Ainda hoje, há um pequena "Babel linguística" no nosso blogue (e demais redes sociais), quando escrevemos alguns nomes de terras por onde passámos e que nos são familiares (dolorosamente familiares, em muitos casos)
Por exemplo, deve escrever-se:
- Guileje e não Guilege ou Guiledje;
- Guidaje e não Guidage;
- Jabicunda e não Djabicunda:
- Bajocunda e não Badjucunda (e muit0 menos Bajicunda);
- Iracunda e náo Ira Cunda;
- Áfia e não Afiá;
- Piche e não Pitche;
- Xime e não Chime;
- Xitole e não Chitoli;
- Contuboel e não Contubo El;
- Pecixe e não Peciche;
- Porto Gole e não Portogole;
- Gandembel e não Gã Dembel;
- Camamadu e não Cã Mamadu;
- Copelão e não Cupelom ou Cupilão ou Pilão (para os "tugas");
- Poindom e não Poidon ou Poidão;
- Sinchã e não Sintchã;
- Sare e não Saré;
- Tombalí e não Tombali ou Tombáli;
- Quitáfine (e não Quitafine) (palavra exdrúxula, mas o "e" final é aberto: Quitáfinè);
- Ilha de Jeta e nãoo Jata ou Jete...
- Bafatá (que deveria ser Báfata, como pronunciam os fulas);
- Gabú em vez de Cabo;
- Sinchã Jobel em vez de Sinchã Jaubel...
As cartas geográficas seguiram esta orientação de "aportuguesamento" dos nomes geográficos da Guiné, de acordo com as regras fixadas na Portaria nº 74, de 7 de julho de 1948 e a ortografia então em vigor.
Até 1948, as tropelias linguísticas nesta matéria (grafia dos nomes geográficos da Guiné) era confrangedora, agravada pelas frequentes gralhas tipográficas (vd. por exemplo anúncios comerciais da imprensa da época).
- Gábu
- Xôroenque,
- Sáfim,
- Gêba
- Gade-Mael
- Xôro
- Bacerél
- Sozana, etc.
Luís,
Enviei por WeTransfer 14 páginas da "Primeira Relação de Nomes Geográficos da Guiné Portuguesa" elaborada em 1948 nos tempos do Governador Sarmento Rodrigues.
Por ela se pode ver que havia 2 povoações Canchungo, uma na área de S. Domingos e outra na área de Cacheu. Teixeira Pinto existia e era uma Vila.
Quanto a Portugal, havia uma povoação na área de Bolama e uma fulacunda. A do régulo Bacar Dikel deve ser esta.
Gabú era uma circunscrição e Nova Lamego uma Vila.
Quanto a Aldeia Formosa esta aparece como uma fulacunda, e Quebo outra fulacunda, aparecendo também como povoação na região de Catió (páginas não enviadas).
Curioso é ler o preâmbulo da Portaria de Sarmento Rodrigues e as normas adoptadas para a escrita dos nomes geográficos.
Sinchã foi introduzida para designar uma nova povoação fula. Entre elas notei a existência de uma Sinchã Comandante, outra Sinchâ Sarmento e (entre muitas outras) uma Sinchã Marío (com acento agudo!?).
Espero que isto anime a discussão...
Abraço, Armando
Por essa lista (onde parece haver gralhas tipográficas da sempre rigorosa Imprensa Nacional - Casa da Moeda) se pode ver, por exemplo, que havia duas povoações Canchungo, uma na área de S. Domingos e outra na área de Cacheu (p. 23). O Canchungo, nome gentílico, de povoação, coexistia com a nova vila, Teixeira Pinto (p. 72).
Quanto à tabanca Portugal, havia dois lugares com este nome: (i) povoação na área de Bolama; e e uma outra na região de Fulacunda, sendo nesta que morava, em 1947, o régulo Bacar Dikel (p. 57).
Gabú era uma circunscrição (e região), Gabú-Sara era uma povoação (p. 37) e Nova Lamego uma vila tal como Nova Sintra (p. 52).
Quanto a Aldeia Formosa (p. 7) esta aparece como uma povoação de Fulacunda, a par de Quebo (p. 57).
Como se lê no preâmbulo da Portaria de Sarmento Rodrigues, houve uma expressa vontade de normalização da escrita dos nomes geográficos da Guiné. Alguns nomes são novos, ou aparecem pela primeira vez:
- Teixeira Pinto,
- Nova Lamego,
- Aldeia Formosa,
- Nova Sintra,
- Nova Có,
- Nova Cuba (...do Alentejo ?)...
Lembre-se, por fim, que Sinchã foi introduzida para designar uma nova povoação fula, acompanhando a "expansão" do chão fula... Entre elas (e são mais de centena e meia) notámos a a existência de uma Sinchã Comandante (p. 67) e outra Sinchã Sarmento (p. 68)... E, já agora, uma Áfia do Governador (p.7).
- desde a Ponta Brandão à Ponta Varela,
- de Ponta do Inglês a Ponta de Janadá,
- de Ponta Augusto Barros à Ponta Luís Dias.
- Algodão,
- Acampamento,
- Achada do Burro (p. 7),
- Olho Grande,
- Olhozinho (p. 52),
- Porcoa,
- Preço Leve
- Quartel (p. 57)
- Sinchã Fodê (p. 67)...
Pode ser que o Valdemar Queiroz ou Ramiro Jesus, que são os nossos campeões dos passatempos "Vê se és bom observador" e "As gralhas da nossa embirração"..., sejam capazes de descobrir se alguns destes topónimos, aportuguesados, sobreviveram à guerra e à independência...
No nosso blogue há, por exemplo, há várias referências a lugares começados por Sinchã... Destaque para Sinchã Jobel (ou Jaubel, mais correto) e foi uma base do PAIGC ou "barraca" no regulado de Mansomine (carta de 1/50 mil. Bambadinca).
Sinchã Abdulai (1)
Sinchã Bambe (1)
Sinchã Dumane (1)
Sinchã Jobel (16)
Sinchã Madiu (1)
Sinchã Molele (1)
Sinchã Queuto (2)
Sinchã Sambel (1)
Tirando um ou outro nome português, do nosso roteiro poético-sentimental (Nova Sintra, Nova Lamego, Nova Cuba, Aldeia Formosa, Teixeira Pinto...), o essencial dos nomes geográficos (ou topónimos) da Guiné não nos diziam nada, nem tinham que dizer, eram exóticos, pitorescos, gentílicos... mas não suscitavam curiosidade por aí além... Muito menos, emoção... nem faziam sorrir como alguns topónimos portugueses, com conotações erótico-burlescas (Coito, Pito, Picha, Rata, Rabo, Cabrão, Coina, Cu, etc.)
De facto, quem é que se lembraria de ir fazer umas "férias", em 1948, a Contuboel, a Gadamael a Pejungunto, ou a Buruntuma ou a Catió... ? Eram nomes completamente estranhos aos militares portugueses que foram aportando a Bissau, a partir de 1961...
________________
4 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17823: Historiografia da presença portuguesa em África (96): primeira relação de nomes geográficos da Guiné Portuguesa, em 1948, ao tempo do governador Sarmento Rodrigues (Parte I)