 1917 e 1966.

"Foi, ainda, o mais importante coleccionador em Portugal na 1ª metade do século XX (em particular de escultura). Faleceu em Lisboa em 1967.”

[ Ver aqui mais dados sobre a sua carreira.]


3. Nota sobre a Diamang: 

Poucos elementos para pesquisa existem sobre diamantes. É um mundo muito complicado. A sua história ficará por contar.

O Engenheiro Sucena que me admitiu na DIALAP – Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes, SARL., como já afirmara, esteve também na Diamang.

O Presidente do Conselho de Administração da Diamang,  Engenheiro Carlos Krus Abecasis (e não Abecassis), também esteve na DIALAP.

O Diretor da DIALAP – foi durante muitos anos – o Engenheiro Manuel Rey Colaço Menano.

Camarada Luís Graça;

Não se trata de uma história da guerra onde estivemos envolvidos, mas interessante. Já agora, e para acabar, tive para ir trabalhar para a Diamang quando regressei da Guiné. Acabei a minha vida profissional por trabalhar em diamantes.

E desculpa o tempo que perdeste a ler a história, muito sumária, de um Homem, também Homem Grande da nossa Cultura o Professor Doutor de Antropologia Augusto Mesquitela Lima. Esse texto já o escrevera. E foi mesmo por essa razão que me veio à memória o colecionismo das máscaras, aliando ao facto o nome Comandante Ernesto Jardim de Vilhena.

Um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo

Ex Furriel Miliciano, Minas e Armadilhas, Mário Vitorino Gaspar, nº  03163264
CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68)

______________

Nota do editor:

(*) Vd último poste da série > 30 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12522: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (3): Tenho pena de não ter, na minha posse, cartas que escrevi, onde narrava o nosso sofrimento.

(**) Será mais correto dizer-se que o Mesquitela Lima foi o refundador do Museu do Lundo...

(...) O 'Museu do Dundo', na Lunda-Norte, 
Angola [, vd. imagem à esquerda, adaptada da Wikipédia],  foi criado em 1936 pela então denominada Companhia de Diamantes de Angola / Diamang [, hoje Endiama]. Foi a primeira instituição do género criada em Angola. Em 1942 adopta a designação de Museu Etnológico.

Em 1946 inicia a edição desta colecção tendo contado com a especial participação de José Redinha (curador do Museu - etnólogo e estudioso dos povos de Angola) e com a participação de inúmeros autores nacionais e estrangeiros.

Esta colecção, composta por obras pertencentes à Biblioteca Ultramarina do ex-Banco Nacional Ultramarino, foi digitalizada e incorporada na Biblioteca Digital da Memória de África e do Oriente através de protocolo para a cedência de conteúdos assinado entre a Caixa Geral de Depósitos e a Fundação Portugal-África.

A sua utilização segue o referido nos direitos de utilização do material. (...)


Fonte: Memórias de África e do Oruiente > Biblioteca Digital > Museu do Dundo / Diamang